Limites da ciência reducionista no contexto das pesquisas de Albert Kinsey

May 27, 2017 | Autor: Luiz Algarra | Categoria: Edgar Morin, Complexidade, Sexualidade, Reducionismo, Pensamento Complexo, Kinsey
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Limites da ciência reducionista no
contexto das pesquisas de Albert Kinsey



LUIZ ORLANDO ALGARRA DA SILVA FREITAS
MATRÍCULA: 001607





Dra. Virginia Gonfiantini
Complejidad y Pensamiento Científico
Maestría Pensamiento Complejo
Multidiversidad Mundo Real




2016

RESUMO

Este ensaio explora as interrelações entre as metodologias científicas e os conflitos morais, éticos e sociais, sustentados pelo paradigma da objetividade que emergiram nos Estados Unidos em 1948 quando Albert Kinsey abalou a conservadora sociedade americana ao lançar seu novo livro, "Sexual Behavior in the Human Male".
Os resultados do relatório Kinsey influenciaram diretamente os comportamentos da sociedade por ele estudada. Sua análise de um elemento absolutamente transversal da espécie humana, a sexualidade cotidiana de um povo, provocou uma onda de interesse e disparou um surto de reflexões que afetou não apenas a comunidade científica, mas também os cidadãos comuns e suas principais instituições. Este movimento trouxe uma intensa reação por parte da comunidade científica com esforços centrados na desqualificação das pesquisas de Kinsey através da não-validação de seus métodos.
A suspeição metodológica levantada sobre a pesquisa de Kinsey veio carregada de uma abordagem reducionista que se propagou sustentada por uma resistência moral às conclusões de seu trabalho. O mais interessante é identificar sistemicamente como estas duas dimensões se relacionam, e mais do que isso, como se confundem em um mesmo âmbito.
Na medida em que a ciência assume um discurso de neutralidade, ocultando o observador que constrói a própria realidade que distingue, surge o paradigma da objetividade e da universalidade científica. Neste contexto torna-se impossível uma reflexão ampliada sobre as pesquisas de Kinsey, seus impactos sociais e desdobramentos científicos, já que seria de grande importância uma ciência complexa apoiada em novos paradigmas para tal desafio. Como resultado, a sociedade se polarizou ao redor do tema e, de certa forma, ainda segue desse modo.





