Lingua e transaccoes comerciais: o caso da escolha linguistica entre o portugues e outras linguas nas comunidades de imigrantes em Maxixe

July 21, 2017 | Autor: Alberto Jose Mathe | Categoria: Interactional Sociolinguistics
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1. Introdução


Moçambique é uma nação multilingue onde co-existem predominantemente
várias línguas pertencentes à família Bantu, algumas de origem europeia
(caso do Português, Inglês e Francês) e outras de origem asiática.


As línguas nativas são do grupo Bantu[1] e são faladas por maior parte
da população. As outras línguas introduzidas posteriormente estão
associadas às relações comerciais entre os povos, sendo as relações mais
antigas com os árabes, razão pela qual existem algumas línguas de origem
asiática. No século XV, graças às viagens ultramarinas, foram estabelecidos
contactos com diversos povos europeus, sendo com os portugueses o contacto
mais profícuo e duradouro, perpetuado posteriormente pela colonização.
Entretanto, até meados do século XVIII a administração de Moçambique
dependia directamente da Índia, o que justifica a existência de diversos
descendentes asiáticos falantes de línguas originárias da Índia. Segundo
Gonçalves (2000) só no século XX é que são tomadas medidas de relevo para
garantir a difusão do Português por todo país, como aconteceu com a
aprovação da política de assimilação, introdução do ensino e da máquina
administrativa colonial.


Como se pode ver, as relações comerciais entre os povos são tão
antigas quanto o contacto entre as línguas. Entretanto, as relações
comerciais implicam o uso de certas línguas, sendo que algumas têm a
possibilidade de se impôr devido ao prestígio social a elas associado ou
mesmo ao poderio económico de uma determinada comunidade de fala. Assim
sendo, este estudo pretende reflectir sobre as relações entre a escolha
linguística e as relações comerciais na actualidade, ciente de que intervém
vários sectores da sociedade com uma pluralidade de línguas e culturas
envolvidas.


No caso vertente da cidade de Maxixe, a confluência de homens de
negócios provenientes dos Grandes Lagos e da África do Norte, regiões com
línguas diferentes das faladas anteriormente, despertou-nos maior atenção
para o estudo das manifestações que podem advir desse contacto de línguas,
do ponto de vista da escolha linguística (entre o Português, as línguas
bantu locais e as línguas de origem desses comerciantes); do ponto de vista
da mudança linguística pode abrir-se um debate sobre o papel do Português
para as comunidades imigrantes, que representam uma minoria.


Ao longo deste estudo procuramos descrever os domínios ou situações
que influenciam a escolha das línguas para a comunidade dos imigrantes
residentes em Maxixe. Cientes de que este contexto social é novo para os
imigrantes, é importante descrever as novas funções que as línguas em
contacto vão desempenhado, de modo a compreender ou prever futuramente as
modificações que se possam introduzir nestas línguas (do ponto de vista
socio-simbólico, fonológico, morfossintático e lexical).


Para a obtenção dos dados privilegiamos a pesquisa documental baseada
em fontes documentais (resultados do Censo Geral da População e Habitação
de 2007) e a entrevista com alguns comerciantes imigrantes.






2. O uso das línguas


Durante o tempo colonial, as línguas bantu eram faladas por maior
parte da população, sendo mais usadas na comunicação quotidiana entre as
etnias e, geralmente faladas nas zonas rurais de quase todo o país. Quanto
ao Português, o uso deste circunscrevia-se às grandes cidades ou zonas
urbanas, maioritariamente falado por jovens (pelo facto de terem acesso à
escola em detrimento dos velhos). O Inglês era falado por estrangeiros
ligados às organizações não-governamentais e por outros moçambicanos que
trabalhavam na África do Sul, ao passo que as línguas asiáticas eram
faladas por emigrantes da Índia e Paquistão (Firmino, 2002).


