Levantamento Arqueológico das Áreas de Interflúvio na Área de Confluência dos Rios Negro e Solimões, AM-Parte 1

August 12, 2017 | Autor: L. Erig Lima | Categoria: Amazonia, Amazonian Archaeology
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA

LEVANTAMENTO ARQUEOLÓGICO DAS ÁREAS DE INTERFLÚVIO NA ÁREA DE CONFLUÊNCIA DOS RIOS NEGRO E SOLIMÕES, AM

ORIENTANDO: LUIZ FERNANDO ERIG LIMA ORIENTADOR: PROF. DR. EDUARDO GÓES NEVES

SÃO PAULO 2003

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA

LEVANTAMENTO ARQUEOLÓGICO DAS ÁREAS DE INTERFLÚVIO NA ÁREA DE CONFLUÊNCIA DOS RIOS NEGRO E SOLIMÕES, AM

ORIENTANDO: LUIZ FERNANDO ERIG LIMA ORIENTADOR: PROF. DR. EDUARDO GÓES NEVES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arqueologia, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Ciências: Arqueologia.

SÃO PAULO 2003

Dedicatória Aos meus pais (José e Yara). Aos meus irmãos (Kátia, Carlos, Humberto e Adriana). A minha avó (Rosa). Ao povo do Amazonas, herdeiro de um maravilhoso passado cultural, o qual tive a chance de testemunhar através deste trabalho.

I

AGRADECIMENTOS

A quem devo agradecer? Ao olhar o volume de informações descrito nesta dissertação, reconheço que os esforços e méritos foram de muitos: desde aqueles que em épocas pré-históricas e históricas deixaram os vestígios cotidianos de sua cultura material, bem como aqueles que direta ou indiretamente colaboraram para que estes fossem encontrados, resgatados e estudados; seja o simples sitiante em seu roçado fornecendo informações ao pesquisador na pesquisa de campo, o auxiliar de laboratório no museu, o bibliotecário, como o orientador de mestrado e sua instituição científica.

Assim, conforme minhas lembranças o permitir, gostaria de transmitir meus agradecimentos:

Ao Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP) e ao Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pela oportunidade e financiamento oferecidos à minha pessoa para a realização deste mestrado.

Aos Profs. Drs. Eduardo Góes Neves e Levy Figuti pela orientação, apoio e ensinamentos transmitidos para a formação como mestre.

Ao Museu Amazônico da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), ao seu diretor, Prof. Luis Balkar Sá Peixoto Pinheiro, e ao corpo de pesquisadores, técnicos e funcionários (Jane, Carlos Augusto/Tijolo, Custódio, Sílvio, Bernadete, Onice, Rosângela, Helen, etc...), cujo auxílio, convívio e amizade tornaram meu período de pesquisa em Manaus memorável. Em caráter excepcional, foi permitida a mim a utilização do museu em horários alheios ao expediente normal, bem como em finais de semana e feriados.

Aos colegas de mestrado Fernando, Zé Firmino, Juliana, Lucas, Helena, Patrícia, Emília, Rafael, Eduardo, Andrei, Lílian, Nami, Luciane Kamase, Denise, Laércio, Toni, Rucirene, entre vários, pelo companheirismo, auxílio, e sugestões durante o mestrado.

II

Aos companheiros do Projeto Amazônia Central, Cláudio Roberto Pinto Cunha (Clôde), Levemilson Mendonça da Silva (Ley) e Francisco Villaça Nunes (Chico Pupunha), cujo auxílio foi fundamental na etapa de campo de 2001.

Ao Prof. Ms. Emílio Soares (Departamento de Geologia-UFAM) pelo fornecimento de referências bibliográficas, e principalmente pela revisão e correção dos meus erros referentes aos aspectos geológicos da área pesquisada.

Ao Prof. Dr. Leandro Domingues Duran pela correção do Abstract.

Ao artista plástico Francisco Carlos Nascimento (Universidade Federal do Amazonas) pelo auxílio na elaboração de uma das pranchas ilustrativas do material arqueológico histórico, onde há uma bela representação de um forno de cerâmica.

Ao Subtenente Rodrigues e ao funcionário Luiz da mapoteca da 4° Divisão de Levantamento de Manaus, pelo fornecimento de cartas topográficas militares.

Ao técnico Oto Laurentino Rosa (Laboratório de Processamento Geocientífico do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná) pelo auxílio na confecção dos mapas.

Ao auxiliar técnico administrativo José Quintino da Silva Júnior (Zanettini Arqueologia) pelo auxílio na elaboração da nova versão corrigida desta dissertação, principalmente na montagem digital das pranchas ilustrativas.

Aos Profs. James Petersen (Universidade de Vermont), Robert Bartone (Universidade do Maine), Gaspar Morcote (Instituto de Ciências Naturales de la Unversidad Nacional de Colombia), Astolfo G. de Mello-Araújo, Paulo Eduardo Zanettini, Paulo Dantas de Blasis, Erika M. Robrahn-González e Walter Fagundes Morales, pelo esclarecimento de dúvidas, críticas construtivas, sugestões e fornecimento de material bibliográfico.

Ao meu cunhado Marcos Aurélio Chaiben pelas passagens aéreas Curitiba-Manaus presenteadas a mim.

III

Aos meus pais, minha avó (Rosa), tia(o)s (Antônio, Cleonilde, Cléia, Clécia), primas (Silvana, Adriana e Luciana), irmãos, sobrinhos e demais familiares pelo apoio e incentivo durante as “horas mais pesadas” desta etapa.

IV

ÍNDICE AGRADECIMENTOS ......................................................................................................................... II Lista de Pranchas...........................................................................................................................VII Lista de Tabelas.............................................................................................................................VIII Lista de Fotos ................................................................................................................................VIII Lista de Figuras ...............................................................................................................................XI Lista de Mapas............................................................................................................................ XVIII Anexos .......................................................................................................................................... XIX RESUMO ........................................................................................................................................... 2 ABSTRACT........................................................................................................................................ 3 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................. 4 INTRODUÇÃO: O PROJETO DE MESTRADO E SUAS ATIVIDADES GERAIS ................................ 5 1. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS....................................................................................................... 7 2. A ÁREA DE PESQUISA............................................................................................................... 17 2.1. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS .............................................................................................. 17 2.2. PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS ANTERIORES NA REGIÃO ............................................. 22 2.3. O PROJETO AMAZÔNIA CENTRAL .................................................................................... 25 2.4. DESCOBERTAS E PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS PARALELAS AO PAC...................... 29 3. MÉTODOS DE CAMPO E DE LABORATÓRIO............................................................................ 33 3.1. MÉTODOS DE LEVANTAMENTO DE CAMPO..................................................................... 33 3.2. MÉTODOS DE LABORATÓRIO............................................................................................ 39 3.2.1. A Análise Cerâmica................................................................................................................................... 39 3.2.1.1. As Tradições e Fases Ceramistas Amazônicas: Origens, Conceitos e Problemas ............................................................. 40 3.2.1.2. A Ficha de Análise Cerâmica do Projeto Amazônia Central...................................................................................... 49 3.2.2. A Análise Lítica......................................................................................................................................... 49 3.2.2.1. A litologia do material em estudo....................................................................................................................... 55 3.2.3. A Análise do Material Histórico ............................................................................................................... 55 3.2.4. Análise do Material Orgânico................................................................................................................... 57 4. OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E SEUS MATERIAIS ................................................................. 58 4.1. OS SÍTIOS E OCORRÊNCIAS ARQUEOLÓGICAS DE TERRA-FIRME ............................... 58 4.1.1. Os Sítios e Ocorrências de Terra Firme: Descrição, Análise Cerâmica e Lítica ..................................... 62 4.1.1.1. AM-IR-25: Jaílson........................................................................................................................................ 62 4.1.1.2. AM-IR-26: Areal Bela Vista............................................................................................................................. 63 4.1.1.3. AM-IR-27: Areal do Mangangá ....................................................................................................................... 65 4.1.1.4. AM-IR-28: Areal do Maracajá......................................................................................................................... 69 4.1.1.5. AM-IR-29: Areal Tomoda............................................................................................................................... 72 4.1.1.6. AM-IR-30: Areal do Guedes............................................................................................................................ 80 4.1.1.7. AM-IR-31: Comunidade São Sebastião............................................................................................................... 85 4.1.1.8. AM-IR-32: Dona Stella.................................................................................................................................. 87 4.1.1.9. AM-IR-33: Mafaldo.................................................................................................................................... 113 4.1.1.10. AM-IR-34: Cavalcanti................................................................................................................................ 114 4.1.1.11. AM-IR-35: FLorêncio................................................................................................................................ 116 4.1.1.12. AM-IR-36: Mateus.................................................................................................................................... 118 4.1.1.13. AM-IR-37: Xavier..................................................................................................................................... 122 4.1.1.14. AM-IR-38: Nova Esperança........................................................................................................................ 127 4.1.1.15. AM-IR-39: São José.................................................................................................................................. 131 4.1.1.16. AM-IR-40: Morro Queimado....................................................................................................................... 140 4.1.1.17. AM-IR-41: Carneiro.................................................................................................................................. 153 4.1.1.18. AM-IR-06: Tokihiro................................................................................................................................... 166 4.1.1.19. Ocorrência TF-1...................................................................................................................................... 170 4.1.1.20. Ocorrência TF-2...................................................................................................................................... 170 V

4.1.1.21. Ocorrência TF-3...................................................................................................................................... 174 4.1.1.22. Ocorrência TF-4...................................................................................................................................... 175 4.1.1.23. Ocorrência TF-5...................................................................................................................................... 176 4.1.1.24. Ocorrência TF-6...................................................................................................................................... 176 4.1.1.25. Ocorrência TF-7...................................................................................................................................... 177 4.1.1.26. Ocorrência TF-8...................................................................................................................................... 178 4.1.1.27. Ocorrência TF-9...................................................................................................................................... 180 4.1.1.28. Ocorrência TF-10..................................................................................................................................... 180 4.1.2. As Datações nos Sítios de Terra Firme................................................................................................... 181 4.1.2.1. As datações do sítio AM-IR-32: Dona Stella........................................................................................................ 181 4.2. OS SÍTIOS E OCORRÊNCIAS ARQUEOLÓGICAS DE VÁRZEA ....................................... 182 4.2.1. A Análise Cerâmica e Lítica dos Sítios e Ocorrências de Várzea........................................................... 185 4.2.1.1. AM-IR-42: Lago do Iranduba - I..................................................................................................................... 186 4.2.1.2. AM-IR-43: Lago do Iranduba - II.................................................................................................................... 186 4.2.1.3. AM-IR-44: São João................................................................................................................................... 192 4.2.1.4. AM-IR-45: Bela Vista do Iranduba .................................................................................................................. 193 4.2.1.5. AM-IR-46: Salviano ................................................................................................................................... 198 4.2.1.6. AM-IR-47: Barroso .................................................................................................................................... 205 4.2.1.7. AM-IR-48: Lago Feliciano............................................................................................................................ 207 4.2.1.8. AM-IR-49: Lago Santo Antônio...................................................................................................................... 210 4.2.1.9. AM-IR-50: Boa Sorte .................................................................................................................................. 213 4.2.1.10. AM-IR-51: Ilha........................................................................................................................................ 228 4.2.1.11. AM-IR-52: Apolônio.................................................................................................................................. 238 4.2.1.12. AM-IR-53: Lago do Testa............................................................................................................................ 251 4.2.1.13. AM-IR-54: Vandercléia.............................................................................................................................. 255 4.2.1.14. AM-IR-55: Igarapé do Testa - I ..................................................................................................................... 261 4.2.1.15. AM-IR-56: Igarapé do Testa - II .................................................................................................................... 269 4.2.1.16. AM-IR-57: Cachoeira do Castanho ............................................................................................................... 273 4.2.1.17. Ocorrência V-1........................................................................................................................................ 282 4.2.1.18. Ocorrência V-2........................................................................................................................................ 283 4.2.1.19. Ocorrência V-3........................................................................................................................................ 283 4.3. O MATERIAL HISTÓRICO E SEUS SÍTIOS........................................................................ 284 AM-IR-43: Lago do Iranduba - II ..................................................................................................................... 284 AM-IR-46: Salviano .......................................................................................................................................... 284 AM-IR-49: Lago Santo Antônio ........................................................................................................................ 284 AM-IR-50: Boa Sorte ........................................................................................................................................ 286 AM-IR-51: Ilha.................................................................................................................................................. 287 AM-IR-56: Igarapé do Testa - III...................................................................................................................... 287 4.4. O MATERIAL ORGÂNICO .................................................................................................. 289 AM-IR-37: Xavier ............................................................................................................................................. 289 AM-IR-53: Lago do Testa ................................................................................................................................. 290 Ocorrência TF-8 ............................................................................................................................................... 291 5. DISCUSSÃO DOS DADOS ........................................................................................................ 293 5.1. AS ÁREAS FONTES DO MATERIAL LÍTICO E CERÂMICO .............................................. 293 5.2. AFILIAÇÕES CULTURAIS–CRONOLÓGICAS DA ÁREA DE PESQUISA ......................... 294 5.3. AS AMOSTRAGENS LITO-CERÂMICAS E SEUS PROBLEMAS....................................... 296 5.4. CONSIDERAÇÕES QUANTO À ANÁLISE LÍTICA ............................................................. 297 5.5. O LÍTICO PRÉ-CERAMISTA............................................................................................... 298 5.6. O LÍTICO MANACAPURU .................................................................................................. 301 5.7. O LÍTICO PAREDÃO .......................................................................................................... 302 5.8. O LÍTICO GUARITA............................................................................................................ 303 5.9. O LÍTICO HISTÓRICO ........................................................................................................ 305 5.10. O LÍTICO MESCLADO...................................................................................................... 305 5.11. O LÍTICO INCLASSIFICADO ............................................................................................ 307 5.12. DISCUSSÕES DAS ANÁLISES CERÂMICAS .................................................................. 308 5.12.1. A Cerâmica Manacapuru...................................................................................................................... 308 5.12.1.1. A Cerâmica Manacapuru no Ambiente de Terra Firme........................................................................................ 308 5.12.1.2. A Cerâmica Manacapuru no Ambiente de Várzea.............................................................................................. 311 5.13. PÃO DE ÍNDIO: FUNGO OU ECOFATO?......................................................................... 312 5.14. O SÍTIO AM-IR-41: CARNEIRO, UM CASO DE ASSIMILAÇÃO CULTURAL? ................. 318 5.15. A CERÂMICA PAREDÃO ................................................................................................. 319 VI

5.15.1. A Cerâmica Paredão no Ambiente de Terra Firme .............................................................................. 320 5.15.2. A Cerâmica Paredão no Ambiente de Várzea....................................................................................... 322 5.16. CERÂMICA GUARITA ...................................................................................................... 324 5.16.1. A Cerâmica Guarita no Ambiente de Terra Firme ............................................................................... 324 5.16.2. A Cerâmica Guarita no Ambiente de Várzea........................................................................................ 327 5.17. A CERÂMICA HISTÓRICA ............................................................................................... 331 5.18. A CERÂMICA INCLASSIFICADA ..................................................................................... 334 5.18.1. A Cerâmica Inclassificada no ambiente de terra-firme ........................................................................ 334 5.18.2. A Cerâmica Inclassificada no ambiente de várzea ............................................................................... 337 6. CONCLUSÕES .......................................................................................................................... 338 6.1. O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA ÁREA......................................................................... 338 7. BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................... 356 ANEXO I - OS SÍTIOS E OCORRÊNCIAS ARQUEOLÓGICAS E SUAS OCUPAÇÕES ................ 365 ANEXO II - QUANTIFICAÇÃO GERAL DO MATERIAL ARQUEOLÓGICO ................................... 367 ANEXO III - QUANTIFICAÇÃO DO MATERIAL CERÂMICO ANALISADO.................................... 368 ANEXO IV - QUANTIFICAÇÃO DO MATERIAL LÍTICO ANALISADO........................................... 369 ANEXO V - QUANTIFICAÇÃO DO MATERIAL CERÂMICO ANALISADO DE ACORDO COM OS SÍTIOS E OCORRÊNCIAS ARQUEOLÓGICAS ............................................................................. 372 ANEXO VI - QUANTIFICAÇÃO DO MATERIAL LÍTICO ANALISADO DE ACORDO COM OS SÍTIOS E OCORRÊNCIAS ARQUEOLÓGICAS............................................................................................. 375 ANEXO VII - ANÁLISE ESTATÍSTICA DO MATERIAL CERÂMICO .............................................. 377 ANEXO VIII - FICHA DE ANÁLISE CERÂMICA............................................................................. 390 ANEXO IX - HISTOGRAMAS DE ANÁLISE CERÂMICA ............................................................... 404 ANEXO X - FICHA DE ANÁLISE LÍTICA ....................................................................................... 432

Lista de Pranchas Prancha 1 - Articulação da Área de Pesquisa. Prancha 2 - Sítio AM-IR-30: Areal do Guedes. Prancha 3 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Prancha 4 - Sítio AM-IR-35: Florêncio. Prancha 5 - Sítio AM-IR-36: Mateus. Prancha 6 - Sítio AM-IR-37: Xavier. Prancha 7 - Sítio AM-IR-37: Xavier. Sondagem A. Prancha 8 - Sítio AM-IR-38: Nova Esperança. Prancha 9 - Sítio AM-IR-39: São José. Prancha 10 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Prancha 11 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Prancha 12 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Trincheira I e II, 0-10cm. Prancha 13 - Ocorrência TF-2: Raspagem e Perfil de Vasilha Guarita com Flange Mesial. Prancha 14 - Ocorrência TF-8: Unidade com Pão de Índio, Vista Leste. Prancha 15 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Prancha 16 - Sítio AM-IR-51: Ilha. Prancha 17 - Sítio AM-IR-53: Lago do Testa. Prancha 18 - Sítio AM-IR-54: Vandercléia. VII

Prancha 19 - Sítio AM-IR-55: Igarapé do Testa-I: Perfil Oeste. Prancha 20 - Sítio AM-IR-55: Igarapé do Testa-I: Perfil Oeste. Lista de Tabelas Tabela I - Os Sítios Arqueológicos da Primeira Fase de Pesquisa do PAC (1995-1997). TabelaII-Quadro cronológico Para a Amazônia Central. Tabela III - Os Sítios e Ocorrências Arqueológicas de Terra Firme. Tabela IV - Os Sítios e Ocorrências Arqueológicas de Várzea. Tabela V - Material lítico Pré-Ceramista. Tabela VI - Material lítico Manacapuru. Tabela VII - Material lítico Paredão. Tabela VIII - Material lítico Guarita. Tabela IX - Material lítico Mesclado. Tabela X - Material lítico Inclassificado. Tabela XI - Dimensões de bordas da Cerâmica Manacapuru no ambiente de Terra-Firme. Tabela XII - Dimensões de paredes da Cerâmica Manacapuru no ambiente de Terra-Firme. Tabela XIII - Dimensões de bordas da Cerâmica Paredão no ambiente de Terra-Firme. Tabela XIV - Dimensões de paredes da Cerâmica Paredão no ambiente de Terra-Firme. Tabela XV - Dimensões de paredes da Cerâmica Paredão no ambiente de Várzea. Tabela XVI - Dimensões de bordas da Cerâmica Guarita no ambiente de Terra-Firme. Tabela XVII - Dimensões de parede da Cerâmica Guarita no ambiente de Terra-Firme. Tabela XVIII - Dimensões de bordas da Cerâmica Guarita no ambiente de Várzea. Tabela XIX - Dimensões de paredes da Cerâmica Guarita no ambiente de Várzea. Tabela XX - Dimensões de apêndices da Cerâmica Guarita no ambiente de Várzea. Tabela XXI - Dimensões de bordas da Cerâmica Histórica. Tabela XXII - Dimensões de paredes da Cerâmica Histórica. Tabela XXIII - Dimensões de alças da Cerâmica Histórica. Tabela XXIV - Dimensões de bordas da Cerâmica Inclassificada no ambiente de Terra-Firme. Tabela XXV - Dimensões de paredes da Cerâmica Inclassificada no ambiente de Terra-Firme.

Lista de Fotos Foto 1 - Sítio AM-IR-25: Jaílson. Coleta de indícios arqueológicos. Foto 2 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Flanco W, registro de coordenada UTM com aparelho de GPS na concentração Z (fragmentos cerâmicos). Foto 3 - Sítio AM-IR-28: Areal do Maracajá. Coleta de sedimento e cerâmica para análise de termoluminescência. Foto 4 - Sítio AM-IR-39: São José. Localização de indícios arqueológicos em sub-superfície, através de raspagens do solo. Foto 5 - Sítio AM-IR-25: Jaílson. Fragmentos de cerâmica erodida. Foto 6 - Sítio AM-IR-46: Salviano. Cerâmica Manacapuru, aplique biomorfo e fragmento cerâmico incisos. VIII

Foto 7 - Sítio AM-IR-43: Lago Iranduba-II. Cerâmica Paredão: apliques biomorfos, alças modeladas e fragmentos cerâmicos incisos. Foto 8 - Sítio AM-IR-52: Apolônio. Fragmentos de cerâmica Guarita com decoração acanalada, digitada e policroma. Foto 9 - Atividades de queimadas na área de terra firme, ocasionando perda de vegetação e a conseqüente lixiviação de solos e vestígios arqueológicos. Foto 10 - Sítio AM-IR-26: Areal Bela Vista. Foto 11 - Sítio AM-IR-27: Areal do Mangangá. Vista geral do sítio, onde se observa um adiantado processo de destruição por lavra de areia. Foto 12 - Sítio AM-IR-27: Areal do Mangangá. Indícios cerâmicos superficiais. Foto 13 - Sítio AM-IR-28: Areal do Maracajá. Vista geral do sítio, onde se observa processo destrutivo efetuado por lavra de areia. Foto 14 - Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Indícios cerâmicos superficiais. Foto 15 - Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Indícios líticos superficiais (abrasadores planos). Foto 16 - Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Vasilhame de cerâmica Guarita intacto (tigela). Foto 17 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Vista da área de coleta VIII, perturbada por antiga lavra de areia. Foto 18 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Raspagem e coleta de indícios arqueológicos na área de coleta XII. Observa-se uma coloração escura no solo arenoso removido pela enxada. Foto 19 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Indícios líticos superficiais na área de coleta X. Foto 20 - Sítio AMIR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Brutos. Quebra-côcos de arenito silicificado e laterita. Foto 21 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Brutos. Trituradores de arenito silicificado, basalto e quartzito. Foto 22 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Brutos. Mão-de-mó de arenito silicificado. Foto 23 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Brutos. Quebra-côco de arenito silicificado. Foto 24 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Brutos. Abrasadores planos de arenito silicificado. Foto 25 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Brutos. Esfera de arenito silicificado. Foto 26 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Lascados. Raspadores laterais confeccionados sobre lascas retocadas de arenito silicificado. Foto 27 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Lascados. Lascas bifaciais retocadas de arenito silicificado. Foto 28 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Lascados. Lesmas de arenito silicificado e quartzito. Foto 29 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Lascados. Fragmento de raspador plano-convexo de arenito silicificado. Foto 30 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Lascados. Raspador de bico de siltito silicificado. Foto 31 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Lascados. Raspador planoIX

convexo de arenito silicificado. Foto 32 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Cerâmica Manacapuru: Detalhe de fragmento cerâmico marcado com corda, mostrando decoração ponteada como técnica associada. Foto 33 - Sítio AM-IR-37: Xavier. O proprietário do terreno, Sr. Jorge Carvalho Xavier, apresenta à equipe uma amostra do pão-de-índio encontrado em seu roçado. Foto 34 - Sítio AM-IR-37: Xavier. Área de ocorrência de pães-de-índio. Foto 35 - Sítio AM-IR-37: Xavier. Pães-de-índio expostos por atividade de roçado. Foto 36 - Sítio AM-IR-37: Xavier. Sondagem A, pão-de-índio exposto por decapagem. Foto 37 - Sítio AM-IR-39: São José. Exposição de fragmento cerâmico no ponto de raspagem T2r8. Foto 38 - Sítio AM-IR-39: São José. Fragmentos cerâmicos superficiais (assador?) no ponto R1/t1. Foto 39 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Vista SE tomada a partir do sítio AM-IR-41: Carneiro. Foto 40 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Área de coleta-1, localizada na planície central do sítio, onde se observa a presença de uma terra-preta antropogênica. Foto 41 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Flanco N do sítio ocupado por um morro elevado. Foto 42 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Vista do flanco leste do sítio. Foto 43 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Início da limpeza da Trincheira-I para exposição de fragmentos superficiais de cerâmica. Foto 44 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Delimitação da Trincheira-I com barbante após a limpeza e exposição de fragmentos superficiais de cerâmica. Foto 45 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Trincheira-I após decapagem de 0-10 cm revelando vários fragmentos cerâmicos e uma estrutura de combustão junto ao seu flanco norte Foto 46 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Detalhe da escavação da porção central da Trincheira-I. Foto 47 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Detalhe da escavação do flanco leste da Trincheira-I, onde se observa um fragmento de borda de tigela Guarita. Foto 48 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Estrutura de combustão junto ao flanco norte da Trincheira-I, onde se observam fragmentos de carvão e cariapé calcinado. Foto 49 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Sondagem na estrutura de combustão junto ao flanco norte da Trincheira-I, revelando um sedimento arenoso de fração mais grossa, carvão, cariapé calcinado e um fragmento de cerâmica verticalizado. Foto 50 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Trincheira-I: vista do flanco leste. Foto 51 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Plano geral da trincheira-I: vista do flanco norte. Foto 52 - Terraço às margens do sítio AM-IR-42: Lago Iranduba-I, Lago do Iranduba, várzea do rio Solimões. Foto 53 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Fragmentos de cerâmica histórica com alguns exemplares torneados. Foto 54 - Ocorrência V-2: lasca bifacial retocada de arenito silicificado. Foto 55 - Sítio AM-IR-46: Salviano. Cerâmica Histórica. Fragmento de borda de cerâmica histórica com decoração penteada em estilo africano, vide figura 78, A). Foto 56 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte.Cerâmica Guarita. Fragmento cerâmico de um grande assador de beijú. Observar a perfuração de restauro para amarração com cordas. Fotos 57a e 57b - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Histórica. Cachimbo histórico modelado com X

decoração de motivos florais no mesmo estilo dos cachimbos da região de Santarém, Pará (vide Figura 99, A). Foto 58 - Sítio AM-IR-52: Apolônio. Cerâmica Guarita. Aplique biomorfo exciso com engobo branco no motivo de um felino (vide figura 118, f). Foto 59 - Sítio AM-IR-52: Apolônio. Cerâmica Guarita. Provável fragmento de maracá cilíndrico com decoração acanalada no motivo de um rosto estilizado (vide figura 118, K). Foto 60 - Sítio AM-IR-55: Igarapé do Testa-I. Atividade de raspagem onde se observa o processo de exposição de uma vasilha. Foto 61- Sítio AM-IR-55: Igarapé do Testa-I. Raspagem I: jarra globular da tradição Guarita. Foto 62 - Sítio AM-IR-55: Igarapé do Testa-I. Cerâmica Guarita. Fragmento de borda de tigela com decoração digitada e enegrecimento externo (vide figura 126, B). Foto 63 - Sítio AM-IR-57: Cachoeira do Castanho. Lítico Pré-Ceramista (Artefatos Lascados). Lascas bifaciais retocadas de arenito silicificado. Foto 64 - Sítio AM-IR-57: Cachoeira do Castanho. Lítico Pré-Ceramista (Artefatos Lascados). Raspador plano-convexo de arenito silicificado. Foto 65 - Sítio AM-IR-57: Cachoeira do Castanho. Lítico Pré-Ceramista (Artefatos Lascados). Lascas utilizadas como facas ou raspadores laterais de arenito silicificado. Foto 66 - Sítio AM-IR-57: Cachoeira do Castanho. Lítico Pré-Ceramista (Artefatos Lascados). Lasca bifacial retocada de arenito silicificado. Foto 67 - Fragmentos de Louça Histórica (Fabrico Europeu). Faiança portuguesa do Séc. XVIII. Fotos 68 a 73 - Fragmentos de Louça Histórica (Fabrico Europeu). Faiança fina ou pó-de-pedra inglesa do Séc. XIX. Foto 74 - Fragmento de gargalo de garrafa de grés (louça vitrificada) de fabricação escocesa do Séc. XIX. Fotos 75 a 78 - Amostras de Pães-de-índio. Sítio AM-IR-37: Xavier. Fotos 79 - Amostras de Pães-de-índio. Sítio AM-IR-53: Lago do Testa. Fotos 80 - Amostras de Pães-de-índio. Ocorrência TF-8 (vide Prancha 14). Foto 81 - Mulher da etnia Witoto preparando massas de pasta de mandioca ralada, cujas formas muito se assemelham aos Pães-de-índio. Fonte: Favarato e Trevisiol (1993: 174). Foto 82 - Fragmento de ponta de projétil recuperada em 2001 no Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Fotos 83 e 84 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Artefatos lascados (peças bifaciais) de arenito silicificado.

