LINGÜÍSTICA APLICADA E A PESQUISA EM SALA DE AULA

June 16, 2017 | Autor: T. Biazi | Categoria: Applied Linguistics
Share Embed


Descrição do Produto

LINGÜÍSTICA APLICADA E A PESQUISA EM SALA DE AULA

Priscila do Nascimento; Claudiomiro Santos Lima; Luísa Bischof Justus
(Curso Letras-Inglês/UNICENTRO) e Terezinha Marcondes Diniz Biazi
(Orientador-Dep. de Letras/UNICENTRO), e-mail: [email protected]

Palavras-chave: Lingüística Aplicada, pesquisa em sala de aula,
profissional de Letras.

Resumo: Este trabalho discute os movimentos pelos quais a pesquisa em sala
de aula de Língua Estrangeira passou desde a década de 70 até a atualidade
no Brasil, visto que é uma questão central da Lingüística Aplicada e de
interesse dos profissionais e estudantes da área.

Introdução
A Lingüística Aplicada (doravante) LA é uma área de pesquisa que
tem a preocupação de identificar, entender e discutir sobre problemas de
caráter prático que surgem na linguagem, para então trazer novas
possibilidades de melhoria da qualidade discursiva na vida das pessoas, nos
variados campos de interação social, oral ou escrito, tais como
institucionais, sociais, econômicos e escolares (CELANI, 2000). Como
exemplificação, podemos citar a pesquisa em linguagem utilizada no
trabalho, como o uso do inglês para operação de tráfego aéreo por
profissionais que não tem o inglês como primeira língua, terapia da fala,
tradução e interpretação, e os usos profissionais da linguagem, como a
linguagem do médico ou do advogado (MOITA LOPES, 2002). A LA, portanto, é
um campo de pesquisa abrangente, já que trata de questões de interação
social, nas diversas instâncias, mediadas pela linguagem, tanto em textos
orais como escritos. Neste trabalho, contudo, focalizaremos a LA apenas em
uma das suas vertentes de ação, que é o contexto escolar, especificamente,
a sala de aula. Justificamos nossa escolha por este recorte por duas
razões: 1) que para a formação do profissional de Letras é essencial
conhecer sobre as tendências de pesquisas em sala de aula, visto que o
objeto de atenção de professores deve ser o contexto da sala de aula, e
isto, necessariamente, implica em conhecimento sobre o que é pesquisado e
construído sobre a mesma; 2) que para o exercício da profissão, o fazer
pesquisa em sala de aula deve ser fundamental, entretanto, para isso
acontecer, a conscientização de sua importância bem como sua prática deve,
obrigatoriamente, começar na universidade. Nosso trabalho apresentará o
percurso da pesquisa brasileira em sala de aula, desde a década de 70,
quando surge a LA no Brasil, culminando com o que está sendo desenvolvido
na área na atualidade.

Materiais e Métodos


Nosso estudo foi realizado a partir de uma pesquisa bibliográfica de
autores da área, cujos nomes contam nas referências deste trabalho.


Resultados e Discussão


A pesquisa em sala de aula é definida na literatura acadêmica como
aquela realizada por profissionais que estão diretamente envolvidos com a
prática, a nosso ver, tradicionalmente, por professores em serviço
(programas de formação continuada, programas de pós-graduação, em alguns
casos, em estágios pedagógicos voluntários) e, mais recentemente, por
alunos em formação pré-serviço (em estágios supervisionados, monitoria
discentes, bolsas-pesquisas e disciplinas monográficas). Gimenez e
Cristovão (2006) colocam que a pesquisa em sala de aula busca investigar a
prática como forma de construir conhecimento teórico sobre a mesma, e como
as interpretações que são construídas, podem contribuir para a compreensão
da complexidade do que é a prática docente e, para uma reorientação de
ações, caso haja necessidade contextual. Contudo, primordialmente, a
pesquisa em sala de aula não era entendida do modo como as pesquisadoras
acima citadas descrevem, como podemos observar pelo surgimento da LA no
Brasil na década de 70, conforme segue abaixo.

