Liberdade Criativa: Fonética Gestual e Livre Improvisação

May 31, 2017 | Autor: Christina Bogiages | Categoria: Free Improvisation, Improvisação livre, Creative Freedom
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Liberdade Criativa: Fonética Gestual e Livre Improvisação


Christina Marie Bogiages
UFRN – [email protected]

Cleber da Silveira Campos
UFRN – [email protected]

Resumo: O objetivo desse estudo é analisar e categorizar os gestos não
verbais utilizados pelos músicos durante uma performance de
improvisação livre coletiva. Para tanto, buscamos parametrizar níveis
de "liberdade criativa" a serem utilizados durante o momento da
performance. A metodologia basea-se na formação de grupos de
improvisação, onde as performances serão gravados no formato de áudio
e vídeo para posterior análise. Entrevistas semiestruturadas ainda
serão feitas com os músicos e comparadas com as gravações. A
categorização dos gestos não verbais utilizados na performance foram
baseados nas definições de Davidson e Salgado Correia (2002), sendo:
Regulatório, Emblemático/Ilustrativo, Adaptativo e Demonstrativo.



Palavras-chave: Improvisação livre. Gestos não-verbais. Liberdade
criativa. Improvisação dirigida. Criatividade coletiva.






Creative Freedom: Phonetic Gesture and Free Improvisation




Abstract: The goal of this study is to analyze and categorize the non-
verbal gestures used by musicians during a performance of free
collective improvisation. For this, we will attempt to parameterize
levels of "creative freedom" to be used during the moment of the
performance. The methodology is based on the formation of
improvisation groups, where the performances will be recorded in audio
and video format for later analysis. Semi-structured interviews will
be held with the musicians and analyzed together with the recordings.
The categorization of the non-verbal gestures used in performance is
based on the definitions from Davidson and Salgado Correia (2002):
Regulatory, Emblematic/Illustrative, Adaptive, and Demonstrative.


Keywords: Free Improvisation. Non-verbal gestures. Creative freedom.
Guided improvisation. Collective creativity.



1. Introdução

O termo "improvisação livre" tem sido utilizado para descrever um
estilo de improvisação onde uma das principais características está
relacionada com a ausência de regras pré-estabelecidas vinculado ao fazer
musical. Ao improvisar "livremente", o músico busca trazer a tona toda sua
"bagagem musical", estando livre para usá-la ou não numa sessão de
improvisação. O performer ainda pode buscar novos sons, gestos musicais e
técnicas que estão fora da sua zona de conforto musical (BORGO, 2002).
Esta improvisação, classificada como idiomática ou livre, é
geralmente relacionada a uma prática musical de criação espontânea. Na
improvisação livre, o processo sinérgico realizado entre os músicos no
momento da performance vinculado a ausência de parâmetros pré-estabelecidos
gera analogamente a obra como sendo o "resultado" musical durante todo o
período em que o processo esteja acontecendo (BAILEY, 1992; BORGO, 2002;
MENEZES, 2010). Logo, a obra musical torna-se "sinônimo" do processo e não
o contrário.
Intérpretes com vários e diferentes backgrounds musicais podem se
juntar e realizar uma improvisação livre, pois não existe a necessidade de
conhecerem um idioma em comum como uma partitura "tradicional", por
exemplo. (BAILEY, 1992)
A improvisação livre pode ser dirigida de várias maneiras. Os
parâmetros aqui são pensados em mensagens ou estímulos para delimitar os
níveis de "controle" do processo, vindo de fontes externas ou internas. Por
esse tipo de "controle", relacionam-se diversos e diferentes estímulos para
os intérpretes no momento da improvisação. Nesta pesquisa, os controles são
divididos da seguinte forma:
a) controle estimulo externo (CEE): imagens, símbolos, gestos
vindo dos próprios músicos ou mesmo de uma pessoa que não
esteja tocando;

b) controle estímulo interno (CEI): formas pré-estabelecidas
e/ou regras especificas dizendo o que pode ou não pode ser
feito.




Muitos desses exemplos podem ser encontrados em métodos de
improvisação livre que foram criados para encorajar a inclusão da
improvisação dentro do currículo de educação musical, tais como: Bergstrom-
Nielsen (2009); Hall (2009); Higgins e Campbell (2010). A partir da
utilização desses controles, poderíamos questionar se realmente existe ou
pode existir uma improvisação musical completamente livre? Esse estudo não
pretende encontrar esta resposta mas sim delimitar o uso da palavra "livre"
a um determinado "estilo" musical.
Da mesma forma que a música e a linguagem têm sido comparadas
pelos linguísticos e musicólogos, como Chomsky e Schenker (SLOBODA, 1985),
a improvisação tem sido comparada com o diálogo e a conversação (BERLINER,
1994; MONSON, 1996). Recentemente, alguns autores mencionam que os "gestos
frequentemente têm um propósito especial e que esses estão entendidos e
usados normalmente dentro de um contexto especifico social e cultural"
ARGYLE (1988); ELLIS & BEATTIE (1986) apud DAVIDSON e SALGADO CORREIA
(2002). Nesse estudo, pretendemos relacionar algumas possibilidades da
aplicação de gestos não-verbais (não-sonoros) vinculados ao contexto da
improvisação "livre".
Assim, a questão principal que permeia esta pesquisa é: a
interação não-verbal entre músicos improvisando livremente e coletivamente
dentro de um grupo poderia ser afetada pela permissão ou limitação da
liberdade criativa musical?"


