\"Libro de las tres creencias (BNP, MS IL 47)\", Luís Urbano Afonso; Adelaide Miranda (ed.), O livro e a iluminura judaica em Portugal no final da Idade Média, Lisboa: BNP, 2015, pp. 149-150(ISBN 978-972-565-552-8)

20. Libro de las tres creencias Atr. Abner de Burgos/Alfonso de Valladolid. Portugal. Séc. XIV-XV. 81 ff. Pergaminho. Iluminado. 214x140 mm. Caixa de escrita: 135x92 mm. 1 col. Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal, IL. 47.

Conforme identificou Isabel Vilares Cepeda, este manuscrito contém a versão portuguesa do Libro de las tres creencias, um dos principais textos peninsulares de polémica antijudaica (Cepeda, 1986). No mais antigo Catálogo da Secção de Iluminados da BNP, o volume encontra-se designado como Tratado Theologico em que se comprova a verdade da Religião de Jesu Cristo, a falsidade da lei dos judeos e a vinda do Messias (n.º 47), título que não corresponde inteiramente ao assunto tratado, sendo objetivo fundamental da obra comparar as crenças cristã, judaica e islâmica, para provar a falsidade quer do judaísmo, quer do islamismo, e a absoluta superioridade da religião cristã. Para este fim, baseando-se numa antiga lenda, segundo a qual cada um dos apóstolos, no dia de Pentecostes, terá contribuído com um dos artigos para a formação do Símbolo Apostólico ou Credo, o autor do presente tratado vai desfilando a série dos doze apóstolos, atribuindo a cada um, imaginativamente, a divulgação e explicitação de um particular artigo da fé cristã. Os testemunhos dos vários apóstolos vão sendo comprovados com abundantes passagens da Bíblia judaica transcritas em hebraico, em caracteres vulgares, seguidas da correspondente tradução para latim e português, como se pode observar no f. 13r, aqui representado, com a citação do Salmo 2,7, com a qual se intenta provar a filiação divina de Jesus, no contexto do quarto artigo de fé proposto por S. João. Do mesmo modo, também são citadas passagens árabes do Corão (sempre em transliterações latinas) com as quais o autor polemiza para demonstrar a verdade do cristianismo. O texto da versão portuguesa, contudo, encontra-se bastante incompleto, faltando os capítulos relativos à sacramentologia e à mariologia no seu final. No que se refere à autoria do Libro de las tres creencias, é comum a sua atribuição ao judeu converso Alfonso de Valladolid (ca. 1270-ca.1347), antes rabi Abner de Burgos,

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autor de um significativo número de obras de polémica antijudaica, elaboradas depois da sua conversão. Não obstante, esta atribuição tem sido questionada por investigadores como Mettmann (1991), Santiago-Otero (1990), Carpenter (2002) e Szpiech (2012b), permanecendo incerta. Por outro lado, é desconhecida a identidade do autor da versão portuguesa deste tratado, possivelmente um português erudito, talvez eclesiástico, bom conhecedor do árabe, do hebraico e do latim. O volume constante, único testemunho desta versão chegado aos nossos dias, terá sido escrito por dois escribas: o primeiro transcreveu o texto até ao f. 60v, destacando as letras iniciais dos capítulos com a cor vermelha, continuando o segundo escriba até à parte final, sem apor qualquer decoração. A data de fatura do manuscrito tem sido apontada para os primeiros anos do século XIV, no reinado de D. Dinis (Pereira, 1911; Antunes, 1996), possivelmente porque o texto do bifólio inicial, com orações em latim – antigas folhas de guarda da encadernação que entretanto desapareceu –, se pode enquadrar neste período. No entanto, a letra da versão portuguesa do tratado parece ser mais tardia, situável nos finais do século XIV ou mesmo nos começos do século XV. O volume em apreço pertenceu a Frei Manuel do Cenáculo, que o ofereceu à Real Biblioteca Pública da Corte, em 1797, assim integrando as coleções da Biblioteca Nacional. Embora a obra permaneça inédita foram publicados alguns excertos em estudos de Gabriel Pereira (1911) e José Antunes (1996). TIAGO MOITA Bibliografia Antunes, 1996; Correia, 1986; Nascimento, 1993; Pereira, 1911; Cepeda, 1986.

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O LIVRO E A ILUMINURA JUDAICA EM PORTUGAL NO FINAL DA IDADE MÉDIA