Liberdade e Angústia

May 27, 2017 | Autor: Aline Palumbo | Categoria: Jean-Paul Sartre, Existencialismo, Angústia, Resenha, Liberdade
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
Faculdade de Filosofia







Disciplina: Antropologia Filosófica I
Professor: Rafael Haddock Lobo
Aluna: Aline Mota Palumbo



Angústia e Liberdade







Rio de Janeiro
2016
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................................................3
LIBERDADE............................................................................3
ANGÚSTIA............................................................................. 5
A ANGÚSTIA DE ABRAÃO........................................5
AS CAIXAS DE SABÃO EM PÓ...........................6
A ANGÚSTIA LEVA AO VAZIO EXISTENCIAL............................................................7
NOTAS CONCLUSIVAS..............................................................7
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................8





















INTRODUÇÃO

A Parábola do Sábio e do Homem Angustiado

"Um homem visitou um famoso sábio, porque queria saber como se livrar de suas angústias e preconceitos. Em vez de lhe responder, o sábio caminhou em direção a uma árvore, que estava ali próximo, e a abraçou com força, enquanto gritava:
- Socorro, salve-me desta árvore! Ela está me prendendo! Salve-me desta árvore! 
O homem, que fizera a pergunta, achou que o sábio era maluco. A gritaria, porém, atraiu muitas pessoas. Sem conseguir acreditar no que via, o homem perguntou:
- Por que estás fazendo isso? Eu vim para lhe fazer uma pergunta importante. Pensei que fosse sábio, mas acho que é louco. O senhor está segurando a árvore e pode soltá-la na hora que quiser. Ela não o está prendendo. 
O sábio largou a árvore e olhando no fundo dos olhos daquele homem, disse serenamente: - Então, já tens a resposta à sua pergunta." (Autor Desconhecido).





Liberdade
No campo filosófico a liberdade qualifica a independência do ser humano, isto é, o coloca como agente de si mesmo em todas as situações de sua vida. O homem moderno para se sentir livre, necessita de fazer escolhas. Escolher qual curso, qual curso, qual emprego, qual carro, etc. E isso é tão estúpido quanto achar que realmente somos livres. Afinal, se eu preciso escolher qual sabão em pó comprar no supermercado, é fácil notar que esta não será uma escolha totalmente livre, visto que me serão dadas apenas "x" marcas de produto e terei que apontar entre elas, qual eu quero.
Ora, que espécie de liberdade é essa ? Se sou um ser completamente livre, por que necessito de um avião para voar ? Não poderia simplesmente criar asas ? Por que necessito adquirir um visto para ir de um país para outro ?
A psicologia existencial explica essa questão como sendo uma contingência na liberdade. Somos livres, vezes sim e vezes não, no que diz respeito a limitações corporais ou de circunstâncias externas. Mas não há nada que contradiga que somos livres para escolher o que queremos fazer. Ainda que já nos tenha sido dada um limitado número de alternativas.
Sartre aponta que o homem é livre para fazer o que quiser da sua vida. A filosofia existe existencialista de Sartre ao invés do "ser-em-si" que trata dos objetos do mundo, pois apenas as coisas podem "ser-em-si", é "ser-para-si", trazendo a consciência do homem para si mesmo. Desta forma, possui autonomia ao determinar, querer e desejar por si mesmo. E salienta que homem nada é, mas se torna o que é, quando constrói sua própria liberdade, logo, sua essência: " A existência precede a essência (...) " (SARTRE,1987, p.9)
Trazendo para a vida real, vemos que o homem está perdendo a autonomia e a autenticidade de sua vida. Ao se envolver em múltiplas tarefas e compromissos morais, sociais e religiosos. A tendência é piorar a cada dia. Reduzimos nossa autonomia à simples aplicativos eletrônicos que fazem por nós, aquilo que deveríamos fazer e agimos na ilusão de que com isso, nos sobra tempo para fazer o que se quer. Entretanto, assim como a tecnologia roubou a autenticidade da vida do homem, a religião por sua vez , vem ocupando este espaço faz tempo. O homem entra em um estado que Kant chama de " menoridade": "A menoridade é a incapacidade de se servir de seu entendimento sem a direção de outrem."
Seguindo a mesma linha de raciocínio, Kant não somente fala da menoridade no meio religioso, como também no meio social e moral:

" É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes do meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a respeito de minha dieta, etc,... , então não preciso esforçar-me eu mesmo. Não tenho a necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar, outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis."
(KANT, 2005, p. 64)