INTRODUÇÃO
Como pode haver ciência neutra quando o pesquisador vive sua pesquisa na carne? Esta simples pergunta ecoa sem resposta quando formulada a partir de novos paradigmas da ciência orientados pela complexidade.
Talvez a reação às publicações das pesquisas sobre sexualidade realizadas por Albert Kinsey nos Estados Unidos em 1948, seja um exemplo onde esta contradição entre a neutralidade da ciência e seus fundamentos morais mais tenham se evidenciado no século XX. Kinsey colheu dados sobre os comportamentos sexuais de milhares de pessoas na publicação de seu livro, "Sexual Behavior in the Human Male" colocou a sociedade americana conservadora em uma situação de enorme constrangimento público, gerando um polêmica de alcance mundial, disseminada pelas capas e reportagens nos principais jornais e revistas do país.
Seu livro foi uma das publicações mais vendidas naquele ano, e além de tornar seu autor em uma celebridade, fez de Kinsey uma das personalidades mais polêmicas do século XX. O segundo volume, focalizado na sexualidade das mulheres (Sexual Behavior in the Human Female) foi publicado em 1953, e ampliou ainda mais as repercussões sobre suas pesquisas, tanto dentro quanto fora da comunidade científica mundial. Importante lembrar que diversos autores das teorias da complexidade ainda não tinham notoriedade e a perspectiva da ciência no contexto da época era nitidamente reducionista.
Até então, e ainda hoje de modo geral, a ciência reforçava a epistemologia consensual da sociedade norte-americana que atestava tudo poder observar, analisar, fragmentar, reduzir, classificar, prever e manipular em um mundo reduzido a objetos de conhecimento, fossem eles coisas, natureza ou pessoas. Temos nesta caso, um exemplo claro da clássica separação pela ciência moderna entre sujeito e objeto que oculta o observador em detrimento ao observado.
Neste ensaio me proponho a apresentar, sem aprofundar cada um dos temas que não caberiam em um trabalho desta categoria, pelo menos dois aspectos que distingo neste caso a partir de uma ótica alinhada com o pensamento complexo, são eles: a retroalimentação da rede de conversações analisada e ao mesmo tempo fortemente influenciada pela divulgação das pesquisas de Kinsey; e a desqualificação metodológica promovida pela comunidade científica da época orientada por paradigmas reducionistas e reforçada pela resistência ideológica dos setores mais conservadores da sociedade norte-americana;
Kinsey e o reducionismo
Entre todos os aspectos da formação de Kinsey, enquanto pesquisador e cientista na fase de trabalho que antecedeu a idéia de produzir conhecimento sobre a sexualidade humana, vale destacar sua proximidade com a Entomologia.
A Entomologia é a uma ciência que se propõe a estudar os insetos em seus diversos aspectos e relações com o homem, as plantas, os animais e o meio-ambiente, envolvendo muitas áreas tais como: Morfologia, Fisiologia, Taxonomia e Sistemática, todas essas estruturadas para a construção de conhecimento científico através de operações disjuntivas, ou seja, pela separação das partes, estabelecendo-as em categorias estruturadas na classificação dos objetos ou fenômenos, já então concebidos como entidades delimitadas e separadas umas das outras.
Ou seja, Kinsey teve formação e prática em uma área da ciência reducionista em seu tempo que praticava sistematicamente o exercício de classificar, exigindo que o cientista estivesse sempre decidindo entre uma coisa ou outra. Como nos explica Esteves de Vasconcelos (2012), de acordo com a lógica reducionista, um objeto não pode pertencer simultaneamente a duas categorias, não pode ser ele e não ele (princípio da identidade), e um bom sistema de categorias (sistema de classificação) deve se constituir de categorias excludentes entre si. Isso desenvolve no cientista o que se tem chamado de atitude "ou-ou", "ou isto ou aquilo". Ele não só adota essa atitude nas suas classificações científicas, mas também a leva consigo para as suas relações cotidianas: as situações serão ou boas ou más, as pessoas serão ou amigas ou inimigas, e assim por diante.
Foi discutindo com um colega, Robert Krog da Universidade de Indiana, que Kinsey viu despertar seu interesse pelo estudo das práticas sexuais humanas. Em seus estudos na entomologia, Kinsey havia concluído que cada vespa era única, e que as práticas de acasalamento das vespas eram completamente variadas. Percebeu então que faltavam estudos sobre a sexualidade humana e que, apesar da diversidade sexual ser comum entre os animais e entre os humanos, esta característica nunca havia sido investigada pela ciência. Kinsey vislumbrava a educação sexual sendo abordada como uma disciplina exclusiva, algo inédito naquela época, e movido por este ideal concebeu sua pesquisa como um marco inicial ao tema, no âmbito científico e acadêmico.