Lista de Figuras Figura 1 - Tabela de formas geométricas utilizadas na classificação do material lítico. Fonte: (CEMIG, 1995). Figura 2 - Sítio AM-IR-25: Jaílson. Cerâmica inclassificada: bases planas. Figura 3 - Sítio AM-IR-27: Areal do Mangangá. Cerâmica Manacapuru: perfis de bordas e formas reconstituídas. Figura 4 - Sítio AM-IR-27: Areal do Mangangá. Cerâmica Manacapuru: decoração ponteada (A e B), incisa (C) e ungulada (D), associadas a engobo branco ou vermelho, ou a enegrecimento. Figura 5 - Sítio AM-IR-27: Areal do Mangangá. Cerâmica Manacapuru: fragmento de base arredondada XI

com enegrecimento externo. Figura 6 - Sítio AM-IR-28: Areal do Maracajá. Cerâmica Guarita com decoração inciso larga. Figura 7 - Sítio AM-IR-28: Areal do Maracajá. Lítico Picoteado Guarita: pilão (P) com uso associado de abrasador côncavo (AC) e abrasador plano (AP). Figura 8 - Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Cerâmica Manacapuru: perfil de borda e forma reconstruída com decoração incisa. Figura 9 - Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Cerâmica Guarita. Perfis de borda e formas reconstruídas de cerâmica simples. Figura 10 - Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Cerâmica Guarita: perfil de borda e forma reconstruída de tigela completa. Figura 11 - Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Cerâmica Guarita: bases planas Figura 12 - Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Cerâmica Guarita. Perfis de borda e formas reconstruídas de cerâmica pintada: engobo branco (EB), engobo vermelho (EV) e pintura preta (P). Figura 13 - Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Cerâmica Guarita: Perfis de borda e formas reconstruídas de cerâmica com decoração acanalada, algumas com engobo vermelho associado. Figura 14 - Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Cerâmica Guarita: cerâmica decorada acanalada (A ao E) e digitada (F). Figura 15 - Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Lítico Guarita. Artefatos brutos: A)abrasador plano, B)Abrasador côncavo, C) Corante. Figura 16 - Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Lítico Guarita. Artefatos lascados: A e B) facas. Figura 17 - Sítio AM-IR-30: Areal do Guedes. Lítico Pré-Ceramista. Artefatos Brutos: A) quebra-côco, B) abrasador plano, C) triturador, D) corante. E) Artefato lascado: folha bifacial em elaboração? Figura 18 - Sítio AM-IR-31: Comunidade São Sebastião. Cerâmica Inclassificada: bases planas (A, C, D, G) com marca de folha de embaúba (A) e esteira (G), e com decoração ponteada (C). Perfil de borda e forma reconstruída de tigela (B); restos de colheres? (E e F). Figura 19 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Cerâmica Manacapuru: perfis de bordas, bases e formas reconstruídas. Figura 20 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Cerâmica Manacapuru. Fragmentos decorados e modelados: inciso (A ao C), ponteado (D e E), marcado com corda (F), aplicado (G) e alça modelada (H). Figura 21 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista. Artefatos brutos: abrasador plano (A e B), abrasador côncavo (C e D), abrasador convexo (E) e abrasador acanalado (F e G). Figura 22 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista. Artefatos brutos: bigornas, uma exibe uso associado de quebra-côco e base ignífera (C). Figura 23 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista. Artefatos brutos: batedor/ percutor (A e B) e triturador (C e D). Figura 24 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista. Artefatos brutos: corantes. Figura 25 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista. Artefatos brutos: quebra-côcos, dois destes apresenta uso associado de base ignífera (A e D). Figura 26 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista. Artefatos lascados: lascas preparadas (A ao D), estilhas (E ao G) e núcleo esgotado (H). Figura 27 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista. Artefatos lascados: folhas bifaciais em XII

elaboração? (A e B) e peça bifacial em elaboração? (C). Figura 28 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista. Artefatos lascados: facas (A e B) e raspadeiras laterais (C e D). Figura 29 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista. Artefatos lascados: lâmina de machado (A e B) e talhador (C). Figura 30 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista. Artefatos lascados: raspadores planoconvexos (A ao D) e raspador de bico (E). Figura 31 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista. Artefato picoteado: pilão. Figura 32 - Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista. Artefato polido: fragmento de lâmina de machado. Figura 33 - Sítio AM-IR-33: Mafaldo. Cerâmica Manacapuru. Perfis de bordas e formas reconstruídas. Elementos decorativos acanalados nos flanges labiais. Figura 34 - Sítio AM-IR-34: Cavalcanti. Cerâmica Inclassificada. Perfis de bordas e formas reconstruídas. Figura 35 - Sítio AM-IR-35: Florêncio. Cerâmica Manacapuru. Perfil de borda e forma reconstruída (A). Fragmento cerâmico com decoração nodulada e enegrecimento associado (B). Figura 36 - Sítio AM-IR-36: Mateus. Cerâmica Paredão: perfis de bordas e formas reconstruídas (A e B) e base plana (C). Alguns exibem restos de pintura de cor laranja. Figura 37 - Sítio AM-IR-36: Mateus. Lítico da fase Paredão: artefato bruto (quebra-côco). Figura 38 - Sítio AM-IR-38: Nova Esperança. Cerâmica Guarita: perfis de bases (A e B), aplique mamelonar (C). Figura 39 - Sítio AM-IR-39: São José. Cerâmica Manacapuru: perfis de bordas e formas reconstruídas (A ao E), perfis de bases (H ao K) algumas pertencentes a grandes assadores e apliques biomorfos (F e G). Figura 40 - Sítio AM-IR-39: São José. Lítico Manacapuru bruto (quebra-côco) (A) e lascado (goiva) (B). Figura 41 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Cerâmica Paredão: aplique biomorfo. Figura 42 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Cerâmica Guarita: perfis de bases planas. Figura 43 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Cerâmica Guarita: perfis de bordas e formas reconstruídas de cerâmica simples. Figura 44 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Cerâmica Guarita: cerâmica com decoração acanalada. Figura 45 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Cerâmica Guarita: perfis de bordas e formas reconstruídas de cerâmica com decoração acanalada. Algumas apresentam engobo branco e/ou pintura preta ou vermelha. Figura 46 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Cerâmica Guarita: perfis de bordas e formas reconstruídas de cerâmica com decoração digitada. Algumas apresentam engobo vermelho ou pintura preta associada. Figura 47 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Cerâmica Guarita: perfis de bordas e formas reconstruídas de cerâmica com decoração pintada: tigelas (A ao C) e vasos (E e F). Figura 48 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Cerâmica Guarita: perfis de bordas e formas reconstruídas de cerâmica com decoração pintada. Figura 49 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Cerâmica Inclassificada. Perfis de bordas e bases, e de formas reconstruídas de tigelas (A e B). Figura 50 - Sítio AM-IR-40: Morro Queimado. Lítico bruto Mesclado: quebra-côco (A), bigorna (B), batedor/ percutor (C). XIII

Figura 51 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Cerâmica Paredão: perfis de bordas, bases e formas reconstruídas: Assador (A), tigela (B), vaso (C e D) e bases planas (E ao H). Figura 52 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Cerâmica e lítico Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas: tigela (B) e vasos (A, C, D). Figura 53 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Cerâmica e lítico Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas com decoração digitada: vasos. Figura 54 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Cerâmica e lítico Guarita. Fragmento de cerâmica com decoração acanalada e engobo vermelho. Figura 55 - Sítio AM-IR-41: Carneiro. Cerâmica e lítico Guarita.Perfil de borda e forma reconstruída de uma tigela com engobo branco. Figura 56 - Sítio AM-IR-41:Carneiro. Cerâmica e lítico Guarita. Artefato lítico bruto da sub-tradição Guarita: quebra-côco. Figura 57 - Sítio AM-IR-06:Tokihiro. Cerâmica e lítico Paredão: perfis de bordas e formas reconstruídas: assador (A e B), prato (C), tigela (D) e vaso (E ao H). Figura 58 - Sítio AM-IR-06:Tokihiro. Cerâmica e lítico Paredão: Abrasador acanalado confeccionado em fragmento de cerâmica. Figura 59 - Sítio AM-IR-06:Tokihiro. Cerâmica e lítico Paredão. Artefato lítico bruto: corante. Figura 60 - Sítio AM-IR-06: Tokihiro. Cerâmica e lítico Paredão. Perfis de bases plana (A, B, D ao J), côncava (C e L), convexa (K) e anelar (M e N). Figura 61 - Ocorrência TF-2. Cerâmica Guarita; perfil de borda e forma reconstruída de vaso com flange mesial e decoração acanalada associada a pintura e engobo (A) e fragmento de parede decorada com técnica acanalada associada a pintura vermelha sobre engobo branco. Figura 62 - Ocorrência TF-3. Perfis de bordas e forma reconstruída da cerâmica Inclassificada Figura 63 - Ocorrência TF-4. Lítico bruto inclassificado: triturador Figura 64 - Ocorrência TF-7. Cerâmica Inclassificada: plaqueta Figura 65 - Sítio AM-IR-43: Lago Iranduba-II. Cerâmica Paredão. Perfis de bordas e formas reconstruídas: prato com decoração incisa (A), tigela com decoração incisa (B) e vaso (C). Figura 66 - Sítio AM-IR-43: Lago Iranduba-II. Cerâmica Paredão. Aplique biomorfos (A e B), alças (C e D), fragmento de rodela de fuso (E) e fragmento cerâmico com decoração escovada/ raspada (F). Figura 67 - Sítio AM-IR-43: Lago Iranduba-II. Cerâmica Guarita: perfis de bordas e de flanges, e formas reconstruídas: tigela com decoração pintada (A), vaso (B), um com decoração acanalada e, flange mesial com decoração acanalada (C). Figura 68 - Sítio AM-IR-43: Lago Iranduba-II. Cerâmica Guarita: apliques biomorfos com engobo branco. Figura 69 - Sítio AM-IR-43: Lago Iranduba-II. Cerâmica Guarita: perfil de borda e forma reconstruída de tigela com engobo branco. Figura 70 - Sítio AM-IR-43: Lago Iranduba-II. Lítico bruto Mesclado: abrasador côncavo. Figura 71 - Sítio AM-IR-44: São João. Perfis de borda e flange mesial, e de forma reconstruída de cerâmica Guarita vaso (A), flange mesial (B). Figura 72 - Sítio AM-IR-45: Bela Vista do Iranduba. Cerâmica Guarita: perfis de bordas e bases, e de formas reconstruídas de, algumas com engobo e pintura. Figura 73 - Sítio AM-IR-45: Bela Vista do Iranduba. Cerâmica Guarita: fragmentos com decoração XIV

acanalada (A e B) e fragmento de rodela de fuso (C). Figura 74 - Sítio AM-IR-45: Bela Vista do Iranduba. Lítico bruto Mesclado: quebra-côco (A); abrasador côncavo (B); alisador (C). Figura 75 - Sítio AM-IR-46: Salviano. Cerâmica Manacapuru: tigela com decoração incisa e ponteada (A); aplique biomorfo (B); fragmento cerâmico com decoração incisa e acanalada associada a engobo vermelho (C). Figura 76 - Sítio AM-IR-46: Salviano. Cerâmica Paredão: perfis de bordas e formas reconstruídas: tigela (A) e vasos (B ao E). Decoração incisa (A ao D, e G), uma decoração acanalada associada (C), base anelar (F) e fragmento de aplique biomorfo (H). Figura 77 - Sítio AM-IR-46: Salviano. Perfis de bordas e formas reconstruídas de cerâmica Guarita. Figura 78 - Sítio AM-IR-46: Salviano. Cerâmica Histórica: perfil de borda e forma reconstruída de vaso com decoração penteada (A), fragmento de borda com alça (B), fragmento de parede com alça e decoração digitada (C) e fragmento de lajota? (D). Figura 79 - Sítio AM-IR-47: Barroso. Cerâmica Manacapuru: aplique biomorfo. Figura 80 - Sítio AM-IR-47: Barroso. Cerâmica Paredão: perfil de borda e forma reconstruída de assador com decoração incisa (A), aplique biomorfo (B). Figura 81 - Sítio AM-IR-48: Lago Feliciano. Cerâmica Histórica: Perfil de borda e forma reconstruída de tigela (A), bases planas (D-G), alça modelada (C), pintura vermelha (C). Figura 82 - Sítio AM-IR-48: Lago Feliciano. Lítico bruto Histórico: abrasador convexo. Figura 83 - Sítio AM-IR-49: Lago Santo Antônio. Cerâmica Histórica: perfis de bordas e formas reconstruídas: assador (A),vaso (B), base plana com marca de esteira (C), alças (D e E) e forno (F, crédito: Francisco Carlos Nascimento-UFAM, 2002). Figura 84 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Paredão: perfil de base plana. Figura 85 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Guarita: perfis de bordas e formas reconstruídas de cerâmica simples: tigelas. Figura 86 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Guarita: perfis de bases planas, uma com marca de esteira (A). Figura 87 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Guarita: perfis de bordas e formas reconstruídas de assadores de beijú de grandes dimensões. Observa-se perfurações para amarração com cordas (A e B). Figura 88 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Guarita. Perfis de borda e formas reconstruídas de cerâmica simples: vasos. Figura 89 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Guarita Perfis de borda e formas reconstruídas de vasos.com decoração entalhada no lábio Figura 90 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Guarita. Perfil de base convexa reconstruída e de contorno apontado, semelhante a uma proa de barco. Figura 91 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas de tigelas com decoração digitada. Figura 92 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas de tigelas (A) e vasos (B e C), estes últimos com decoração acanalada. Figura 93 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Guarita. Perfis de flanges mesiais com decoração acanalada, um exemplar com engobo branco associado. XV

Figura 94 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Guarita. Elementos cerâmicos: conexão de vasilha geminada com decoração acanalada (A), aplique biomorfo com decoração excisa (B) e rodela de fuso (C). Figura 95 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Guarita: trempe modelado com restos de decoração ponteada. Figura 96 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Histórica: perfis de bordas e formas reconstruídas de vasos com alças modeladas. Figura 97 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Histórica: perfis de bordas e formas reconstruídas, algumas com engobo vermelho ou branco, ou decoração escovada com brunidura associados: tigela (A) e vasos (B e C). Figura 98 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Histórica: perfis de vasilhames torneados, uma delas apresenta marca de torno (A). Figura 99 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Cerâmica Histórica. Elementos cerâmicos: cachimbo (A), alças (B e C) e fragmento com vestígio de alça e decoração incisa (D). Figura 100 - Sítio AM-IR-50: Boa Sorte. Lítico mesclado bruto: abarsador côncavo. Figura 101 - Sítio AM-IR-51: Ilha. Cerâmica Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas: assadores (A ao C), tigelas (D ao F) e vasos (G ao K). Figura 102 - Sítio AM-IR-51: Ilha. Cerâmica Guarita. Perfis de bases planas. Figura 103 - Sítio AM-IR-51: Ilha. Cerâmica Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas com decoração digitada: vasos (A) e tigela (B), sendo uma com brunidura associada. Figura 104 - Sítio AM-IR-51: Ilha. Cerâmica Guarita. Perfil de borda e forma reconstruída de vaso com decoração ponteada. Figura 105 - Sítio AM-IR-51: Ilha. Cerâmica Guarita. Perfil de borda e forma reconstruída de vaso com engobo vermelho. Figura 106 - Sítio AM-IR-51: Ilha. Cerâmica Guarita. Perfil de borda e forma reconstruída de vaso com decoração incisa fina (A), fragmento de parede de vasilhame com decoração incisa fina associada a engobo vermelho (B). Figura 107 - Sítio AM-IR-51: Ilha. Cerâmica Guarita. Perfis de borda e formas reconstruídas de vasos com decoração incisa larga (A) e incisa fina (B e C). Figura 108 - Sítio AM-IR-51: Ilha. Cerâmica Guarita. Perfil de borda e forma reconstruída de vaso com decoração escovada. Figura 109 - Sítio AM-IR-51: Ilha. Cerâmica Histórica.Perfis de bordas e formas reconstruídas de vasos (A e B) e bases (C ao E). Figura 110 - Sítio AM-IR-51: Ilha. Cerâmica Histórica. Elementos cerâmicos: alças (A e B), fragmento de parede com resto de alça (C), fragmento de parede com apêndice aplicado (D), cachimbo (E), fragmento de parede com decoração inciso largo (F) e fragmento de parede com pintura vermelha (G). Figura 111 - Sítio AM-IR-51: Ilha. Lítico bruto Mesclado: abrasador côncavo (A); abrasador acanalado (B), abrasador de escotadura (C e D). Figura 112 - Sítio AM-IR-52: Apolônio. Cerâmica Paredão. Perfis de bordas e formas reconstruídas de vasos inciosos (A e C) e tigelas com lábio entalhado (B); base plana (D); fragmento inciso (E); aplique biomorfo (F). XVI

Figura 113 - Sítio AM-IR-52: Apolônio. Cerâmica Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas de tigelas (A, C e D) e vasos (B) simples. Figura 114 - Sítio AM-IR-52: Apolônio. Cerâmica Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas de tigelas (A e B) e vasos (C) com pintura e engobo associados. Figura 115 - Sítio AM-IR-52: Apolônio. Cerâmica Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas de tigelas (A e B) e vasos (C) com decoração acanalada. Figura 116 - Sítio AM-IR-52: Apolônio. Cerâmica Guarita. Perfis de bases planas (A e B), convexa (C) e anelar? (D). Figura 117 - Sítio AM-IR-52: Apolônio. Cerâmica Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas de vasos com decoração digitada. Figura 118 - Sítio AM-IR-52: Apolônio. Cerâmica Guarita. Elementos cerâmicos: flanges mesiais com decoração acanalada, alguns associados a engobo e/ou pintura (A ao G), fragmento com decoração acanalada (H), aplique biomorfo exciso (I), carimbo (J) e fragmento de maracá cilíndrico ? (K). Figura 119 - Sítio AM-IR-52: Apolônio. Lítico Mesclado. Artefatos lascados: goiva (A) e raspador de escotadura (B). Artefatos polidos: fragmentos de lâminas de machado (C e D). Figura 120 - Sítio AM-IR-53: Lago do Testa. Cerâmica Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas de tigela (A) e vasos (B e C) com decoração incisa (B) e acanalada. Figura 121 - Sítio AM-IR-53: Lago do Testa. Lítico Guarita lascado: faca. Figura 122 - Sítio AM-IR-54: Vandercléia. Cerâmica Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas de tigelas (A e B) e vasos (C e D) simples. Figura 123 - Sítio AM-IR-54: Vandercléia. Cerâmica Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas de vasos (A e E) com decoração ponteada ou engobo branco, tigela (B e C) com decoração inciso fino, acanalada ou engobo branco, flange mesial com decoração acanalada (D) e bases planas (F ao H). Figura 124 - Sítio AM-IR-54: Vandercléia. Lítico Guarita bruto (abrasador acanalado, A) e polido (lâmina de machado). Figura 125 - Sítio AM-IR-55: Igarapé do Testa-I. Cerâmica Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas de assadores (A) com enegrecimento e fuligem na face externa, vaso globular (B) e bases planas (C ao E). Figura 126 - Sítio AM-IR-55: Igarapé do Testa-I. Cerâmica Guarita. Perfis de bordas e formas reconstruídas de tigelas com decoraçãp digitada. Apresentam associado pintura vermelha ou enegrecimento. Figura 127 - Sítio AM-IR-55: Igarapé do Testa-I. Cerâmica Guarita. Perfil de borda e forma reconstruída de tigela com flange mesial de decoração acanalada e engobo branco. Figura 128 - Sítio AM-IR-56: Igarapé do Testa-II. Lítico Guarita. Artefatos lascados: raspador de escotadura (a) e talhador (B). Figura 129 - Sítio AM-IR-56: Igarapé do Testa-II. Lítico Guarita. Artefato lascado: lasca simples em forma de cunha. Figura 130 - Sítio AM-IR-57: Cachoeira do Castanho. Cerâmica Inclassificada. Perfil de borda e forma reconstruída de tigela com decoração ponteada. Figura 131 - Sítio AM-IR-57: Cachoeira do Castanho. Lítico Pré-ceramista. Artefatos brutos: triturador (A e D), abrasador côncavo (B), quebra-côco (C). Artefato polido: mão-de-mó (E). XVII

Figura 132 - Sítio AM-IR-57: Cachoeira do Castanho. Lítico Pré-ceramista. Artefatos lascados. Peça bifacial em elaboração (A), goiva (B), raspadeira de extremidade (C) e faca (D). Figura 133 - Sítio AM-IR-57: Cachoeira do Castanho. Lítico Pré-ceramista.Artefatos lascados. Lâmina de machado (A e B), raspador de ponta (C) e raspadeira bifacial (D). Figura 134 - Sítio AM-IR-57: Cachoeira do Castanho. Lítico Pré-ceramista. Artefato lascado: Núcleo esgotado. Figura 135 - Ocorrência V-1. Cerâmica histórica. Perfil de borda e forma reconstruída de vaso. Figura 136 - Sítio AM-IR-49: Lago Santo Antônio. Artefatos históricos: moeda de cobre colonial (A), pregos (B e C), chave de enlatado (D), argamassa de construção (E). Figura 137 - O pão de guerra (miapê) entaniçado para ser enterrado, segundo Monteiro (2001). Figura 138 - Detalhe de uma gravura da Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1792), onde se observa uma índia fumando um cachimbo de haste bem longa, enquanto carrega seu filho. Fonte: CFC (1970). Figura 139 - Ponta de projétil recuperada em 2002 no Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Figura 140 - Pontas de projétil do Complexo Canaima, Venezuela (Rouse e Cruxent-1963). Figura 141 e 142- Cunhas ou cinzéis bifaciais a tabulares das fases Talamanca e Boquete, Rio Chiriquí, Panamá (Ranere e Cooke-1995). Figura 143- Peças bifaciais e plano-convexas do Complexo Canaima, Venezuela (Rouse e Cruxent1963).

Lista de Mapas Mapa I - Imagem de Satélite Landsat (INPE,2003) da Área de Confluência dos Rios Negro e Solimões, Estado do Amazonas, no Período da Seca (Jul/Out) com os Sítios e Ocorrências Arqueológicas Levantadas Pelo Projeto Amazônia Central Entre 1995-2002. Mapa II - Mapa da Área Pesquisada em 2001 Pelo Projeto de Mestrado “Levantamento Arqueológico das Áreas de Interflúvio na Área de Confluência dos Rios Negro e Solimões, AM”.

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Anexos Anexo I - Os Sítios e Ocorrências Arqueológicas e Suas Ocupações Anexo II - Quantificação Geral do Material Arqueológico Anexo III - Quantificação do Material Cerâmico Analisado Anexo IV - Quantificação do Material Lítico Analisado Anexo V - Quantificação do Material Cerâmico Analisado de Acordo com os Sítios e Ocorrências Arqueológicas Anexo VI - Quantificação do Material Lítico Analisado de Acordo com os Sítios e Ocorrências Arqueológicas Anexo VII - Análise Estatística do Material Cerâmico Anexo VIII - Ficha de Análise Cerâmica Anexo IX - Histogramas de Análise Cerâmica Anexo X - Ficha de Análise Lítica Anexo XI - Descrição dos sítios e Ocorrências arqueológicas de Terra Firme Anexo XII - Descrição dos Sítios e Ocorrências Arqueológicas da Várzea

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Versão revista, corrigida e modificada após sugestão e conselho dos membros da Banca de Mestrado (Profs. Drs. Astolfo G. de Mello-Araújo, Eduardo Góes Neves e Levy Figuti) durante a defesa desta dissertação, realizada na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCHUSP) na data de 19 de Dezembro de 2003.

São Paulo, Novembro de 2004.

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RESUMO

O enfoque da dissertação foi o levantamento de sítios arqueológicos localizados nas zonas de interflúvio dos rios Negro e Solimões, AM, visando contribuir para a resolução de dois problemas distintos de pesquisa: um geral e outro específico. O primeiro problema dizia respeito ao teste da aplicabilidade de modelos de adaptação humana na arqueologia amazônica, particularmente no que se referia à possibilidade de ocorrência de sítios arqueológicos de grandes dimensões na área de interflúvio. O segundo problema estava ligado à definição de uma tipologia dos sítios arqueológicos presentes na área de pesquisa.

A pesquisa resultou no achado de 18 sítios (alguns de grandes dimensões) e 10 ocorrências arqueológicas (peças arqueológicas encontradas de forma isolada, não associadas a um contexto arqueológico) no ambiente de interflúvio ou terra firme; e de 16 sítios e 3 ocorrências arqueológicas no ambiente de várzea, resultando em uma distribuição aproximada de 1,9 sítios/ Km2, indicando intensa ocupação da paisagem em época pré-colonial e histórica.

Pela primeira vez na região, ocupações pré-ceramistas com datas muito antigas foram localizadas, indicadas pela tipologia dos artefatos líticos recuperados: peças planoconvexas, bifaciais, pontas de projéteis e numerosas lascas e estilhas de retoque.

Os demais sítios encontrados associam-se a grupos ceramistas que passaram a ocupar a região do séc III AC ao séc. XVI DC, representados pelas ocupações Manacapuru, Paredão e Guarita, e também por grupos luso-brasileiros, africanos e indígenas etno-históricos em período posterior. O predomínio dos sítios Guarita na área, sugere a possibilidade de ter havido uma explosão populacional com intensa ocupação do espaço físico através de uma forma de organização social tipo cacicados, com controle dos recursos ecológicos dos ambientes de várzea e interflúvio. Palavras-Chave: Amazônia, Arqueologia, Cacicados, Interflúvio, Várzea.

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ABSTRACT The focus of the present study was the conduct of an archaeological survey in the confluence zone of the rivers Solimões and Negro in Amazonas state, Brazil, as an attempt to contribute to the solution of two distinct research problems: a general one and a specific one. The first problem was related to the applicability test of human adaptation models in the Amazon archaeology, specially the possibility of encountering large archeological sites in the uplands. The second problem concerned the definition of a typology of the archaeological sites located in the researched area.

The survey resulted in the discovery of 18 sites (some of them of large dimensions) and 10 archaeological findings (archaeological pieces found isolated, not being associated with any archaeological context) in the uplands, and 16 sites and 3 archaeological findings in the floodplains. The average site distribution was, therefore, 1.9 sites/Km2, what indicates an intense occupation of the landscape in the precolonial and historical ages.

For the first time in that region, preceramic occupations dated from long ago were spotted, as indicated by the lithic typology of recovered artifacts: plain-convex scrapers, bifacial pieces, arrowheads, and several chips and flakes obtained by retouching.

The other sites that were found are associated with ceramic groups that occupied the region from the third century BC to the sixteenth century AD, represented by Manacapuru, Paredão and Guarita occupations as well as by Luso-brazilian, African and Ethno-historical indigenous groups in a later period. The hegemony of Guarita sites suggests the possibility of a population explosion with an intense occupation of the area through a chiefdom social organization, having the control over the ecological resources from the upland and floodplain environments.

Key words: Amazon, Brazilian archaeology, Precolonial archaeology, Indigenous societies, Chiefdoms.

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APRESENTAÇÃO

Esta dissertação divulga os resultados das atividades de mestrado desenvolvidas no período de Agosto de 2000 a Fevereiro de 2003, vinculadas ao Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP) e financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

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INTRODUÇÃO: O PROJETO DE MESTRADO E SUAS ATIVIDADES GERAIS

A presente dissertação apresenta os resultados do levantamento sistemático de sítios arqueológicos localizados nas zonas de interflúvio da área de abrangência do Projeto “Levantamento Arqueológico da Área de Confluência dos Rios Negro e Solimões, AM” ou “Projeto Amazônia Central”, localizada na região do município de Iranduba, próximo à cidade de Manaus, Amazonas. Tais atividades visaram contribuir para a resolução de dois problemas distintos de pesquisa: um geral e outro específico. O primeiro problema dizia respeito ao teste da aplicabilidade de modelos de adaptação humana na arqueologia amazônica, particularmente no que se referia à possibilidade de ocorrência de sítios arqueológicos de grandes dimensões na área de interflúvio. O segundo problema estaria ligado à definição de uma tipologia de sítios arqueológicos presentes na área de pesquisa.

Considerando que a área em estudo possuía um quadro de pesquisa ainda preliminar, limitado a locais ribeirinhos, a pesquisa proposta possibilitaria que tal quadro fosse estendido para os ambientes de interflúvio. Considerando, ainda, que na área de estudo havia poucos setores com cobertura vegetal intensa, devido à atividade antrópica local representada por pastagens e campos de cultivo, a logística de campo seria bem mais fácil do que em outras partes da Amazônia, onde a cobertura vegetal dos sítios é predominante. Tais condições facilitariam por um lado o acesso aos locais de levantamento e a própria identificação dos sítios arqueológicos, já que pelo menos os depósitos superficiais teriam sua visibilidade aumentada devido ao desmatamento. O trabalho possibilitaria, desse modo, um teste inicial dos modelos revistos para o ambiente de terra firme, algo ainda não sistematicamente realizado devido às dificuldades logísticas relacionadas às pesquisas em áreas de interflúvio na Amazônia. Se bem sucedido, ele traria uma contribuição original à arqueologia da região.

Para alcançar o objetivo proposto, foi a princípio definido um grupo de sete unidades amostrais de levantamento, correspondendo aproximadamente a 20% do total das regiões de interflúvio na área de projeto, cada uma com 2 Km2, as quais seriam sistematicamente percorridas. Todavia, no decorrer das atividades de campo, esse método de levantamento não foi seguido devido a dificuldades logísticas, sendo dado preferência à busca de sítios arqueológicos ao longo da rodovia AM-452: Manuel 5

Urbano–Iranduba, envolvendo suas estradas vicinais e propriedades relacionadas, procurando também informações orais entre a população local, o que resultou no achado de 34 sítios e 13 ocorrências arqueológicas (peças arqueológicas encontradas de forma isolada, não associadas a algum contexto arqueológico) nos ambientes de interflúvio e de várzea. Os sítios eventualmente localizados tiveram suas áreas delimitadas, procurando avaliar suas dimensões e afiliações arqueológicas, como os seus correspondentes períodos de ocupação.

A etapa de pesquisa desenvolvida no ano de 2002 consistiu na conclusão da análise do material arqueológico recuperado na etapa de campo de 2001, bem como o preparo de pranchas ilustrativas e o início da elaboração desta dissertação. A análise revelou para a área em estudo a presença de ocupações pré-ceramistas de horizonte cultural caçador-coletor/ horticultor incipiente; de ocupações ceramistas da Fase Manacapuru (Tradição Borda-Incisa ou Barrancóide), da Fase Paredão (Tradição Inciso-Ponteada), e da subtradição Guarita (Tradição Policroma da Amazônia), pertencentes ao horizonte cultural horticultor em alguns casos envolvendo sistemas de organização social tipo cacicado; e também a presença de ocupações históricas. Uma porcentagem do material permaneceu sem correlação cronológico-cultural, pela baixa amostragem de coleta superficial e a ausência de datações radiométricas, podendo então estar associada a algumas das ocupações já levantadas, ou a alguma ocupação pré-colonial até então desconhecida, ou a grupos etno-históricos.

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1. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

A distinção conceitual entre ambientes de várzea e terra firme para explicar processos adaptativos humanos na Amazônia tem sido utilizada há mais de 30 anos, inicialmente por Lathrap (1968). Tal distinção heurística consolidou-se, porém, através do trabalho de Meggers (1971), cujo embasamento teórico estava ligado ao neo-evolucionismo norte americano da década de 50 (Viveiros de Castro, 1996: 186), bem como pelas idéias apresentados por Lowie (1948) e Steward (1948) no Handbook of South American Indians.

Assim, baseando-se em características culturais comuns a alguns grupos indígenas contemporâneos da Amazônia (Kamayurá, Jívaro, Kayapó, Sirionó, Wai-Wai), Meggers definiu a terra firme como uma área cultural comum, cujos limites coincidiriam, aproximadamente, com os limites geográficos naturais (Meggers, 1971: 70 e 71). A correlação pôde ser explicada não só pela presença de matérias primas semelhantes, como também por fatores deterministas, de modo que para ambientes de terra firme certos elementos influenciariam os processos adaptativos, tais como: a infertilidade do solo que limitaria a intensidade do aproveitamento agrícola, a armazenagem de alimentos em curto período de tempo devido à alta umidade e temperatura; e a baixa concentração de proteína animal e vegetal, obrigando o uso de diversos recursos de subsistência, objetivando um melhor equilíbrio na dieta alimentar. Desse modo, entre as populações indígenas haveria uma adaptação a este meio através do equilíbrio entre sua demografia e a capacidade produtiva de longo prazo do meio ambiente, impedindo super exploração e destruição irreversível dos recursos básicos (Meggers, 1971: 143-146). Esse equilíbrio teria sido mantido por meios que ampliariam o rendimento dos alimentos: cultivo predominante de tubérculos, a caça e a pesca, complementaridade alimentar, preservação de alimentos (Meggers, 1971: 146-150), e fatores que controlariam o aumento populacional (Meggers 1971: 150- 159). Ainda nesta perspectiva, a concentração demográfica teria sido evitada através de mecanismos culturais, pois embora o ambiente de terra firme apresente grande variedade de recursos de fauna e flora, a sua distribuição é rarefeita, o que somado à baixa fertilidade do solo, levaria à mudança freqüente das roças. A restrição contra o agrupamento das casas, bem como contra a expansão dessas além de determinado tamanho, indicaria a impossibilidade da exploração dos recursos locais em longo prazo 7

por populações densas. Assim sendo, o modelo proposto para o tamanho, densidade e duração para os assentamentos de terra firme seria o de comunidades dispersas com baixa densidade demográfica, e curtos períodos de duração (Meggers, 1971: 159-163).

Quanto à adaptação humana no ambiente de várzea, Meggers (1971) propõe uma complexidade superior àquela existente no ambiente de terra firme, devido à abundância de recursos aquáticos e da periódica fertilização dos campos de cultivo de várzea em conseqüência das cheias (Meggers, 1971: 177- 180, 188-189). Tais diferenças, no entanto, não impediriam o emprego de técnicas de rendimento de alimentação e de controle do tamanho e densidade de população, visto que, de acordo com o modelo, essas cheias, além de inundarem os campos de cultivo de várzea, causariam grande dispersão dos recursos faunísticos aquáticos (Meggers, 1971: 194204). Citando os relatos coloniais dos séculos 16 e 17 a respeito dos índios Omágua e Tapajó, Meggers propôs que as sociedades de várzea seriam caracterizadas por gigantescas aldeias sob o regime de governo de cacicados, grandes plantações, produção e comércio abundante de artesanato, organização social estratificada, templos com ídolos, e guerras envolvendo grande número de indivíduos, o que também envolvia a construção de paliçadas defensivas nas aldeias (Meggers, 1971: 180-184, 186-191, 198-199).

Por outro lado, Lathrap (1970) propôs outras perspectivas para a origem e adaptação dos povos indígenas da Amazônia. A princípio contesta o modelo proposto por Steward, Meggers e Evans, e outros autores das décadas de 50 e 60, os quais defendiam o conceito de “uma cultura de floresta tropical” sob um forte cunho determinista,

ou

seja,

unidades

sociais

com

populações

pequenas

e

não

hierarquizadas, como as únicas capazes de se adaptar ao ambiente supostamente opressor da Bacia Amazônica.

Ao longo de seu trabalho, sob influência de Sauer (1950, in: Lathrap, 1970: 116) Lathrap defendeu a idéia de um desenvolvimento autóctone para as culturas ceramistas da Bacia Amazônica. Quanto à origem da cultura de floresta tropical, Lathrap (1970: 72) defendeu a hipótese de que na Amazônia central, próximo à confluência do rio Amazonas com o rio Negro e o Madeira, seria o centro de dispersão de uma série de culturas cerâmicas que arqueologicamente distribuem-se pelas bacias 8

do Amazonas e do Orinoco (Lathrap, 1970: 121). Para Lathrap a definição de uma “cultura de floresta tropical”, teria que enfatizar os elementos culturais em comum aos grupos de várzea e aos grupos de planaltos interfluviais e não ser utilizada como um estágio de evolução cultural.

Nesse modelo, essas sociedades teriam um estilo de vida baseada na agricultura intensiva de raízes (mandioca, principalmente), aproveitando os recursos faunísticos aquáticos, sendo que a caça aos mamíferos terrestres e das margens, bem como as aves da floresta, teria ficado em segundo plano (Lathrap, 1970: 49). Para Lathrap o uso da mandioca amarga (Manihot esculenta) como base para produção de beijú e farinha, seria indicativo não de uma agricultura de subsistência, e sim de uma economia agrícola intensificada, cujos excedentes de alimentos produzidos, estariam mantidos dentro de uma ampla rede de trocas (Lathrap, 1977: 740).