Na década de 70, a pesquisa realizada em sala de aula foi amplamente
influenciada pela psicologia behaviorista e pela preocupação de lingüistas
em aplicar suas teorias de descrição sobre a língua em situações de ensino
na sala de aula. São pesquisas, hoje denominadas de "processo-produto",
pois se caracterizavam em enfocar na eficácia do comportamento do professor
em sala. Em artigos e trabalhos da época, a preocupação dos acadêmicos era
teorizar sobre a prática do professor de línguas e elaborar metodologias e
materiais didáticos, que, acreditavam ser o modo certo de ensinar uma
segunda língua ou uma língua estrangeira (doravante L2/LE). Ainda, os
teóricos salientavam como o professor deveria se comportar e/ou que teorias
deveria usar, pois assumiam que, por meio de uma teoria, de comportamentos
ditados e de uma metodologia, o professor poderia melhorar sua prática
docente. As pesquisas dessa época limitavam-se aos espaços da acadêmia,
sendo que as pesquisas de campo junto aos professores eram raras e quando
aconteciam, limitavam-se à análise do comportamento dos professores. Além
da questão metodológica, o foco das pesquisas volta-se para estudos sobre a
análise contrastiva de línguas, isto é, buscava-se verificar tanto
diferenças e semelhança entre pares de línguas (neste caso, português e
inglês), com o objetivo de aplicar seus resultados para a leitura e escrita
no ensino/aprendizagem de inglês bem como de elaborar materiais para seu
ensino (ROJO, 2006).

Na década de 80, em função do desenvolvimento da Psicologia
Cognitiva, que surgiu em oposição à psicologia behaviorista, a pesquisa em
LA pautou-se em focalizar em processos cognitivos que explicavam como o
processo de aprendizagem ocorria e como as estratégias cognitivas poderiam
favorecer ou restringir a aprendizagem de línguas estrangeiras em sala de
aula, notadamente, na área da leitura. A partir dessa década, opondo-se ao
modo estrutural de trabalho com o texto, da década anterior, o qual
focalizava no ensino da gramática do texto, a LA tomou o texto, tanto em
língua materna como estrangeira (inglês), como unidade de estudo essencial
para a sala de aula, buscando contribuições teóricas de outras áreas, tais
como a Lingüística Textual, a Teoria dos Gêneros, a Sociolingüística e a
Análise do Discurso, que tinham um entendimento de texto como uma unidade
básica de interação verbal. Assim, em decorrência desses deslocamentos
teóricos, surgiram, no início da década de 80, pesquisas sobre leitura em
sala de aula, com base em teorias cognitivistas (foco no processo mental de
construção de significados), e, no final dessa mesma década, pesquisas
sobre leitura, numa abordagem enunciativo-discursiva (foco no seu contexto
de produção e funcionamento do texto) (ROJO, 2006).

Na década de 90, LA consolidou-se como uma área própria de
conhecimento. Uma das características da fase de sua consolidação foi a
diversificação de metodologias de pesquisa, com tendência às metodologias
qualitativas, como a pesquisa-ação, pesquisa colaborativa, estudos
narrativos e estórias de vida. E outro fator para sua consolidação foi a
ampliação de seu enfoque de pesquisa em sala de aula, que variava entre
questões cognitivas, lingüísticas e/ou afetivas, e entre aspectos
socioculturais, históricos, políticos e ideológicos, relacionados aos
tópicos mais prestigiados, formação de professores, análise do discurso em
LE, leitura, foco na forma, padrões de interação aluno-professor, aquisição
de LE, novas tecnologias no ensino de línguas, estudos sobre letramento,
construção de identidades em sala de aula, gêneros textuais e discursivos.
Na atualidade, as pesquisas de sala de aula em LA discutem abordagens
críticas do ensino de inglês para falantes de outras línguas, como, por
exemplo, o empoderamento de professores de inglês não-falantes nativos e a
interação na sala de aula de língua, em relação a identidades sociais de
raça, gênero e sexualidade (MOITA LOPES, 2002).

Conclusões

Buscamos traçar um breve perfil da pesquisa em sala de aula de Língua
Estrangeira, dos anos 70 até a atualidade, no Brasil, pois entendemos que
esse conhecimento é essencial para a formação profissional de futuros
professores que terão a sala de aula como seu foco de trabalho.


Referências


CELANI, M.A.A. A relevância da Lingüística Aplicada na formulação de uma
política educacional brasileira. In: M. FORTKAMP e L. TOMITCH (orgs.),
Aspectos da Lingüística Aplicada: estudos em homenagem ao Prof Hilário
Inácio Bohn. Florianópolis, Insular, p. 17-32., 2000.


GIMENEZ, T e CRISTOVÃO, V. L. L. Teaching English in context.
Contextualizando o ensino de inglês. Londrina: UEL, 2006.


MOITA LOPES, L.P. Identidades fragmentadas: a construção discursiva de
raça, gênero e sexualidade em sala de aula. Campinas, Mercado de Letras,
2002.


ROJO, R. H. R. Fazer Lingüística Aplicada em perspectiva sócio-histórica:
privação sofrida e leveza de pensamento. In: MOITA-LOPES, L. P. (Org.) Por
uma Lingüística Aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, pp. 253-276,
2006.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.