A desqualificação metodológica
Os critérios aplicados pela comunidade científica mediam e validam a experiência da sociedade em relação a verdade. A verdade, na perspectiva cartesiana, surge como objetiva, simples e estável, ou seja, ela existe em si mesma, pode ser fragmentada até sua menor parte e se conserva estável em seus mecanismos fundamentais desde que nada se interfira para alterá-la. Estes três princípios, aplicados a partir da física moderna e estendidos para outras áreas do conhecimento humano, com a biologia, e a psicologia social, servem como parâmetros indispensáveis para a validação científica de qualquer experimento, análise e conclusão. O que não se revela ao olhar do velho paradigma da ciência é que mesmo os cientistas experimentam, analisam e concluem a partir de si mesmos enquanto observadores de uma realidade consolidada por sua própria observação.
Como nos explica Maturana (2001), os homens de ciência operam em seus fazeres científicos a partir de emoções próprias, geralmente pelo desejo de conhecer e explicar, ou seja, não podem afirmar que estão isentos da realidade como observadores neutros porque vivem emoções como disposições corporais dinâmicas que especificam os domínios de ações nos quais os animais, em geral, e os seres humanos, em particular, operam em um dado instante.
Maturana chama de ações tudo o que fazemos em qualquer domínio operacional que geramos em nosso discurso, por mais abstrato que ele possa parecer. Assim, pensar é agir no domínio do pensar, refletir é agir no domínio do refletir, falar é agir no domínio do falar, e assim por diante, e explicar cientificamente é agir no domínio do explicar científico. Os cientistas, portanto, praticam a ciência como uma maneira de viver sob uma das numerosas emoções que constituem o ser humano em seu viver como ser humano emocional normal, ou seja, sob a paixão, emoção, desejo do explicar. (Maturana, 2001).
Os cientistas, por outro lado, afirmam que suas emoções não participam na geração das explicações científicas porque o critério de validação dessas explicações as especifica de uma forma independente de seu emocionar. Explicam ainda quais as operações que devem efetuar como observadores-padrão para gerar tais explicações, e como aprenderam a serem cuidadosos para não deixar suas preferências e desejos distorcerem-se e, com isso, invalidarem sua aplicação do critério de validação das explicações científicas. Afirmam também que aprendem a reconhecer que quando isso acontece cometem um erro grave (Maturana, 2001).
Kinsey não teve este comprometimento, ou seja, aplicou metodologias estranhas ao repertório científico da época. Permitiu que sua equipe de pesquisadores atuasse a partir de situações induzidas, interações diretas com as pessoas pesquisadas e até mesmo agissem a partir de suas próprias emoções sexuais, contribuindo ou atuando no âmbito erótico de seus pesquisados.
Este foi, na perspectiva epistemológica da ciência vigente, seu grande erro e a partir daí o discurso moralista dominante na época encontrou um bom contexto para emergir e se expressar, propondo a desqualificação das conclusões em respeito aos métodos.
Ainda como explica Maturana (2001) a objetividade e a universalidade da ciência são afirmações morais. A afirmação de objetividade na prática da ciência é uma afirmação moral porque significa o comprometimento do observador-padrão em não deixar seus desejos ou preferências distorcerem ou interferirem na sua aplicação do critério de validação das explicações científicas. Analogamente, a alegação de universalidade da ciência é uma alegação moral porque uma vez que a ciência, como domínio cognitivo, acontece na práxis de viver do observador-padrão como ser humano, todo ser humano pode, em princípio, operar como observador-padrão, isto é, aplicar, objetivamente o critério de validação das explicações científicas, se assim o desejar. Ou seja, a universalidade da ciência não está em sua referência a um universo, mas está na configuração de uma comunidade humana que aceita o critério explicativo da ciência.
Ou ainda como nos explica Morin (1999), a partir de sua constituição na modernidade, a ciência ocidental priorizou o cognoscitivo en detrimento ao valorativo. Isto se expressa em uma concepção estrita de objetividade com a exclusão do sujeito e dos valores na ciência.
Esta visão de universalidade mascarada pela objetividade científica sufoca e oprime a expressão humana das pessoas e grupos analisados sob a ótica da modernidade. Os fazeres mais simples e autênticos dos que foram pesquisados por Kinsey, suas dimensões pessoais sensíveis, suas nuances e variações diversificadas, nada disso foi sequer registrado pelas metodologias aplicadas neste experimento científico. Tudo isso, e muito mais que nunca saberemos, ficou de fora do panorama construído pelos resultados da pesquisa. O cognoscitivo promovido à condição de melhor e principal explicação destes fenômenos terminou por excluir o valor de todas estas experiências, literalmente produzindo um retrato reduzido do que poderia ser amplo, ambíguo e complexo.
Estas conclusões não propõe o movimento oposto, que seria a negação das abordagens cientificas modernas, e sim sua integração com perspectivas mais humanistas, forjadas a partir dos novos paradigmas da complexidade, gerando um conhecimento científico repleto de valores humanos autênticos e experienciados pelos diversos grupos sociais e indivíduos que formam nossa comunidade humana planetária.
Rede de conversações sistêmicas
Além disso, Kinsey resgata uma perspectiva natural biológica da espécie humana, a sexualidade livre, que contradizia a noção epistemológica de indivíduos civilizados que a sociedade mantinha até aquela época. As pessoas se viam como seres sexuais em suas práticas privadas, conservando uma identidade sobre si mesmas enquanto exceções comportamentais. Na medida que as estatísticas de Kinsey indicaram que as práticas sexuais não-convencionais eram de amplo espectro na população houve, em certa medida, uma validação grupal destes comportamentos, levando a sociedade a buscar uma ressignificação da identidade sexual vigente à época.
A grande ruptura de Kinsey, em minha opinião, não se deu pelas conclusões de suas pesquisas, relativamente amparadas por métodos científicos, mas pela rede de conversações que foi disparada na sociedade americana em relação a temas até então considerados tabu.