Este cenário não permaneceu estático. O contexto colonial criou
condições para as mudanças na situação linguística de Moçambique após a
independência, pois o uso das línguas foi variando em função do prestígio
que as mesmas foram assumindo. Ademais, as transformações socioeconómicas
experimentadas no período pós-independência permitiram novos contactos de
línguas em relação ao período anterior. Por exemplo, a abertura de
fronteiras, a integração económica regional, a guerra e escassez de víveres
no Norte de África provocaram novos movimentos migratórios para Moçambique
que também alterariam a situação linguística do país.


Segundo Firmino (2002), durante a luta de libertação nacional, a
FRELIMO escolheu o português como língua de unidade nacional e para a
criação da consciência nacional. Após a independência, a FRELIMO espalhou a
sua ideologia linguística em relação ao Português visando a preservação da
integração social, unidade nacional e progresso nacional, comunicação com o
mundo, acesso ao conhecimento e tecnologia – o que desencadeou uma política
favorável em torno do Português.


A guerra civil que abalou Moçambique por 16 anos isolou as diferentes
regiões e etnias, limitando o desenvolvimento económico e educacional do
país. Entretanto, o fim da guerra reabriu as relações entre os moçambicanos
em vários domínios. A partir dos anos 90, a procura por produtos agrícolas
de baixo custo para alimentar os mercados urbanos criou uma grande
mobilidade social. As pessoas do Sul passaram a explorar novos mercados no
Centro e Norte do país e vice-versa. Ao melhorarem as relações comerciais
entre pessoas de regiões e línguas diferentes, o Português foi aumentando o
seu prestígio no domínio dos negócios, passando a ser usado não apenas
pelas elites políticas, mas também pelos pequenos comerciantes e
agricultores analfabetos ou com pouco nível de escolaridade.


As constantes guerras civis nos Grandes Lagos e no Norte de África
atraíram para Moçambique um grande movimento migratório. Cerca de 100,000
refugiados provenientes das repúblicas do Ruanda, Burundi, Democrática do
Congo, Etiópia e Somália pediram nos últimos tempos a concessão de
documentos de asilo e estatuto de refugiado em Moçambique. Apesar de
existir o Centro de Refugiados de Maratane em Nampula, muitos destes
imigrantes estão espalhados pelo país e tem se dedicado a uma
multiplicidade de negócios para garantir a sua subsistência. Olhando para a
quantidade de imigrantes que entram (i)legalmente no país, considerando que
as autoridades não conseguem regular a imigração, poderão existir em
Moçambique mais imigrantes do que os números oficiais revelam e, acima de
tudo, pode se afirmar que está mudando a configuração linguística do país.


Paralelamente à imigração (i)legal, assiste-se ao processo de
Integração Económica Regional que permite outro nível de competição
linguística. Neste processo, constata-se que muitos países que aderiram à
Integração Económica Regional têm o Inglês como língua oficial e possuem
maior capacidade de negociação, o que poderá acentuar o prestígio do Inglês
no domínio dos grandes negócios e nos contextos político e académico.
Relativamente à Integração Regional na SADC, o debate cinge-se mais nos
aspectos económicos e políticos, ignorando muitas vezes a faceta social
desta integração. Entretanto achamos pertinente discutir uma das facetas
mais importantes das relações humanas, quer económicas quer políticas – a
língua, com o objectivo de perceber as relações que podem existir entre a
língua e as transacções comerciais do ponto de vista do jogo de influência
entre ambas e, sobretudo, propor estratégias para promover a inclusão
social das camadas social e linguisticamente desprestigiadas.


Apesar de todo este cenário em torno do uso das línguas em Moçambique,
ao prestarmos atenção à situação concreta de Maxixe, podemos constatar a
existência de uma esfera de negócios dominada, por um lado, por
comerciantes de descendência indiana, que detém quase a maior parte das
mercearias do centro urbano e, por outro, há uma tendência de aumento do
número dos imigrantes que desenvolvem pequenos negócios como mercearias,
talhos e restaurantes. Os nativos desenvolvem mais o comércio informal e
concentram-se nos mercados e vias públicas.


