Levantamento dos mamíferos terrestres de médio e grande porte, na Reserva Particular do Patrimônio Natural–Vale Encantado, Uberaba, estado de Minas Gerais, Brasil

May 29, 2017 | Autor: Agustin Martinelli | Categoria: Mammals, Brasil, Mastozoología
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Acta zoológica lilloana 60 (1): 47–56, 2016

Levantamento dos mamíferos terrestres de médio e grande porte, na Reserva Particular do Patrimônio Natural – Vale Encantado, Uberaba, estado de Minas Gerais, Brasil Pedro H. M. Fonseca 1 *; Guidson Martins 2 ; Vanessa I. Mota Da Silva 2 ; Agustín G. Martinelli 1,3 * 1

Centro Cientifico e Cultural de Peirópolis, Universidade Federal do Triângulo Mineiro (CCCP-UFTM), Peirópolis, Uberaba, MG, Brasil. 2 Instituto de Ciências Exatas, Naturais e Educação (ICENE), Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Bairro Univerdecidade, Uberaba, MG, Brasil. 3 Departamento de Paleontologia e Estratigrafia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil. * Autores para correspondencia: [email protected]; [email protected]

Resumo — O Bioma Cerrado apresenta 194 das 710 espécies de mamíferos do Brasil, sendo que 17 estão ameaçadas de extinção. Devido ao desmatamento do Bioma para o desenvolvimento da agropecuária, muitas dessas espécies estão restritas a fragmentos de Cerrado ainda conservados. O levantamento de mastofauna permite o conhecimento das espécies que ocupam determinadas áreas e permite realizar ações mitigatórias para a conservação da mastofauna local. No presente trabalho é apresentado um levantamento de mamíferos terrestres de médio e grande porte, da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) – Vale Encantado no município de Uberaba, Estado de Minas Gerais (Brasil), onde foram registradas 31 espécies de mamíferos agrupadas em oito ordens (Didelphimorphia, Rodentia, Lagomorpha, Cingulata, Pilosa, Carnivora, Artiodactyla e Primates), a partir de vestígios, visualização direita e fotografia (câmera trap). Palavras-chave: Mammalia, Triângulo Mineiro, Conser vação, Câmera trap. Abstract — “Survey of medium to large terrestrial mammals at the Private Natural Heritage Reser ve – Enchanted Valley, Uberaba, Minas Gerais State, Brazil”. The Cerrado Bioma has 194 of the 710 species of mammals from Brazil, and particularly 17 are vulnerable to extinction. Due to deforestation of the biome for the development of agriculture, many of these species are restricted to fragmented areas of the Cerrado which still remain preserved. The survey of mammals allows to investigate which species occupy certain areas and allows for mitigation actions for the conservation of local mastofauna. The present contribution presents a summary of the medium and large sized terrestrial mammals found at the Private Natural Heritage Reser ve (RPPN), Enchanted Valley, in the municipality of Uberaba, State of Minas Gerais (Brazil), where 31 species of mammals were recorded, belonging to eight orders (Didelphimorphia, Rodentia, Lagomorpha, Cingulata, Pilosa, Carnivora, Artiodactyla and Primates), based on traces, direct observation, and photography (camera trap). Keywords: Mammalia, Triângulo Mineiro, Conservation, Camera trap.

INTRODUÇÃO

Das 710 espécies de mamíferos que ocorrem no Brasil (Paglia et al., 2012), 194 estão presentes no Bioma Cerrado (MarinhoFilho et al., 2010), onde 18 delas são endêmicas (Rocha e Dalponte, 2006) e 17 estão Recibido: 20/07/15 – Aceptado: 14/02/16

na lista de animais ameaçados de extinção (Teixeira, 2014). Neste bioma, os mamíferos estão principalmente restritos a fragmentos florestais e matas de galeria (Klink e Machado, 2005), sendo que, cerca de 85% são de pequeno porte, com massa corporal inferior a 5 kg (Marinho-Filho et al., 2010). Considerado por muito tempo pobre, atualmente a biota do Cerrado é reconhecida como uma