O que era privado se tornou público e, sendo verdade científica ou nem tanto, cumpriu a função de trazer ao sistema social norte-americano a possibilidade de debater de modo mais livre e aberto o tema da sexualidade. Mesmo não havendo uma rede de disseminação tão poderosa e efetiva como temos hoje, a internet, os relatórios de Kinsey, por terem ganhado destaque na imprensa e nos meios de comunicação da época, foram compartilhados rapidamente, gerando uma onda caótica de reações pelos norte-americanos.
Como nos explica Carlos Delgado: desde os tempos da antiguidade o homem vem se transformando em um ritmo equivalente às suas interações presenciais em seu cotidiano. O homem conservou, adaptou e transformou hábitos e costumes progressivamente até poucos séculos atrás. Com o avanço das comunicações surge a noção de simultaneidade da informação e, corriqueiramente, as populações passaram a receber informação síncrona e sempre selecionadas por sua maior relevância ou impacto social. Tais avanços, que se intensificaram a partir do século XIX com as descobertas científicas e tecnológicas, produziram uma perturbação no ritmo do viver humano. Quando o homem vivia apenas para conservar e produzir sua vida em seu entorno, as interações com outros humanos se davam progressivamente. Com os avanços das telecomunicações, surge um bombardeamento de informações que nem sempre estavam conectadas diretamente com as experiências individuais de cada um, mas que ganhavam importância justamente por surgirem validadas pela voz dominante da ciência moderna, e causarem um impacto simultâneo em milhares de milhares de pessoas.
No caso de Kinsey e seu trabalho de pesquisa, desde sua primeira publicação pode-se dizer que ele passou a interferir diretamente com a comunidade que estava a pesquisar, provocando efeitos imprevisíveis que repercutiam em fluxos sempre de maior alcance.
Esta relação de circularidade entre o pesquisador que busca capturar e representar um mapa de um objeto de pesquisa que se transforma pela próprio conhecimento dos resultados da pesquisa, em sucessivos ciclos dinâmicos, seria de possível entendimento apenas pela aplicação de novos paradigmas de uma ciência que inclui a complexidade em sua própria epistemologia.
Kinsey revelou, a seu modo, uma condição conhecida individualmente por grande parte da população norte-americana mas que nunca havia sido compartilhada publicamente. Ou seja, uma quantidade significativa de pessoas levava consigo uma série de experiências pessoais que ultrapassavam os limites da moralidade vigente, entretanto não havia ainda a informação de que estes comportamentos estavam tão disseminados estaticamente na sociedade conservadora norte-americana. As pessoas se viam como seres sexuais em suas práticas privadas, conservando uma identidade íntima e pessoal única sobre si mesmas e, muitas vezes, outra identidade social na qual seriam classificados enquanto exceções ou aberrações comportamentais.
Importante trazer aqui os conceitos de Maturana (2001) que nos esclarece que nossos mecanismos explicativos ocorrem sempre em coerência íntima com algum domínio de conhecimento que conservamos a partir de nossa historicidade e que determina, em si mesmo, se nossas condutas são corretas e aceitáveis ou não. Quando temos uma situação que se enquadra de maneira conflitante de um contexto pessoal e outro, social por exemplo, temos um colapso de domínios que traz sofrimento ou curiosidade a ponto de disparar em nós uma pergunta reflexiva sobre o que queremos, como fazemos o que fazemos e se queremos querer o que queremos. Todas estas reflexões passam a acontecer em um segunda ordem do observador, ou seja, quando um sujeito em seus contextos íntimos conflitantes pergunta sobre si mesmo a partir de um novo âmbito, pode emergir uma pergunta de uma nova categoria distinta dos contextos que a geraram.
Considerando isto pode-se dizer que Kinsey resgatou uma perspectiva natural biológica da espécie humana, a sexualidade livre, que afrontava a noção epistemológica mantida pelos indivíduos civilizados que a sociedade mantinha até aquela época. Entretanto, na medida que as estatísticas de Kinsey indicaram que as práticas sexuais não-convencionais eram de amplo espectro na população, houve, em certa medida, uma validação grupal destes comportamentos, levando a sociedade a buscar uma ressignificação da identidade sexual vigente à época.
O que era privado se tornou público e, sendo verdade científica ou nem tanto, cumpriu a função de trazer ao sistema social norte-americano a possibilidade de debater de modo mais livre e aberto o tema da sexualidade.
Talvez o aspecto mais interessante de ser analisado em todo este contexto de assimilação e resistência da sociedade às pesquisas de Kinsey é justamente o entendimento deste paradoxo, ou seja, se por uma lado a sociedade científica e as instituições conservadoras rejeitaram as conclusões publicadas, de outro lado uma rede de conversações de indivíduos que se identificavam ou tinham certa noção de aspectos verossímeis desta polêmica, se deixaram envolver e até mesmo ajudaram a avançar as discussões sobre a liberação sexual no século XX.
Seria um engano, na perspectiva de um novo paradigma complexo de ciência, distinguirmos uma polaridade neste sistema que rejeita, aceita e amplifica os dados apresentados por Kinsey. Um cientista orientado pela lógica reducionista veria aqui uma sociedade divida em pelo menos dois grupos extremados em suas posições de adesão ou rejeição às pesquisas.
Pela uma ótica do pensamento complexo, como elaborada por Prigogine, Atlan, von Foerster e von Neumann, por exemplo, podemos compreender este sistema como uma circularidade que, movimentada por uma perturbação que gera entropia, tende à auto-organização, levando à sociedade americana a um novo contexto de compreensão sobre o tema da sexualidade. A desordem promovida pela relevância e alcance do tema trouxe instabilidade ao sistema social que passou a se reorganizar se conservando, porém em um novo âmbito de conhecimento.
Como nos explica Morin, dito de ou modo, são as interações dos indivíduos que produzem a sociedade, porém é a sociedade que produz o indivíduo. Temos aqui um processo de recursividade organizacional; o recursivo se refere a processos nos quais os produtos e os efeitos são necessários para sua própria produção.