Sob o ponto de vista da ecologia humana, a diferenciação das adaptações humanas baseadas nos recursos oferecidos pela várzea e a terra firme, seria uma explicação simplista demais. Neste caso, Morán (1933: 135) chama a atenção para o maior número de enfoques ecológicos efetuados nos últimos anos, os quais forneceram maior número de informações, que se opunham às explicações simplistas do passado, que procuravam correlacionar uma variedade ecológica específica (ex: o solo, as proteínas) com estruturas sóciopolíticos indígenas. Segundo este autor, seria necessário caracterizar as populações amazônicas com mais detalhes, ao julgar pela variedade do solo e da vegetação dos quais dependem as espécies de animais caçadas, e não simplesmente pela dicotomia tradicional entre “populações de terra firme” e “populações de várzea”. Morán utiliza em seu argumento a tipologia que divide os rios da Amazônia em três tipos: os de água branca, que transportam sedimentos de alta fertilidade; os de água preta, com alta acidez e baixo conteúdo mineral; e os de água clara, que possuem águas de qualidade média em termos de nutrientes (Morán, op cit.: 121). Estes diferentes tipos de rio estariam associados a uma flora diversificada em um verdadeiro mosaico ecológico, representando uma fonte de oportunidade para as populações humanas da Amazônia (Morán, op cit: 124). Quanto aos solos amazônicos, as antigas idéias deterministas pregavam uma suposta pobreza, que não é confirmada pela rica variedade edafológica presente na região. Assim, entre os 75% de solos ácidos e quimicamente pobres ali existentes, há milhões de hectares de solos 9

de boa fertilidade (Morán, 1993: 130).

Para o ambiente de várzea da Amazônia central, Morán (op cit: 190-197) aponta duas variedades: baixa e alta. A primeira seria caracterizada por uma vegetação flutuante associada a rios de água clara e branca, sendo que nas áreas de águas negras não ocorreriam essas vegetações; já a segunda, tipo alta, predominaria nas áreas do alto Amazonas, em águas acima da cidade de Manaus (rio Solimões), cuja vegetação é de selva contínua. As populações pré-coloniais que ali teriam se adaptado parecem ter tido maiores densidades demográficas nas áreas de várzeas altas de rios brancos, como o Solimões. Seu cotidiano seria influenciado pelas flutuações do nível do rio, cujas variações proporcionariam grande variedade de recursos exploráveis, como a pesca e o solo para atividades agrícolas, o qual era renovado anualmente por sedimentos andinos nas várzeas dos rios brancos e na várzea baixa (Morán, op cit.: 218-220). As populações pré-históricas das áreas de várzea baixa parecem ter sido hierarquizadas, na forma de cacicados hereditários como o dos Tapajó, sob um cunho expansionista, dominando centenas de quilômetros ao longo do rio Amazonas, mantendo relações comerciais com regiões situadas a grandes distâncias (Morán, op cit.: 201).

Quanto ao ambiente de terra firme, Morán (op cit.: 188-189) se alinha com as teorias de manejo de recursos quando afirma que a adaptação indígena seria baseada na promoção da diversidade genética através da criação e manejo de áreas de matas antropogênicas com alta concentração de recursos úteis (por exemplo: matas de cipó, de castanheiras, de bambu, etc...), as quais estariam situadas próximas às aldeias, constituindo ilhas de recursos em áreas de solos de qualidade inferior, mas próximas a solos melhores. Essas matas também ofereceriam vantagem em atrair a caça próximo às aldeias, reduzindo o custo da obtenção de proteína animal, propiciando um ambiente favorável para antas, veados, pacas e cutias (Morán, 1993: 188-189). Tais hipóteses refutariam as idéias deterministas as quais postulavam que a baixa escassez de caça e pesca na selva tropical teria limitado o desenvolvimento cultural dos assentamentos humanos na terra firme (Gross, 1975).

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Viveiros de Castro (1996: 183) ao analisar os modelos acima, comenta alguns pormenores importantes: a variedade pedológica, botânica e zoológica não se adapta na simples oposição terra firme com seus rios de águas pretas e/ou claras versus várzea com seus rios de águas claras, assim, não é possível continuar agrupando diferentes ecossistemas na categoria de terra firme, a qual corresponde a 98% da Amazônia. Isto implica que muitos solos de terra firme não são tão pobres quanto se pensava, enquanto que algumas formações vegetais nestes ambientes revelam ocupação intensa e prolongada. Dentre estas formações destacam-se florestas antropogênicas manejadas de palmeiras, castanheiras e outras variedades botânicas, que além de corresponderem a 12% da terra firme, são o produto de milênios de ocupação humana, ou seja, florestas sucessivas relacionadas a sítios arqueológicos e correspondem a antigos locais de coivara (corte-queima), campos e assentamentos.

Um ponto importante a ser lembrado é a abordagem histórico ecológica amazônica de Baleé (1995), a qual enfatiza que muitos recursos botânicos utilizados pelas modernas populações indígenas de hábito caçador-coletor, não passam de antigas plantas domesticadas por seus ancestrais, os quais provavelmente possuíam hábito sedentário-horticultor. Pelo impacto da colonização, estes foram forçados a adotar um sistema de vida nômade e por fim forrageiro; sendo suas recentes áreas-fonte de matéria prima, o resultado de campos agrícolas manejados em época pré-colonial.

Pesquisas efetuadas por Cavelier et al. (1995) e Morcote Rios et al. (1998: 58) no jazimento arqueológico de Peña Roja, na região de Araracuara, médio rio Caquetá, Colômbia, revelaram a prática de manipulação de palmáceas por grupos préceramistas de 9000 AP. O costume é ainda hoje observado entre os nômades Nukak da província de Guaviare (Morcote Rios et al.,1998). Para a região do Pantanal, Oliveira (2000) menciona entre os Guató o manejo tradicional para a palmeira Acuri. Roosevelt (1991:1624) cita como exemplo de ocupações intensas e prolongadas, a região de Santarém, Pará, como um centro de sociedades complexas com grandes estabelecimentos nucleados, sustentados por agricultura intensiva, forrageio, comércio e tributo; mostrando um bem sucedido processo de adaptação humana ao ambiente tropical no último milênio.

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Nesta perspectiva, as sociedades indígenas contemporâneas seriam remanescentes geograficamente marginais dos povos de regime cacicado, que sobreviveram ao extermínio que tomou espaço da várzea durante a conquista européia (Roosevelt, 1992: 53-80, in: Viveiros de Castro, 1996: 185); visto que pelo deslocamento e perda demográfica trazidas pela expansão européia, essas populações complexas tiveram de se adaptar a um modo de vida caracterizado por padrões de exploração menos intensos dos recursos naturais (Roosevelt, 1992: 70).

De acordo com Johnson e Earle (1997: 207 e 208), o cacicado é um grupo organizado sob um único indivíduo ou conselho de governantes, o qual estende-se além da aldeia ou grupo local, envolvendo populações bem maiores que as das sociedades não estratificadas; sua organização regional é baseada em uma classe de elite de chefes relacionados entre si por descendência e casamento, considerados descendentes de divindades, socialmente isolados, e ocupando posições de destaque nas funções rituais. Neste ponto, vale lembrar o relato de Mauricio de Heriarte, em 1662, a respeito dos Omágua, cujos líderes das aldeias obedeciam a um único chefe denominado Tururucari, que por sua vez era também considerado um deus. (Porro, 1996: 75). Ao observar os aspectos de algumas sociedades das ilhas Hawaí, Marquesas e Trobriand, Kirch (1991: 119-145) e Jonhson & Earle (1997: 208) explicam que a evolução de um cacicado baseia-se no desenvolvimento de sistemas financeiros utilizados para o funcionamento das instituições locais, podendo envolver desde uma distribuição da produção alimentícia e artesanal, coletada entre todas as residências como uma taxa ou arredamento, sendo diretamente dividida entre os trabalhadores do cacicado (Fundo Básico ou Staple Finance), bem como a produção controlada e distribuição de primitivos objetos de valor, símbolos de status social, cuja posse definia os direitos políticos e econômicos de uma pessoa na sociedade (Fundo Abundante ou Wealth Finance). Dentro desses sistemas, cabia a um líder regional controlar ou monopolizar o manejo econômico transferindo seu poder sob certas condições específicas, entre as quais se destaca o manejo de risco (produção e armazenagem de excedentes para serem consumidos em períodos de carestia), o domínio tecnológico (intensificação da produção através de técnicas de melhoria, ex: construção de aterros agrícolas, canais de irrigação, etc...), a guerra (expansão territorial objetivando controlar a população dominada e seus excedentes de produção, o que envolvia grande número de guerreiros), e o comércio em grande escala (praticado por pessoas importantes, visto 12

que exigia acordos negociados politicamente e/ou tecnologia de comércio elaborada, ex: construção de canoas para grandes viagens).

As possíveis conseqüências arqueológicas de um cacicado na área de pesquisa, seria a evidenciação de estruturas de grande escala, tais como: praças, valas, aterros, e principalmente a relação de grandes aldeias com comunidades satélites, que indicariam tanto a organização central de uma força de trabalho, como também a função de um grande sítio como um centro político e cerimonial regional.

Spencer e Redmond (1992: 136) citam fontes etnohistóricas do séc. XVI da região dos Llanos venezuelanos, onde há descrições de grande número de cacicados atribuídos aos grupos indígenas Achagua e Otomaco. Esses cacicados recebiam a denominação de Caquetío, e até poderiam envolver em alguns casos 23 aldeias muito bem fortificadas, como amplas extensões de terras e cursos d’água, sob domínio de um chefe principal, o qual poderia dispor de um número de 30.000 guerreiros em períodos de guerras, visto que cada aldeia poderia conter uma população de até 4000 indivíduos.

Pesquisas recentes têm também demonstrado que o processo de ocupação humana da Amazônia vem ocorrendo em datas bem remotas (Roosevelt, 1991: 1621) conforme pode se observar pela presença de artefatos líticos lascados datados entre 8000 e 4000 a.C. (Simões, 1976; W. Hurt, comunicação pessoal; in: Roosevelt, 1992: 60). Na área de inundação da Usina Hidrelétrica de Samuel, no alto rio Jamari, Rondônia, Miller (1992:35-37) menciona sítios arqueológicos pré-ceramistas de caçadores-coletores (Fase Itapipoca e Pacatuba) e agricultores incipientes (Fase Massangana), localizados sobre barrancos adjacentes aos rios, com datas oscilando entre 8320±100 e 2640±60 AP.

Pesquisas efetuadas por Roosevelt no Sambaqui da Taperinha e na Caverna da Pedra Pintada revelam resultados surpreendentes, como as mais antigas e contínuas ocupações na região central da Amazônia. O sambaqui da Taperinha, perto de Santarém, Pará, apresenta datações entre 7080±80 e 5705±80 AP (Roosevelt, 1991: 1623); enquanto que a Caverna da Pedra Pintada, situada na região de Monte Alegre, oposto ao Sítio Taperinha, indicou a presença de sete depósitos estratificados, do 13

Pleistoceno superior ao Holoceno, datados entre 11200-430 AP (Roosevelt et al., 1996: 380-381).

Dentro deste amplo quadro de discussões, surge recentemente uma nova proposta de adaptação humana ao ambiente amazônico criada por Denevan (1996: 664-671), cujo modelo (“Bluff Model”) seria de uma ocupação complementar dos ambientes de várzea e terra firme, ou seja, os assentamentos indígenas estariam concentrados preferencialmente em terraços escarpados (ou “paredões”) de alturas variáveis, que separam aluviões recentes da várzea dos solos mais pobres da terra firme. As várzeas ofereceriam recursos de pesca e de solos anualmente fertilizados pelas cheias para rápido crescimento de cultígenos; enquanto que os terraços, além de considerável potencial de assentamento durante as cheias, possibilitariam práticas agrícolas mais prolongadas e variadas: pomares, agroflorestas manejadas, terrenos de pousio, áreas de corte e queima, etc. Nessa complementaridade, as populações indígenas poderiam ter tido campos com aldeias satélites, tanto na várzea como na terra firme, com uma estratégia de subsistência diversificada.

Seguindo este raciocínio, Denevan (1996: 664-665) propõe a ocorrência nesses terraços de imensos sítios arqueológicos de “terra preta”, que são solos muito comuns na Amazônia, ocorrendo principalmente ao longo dos principais rios (Amazonas, Tapajós, Madeira, etc...). As terras pretas têm origem pré-histórica, sua cor é escura e são ricos em material orgânico, e restos culturais (cerâmicas, ossos, cinzas, artefatos líticos, etc...), resultantes da ocupação de gigantescas aldeias. Alguns autores consideram esses sítios gigantes apenas reocupações múltiplas de pequenas aldeias, e não uma aldeia ocupada em um único evento. (Meggers et al., 1988: 291; Denevan, 1996: 665).

Pesquisas desenvolvidas no baixo rio Negro (Amazônia Central) e no alto rio Xingu, indicam a ocorrência de assentamentos grandes e permanentes, provavelmente associadas com densidades populacionais relativamente altas, tanto em ambientes de várzea como de terra firme. No alto Xingu, foram evidenciados por sítios de terra preta, com amplos estratos adjacentes, apresentando considerável variabilidade em suas profundidades e composição, com depósitos acrecionais formados por deposição gradual e enriquecimento de sedimento, relacionados a ocupações humanas 14

relativamente contínuas. A presença de praças centrais, aterros e depósitos de detritos nesses sítios, demonstram uma variabilidade de funções, o que é comum entre grandes ocupações sedentárias, mas improvável para ocupações não permanentes (Heckenberger et alli, 1999:355-356).

As pesquisas realizadas até o momento, no âmbito do “Projeto Amazônia Central”, possibilitaram a elaboração de um quadro cronológico preliminar, baseado em datações radiocarbônicas e análises cerâmicas em andamento, caracterizado por, no mínimo, três momentos de ocupação distintos. As ocupações mais antigas, caracterizadas por sítios ou níveis de ocupação de chamada fase Manacapuru da Tradição Borda Incisa ou Barrancóide (Hilbert, 1968; Heckenberger et al. 1998), são sobrepostas cronologicamente por ocupações com cerâmicas da fase Paredão (Hilbert, 1968) e estratigraficamente por ocupações com cerâmicas da subtradição Guarita da Tradição Policroma da Amazônia (Hilbert 1968; Heckenberger et al 1998, 1999). De acordo com essa cronologia preliminar, as ocupações Manacapuru da área estariam datadas desde o século III a.C até o século IX d.C, enquanto que as ocupações Paredão estariam datadas entre os séculos VIII e X d.C e as ocupações Guarita desde o século X até o XVI d.C.

Na área de estudo, o sítio Açutuba teria sido habitado continuamente por toda era Cristã por grupos que produziram cerâmicas das três tradições identificadas. Tal sítio ocupa uma extensão de pelo menos 3 Km ao longo do rio Negro, com áreas de habitação mínima de 30 ha (observação baseada na distribuição de terra preta) e de áreas de atividade com mais de 50 ha (evidenciada pela presença de uma vala artificial e de fragmentos cerâmicos localizados além da área de terra preta). Dentro de um raio de 30 Km a partir do sítio Açutuba, pesquisas regionais fornecem evidência de uma densidade de população regional alta, baseando-se na presença de sítios com cerâmica diagnóstica das ocupações Manacapuru, Paredão e predominantemente Guarita com 30 ha ou mais de terra preta. No entanto, a maioria dos sítios localizados situa-se próximos a cursos d’água. É então necessário que se verifique se sítios de grande porte ocorrem também na terra firme. Os sítios do alto Xingu, revelaram aldeias fortificadas de 3 a 5 Km2, com valas defensivas e praças centrais, interligadas entre si por estradas e localizadas longe dos principais cursos d’água (Heckenberger et al., op cit.: 357, 364 e 370). 15

Outro exemplo é citado por Drennan (1995: 320) quando descreve o sítio arqueológico de Gaván, localizado na região oeste dos Lhanos, estado de Barinas, na Venezuela. O sítio caracteriza-se por dois grandes aterros de 10 e 12 m de altura, situados em uma praça oval de 500m de largura, circundada por uma calçada de vários metros de largura, sobre a qual havia uma paliçada. Havia também cerca de 130 aterros menores contendo estruturas residenciais, com uma população estimada de 1000 pessoas. As pesquisas indicam que por volta do ano 1000 AD, Gaván foi atacada e incendiada, e a paliçada teria sido erguida para conter os ataques inimigos.

Considerando a área em estudo do projeto Amazônia Central através dos modelos expostos acima, podemos chegar a conclusão que há um rico quadro de pesquisas de sítios limitados aos ambientes de várzea. Logo, para que este se tornasse mais completo, era de grande importância que alguém os testasse através de pesquisas sistemáticas no ambiente de terra firme ou de zona de interflúvio, identificando os padrões de articulação entre os diferentes tipos de sítios arqueológicos, com distintos padrões de assentamento na área de pesquisa.

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2. A ÁREA DE PESQUISA

2.1. Aspectos Fisiográficos

A área trabalhada situa-se na área abrangida pelo município de Iranduba, localizado próximo à cidade de Manaus, Amazonas, envolvendo as zonas de interflúvio englobadas geograficamente pela área de pesquisa do projeto “Levantamento Arqueológico da Área de Confluência dos Rios Negro e Solimões”, também conhecido como “Projeto Amazônia Central”, limitada pelas coordenadas UTM: N 9634000 e 9658000 e, E 810000 e 828000. (Prancha 1)

Conforme dito acima, a área pesquisada é banhada pelos rios Solimões e Negro; o primeiro trata-se de um rio de águas brancas, cujas planícies de inundação são anualmente enriquecidas por sedimentos andinos, favorecendo a formação de microambientes ricos em nutrientes para a fauna local, tende a formar ao longo de suas margens falésias abruptas, genericamente conhecidas na região como “paredões”; por outro lado, o segundo, é um rio de águas pretas com potencial de fertilização e produtividade primária baixos, tende a formar em suas margens praias arenosas. Ambos rios apresentam redes de drenagens secundárias de padrão dendrítico, algumas de grande porte representadas na área pelos “paranás” (Ex: Ariaú, Janauarí), em alguns casos associados a lagos (Limão, Grande, Santo Antônio, Testa); e outras de menor porte, representadas por igarapés. (Mapa I)

O clima predominante na região é do tipo quente e úmido (Projeto RADAM, 1978:29), correspondendo na classificação de Köppen (1948) ao clima Am. As temperaturas médias anuais são elevadas, tendo variado, na década de 1960 de 25,6 ° C a 27,6 ° C. A umidade do ar é sempre alta, correspondendo os meses de maior umidade (84% a 90%) aos de maior incidência de chuvas.

A vegetação predominante é de uma Floresta Tropical Densa, com árvores de grande porte e estratos arbustivos estabelecida nos baixos platôs de relevo colinoso e ondulado, e associada com áreas de tensão ecológica densas (contato de Formações Pioneiras/ Floresta Sempre Verde) em planícies periodicamente inundadas (Projeto RADAM, 1978: 29). Hoje, a tendência é o predomínio de matas secundárias 17

(capoeiras),

áreas

de pastagem

e atividades

agrícolas,

devido ao intenso

desmatamento ocorrente na região.

Quanto aos aspectos geológicos, Soares et al. (2001) definem na área de confluência do rio Negro e Solimões, apenas duas unidades: a Formação Alter do Chão do Cretáceo Superior, e os depósitos quaternários indiferenciados; a primeira ocorre na área em estudo recoberta por crostas lateríticas e latossolos amarelos. A Formação Alter do Chão foi consagrada por Caputo et al. (1972), sendo composta por sedimentos siliciclásticos avermelhados, que incluem argilitos, folhelhos, siltitos, arenitos e conglomerados. Albuquerque (1922, apud Projeto RADAM, 1978: 57) denominou de “Arenito Manaus” os níveis silicificados desta unidade, são representados na área por imensos lajedos nas margens do rio Negro.

As crostas lateríticas da área, com idades atribuídas ao Eo-Oligoceno e ao PlioPleistoceno (Fernandes Filho et al., 1997: 10,17), revelaram através de análises difractométricas, a presença dos minerais de caulinita, óxidos de ferro (hematita, goethita), goethita aluminosa, quartzo, hidróxidos de alumínio (gibsita) e óxidos de titânio (anatásio e rutilo).

Os depósitos quaternários são compostos principalmente de material argilo-sílticoarenoso, maciços e de coloração acinzentada (Soares et al., 2001).

O relevo da área é caracterizado principalmente pela planície Amazônica, tendo o rio Solimões em seu eixo (Projeto RADAM, 1978: 29). Em geral é de aspecto suave, com presença de alguns morros de topo plano na terra firme, e de escarpas (ou terraços) adjacentes às planícies de inundação na várzea. Suas origens associam-se aos depósitos da Formação Alter do Chão.

Os solos predominantes na área são os latossolos amarelos (ou oxisolos) sobrepostos aos sedimentos da Formação Alter do Chão, e sedimentos arenosos quaternários oriundos da lixiviação dos arenitos da Formação Alter do Chão (informação pessoal de Emílio Soares, 2003), os quais formam grandes areais na região, explorados comercialmente para a construção civil. Quanto aos solos das planícies aluviais, provenientes dos sedimentos do Quaternário, destacam-se no rio Solimões os solos 18

Hidromórficos Gleyzados Eutróficos e os solos Aluviais Eutróficos; enquanto que no rio Negro os solos de maior expressão geográfica são os solos Hidromórficos Gleyzados Álicos e os solos Aluviais Álicos (Projeto RADAM, 1978:29). É importante salientar que na região ocorrem grandes extensões de solos de origem antrópica, geralmente denominados de “terras-pretas de índio”, ricos em material orgânico e arqueológico.

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Dissertação de Mestrado

Prancha 1 – Articulação da Área de Pesquisa

LEVANTAMENTO ARQUEOLÓGICO DAS ÁREAS DE INTERFLÚVIO NA ÁREA DE CONFLUÊNCIA DOS RIOS NEGRO E SOLIMÕES, AM.

Aluno: Luiz Fernando Erig Lima Orientador: Prof. Dr. Eduardo Góes Neves Museu de Arqueologia e Etnologia / USP

2003

Mapa I – Imagem de Satélite Landsat da Área de Confluência dos Rios Negro e Solimões, Estado do Amazonas, Imagem Órbita / Ponto 231/62 (INPE, 21-01-2003) com os Sítios e Ocorrências Arqueológicas Levantadas pelo Projeto Amazônia Central Entre 1995-2002 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS (cont.) 01- AM-MA-30: Arara 52- AM-IR-47: Barroso 02- AM-MA-31: Carvoaria 53- AM-IR-48: Lago Feliciano 03- AM-MA-32: Tatu 54- AM-IR-49: Lago Santo Antônio 04- AM-MA-33: Boca do Tupé 55- AM-IR-50: Boa Sorte 05- AM-MA-34: Tupé 56- AM-IR-51: Ilha 06- AM-MA-35: Praia Dourada 57- AM-IR-52: Apolônio 07- AM-IR-02: Açutuba 58- AM-IR-53: Lago do Testa 08- AM-IR-03: Cachoeira 59- AM-IR-54: Vandercléia 09- AM-IR-04: Boca do Castanho 60- AM-IR-55: Igarapé do Testa I 10- AM-IR-05: Paricatuba 61- AM-IR-56: Igarapé do Testa II 11- AM-IR-06: Tokihiro 62- AM-IR-57: Cachoeira do Castanho 12- AM-IR-07: Osvaldo 63- AM-IR-58: Cajueiros 13- AM-IR-08: Acajituba 64- AM-IR-59: Jânio 14- AM-IR-09: Rubens 65- AM-IR-60: Germano 15- AM-IR-10: Nara 66- AM-IR-61: Ponte Quebrada 16- AM-IR-11: Lago do Limão 67- AM-IR-62: Três Irmãos 17- AM-IR-12: Zé Ricardo 18- AM-IR-13: Hatahara 19- AM-IR-14: Ariaú 20- AM-IR-15: Lago Grande 21- AM-IR-16: Nova Vida 22- AM-IR-17: Chuva Braba 23- AM-IR-18: Acreano 24- AM-IR-19: Minas Gerais OCORRÊNCIAS ARQUEOLÓGICAS (INDÍCIOS ISOLADOS) 25- AM-IR-20: Fé em Deus 68- TF-01 26- AM-IR-21: Tracajá 69- TF-02 27- AM-IR-22: Ariauzinho 70-TF-03 28- AM-IR-23: Dona Irene 71-TF-04 29- AM-IR-24: Belo Horizonte 72-TF-05 30- AM-IR-25:.Jaílson 73-TF-06 31- AM-IR-26: Areal Bela Vista 74-TF-07 32- AM-IR-27: Areal do Mangangá 75-TF-08 33- AM-IR-28: Areal do Maracajá 76-TF-09 34- AM-IR-29: Areal Tomoda 77-TF-10 35- AM-IR-30: Areal do Guedes 78-TF-11 36- AM-IR-31: Comunidade São Sebastião 79-V-01 37- AM-IR-32: Dona Stella 80-V-02 38- AM-IR-33: Mafaldo 81-V-03 39- AM-IR-34: Cavalcanti 82-V-04 40- AM-IR-35: Florêncio 83-V-05 41- AM-IR-36: Mateus 84-V-06 42- AM-IR-37: Xavier 85-V-07 43- AM-IR-38: Nova Esperança 44- AM-IR-39: São José 45- AM-IR-40: Morro Queimado 46- AM-IR-41: Carneiro 47- AM-IR-42: Lago do Iranduba I 48- AM-IR-43: Lago do Iranduba II 49- AM-IR-44: São João 50- AM-IR-45: Bela Vista do Iranduba 51- AM-IR-46: Salviano

2.2. Pesquisas Arqueológicas anteriores na Região

Informações quanto à presença de sítios arqueológicos no baixo rio Negro ou de pesquisas anteriores ao Projeto Amazônia Central, são mais freqüentes na região de Manaus, sendo poucas as notícias da área englobada pelo presente projeto, como podemos citar o trabalho de B. Pepe em 1973 (Prous, 1992: 434) efetuado ao longo da rodovia Manacapuru-Pirera, cujo trabalho envolveu a abertura de duas sondagens em um sítio de fase Manacapuru. Há referências sobre uma terra-preta com refugo arqueológico de até 60 cm de espessura, rodeado por igarapés, entre os rios Negro e Solimões, e também sobre aterros construídos com laterita do solo local, com dimensões médias de 5 x 2,50 m e 1,20 m de altura, apresentando uma orientação norte-sul, e grande quantidade de fragmentos cerâmicos.

As primeiras notícias quanto à existência de indícios arqueológicos em Manaus datam do séc. XIX (Castelnau, 1850-1851; Marcoy,1867 e Keller-Leuzinger, 1874; apud Simões,1974) e geralmente referem-se à vasos e urnas funerárias expostas nas ruas e arredores da antiga fortaleza de São José do Rio Negro, bem como a presença de vasos decorados provenientes da Ilha dos Muras, perto da foz do rio Negro (Rodrigues,1891, apud Simões, 1974: 169).

A partir do séc. XX podemos citar uma análise efetuada por Metráux (1930, apud Simões, op cit.) a respeito de uma coleção cerâmica oriunda de “cemitérios de índios Barés de Manaus”.

Entre os anos de 1955 e 1961, o arqueólogo alemão Peter Paul Hilbert desenvolveu suas pesquisas na área do médio Rio Negro, sendo a cidade de Manaus palco de seus importantes achados, entre os quais destacam-se os sítios arqueológicos Paredão e Refinaria, entre outros localizados nos arredores da cidade. (Hilbert, 1968; Simões, op cit.). Hilbert em companhia do professor Mário Ypiranga Monteiro, sócio-diretor do Museu Histórico e Geográfico de Manaus, hoje o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, estudou um desses sítios na área da atual praça D. Pedro, no centro histórico de Manaus, registrando-o sob a nomenclatura de sítio Manaus. Os achados consistiam de várias urnas funerárias de sepultamento secundário, apresentando formato cordiforme, gargalo verticalizado e apliques biomorfos nos ombros das peças; 22

foram encontradas devido às atividades de construção do edifício do atual INSS (na época IAPETEC), cujo canteiro de obras envolveria a praça D. Pedro. Uma peça completa e dois grandes fragmentos foram depositados no acervo do IGHA na ocasião da pesquisa.

Baseando-se em análises cerâmicas, estratigráficas e algumas datações de C-14, Hilbert estabeleceu uma cronologia relativa para os sítios arqueológicos do médio Amazonas, assim, o material recuperado pertenceria à fase cerâmica Paredão do “horizonte Borda Incisa” datando entre 100 e 800 d.C. (Simões, 1974: 170).

Com a criação da Zona Franca em 1967 (Freire, 1993/ 1994: 175), a cidade de Manaus sofreu um constante processo de crescimento industrial e de migração populacional, envolvendo uma expansão muito rápida da malha urbana e a conseqüente destruição de sítios e indícios arqueológicos.

Com a implantação do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA) nas décadas de 1960 e 1970, Simões (1974: 170 e 182) pesquisou no baixo rio Negro 10 sítios cerâmicos de terra preta: 4 em sua margem esquerda, entre Ponta Negra e Lajes; 1 na margem direita, em frente a Manaus; 1 na ilha de Terra Nova, na confluência dos rios Negro e Solimões; 2 no baixo rio Apuaú; e 2 no médio rio Preto da Eva. Os quatro primeiros sítios citados localizavam-se na área de expansão da cidade de Manaus, e foram submetidos a uma intervenção arqueológica rápida devido às atividades de terraplanagem e construções. Quanto ao material recuperado, após a análise, foram atribuídos às fases Paredão, Guarita e Itacoatiara, já descritas por Hilbert (1968), sendo que mais três fases foram definidas: Umari, Apuaú e Pajurá; as duas primeiras semelhantes à Fase/ Sub-Tradição Guarita e a última pertencente a uma fase local, embora mostrasse certa semelhança com a cerâmica da fase Paredão. Em uma carta enviada ao IGHA, datada de 11 de Março de 1986, há informações de achados arqueológicos na área do Igarapé do Mauazinho no ano de 1971, sendo que é possível reconhecer nas fotos anexadas uma urna da fase Paredão (Hilbert, 1968). Na carta, os seguintes dizeres:

“Por ocasião das obras da usina térmica II da antiga CEM, hoje Eletronorte, localizada às margens do rio Negro ao lado do igarapé Mauazinho, em abril de 1971,nos serviços 23

de terraplanagem realizados pela firma CAMARGO CORREA, foram encontrados: vestígios de civilização indígena à uma profundidade de 3 a 5 metros da superfície como urnas mortuárias, colares, cabelos, cerâmicas com adornos em baixo e alto relevo e até com rostos e cabeças de animais e pessoas. As cerâmicas apresentavam boa resistência mecânica e de peso reduzido, leves. Eng. Alcides R. Moura Manaus 11 de março de 1986”

Simões e Kalkmann (1987: 83-94) efetuam pesquisas na área do médio e baixo rio Negro identificando 35 sítios arqueológicos associando-os à Sub-tradição Guarita (fases Apuaú, Samambaia e Manauacá) cujas datações oscilam entre os sécs. IX ao XVI; e também a tradições regionais, genericamente englobadas em uma “Tradição Cuaru”, sendo esta representadas pelas fases Cuaru (sécs. IX-X), Cumaru, Quemacubau e Unini. Uma fase etno-histórica também foi identificada.

A área da Ponta Negra, localizada na zona Oeste de Manaus, é bastante conhecida por ser uma área de balneário turístico, mas até pouco tempo era rica em indícios arqueológicos pré-coloniais e históricos. Há referências de uma coleção cerâmica analisada procedente deste local, efetuada por Evans e Meggers (1968, apud Simões, 1974). Um dos sítios levantados no PRONAPA (Simões, 1974: 174), AM-MA-02, embora perturbado parcialmente pela estrada de acesso ao balneário, revelou grande quantidade de cerâmica da Fase Guarita, bem como a presença de fragmentos de porcelana, cerâmica torneada, vidro, pregos e contas coloridas de origem européia.

Materiais históricos neste balneário continuaram a ser oportunamente coletados e armazenados no Museu Crisantho Jobim (IGHA) até meados da década de 1980 pelo arqueólogo Walter Rocha e a museóloga Jane Clotilde Cony Cruz. Além de numerosas contas de vidro coloridas e fragmentos de faiança portuguesa, foram recuperadas dezenas de pelotas de chumbo de várias frações, as quais eram utilizadas como munição de armas de fogo, garrafas de grés de Glasgow (Escócia) e uma faca de ferro (informação oral de Jane Clotilde Cony Cruz, Museu Amazônico/ UFAM, 2002). Nos afloramentos de arenito locais ocorriam bases de polimento ou pilões, mas foram destruídos com as atividades de reformas e urbanização do local (informação oral do Sr. Alfredo Loureiro, Laboratórios Reunidos, Manaus, 2002). 24

2.3. O Projeto Amazônia Central

Visto que a Amazônia central, até pouco tempo era carente de dados do ponto de vista arqueológico, apesar de sua relevante importância para o conhecimento do passado pré-colonial das terras baixas da América do Sul, uma série de pesquisas na área de confluência dos rios Negro e Solimões começou a ser coordenada a partir do ano de 1995 pelo arqueólogo Eduardo Góes Neves e pelos Drs. Michael Heckenberger (Universidade da Flórida) e James Petersen (Universidade de Vermont), iniciando as bases do “Projeto Amazônia Central”, ou especificamente o projeto “Levantamento Arqueológico da Área de Confluência dos Rios Negro e Solimões, Estado do Amazonas”, autorizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) pela portaria 177 de 19/4/1996.