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das mais diversas do mundo, abrigando um número de espécies animais e vegetais semelhantes ao encontrado em formações florestais (Marinho-Filho et al., 2010). Porém, este bioma apresenta uma taxa muito alta de desmatamento, cerca de 80% de sua vegetação original foi removida devido às atividades agropecuárias (Trolle et al., 2007). Essa considerável fragmentação do hábitat natural resulta em uma elevada perda da biodiversidade, dentre vários outros problemas (Klink e Machado, 2005; Diniz-Filho et al., 2009). O Triângulo Mineiro (oeste do Estado de Minas Gerais) é uma região afetada pelas atividades agrícolas, que perturbam a fauna e flora de um modo geral (Silva e Bates, 2002). Por isso, a Reserva Particular do Patrimônio Natural –Vale Encantado (RPPN– VE) no Municipio de Uberaba (Minas Gerais), representa uma importante área de preservação natural. O levantamento das espécies é importante para visar a conservação dos táxons animais, onde o conhecimento é restrito devido à falta de publicações sistemáticas com informações regionais e até mesmo municipais. Em um panorama geral, os trabalhos de levantamento de mamíferos, na ampla região do Triângulo Mineiro, são escassos, estando principalmente focados na região de Uberlândia (Bruna et al., 2010). No entanto, outras regiões do estado de Minas Gerais apresentam estudos mais detalhados, tais como Rocha et al. (2007), Oliveira et al., (2009) e Marques e Oliveira (2014) na região central, Leal et al. (2008) na região norte, Stallings et al. (1991) e Silva e Passamani (2007) na região sul. Outros trabalhos destacando os mamíferos do Cerrado foram realizados em São Paulo (e.g. Motta-Junior et al., 1996; Dias et al., 2012) e região central do Brasil (e.g. Rocha e Dalponte, 2006; Rocha e Silva, 2009; Bocchiglieri et al., 2010; Santos et al., 2012). No presente trabalho apresentamos uma lista comentada das espécies de mamíferos terrestres de médio e grande porte que ocorrem na Reserva Particular do Patrimônio Natural – Vale Encantado (Uberaba, Minas Ge-

rais, Brasil) registradas sistematicamente durante o ano de 2014 a partir do uso de câmera trap, visualização direta e vestígios. A RPPN – Vale Encantado (Figura 1) tem mostrado ser uma área de preservação de mamíferos pobremente registrados em outras regiões do Triângulo Mineiro, e a sua permanência como RPPN será fundamental para a preservação dessa diversidade. M ATER I A I S E MÉTO D O S

A área de estudo inclui a Reserva Particular do Patrimônio Natural – Vale Encantado que localiza-se 29 km ao norte da cidade de Uberaba, Triângulo Mineiro (Figura 1). Apresenta uma área de 38,13 ha, com uma elevação média de 900 msnm, e faz divisa com fazendas dedicadas ao cultivo de canade-açúcar (Saccharum sp.) e criação bovina. Os limites da reserva se integram a Áreas de Preservação Permanente (APP) de fazendas que fazem limite com o local. Foi utilizado uma câmera trap modelo Bushnell HD Essential 119736C. A câmera foi instalada entre os meses de janeiro e julho, em quatro pontos diferentes, sendo que entre os pontos 1, 2 e 4 há uma distância média de 50 m em linha reta e entro o ponto 1 e 3 uma distância aproximada de 80 m, permanecendo por dois meses seguidos em cada ponto, exceto o último ponto ao qual permaneceu apenas um mês. A cada um mês foi realizado a checagem da câmera e a reposição de iscas novas. As iscas escolhidas foram variadas, incluindo frutas banhadas em mel e sardinha. Os pontos foram nomeados em ponto 1, 2, 3 e 4. O ponto 1 se localiza no interior de mata fechada que apresenta uma trilha feita pelo homem, que se conecta ao ponto 4 a leste, uma plantação de monocultura de cana-deaçúcar (Saccharum sp.) a oeste e uma zona alagada ao norte. O ponto 2 está situado próximo à sede da reserva, no interior de uma mata fechada, em uma trilha abandonada feita pelo homem, com a presença de um corpo de água no entorno. O ponto 3 está localizado em uma borda de mata fechada que faz limite com plantação de monocultura,