Ao contrário do que se pode achar, de um ponto de vista negativo, Kant diz que o homem que exerce a menoridade não é iludido e nem digno de pena. O homem é o próprio culpado pelo seu estado, pela sua covardia e falta de decisão: " A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois, que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha, continuem, no entanto de bom grado menores durante toda a vida" ( KANT, 2005, p.64). E liberdade nesse contexto, significa fazer uso público da razão em todas as questões.
É notório que a geração atual se apegou a "padronização" como recurso escapatório do direito de escolha. E, por fim se aprisionam aos padrões impostos e muitas vezes, criados por si mesmo afim de se negar a determinação e ao querer por si próprio.
Uma vez liberto do jugo da menoridade, o homem passa à condenação da própria liberdade; pois para ser livre é preciso pensar, e pensar é fazer uso da razão. Portanto, toda decisão a ser tomada, precede a um longo processo de pensamentos e razões, ou seja, nada poderá ser feito sem a razão, sem querer de fato, sem o homem por si mesmo determinar. Sendo que, somente o individuo pode por si, determinar seu destino. Não existindo nada pré-definido na natureza humana, com que ele possa dizer que ocorreu "porque era coisa do destino".
A liberdade existencialista de Sartre afirma: "é que o covarde se faz covarde e que o herói se faz herói; existe sempre para o covarde, uma possibilidade de não mais ser covarde,e, para o herói, de deixar de o ser " (SARTRE, 1987, p. 14). Deste modo, cada um possui capacidade de mudar sua condição,visto que, não há natureza que nos determine.
Angústia
Se o homem está "condenado" a ser livre, então se torna o único responsável pelos seus atos, e isto gera um peso na consciência, pois suas atitudes não só refletem, como, sua liberdade implica na liberdade de outrem. E é nesse ponto sensível, que o homem diz estar angustiado. O critério entre ser livre e não ser, está naquilo pelo qual o homem diz estar-se angustiado: "É na angústia que o homem toma consciência de sua liberdade(...) na angústia que a liberdade está em seu ser colocando-se a si mesmo em questão" (SARTRE, 1987, p. 72).


A Angústia de Abraão

"Passados esses acontecimentos, Deus submeteu Abraão a uma prova, convocando-o: "Abraão! Abraão!" Ao que ele redarguiu: "Eis-me aqui, Senhor!" Então Deus lhe ordenou: "Toma Isaque, teu filho, teu único filho, a quem tu muito amas, e vai-te à terra de Moriá. Sacrifica-o ali como holocausto, sobre um dos montes, que Eu te indicarei!". Abraão levantou-se bem cedo, selou seu jumento e tomou consigo dois de seus servos e seu amado filho Isaque. Ele ainda rachou a lenha para o holocausto e se pôs a caminho rumo ao lugar que Deus havia mostrado. No terceiro dia, Abraão, levantando os olhos, viu de longe o lugar que Deus havia determinado. Abraão ordenou a seus servos: "Permanecei aqui com o jumento. Eu e o menino iremos até lá, adoraremos e voltaremos a vós!". Então Abraão tomou a lenha do holocausto e a colocou sobre os ombros de seu filho Isaque, e ele mesmo levou as brasas para preparar o fogo, e o cutelo. E, enquanto caminhavam os dois juntos, Isaque chamou por seu pai, Abraão: "Meu pai!" Ao que replicou prontamente Abraão: "Sim, meu filho!" Então Isaque indagou: "Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto? Assegurou-lhe Abraão: "Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para o holocausto; e continuaram a caminhar ambos juntos. Finalmente, quando chegaram ao lugar que Deus lhe apontara, Abraão construiu o altar, dispôs a lenha, depois amarrou o filho e o colocou sobre o altar, em cima da lenha."
(Gênesis,cap 22:1-9)