Os objetivos deste projeto enfocam não apenas o levantamento de sítios arqueológicos na área, mas também a possibilidade de se constatar antigas sociedades indígenas complexas, sedentárias, que poderiam ter ocupado a região por longa data sob um regime de organização social tipo cacicado; bem como suas possíveis distribuições lingüísticas e suas cronologias dentro do quadro arqueológico amazônico (Neves, 2000).

A primeira fase de pesquisa, entre 1995 e 1997, localizou nas atividades de campo dezenove sítios arqueológicos: Tabela I - Os Sítios Arqueológicos da Primeira Fase de Pesquisa do PAC (1995-1997) Nome Arara Carvoaria Tatú Boca do Tupé Tupé Praia Dourada Açutuba Cachoeira Boca do Castanho Paricatuba Tokihiro Osvaldo Neves (2000)

Identificação AM-MA-30 AM-MA-31 AM-MA-32 AM-MA-33 AM-MA-34 AM-MA-35 AM-IR-02 AM-IR-03 AM-IR-04 AM-IR-05 AM-IR-06 AM-IR-07

Nome Acajituba Rubens Nará Lago do Limão Zé Ricardo Hatahara Ariaú

Identificação AM-IR-08 AM-IR-09 AM-IR-10 AM-IR-11 AM-IR-12 AM-IR-13 AM-IR-14

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Os sítios associam-se a ocupações de Fase Manacapuru da Tradição Borda Incisa ou Barrancóide (Hilbert, 1968; Heckenberger et al. 1988), Fase Paredão (Hilbert, 1968), e também por ocupações cerâmicas da subtradição Guarita da Tradição Policroma da Amazônia (Hilbert 1968; Heckenberger et al. 1988, 1999). Amostras de sedimento foram coletadas para análises paleobotânicas (Neves, 1999) e uma série de datações por C-14 foram efetuadas para o Sítio Açutuba (AM-IR-02), cujas idades calibradas oscilaram entre 4900 AC até 1440 DC (Neves, 2000).

As atividades de campo tiveram continuidade em 1999, durando cerca de 70 dias (Julho a Setembro), envolvendo atividades de tradagens, sondagens, escavações de unidades e topografia dos sítios Osvaldo, Hatahara, Lago Grande e Açutuba. A equipe de campo, neste período, foi mais numerosa, contando com arqueólogos profissionais e estudantes, alguns desses últimos já desenvolvendo projetos de iniciação científica ou de mestrado correlacionados aos problemas desenvolvidos na área de estudo.

Os sítios Hatahara e Lago Grande associam-se à várzea do rio Solimões, o sítio Hatahara à do rio Negro; já o sítio do Osvaldo, apesar de se encontrar afastado da várzea de ambos rios, situa-se às margens de um grande lago (Lago do Limão), o qual interliga-se ao rio Negro pelo “furo” do rio Ariaú.

Os resultados obtidos envolveram a constatação de uma aparente aldeia circular de grandes dimensões correlacionada à fase Manacapuru da Tradição Borda Incisa (Hilbert, 1968) ou Barrancóide (Heckenberger et al. 1988) no sítio Osvaldo, com datas entre os sécs. VII e VIII DC; a presença de sepultamentos humanos bem conservados e de material cerâmico associado a subtradição Guarita na escavação de um montículo artificial no sítio Hatahara, cujas datas indicam um abandono deste sítio por volta do séc. X DC; a constatação de montículos e de uma vala artificial provavelmente de função defensiva no sítio Lago Grande com ocupações Paredão (sécs. VII-VIII DC) e Guarita (sécs. IX-X DC); e por fim a constatação de duas valas artificiais provavelmente defensivas no sítio Açutuba, bem como de montículos e muita presença de cerâmica das ocupações Guarita (predominante), Paredão e Manacapuru, sendo esta última também representada por um depósito cerâmico intacto evidenciado na base de uma unidade.

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Ao final desta etapa, todo o material recolhido em campo foi destinado aos laboratórios do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), para posterior lavagem, triagem e análise.

Dois anos depois, em 2001, a quarta etapa de pesquisas de campo ocorreu em duas fases quase concomitantes. A primeira, de 01 de Julho a 05 de Agosto sob a coordenação do Prof. Dr. Eduardo Góes Neves (MAE/USP); e a segunda, de 19 de Julho a 24 de Agosto, pelos alunos mestrandos Luiz Fernando Erig Lima e Patrícia Bayod Donatti, cujas atividades envolveram trabalhos de campo relativo a seus projetos de mestrados.

Como na etapa de 1999, as atividades envolveram uma equipe numerosa englobando profissionais de arqueologia, estudantes de mestrado ou iniciação científica e especialistas de outras áreas, os quais colaboraram para o prosseguimento das pesquisas, principalmente na primeira fase.

A primeira fase envolveu atividades de escavações de unidades e de uma topografia com auxílio de estação total no sítio Hatahara, já abordado em 1999. A Segunda fase de pesquisa envolveu respectivamente atividades de prospecções de sítios arqueológicos na área de terra firme englobada pelo Projeto Amazônia Central, resultando em 18 sítios e 10 ocorrências arqueológicas, as atividades estenderam-se ao ambiente de várzea resultando em mais 16 sítios e 3 ocorrências arqueológicas; por outro lado, a segunda atividade de campo de mestrado envolveu diversas abordagens no Sítio Lago Grande coordenadas pela mestranda Patrícia Bayod Donatti: elaboração de um mapa topográfico, abertura de três unidades de 1m2, linhas de tradagens, e também a escavação de uma trincheira de 16 x1,5 m. transversal a uma antiga vala indígena, provavelmente de função defensiva. O campo da mestranda envolveu também prospecções de sítios arqueológicos na área dos Lagos Grande e Ariauzinho (Donatti, 2003).

Em Julho de 2002, uma nova etapa de campo deu continuidade às escavações no sítio AM-MA-13: Hatahara, onde uma trincheira interligando as duas unidades de 1 m2 abertas nas etapas anteriores, foi escavada com objetivo de expor novas estruturas funerárias. Em outra parte do sítio uma unidade de 1m2 revelou a presença de três 27

recipientes cerâmicos completos agrupados, detectados após a execução de uma linha de tradagem, cujo objetivo, a princípio era a coleta de sedimentos para análises pedológicas.

De modo concomitante, abordagens foram efetuadas nos sítios AM-IR-32: Dona Stella e AM-MA-08: Açutuba. O primeiro foi trabalhado pelo mestrando Fernando W. Costa, uma unidade de 1m2 foi escavada com objetivo de se avaliar a estratigrafia e profundidade do sítio; um acompanhamento topográfico com auxílio de estação total também foi efetuado, o trabalho também envolveu a prospecção de novos sítios arqueológicos nos areais da região. (Costa, 2002). Por outro lado, o segundo sítio foi trabalhado pela bacharelanda em História (USP) Helena P. Lima, e envolveu a abertura de uma unidade de escavação.

Ao término desta dissertação e das demais pesquisas e datações efetuadas, podemos estabelecer para a Amazônia Central o seguinte quadro cronológico para a região conforme a tabela abaixo: Tabela II - Quadro Cronológico para a Amazônia Central Tradição Ocupações históricas e etno-históricas Policroma da Amazônia Tradição Incisa-Ponteada (?) Tradição Borda–Incisa ou Barrancóide Ocupações Pré-ceramistas

Sub-tradição

Fase

Guarita Paredão* Manacapuru

Cronologia Sécs XVI ao XX d.C. Sécs. X ao XVI d.C. Sécs. VIII ao X d.C. Sécs III a. C ao IX d.C. 7700±50 a 5280±40 AP

* Embora a Fase Paredão já tenha sido considerada pertencente à Tradição IncisaPonteada, hoje tende a ser considerada como uma fase independente.

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2.4. Descobertas e Pesquisas Arqueológicas paralelas ao PAC

A partir do ano de 2000 o Governo do Estado do Amazonas e a Prefeitura de Manaus, empreenderam projetos de implantação de conjuntos habitacionais nas porções periféricas da cidade, e uma série de reformas na área do Centro Histórico e do Porto, condicionando diversas descobertas arqueológicas fortuitas do período histórico e préhistórico nas atividades de demolições, escavações e terraplanagem.

Os achados deste período foram acompanhados pela equipe de arqueologia do Museu Amazônico (UFAM), formada pelo arqueólogo Carlos Augusto da Silva e a Museóloga Jane Clotilde Cony Cruz, em convênio com a Superintendência do IPHAN de Manaus. Entre os achados citamos o da União do Vegetal, a urna da Assembléia Legislativa, o sítio Nova Cidade, o sítio Desako Ikeda, e o sítio Santa Etelvina.

Ao efetuar uma vistoria no ramal do Puraquequara, zona leste da cidade de Manaus em Março de 2000, o Museu Amazônico (UFAM), a convite do IPHAN, desenvolveu trabalhos de prospecções arqueológicas na comunidade “União do Vegetal”. Os moradores locais informaram a presença de achados cerâmicos em perfis de barrancos, os quais depois de uma melhor vistoria, demonstraram se tratar de uma urna funerária da Fase Paredão (Hilbert, 1968) em cujo conteúdo ocorreram contas de colar de cerâmica, hoje sob a guarda do chefe da comunidade. Os achados também revelaram a presença de um recipiente tigeliforme, e de fragmentos de cerâmica espalhados em um raio de 100m. A fase de escavação e resgate do material contou com o apoio e orientação dos arqueólogos Eduardo Góes Neves (MAE/USP) e Carlos Augusto da Silva (Museu Amazônico/ UFAM) e com o auxílio de Marco Antônio Lima da Silva (CPA de Balbina/ Prefeitura de Presidente Figueiredo-AM). O material encontra-se sob a guarda do Museu Amazônico (Relatório Interno, Museu Amazônico/ UFAM, 2000).

Em dezembro de 2000, uma urna funerária foi localizada na rua Visconde de Mauá, 105, no centro histórico da cidade de Manaus, na ocasião da construção das sapatas de sustentação para a garagem da Assembléia Legislativa de Manaus, adjacente à Praça D. Pedro a ao edifício do INSS. Certamente faz parte do sítio arqueológico Manaus, trabalhado por Hilbert (1968) e o Prof. Mário Ypiranga Monteiro. A urna 29

pertencia à Fase Paredão (Hilbert, op cit.) e encontrava-se a uma profundidade de mais de 2,00m. A equipe do Museu Amazônico (UFAM) liderada pelo arqueólogo Carlos Augusto da Silva, e auxiliada por Marco Antônio Lima da Silva (CPA de Balbina, Prefeitura de Presidente Figueiredo), além de recuperar a urna, recolheu uma série de fragmentos cerâmicos pré-coloniais e históricos, depositando-os no acervo do Museu Amazônico/UFAM (Relatório Interno do Museu Amazônico/ UFAM, 2000).

O sítio Nova Cidade foi um dos mais impressionantes achados, bem como um dos casos mais tristes de desrespeito às leis ambientais e de proteção ao patrimônio arqueológico brasileiro. O sítio localiza-se ao norte da cidade de Manaus, e como se encontrava em uma área de implantação de um conjunto habitacional da Secretaria de Estado de Infra-estrutura, foi arrasado por atividades de terraplanagem, expondo dezenas de recipientes de cerâmica, em geral cortados ao meio pelas lâminas dos tratores. Em janeiro de 2001, a equipe do Museu Amazônico (UFAM) liderada pelo arqueólogo Carlos Augusto da Silva, e em parceria com os arqueólogos Fernando Walter Costa e Marcos Eugênio Brito de Castro, efetuou uma topografia nas evidências expostas, as quais ocupavam vertentes entrecortadas por igarapés: cerca de 200 utensílios cerâmicos semicompletos concentrados em uma área de 6 ha. (de um total de aproximadamente 80 ha.) dos quais 13 foram escavados e recuperados, a maioria pertencendo à Fase Paredão (Hilbert, op cit.) e poucos à Fase/ Sub-Tradição Guarita (Hilbert, op.cit.); é um bom exemplo de adaptação de aldeias de grande porte em áreas de interflúvio ou terra-firme. Infelizmente, atos de vandalismo ocorriam na ocasião das pesquisas, visto que, durante a madrugada, moradores da área destruíam os recipientes cerâmicos a golpes de facão, certamente na esperança de encontrar algum “tesouro” (Relatório Final do Sítio “Nova Cidade”, IPHAN, 2001).

Em Abril de 2001, durante as atividades de terraplanagem no CEPLAM, organização não governamental dedicada a estudos e pesquisas ambientais, localizada em um terraço às margens do encontro das águas dos rios Negro e Solimões, alguns vasilhames cerâmicos da Fase Paredão (Hilbert, op.cit.) foram recuperados pelo arqueólogo Carlos Augusto da Silva e a museóloga Jane C. C. Cruz. No momento se encontram em processo de restauração no Museu Amazônico/ UFAM. Tal sítio foi batizado “Desako Ikeda”, e na ocasião da pesquisa, os moradores mostraram à equipe muitas garrafas de grés de origem holandesa e escocesa, encontradas nas atividades 30

de construção do centro de Pesquisa (Anotações de campo de Jane Clotilde Cony Cruz, 25 de Abril de 2001). Próximo a este sítio, há o mercado municipal CEASA, há rumores de que em seus barracos diversos vasilhames cerâmicos foram expostos pela erosão fluvial na ocasião da subida das águas. A data deste acontecimento, bem como o paradeiro dessas peças, permanecem desconhecidos.

Entre os meses de Junho e Agosto de 2002, uma série de reformas iniciadas na Praça D. Pedro II, e nas ruas Bernardo Ramos/ Beco Carolina, centro histórico de Manaus, expuseram vários indícios arqueológicos pré-coloniais e históricos. Diante deste fato, a Superintendência do IPHAN de Manaus foi acionada, sendo implantado um projeto de levantamento arqueológico denominado ARQUEOURBS. Iniciado em Setembro, teve como um dos objetivos localizar os restos da antiga fortificação de São José do Rio Negro e de outras construções históricas, e também os vestígios das ocupações précoloniais locais. As pesquisas resultaram na descoberta de cinco complexos arqueológicos, envolvendo a área portuária e o setor histórico revelando vestígios da Manaus do séc. XVII ao XIX, bem como da época pré-colonial revelando ocupações cerâmicas Manacapuru, Paredão e Guarita (ZANETTINI et alli, 2002).

Em março de 2003, sob solicitação da Superintendência do IPHAN de Manaus, o mestrando de arqueologia Luiz Fernando Erig Lima auxiliado pelo Sr. Custódio Eustáquio Gonçalves, motorista da instituição, efetuou a constatação de um sítio arqueológico localizado na rodovia AM-010: Manaus-Itacoatiara, denominando-o de Sítio Santa Etelvina (UTM 20 M 0831639/ 9670093) pela proximidade de um bairro homônimo. Trata-se de um sítio com presença predominante de cerâmica Manacapuru, associada a poucos exemplares de cerâmica Paredão. Foi exposto pela abertura de uma estrada secundária efetuada há alguns anos, a princípio, pela dispersão superficial do material arqueológico, pode se afirmar que apresentava forma elíptica, com 900 m. de comprimento ao longo de seu maior eixo, e uma área aproximada de 233m2.

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Este último sítio, bem como o sítio Nova Cidade, são bons exemplos da adaptabilidade de grandes aldeias pré-coloniais em ambientes amazônicos de terra firme na região de Manaus, o que corrobora a possibilidade de ocupações de mesma escala, pertencentes a populações ceramistas Manacapuru e Paredão, também terem ocorrido na área de interflúvio dos rios Negro e Solimões, embora o levantamento arqueológico apresentado nesta dissertação tenha mostrado haver um predomínio de sítios cerâmicos Guarita na área pesquisada.

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3. MÉTODOS DE CAMPO E DE LABORATÓRIO

3.1. Métodos de Levantamento de Campo

Para que o levantamento na área de pesquisa fosse efetuado, a princípio foi definido um grupo de sete unidades amostrais de levantamento através de um planejamento sistemático. A região em estudo foi quadriculada em unidades padrão de 2x2 Km a partir de coordenadas fixas. Considerando que a zona de interflúvio dos rios Negro e Solimões encontra-se entre as coordenadas 60° 20’ W e 60° 10’ W, a partir da primeira foram contados espaços iguais de 2 Km, os quais serviriam de base para o quadriculamento. Posteriormente foram selecionadas as unidades distanciadas no mínimo 1 Km da várzea. Dentre estas unidades, foram escolhidas aproximadamente 20%, o que resultou em 7 unidades, dispostas de modo regular e eqüidistantes entre si, formando uma malha de cobertura sistemática de pesquisa. Em seguida, as unidades selecionadas seriam levantadas através de caminhamentos sistemáticos com espaçamentos de 250 m. um do outro. Considerando as dimensões de grande porte dos sítios amazônicos, esse parecia um intervalo razoável. A cada 250 m. percorridos ao longo da linha seria efetuada uma tradagem, procurando verificar o material em superfície, recolhendo também entre a população local informações orais quanto à existência de vestígios arqueológicos, como por exemplo, áreas de terra preta ou restos de artefatos líticos e/ou cerâmicos.

Todavia, no decorrer das atividades de campo desenvolvidas entre a segunda quinzena do mês de Julho e o início da segunda quinzena do mês de Outubro de 2001, a abordagem proposta não foi fixamente seguida, visto que algumas das unidades selecionadas não possuíam acesso por estradas secundárias ou trilhas, e correspondiam a áreas de capoeiras densas, dificultando a visibilidade de indícios arqueológicos superficiais e o estabelecimento das linhas de caminhamento, exigindo grande número de tempo e de trabalhadores nas atividades de abertura de picadas ou de desmatamento, no caso de se avaliar as dimensões de um sítio arqueológico e de suas estruturas associadas (aterro, vala, praça, etc...) porventura localizados. Tal dificuldade foi avaliada em um dos sítios levantados. Assim, a pesquisa foi direcionada para as áreas de interflúvio adjacentes às unidades selecionadas, ao se constatar que eram ocupadas por agricultura (Foto 1), pastagens, queimadas, capoeira rala, e 33

também por estradas secundárias. Visto que o trabalho de pesquisa tratava-se de uma arqueologia exploratória da área de interflúvio, qualquer achado ou informação fornecida, independente da associação com os quadrantes de levantamento sistemáticos previamente propostos, seria importante para a complementação do quadro arqueológico local.

A área de pesquisa é recortada por quatro estradas asfaltadas: rodovia AM-070: Manuel Urbano (ou Manaus-Manacapuru), AM-452: Manuel Urbano-Iranduba, Manuel Urbano-Lago do Limão e Manuel Urbano-Lago do Caldeirão, a primeira, orientada W-E, e as outras, orientadas N-S. Dessas, duas foram utilizadas como referência sendo efetuado um levantamento mais intensivo ao longo de suas extensões e ramais secundários: a rodovia Manuel urbano (Km 7 ao 11) e a rodovia Manuel UrbanoIranduba (Km 0 ao 8). (Mapa II)

A soma destes fatores com as informações fornecidas pelos moradores locais facilitou a logística de campo, acelerando o levantamento de sítios arqueológicos em uma área de 368 Km2 em um espaço de tempo relativamente curto, resultando em 18 sítios e 10 ocorrências arqueológicas (peças arqueológicas isoladas) pré-coloniais no ambiente de interflúvio; e de 16 sítios e 3 ocorrências arqueológicas no ambiente de várzea, entre os primeiros, 11 pré-coloniais, 1 histórico e 4 com ambos tipos associados; entre as ocorrências, 1 era pré-colonial e 2 históricas.

O acesso na área era efetuado com veículo até onde as estradas asfaltadas e os ramais secundários o permitissem, sendo o restante a pé ou de barco. Uma vez localizado um sítio ou ocorrência arqueológica, seu registro era iniciado, informações eram recolhidas com os moradores locais, fotografias e croquis eram elaborados, e sua coordenada geográfica em UTM era plotada em cartas topográficas militares de escala 1: 50.000 com auxílio de GPS Garmim-45 (datum Córrego Alegre) e escalímetro (Foto 2). As dimensões baseavam-se na dispersão superficial do material arqueológico no terreno (fragmentos de cerâmica e artefatos líticos em geral, sendo considerado também as extensões das terras-pretas), ou na sua exposição através de raspagens com colheres de pedreiro e enxadas (Foto 4), ou por tradagens quando em subsuperfície. Uma vez determinadas essas dimensões, estas eram demarcadas com bússola, trena de 50 m. e coordenadas UTM de GPS Garmim-45, e repassadas a um 34

croqui em papel milimetrado. O registro fotográfico era efetuado com filme colorido ou diapositivo, utilizando-se uma máquina fotográfica Zenitt 122.

O material era armazenado em sacos plásticos resistentes, recebendo um número de proveniência. Carvões para datações radiocarbônicas eram recolhidos, mas para a maioria dos sítios foi recolhido sedimento associado com fragmentos de cerâmica (Foto 3) para datação por termoluminescência (TL), os quais eram embalados em sacos plásticos de cor preta ao abrigo da luz para evitar contaminação por raios ultravioleta do Sol.

Durante a etapa de campo, foram utilizados os serviços de um motorista da região, o Sr. Levemilson Mendonça da Silva, o qual tinha profundo conhecimento das estradas e acessos da área, bem como das propriedades rurais da região, devido ao trabalho que efetuara nos anos 80 para o Censo Federal Rural da região de Iranduba. Além do motorista, a equipe consistia de um mateiro local, o Sr. Francisco Villaça Nunes, o qual auxiliou nas atividades arqueológicas em geral.

Em determinados períodos colaboraram com a pesquisa de campo alguns colegas da equipe do PAC nas seguintes datas: •

Fernando W. Costa: Mestre em arqueologia, 28 de Agosto de 2001.



Lucas Bueno: Doutorando em arqueologia (MAE/USP), 22 de Julho de 2001.



Patrícia Bayod Donatti: Mestranda em arqueologia (MAE/USP), 9 de Agosto, e 27 de Setembro a 14 de Outubro de 2001.



Eduardo Koolle: Bacharelando em Ciências Sociais (UFMG), 28 de Agosto de 2001.



Fabiana dos Santos Romero: Bacharelanda em História (USP) e estagiária de Arqueologia (MAE/USP), 03 de Agosto de 2001.



José Firmino Januzelli de Souza: Historiador e aluno especial de Arqueologia (MAE/USP), 19 a 26 de Julho de 2001.



Cláudio Roberto Pinto Cunha: auxiliar de campo do PAC, 28 de Agosto e 27 de Setembro a 14 de Outubro de 2001.

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Com o término das atividades de campo, o material foi destinado à reserva técnica do Museu Amazônico (Universidade Federal do Amazonas-UFAM) em Manaus, onde seria posteriormente preparado e analisado.

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Mapa II – Mapa da Área Pesquisada em 2001 Pelo Projeto de Mestrado “Levantamento Arqueológico das Áreas de Interflúvio na Área de Confluência dos Rios Negro e Solimões, AM”

1

2

4

3 Foto 1 – Sítio AM-IR-25: Jaílson. Coleta de indícios arqueológicos. Foto 2 – Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Flanco W, registro de coordenada UTM com aparelho de GPS na concentração Z (fragmentos cerâmicos). Foto 3 – Sítio AM-IR-28: Areal do Maracajá. Coleta de sedimento e cerâmica para análise de termoluminescência. Foto 4 – Sítio AM-IR-39: São José. Localização de indícios arqueológicos em sub-superfície, através de raspagem do solo.

3.2. Métodos de Laboratório

As atividades de laboratório foram iniciadas com o registro dos sítios arqueológicos levantados durante a etapa de campo de 2001 no Cadastro Nacional dos Sítios Arqueológicos, junto à Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) de Manaus.

A etapa seguinte constou da higienização, preparo (colagem) e marcação do material arqueológico com o número de proveniência, contando com a participação do auxiliar de campo e de laboratório Cláudio Roberto Pinto Cunha.

A terceira etapa envolveu a triagem, quantificação e pesagem do material.

A quarta etapa envolveu a análise arqueológica. As 272 coleções recuperadas nos sítios e ocorrências arqueológicas de várzea e de terra firme (ou interflúvio), contêm 2807 peças cerâmicas e 3557 peças líticas, as quais, depois de preparadas resultaram em 1988 peças cerâmicas e 3557 peças líticas. O material histórico resultou em 27 fragmentos de louça, 4 peças metálicas, 2 fragmentos de telhas e, 1 fragmento de argamassa de construção. O material orgânico resultou em 5 amostras de “pães-deíndio” (possíveis massas de pasta de mandioca ressequidas).

As tabelas nos Anexos especificam o número e a natureza dos materiais recuperados nas áreas de várzea e de terra firme antes da triagem e análise, bem como sua afiliação cultural após a conclusão destas.

3.2.1. A Análise Cerâmica

Após o processo de preparo, as coleções cerâmicas dos sítios apresentaram um total de 1988 peças. Sua análise foi iniciada com uma triagem de seis categorias: bordas, bases, paredes decoradas, paredes sem decoração, recipiente completo e artefatos cerâmicos específicos (cachimbo, carimbo, rodela de fuso, etc...), sendo cada uma destas pesadas e contadas de acordo com seu sítio de origem para fim de quantificação. Os fragmentos correspondentes a paredes sem decoração e às demais categorias classificadas com dimensões inferiores a 2,0 cm foram excluídas da análise, 39

considerando que não forneceriam muitas informações, restando apenas 550 peças (29,13 % da amostragem total). Em seguida, a análise foi orientada através de uma ficha utilizada pelo Projeto Amazônia Central, na qual consta uma série de itens, onde se registra as formas de base, borda e lábio de vasilhames, composição da pasta cerâmica (antiplástico) e tratamento de superfícies (decoração, engobo, pintura, etc...). A composição da pasta foi observada com auxílio de uma lupa com aumento de 20 X, e um microscópio composto Axiom 68642 Bürstadt-Série G300, com objetivas de aumento de 40 X e 100 X. Quanto ao embasamento bibliográfico, o estudo do material cerâmico foi baseado em Simões (1974), Chmyz (1976), Ribeiro (1977), Simões e Kalkmann (1987), Miller (1992), CEMIG (1985) e Gomes (2002).

Das 550 peças cerâmicas analisadas, 63 (11,46 %) estão associadas a ocupações Manacapuru, 79 (14,36 %) a ocupações Paredão, 318 (57,82 %) a ocupações Guarita, 51 (9,27 %) a ocupações históricas, e 39 (7,09 %) a ocupações não identificadas, recebendo a denominação de “inclassificado”.

3.2.1.1. As Tradições e Fases Ceramistas Amazônicas: Origens, Conceitos e Problemas

De acordo com Prous (1992: 11, 14, 428, 429) o período compreendido entre os anos 1950-1965 foi marcado pela formação da pesquisa moderna na arqueologia brasileira; dentro deste quadro, a Amazônia foi pesquisada pelo casal Clifford Evans e Betty J. Meggers (Smithsonian Institution), cujas pesquisas concentraram-se na Ilha de Marajó e no Amapá entre 1949-1950, e mais tarde pelo arqueólogo alemão Peter Paul Hilbert entre 1955-1961 na Amazônia Central. Baseando-se em análises de seriações cerâmicas, os pesquisadores definiram cerca de 22 fases onde era dada ênfase aos tipos decorativos, perfis de bordas e o antiplástico da composição da pasta dos vasilhames cerâmicos.

Segundo a Terminologia Arqueológica Brasileira Para a Cerâmica organizada por Chmyz e outros colaboradores em 1976, entende-se por fase “qualquer complexo de cerâmica, lítico, padrões de habitação, etc., relacionado no tempo e no espaço, num ou mais sítios”, e por complexo como um “conjunto de elementos culturais associados entre si”.

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Essas fases foram agrupadas em quatro horizontes (horizonte: “grupo de elementos ou técnicas que se distribuem espacialmente, em tempo relativamente curto” [Chmyz et al., 1976]) caracterizados pelo tipo de decoração e alguma variedade de borda, dispostos na seguinte ordem cronológica: hachurado-zonado (início da Era Cristã); borda incisa (cerca de 500 d. C.); policromo (cerca de 1000 d. C.); e inciso-ponteado (proto-histórico), sendo a elas admitida alguma contemporaneidade, se sucessivas e em período de transição entre si. Todavia, esses horizontes passaram a ser chamados de tradições (tradição: “grupo de elementos ou técnicas, com persistência temporal” [Chmyz et al., 1976]), visto que algumas datações obtidas em Marajó eram mais antigas do que se esperava para as fases determinadas, bem como a colocação relativa dos horizontes, que divergiam em alguns casos; mas mesmo assim a seqüência desses horizontes/ tradições foi mantida (Prous, 1992:249).

Entre os anos de 1965-1970 foi desenvolvido no Brasil o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), criado em convênio com Smithsonian Institution, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o Museu Paraense Emílio Goeldi. O trabalho envolveu diversos pesquisadores brasileiros sob a orientação de Clifford Evans e Betty J. Meggers, e tinha como objetivo elaborar um quadro geral das culturas arqueológicas brasileiras através de prospecções e escavações rápidas. Com a descoberta de um grande número de sítios, aumentou o número de tradições e de fases, principalmente para as ocupações ceramistas. Na Amazônia foi definida uma tradição ceramista mais antiga que as quatro anteriormente conhecidas, recebendo a denominação de Mina.Outras fases foram definidas para o baixo rio negro e o alto rio Xingu. Com o término do PRONAPA, o Museu Paraense Emílio Goeldi, desenvolveu trabalhos na mesma linha de pesquisa durante os anos 80, organizados pelo Prof. Mário Ferreira Simões em um projeto denominado Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica (PRONAPABA), suas atividades duraram até o início da década de 90.