Sendo a convivência entre os nativos falantes das principais línguas
bantu locais[2] e os comerciantes de origem asiática mais antiga, interessa-
nos descrever as novas práticas linguísticas que podem ser introduzidas
pela presença destes imigrantes, dando maior enfoque às funções que as
línguas e, particularmente, a língua portuguesa pode desempenhar neste novo
contexto.


A nossa hipótese inicial é que face a esta nova configuração
linguística que se desenha em Maxixe, a escolha linguística será
determinada por factores como o domínio, o interlocutor e o assunto. No
caso particular dos imigrantes, estes serão obrigados a escolher o
Português como língua das transacções comerciais para a comunicação com o
público, de modo a atrair os clientes e garantir uma integração social. Não
acreditamos que estes imigrantes possam apostar nas línguas locais pelo
facto de Maxixe ser um corredor e atrair pessoas de vários cantos do país e
a língua portuguesa ser um veículo fundamental para a comunicação destes.
Por outras palavras, face a este cenário de contacto com novas línguas, o
Português poderá manter o seu prestígio, admitindo-se algumas pequenas
mudanças no discurso oral.


















3. Fundamentação teórica


O conceito fundamental que alicerça a hipótese é o domínio. Firmino
(2002:54) defende que o falante manipula as variantes linguísticas que são
parte do seu repertório de forma muito complexa. Numa situação em que o
falante está exposto a duas ou mais línguas, este irá escolher a língua que
melhor o satisfaz durante o acto comunicativo bem como o contexto em que se
produz o enunciado.

Giles (1977), citado por Firmino (2002) apresenta o factor poder
económico como um dos que influencia esta escolha e em casos mais
complexos, a mudança linguística. Daqui depreende-se que grupos com pouco
poder económico podem associar a língua do grupo com maior poder económico
como uma língua de prestígio e que permite a ascensão social. No caso
vertente do estudo, os imigrantes encontram-se numa situação
desprivilegiada, são uma minoria que procura melhores condições no país
através de pequenos negócios e não estão em condições de impôr as suas
línguas para a maioria dos moçambicanos com quem interagem nos negócios.
Portanto, a escolha linguística, quando orientada para o Português ou
outras línguas locais, visa garantir a sua sobrevivência e participação na
vida económica do país.
Na interacção entre falantes de línguas diferentes impõe-se discutir a
teoria de acomodação, pois falantes de línguas diferentes têm que acomodar
a sua fala para que o outro interlocutor participe da comunicação.
De acordo com Firmino (2002), a teoria da acomodação do discurso
interpessoal explica a escolha linguística tendo em conta o ponto de vista
do falante. Sendo que este poderá acomodar a sua fala através do processo
de convergência[3] ou divergência[4]. Para as transacções comericais é mais
óbvio que os imigrantes esforcem-se em escolher a língua que os outros
falantes percebem melhor, daí que a noção de convergência seja mais
aplicada a este estudo.
Neste trabalho, o conceito de domínio e a teoria de acomodação
permitem-nos descrever os contextos de uso das línguas, as razões para a
escolha linguístic, compreender as normas para o uso da língua na
comunidade e, acima de tudo, verificarmos a língua mais adequada a usar com
os imigrantes no contexto das transacções comerciais.