A liberdade de Abraão, neste caso implica na morte de seu filho Isaac. Quando toma consciência de si, vê-se angustiado, por ter de escolher entre sacrificar ou não o seu filho. Se por um lado, fosse adiante com o projeto, perderia seu filho, no entanto se não o fizesse perderia a confiança de seu Senhor,isto é, o desagradaria. De ambos os lados, diz -se estar angustiado.
Atentando para o fato que lhe foram dadas apenas 2 opções: sacrificar ou não. Pergunto, que espécie de livre arbítrio é este ? Se um homem pode apenas escolher entre Ser e Não Ser, Fazer ou Não Fazer, Comprar ou Não Comprar, isto lá é liberdade ? Ter de optar por coisas já impostas, é isto liberdade? Me parece, por hora, que este exemplo nada se difere a situação do sabão em pó, no que se diz, escolhas impostas.
As Caixas de Sabão em Pó
Este exemplo, remete ao questionamento se temos mesmo o direito de livre escolha e em como a escolha do outro implica a nossa, e em como a angústia dele, implica a nossa.
Vejamos:
Para o sabão em pó chegar a prateleira do supermercado, alguém precisou escolher se ele estaria ali ou não. Consideremos então o dono do supermercado. Este, necessitou de escolher entre marcas "x","y" e "z", e se há necessidade de escolha, então o homem dirá que está angustiado. Pelos motivos que se os clientes não estiverem satisfeitos , não compram, e então não haverá lucro e isso gerará prejuízo. Decidiu por trazer à prateleira somente "x" e "z", por julgar serem melhores, ainda que não estivesse totalmente confiante de si.
Então, quando fui comprar sabão, precisei escolher entre "x" e "z". Mas antes, o dono já havia escolhido, e somente por isso estou escolhendo. Se você está pensando que isto se tornou um filtro, então está certo. O homem filtra as escolhas para que outro homem escolha após. E diz estar angustiado por ser o segundo nesta cadeia, e ainda que fosse o primeiro, também diria estar angustiado. Porque em tudo, diz estar.
Percebi, que minha marca favorita (y), está em falta. Ora, justamente a que eu quero, não foi posta. E agora ? Ainda poderia procurar em outro supermercado, e me satisfazer. No entanto, me estaciono nas limitações e na ilusão de liberdade que acaba de ser promovida a mim. E em toda essa parafernália, digo angustiar-me.
A Angústia Leva ao Vazio Existencial
Quando não tenho certeza do que realmente quero, sou levado a querer o que me é imposto. Seja o que está na moda, ou seja porque preciso ser aceita ou admirada. De qualquer forma, preciso "me adequar" e se isso não ocorre, me sinto inútil, perdido, medroso e vazio.
Na real, a ansiedade de ser o que "preciso" ser, me levou a não ser, ou seja, me levou ao nada. E o " não-ser" contrasta com: se eu não sou, quer dizer que sou. Pois para não-ser, preciso de alguma forma ser algo para não-o-ser após. Neste caso, meu vazio existencial consiste em que não-sou alguém autônomo, mas sou alguém incapaz de comprar o sabão em pó da marca que eu quero. Estou condenado a não-ser,que seria o não-realizar ou o não-querer. É a impotência e o cansaço.
Notas Conclusivas

O homem que segurava a árvore tinha total liberdade de soltá-la quando quisesse, mas o defeito estava na sua mente. Apesar de tudo o que dissemos aqui, a angústia é somente um subterfúgio para a realidade. O "estar angustiado", não é nada mais, nada menos do que uma desculpa fútil e dramática que o individuo dá para não encarar sua fraqueza e sua incapacidade de escolher por si mesmo. E a liberdade é aquilo que faz ele achar que a angústia é algo real.
A angústia não existe, o que existe é o homem e sua ideia louca de achar que está angustiado. Tudo é a mente, ou vulgarmente falando: é tudo psicológico. A angústia é a covardia do homem, o modo como ele escapa da realidade de si mesmo, de saber o quão nada ele é. Um refúgio para não chegar ao óbito existencial. Porque o homem perde tanta a autonomia dos seus quereres chega ao ponto de se esconder em uma aparição da mente,só pra não morrer. Mas na verdade,ele queria a morte. Mas não pode. Porque ele tem escola, emprego,família,igreja e etc... Então ele não pode se dar ao luxo de morrer. E por isso alega angústia, que por sua vez, não existe. Não existe algo em si que se possa chamar angústia. É esse estado, o óbito existencial do homem.

Referências Bibliográficas
SARTRE, J.P. O Ser e o Nada.
Ensaio de Ontologia Fenomenológica, trad. Paulo Perdigão.
Editora Vozes: Petrópolis, RJ, 2002
SARTRE, J.P. O Existencialismo é um Humanismo.
Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha,
trad. Rita Correia Guedes Luiz Roberto Salinas Forte Bento Prado Júnior. 3º Edição São Paulo: Nova Cultural

KANT, Immanuel. Resposta a pergunta: O que é esclarecimento?
Textos Seletos, trad. Floriano de Sousa Fernandes. 3° Edição Editora Vozes : Petrópolis, RJ, 2005 Pg. 63- 71

BIBLIA, Português. Bíblia Online: King James Atualizada
Versão 5.7.5 Marcel Rocco, 2011

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