2. Materiais e Métodos

Durante um período de seis mêses, serão formados grupo de
improvisação livre onde as performances serão gravados em formato de áudio
e vídeo para posterior análise. Alguns situações de performance serão
parametrizadas da seguinte forma:


a) tocando para uma plateia de músicos num espaço livre;
b) tocando para a mesma plateia porém num espaço fechado;
c) tocando sem plateia nos mesmos espaços mencionados;
d) tocando para uma plateia espontânea num espaço aberto,
e) tocando para uma plateia espontânea num espaço fechado.


Os grupos serão compostos por alunos e professores universitários.
O tamanho do grupo, instrumentação, bagagem musical deverão variar. As
ideias para estabelecer os parâmetros gestuais e do controle de liberdade
(externa e interna) entre os músicos serão extraídos dos métodos para
improvisação livre mencionados anteriormente em junção com algumas idéias
dos autores.
Baseado nas definições de Davidson e Salgado Correia (2002, pag.
244), classificamos quatro categorias de gestos não-verbais a serem
utilizados no momento da improvisação, sendo:


GR – Gesto Regulatório: um intérprete pré-definido interagindo com os
demais porém buscando estabelecer um certo nível de unificação durante
a improvisação;

GE – Gesto Ilustrativo ou Emblemático: tem a finalidade de estabelecer
a coesão musical ou ainda uma narrativa através de elementos
expressivos enquanto a obra esta sendo executada;

GA – Gesto Adaptativo: baseado em mimesis, deve ser utilizado pelos
intérpretes para remeter a certas experiências e/ou comportamentos
individuais durante a performance;

GD - Gesto Demonstrativo: estabelecer algum tipo de conexão
diretamente com a platéia.



Esse parâmetros deverão ser utilizados pelos músicos durante as
sessões de improvisação livre. Posteriormente, realizaremos a análise dos
áudios e vídeos das performances. Os dados levantados serão ainda
relacionados a aplicação de um questionário semiestruturado aos músicos
participantes com o intuito de entender suas perspectivas sobre as
interpretações dos gestos pre-definidos e executados.


3. Resultados e Discussões


Os resultados preliminares (baseados em alguns ensaios) apontam
para uma relação direta entre os níveis de controle e os gestos musicais
utilizados, influenciando diretamente a performance com improvisação livre.
Percebemos que:


a) quando os níveis de controle externo são aumentados (como gestos
e simbolos vindo de uma fonte externa), os gestos regulatórios
(GR) e os gestos demonstrativos (GD) diminuíram;
b) quando os níveis de controle interno são aumentados (como o
estabelecimento de uma forma/estrutura musical ou um motivo
ritmico), os gestos regulatórios (GR) aumentaram e os gestos
demonstrativos (GD) também aumentaram;
c) quando ambos os níveis diminuíram (controle externo e interno),
os gestos regulatórios (GR) diminuíram, porém os gestos
ilustrativos (GI) e os gestos adaptativos (GA) aumentaram.


4. Conclusões


Enquanto a liberdade musical foi aumentada, também foram aumentados
os movimentos sinérgicos entre intérpretes, refletindo nas sonoridades
resultantes. De certa forma, os gestos narrativos e interpretativos viraram
os principais aspectos de estruturação (enquanto forma) da performance. Os
gestos regulatórios foram pouco ou quase nada identificados, talvez porque
na improvisação livre, o músico esteja ouvindo e reagindo, respondendo e
criando, buscando constantemente novas ideais e "argumentos" musicais.
Talvez esses resultados preliminares mostram que na improvisação
livre, gestos não-sonoros não encaixam tão facilmente nas quatro categorias
de gestos apresentados por Davidson e Salgado Correia (2002), porque os
gestos não-verbais na improvisação livre frequentemente se sobrepõe e/ou
misturam-se uns aos outros.
Os próximos passos desta pesquisa apontam para o estabelecimento
de um novo conjunto de categorias para gestos não-sonoros a serem
utilizados especificamente no contexto da improvisação livre.

Referências:

BAILEY, D. Improvisation: Its Nature and Practice in Music. United Kingdom:
The British Library National Sound Archive, 1992. 146p.

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http://vbn.aau.dk/da/publications/intuitive- music%2862d5ad70-002d-11da-
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HALL, T. Free Improvisation: A Practical Guide. Boston, Ma: Bee Boy Press,
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MENEZES, J. Creative Process in Free Improvisation. 2010. 35f. Dissertação
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MONSON, I. Saying Something: Jazz Improvisation and Interaction. Chicago
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