4. Descrição e análise dos dados

Maxixe é uma cidade sita na província de Inhambane na região Sul de
Moçambique, com uma população de cerca de 108,824 habitantes. É uma cidade
comercial e constitui-se como a capital económica da província. Para além
do sector da educação que emprega a maior parte dos funcionários, são
desenvolvidas diversas actividades comerciais com maior destaque para o
comércio por grosso e a retalho; manutenção e reparação de veículos
automóveis e motociclos; restauração; alojamento; fabricação de mobiliário
e de colchões; indústria alimentar; indústria da madeira e da cortiça;
fabricação de obras de cestaria e de espartaria.
Estas actividades justificam a actratividade desta cidade, para além
da mesma situar-se na Baía de Inhambane, estar ao longo da Estrada Nacional
número 1 e ser um corredor, o que permite que esteja na principal rota
comercial do país. Por aqui passam os cidadãos que se movimentam pelo país,
os que procuram pelas estâncias turísticas da província, os que buscam
oportunidades de negócio com distritos ricos em produção agrícola como
Homoine e Panda.
Um factor determinante na mobilidade humana em Moçambique é a
Integração Económica Regional, pois esta pode envolver a liberdade de
movimento de recursos (humanos e materiais), políticas económicas comuns ou
mesmo uma moeda comum. (Namburete, 2002:213).
Os movimentos migratórios que se verificam nos últimos anos,
especialmente na última década, quer de comerciantes oriundos dos Grandes
Lagos quer da África Oriental, fundamentam-se na existência de relações
comerciais na África Austral muito antigas. Segundo Namburete (2002), as
relações comerciais entre estes países são caracterizadas por uma série de
sobreposições entre tratados bilaterais, arranjos regionais e
multilaterais, pois para além da SADC, que inclui todos os países da África
Austral, existem também: a União Aduaneira da África Austral (SACU), que
inclui a República da África do Sul, Botswana, Lesotho, Namíbia e
Suazilândia; o Mercado Comum da África Oriental e Austral (COMESA),
organização da qual fazem parte a maioria dos países membros da SADC e
outros da África Oriental; e acordos bilaterais de comércio preferencial.
A situação linguística da maior parte dos países que fazem parte da
Integração Regional usam o Inglês como língua oficial. Dado ao prestígio
comumente associado à língua inglesa seria fácil pensar que haverá uma
imposição do Inglês sobre o Português e outras línguas locais no domínio
dos negócios[5]. Entretanto, durante a nossa pesquisa entrevistamos dois
grupos de imigrantes, um proveniente dos Grandes Lagos (Nigéria) e outro da
Somália.
Relativamente ao grupo oriundo da Nigéria, este era constituído por 5
homens e 2 mulheres que se dedicam ao negócio da venda de acessórios de
viaturas, confecções de moda africana e boutique de venda de produtos de
beleza (cosméticos, mechas, extensões para cabelos e roupas
diversificadas). Neste grupo, constatámos que todos se comunicam em
Português nos ambientes formais e no trabalho. Porém, a escolha da língua
depende do interlocutor. No ambiente dos negócios, estes usam
predominantemente o Português por permitir uma inteligibilidade com os seus
clientes, ou seja, eles acomodam a sua fala aos interlocutores, falando na
língua que os clientes melhor compreendem.
Apesar da escolha do Português ser determinada pelo tipo de cliente e
sua língua, estes imigrantes usam o Português como meio de socialização.
Reconhecendo que existem poucas diferenças culturais entre estes e as
populações nativas, há uma tendência de mistura entre estes. Alguns
imigrantes deste grupo têm amigos que são nativos e na comunicação com
estes escolhem a língua portuguesa. Neste caso o Português serve como
língua de integração social do imigrante e permite alargar a sua rede de
relações para além dos negócios.
Do ponto de vista fonético/fonológico, estes imigrantes vão
introduzindo pequenas alterações à língua portuguesa falada localmente que
se notabilizam ao nível da prosódia (acento e sotaque). Portanto, ainda é
cedo para determinar o grau de influência que as suas línguas maternas
podem introduzir na aprendizagem do Português.
Quanto aos aspectos gramaticais, notámos que há uma preocupação por
parte destes imigrantes em dominar as estruturas morfológicas e sintácticas
da língua através de um contacto frequente com gramáticas e outros
materiais de apoio disponíveis em Português e Inglês. Porém, não foi
possível ter um contacto muito profundo com estes devido ao movimento