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com a presença de uma trilha feita por animais. Por fim, o ponto 4 é uma área aberta de transição de cerradão para cerrado sensu stricto que se conecta ao ponto 1 a oeste, e ao corpo d’água a leste e uma região natural de cerrado ao norte e ao sul. Além do registro de animais por meio do uso de câmera trap, foram feitos registros a partir de vestígios, tais como pegadas e ossadas, bem como visualização direta, registros fotográficos esporádicos durante a reali-

zação de trilhas e entrevista com o proprietário da reserva, com auxílio de guia ilustrado. Para tal identificação, usou-se os guias disponíveis: Reis et al. (2006); Carvalho-Junior y Luz (2008); Sigrist (2012). RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram identificados por registros da câmera trap 16 espécies de mamíferos (Tabela 1), bem como os registros esporádicos de

Figura 1. Mapa com a localização da Reserva Particular do Patrimônio Natural Vale Encantado, Uberaba (MG, Brasil) (A) onde 1 representa a localização de Uberaba e 2 a localização da reserva. Em (B), a localidade dos pontos onde a câmera trap foi instalada durante o período de janeiro a julho de 2014, onde C representa a sede da fazenda. A imagem B foi modificada de Google Earth. Abreviações: BO, Bolívia; PA, Paraguai; AR, Argentina; UR, Uruguai; GO, Goiás; SP, São Paulo; RJ, Rio de Janeiro; ES, Espirito Santo; BA, Bahia.

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outras 15 espécies, por visualização direta ou vestigial (Tabela 1), agrupados em oito ordens: Didelphimorphia, Rodentia, Lagomorpha, Cingulata, Pilosa, Carnivora, Artiodactyla e Primates. A maior número de registro foi de Pecari tajacu, Puma concolor e Myrmecophaga tridactyla que foram fotografados em maior quantidade durante o período de trabalho. Dentre as espécies registra-

das, oito delas se encontram em Estado Vulnerável segundo a Red List (IUCN, 2015) e uma delas considerada extremamente rara na região sudeste (Martinelli et al., 2014). Os registros ocorrem entre os pontos descritos como 1, 2, 3 e 4, tanto no período noturno como no período diurno (Tabela 2), registrando anormalidade no período de atividade de algumas espécies (e.g. P. concolor).

Figura 2. Mamíferos registrados por câmera trap no período de Janeiro a Julho de 2014: (A) Myrmecophaga tridactyla, ponto 1 – 28/02/2014; (B) Tamandua tetradactyla, ponto 1 – 08/02/2014; (C) Puma concolor, ponto 1 - 28/02/2014; (D) Cerdocyon thous ponto 1 – 08/02/2014; (E) Pecari tajacu ponto 1 – 07/02/2014; (F) Priodontes maximus, ponto 3 – 17/06/2014.

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Dentre os mamíferos notados, a presença de Priodontes maximus (Cingulata, Dasypodidae) (Figura 2F) foi inicialmente registrado em forma de vestígios (tocas e fuçados) em uma contribuição prévia na área realizada por Martinelli et al. (2014). Em todo o período de estudo, só foi registrado uma única vez por meio da câmara trap no ponto 3, no período noturno. O local é ermo e encontra-se próximo a região 1, onde foram registradas grandes quantidades de tocas e fuçados do animal. Priodontes maximus se alimenta principalmente de formigas e cupins (Sigrist, 2012) e seu registro foi feito próximo a áreas de alta concentração de cupins e formigueiros, alguns com tocas desse animal próximas. A espécie se encontra vulnerável no país e ameaçada de extinção no Cerrado (Silveira, 2009; Srbek-Araujo et al., 2009; Sigrist, 2012). O M. tridactyla (Pilosa, Myrmecophagidae) (Figura 2A) foi registrado nos pontos 1, 2 e 4. Todos esses pontos apresentam mata fechada e densa, ambiente onde é pouco comum a presença desta espécie que prefere áreas abertas (Cabrera e Yepes, 1940; Sigrist, 2012). No presente trabalho o animal foi fotografado tanto no período diurno, próximos ao início e fim do dia, e no período noturno. O comportamento de forrageio em períodos noturno em localidades onde há presença humana (e.g., Sigrist, 2012) é confirmado neste trabalho uma vez que a área do estudo é circundada por plantações e fazendas. No ponto 1 há uma grande quantidade de cupinzeiros e formigueiros, o que pode explicar a maior ocorrência desse animal nessa região devido sua dieta ser exclusivamente de formigas e cupins. A espécie também já foi visualizada com filhotes em trilhas esporádicas. Outro membro da Ordem Pilosa registrado uma única vez, foi o Tamandua tetradactyla (Pilosa, Myrmecophagidae) (Figura 2B), forrageando no solo no período noturno no ponto 1. Leopardus pardalis (Carnivora, Felidae) (Figura 3D) foi registrada nos pontos 1, 2 e 3, sendo que nos pontos 1 e 2 o animal foi registrado apenas no período noturno, hábito comum à espécie. Porém, no ponto 3, o