CONCLUSÃO

O que Kinsey talvez não imaginasse é que sua iniciativa o colocaria em contato direto com uma enorme quantidade de informação colhida a partir das múltiplas percepções de uma grande série de indivíduos, e que todo este resultado lhe traria enormes desafios no sentido de consolidar conclusões realmente significativas sobre o assunto. Cada indivíduo entrevistado trouxe para Kinsey respostas construídas a partir de suas próprias percepções pessoais, abrindo espaço de expressão para conteúdos que até então seguiam preservados na dimensão privada, ou seja, carregados de subjetividade. A conexão entre estes depoimentos, para acontecer de maneira efetiva, deveria surgir por novos paradigmas da ciência, considerando pelo menos os contextos em que foram observados, e incluir, inclusive, a epistemologia de seus observadores.
A contextualização poderia trazer reintegração entre os objetos no contexto, tornando-os perceptíveis no sistema em que emergiram. Nesta integração teríamos uma ampliação de foco que poderia revelar as interligações entre os objetos e dos objetos com outros sistemas externos, tais como o sistema moral da época, o sistema religioso, os sistemas familiares, econômicos e sócio-políticos, por exemplo. Nesta abordagem teríamos padrões de interconexão em conexões ecosistêmicas que seguiram ocultas para Kinsey e sua epistemologia reducionista.
A grande ruptura não-intencional de Kinsey, em minha opinião, não se deu pelas conclusões de suas pesquisas, relativamente amparadas por métodos científicos, mas pela rede de conversações que foi disparada na sociedade americana em relação a temas até então considerados tabu.
Sem uma ciência da complexidade, inter e transdisciplinar, que não oculte a relação entre sujeito e objeto, observador e observado, como poderemos alavancar mudanças que conservem o bem-estar humano? Sem o surgimento de novas epistemologias, que admitam a existência de múltiplas realidades tantos quantos forem os indivíduos que as vivem, de que modo teremos condições de atuar sistemicamente em ações efetivas nas dimensões sociais, ambientais, educacionais, econômicas e políticas, por exemplo?


REFERÊNCIAS



Colectivo Docente Internacional, Las Ciencias de la Complejidad Orígenes & Cosmovisión
Delgado, C. J. D. (2006) Crisis y revolución en el pensamiento científico contemporáneo: la hipótesis del Nuevo Saber. Artículo publicado en el libro: El gesto de la filosofía hoy. (Carlo Marletti y Paul Ravelo (Eds.). Edizioni ETS - Pisa, Imagen Contemporánea - La Habana. Autor.
Maturana, H. (2001) Cognição, ciência e vida cotidiana. Belo Horizonte: Editora da UFMG
Moreira, M. A. (2004) A epistemologia de Maturana. Ciência & Educação, v. 10, n. 3
Morin, E. (1999). Edgar Morin L'intelligence de la complexité. (Collection Cognition et formation) (French Edition), 1996.
Pérez, C. R. (2003) Paradigma de la complejidad, modelos científicos y conocimiento educativo. Ágora digital












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