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Entre as principais características das tradições ceramistas amazônicas, temos: Tradição Mina: Essa tradição envolve grupos coletores-pescadores ceramistas, cuja economia baseava-se na pesca e coleta de moluscos e crustáceos, bem como de frutas, sementes e raízes, sendo seus sítios caracterizados pelo acúmulo de grandes volumes de conchas marinhas ou fluviais, genericamente conhecidos por sambaquis, concheiros, casqueiros ou minas (Simões, 1981/2: 11). Entre os anos 60 e 70, se acreditava que as cerâmicas sul americanas mais antigas, ocorriam em sítios deste tipo no Equador (Valdívia) e Colômbia (Puerto Hormiga), com datas em torno de 5150 AP; todavia, pesquisas efetuadas no litoral do Pará na década de 70 neste mesmo tipo de sítio, revelaram datações de 5150 anos AP e 3150 anos AP (Prous, 1992: 433). É representada pelas fases Mina (Simões, 1981; Roosevelt, 1995: 116-119) no litoral do Pará, Castália e Macapá (sambaquis fluviais) no baixo Amazonas, e Uruá (sambaqui fluvial) no médio rio Quatipuru, Pará; relaciona-se com a fase Alaka na Guiana (Roosevelt, 1995: 119-120), aos sambaquis litorâneos do Maranhão e, possivelmente à fase/tradição Periperi (Recôncavo Baiano) (Simões, 1981: 01); todavia estes sambaquis da costa da Bahia não são considerados pelos Evans como afiliados a cerâmica Mina, devido à inconsistência das datações de C-14 com suas posições estratigráficas amplamente separadas no tempo (Meggers e Evans, 1983: 305-307). Caracteriza-se por vasilhames cerâmicos toscos, temperados com conchas moídas e ocasionalmente areia, com banho vermelho, decoração escovada, raspada, roletada e incisa incipiente; há também artefatos de conchas (raspadores), ósseos (pontas, furadores e carimbos) e líticos (lâminas de machado, batedores, moedores e raspadores) (Simões, 1981:13). Por volta do segundo milênio a.C., houve uma descida do nível médio dos mares, reduzindo as fontes alimentares de moluscos, peixes e crustáceos; isto forçou o deslocamento dessas populações para o baixo Amazonas (fases Castália e Macapá) e médio Quatipuru (fase Uruá), e teriam perdurado até o início da Era Cristã (Simões, 1981/2:12). Roosevelt (1995) ao desenvolver pesquisas na região de Santarém (Pará), encontrou vestígios cerâmicos muito antigos no Sambaqui da Taperinha (7080 ±80 e 5705±80 AP; Roosevelt, 1991: 1623) e na Caverna da Pedra Pintada (11200-430 AP; Roosevelt et al., 1996: 380-381); respectivamente, as datações radiométricas das seqüências cerâmicas mais antigas destes sítios variam entre 6300±90 a 7110±1422 AP, e, 4710±375 a 7580±215 AP (Roosevelt, 1995: 125-124), de modo que, suas datas mais recentes coincidem com as 42

mais antigas dos sítios Mina e Alaka. Isto indica a possibilidade uma migração ou difusão desta tradição ceramista amazônica para o norte da América do Sul, Andes Centrais ou a Mesoamérica; todavia, não se deve descartar a hipótese de ter existido múltiplos eventos de origem da cerâmica na Amazônia, ao julgar pelas acentuadas diferenças entre as cerâmicas antigas de uma região para outra, indicando ter existido vários centros de sua origem (Roosevelt, 1995: 128-129). Tradição Hachurado-Zonada: Esta tradição é representada por alguns sítios da fase Ananatuba na Ilha de Marajó (Simões, 1981/2: 12; Meggers e Evans, 1983: 302-303) e da fase Jauari no Lago Grande de Curuá, no baixo Amazonas (Hilbert, 1968); a primeira seria representada por aldeias compostas por uma única casa comunal, sobre estacas e barreadas, localizadas no limite da mata com o campo, próximas a um rio ou igarapé; já a segunda, é representada por um sambaqui fluvial. Sua cerâmica era decorada com técnica de incisões finas cruzadas, cercadas por incisões mais largas, isoladas ou definindo zonas de fino hachurado, ocorrendo também o engobo vermelho e a técnica escovada, decoração de adornos biomorfos estilizados e a presença de cachimbos tubulares (piteiras) com rostos estilizados. Baseando-se em uma datação de C-14 para um sítio da fase Ananatuba, é inferido um período de duração desta fase entre 3150 e 2150 AP. (Simões, 1981/2: 13). Esta tradição engloba algumas fases na Amazônia peruana (Tutischcainyo e Waira-Jirca) e equatoriana (Yasuni e Pastaza). Tradição Borda-Incisa: Esta tradição também é denominada de “Barrancóide da Amazônia” ou Incisa-modelada (Lathrap 1970, apud. Heckenberger et al., 1988: 70), é representada pelas fases Mangueiras (Ilha de Marajó e Ilha Mexiana), Caiambé, Manacapuru, e Paredão (Amazônia Central [Hilbert, 1968]), Japurá e Pocó (rio Nhamundá-Trombetas; Hilbert e Hilbert, 1980: 8) sendo representada na bacia do Orinoco pela fase Nericagua e os complexos Cotua e Los Caros. Sua cerâmica caracteriza-se pela presença de bordas largas, espessadas internamente, lábio plano, decorada com linhas incisas largas, sendo a superfície externa e/ou interna pintada ou engobada de vermelho (Simões, 1981/2: 15). Outras características da cerâmica Borda-Incisa incluem decoração escovada, raras estatuetas, cachimbos tubulares (piteiras), botoques auriculares e labiais, e carimbos planos (Chmyz et al, 1976: 146). A fase Paredão da Amazônia central, de acordo com as pesquisas mais modernas, tende hoje a ser considerada como uma fase independente, não mais afiliada com as 43

grandes tradições cerâmicas da Amazônia, conforme veremos a seguir. Tradição Policroma: Grande tradição ceramista da Bacia Amazônica, a qual espalhase ao longo da calha do rio Amazonas e de seus contributários, desde a Amazônia Peruana/ Equatoriana até a Ilha de Marajó. Os Evans atribuíam a esta tradição uma origem

subandina,

cujas

populações

“culturalmente

mais

evoluídas”

antes

acostumadas a um meio anômalo ao da selva amazônica, foram obrigadas a se adaptar a novas condições ambientais, “degenerando” até o nível cultural de “floresta tropical” (Prous, 1992: 436-437). Por outro lado, Lathrap (1970) propunha através de seu “modelo cardíaco” que uma pressão populacional nas áreas ribeirinhas na Amazônia Central, gerou levas migratórias pelas bacias afluentes do Amazonas, responsáveis pela tradição dos grandes grupos lingüísticos e estilos cerâmicos da Amazônia; seguindo este raciocínio a Tradição Policrômica Amazônica tinha relações com populações lingüisticamente do tronco Tupi, principalmente com as línguas da família Tupi-Guaraní (Heckenberger et al., 1998: 70). Pesquisas mais recentes efetuadas por Heckenberger et al. (1998: 82) têm demonstrado que as cerâmicas policromas

amazônicas

seriam

manifestações

regionais

mais

ou

menos

contemporâneas, com certo grau de variabilidade geográfica e cronológica, dentro de uma mesma tradição cerâmica, com exceção da fase Marajoara (Ilha de Marajó, foz do Amazonas) que tende ser mais antiga que as demais cerâmicas policromas do médio e do alto Amazonas (Roosevelt, 1991, apud. Heckenberger et al., 1998: 74, 82), o que indica que há um claro padrão de difusão desses elementos cerâmicos, que vão do mais antigo ao mais recente em direção ao alto Amazonas. É representada pelas fases Marajoara (ilha de marajó); na Amazônia central é representada pela fase/ subtradição Guarita (subtradição: “variedades dentro de uma tradição” [Chmyz et al. 1976]), e pelas fases Apuaú, Itacoatiara, Silves, São Joaquim, Tefé, Jatuarana (rio Negro, Meggers e Evans, 1983: 311) entre outras; no alto Amazonas é representada pelas fases Napo (Equador) e Caimito (Peru), na Colômbia pela fase Zebu, e na Bolívia pela fase Cuchini (Meggers e Evans, 1983: 325). Esta tradição é um dos mais belos exemplos cerâmicos da Amazônia, como traço diagnóstico apresenta espesso engobo branco com pintura policroma geralmente preta, vermelha e laranja, além de outras técnicas decorativas associadas e complexas: incisa, excisa, acanalada e modelada, formando em geral, padrões geométricos. Entre outros artefatos cerâmicos destacamse estatuetas, maracás, rodelas de fuso, colheres, bancos, tangas e suportes de 44

panela (Chmyz et al., 1976). Outra característica desta tradição é uma certa “monumentalidade” dos sítios, em geral associados a grandes áreas de terra-preta, apresentam grandes sítios-cemitérios, cerimoniais e de habitação, às vezes instalados sobre aterros artificiais, cuja construção exigiria planejamento e liderança pra manipulação em larga escala de mão de obra (Simões, 1981/2: 17-18). Tradição Incisa-Ponteada: Segundo Simões (1981/2: 15) esta tradição teria sido instalada na Amazônia brasileira pouco depois que a Tradição Borda-Incisa, com provável procedência circum-caribe, e sua datação estaria entre 900 d.C. até a época do contato com os europeus, ou seja, era também contemporânea com a Tradição Policroma. É representada ao logo da calha do Amazonas e seus tributários pela cultura Santarém (rio Tapajós), pelo complexo cerâmico Konduri (rios NhamundáTrombetas), e as fases Mazagão (Amapá), Diauarum e Ipavu (alto Xingu), Cacarapi (médio Xingu) Tauá (baixo Tocantins), Mabaruma (Guiana), no rio médio Orinoco pelas séries Arauquinóides e na Amazônia central pela fase Sanabani (Lago de Silves). Sua produção cerâmica conta com grande número de apliques biomorfos e vasos de gargalo (os vasos com “cariátides” da cultura Santarém), estatuetas, cachimbos angulares, rodelas de fuso e suportes de panela (Chmyz et al. :1976; Meggers e Evans, 1983: 324).

Depois destas cinco tradições há um número expressivo de fases “flutuantes” ou “independentes” associadas a horticultores de floresta tropical. Entre estas, destacamse as fases Aruã, Acauã, Formiga (foz do Amazonas), Umari e Pajurá (baixo rio Negro), Cajari (Maranhão), entre outras (Simões, 1981/2: 16-17).

Na área do Projeto Amazônia Central o material cerâmico até agora recuperado pertence à Fase Manacapuru da Tradição Borda Incisa ou Barrancóide (Hilbert, 1968; Heckenberger et al. 1998), à Fase Paredão (Hilbert, 1968; Donatti, 2003), e também a subtradição Guarita da Tradição Policroma Amazônica (Hilbert 1968; Heckenberger et al. 1998, 1990).

O material cerâmico da fase Manacapuru seria uma manifestação local da tradição Barrancóide, originária do baixo rio Orinoco, devido ao grande número de elementos decorativos em comum: engobo vermelho, decoração modelada zoomorfa, bordas e 45

flanges labiais com motivos incisos; sua datação na Amazônia central estaria entre os sécs. III a.C. e X d.C. A fase Paredão foi a princípio definida por Hilbert (1968) como pertencente à Tradição Borda-Incisa, todavia foi transferida pelos Evans para a Tradição inciso-Ponteada, por acharem a datação desta muito recente (870 e 880 AD) (Prous, 1992: 436 e 458); sua presença na Amazônia central ocorreria até o séc X d.C.; segundo Neves (2000: 65) é possível que ela represente um desenvolvimento local, independente de qualquer ocupação cerâmica que a antecederam (Manacapuru) ou a substituíram (subtradição Guarita), visto que não ocorre em nenhuma outra parte da Amazônia. Sua cerâmica caracteriza-se pela presença de pintura vermelha com motivos geométricos em espiral e em gregas em superfícies lisas e o uso de apliques biomorfos nos ombros de grandes urnas funerárias cordiformes (Hilbert, 1968, apud. Neves, 2000: 64). Quanto a Subtradição Guarita, presente na região entre os sécs. X e XVI d.C., é caracterizada pela presença de pintura policroma sobre engobo branco, às vezes associada com modelagens zoomorfas e antropomorfas, ou à técnica decorativa acanalada de motivo geométrico (geralmente aplicada nas paredes externas e flanges mesiais dos vasilhames). Ocorrem urnas funerárias antropomorfas de corpo cilíndrico e base em pedestal, com apliques modelados representando braços, pernas e os órgãos genitais, as cabeças são destacáveis servindo como tampa (Hilbert, 1968: 110-113). Na região de Itacoatiara, Amazonas, o sítio arqueológico de Miracangüera forneceu belos exemplares dessas urnas no final do séc. XIX., Lathrap e Brochado (1982, apud. Heckenberger et al., 1998: 78) chegaram a considerá-la como uma subtradição diferenciada da cerâmica Guarita.

Considerando este quadro de tradições e fases ceramistas amazônicas, elaborado desde a década de 50 pelos Evans, e pela escola do PRONAPA/ PRONAPABA a partir dos anos 60, pode se afirmar que ainda hoje é utilizado como base para as pesquisas na região, apesar de apresentar pontos duvidosos, os quais têm sido contestados e reavaliados por diversos autores, entre os quais destacam-se Lathrap (1970), Roosevelt (1992), Denevan (1996), De Boer et al. (1996).

Prous (1992: 436) alerta que para o atual quadro de pesquisas arqueológicas na Amazônia, seria mais válido definir estilos regionais ao invés de se estabelecer “tradições”, visto que tal classificação foi criada sob uma ótica difusionista para a ocupação humana na região, uma idéia que tende a não ser muito considerada hoje 46

em dia; e também pela confusão gerada pelos “traços diagnósticos”, ou seja, um elemento considerado característico de uma tradição pode aparecer nas fases de outra, por exemplo: bordas reforçadas da Tradição Borda Incisa também ocorrem em cerâmicas da subtradição Guarita (Tradição Policroma); a fase Itacoatiara apresenta incisão típica das fases Caiambé ou Manacapuru (Tradição Borda Incisa), mas por apresentar pintura, decoração incisa e excisa (tal como a fase Marajoara), e uma data antiga do Séc. I d. C. , foi jogada para a Tradição Policroma (Prous, 1992: 439). Pesquisas efetuadas no sítio Açutuba revelaram uma variante de cerâmica policrômica diferente da subtradição Guarita, mas pertencente à fase Paredão (Heckemberger et al. 1998: 76), indicando que a policromia nem sempre define com segurança uma afiliação com a Tradição Policroma.

Outro problema com a determinação de fases são as seriações baseadas nas variações de antiplástico. É importante lembrar que há situações que o antiplástico ora comporta-se como um elemento funcional, ora como elemento cultural. Neves (2000: 64-65) aponta para o fato de que se o antiplástico de cauixi realmente definisse a fase Paredão (Hilbert, 1968), logo esta deveria ser agrupada juntamente com as cerâmicas da fase Manacapuru (Tradição Borda Incisa), apesar de ambas diferirem entre si. Outro pormenor é a datação encontrada por Hilbert (1968, apud Prous, 1992: 436 e 458) para a fase Paredão (870 e 880 AD): considerada recente demais, foi jogada pelos Evans na Tradição Incisa-Ponteada, embora apresentasse tempero de cauixi típico da Tradição Borda Incisa. Isto mostra que neste modelo ocorrem discrepâncias cronológicas com os estilos decorativos e antiplásticos cerâmicos utilizados como critérios de filiação com as “tradições” ceramistas amazônicas.

As seriações cerâmicas têm servido de base para alguns autores (Meggers, 1983-85, apud Neves,1999: 13; Miller et al. ,1992) ao afirmarem que os grandes sítios arqueológicos da Amazônia são o resultado de múltiplas reocupações de populações semi-sedentárias, em oposição a idéia de grandes aldeias ocupadas em um único evento por densas populações sedentárias, posição defendida por Roosevelt (1992) e Denevan (1996). Os trabalhos de comparação etno-arqueológica desenvolvidos por De Boer et al. (1996) na aldeia de são Francisco de Yarinacocha (rio Ucayaly, Amazônia peruana) com cerâmicas Shipibo, demonstraram que um mesmo vasilhame com múltiplos tratamentos decorativos em determinadas porções de sua superfície, gera 47

várias “categorias cerâmicas diferenciadas” quando fragmentados, o que conduz a erros interpretativos nas montagens de

seriações quantitativas cerâmicas; outro

exemplo também observado nesta aldeia, foi a montagem de assembléias cerâmicas em 13 áreas de coleta, as quais associavam-se à 11 casas familiares modernas: essa comunidade dispunha de muito mais variabilidade cerâmica do que aquela atribuída à mudanças temporais envolvendo múltiplas reocupações ao longo dos séculos (De Bôer et al., 1996: 274-275); isto permitiu efetuar algumas reavaliações de seriações cerâmicas efetuadas no sítio AM-MA-09 (baixo rio Negro) por Meggers (1991, apud. De Boer, 1996: 265), bem como uma suposta “divisão de metades” interpretada por Meggers e Maranca (1980, apud. De Boer, 1996: 127) para o sítio Aldeia da Queimada Nova (Piauí), demonstrando que a idéia de reocupação dos sítios não é convincente.

Observando os problemas acima, e considerando que as cerâmicas por mim analisadas nem sempre apresentaram o antiplástico de acordo com os critérios estabelecidos por Hilbert (1968) para a definição de fases, ou seja, o cauixi para as fases Manacapuru e Paredão, e o cariapé para a Subtradição Guarita; e também a complexidade dos sítios da Amazônia central, como o Açutuba, com grandes variedades decorativas das cerâmicas Guarita, e inclusive uma variedade policrômica na cerâmica Paredão (Heckenberger et al., 1998: 76), torna-se difícil trabalhar mantendo o modelo de “fases” e “tradições” de acordo com a proposta do PRONAPA (1965-1970), e até que no futuro as pesquisas arqueológicas gerem dados suficientes para que possamos definir seguramente “estilos regionais” conforme a proposta de Prous (1992: 436) ou “sistemas Regionais”, conforme a proposta de Morais (1999/2000), no momento torna-se também difícil se emancipar do uso dos termos “tradição” ou “fase” para a área pesquisada, visto que os complexos (principalmente cerâmicos) levantados por mim, repetiam-se em um mesmo espaço físico geográfico (a área de confluência dos rios Negro e Solimões) em um ou mais sítios. Todavia, pelas lacunas na cronologia, não tenho a absoluta certeza quanto à relação desses complexos entre si em uma seqüência cronológica (salvo os grandes intervalos já conhecidos para as fases cerâmicas da área). Sendo assim, utilizarei neste trabalho o conceito de Fase, ainda que de maneira cautelosa.

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3.2.1.2. A Ficha de Análise Cerâmica do Projeto Amazônia Central

A ficha utilizada na análise cerâmica (ver em anexo VIII) é o modelo utilizado pelo Projeto Amazônia Central para efetuar análises cerâmicas, o qual também foi utilizado neste mestrado. Durante a etapa de laboratório sofreu algumas modificações, quando surgiam novos elementos decorativos ou descritivos entre as coleções trabalhadas. Cada coleção cerâmica correspondente a um sítio apresentou um determinado número de fragmentos cerâmicos selecionados após a triagem; em seguida cada fragmento foi submetido a uma série de itens, e em associação com os demais fragmentos, tiveram seus dados tabulados para montagens de histogramas (ver anexo IX), avaliações estatísticas e interpretações de dados.

3.2.2. A Análise Lítica

Quanto ao material lítico, este foi classificado em cinco categorias de artefatos, conforme sugestão apresentada por Costa (2002): brutos, térmicos, lascados, polidos e picoteados, além de bibliografia complementar e uma ficha de análise lítica (ver Anexo X) foram contados e pesados para efeito de quantificação.

A análise do material lítico foi baseada em Laming-Emperaire (1967), Ribeiro (1977), Prous (1992: 59-84), CEMIG (1995), Marois et alli. (1997) e, Hameister et alli. (1997). A princípio consistiu na triagem de 3558 peças líticas, sendo estas classificadas em artefatos brutos, térmicos, lascados, polidos e picoteados. Cada uma dessas categorias foi subdividida de acordo com a tipologia e função dos artefatos, sendo registrado a litologia, formas geométricas (Fig. 1), sinais e ângulos de uso, as técnicas de confecção e, suas dimensões; procurando correlacioná-las, quando possível, às ocupações cronológico-culturais já conhecidas na área em estudo. É importante salientar que o critério adotado, para se determinar a função principal de um artefato, era a observação de marcas de uso predominantes em suas superfícies ou arestas, certamente associadas a um trabalho preferencial cuja peça era utilizada; por outro lado, se o mesmo artefato apresentasse marcas de uso menos acentuadas, associadas a um trabalho secundário, era então considerado na análise um uso associado a peça.

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Figura 1 - Tabela de formas geométricas utilizadas na classificação do material lítico. Fonte: (CEMIG, 1995).

A análise resultou em 3361 peças (94,46 %) associadas a ocupações pré-ceramistas (caçador coletor/ agricultor incipiente), 12 (0,34 %) a ocupações Manacapuru, 7 (0,20 %) à ocupações Paredão, 89 (2,50 %) a ocupações Guarita, 1 (0,03 %) a ocupações históricas, 11 (0,31 %) a ocupações inclassificadas (sem filiação cronológico-cultural) e, 77 (2,16 %) à ocupações mescladas, ou seja, quando duas ou mais ocupações já conhecidas na área ocuparam um mesmo sítio, e o artefato encontrava-se fora de contexto.

O material térmico foi considerado como todo fragmento de rocha de dimensões milimétricas a centimétricas, fraturado, gretado ou com superfícies alteradas por ação do fogo, sendo representado por lascas (910) e blocos (12).

O material bruto foi considerado como todo artefato utilizado na mesma forma em que foi coletado na natureza, sem receber qualquer modificação por lascamento, picoteamento ou polimento, salvo a provocada por ação do uso. Foram obtidos a partir de blocos e seixos, os primeiros se tratam de pedaços de rochas irregulares ou facetados, e os segundos, rochas roladas por ação fluvial com forma arredondada (seixos) e córtex (ou crosta) mais liso e espesso (CEMIG, 1995: 53). È representado na coleção pelos seguintes artefatos: 

Abrasador (156): artefato utilizado para desbastar, ralar ou polir, quanto ao formato de sua superfície é classificado como plano (117), côncavo (19) e convexo (10); caso apresente uma reentrância lateral, recebe a classificação de abrasador de escotadura ou grosa (2); caso apresente sulcos com seção semi50

circular recebe a classificação de abrasador acanalado (8),conhecido também como calibrador (Prous,1992: 63),polidor sulcado ou afiador de canaleta (Ribeiro, 1977: 41), tendo função de dar polimento em peças de seção cilíndrica, haste de flechas, por exemplo. Duas peças em especial receberam a denominação de abrasador de escotadura ou grosa, por ser um pequeno bloco com reentrância lateral e de superfície ativa bem áspera destinada a trabalhos de desgastes mais fortes. 

Alisador de cerâmica (8): seixos ou blocos na forma de pequenas plaquetas cujas superfícies demonstram desgastes bem lisos, destinados a alisar superfícies de utensílios cerâmicos.



Quebra-côco (41): seixo ou bloco com uma ou mais depressões semi-esféricas polidas ou picoteadas, situadas em uma ou mais faces. Serviriam de suporte para a quebra de côcos ou sementes; podendo servir também como base de fusos para fio de algodão ou como base de fricção para obtenção de fogo (Ribeiro,1977: 55).



Triturador (20): seixo ou bloco utilizado para esfregar, polir ou moer, apresenta superfícies esmagadas ou polidas pelo uso. Certas peças apresentam sinais de uso como batedor, indicando que podem ter tido esta função antes de serem utilizadas como trituradores. Recebe também a denominação de moedor (Ribeiro,1977: 58).



Bigorna (23): bloco constituído por uma face mais ou menos plana, onde se apóia o material destinado a ser quebrado ou batido; seu uso é detectado pelas marcas de golpes impressos em sua face plana (Laming-Emperaire, 1967: 85).



Batedor ou Percutor (3): rochas utilizadas como martelos, para lascar rochas frágeis, picotear superfícies de pedras, etc..., sendo escolhidos seixos arredondados ou blocos compactos de rochas não muito frágeis; os pontos de impacto mostram um esfarinhamento, ou seja, um picoteamento de utilização (Prous,1992:64).

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Corante (190): blocos de rochas cuja composição mineral pode fornecer pigmentos para o preparo de tintas para pintura corporal ou de objetos. Em geral são de composição férrica podendo fornecer as cores vermelha ou amarela, respectivamente obtidas da hematita e da limonita (Ribeiro, 1977:42). Algumas peças apresentaram faces planas e estrias ocasionadas por fricção.



Fragmentos atípicos (960): fragmentos centimétricos, irregulares de rocha, seixo ou nódulos, fraturados por choque, não apresentam sinal de trabalho humano, mas sua presença no contexto dos sítios pode indicar coleta de matéria prima para atividades cotidianas em geral.

O material lascado envolveu todo artefato modificado a partir de um bloco ou seixo por golpes de percussão direta ou bipolar, desferidos por um percutor pesado ou mais leve, deixando respectivamente um ponto de percussão espatifado ou puntiforme, este último associado com cornija, bico ou bulbo bem definidos (CEMIG, 1995: 54) sobre os produtos resultantes: lasca simples com crosta (46, apresenta até 2/3 da superfície com crosta), lasca simples em forma de cunha (83, apresentam até 1/3 da superfície com crosta), lasca preparadas (475, ausência de crosta), estilha (525, lascas com dimensões inferiores a 25 mm no comprimento e na largura [CEMIG,1995: 54]) e lâmina (14, lasca cujo comprimento é superior ao dobro da largura [CEMIG,1995:53]).

Uma vez obtidas as lascas, lâminas ou estilhas, essas poderiam ser descartadas, ou utilizadas devido à utilidade de seus gumes formados, e conforme os sinais deixados pelo uso, era possível definir sua função (CEMIG,1995: 54). Algumas peças receberam retoques como um aprimoramento de suas funções, podendo estes ser escamados ou escamados progressivos, os primeiros eram produzidos por um percutor de rocha ou madeira dura, deixando marcas largas e curtas; já os segundos apresentam o mesmo comportamento, mas formam um escalonamento da periferia ao centro da peça, podendo ter sido provocado por um percutor de madeira ou osso (Bordes, 1961; apud CEMIG, 1995: 55).Os retoques em geral eram marginais e atingiam uma ou ambas faces. É representado na coleção pelos seguintes artefatos: 

Núcleo esgotado (5): entende-se por núcleo, o bloco inicial de rocha, do qual o homem procura obter lascas para transformá-las em instrumentos; são 52

considerados esgotados quando foram retiradas todas as lascas possíveis (Prous, 1995: 68,71). 

Lâmina de machado (13): é uma ferramenta de bloco lascada bifacialmente e, apresenta um gume mais ou menos perpendicular ao eixo longitudinal (Lamming-Emperaire, 1967: 70). Sua função seria de cortar, fender, retalhar a caça, escavar o solo para extrair raízes, podendo ser utilizado em alguns casos como cunha; era usado manualmente ou encabado (Ribeiro, 1977: 39).



Talhador (5): trata-se de um instrumento elaborado a partir de uma massa central, sendo retirados algumas lascas para formar um gume, recebendo também a denominação de chopping tool, devido ao lascamento bifacial do gume (Prous, 1995: 71); é uma ferramenta destinada a lascar ou cortar por percussão (Laming-Emperaire, 1967: 69).



Goiva (3): trata-se de um instrumento confeccionado a partir de lascas que, apresentam uma curvatura com pequenos lascamentos causados pelo uso (CEMIG, 1985:90); teria uma função semelhante a um formão de extremidade cortante em forma de meia-lua côncava.



Faca (19): é uma ferramenta de gume longitudinal apresentado geralmente um bordo de pressão bem distinto e mais espesso do que o bordo ativo (LamingEmperaire, 1967: 67), formando neste, um ângulo de corte fino de até 30° no máximo (Ribeiro, 1977: 37).



Raspadores (9): instrumentos que apresenta lascamento unifacial, com função de raspar, ralar, igualar e aplainar, há cerca de uma dezena de tipos de raspadores (Ribeiro,1977: 37). O raspador tem um gume estreito, arredondado na extremidade da peça, seus retoques são curtos, muito oblíquos, e o ângulo do gume formado pela intersecção do retoque com a face interna se aproxima dos 90° (Prous, 1992: 74).

Na coleção ocorreu o raspador plano-convexo (4), é considerado como tal quando a peça é muito espessa, incluindo-se nesta categoria as lesmas e os raspadores altos, estes últimos também chamados plainas ou rabotes (Prous,1995:74); ocorreu também o raspador de ponta (1), quando os lados da peça convergiam até a extremidade, continuamente retocados; o raspador de escotadura (3) e o de bico (1), quando respectivamente mostravam no bordo ativo uma reentrância utilizada ou retocada, ou uma saliência retocada (CEMIG,1995:56). 53



Raspadeira (14): entre a faca e o raspador existe a raspadeira, também unifacial, o ângulo do bordo ativo encontra-se entre 30° e 70° mais ou menos (Ribeiro, 1977: 38); é uma peça com gume lateral aproximadamente retilinear, retocado obliquamente (Prous, 1995: 74). Na coleção ocorreu a raspadeira de extremidade (1) e a raspadeira lateral (12), quando os sinais de uso ocorriam, respectivamente, em uma ou em ambas as extremidades, ou em um ou ambos lados da peça. Uma peça em especial, recebeu a classificação de raspadeira bifacial, por apresentar retoque e desgaste de uso em toda a periferia da peça, de modo que o bordo ativo apresentava ângulo de 60°- 70°.

Há seis peças em elaboração, se apresentam como pré-formas de peças bifaciais (2), folhas bifaciais (3, ou pontas de projétil foliáceas) e de um provável talhador.

O material picoteado foi considerado como artefatos que receberam um acabamento de regularização da superfície por batimento ou martelamento, formando nesta diversos pontos de impacto (CEMIG, 1995: 54). É representado pelo pilão (2), também denominado almofariz, o qual é um recipiente destinado para moer grãos ou corantes (Ribeiro, 1977:40).

O material polido é considerado como peças que receberam um acabamento de regularização da superfície por polimento ou alisamento sendo que em alguns casos era possível observar vestígios de picoteamento ou lascamento (CEMIG, 1995: 54). São representados por lâminas de machado (4, 3 são fragmentos) e mão-de-mó (1). A lâmina de machado polido tem a mesma finalidade do machado lascado, enquanto a mão-de-mó seria um instrumento utilizado para trituração de grãos ou de corantes, em um recipiente com depressão rasa e alongada, denominado mó, sendo usado através de maceração (pressão) de acordo com Ribeiro (1977: 40).

As ilustrações do material lítico foram baseadas nas técnicas propostas por Hameister et alli. (1997).

É importante salientar que, além deste material, outras 88 peças líticas provenientes dos sítios AM-IR-27: Areal do Mangangá, AM-IR-32: Dona Stella, AM-IR-57: Cachoeira 54

do Castanho e das ocorrências TF-6 e V-2 foram repassadas a Fernando Walter Costa durante seu mestrado (Costa, 2002), o qual estudava as indústrias líticas do Projeto Amazônia Central, sendo excluídas da triagem e quantificação, mas envolviam artefatos brutos (bigornas, trituradores, quebra-côcos, percutores/batedores) e lascados (lascas preparadas, raspadores plano-convexos, raspadores de bico, lâminas de machados, esferas, peças bifaciais e, até um fragmento de ponta de projétil).

3.2.2.1. A litologia do material em estudo

A análise litológica baseou-se na observação macroscópica das amostras coletas, utilizando-se uma lupa com aumento de 20 X, observando características de estrutura, textura e mineralogia; em alguns casos não foi possível definir a natureza litológica de alguns artefatos, visto que, não foram efetuadas análises microscópicas de lâminas delgadas, principalmente para rochas ígneas e alguns exemplares suspeitos de serem rochas metamórficas (quartzitos?).

A matéria prima empregada na confecção dos artefatos líticos compreende rochas ígneas, possivelmente o andesito: 1 (0,03 %), dacito: 2 (0,06 %), diabásio:3 (0,08 %) e o diorito:1 (0,03 %); rochas sedimentares, representadas por arenitos finos a conglomeráticos: 2429 (68,28 %), siltitos ferruginosos silicificados: 668 (18,76%) e silexitos:7 (0,19 %); por possíveis rochas metamórficas, representadas por quartzitos: 18 (0,51 %); e por lateritas: 529 (0,51 %).

3.2.3. A Análise do Material Histórico

Este material pertence às ocupações de período histórico, as quais compreendiam grupos indígenas etno-históricos, caboclos ou europeus, de modo que os sítios poderiam corresponder a antigas fazendas coloniais, aldeamentos missionários ou militares, entrepostos comerciais, mocambos, ou locais de moradia do Ciclo da Borracha.

As evidências recuperadas envolvem fragmentos cerâmicos (51), artefato lítico (1), louça histórica européia (26), peças metálicas (4, uma numismática) e materiais construtivos (3), sendo localizados nos sítios de ambiente de várzea. Além de serem 55

contados e pesados, receberam análise descritiva macroscópica orientada com bibliografia complementar.

A louça européia foi classificada em categorias e seus tipos associados de acordo com Brancante (1981), Jacobus (1996), Lima et al. (1989), Tocchetto et al. (2001), e Zanettini (1986). Entre estas encontramos: 

Faiança: louça feita com argila de grande plasticidade, cozimento reduzido, porosa e resistente, com uma cobertura de esmalte opaco à base de compostos de chumbo e estanho, o qual destaca-se bem fácil como uma pele; sua presença no Brasil ocorre desde o início da colonização até o séc. XIX, sendo também denominada de maiólica, louça de Delft ou Delft Ware. (Zanettini, 1986: 120-121).



Faiança Fina (pó-de-pedra ou granito): louça resultante da moagem de feldspato e do quartzo em frações desiguais, apresenta pasta dura e opaca, branca, infusível ao fogo de porcelana e com um vidrado de chumbo. Há muitas variedades e ingredientes, conforme sua fábrica de procedência. Sua origem remonta do séc. XVIII com a revolução industrial inglesa se espalhando muito rápido pelo mundo em grande escala de produção; sua introdução no Brasil teria sido a partir de 1808 com a abertura dos portos, porém, pode ter ocorrido em data anterior através de contrabando (Zanettini, 1986: 122-123). Entre os tipos decorados identificados nas coleções ocorreu o padrão “Blue or Green Edged” caracterizado por incisões limitadas às bordas, onde é aplicada uma pintura em tons azuis ou verdes, seu período de fabricação situa-se entre 1780-década de 50 do séc XIX (Jenkins, 1981, apud Lima et al. 1989: 211; Tocchetto, 2001).



Louça Vidrada (Colono Ware): este tipo de louça é considerada por muitos autores como uma cerâmica, em geral torneada, podendo ser de origem européia ou de produção local, recebendo um acabamento esmaltado à base de chumbo, estanho e sal, cujas cores variam do amarelo claro, amarelo alaranjado, verde escuro ao mel claro ou escuro. Sua origem no Brasil remonta do início da colonização até o séc XIX. (Zanettini, 1986: 121-122; Jacobus, 1996: 24-26).



Louça Vitrificada ou Grés cerâmico (Stone-Ware): louça cuja composição é de uma pasta de textura bem forte, densa, impermeável, granulometria fina, cozida 56

a alta temperatura, conduzindo a uma vitrificação total, se aproximando das porcelanas. Sua origem no Brasil dataria do séc. XVII sendo usada em períodos mais modernos na fabricação de louças sanitárias, azulejos, tubos, isolantes elétricos etc. (Zanettini, 1986: 121).

Maiores detalhes quanto aos padrões decorativos, origens e datas das louças serão explanados na descrição dos sítios e seus materiais. Quanto ao material metáliconumismático, sua identificação foi baseada no catálogo de Russo (1987).

3.2.4. Análise do Material Orgânico

O material orgânico consistiu na descrição macroscópica de prováveis massas de pasta de mandioca e/ou milho ressequidas, genéricamente denominadas de “pães-deíndio”. Foram descritas suas formas, pesos, cores, texturas; e a presença ou ausência de sedimentos, minerais ou rochas, bem como de material botânico associado (raízes).