51 animal foi registrado no período noturno e diurno, comportamento comum em lugares ermos (Reis et al., 2006; Sigrist, 2012). Animais como P. maximus, Eira barbara (Carnivora, Mustelidae) (Figura 3C) e Nasua nasua (Carnivora, Procyonidae) (Figura 3E), tiveram seu registro restrito ao ponto 3, possivelmente devido à ausência de atividade humana nessa área. Outros animais frequentes no Cerrado, como Cerdocyon thous (Carnivora, Canidae) (Figura 2D), E. barbara (Figura 3C) e N. nasua (Figura 3E) foram registrados pela câmera trap. Cerdocyon thous foi registrado apenas uma vez, um indivíduo solitário forrageando no ponto 1 durante o período noturno. Quanto as espécies E. barbara e N. nasua foram registrados no ponto 3 no período diurno, local mais fechado com densa cobertura de extrato arbóreo. Esses animais apresentam o comportamento terrestre arborícola, o que corrobora a presença destas espécies nesse local. Nota-se também que o N. nasua estava solitário, comportamento comum em machos dessa espécie. Foram identificados ao menos três indivíduos diferentes de P. concolor (Carnivora, Felidae) (Figura 2C), registrado nos pontos 1, 2 e 3. Nota-se um número incomum de indivíduos em uma mesma área (12 vezes registrados), onde, segundo Reis et al. (2006) e Sigrist (2012), animais desta espécie são descritos como de hábito solitário e extensa área territorial. Possivelmente, devido à perda de espaço de vegetação típica de Cerrado para a agricultura, esses animais tenham se refugiado no perímetro da área de preservação da reserva. Observa-se também a variação no período de atividade desses predadores noturnos, uma vez que foram registrados também no período diurno (Reis et al., 2006; Sigrist, 2012). Foi registrada uma espécie de Lagomorpha: Sylvilagus brasiliensis e três espécies de Rodentia: Hydrochoerus hydrochaeris, Cuniculus paca e Dasyprocta azarae (Figura 3F). Pecari tajacu (Artiodactyla, Tayassuidae) (Figura 2E) foram registrados em abundância em todos os pontos tanto no período diurno como noturno, em bandos com mais de 10

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indivíduos, ou indivíduos solitários. Foi observada uma diversidade de faixas etárias, incluindo a presença de filhotes. O cateto faz parte do hábito alimentar das onças-pardas, o que pode ser uma explicação plausível a

elevada presença de onças em uma área reduzida. Além de P. tajacu, outro artiodátilo registrado foi um macho solitário de Mazama gouazoubira (Artiodactyla, Cervidae) (Figura 3B).

Figura 3. Mamíferos registrados por câmera trap no período de Janeiro a Julho de 2014: (A) Didelphis albiventris, ponto 2 – 19/03/2014; (B) Mazama goauzoubira, ponto 2 – 21/ 04/2014; (C) Eira barbara, ponto 3 – 28/04/2014; (D) Leopardus pardalis, ponto 3 – 13/05/2014; (E) Nasua nasua, ponto 3 – 26/05/2014; (F) Dasyprocta azarae, ponto 3 – 21/06/2014.