frequente dos clientes nas horas em que estivemos em contacto, mas
acreditamos que pelo facto de estarem em Maxixe há mais de cinco anos já
possuem um domínio oral aceitável da língua portuguesa.
O segundo grupo por nós entrevistado era composto por 8 imigrantes
somalianos. Diferentemente do primeiro grupo, estes dedicam-se aos serviços
de restauração, mercearia e talho. Espalhados um pouco por toda a cidade,
foi difícil determinar o número de imigrantes oriundos da Somália em Maxixe
por falta de registo das autoridades competentes, para além de existirem
vários imigrantes ilegais desta nacionalidade. Muitos destes imigrantes
entram em Moçambique como refugiados de guerra e poucos são os que possuem
o DIRE.
Este grupo é recente em Maxixe, a sua presença não tem mais que cinco
anos. Portanto, a escolha linguística para este grupo será orientada de
forma diferente que o primeiro. A lingua usada na maior parte dos domínios
é o Somali, em casa, no trabalho, com os amigos e parentes.
Este grupo tem pouco domínio do Inglês, pois no seu país de origem as
línguas oficiais são o Somali e Árabe, sendo que o Inglês é aprendido na
escola como disciplina a partir do ensino secundário. Portanto, nos
domínios caseiros o Somali é a língua preferencial, mesmo no serviço quando
comunicam-se com um patrício usam o Somali. Apesar das grandes dificuldades
que este grupo apresenta na comunicação oral em Português, no domínio dos
negócios a língua oficial adoptada em Moçambique é o único meio através do
qual se estabelecem as relações comerciais.
A escolha da lingua depende do tipo de cliente que frequenta o
estabelecimento comercial. No domínio de restauração, há um imigrante que
consegue comunicar-se em Inglês com os clientes que dominam esta língua. Os
outros imigrantes são forçados a usar o Português com todos os tipos de
clientes e com os trabalhadores moçambicanos. Relativamente aos negócios da
mercearia e talho, os clientes que não dominam a língua portuguesa são
obrigados a usarem o Português ou apenas a comunicarem-se com os outros
trabalhadores nativos em línguas moçambicanas.
O Português falado por este grupo revela uma série de lacunas e erros,
típicos de um Português mal falado. A maior parte destes erros são de
natureza fonético-fonológica, resultantes do grande distanciamento entre o
sistema fonológico das línguas Somali e Árabe, por um lado, e o Português,
do outro. Estas divergências assinaláveis resultam em interferências
negativas ao nível fonológico, morfológico e semântico na língua
portuguesa, daí que os falantes do Português devem fazer muito esforço para
perceber o que é dito pelos imigrantes.
Portanto, o esforço dos dois grupos de imigrantes em falar o Português
revela que esta língua tem vindo a reforçar o seu status socioeconómico,
passando de língua oficial à língua dos negócios (não apenas grandes
negócios e formais, mas também informais). Se o Inglês pode ser considerado
ao nível da SADC como língua com maior prestígio em relação ao Português,
em contextos minoritários como os que envolvem os imigrantes esta língua
assume maior prestígio que as outras concorrentes (Inglês e outras línguas
bantu).
Apesar do reforço do status do Português no seio das comunidades
imigrantes e na cidade de Maxixe em geral, no domínio das transações
comerciais, constatámos que a língua portuguesa funciona como motor de
integração social para os imigrantes dos Grandes Lagos. Estes fazem amigos
entre os nativos, ampliando as redes de relações sociais, o que facilita a
cooperação e acelera a compreensão mútua no seio da rede. O mesmo não
acontece com os imigrantes somalianos, pois a falta de domínio do Português
pode ser factor de exclusão social, uma vez que estes restringem as suas
redes de relações apenas com os seus patrícios, o que funciona como
barreira que dificulta a penetração na rede àqueles que não seguem as
mesmas convenções linguísticas que estes.
Com efeito, a observação feita ao longo deste estudo revela que as
diversas redes de relações sociais (desde os negócios às amizades pessoais)
reforçam a escolha do Português em relação às línguas autóctones. No
processo de mudança linguística que está ocorrendo em Moçambique em geral,
a presença de comerciantes imigrantes reforça a mudança sócio-simbólica do
Português que passa a ser uma língua viável para os pequenos negócios num
ambiente multilinguístico. A mudança linguística levará um tempo a
notabilizar-se, mas acreditamos que das alterações fonológicas possa-se
chegar à incorporação de novos traços lexicais resultantes de empréstimos.