57

4. OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E SEUS MATERIAIS

4.1. Os Sítios e Ocorrências Arqueológicas de Terra-Firme

No ambiente de interflúvio ou de terra firme da área estudada foram localizados 18 sítios (um destes já tinha sido levantado em 1997) e 10 ocorrências arqueológicas précoloniais ao longo de propriedades rurais localizadas em ambas margens da rodovia de Iranduba, e ao norte da rodovia Manacapuru-Manaus; um dos sítios estudados, AM-IR06: Tokihiro, levantado em 1997 pelos arqueólogos Eduardo Góes Neves e Robert Bartone, foi acrescentado à pesquisa. Os sítios e ocorrências localizam-se geomorfologicamente em topos planos e em meias encostas de morros ou planícies adjacentes a igarapés contributários do rio Solimões. É importante salientar que foi considerado como ocorrência arqueológica, as peças arqueológicas encontradas de forma isolada, não associadas a algum contexto.

A princípio demonstraram se tratar de sítios arqueológicos pertencentes a aldeias isoladas e de dimensões pequenas, com 100 m de diâmetro em média, ao julgar pela área de dispersão de poucos e esparsos fragmentos cerâmicos ou artefatos líticos. Todavia, com o decorrer das pesquisas, alguns apresentaram maiores dimensões, com 300 m em média.

Outro pormenor, o qual chamou a atenção, foi a cerâmica encontrada nesses sítios: fragmentos não muito numerosos, esparsos, cujo aspecto diferia das cerâmicas Manacapuru, Paredão e Guarita, ou seja, densidade bem leve, muito porosa e com superfícies erodidas (Foto 5), geralmente associadas a solos lateríticos lixiviados pluvialmente. A princípio, esta cerâmica gerou uma série de especulações: seria uma cerâmica até então desconhecida no contexto arqueológico da região? E se o fosse, seria de idade mais antiga ou de época pós-colonial tardia em relação às três ocupações cerâmicas (Manacapuru, Paredão e Guarita) já conhecidas na área de pesquisa?

No decorrer de novos achados, alguns exemplares desta cerâmica começaram a surgir em melhor estado de conservação (formas de bordas, restos de acabamento superficial, antiplástico mais evidente), ou então associada com material cerâmico 58

Manacapuru, Paredão e Guarita (Fotos 6, 7, 8), bem como a materiais líticos. A partir deste ponto as dúvidas começaram a serem esclarecidas, principalmente quando elementos comuns às cerâmicas dos sítios visitados no ambiente de várzea foram encontrados nesta cerâmica, então denominada de “erodida”, como: flanges mesiais (Guarita) ou labiais (Manacapuru) e apliques na forma de mamilos, um exemplar Guarita com restos de engobo branco, recuperado em um dos sítios de várzea (Fig. 68, B), apresenta forma semelhante a um exemplar erodido encontrado em um dos sítios de Terra Firme (Fig. 38, C ).

Assim, chegou-se à conclusão, de que esta cerâmica erodida nada mais era do que a cerâmica das indústrias Manacapuru, Paredão e Guarita, que foram submetidas com seus sítios arqueológicos, a um constante processo de intemperismo ocasionado pela lixiviação pluvial do solo nos pontos de cotas mais altas no ambiente de terra firme, em conseqüência dos desmatamentos e queimadas constantes, bastantes comuns na região há algumas décadas, ocasionando a destruição dos sítios arqueológicos, bem como do ecossistema da região (Foto 9).

Outro achado interessante foi a presença de massas ressequidas de mandioca em alguns sítios, popularmente conhecidas na região como “pães de índio”.

Neste ambiente também foi localizado um sítio de grandes dimensões (AM-IR-32: Dona Stella), com rara presença de cerâmica Manacapuru, mas com uma quantidade impressionante de artefatos líticos confeccionados a partir de núcleos utilizados ou retocados e de lascas retocadas, cuja tipologia é similar às das indústrias préceramistas conhecidas no Planalto Central brasileiro (principalmente pela grande presença de raspadores plano-convexos), sugerindo uma nova modalidade de sítio arqueológico até então nunca encontrado na região.

59

5 7

6 8

9 Foto 5 – Sítio AM-IR-25: Jaílson. Fragmentos de cerâmica erodida. Foto 6 – Sítio AM-IR-46: Salviano. Cerâmica Manacapuru, aplique biomorfo e fragmento cerâmico incisos. Foto 7 – Sítio AM-IR-43: Lago Iranduba-II. Cerâmica Paredão: apliques biomorfos, alças modeladas e fragmentos cerâmicos incisos. Foto 8 – Sítio AM-IR-52: Apolônio. Fragmentos de cerâmica Guarita com decoração acanalada, digitada e policroma. Foto 9 – Atividades de queimadas na área de terra firme, ocasionando perda de vegetação e a conseqüente lixiviação de solos e vestígios arqueológicos.

A tabela abaixo resume os sítios e ocorrências arqueológicas localizados na área pesquisada: Tabela III - Os Sítios e Ocorrências Arqueológicas da Terra Firme Coordenada UTM

Tipo

Vestígios

Intervenção

Atividades Modernas

Dim.

Prof.

20M 0814229/ 9641398

Cerâmico

Cerâmica erodida inclassificada

Coleta superficial

Agricultura

203 m2

Superficial

20M 0814277/ 9638994

Cerâmico

Cerâmica erodida inclassificada

Coleta superficial

Lavra de areia desativada

1125 m2

1m

20M 0813972/ 9640047

Litocerâmico

Coleta superficial

Lavra de areia em atividade

5284 m2

1a2m

20 M 0813516/ 9642378

Litocerâmico

Coleta superficial

Lavra de areia desativada

4389 m2

1a2m

20M 0820878/ 9646663

Litocerâmico

Coleta superficial

Lavra de areia desativada / capoeira

6913 m2

Superficial

20M 0813239/ 9646811

Lítico

Coleta superficial e raspagens

Lavra de areia desativada / depósito de lixo

707 m2

1m

20M 0813215/ 9646975

Litocerâmico

Coleta superficial

Área ocupada por casas.

39250 m2

Superficial

8) AM-IR-32: Sítio Dona Stella

20M 0813586/ 9645105

Litocerâmico

Coletas superficiais e raspagens

Lavra de areia desativada, pasto e capoeira

34383 m2

2 a 2,5 m

9) AM-MA-06: Tokihiro

20M 0821021/ 9645485

Cerâmico

Coletas superficiais e raspagens

Plantio de cítricos/ capoeira

23079 m2

0-1 m

10) AM-IR-33: Mafaldo

20M 0815785/ 9638434

Litocerâmico

Coletas superficiais

Plasticultura

92 m2

Superficial

11) AM-IR-34: Cavalcanti

20M 0814143/ 9638748

Cerâmico

Coletas superficiais

Agricultura

11147 m2

Superficial

12) AM-IR-35: Florêncio

20M 0814390/ 9638655

Cerâmico

Coletas superficiais

Agricultura

4500 m2

Superficial

13) AM-IR-36: Mateus

20M 0813856/ 9638186

Litocerâmico

Coleta superficial

Terreno lixiviado e semi desertificado

506 m2

Superficial

14) AM-IR-37: Xavier

20M 0815097/ 9638841

Cerâmico

Pães de índio

Coleta superficial e abertura de sondagem

Agricultura

707 m2

0,50 m

15) AM-IR-38: Nova Esperança

20M 0813746/ 9642559

Cerâmico

Cerâmica Guarita

Raspagens

Carvoaria

140 m2

0,50 m

16) AM-IR-39: São José

20M 0815524/ 9642583

Litocerâmico

Cerâmica Manacapuru, lascas

Coletas superficiais, Tradagens e raspagens

Terreno ocupado por capoeira

16000 m2

Superficial

17) AM-IR-40: Morro Queimado

20 M 0815740/ 9640615

Cerâmico

Coletas superficiais e tradagem

Áreas agrícolas com trechos de capoeira

125600 m2

Superficial

18) AM-IR-41: Carneiro

20M 0815336/ 9640845

Litocerâmico

Área ocupada por uma casa e um campo de futebol

1865 m2

Superficial

19) Ocorrência TF-1

20M 0813887/ 9641381

Lítico

Coletas superficiais, tradagem e trincheiras Coleta superficial

Plasticultura

_

Superficial

Nome 1) AM-IR-25: Jaílson 2) AM-IR-26: Areal Bela Vista 3) AM-IR-27: Areal do Mangangá 4) AM-IR-28: Areal do Maracajá 5) AM-IR-29: Areal Tomoda 6) AM-IR-30: Areal do Guedes 7) AM-IR-31: Comunidade São Sebastião

Cerâmica Manacapuru.núcl eos e lascas Cerâmica Guarita, Núcleos e lascas Cerâmica Guarita/ Manacapuru.Núcl eos Núcleos e lascas pré-ceramistas Cerâmica Inclassificada, núcleo e lasca Grande quantidade de lascas, estilhas e núcleos, cerâmica Manacapuru Cerâmica Paredão Cerâmica Manacapuru e erodida. Lascas Cerâmica Inclassificada/ero dida Cerâmica Manacapuru Cerâmica Paredão. Núcleo utilizado

Cerâmica Manacapuru,Pare dão,Guarita e Inclassificada Cerâmica Paredão e Guarita. Núcleos utilizados Lasca térmica

61

20) Ocorrência TF-2

20M 0813543/ 9642538

Cerâmico

Fragmento de vasilha Guarita

21) Ocorrência TF-3

20M 0812971/ 9646968

Cerâmico

Cerâmica erodida Inclassificada

22) Ocorrência TF-4 23) Ocorrência TF-5 24) Ocorrência TF-6 25) Ocorrência TF-7

20M 0813288/ 9650554 20M 0813630/ 9645247 20M 0816163/ 9638027 20M 0815452/ 9638824

Lítico

Núcleo

Cerâmico

Cerâmica erodida inclassificada

26) Ocorrência TF-8

20M 0815542/ 9638691

27) Ocorrência TF-9 28) Ocorrência TF-10

20M 0815627/ 9638580 20M 0813898/ 9637650

Lítico

Lasca

Cerâmico

Cerâmica erodida inclassificada

Cerâmico

Cerâmica erodida inclassificada e pão de índio

Cerâmico Cerâmico

Cerâmica erodida inclassificada Cerâmica erodida inclassificada

Raspagem Raspagem e coleta superficial Coleta superficial Coleta superficial Coleta superficial Coleta superficial Coleta superficial e unidade de escavação Coleta superficial Coleta superficial

Lavra de areia desativada

_

Superficial

Área ocupada por casas

_

Superficial

Agricultura

_

Superficial

_

Superficial

_

Superficial

_

Superficial

Agricultura

_

Superficial

Agricultura

_

Superficial

Área ocupada por casa

_

Superficial

Agricultura Área ocupada por casa Área ocupada por casas

4.1.1. Os Sítios e Ocorrências de Terra Firme: Descrição, Análise Cerâmica e Lítica

Os sítios aqui descritos seguem um critério de apresentação baseado em suas inserções geomorfológicas na paisagem, dividindo-se em dois tipos principais: relevos suaves representados por terrenos colinosos e planícies adjacentes às cabeceiras de igarapés; e relevos abruptos, representados por topos planos de morros.

4.1.1.1. AM-IR-25: Jaílson

Sítio com fragmentos de cerâmica erodida inclassificada localizado 6 Km ao N da cidade de Iranduba, e cerca de 350 m a NE da ocorrência TF-1, ao oeste da rodovia de Iranduba (AM-452). O terreno é de relevo colinoso, suave, com solo de composição areno-argilosa, mesclado com grânulos de laterita. Na ocasião da visita demonstrava sinais de atividade de arado feita há poucos dias (ver Foto 1). Os indícios eram raros e esparsos, espalhavam-se em uma área elíptica de 15 x 17 m, com o eixo maior orientado N 125 e o menor N 15. Coordenada UTM: 20M 0814229/9641398. Cerâmica: Inclassificada: Natureza das Peças: Base (2) Nível: superficial (2) Forma: desconhecida (2) 62

Medidas: Espessura da peça: 6 e 14 mm; Comprimento da peça: 66 e 88 mm; Ângulo da base: 150º (1). Pasta - Antiplástico: predomina o cauixi (1) e o quartzo (1), e em menor porcentagem ocorre cariapé, cariapé B, bola de argila, hematita, e caco moído. A mica e o carvão ocorrem como traços. Técnica de manufatura: roletado (2). Superfície: erodida (2) Pasta-Queima: oxidante (1) e “sanduíche” (1). Formas - Base: plana (2) (Fig. 2).

Figura 2 - Sítio AM-IR-25: Jaílson. Cerâmica Inclassificada: bases planas.

4.1.1.2. AM-IR-26: Areal Bela Vista

Sítio com indícios de fragmentos de cerâmica erodida inclassificada, raros e esparsos, localiza-se a 2,25 Km a NE da cidade de Iranduba, 150 m a NE do sítio AM-IR-34: Cavalcanti e 400m a NW do sítio AM-IR-35: Florêncio, ao oeste da rodovia de Iranduba. O sítio situa-se em uma planície adjacente a um igarapé de orientação NWSE, contributário do rio Solimões. O solo é formado por depósitos arenosos quaternários, bastante lavrados comercialmente para fins de construção civil, o que ocasionou a destruição deste sítio, hoje há um pequeno campo de futebol no local (Foto 10). Apenas uma coleta superficial foi efetuada. Coordenada UTM: 20M 0814277/9638994.

63

Foto 10 – Sítio AM-IR-26: Areal Bela Vista.Jaílson. Cerâmica: Inclassificada: Seis fragmentos de paredes sem decoração excluídos da análise. Lítico: Inclassificado: Artefatos Térmicos: Lasca: 2 Matéria-prima: arenito fino (1), laterita (1). Descrição: fragmentos centimétricos de rocha, fraturados, trincados ou alterados por ação do fogo, não apresentam ponto de percussão ou bulbo. Em algumas peças há restos de córtex. Bloco: 1 Matéria-prima: laterita (1). Descrição: bloco centimétrico com facetas fraturadas por ação do fogo, apresenta porções de córtex.

64

4.1.1.3. AM-IR-27: Areal do Mangangá

Sítio cerâmico de ocupação Manacapuru, com alguns exemplares erodidos, porém, outros com vestígios de enegrecimento e/ou brunidura (Foto 12), decoração incisa ou ponteada, e também grande número de artefatos líticos de arenito silicificado: lascas e núcleos utilizados ou retocados. Localiza-se a 2,5 Km ao N da cidade de Iranduba e 1100 m a NW do sítio AM-IR-26: Areal Bela vista. O sítio situa-se em uma planície adjacente a um igarapé com orientação NW-SE, formada por depósitos arenosos quaternários, a qual encontra-se bastante destruído por uma lavra de areia ainda hoje em atividade (Foto 11).

Os indícios arqueológicos espalhavam-se em uma área elíptica de 250 x 50 m, cujo eixo maior apresenta orientação E-W e o eixo menor N-S. O material arqueológico foi exposto em conseqüência das atividades de lavra, visto que ao julgar pela espessura dos pacotes arenosos nos barrancos escavados por tratores, este se encontra em profundidades médias de 2m. Além de várias coletas superficiais, algumas raspagens com colheres de pedreiro foram efetuadas. Amostras de sedimento foram recolhidas para datação de termoluminescência (TL). Coordenadas UTM das extremidades do sítio: 20M 0813972/9640047, 20M 0813875/9640043, 20M 0813924/9640023, 20M 0813900/9640083. Cerâmica: Manacapuru: Natureza das Peças: borda (10), base (1), parede decorada (6). Nível: superficial (17). Forma: vaso (9), tigela (1), desconhecido (7). (Fig. 3). Medidas: Espessura da peça: 3 a 18 mm, predomina 8-13 mm; Espessura do lábio: 6 a 21 mm; Comprimento da peça: 36 a 168 mm; Inclinação da borda: 90º a 135º (10); Ângulo da base: 140º (1); Diâmetro da borda: 24 a 36 cm, predomina 28 cm, mas 24 e 32 cm repetem-se com menor freqüência. Pasta-Antiplástico: predomínio do quartzo (11), cauixi (5), e bolas de argila (1). Ocorrem de modo freqüente, mas não predominantes, o caco moído, hematita, quartzo e bola de argila. O cariapé ocorreu em poucos cacos. O carvão, mica e granada ocorrem como traços. Técnica de manufatura: roletado (17). Superfície: 

4 exemplares erodidos ou não alisados nas duas faces;



7 com alisamento nas duas faces, sendo 5 com enegrecimento (4 na face externa e 1 em ambas 65

faces) e 1 com polimento na face interna e enegrecimento na externa; 

3 com alisamento e polimento em ambas faces, sendo 2 com enegrecimento na face externa (1 com fuligem) e 1 com brunidura na face interna;



1 com alisamento externo e superfície erodida ou não alisada na face interna;



2 com alisamento e enegrecimento interno (1 com polimento associado), sendo a face externa erodida ou não alisada.

Pasta-Queima: oxidante (1), redutora (5), oxidante externa/ redutora interna (10), redutora externa/ oxidante interna (1). Formas: Posição (Relação Diâmetro da Peça/ Diâmetro da Borda): vertical (1), côncava (3), convexa (6). Borda: direta (3), expandida (2), reforçada externamente (3), reforçada internamente (2). Lábio: arredondado (8), plano (1), erodido (1). Base: arredondada (1) (Fig. 5). Decoração: 

Incisa (1): decoração na face externa associada a enegrecimento, formando motivo de linhas paralelas compostas. Não se descarta a possibilidade de ter sido usado um pente para provocar o motivo decorativo (Fig. 4, C).



Pintada (1): um exemplar apresentou restos de pintura vermelha escura aplicada na borda externa.



Ponteada (2): decoração no lábio de fragmentos de borda, um exemplar com motivo geométrico “em gregas”, o segundo apresenta motivo de duas linhas ponteadas opostas, semelhante a um “ramo de trigo”, apresentando engobo branco na face interna e engobo vermelho escuro com restos de fuligem na face externa (Fig. 4, A e B).



Ungulada (1): decoração na face externa associada com enegrecimento formando motivos de marcas dispostas de modo difuso. Não se descarta a possibilidade dessas marcas terem sido provocadas acidentalmente (Fig. 4, E).

Lítico:

O material lítico deste sítio foi repassado a Fernando W. Costa durante seu mestrado, e consistia em geral de artefatos lascados (Costa, 2002).

66

Sítio AM-IR-27: Areal do Mangangá 11

12

Foto 11 – Vista geral do sítio, onde se observa um adiantado processo de destruição por lavra de areia. Foto 12 – Indícios cerâmicos superficiais.

Sítio AM-IR-27: Areal do Mangangá. Cerâmica Manacapuru 3

4

5 Figura 3 – Perfis de bordas e formas reconstituídas. Figura 4 – Decoração ponteada (A e B), incisa (C) e ungulada (D), associadas a engobo branco ou vermelho, ou a enegrecimento. Figura 5 – Fragmento de base arredondada com enegrecimento externo.

4.1.1.4. AM-IR-28: Areal do Maracajá

Sítio cerâmico de ocupação Guarita, com alguns fragmentos erodidos e artefatos líticos de arenito silicificado: lascas, núcleos utilizados ou retocados. Localiza-se a 6 Km ao N da cidade de Iranduba, e 1000 m a NW da ocorrência TF-1, ao oeste da rodovia de Iranduba (AM-452). Situa-se em uma planície circundada por duas nascentes de igarapés contributários do rio Solimões, um ao norte com orientação NW-SE e um ao sul com orientação SW-NE, formada por depósitos arenosos quaternários (Foto 13). Os depósitos arenosos no sítio são cobertos por capas lateríticas, mas resta saber se sua presença é antiga, ou é conseqüência das atividades de lavra, de modo que poderia teria sido despejada por tratores. Hoje, o sítio encontra-se bastante perturbado por lavras de areia desativadas, o que evidenciou o material arqueológico. Os indícios espalhavam-se em uma área elíptica de 200 x 50 m, com o eixo maior orientado NWSE e o menor NE-SW. Além de uma coleta superficial, algumas raspagens com enxada e colheres de pedreiro foram efetuadas, e um fragmento de cerâmica situado em perfil de barranco foi coletado com sedimento para datação de TL. Um pilão de arenito foi gentilmente doado pelos moradores locais. Coordenadas UTM das extremidades do sítio: 20M 0813516/9642378; 20M 0813536/9642430; 20M 0813541/9642418; 20M 0813529/ 9642452. Cerâmica: Guarita: Natureza das Peças: parede decorada (3). Nível: superficial (3). Forma: vaso (1), desconhecido (2). Medidas: Espessura da peça: 4; 8 e 11mm. Comprimento da peça: 47; 51,5 e 64 mm. Pasta-Antiplástico: predomina o quartzo. De modo freqüente mas não dominante, ocorre o cauixi, caco moído, bolas de argila e hematita. O cariapé é de pouca presença, sendo que a mica ocorre como traços. Técnica de manufatura: roletado (3). Superfície: 

2 fragmentos com alisamento/ polimento em ambas faces;



1 fragmento com alisamento interno e a face externa erodida ou não alisada.

Pasta-Queima: oxidante (2) e oxidante externa/ redutora interna (1). 69

Decoração: 

Engobo (2): um exemplar com engobo branco interno, o segundo apresentou engobo vermelho escuro externo e engobo vermelho claro interno.



Inciso Largo (1): decoração na face externa com motivos de faixas paralelas (Fig. 6).

Lítico: Guarita: Artefato Picoteado: Pilão: 1 Matéria-prima: arenito fino (1). Descrição: bloco poliédrico facetado, picoteado por atividade de esmagamentos constantes de impacto (Fig. 7). Sinais de uso: O artefato apresenta em uma face, côncava e lisa, duas depressões: uma circular cônica e outra elipsóide côncava, com superfícies lisas, respectivamente com 92.92.84 e 92.58.26 mm. Na face oposta, o artefato apresenta uma depressão circular côncava, com 59.55.24 mm. Uso associado: Em ambas faces principais, associadas às depressões de pilagem, bem como em uma das faces laterais, a peça apresenta superfícies aplanadas ou côncavas provocadas por abrasão, em conseqüência deste artefato ter sido também utilizado como abrasador plano e côncavo. Forma: Q9 (1). Dimensões: 380.247.104 mm.

70

Sítio AM-IR-28: Areal do Maracajá 13

6

Foto 13 – Vista geral do sítio, onde se observa processo destrutivo efetuado por lavra de areia. Figura 6 – Fragmento de cerâmica Guarita com decoração inciso larga. Figura 7 – Lítico picoteado Guarita: pilão (P), com uso associado de abrasador côncavo (AC) e abrasador plano (AP).

7

4.1.1.5. AM-IR-29: Areal Tomoda

Sítio cerâmico de ocupação Guarita e com rara presença de cerâmica Manacapuru. Ocorrem fragmentos cerâmicos com superfície erodida e artefatos líticos. Localiza-se a 13,5 Km a NE da cidade de Iranduba, ao leste da rodovia AM-070: ManausManacapuru. Situa-se em uma planície banhada por um igarapé contributário do rio Negro com orientação NE-SW, formada por depósitos arenosos quaternários. O sítio no passado era uma lavra de areia, hoje é ocupado por vegetação secundária caracterizada por arbustos isolados, de modo que há uma trilha que o corta ao longo de seu eixo principal. O trabalho neste sítio consistiu em delimitá-lo com auxílio de GPS e azimute de bússola, registrando diversos pontos de ocorrência isolada ou concentrada de material cerâmico e lítico (Fotos 14 e 15). A área do sítio é elíptica com dimensões de 290 x 50 m, sendo que seu eixo maior apresenta orientação N 215 e o menor N 305. Uma coleta superficial foi efetuada, com o material embalado de acordo com seu número de proveniência. Em um dos pontos de coleta uma pequena vasilha intacta foi recuperada (Foto 16). Coordenadas das extremidades do sítio: 20 M 0820878/9646663 e 20M 0820839/9646360. Cerâmica: Manacapuru: Natureza das Peças: borda (1). Nível: superficial (1). Forma: vaso (1) (Fig. 8). Medidas- Espessura da peça: 6 mm; Espessura do lábio: 4 mm; Comprimento da peça: 18 mm; Inclinação da borda: 135º a 180º (1); Diâmetro da borda: 16 cm. Pasta-Antiplástico: predomínio do quartzo, o cariapé, argila e hematita ocorrem com freqüência, mas não predominam. Técnica de manufatura: roletado (1). Superfície: alisamento em ambas faces. Pasta-Queima: redutora (1). Formas: Posição (Relação Diâmetro da Peça/ Diâmetro da Borda): convexa (1). Borda: direta. Lábio: arredondado. Decoração: 

Inciso (1): linhas finas paralelas na face externa (Fig. 8). 72

Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda

14

15 16

8 Foto 14 – Indícios cerâmicos superficiais. Foto 15 – Indícios líticos superficiais (abrasadores planos). Foto 16 – Vasilhame de cerâmica Guarita intacto (tigela). Figura 8 – Único exemplar de cerâmica Manacapuru observado: perfil de borda e forma reconstruída com decoração incisa.

Guarita: Natureza das Peças: borda (10), base (3), parede decorada (34), recipiente completo (1). Nível: superficial (48). Forma: vaso (28), tigela (6), desconhecido (14) (Figs. 9, 10, 12 e 13). Medidas- Espessura da peça: 5,5-12 mm e 39 mm, predomina 6-8 mm; Espessura do lábio: 6-27 mm, predomina 6-7 e 10 mm; Comprimento da peça: 11,5 a 119 mm; Inclinação da borda: 45º a 90º (1); 90º a 135º (9); 135º a 180º (1); Ângulo da base: 70º (1, recipiente completo) e 140º (2); Diâmetro da borda: 1028 cm, predomina 24 cm; Diâmetro da base: 18 cm (recipiente completo); Altura da vasilha: 52,5 mm (recipiente completo). Pasta-Antiplástico: predomínio do quartzo (43), cariapé (3), bola de argila (1) e cauixi (1). Ocorrem com freqüência, mas não de modo predominante, o cariapé, caco moído, bola de argila e a hematita. O cauixi e o cariapé B ocorrem em poucos exemplares; a mica e o carvão ocorrem na forma de traços. Técnica de manufatura: roletado. Superfície: 33 fragmentos com alisamento em ambas faces, sendo 11 com técnica de polimento associada: 2 em ambas faces, 1 na face externa e 8 na face interna (6 com enegrecimento e 1 com fuligem externa); 2 exemplares com enegrecimento na face interna. 6 fragmentos apresentam ambas faces erodidas ou sem alisamento. 7 fragmentos apresentam a face externa erodida ou sem alisamento e a interna alisada (3 com enegrecimento e 1 com polimento ). Pasta-Queima: 20 fragmentos com queima oxidante externa/redutora interna; 15 com queima oxidante; 6 com queima redutora; 6 com queima “sanduíche” (ox-red-ox); 1 com queima redutora externa/oxidante interna. Formas: Posição (Relação Diâmetro da Peça/ Diâmetro da Borda): 6 exemplares convexos, 3 côncavos e 2 verticalizados (1 do recipiente completo). Borda: reforçada externamente (7); direta (1); vertical (2, 1 do recipiente completo); expandida (1). Lábio: apontado (4); arredondado (4, 1 do recipiente completo); biselado (1); plano (1); erodido sem identificação (1). Base: plana (3, Fig. 11) e em pedestal (1, recipiente completo, Fig. 10). Decoração: 

Acanalado (13): decoração aplicada na face externa (Fig. 13; Fig. 14, A ao E). - 5 exemplares com motivos de faixas simples isoladas (1 com engobo vermelho escuro nas duas faces, 1 com engobo branco na face interna, 1 com pintura preta na borda externa com motivo de uma faixa grossa). - 4 com motivos de faixas geométricas (3 com engobo vermelho escuro e 1 com vermelho claro interno). - 4 com motivos de faixas paralelas compostas (1 com engobo branco interno, 1 com engobo vermelho escuro externo, 1 com pintura preta na borda externa no motivo de uma faixa grossa, e 1 com faixas acanaladas na borda, Fig. 13,B).



Digitado (1): 1 exemplo com marca digitada na face externa com engobo vermelho escuro associado e engobo branco na face interna (Fig. 14,F). 74



Engobo (15): - 5 exemplares com engobo branco (1 na borda interna, 2 na face interna [1 com engobo vermelho claro na face externa], 2 na face externa com engobo vermelho escuro na face interna) (Fig. 12). - 10 exemplares com engobo vermelho escuro (4 na face externa, 2 na interna, e 4 em ambas faces) (Fig. 12).

Lítico: Guarita: Artefatos Térmicos: Lasca: 3 Matéria-prima: arenito fino (1), siltito silicificado (2). Descrição: fragmentos centimétricos de rocha fraturados pela ação do fogo, não apresentam sinal de trabalho ou utilização (ponto de percussão, bulbo, contrabulbo, etc...), apesar de duas lascas com restos de córtex mostrarem contrabulbos suspeitos. 1 lasca com superfícies alteradas.

Bloco: 1 Matéria-prima: arenito fino Descrição: bloco centimétrico irregular com facetas fraturadas pelo fogo, apresenta superfícies alteradas. Artefatos Brutos:

Abrasador côncavo: 1 Matéria-prima: arenito silicificado (1). Descrição: núcleo tabular (Fig. 15, B). Sinais de Uso: a peça apresenta uma face côncava em conseqüência da abrasão. Forma: T10 (1). Dimensões: 164.120.13 mm.

Abrasador plano: 3 Matéria-prima: arenito silicificado (3). Descrição: fragmentos de núcleos tabulares (Fig. 15, A). Sinais de uso: aplanamentos em conseqüência da abrasão são vistos na face de 1 peça, e em ambas faces de 2. Forma: Q7 (1), T1 (1), P5 (1). Dimensões: 43.163.23 a 115.13 a 14 mm. Corante: 2 Matéria-prima: laterita (1), hematita (1). Descrição: fragmentos irregulares de laterita e hematita. 1 peça apresenta uma face plana, a segunda, 75

uma face côncava (Fig. 15, C). Sinais de uso: as faces encontram-se desgastadas em conseqüência da constante fricção para obtenção de pigmentos. Formas: P5 (2). Dimensões: 48.58.40 a 50.22. 42 mm.

Fragmentos Atípicos: 2 Matéria-prima: arenito fino (1), laterita (1). Descrição: Fragmentos irregulares de rocha, centimétricos, fraturados por choque, sem sinal de trabalho humano (ponto de percussão, bulbo ou contrabulbo, etc...), porém, seu conteúdo no sítio pode indicar coleta de matéria prima para confecção de artefatos em geral (corantes, antiplástico de rocha moída para cerâmica, etc...). Artefatos Lascados: Estilhas: 11 Matéria-prima: arenito silicificado (10) e siltito silicificado (1). Técnica: ocorrem na forma de lascas preparadas obtidas por percussão direta. O ponto de percussão de 1 é espatifado com bulbo, nos demais se encontra quebrado, apenas 1 exemplar com bulbo. 1 peça patinada. Formas: P2 (3), P5 (1), Q6 (2),Q7 (1),T10 (1),T14 (2), T15 (1). Dimensões: variam de 8.4.2 a 16.24.12 mm.

Faca: 2 Matéria-Prima: arenito silicificado (1) e siltito ferruginoso silicificado (1). Técnica: lascas preparadas obtidas por percussão direta.O ponto de percussão é puntiforme com bulbo, 1 com talão plano e 1 com talão irregular, presença de bico em apenas 1 peça. 1 peça patinada (Fig. 16, A e B). Sinais de Uso: pequenos lascamentos marginais decorrentes do uso ocorrem no lado esquerdo e na extremidade distal de uma peça, e no lado o esquerdo de outra peça, são marginais e se limitam à face externa. Ângulos: 5°,10°,20°. Formas: T14 (1), Q2 (1). Dimensões: 29.21.5 a 29.37.11 mm.

Lasca Preparada: 3 Matéria-prima: arenito silicificado (3). Técnica: lascas obtidas por percussão direta (2) ou bipolar (1). Em 2 o ponto de percussão é puntiforme, com bulbo, talão plano, e presença de bico em 1 exemplar; em 1 o ponto de percussão é quebrado, com presença de bulbo. Formas: P4, T4, T6. Dimensões: 29.11.13 e 31.30.8 mm. 76

Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Cerâmica Guarita 9

11 10

12 Figura 9 – Perfis de borda e formas reconstruídas de cerâmica simples. Figura 10 – Perfil de borda e forma reconstruída de tigela completa. Figura 11 – Bases planas. Figura 12 – Perfis de borda e formas reconstruídas de cerâmica com decoração pintada: engobo branco (EB), engobo vermelho (EV) e pintura preta (P).

Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Cerâmica Guarita 13

14

Figura 13 – Perfis de bordas e formas reconstruídas de cerâmica com decoração acanalada, algumas com engobo vermelho associado. Figura 14 – Cerâmica decorada acanalada (A ao E) e digitada (F).

Sítio AM-IR-29: Areal Tomoda. Lítico Guarita 15

16

Figura 15 – Artefatos brutos: A) abrasador plano, B) abrasador côncavo, C) corante. Figura 16 – Artefatos lascados: A e B) fascas.