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Alguns animais comuns a áreas de Cerrado não foram registrados na armadilha fotográfica, porém foram registrados por meio de trilhas esporádicas, por meio de vestígios e por visualização direta. Dentre estes encontra-se o Chrysocyon brachyurus (Carnivora, Canidae) que foi visualizado nas proximidades do ponto 4, em trilhas que dão acesso ao ponto, e a presença do animal foi registrada por conta de pegadas e fezes próximas ao ponto 3, onde há uma grande concentração natural de lobeira (Solanum lycocarpum St.

Hil.), fruta típica na dieta do animal (Dietz, 1984; Reis et al., 2006). Outros mamíferos visualizados na reserva pelos proprietários são: Puma yagouaroundi (Carnivora, Felidae), Lontra longicaudis (Carnivora, Mustelidae), Procyon cancrivorus (Carnivora, Procyonidae), Dasypus novemcinctus (Cingulata, Dasypodidae), Coendou prehensilis (Rodentia, Erethizontinae), bem como outros citados na Tabela 1. Além de fauna silvestre, houve um alto número de registro de cães domésticos no

Tabla 1. Lista de espécies de mamíferos registrados na RPPN–Vale Encantado. VU – vulnerável; LC – pouco preocupante; DD – pouca informação. Segundo lista da IUCN (2015). Mamíferos Ordem Cingulata

Pilosa

Primates

Lagomorpha Carnivora

Artiodactyla

Rodentia

Didelphimorphia

Espécie

Registro

Conservaçaõ

Tolypeutes tricintus Dasypus novemcinctus Cabassous sp. Priodontes maximus Euphractus sexcinctus

restos mortais restos mortais restos mortais camera trap visualização

EN LC VU VU LC

Myrmecophaga tridactyla Tamandua tetradactyla

camera trap camera trap

VU LC

Callithrix penicillata Cebus apela Alouatta caraya

visualização visualização visualização

LC DD LC

Sylvilagus brasiliensis

camera trap

LC

Puma concolor Leopardo pardalis Puma yagouaroundi Chrysocyon brachyurus Cerdocyon thous Eira barbara Conepatus semistriatus Galictis cuja Lontra longicaudis Nasua nasua Procyon cancrivorus

camera trap camera trap visualização visualização camera trap camera trap camera trap visualização visualização camera trap visualização

VU VU LC VU VU VU LC LC NT LC LC

Pecari tajacu Manzama gouzobira

camera trap camera trap

LC VU

Coendou prehensilis Cuniculus paca Hydrochoerus hydrochaeris Dasyprocta azarae

visualização camera trap camera trap camera trap

LC LC LC DD

Didelphis albiventris

camera trap

LC

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ponto 1. A presença de cães em áreas de ocupação de vida selvagem acarreta a contaminação da fauna nativa com doenças restrita a animais domésticos, bem como a caça destes cães a animais selvagens. Tal presença em levantamentos de fauna é comum e citadas em outros trabalhos (e.g. Rocha e Dalponte, 2006; Negrão e Valladares-Pádua, 2006), e estão associadas a presença humana próxima as áreas de estudo. CONCLUSÕES

A RPPN–Vale Encantado é uma área de importante preservação natural inserida na região do Triângulo Mineiro que é amplamente afetada por atividades agrícolas que consequentemente atinge a fauna nativa do Cerrado (Silva e Bates, 2002). A inferência da presença do P. maximus na RPPN–Vale Encantado (Martinelli et al., 2014) foi confirmada com um único registro na câmera trap. Essa espécie é de difícil visualização e foi afetada drasticamente pela caça furtiva e redução de seu habitat natural (IUCN,

2015). Nesta RPPN possivelmente essa espécie encontre refúgio em uma região altamente antropizada. Assim como o tatu-canastra, outras espécies encontram-se vulneráveis (e.g. C. brachyurus, M. tridactyla, M. gouazoubira, Cabassous sp.) ou quase ameaçados (e.g. L. longicaudis) devido à perda de habitat natural, caça e proximidade com humanos, fazendo com que as RPPN tenham um importante papel de refúgio para esses animais. Visto a variedade da fauna encontrada, tornam-se necessários estudos complementares que visem compreender melhor a biodiversidade local, servindo assim de subsídio ao planejamento de ações e políticas públicas voltadas à conservação do Cerrado e suas espécies, de forma a mitigar os impactos ambientais causados pela ocupação e atividades antrópicas. AGRADECIMENTOS