Referência bibliográfica


Appel, René e Muysken, Pieter. (1987) Language Contact and Bilingualism.
London: Eduard Arnold.


Firmino, Gregório. ( 2002). "A Questão Linguística" Na África pós-colonial:
O Caso do português e das línguas Autóctones em Moçambique. Maputo:
PROMÉDIA.


Gonçalves, Perpétua. (2000) "Dados para a História da Língua Portuguesa em
Moçambique".


Instituto Nacional de Estatística. Censo Geral da População e Habitação de
2007. Moçambique.


Namburete, Salvador. (2002). Economia Internacional. Maputo: CEEI/ISRI.


Ngunga, Armindo e Sitoe, Bento. (2000). Relatório do II Seminário Sobre a
Padronização da Ortigrafia de Línguas Moçambicanas. Maputo: NELIMO.


Spolsky, Bernard. (1998). Sociolinguistis. Oxford: Oxford University Press.



Apêndice

Guião de entrevista

"Caro cidadão, esta é uma pesquisa de natureza académica que "
"investiga os usos linguísticos. Gostaria de trocar algumas "
"experiências consigo sobre o uso que faz das línguas no seu "
"cotidiano. Agradeço pela compreensão e tempo dedicado a esta "
"conversa. "


1. Informação geral

Formação académica:
Província e país onde nasceu:
Localidade e província onde vive actualmente:
Pessoas com quem vive:
Data de chegada ao local onde vive actualmente:




2. Informação relativa às Línguas faladas pelos imigrante

1. Quais são as língua(s) que fala:
2. Língua (s) falada (s)
Em casa com os parentes:
Com os amigos:
Com os clientes (nativos de Maxixe):
Com os clientes (não nativos):
3. Em que língua gosta mais de falar?
4. Qual é a língua que facilita a interacção com os clientes?
5. Gosta de aprender Português?
6. Quando fala em Português, faz-se entender?
7. Fala Português fora do estabelecimento comercial?

Com quem?


8. Qual é a importância de usar o Português nos negócios?








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[1] Segundo Ngunga e Sitoe (2000) existem cerca de 17 línguas bantu
faladas no território moçambicano.

[2] As línguas bantu com maior expressividade em Maxixe são
nomeadamente Gitonga, Citshwa, Cicope e outras línguas fronteiriças como o
Ndau e Xichangana.

[3] O falante usa a variante ou língua que o ouvinte percebe melhor.

[4] Neste caso, o falante maximiza as diferenças linguísticas para
dificultar a comunicação ou acentuar questões identitárias.

[5] O conceito de diglossia apresentado por Apell e Muysken (1987) e
reformulado por Spolsky (1998) postula que quando duas ou mais línguas
dividem o domínio num determinado reportório linguístico, a variante com
maior prestígio designa-se H(igh) [Alta] e é usada em contextos formais, ao
passo que a outra com menor prestígio designa-se L(ow) [baixa] e é usada em
domínios informais. Porém, para determinar quando uma variante ou língua é
alta ou baixa não baixa considerar o contexto geral do seu uso, pois entre
Inglês e Português, a primeira seria uma língua com maior prestígio que a
segunda, mas no caso deste estudo o domínio do uso destas línguas revela a
troca do contexto de uso destas línguas.
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