4.1.1.6. AM-IR-30: Areal do Guedes

Sítio lítico de ocupação pré-ceramista representado pela presença de lascas e estilhas de arenito silicificado e núcleos utilizados. Localiza-se a 10,3 Km ao N da cidade de Iranduba, ao norte da rodovia AM-070: Manaus-Manacapuru. Situa-se em uma planície formada por depósitos arenosos quaternários, banhada por diversas nascentes do Igarapé Montanha Russa, contributário do rio Negro. Hoje, o sítio encontra-se perturbado por antigas atividades de lavra de areia, bem como por atuais despejos de lixo e entulhos de construções modernas (cacos de telha e tijolos). Os indícios espalhavam-se superficialmente em uma área quase circular de 30 m de diâmetro (Prancha 2). A atividade consistiu em efetuar coletas superficiais, raspagens, e a triangulação das ocorrências através de coordenadas UTM com auxílio de GPS. Coordenadas UTM das extremidades do sítio: 20M 0813239/9646811, 20M 0813222/9646790, 20M 0813246/9646771. Lítico: Pré-Ceramista:

Artefatos Térmicos:

Lasca: 5 Matéria-prima: laterita (1), arenito silicificado(4). Descrição: fragmentos milimétricos a centimétricos de rochas fraturadas, gretadas ou com superfícies alteradas pela ação do fogo, não há ponto de percussão ou bulbo. 1 com resto de córtex.

Artefatos Brutos:

Abrasador plano: 1 Matéria-prima: arenito grosso (1). Descrição: fragmento de núcleo tabular (Fig. 17, B). Sinais de uso: aplanamentos em conseqüência da abrasão são vistos em uma face da peça. Forma: T2 (1). Dimensões: 97.57.21 mm.

80

Corante: 2 Matéria-prima: hematita (2). Descrição: nódulos irregulares de hematita. 1 peça apresenta uma superfície côncava; por outro lado, a outra apresenta duas superfícies planas e uma convexa (Fig. 17, D). Forma: EL (1) e SC (1). Dimensões: 44.20.28 e 74.48.35 mm.

Quebra-côco: 1 Matéria-prima: laterita (1). Descrição: bloco irregular (Fig. 17, A). Sinais: a peça apresenta em uma de suas faces, irregular, uma depressão circular com 33.33.12 mm, cuja superfície é áspera. Há restos de córtex. Forma: Q2. Dimensões: 140.90.61 mm. Triturador: 2 Matéria-prima: arenito silicificado (2). Descrição: seixos rolados sub-angulosos (1 fragmentado) (Fig. 17, C). Sinais de uso: esmagamentos em conseqüência do uso são vistos em duas faces e em toda a periferia das peças, semelhantes ao picoteamento. Forma: P3 e Q9. Dimensões: 52.71.44 e 85.52.47 mm.

Artefatos Lascados:

Estilha: 1 Matéria-prima: arenito silicificado (1). Técnica: ocorre na forma de lasca preparada, obtida por percussão direta. Ponto de percussão quebrado com bulbo. Forma: P5 (1). Dimensões: 24.19.2 mm. Folha bifacial em elaboração (?): 1 Matéria-prima: arenito silicificado (1). Técnica: lasca preparada resultante de percussão bipolar, ponto de percussão puntiforme, bulbo e talão plano; apresenta retiradas secundárias na face externa, de modo que a peça comporta-se como uma pré-forma de artefato bifacial (Fig. 17, E). Forma: SC (1). Dimensões: 54.72.13 mm.

81

Lasca preparada: 4 Matéria-prima: arenito silicificado (3) e siltito ferruginoso silicificado (1). Técnica: lascas resultantes da percussão direta (4). O ponto de percussão de 4 é puntiforme, com bulbo e talão plano, mas apenas 2 apresentam bico; 1 lasca com ponto de percussão espatifado e bulbo. Forma: T16 (1), P5 (3). Dimensões: variam de 25.23.7 a 54.69.12 mm.

82

Prancha 2 – Sítio AM-IR-30: Areal do Guedes

3 00 2

PSU / aigolontE e aigoloeuqrA ed uesuM seveN seóG odraudE .rD .f orP :rodatneirO amiL girE odnanreF ziuL :onulA odartseM ed oãçatressiD

.MA ,SEÕMILOS E ORGEN SOIR SOD AICNÊULFNOC ED AERÁ AN OIVÚLFRETNI ED SAERÁ SAD OCIGÓLOEUQRA OTNEMATNAVEL

Sítio AM-IR-30: Areal do Guedes. Lítico Pré-Ceramista

Figura 17 – Artefatos brutos: A) quebra-côco, B) abrasador plano, C) triturador, D) corante, E) artefato lascado: folha bifacial em elaboração?

4.1.1.7. AM-IR-31: Comunidade São Sebastião

Sítio cerâmico de ocupação inclassificada, com exemplares muito erodidos. Há também raros artefatos líticos térmicos de arenito silicificado: uma lasca e um bloco. Localiza-se a 10,5 Km ao N da cidade de Iranduba, e 200 m a NW do sítio AM-IR-30: Areal do Guedes, ao norte da rodovia AM-070: Manaus-Manacapuru. O relevo é de planície arenosa associada às cabeceiras do igarapé Montanha Russa, contributário do rio Negro. Os indícios eram poucos e muito esparsos, ocorrendo em uma área elíptica de 300 x 200 m, sendo o eixo maior com orientação SW-NW e o menor NW-SE. Os moradores locais informaram que a comunidade existe desde o ano de 1969, e que desde esta data, muitos serviços de terraplanagem com tratores foram efetuadas para a instalação das casas, o que com certeza provocou a destruição do sítio. Coordenadas

das

extremidades

do

sítio:

20M

0813215/9646975;

20M

0813225/9647074; 20M 0813061/9646994; 20M 0813085/9647061. Cerâmica: Inclassificada: Natureza das Peças: borda (3); base (4). Nível: superficial. Forma: tigela (1) (Fig. 18, B). Medidas: Espessura da peça: 4 a 7 mm, predomina 6-7 mm; Espessura do lábio: 4-5 mm; Comprimento da peça: 29 a 77 mm; Inclinação da borda: 90º a 135º (3); Ângulo da base: 140º (2); Diâmetro da borda: 8 cm (1). Pasta-Antiplástico: Quartzo predominante. De modo freqüente, mas não predominante, ocorre o cauixi, cariapé, caco moído, bola de argila e a hematita. O cariapé b, carvão e a mica ocorrem na forma de traços. Técnica de manufatura: roletado (5) e modelado (2). Superfície: 

5 fragmentos com ambas faces erodidas ou não alisadas; 1 com alisamento e vestígios de enegrecimento na face interna, sendo a face (base) externa marcada com folha, provavelmente embaúba (Cecropia spp.) (Fig. 18, A); 1 com a face interna erodida ou não alisada e provável marca de esteira na face (base) externa (Fig. 18, G).

Pasta-Queima: Queima “sanduíche” (ox-red-ox) (5), oxidante (1), redutora externa/ oxidante interna (1). Formas: Posição (Relação Diâmetro da Peça/ Diâmetro da Borda): convexa (1) e côncava (2). Borda: extrovertida (1), introvertida (1), direta (1). Lábio: apontado (1), arredondado (2). 85

Base: plana (4) (Fig. 18, A, C, D, G). Decoração: 

Ponteado (1): um exemplar apresenta uma marca ponteada na parede externa próxima ao limite do bojo com a base (Fig. 18, C).

Artefatos específicos: 

Colher? (2): dois fragmentos de borda tratam-se de prováveis colheres, ao julgar pela curvatura elíptica dos lábios, e a rasa profundidade entre estes e a base, bem como pela presença de uma terminação sugestiva de pertencer a um cabo. Segundo informações prestadas pela museóloga Jane Clotilde Cony Cruz (Museu Amazônico-UFAM) tal forma de utensílio é até hoje utilizado por populações indígenas e caboclas, podendo ser confeccionado de cerâmica ou de cuia, e recebe a denominação em língua geral (nheengatu) de cuité. Dimensões: 43.38.25 e 56.12.26 mm (Fig. 18, E e F).

Figura 18 - Sítio AM-IR-31: Comunidade São Sebastião. Cerâmica Inclassificada: bases planas (A, C, D, G) com marca de folha de embaúba (A) e esteira (G), e com decoração ponteada (C). Perfil de borda e forma reconstruída de tigela (B); restos de colheres? (E e F). Lítico: Inclassificado: Artefatos Térmicos: Lasca: 4 Matéria-prima: arenito silicificado (1), siltito ferruginoso silicificado (3). Descrição: fragmentos centimétricos de rocha, fraturados, gretados, ou alterados por ação do fogo, não apresentam ponto de percussão ou bulbo. 2 peças com restos de córtex. 86

Bloco:1 Matéria-prima: arenito silicificado (1). Descrição: bloco centimétrico com facetas fraturadas por ação do fogo, há porções de córtex.

Artefatos Brutos:

Abrasador convexo: 1 Matéria-prima: arenito silicificado (1). Descrição: núcleo tabular. Sinais de uso: a peça apresenta uma face convexa alisada em conseqüência da abrasão. Forma: T13 (1). Dimensões: 73.56.17 mm.

4.1.1.8. AM-IR-32: Dona Stella

Sítio multicomponencial, lito-cerâmico, com rara presença de fragmentos cerâmicos de ocupação Manacapuru. Os artefatos líticos pertencem em sua maioria a uma ocupação pré-ceramista, cujas formas lembram as indústrias líticas do Brasil central. Localiza-se a 8,25 Km a NE da cidade de Iranduba e 100 m a SW da ocorrência TF-5, situa-se em uma planície arenosa quaternária na margem sul do Paraná do Janauarí, um contributário do rio Negro com orientação geral SW-NE. O sítio é uma imensa área de extração de areia desativada, a areia foi extraída e depositada na porção NE do sítio para o represamento de um açude e a construção de um campo de futebol no ano de 1995 (Foto 17). Suas dimensões reais são 500 x 150 m de uma área elipsóide, com o eixo maior orientado SW-NE, e o menor NW-SE; todavia, desconsiderando as intervenções modernas que perturbaram o local, pode se dizer que o sítio concentra-se em uma área elíptica aproximada de 220 x 70 m, com o eixo maior orientado NW-SE e o menor SW-NE.

Como era um sítio de grandes dimensões, foi necessário estabelecer ao longo de seu eixo principal unidades de coleta em ambos lados, a cada 30 m de modo que cada um era definido por um algarismo romano (área de coleta I, II, III, etc...). Cada área era desenhada em papel milimetrado e fotografada, passando por algumas raspagens com enxadas ou colheres de pedreiro (Prancha 3). Por fim uma coleta superficial era 87

executada, sendo dado um número de proveniência e uma coordenada UTM para as concentrações de material ou peças líticas principais (lâminas de machado, lascas bifaciais, lesmas, fragmento de ponta de projétil, etc...), os quais eram definidos na planta desenhada do sítio por uma letra: peça A, concentração Z, etc. (Foto 19). As áreas de coleta I e III forneceram farto material lítico, apesar de este estar deslocado do seu local de origem no sítio, mas ajudou a caracterizar sua tipologia logo no começo das atividades. Inclusive o leito do açude e do Paraná do Janauarí (áreas de coleta II e IV) foram prospectados, de modo que forneceram interessantes exemplares de núcleos utilizados. Na área I (campo de futebol) um fragmento de ponta de projétil foi recuperado, e na área III alguns fragmentos de cerâmica foram coletados.

Em um contexto geral, essas peças encontram-se sob pacotes arenosos espessos, a uma profundidade média de 2 m ao julgar pelo material recuperado nos perfis de barranco escavados por tratores em 1995 nas atividades de lavra, e também por uma unidade escavada em 2002. O embasamento do sítio no qual as peças se depositam é o arenito cretácico da Formação Alter do Chão, um pormenor interessante é que as principais concentrações de material sempre ocorrem associadas com manchas de areia de cor marrom escura, quase preta (Foto 18). Amostras de rochas gretadas por ação de prováveis fogueiras antigas foram coletadas com o sedimento arenoso associado para datações de TL.

A matéria prima dos artefatos coletados é predominantemente de arenito silicificado, o silexito e o siltito silicificado são poucos. Os artefatos consistem de trituradores, batedores/percutores, quebra-côcos, mãos de mós, pilões, bigornas, abrasadores planos, lâminas de machado, peças bifaciais, raspadores plano-convexos, raspadores laterais, talhadores e núcleos esgotados; há também lascas e estilhas utilizadas ou sem sinal de uso, bem como lascas retocadas (facas, raspadores laterais, de extremidade, de bico, lascas bifaciais), e até um fragmento de ponta de projétil (Fotos 20 a 31 e 82).

Em 2002 uma melhor abordagem foi efetuada neste sítio por parte de alguns membros da equipe do PAC, envolvendo atividades de topografia com estação total e a abertura de uma unidade de escavação; uma ponta de projétil de silexito com acabamento bem refinado foi recuperada em uma das visitas. 88

Prancha 3 – Sítio AM-IR-32: Dona Stella

3 00 2

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Sítio AM-IR-32: Dona Stella

17 18

19 Foto 17 – Vista da área de coleta VIII, perturbada por antiga lavra de areia. Foto 18 – Raspagem e coleta de indícios arqueológicos na área de coleta XII. Observa-se uma coloração escura no solo arenoso removido pela enxada. Foto 19 – Indícios líticos superficiais na área de coleta X.

Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Brutos

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Foto 20 – Quebra-côcos de arenito silicificado e laterita. Foto 21 – Trituradores de arenito silicificado, basalto e quartzito. Foto 22 – Mão-de-mó de arenito silicificado. Foto 23 – Quebra-côco de arenito silicificado. Foto 24 – Abrasadores planos de arenito silicificado. Foto 25 – Esfera de arenito silicificado.

Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista: Artefatos Lascados 26

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Foto 26 – Raspadores laterais confeccionados sobre lascas retocadas de arenito silicificado. Foto 27 – Lascas bifaciais retocadas de arenito silicificado. Foto 28 – Lesmas de arenito silicificado e quartzito. Foto 29 – Fragmento de raspador plano-convexo de arenito silicificado. Foto 30 – Raspador de bico de siltito silicificado. Foto 31 – Raspador plano-convexo de arenito silicificado.

A partir da última concentração mapeada (concentração Z: fragmentos de cerâmica) no flanco SW do sítio, um abrasador plano foi encontrado isolado a 210 m em uma direção SW. Coordenadas UTM das extremidades do sítio: 20M 0813586/9645105, 20M 0813600/9644973;

20M

0813488/9644935;

20M

0813503/9644906;

20M

0813317/9644672. Cerâmica: Manacapuru: Natureza das Peças: borda (9), base (4), parede decorada (6, 1 inflexão, Figura 19, H), alça (1). Nível: superficial. Forma: vaso (6), tigela (4), prato (1), desconhecido (9) (Fig. 19). Medidas - Espessura da peça: 4,5 a 17 mm, predomina 7 a 9 mm; Espessura do lábio: 4 a 11 mm, predomina 9 mm; Comprimento da peça: 23 a 188 mm; Inclinação da borda: 90º a 135º (9); Ângulo da base: 140º (2); Diâmetro da borda: 16 a 44 cm, predomina 20 cm. Pasta-Antiplástico: predomínio do quartzo (17) e do cauixi (3). De modo freqüente, mas não predominante, ocorre o cauxi, cariapé, caco moído, bola de argila e hematita. O cariapé B e a mica ocorrem como traços. Técnica de manufatura: roletado (19) e modelado (1, alça, Fig. 20, H). Superfície: 

15 fragmentos com alisamento nas duas faces (1 com polimento associado nas duas faces); 3 erodidos ou não alisados nas duas faces (1 com marca de folha na face externa); 2 com alisamento na face interna, sendo a face externa erodida ou não alisada.

Pasta-Queima: Queima “sanduíche” (ox-red-ox) (7); oxidante externa/ redutora interna (5), oxidante (4), redutora (3), redutora externa/ oxidante interna (1). Formas: Posição (Relação Diâmetro da Peça/ Diâmetro da Borda): 7 exemplares convexos, 1 verticalizado. Borda: expandida (4), direta (3), vertical (1), inclinada externamente (1). Lábio: arredondado (5), apontado (3) e erodido (1); Base: plana (4) (Fig. 19, E ao H). Decoração: 

Aplicado (1): filetes de argila aplicados à face externa com motivos abstratos (Fig. 20, G).



Engobo (5): 4 exemplares brancos (2 nas duas faces e 2 na face externa) e 1 exemplar vermelho escuro na face externa.



Inciso (3): um exemplar apresenta na borda externa uma linha simples, tendo como técnica associada uma decoração acanalada na face externa no motivo de uma faixa simples. Os demais apresentam incisões compostas paralelas na face externa (1 com engobo branco associado), sendo o engobo branco presente na face interna (Fig. 20, A ao B).



Marcado com corda (1): decoração na face externa e sobre o lábio, formando o motivo de uma linha ondulada. Como técnica associada há decoração ponteada na face externa, com motivo de três pontos agrupados (Fig. 20, F; Foto 32). 93



Pintado (1): pintura preta aplicada uniformemente na face interna, com engobo branco associado na face externa.



Ponteado (2): um exemplar apresenta sobre o lábio uma fileira dupla de pontos (Fig. 20, D); por outro lado, o segundo apresenta na face externa, uma série de pontos difusos com motivo irregular, podendo ter sido provocado por contato acidental com pequenos fragmentos de gravetos durante a confecção da cerâmica (Fig. 20, E).

Lítico: Pré-Ceramista: Artefatos Térmicos: Lasca Térmica: 893 Matéria prima: arenito conglomerático (40), arenito ferruginoso (59), arenito fino (203), arenito grosso (118), arenito silicificado (174), laterita (70), quartzito? (1), silexito (1), siltito ferruginoso silicificado (228). Descrição: fragmentos milimétricos a centimétricos de rochas fraturadas, gretadas ou com superfícies alteradas por ação do fogo, não há ponto de percussão ou bulbo, poucos exemplares exibem restos de córtex. Uma peça apresentou em uma face, plana, sinais de esmagamentos, sugerindo que possa ter feito parte de um triturador inutilizado.

Bloco: 9 Matéria prima: andesito? (1), arenito conglomerático (2), arenito ferruginoso (2), arenito fino (3), arenito grosso (1). Descrição: blocos irregulares facetados ou seixos, apresentam dimensões centimétricas e, encontram-se fragmentados, gretados ou com as superfícies alteradas por ação do fogo, não há ponto de percussão, bulbo, ou qualquer retirada de lascas (contrabulbos). Artefatos Brutos: Abrasador acanalado: 5 Matéria prima: arenito ferruginoso (2) e arenito grosso (3). Descrição: núcleos poliédricos facetados (3) e núcleos tabulares (2) utilizados (Fig. 21, F e G). Sinais de uso: as peças apresentam em uma face uma canaleta cuja dimensão varia de 44.9.2 a 84.18.4 mm, desgastadas em conseqüência da abrasão. Formas: Q3 (1), Q7 (1), P5 (1), P6 (1), T16 (1). Dimensões: Variam de 72.53.24 a 114. 84.39 mm. Uso associado: Bigorna: 2 peças apresentam em uma face oposta, quase plana, esmagamentos e depressões provocadas por função de maceração ou quebra; uma dessas apresenta associado em outra face, esmagamentos que também sugerem uso como triturador. Abrasador plano: 2 peças apresentam em uma face oposta, aplanamentos provocados pela abrasão, uma dessas apresentam impregnação mineral férrica avermelhada, indicando atividades de obtenção de 94

pigmentos.

Abrasador côncavo: 11 Matéria prima: arenito ferruginoso (2), arenito fino (1),arenito grosso (5), laterita (3). Descrição: núcleos tabulares (6), blocos poliédricos facetados (4) e, seixo rolado (1) utilizado (Fig. 21, C e D). Sinais de uso: superfícies côncavas ocasionadas pela abrasão ocorrem em uma face de 10 peças, e em duas faces opostas de 1 peça. 2 peças apresentam impregnação de mineral férrico vermelho, indicando atividade de obtenção de pigmentos. Uso associado: Abrasador plano: 1 peça apresenta associado em uma face aplanamentos ocasionados pela abrasão. Formas: Q2 (2), Q3 (1), Q6 (1), Q7 (1), P2 (1), P5 (1), T1 (1), T2 (1), T4 (1), T5 (1). Dimensões: Variam de 48.27.25 a 114.80.45 mm. Abrasador convexo: 5 Matéria prima: arenito ferruginoso (2), arenito fino (2), arenito grosso (1). Descrição: seixo rolado (1) e núcleos tabulares fragmentados (4) (Fig. 21, E). Sinais de uso: superfícies convexas ocasionadas pela abrasão são vistas em uma face de 2 peças, em duas faces de 1 peça; e em uma face e em um lado de 2 peças. Uso associado: Quebra-côco: 1 peça apresenta associado em uma face e em um lado, uma depressão circular,e outra elipsóide, ambas com superfícies ásperas, com 9.8.1 e 16.9.2 mm, ocasionadas pelo impacto constante da quebra de côcos. Forma: Q4 (1), Q7 (1), Q9 (2), EL (1). Dimensões: Variam de 26.26.17 a 142.57.45 mm. Abrasador plano: 95 Matéria prima: arenito conglomerático (25), arenito ferruginoso (14), arenito fino (4), arenito grosso (6), arenito silicificado (45), siltito ferruginoso silicificado (1). Descrição: núcleos tabulares (89), blocos poliédricos multifacetados (5) e, seixo rolado fragmentado (1) utilizado (Fig. 21, A e B). Sinais de uso: aplanamentos em conseqüência da abrasão são vistos em apenas uma face de 67 peças, sendo que 7 apresentam abrasões associadas nas arestas e, em duas faces opostas de 28 peças, sendo que 7 apresentam abrasões associadas nas arestas. 3 peças apresentam abrasão como depressão suave na superfície; 8 peças apresentam nas faces impregnação de mineral férrico avermelhado, indicando atividade de ficção sobre rochas corantes para obtenção de pigmentos. Duas peças apresentam abrasão bem intensa, conferindo à superfície um aspecto lustroso, uma com estrias de polimento em uma face. Uso associado: 1 peça apresentou em duas faces associadas, sinais de esmagamentos, indicando que a peça possa ter pertencido a um triturador danificado. Formas: Q1 (7), Q2 (9), Q3 (1), Q4 (1), Q5 (1), Q6 (18),Q7 (11), Q9 (15), P1 (3), P2 (1), P3 (3), P5 (9), T4 95

(4), T5 (8), T10 (2), T14 (1) e T15 (1). Dimensões: Variam de 17.16.3 a 317.240.26 mm. Batedor/ percutor: 2 Matéria prima: diabásio? (1), arenito silicificado (1). Descrição: seixos rolados utilizados (2) (Fig. 23, A e B). Sinais de uso: Pontos de esmagamento provocados por ação de impacto, semelhantes a picoteamento, ocorrem em uma extremidade de uma peça e, em duas extremidades opostas de outra. Forma: SC (1) e EL (1). Dimensões: 73.65.61 e 88.56.52 mm.

Bigorna: 19 Matéria prima: arenito conglomerático (4), arenito fino (2), arenito ferruginoso (10), arenito grosso (1), laterita (2). Descrição: núcleo tabular (1), blocos poliédricos multifacetados (13), blocos sub-arredondados (5). 8 peças fragmentadas (Fig. 22). Sinais de uso: Quinze peças apresentam em uma face, quase plana, uma série de depressões de esmagamentos com superfícies ásperas (14) ou lisas (1), provocadas por ação de quebra de côcos, sementes, maceração de corantes, ou por lascamento bipolar. Quatro peças apresentam o mesmo comportamento em duas faces opostas. Uso associado: Triturador: 3 peças apresentam esmagamentos provocados pelo uso, 1 com extremidade plana, 1 com extremidade convexa e,1 com face plana, esta última com impregnação de mineral férrico avermelhado, indicando atividade de maceração para obtenção de pigmentos. Quebra-côco: 1 peça com uso em duas faces apresenta associado depressões circulares, rasas, com superfícies lisas, 5 em uma face e 3 em outra, cujas dimensões variam de 7.7.3 a 21.21.4 mm. No centro de quatro dessas depressões, há pequenas perfurações cônicas, variando de 2.2.2 a 2.2.5 mm, as quais podem ter sido provocadas por movimento rotativo de varetas, sugerindo também uso associado como base ignífera para produção de fogo (Fig. 22, C). Formas: Q1 (5), Q2 (2), Q6 (1), Q7 (2), P2 (1), P3 (1), P5 (2), T5 (1), CIRC (1), SC (3). Dimensões: Variam de 54.54.25 a 330.250.110 mm. Corante: 173 Matéria prima: arenito ferruginoso (16), laterita (115), siltito ferruginoso silicificado (42). Descrição: fragmentos irregulares sub-angulosos a sub-arredondados de rocha ou de nódulos férricos (Fig. 24). Sinais de uso: As peças em geral apresentam faces desgastadas em conseqüência da constante fricção para obtenção de pigmentos, formando superfícies aplanadas, côncavas ou convexas, lisas ao toque, soltando facilmente pigmentos em contato com os dedos ou com a água. Os exemplares de siltito ferruginoso silicificado apresentam composição férrica alterada e, fornecem um pigmento amarelado; já as demais litologias, também de composição férrica, fornecem um pigmento avermelhado. A laterita 96

apresenta uma textura esponjosa, o arenito ferruginoso uma textura granular, a hematita e o siltito ferruginoso silicificado uma textura maciça homogênea. Nas superfícies das peças de hematita e siltito ferruginoso silicificado há estrias de fricção. Formas: Q1 (5), Q2 (15), Q3 (6), Q4 (3), Q5 (12), Q6 (15), Q7 (26),Q9 (13), P3 (4), P5 (13), P6 (2), T2 (2), T3 (1), T4 (4), T5 (11), T9 (1), T10 (2),T12 (1), T13 (1), T14 (4), T15 (4), T16 (5), EL (14), SC (9). Dimensões: variam de 12.9.3 a 124.77.46 mm.

Fragmentos Atípicos: 914 Matéria prima: arenito conglomerático (105), arenito ferruginoso (195), arenito fino (63), arenito grosso (55), arenito silicificado (24), dacito? (1), laterita (167), quartzito? (1), siltito ferruginoso silicificado (302), silexito (1). Descrição: fragmentos centimétricos irregulares de rocha, nódulos e seixos, fraturados por choque, não apresentam sinais de trabalho ou utilização (ponto de percussão ou esmagamento, bulbo, etc...); todavia, sua presença no contexto do sítio pode indicar coleta de matéria prima para atividades cotidianas ou de confecção de artefatos em geral. Alguns exemplares conservam uma porção do córtex.

Quebra-côco: 32 Matéria prima: Arenito conglomerático (6), arenito ferruginoso (14), arenito fino (4), arenito grosso (1), arenito silicificado (3), siltito ferruginoso silicificado (4). Descrição: Seixos sub-arredondados (13), blocos poliédricos multifacetados (19); 6 peças fragmentadas. Sinais de uso: Depressões circulares ou elípticas, rasas a profundas, de superfícies ásperas (26) ou lisas (6), são vistas em uma face de 26 peças e em duas faces opostas de 6; dessas faces apenas 11 apresentam superfície plana, sendo as demais irregulares. As dimensões das depressões variam de 18.13.4 a 40.30.12 mm, ocorrendo isoladas ou geminadas (2 peças). Uma peça apresentou depressão em três faces. Uso associado: Abrasador plano: 1 peça apresenta em uma face aplanamentos ocasionados em conseqüência da abrasão. Bigorna: 2 peças apresentam em uma face, plana, esmagamentos de superfícies ásperas, provocadas por ação de impacto da quebra de côcos ou sementes, maceração de corantes ou lascamento bipolar. Base Ignífera: 3 peças apresentam no centro das depressões circulares de quebra de côco, pequenas perfurações cônicas ou semicirculares, cujas dimensões variam de 4.4.3 a 6.4.9 mm, podem ter sido provocadas por movimento rotativos de varetas, sugerindo uso associado como base ignífera para produção de fogo (Fig. 25, A e D). Formas: Q1 (3), Q2 (3), Q3 (3), Q4 (1), Q6 (4), Q7 (2), Q9 (1), P3 (2), P5 (4), T4 (1), T5 (1), T15 (1), T16 (1), El (3), SC (2). Dimensões: Variam de 50.40.28 a 153.137.115 mm.

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Triturador: 12 Matéria prima: arenito ferruginoso (2), arenito fino (2), arenito grosso (1), arenito silicificado (7). Descrição: seixos rolados (10, 9 fragmentados) e, blocos poliédricos facetados (2, fragmentados) utilizados (Fig. 23, C e D). Sinais de uso: as peças apresentam esmagamentos em conseqüência do uso, semelhantes a picoteamento, produzindo superfícies convexas (6 peças), planas (3 peças), ou ambas associadas (4 peças). Uso associado: 1 peça apresenta na superfície uma depressão circular de superfície áspera, com 13.11.1 mm., indicando uso associado como quebra-côco. Forma: Q6 (1), P3 (3), P5 (2), T14 (1),T15 (2),EL (2),SC (1). Dimensões: Variam de 42.30.36 a 74.63.38 mm.

Artefatos Lascados: Estilha: 510 Matéria prima: arenito ferruginoso (12), arenito fino (19), arenito grosso (23), arenito silicificado (424), quartzito? (4), siltito ferruginoso silicificado (28). Técnica: 18 como lascas simples em forma de crosta, 29 como lascas simples em forma de cunha (37 foram retiradas de bloco e, 10 de seixo rolado) e, 463 como lascas preparadas. 229 foram obtidas por percussão direta (115 são negativas) e 281 foram obtidas por percussão pausada ou secundária, fornecendo estilhas negativas, lamelares e finas, indicando atividades de retoque com percutor leve de madeira ou osso. 333 peças apresentam ponto de percussão puntiforme com bulbo, sendo 16 com cornija, 64 com bico e 70 com ambos; 75 peças com ponto de percussão espatifado com bulbo e; 102 peças com ponto de percussão quebrado (ou ausente), sendo 69 com bulbo. 120 peças com pátina (Fig. 26, E ao G). Forma: Q1 (19), Q2 (43), Q3 (8), Q4 (8), Q5 (4), Q6 (42), Q7 (44), Q9 (47), P1 (18), P2 (30), P3 (15), P4 (2) ,P5 (33), P6 (15), T2 (3), T3 (2), T5 (9), T9 (42), T10 (24), T13 (7), T14 (13), T15 (6), T16 (20), T17 (9), EL (23), CIRC (1), SC (23). Dimensões: variam de 6.5.1 a 25.22.6 mm.

Faca: 15 Matéria prima: arenito silicificado (15). Técnica: 12 como lascas preparadas, 2 como lascas em forma de cunha retiradas de bloco, 1 como estilha (esta, como lasca preparada. 10 obtidas por percussão direta, 5 por percussão pausada ou secundária, ao julgar pelas lascas finas e conchoidais, indicando uso de percutor leve de madeira ou osso. O ponto de percussão de 11 é puntiforme com bulbo, sendo 10 com bico e cornija, e 1 com bico; e o de 4 é quebrado ou ausente, com bulbo (Fig. 28, A e B). Sinais de uso: ocorrem pequenos lascamentos marginais provocados pelo uso no lado direito de 2 peças (ambos na face interna), no lado esquerdo de 3 (2 na face externa,1 em ambas faces), nos dois lados de 4 (ambas faces), na extremidade distal de 2 (ambas faces), na extremidade distal e lado esquerdo de 1 (face externa), na extremidade distal e dois lados de 3 (2 peças com uso em ambas faces, 1 peça com 98

uso em ambas faces e lados e uso na face externa da extremidade distal). Ângulo - Extremidade distal: 10° (2), 20° (2), 25° (1), 30° (1); Lado direito: 10° (2), 15° (6), 30° (1); Lado esquerdo: 10° (2),15° (5), 30° (4). Forma: Q3 (1), Q7 (2), P3 (5), P5 (1), P6 (1), T9 (3), T16 (2). Dimensões: variam de 14.21.4 a 67.35.8 mm. Matéria prima: arenito grosso (1), arenito silicificado (4), siltito ferruginoso silicificado (5). Técnica: 3 como lasca simples em forma de cunha, 7 como lasca preparada. 3 são resultantes da percussão direta, 3 da percussão bipolar, 3 sem técnica definida, 4 da percussão pausada ou secundária, cujas lâminas são finas e lamelares, indicando uso de percutor leve de madeira ou osso. O ponto de percussão de 7 é puntiforme com bulbo, sendo 5 com bico e cornija, e talão plano; e o ponto de percussão de 3 é espatifado com bulbo. 4 peças com pátina. Forma: Q2 (2), Q3 (1), Q9 (2), T9 (1) T14 (1), T16 (3), T17 (1). Dimensões: variam de 27.11.6 a 89.40.24 mm. Lâmina de machado: 10 Matéria prima: arenito ferruginoso (1), arenito fino (2), arenito silicificado (7). Descrição: Lascas preparadas (8) ou em forma de cunha (2) retiradas de blocos, apresentam aspecto nucleiforme, bifacial, contorno e seção elíptica. Uma peça encontra-se intacta (Fig. 29, A), uma em elaboração (Fig. 29, B) e, 8 fragmentadas, pertencendo à porção do gume. A princípio foram obtidas por percussão direta (9), recebendo em seguida diversos golpes de percussão pausada ou secundária com percutor leve (madeira ou osso) ao julgar pelas diversas retiradas negativas finas (contrabulbo) dispostas ao longo das faces, as quais tendem a serem convexas. Os pontos de percussão são espatifados. A peça em elaboração, conserva em um dos lados e na extremidade proximal uma porção de massa bruta e córtex. Quanto à peça intacta, foi obtida por percussão bipolar, com pontos de percussão puntiformes (1 com bico e cornija); a peça recebeu diversos golpes de percussão pausada ou secundária, da periferia para o centro das faces (convexas), conferindo um aspecto bifacial. Sinais de uso: na extremidade distal e nos lados, a junção bifacial formou um gume com pequenos lascamentos e esmagamentos causados pelo uso. O uso nos lados das peças, não descarta a possibilidade de terem sido também utilizadas como talhadores manuais. Ângulo: 70°(4), 80°(4), 90°(2). Forma: Q7 (2), P3 (3), EL (1), SC (4). Dimensões: variam de 23.32.12 a 57.100.43 mm.