Agradecemos a cordialidade e amizade do Sr. José Noel Prata, proprietário da RPPN-VE. Agradecemos a Vicente de Paula

Tabla 2. Pontos e período das espécies registradas por câmera trap na RPPN – Vale Encantado. Mamíferos Ordem Cingulata Pilosa

Lagomorpha Carnivora

Artiodactyla

Rodentia

Didelphimorphia

Espécie

Pontos

Período

Priodontes maximus

3

Noturno

Myrmecophaga tridactyla Tamandua tetradactyla

1, 2 e 4 1

Noturno/Diurno Noturno

Sylvilagus brasiliensis

2

Noturno

Puma concolor Leopardo pardalis Cerdocyon thous Eira barbara Conepatus semistriatus Nasua nasua

1,2 e 3 1,2 e 3 1 3 4 3

Noturno/Diurno Noturno/Diurno Noturno Diurno Noturno Diurno

Pecari tajacu Manzama gouzobira

1,2 e 3 2

Noturno/Diurno Diurno

Cuniculus paca Hydrochoerus hydrochaeris Dasyprocta azarae

2 2 3

Diurno Noturno Noturno

Didelphis albiventris

2 e 3

Noturno

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Antunes Teixeira e a Mara Lucia da Fonseca Ferraz, que acompanhou e auxiliou este e tantos outros projetos realizados pelos autores. Durante o desenvolvimento deste projeto fomos beneficiados com o continuo apoio do Complexo Cultural e Científico de Peirópolis (CCCP) da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM, Uberaba), da CNPq (Brasil), e da FAPEMIG (Brasil). LITERATURA CITA D A Bocchiglieri A., Mendonça A. F., Henriques R. P. B. 2010. Composição e diversidade de mamíferos de médio e grande porte no Cerrado do Brasil central. Biota Neotropica, 10: 169-176. Bruna E. M., Guimarães J. F., Lopes C. T., Duarte P., Gomes A. C. L., Belentani S. C. S., Pacheco R., Facure k. G., Lemos F. G., Vasconcelos H. L. 2010. Mammalia, Estação Ecológica do Panga, a Cerrado protected area in Minas Gerais state. Brazil. Check List, 6: 668-675. Cabrera A., Yepes J. 1940. Mamíferos sudamericanos. Vida, costumbres y descripción. Colección Historia Natural. Compañía Argentina de Editores, Buenos Aires. Carvalho-Júnior O., Luz N. C. 2008. Pegadas: série boas práticas.Belém: Edufpa, 3. Dias W. A. F., Tezori R. F. F., Oliveira A. K. 2012. Registro de mamíferos de médio e grande porte em dois fragmentos florestais no município de São Carlos, Estado de São Paulo. Dietz J. M. 1984. Ecology and social organization of the maned wolf (Chrysocyon brachyurus). Smithsonian Contributions to Zoology, 392: 1-51. Diniz-Filho J. A. F., Bini L. M., Oliveira G., Barreto B. S., Silva M. M. F. P., Terribile L. C. 2009. Macroecologia, biogeografia e áreas prioritárias para conservação no Cerrado. Oecologia Brasiliensis, 13: 470-497. IUCN. 2015. The IUCN Red List of Threatened Species. Versão 2015.1. Disponível em . Acesso em: 12/04/2015. Klink C. A., Machado R. B. 2005. Conservation of the Brazilian Cerrado. Conservation Biology, 19: 707713. Leal K. P. G., Batista I. R., Santiago F. L., Costa C. G., Câmara E. M. V. C., Ambiente, B. D. M. M. 2008. Mamíferos registrados em três unidades de conservação na Serra do Espinhaço: Parque Nacional da Serra do Cipó, Parque Nacional das Sempre Vivas e Parque Estadual da Serra do Rola-Moça. Sinapse Ambiental, 5: 40-50. Marinho-Filho J., Machado R. B., Henriques R. P. B. 2010. Evolução do conhecimento e da conservação do Cerrado brasileiro. Em: I. R. Diniz, J. M. Filho, R. B. Machado e R. B. Cavalcanti

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P. H. M. Fonseca et al.: Levantamento dos mamíferos terrestres na Reser va Par ticular...

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