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Núcleo esgotado: 4 Matéria prima: arenito fino (3), siltito ferruginoso silicificado (1). Descrição: blocos poliédricos multifacetados, os quais demonstram várias retiradas (contrabulbos) de obtenção de lascas, ocasionadas por percussão direta, os pontos de percussão são espatifados (4), não demonstram sinais de utilização posterior. Uma peça com porção de córtex (Fig. 26, H). Uso associado: Uma peça apresenta em uma face, quase plana, sinais de esmagamento semelhantes à picoteamento, sugerindo que a peça possa ter pertencido à um triturador ou a uma bigorna danificados. Formas: Q1 (1), Q6 (1), Q7 (1), P1 (1). Dimensões: variam de 88.85.55 a 300.216.121 mm.

Lasca simples com crosta: 44 Matéria prima: arenito ferruginoso (4), arenito fino (15), arenito grosso (6), arenito silicificado (12), siltito ferruginoso silicificado (7). Técnica: lascas resultantes da percussão direta. 30 foram retiradas de blocos e, 14 de seixos rolados. O ponto de percussão de 37 é puntiforme com bulbo, sendo 18 com bico e 3 com bico e cornija; o de 6 é espatifado com bulbo e; o de 1 é quebrado com bulbo. 4 peças encontram-se patinadas. Uso associado: 9 peças apresentam na porção do córtex superfícies com aplanamento de abrasão (1 peça) ou esmagamentos semelhantes a picoteamento (8 peças),indicando que tenham feito parte de abrasadores planos (presença de pigmento férrico vermelho), trituradores ou bigornas. Forma: Q1 (2), Q2 (3), Q3 (1), Q4 (1), Q6 (5), Q7 (2), Q9 (3), P1 (1), P2 (1), P3 (5), P5 (3), P6 (2), T9 (4), T10 (2), T15 (1), T16 (2), T17 (1), EL (2), SC (3). Dimensões: Variam de 26.13. 6 a 173.216.56 mm.

Lasca simples em forma de cunha: 73 Matéria prima: arenito ferruginoso (2), arenito fino (11), arenito grosso (11), arenito silicificado (45), siltito ferruginoso silicificado (4). Técnica: 60 lascas obtidas por percussão direta, 2 por percussão bipolar e, 11 por percussão pausada ou secundária, fornecendo lascas negativas, lamelares e finas, indicando atividades de retoque com percutor de madeira ou osso. 65 peças foram retiradas de blocos e 8 de seixos. O ponto de percussão de 60 é puntiforme com bulbo, 18 com bico, e 16 com bico e cornija; o de 10 é espatifado com bulbo, 1 com bico e cornija; e o de 3 é quebrado com bulbo. 15 peças com pátina. Uso associado: 4 peças apresentam na porção do córtex superfícies com esmagamentos semelhantes a picoteamento, indicando que tenham feito parte de trituradores ou bigornas. Forma: Q2 (5), Q3 (3), Q5 (3), Q6 (9), Q7 (5), Q9 (3), P1 (3), P2 (2), P3 (1), P4 (1), P5 (9), P6 (3), T2 (1), T3 (1), T5 (2), T9 (8), T10 (3), T14 (2), T15 (1), T16 (1), T17 (1), EL (5), SC (1). Dimensões: variam de 12.26.5 a 56.80.32 mm. Lasca preparada: 441 Matéria prima: arenito fino (39), arenito grosso (15), arenito silicificado (354), laterita (2), quartzito? (1), silexito (3), siltito ferruginoso silicificado (27). Técnica: 143 lascas obtidas por percussão direta, 6 por técnica bipolar, 4 por técnica não definida e, 288 100

obtidas por percussão pausada ou secundária, produzindo lascas negativas, conchoidais, lamelares, finas e com talão plano, indicando atividades de retoque com percutor de madeira ou osso. 381 peças apresentam ponto de percussão puntiforme (314 lascas negativas, destas, 156 são lamelares) com bulbo, 12 com cornija, 14 com bico e, 311 com bico e cornija, em 1 o talão é irregular, em 3 o talão é plano; 39 peças com ponto de percussão espatifado (25 lascas negativas, destas, 9 são lamelares) com bulbo, 4 com cornija, 1 com bico e, 7 com bico e cornija; 21 peças apresentam ponto de percussão quebrado ou ausente, com bulbo, sendo 16 lascas negativas e, destas, 8 são lamelares. 118 encontramse patinadas (Fig. 26, A ao D). Forma: Q1 (14), Q2 (37), Q3 (8), Q4 (7), Q5 (4), Q6 (47), Q7 (53), Q9 (16),P1 (9), P2 (9), P3 (12), P4 (3), P5 (27), P6 (23), T2 (1), T3 (2), T4 (1), T5 (7), T9 (52), T10 (33), T14 (18), T15 (6),T16 (10), El (33), SC (9). Dimensões: variam de 20. 26.7 a 83.68.29 mm.

Peça bifacial em elaboração: 2 Matéria prima: arenito fino (1) e arenito silicificado (1). Técnica: Lascas em forma de cunha obtidas por percussão direta a partir de bloco, ponto de percussão puntiforme com bulbo, 1 peça com bico, cornija e talão plano, 1 com talão irregular. Descrição: as peças receberam retoques marginais escamados nos lados e extremidades distais e, também nas porções centrais, em ambas faces, através da percussão pausada ou secundária (Fig. 27, C). Forma: P3 (1) e T10 (1). Dimensões: 50.86.30 e 91.67.39 mm.

Folha (?) bifacial em elaboração: 2 Matéria prima: arenito silicificado (2). Técnica: lascas simples em forma de cunha resultantes de percussão pausada (secundária) ou bipolar. O ponto de percussão é puntiforme com bulbo, bico e cornija. Na face externa de uma peça ocorrem retiradas secundárias, e nas duas faces de outra peça, através de retoques escamados incipientes. 1 peça com talão plano e patinada. Peças fragmentadas (Fig. 27, A e B). Uso associado: 1 peça apresenta restos de córtex liso e plano, com vestígios de fricção, sugerindo que tenha feito parte de um abrasador plano. 1 peça apresenta no lado direito pequenos lascamentos ocasionados por uso nas duas faces, com ângulo de 15°, indicando uso associado como faca. Forma: SC (2). Dimensões: 30.45.5 mm. a 34.50.9 mm.

Raspador de bico: 1 Matéria prima: arenito silicificado (1). Técnica: lasca preparada, obtida por percussão pausada ou secundária, pontos de percussão puntiformes, com bulbos e retiradas negativas. Peça fragmentada, pertencente à porção distal (Fig. 30, E). Retoque: nas duas faces, nos lados direito e esquerdo e, também na extremidade distal foram 101

executados lascamentos escamados, são marginais e ocorrem nas duas faces do artefato. Ângulo: 80° (lados)/ 70° (extremidade distal). Forma: Q9 (1). Dimensões: 35.19.13 mm.

Raspadeira Lateral: 12 Matéria prima: arenito silicificado (12). Técnica: 8 como lascas preparadas, 2 como lascas em forma de cunha, 2 como lâminas (como lasca em forma de cunha), retiradas de blocos através de percussão direta (7) , bipolar (3) e, pausada ou secundária (2). O ponto de percussão de 7 é puntiforme, 5 com bulbo, 1 com bico e 4 com bico e cornija; o de 3 é espatifado com bulbo e; o de 2 é quebrado (ou ausente) com bulbo. Sinais de uso: ocorrem pequenos lascamentos marginais provocados pelo uso no lado direito de 7 peças (4 na face externa, 2 na interna e, 1 nas duas faces); no lado esquerdo de 2 peças (face externa) e; 3 nos lados direito e esquerdo (respectivamente, 2 na face externa e 1 na face interna; e 1 na face externa e 2 na interna) (Fig. 28, C e D). Ângulo: Lado direito: 40° (4), 60° (4), 70° (2).Lado esquerdo: 40° (4), 50° (1). Uso associado: 1 peça apresenta pequenos lascamentos marginais no lado esquerdo provocados pelo uso, limitados à face externa, cujos ângulos oscilam entre 10° e 30°, indicando uso associado como faca. Forma: Q3 (1), Q7 (1), P2 (1), P3 (1), P5 (2), P6 (2), T1 (1), T3 (1), T9 (1), EL (1). Dimensões: variam de 30.34.8 a 70.38.15 mm. Raspador plano-convexo: 4 Matéria prima: arenito fino (1), arenito silicificado (2), laterita (1). Técnica: lascas preparadas resultantes da percussão direta. Apenas uma peça apresenta ponto de percussão puntiforme, as demais não apresentam ponto de percussão devido às modificações causadas pelo retoque. As faces internas são planas, as externas convexas, sendo 2 com crista. 2 peças fragmentadas. Retoque: além dos golpes iniciais de percussão direta, os quais conferiram pré-formas às peças, estas receberam retoques posteriores: 3 peças com pequenos lascamentos escamados e, 1 peça com pequenos lascamentos escamados progressivos; são marginas, limitam-se à face externa, e ocorrem em toda a periferia da peça (Fig. 30, A ao D). Ângulo: 70° e 80°, predomina o segundo. Uso associado: 2 das peças apresentam reentrâncias laterais côncavas desgastadas com ângulos de 100° e 110°, indicando um uso associado como raspador de escotadura (Fig. 30, D). Forma: Q9 (1), T9 (2), P3 (1). Dimensões: variam de 39.41.28 a 68.51.28 mm. Talhador: 4 Matéria prima: arenito fino (1),arenito grosso (1), arenito silicificado (2). Descrição: lascas preparadas (3) e em forma de cunha (1), retiradas de bloco, apresentam aspecto nucleiforme, três encontram-se fragmentadas, pertencendo à porção do gume. Foram obtidas por técnica 102

de percussão direta, recebendo diversos golpes ao longo das faces, as quais exibem várias retiradas negativas, os pontos de percussão são espatifados ou quebrados (ausentes). Há restos de córtex no talão (extremidade proximal) de uma peça (Fig. 29, C). Sinais de uso: na extremidade distal e nos lados, a junção das faces com múltiplas retiradas negativas formou um gume, no qual há pequenos lascamentos e esmagamentos, são marginais e atingem ambas faces. Ângulo: 60°, 70°, 80°, 90°. Forma: Q6 (1) , Q7 (1), SC (2). Dimensões: variam de 49.63.29 a 144.158.90 mm.

Artefatos Picoteados:

Pilão:1 Matéria prima: arenito fino (1). Descrição: bloco sub-arredondado, picoteado por atividades constantes de batidas no processo de moagem de sementes ou corantes. Sinais de uso: o artefato apresenta em uma face uma depressão côncava elíptica, de superfície áspera, a qual grada para uma depressão circular central com 70. 50.38 mm (Fig. 31). Uso associado: o artefato apresenta na face oposta, plana, uma depressão circular de superfície áspera, com 43. 37.21 mm, indicando uso associado como quebra-côco. Forma: EL (1). Dimensões: 420. 200.125 mm.

Artefatos Polidos:

Lâmina de Machado: 1 Matéria prima: arenito silicificado (1). Descrição: Fragmento pertencente à porção do gume, apresenta superfícies convexas polidas, comporta se como uma lasca simples com crosta, ponto de percussão puntiforme com bulbo e bico (Fig. 32). Forma: T10 (1). Ângulo: 90° Dimensões: 48. 45.14 mm.

Artefatos Térmicos:

Bloco: 9 Matéria prima: andesito? (1),arenito conglomerático (2), arenito ferruginoso (2), arenito fino (3), arenito grosso (1). Descrição: blocos irregulares facetados ou seixos. Apresentam dimensões centimétricas e, encontram-se fragmentados, gretados ou com as superfícies alteradas por ação do fogo, não há ponto de percussão, bulbo, ou qualquer retirada negativa de lascas (contrabulbo). 103

Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Cerâmica Manacapuru

Figura 19 – Perfis de bordas, bases e formas reconstruídas.

Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Cerâmica Manacapuru 20

32

Figura 20 – Fragmentos decorados e modelados: inciso (A ao C), ponteado (D e E), marcado com corda (F), aplicado (G) e alça modelada (H). Foto 32 – Detalhe de fragmento cerâmico marcado com corda, mostrando decoração ponteada como técnica associada.

Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista

Figura 21 – Artefatos brutos: abrasador plano (A e B), abrasador côncavo (C e D), abrasador convexo (E) e abrasador acanalado (F e G).

Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista

22 23

Figura 22 – Artefatos brutos: bigornas, uma exibe uso associado de quebra-côco e base ignífera (C). Figura 23 – Artefatos brutos: batedor/percutor (A e B) e triturador (C e D).

Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista 24

25

Figura 24 – Artefatos brutos: corantes. Figura 25 – Artefatos brutos: quebra-côcos, dois destes apresenta uso associado de base ignífera (A e D).

Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista

26 27

Figura 26 – Artefatos lascados: lascas preparadas (A ao D), estilhas (E ao G) e núcleo esgotado (H). Figura 27 – Artefatos lascados: folhas bifaciais em elaboração? (A e B) e peça bifacial em elaboração? (C).

Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista 28

29

Figura 28 – Artefatos lascados: facas (A e B) e raspadeiras laterais (C e D). Figura 29 – Artefatos lascados: lâmina de machado (A e B) e talhador (C).

Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista

Figura 30 - Artefatos lascados: raspadores plano-convexos (A ao D) e raspador de bico (E).

Sítio AM-IR-32: Dona Stella. Lítico Pré-Ceramista 31

32

Figura 31 – Artefato picoteado: pilão. Figura 32 – Artefato polido: fragmento de lâmina de machado.

4.1.1.9. AM-IR-33: Mafaldo

Sítio com indícios de fragmentos de cerâmica erodida e de ocupação Manacapuru (1 fragmento de flange labial exciso). Localiza-se a 2,90 Km a NE da cidade de Iranduba, e 550m a SE da ocorrência TF-7, ao leste da rodovia de Iranduba (AM-452). O relevo é bem plano, solo de composição argilosa, no local há atividade de plasticultura. Os indícios espalham-se em uma área elíptica de 19 x 9 m, sendo o eixo maior com orientação N35 e o menor N125, uma lasca térmica de arenito silicificado também foi recuperada. Os moradores locais informaram que em suas atividades de roçado já chegaram a encontrar um “pão de índio”. Coordenadas UTM das extremidades do sítio: 20 M 0815785/9638434 e 20 M 0815776/9638478. Cerâmica: Manacapuru: Natureza das Peças: borda (3). Nível: superficial. Forma: vaso (1), tigela (2) (Fig. 33). Medidas - Espessura da peça: 4 e 8 mm, predomina o segundo; Espessura do lábio: 7-8 mm, predomina o segundo; Comprimento da peça: 38 a 90 mm; Inclinação da borda: 45º a 90º (1); Diâmetro da borda: 16 a 24 cm, predomina o segundo. Pasta-Antiplástico: predomínio do quartzo (3). Ocorre de modo freqüente mas não predominante o cauixi, a argila e a hematita, o cariapé apresenta baixa freqüência, a mica ocorre na forma de traços. Técnica de manufatura: roletado. Superfície: 1 exemplar não alisado em ambas faces; 2 com alisamento em ambas e enegrecimento associado. Pasta-Queima: oxidante (1); oxidante externa/ redutora interna (1); “sanduíche” (ox-red-ox) (1). Formas: Posição (Relação Diâmetro da Peça/ Diâmetro da Borda): convexa (2 , 1 com flange labial), côncava (1); Borda: extrovertida (3); Lábio: arredondado (1), apontado (2). Decoração: Acanalado (2): 2 exemplares com decoração acanalada aplicada no flange labial, 1 com motivo de duas faixas, 1 com motivos geométricos, tendo associado engobo vermelho e uma esfera modelada aplicada Fig. 33, A).

113

Figura 33 - Sítio AM-IR-33: Mafaldo. Cerâmica Manacapuru. Perfis de bordas e formas reconstruídas. Elementos decorativos acanalados nos flanges labiais.

Lítico: Manacapuru: Artefatos Brutos: Lasca: 1 Matéria prima: laterita (1). Descrição: fragmento centimétrico irregular de rocha, fraturado pela ação do fogo, não apresenta ponto de percussão ou bulbo. Há córtex em quase toda a peça.

4.1.1.10. AM-IR-34: Cavalcanti

Sítio com fragmentos de cerâmica erodida inclassificada, localizado a 1,6 Km a NE da cidade de Iranduba, ao oeste da rodovia de Iranduba (AM-452). O sítio encontra-se em um topo plano de morro, e os indícios espalhavam-se por uma área elíptica de 200 x 100 m aproximadamente, cujo eixo maior apresenta orientação N-S e o menor E-W, alguns fragmentos cerâmicos ocorriam na meia encosta do morro, com certeza 114

arrastados por ação pluvial. O solo é de composição areno fino-síltico-argiloso, há plantio de mandioca e côco. Uma amostra de sedimento com cerâmica foi recolhida para datação de termoluminescência (TL). Coordenadas UTM das extremidades do sítio: 20M 0814143/9638748; 20M 0814137/9638764; 20M 0814152/9638809; 20M 0814165/9638818; 20M 0814170/9638788; 20M 0814170/9638751. Cerâmica: Inclassificado: Natureza das Peças: borda (2). Nível: superficial. Forma: prato (2) (Fig. 34). Medidas - Espessura da peça: 7 e 10 mm; Espessura do lábio: 3 e 6,5 mm; Comprimento da peça: 44 e 52 mm; Inclinação da borda: 135º a 180º (2); Ângulo da base: 140 º (1); Diâmetro da borda: 16 e 24 mm; Altura da vasilha: 12,5 mm. Pasta-Antiplástico: predomínio do quartzo (2), o cauixi, o caco moído, a argila, e a hematita ocorrem de modo freqüente, mas não predominantes. A presença do cariapé é baixa. Técnica de manufatura: roletado. Superfície: paredes erodidas ou sem alisamento. Pasta-Queima: redutora externa/ oxidante interna (1); “sanduíche” (ox-red-ox): (1). Formas: Posição (Relação Diâmetro da Peça/ Diâmetro da Borda): convexa (2). Borda: direta (2). Lábio: apontado (1), arredondado (1). Base: plana (1). Observação: O formato das peças lembra vagamente as torradeiras da Fase Paredão (Hilbert, 1968).

Figura 34 - Sítio AM-IR34: Cavalcanti. Cerâmica Inclassificada. Perfis de bordas

e

formas

reconstruídas.

Lítico: Nenhuma peça lítica encontrada.

115

4.1.1.11. AM-IR-35: FLorêncio

Sítio cerâmico de ocupação Manacapuru com alguns exemplares erodidos. Localiza-se a 1,75 Km a NE da cidade de Iranduba e 300 m a SE do sítio AM-IR-34: Cavalcanti, ao oeste da rodovia de Iranduba (AM-452). O sítio encontra-se em um topo plano de morro. Os indícios espalham-se por um quadrante de 90x 50 m, respectivamente com orientação N131 e N50, mas tendem a se concentrar em um quadrante de 13x26 m ao sul do sítio, respectivamente com as mesmas orientações de azimute (Prancha 4). O solo é de composição arenosa com plantio de melancia e a presença de capoeira rala de gramíneas. Apenas coletas superficiais foram efetuadas. Coordenada UTM: 20M 0814390/9638655. Cerâmica: Manacapuru: Natureza das Peças: borda (1), parede decorada (1). Nível: superficial Forma: vaso (1), desconhecido (1) (Fig. 35, A). Medidas - Espessura da peça: 4 e 9 mm; Espessura do lábio: 3 mm; Comprimento da peça: 39 e 45 mm; Inclinação da borda: 90º a 135º; Diâmetro da borda: 12 cm. Pasta-Antiplástico: predomínio do quartzo (2), o cauixi, o caco moído, a argila, e a hematita ocorrem de modo freqüente, mas não predominante, a mica ocorre na forma de traços. Técnica de manufatura: roletado. Superfície: alisamento em ambas faces, uma peça com enegrecimento associado (Fig. 35, B). Pasta-Queima: redutora (1), “sanduíche” (ox-red-ox): (1). Formas: Posição (Relação Diâmetro da Peça/ Diâmetro da Borda): côncava (1). Borda: Inclinada internamente (1). Lábio: apontado (1). Decoração: 

Nodulado (1): 1 exemplar com pequena bola de argila aplicada na parede externa (Fig. 35, B).

116

Prancha 4 – Sítio AM-IR-35: Florêncio

3 00 2

PSU / aigolontE e aigoloeuqrA ed uesuM seveN seóG odraudE .rD .f orP :rodatneirO amiL girE odnanreF ziuL :onulA odartseM ed oãçatressiD

.MA ,SEÕMILOS E ORGEN SOIR SOD AICNÊULFNOC ED AERÁ AN OIVÚLFRETNI ED SAERÁ SAD OCIGÓLOEUQRA OTNEMATNAVEL

Figura 35 - Sítio AM-IR-35: Florêncio. Cerâmica Manacapuru. Perfil de borda e forma reconstruída (A). Fragmento cerâmico com decoração nodulada e enegrecimento associado (B).

Lítico:

Nenhuma peça lítica encontrada.

4.1.1.12. AM-IR-36: Mateus

Sítio cerâmico de ocupação Paredão com exemplares erodidos e a presença de uma base de quebra-côco de arenito. Localiza-se 1Km a NE da cidade de Iranduba e 650 m a SW do sítio AM-IR-34: Cavalcanti, ao oeste da rodovia de Iranduba (AM-452). O sítio encontra-se em um topo plano de morro, cujos indícios arqueológicos espalhavam-se por uma área elíptica de 30 x 23 m, sendo o maior eixo orientado N38 e o menor N315 (Prancha 5). O solo é de composição areno fino-síltico -argiloso mesclado com grânulos de laterita, lixiviado e com rara presença de gramíneas. Algumas raspagens com colher de pedreiro e uma coleta superficial foram efetuadas. Coordenada UTM: 20M 0813856/9638186. Cerâmica: Paredão: Natureza das Peças: borda (3); base (1); parede decorada (1). Nível: superficial. Forma: assador (2); vaso (1); desconhecido (1) (Fig. 36, A e B). Medidas: Espessura da peça: 6-18 mm, predomina 6 mm; Espessura do lábio: 4-10 mm; Comprimento da peça: 23-60 mm; Inclinação da borda: 135º a 180º (2); 30º a 135º (1); Diâmetro da borda: 24 cm. Pasta-Antiplástico: predomina o quartzo (4), o cauixi, o cariapé, o caco moído, a argila, e a hematita, ocorrem de modo freqüente, mas não predominante. A mica ocorre na forma de traços. Técnica de manufatura: roletado 118

Superfície: 2 cacos com alisamento em ambas faces; 3 com as duas faces erodidas. Pasta-Queima: Predomina a queima “sanduíche” (ox-red-ox) (3), raros exemplos com queima oxidante (1), e oxidante externa/ redutora interna (1). Formas: Posição (Relação Diâmetro da Peça/ Diâmetro da Borda): côncava (1), convexa (2). Borda: direta (2), introvertida (1). Lábio: arredondado (1), plano (1), apontado (1). Base: plana (1) (Fig. 36, C). Decoração: 

Engobo (1): engobo vermelho claro na parede interna.



Pintado (2): pintura laranja aplicada ao lábio, bordas internas e externas, com motivo de uma faixa grossa (Fig. 36, A).

Lítico: Paredão: Artefatos Brutos: Quebra-côco: 1 Matéria prima: arenito fino (1). Descrição: bloco poliédrico hexagonal (Fig. 37). Sinais de uso: a peça apresenta em uma de suas faces, irregular, uma depressão elipsóide com 47.25.10 mm. A superfície da depressão é áspera. Há restos de córtex nesta face, e alguns pontos de superfícies alisadas, provocadas por atividade de trituração ou quebra. Formas: Q6 (1). Dimensões: 130.95.55 mm.

119

Dissertação de Mestrado

Prancha 5 – AM-IR-36: Mateus

LEVANTAMENTO ARQUEOLÓGICO DAS ÁREAS DE INTERFLÚVIO NA ÁREA DE CONFLUÊNCIA DOS RIOS NEGRO E SOLIMÕES, AM.

Aluno: Luiz Fernando Erig Lima Orientador: Prof. Dr. Eduardo Góes Neves Museu de Arqueologia e Etnologia / USP

2003

Sítio AM-IR-36: Mateus 36

37

Figura 36 – Cerâmica paredão: perfis de bordas e formas reconstruídas (A e B) e base plana (C). Alguns exibem restos de pintura de cor laranja. Figura 37 – Lítico da Fase Paredão: artefato bruto (quebra-côco).

4.1.1.13. AM-IR-37: Xavier

Sítio com possível função de armazenagem de alimentos, caracterizada pela presença de diversos “pães de índio”, ou seja, blocos irregulares de massa ressequida de mandioca, as quais seriam enterradas como reserva alimentar (Foto 34). Localiza-se a 2,35 Km a NE da cidade de Iranduba, e 700 m a NE do sítio AM-IR-35: Florêncio, ao oeste da rodovia de Iranduba (AM-452). O sítio encontra-se em uma meia encosta de morro baixo com os “pães” em subsuperfície, alguns já removidos e espalhados em um raio de 30 m devido às atividades de roçado de mandioca (Foto 33, Prancha 6). Coordenada UTM: 20M 0815097/9638841.

Um exemplar encontrava-se intacto, aflorando parcialmente, e para removê-lo foi aberto um corte de 50x 50 cm (sondagem A), com orientação das paredes N80 e N350, procurando expor e limpar o máximo possível para a execução de fotos e croquis em papel milimetrado (Foto 35, Prancha 7). Ao final da atividade, este pão apresentou uma profundidade de 15 cm no seu topo e 30 cm na sua base, a qual em relação ao topo do morro apresentou um desnível de 2,5 m.

A peça foi cuidadosamente embalada em papel alumínio e sacos plásticos para fins de análises em laboratório.

A parede NE da sondagem A apresentou a seguinte estratigrafia: 

0-10 cm: Solo de composição areno-argilosa, seca, consistência pulverulenta, com presença de matéria orgânica das atividades de roçado (carvões, folhas e galhos secos), cor marrom clara, há presença de radículas.



10-22 cm: Solo de composição argilo-arenoso, mais úmido, consistência plástica, marrom amarelado, presença de raízes e radículas, em meio à sua matriz há grânulos centimétricos a milimétricos de laterita e fragmentos milimétricos de carvão bem esparsos em meio à matriz argilo-arenosa.



22-30 cm: Solo de composição argilo-arenosa, úmido, consistência plástica, cor marrom claro, com grande presença de grânulos de laterita (milimétrica a centimétrica), há diminuição da presença de raízes e radículas, no piso do nível de 30 cm foi detectado uma toca de formigas. 122

É provável que a extensão deste sítio seja maior, pois na ocasião da visita, o proprietário do terreno nos informou que alguns anos atrás, seu genro encontrara um desses pães, de grandes dimensões, em um roçado à beira da rodovia do Iranduba, uns 250 m a SE do ponto da sondagem A (Foto 36). Um detalhe curioso é que nenhum outro indício, tais como fragmentos de cerâmica ou artefatos líticos foram localizados neste sítio na ocasião da pesquisa.

Os indícios arqueológicos recolhidos neste sítio são representados por 5 amostras de “pães-de-indio” (a amostra retirada da decapagem foi enviada a Dra. Dolores Piperno, no Panamá). Para melhor explicação, ver itens 4.4. O Material Orgânico e 5.13. Pão de Índio: Fungo ou Ecofato?

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Prancha 6 – Sítio AM-IR-37: Xavier

3 00 2

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Prancha 7 – Sítio AM-IR-37: Xavier. Sondagem A

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Sítio AM-IR-37: Xavier

33 35

34

36 Foto 33 – O proprietário do terreno, o Sr. Jorge Carvalho Xavier, apresenta à equipe uma mostra do pão-de-índio encontrado em seu roçado. Foto 34 – Área de ocorrência de pães-de-índio. Foto 35 – Pães-de-índio expostos por atividades de roçado. Foto 36 – Sondagem A: pão-de-índio exposto por decapagem.

4.1.1.14. AM-IR-38: Nova Esperança

Sítio cerâmico de ocupação Guarita,com exemplares erodidos. Localiza-se a 6 Km ao N da cidade de Iranduba e 250 m a E do sítio AM-IR-28: Areal do Maracajá, ao oeste da rodovia de Iranduba (AM-452). Situa-se em um topo plano de morro, os indícios cerâmicos foram encontrados graças à presença de duas caieiras de carvão, ou seja, trincheiras escavadas para o fabrico de carvão pelos moradores locais (Prancha 8). A lenha é depositada na cova, coberta com folhas secas de palmeira ou de milho, sendo em seguida coberta com terra, deixando apenas um orifício para atear fogo e circular o ar. O trabalho consistiu em limpar essas caieiras e peneirar o solo acumulado a sua volta, resultando em poucos cacos erodidos. Uma das caieiras (caieira A) media 7x 0,90 m com o eixo maior orientado N 210, o perfil SE apresentou a seguinte estratigrafia: 

0-15 cm: Solo de composição arenosa, cor cinza amarelada, consistência pulverulenta, mesclada com matéria orgânica (folhas, galhos, cinzas e carvões das atividades modernas de carvoaria), há presença de raízes e radículas.



15-27 cm: Solo de composição arenosa, cor cinza escura, consistência pulverulenta, compacta, há presença de raízes e radículas.



27-49 cm: Solo de composição areno-argilosa, cor marrom amarelado, há muita presença de grânulos de laterita milimétricos a centimétricos, compacto e de consistência plástica, há presença de radículas. Nesta camada ocorreram raros fragmentos de cerâmica erodida, três no centro da caieira entre 40 e 41 cm de profundidade, e um junto à parede NW a uma profundidade de 26 cm.

Uma segunda caieira (caieira-2) com dimensões de 5,30 x 1 m localizada 5,60 m a E da caieira-1 cujo eixo maior apresenta orientação N 210. O sedimento depositado à sua volta foi raspado com colheres de pedreiro, o que rendeu alguns fragmentos de cerâmica erodida.

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Um aplique em forma de mamilo foi recuperado; ao apresentar forte semelhança quanto à forma, com outro aplique Guarita procedente de um sítio de várzea (AM-IR43: Lago do Iranduba-II), auxiliou a esclarecer qual a ocupação cultural ocorreu no sítio, como também auxiliou a esclarecer a origem da cerâmica erodida. Coordenada UTM: 20M 0813746/9642559. Cerâmica: Guarita: Natureza das Peças: borda (1); apêndice (1); base (3). Nível: superficial. Forma: vaso (1), desconhecido (4). Medidas - Espessura da peça: 3,5- 9 mm, predomina 9 mm; Espessura do lábio: erodido; Comprimento da peça: 26-47 mm; Inclinação da borda: 90º a 135º; Ângulo da base: 140º; Diâmetro da borda: erodido. Pasta-Antiplástico: Quartzo predominante (5), o cauixi, o caco moído, a argila e a hematita ocorrem com freqüência, mas não predominantes. A mica ocorre na forma de traços. Técnica de manufatura: roletado (4) e modelado (1, aplique). Superfície: 2 exemplares com alisamento em ambas faces, 3 com ambas faces erodidas. Pasta-Queima: redutora (3), “sanduíche” (ox-red-ox): (2). Formas: Posição (Relação Diâmetro da Peça/ Diâmetro da Borda): convexa (1). Borda: extrovertida (1). Lábio: erodido (1). Base: plana (3) (Fig. 38, A e B). Decoração: 

Aplique (1): aplique modelado na forma de mamilo com superfícies erodidas. Um exemplar semelhante e melhor conservado pertencente à Sub-Tradição Guarita, coletado no sítio AM-IR43: lago Iranduba-II permitiu estabelecer uma associação do exemplar com esta cerâmica policroma (Fig. 38, C).

Figura 38 - Sítio AM-IR-38: Nova Esperança. Cerâmica Guarita: perfis de bases (A e B), aplique mamelonar (C).

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Lítico: Guarita: Artefatos Brutos: Alisador de cerâmica: 1 Matéria prima: laterita (1). Descrição: núcleo poliédrico irregular. Sinais de uso: a peça mostra uma face convexa desgastada em conseqüência do constante alisamento. Formas: P5 (1). Dimensões: 41.29.18 mm.

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