LÍNGUA FRANCA NO BRASIL: INGLÊS, GLOBÊS OU INGLÊS BRASILEIRO?

July 24, 2017 | Autor: Hudson Marques | Categoria: Inglés
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Hudson Marques Silva Graduado em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru - FAFICA (2006). Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino da Língua Inglesa pela Faculdade Frassinetti do Recife - FAFIRE (2008). Professor de Língua Portugesa, Inglesa e suas Literaturas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco - IFPE - Campus Belo Jardim. E-mail: [email protected]

LÍNGUA FRANCA NO BRASIL: INGLÊS, GLOBÊS OU INGLÊS BRASILEIRO? R

ESUMO

Este trabalho propõe uma reflexão acerca dos motivos que levaram o inglês a se tornar uma língua mundial, as relações entre inglês e globês (Globish) como língua franca, as variedades do inglês no mundo, além de apresentar alguns exemplos da variedade do inglês falado no Brasil (inglês brasileiro). Concluímos que uma língua torna-se mundial pelo poder (militar, econômico, científico, cultural etc.) das pessoas que a falam. Todavia, assim como com qualquer outra língua, o inglês tem apresentado características (fonológicas, lexicais e gramaticais) que variam de acordo com cada região. Portanto, não existe um modelo uniforme de língua franca, mas variedades dela, que no Brasil chamaremos de inglês brasileiro como língua franca. Palavras-Chave: Língua mundial. Inglês. Globês.

A BSTRACT

This work proposes a reflection on the reasons that turned English a world language, the relationships between English and Globish as a lingua franca, the varieties of the English in the world, besides presenting some examples of Brazilian spoken English variety (Brazilian English). It is concluded that a language becomes a world language due to the (military, economic, scientific, cultural etc.) power of people who speak it. However, as any other language, English has presented its (phonological, lexical and grammatical) varieties which accord to each region. Therefore, there is not a singular model of lingua franca, but varieties of it, which in Brazil will be called Brazilian English as a lingua franca. Keywords: Worldwide language. English. Globish.

Língua franca no brasil: inglês, globês ou inglês brasileiro?

Nos últimos anos, o estudo da língua inglesa

que vem ocorrendo com as línguas ao longo da

tem angariado considerável visibilidade, passando a

história. O grego representou a língua da

fazer parte do cotidiano de estudantes no Brasil e no

globalização cultural helênica na antiguidade, o latim

mundo, pois esse idioma tem representado,

foi utilizado como língua de comunicação

sobretudo com a globalização, um instrumento de

internacional durante o domínio do império romano

comunicação mundial. Muitos países já o adotam

e da igreja católica na idade média, o francês já foi

como primeira língua estrangeira, ao mesmo tempo

uma língua internacional, chegando ao seu ponto

em que ele é utilizado como língua franca na

máximo no século XVII, período em que era a língua

produção de trabalhos científicos e na

utilizada em quase toda a Europa.

comercialização internacional.

Diferentemente da tradição gramatical, que

Por essa e outras razões, a grande maioria das

tem a língua como algo estático, a lingüística a encara

escolas públicas e privadas brasileiras adota o inglês,

como um instrumento comunicativo dinâmico,

na educação básica, como língua estrangeira

portanto, volátil. Nessa ótica, o processo de

moderna, cabendo ainda ressaltar que o número de

mundialização pelo qual determinada língua pode

cursos de idiomas instalados no país vem crescendo

passar deve ser visto no âmbito da

em ritmo acelerado face às novas exigências do

internacionalização de um instrumento capaz de

mercado nacional.

facilitar as inter-relações entre diversos povos. Com

Partindo de uma perspectiva crítica,

efeito, não se considera a noção de língua “certa” e

estudiosos das ciências humanas como a sociologia,

“errada”, uma vez que não devem existir hierarquias,

a antropologia, a história, entre outras, tendem a

em que um idioma (ou uma variedade dele) é

levantar questionamentos (bastante pertinentes)

considerado melhor, mais correto ou mais bonito do

quanto às vantagens e desvantagens trazidas pela

que o outro.

inserção da língua inglesa no cotidiano de países

A partir dessas premissas, este trabalho discute

culturalmente distintos. Esse fenômeno pode ser

sobre as possíveis razões que levaram a língua inglesa

encarado como uma imposição (ou invasão)

a se tornar uma língua mundial, representando a

político-cultural dos países que possuem o inglês

língua mais utilizada em eventos internacionais, bem

como língua nativa, o que pode acarretar na

como na internet. Para tanto, serão levados em

padronização de práticas culturais tidas como

consideração fatores lingüísticos e históricos. Em

modelos ideais (etnocentrismo) a serem seguidos em

seguida, serão propostas reflexões e definições sobre

detrimento das variedades culturais de cada povo.

as relações entre o inglês e o globês (Globish) como

Por outro lado, do ponto de vista da

línguas francas, as variedades da língua inglesa no

linguística, tal fenômeno é visto como um processo

mundo e serão apresentados alguns exemplos

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(fonológicos, lexicais e gramaticais) da variedade do

também se mostram bastante reduzidas, chegando a

inglês brasileiro.

apresentar apenas uma forma para todos os sujeitos em alguns tempos verbais, o que supostamente

1 POR QUE O INGLÊS TORNOU-SE UMA LÍNGUA MUNDIAL?

levaria falantes de outras línguas a aprendê-la com rapidez e facilidade. Todavia, a língua latina, diferentemente do

O termo língua mundial é empregado neste

inglês, possui uma enorme quantidade de flexões nas

trabalho para caracterizar um idioma falado por uma

palavras. Em latim, além da enorme variedade de

grande quantidade de pessoas em todo o mundo que

flexões verbais, que concordam com cada sujeito, os

o utiliza como um meio de efetiva comunicação

substantivos e os adjetivos recebem diferentes

internacional, o que faz com que seja adotado como

desinências de acordo com sua função na frase, isto

primeira língua estrangeira a ser ensinada nas escolas.

é, para indicar se é um sujeito, um objeto direto, um

Nessa perspectiva, a língua inglesa tem se adequado a

objeto indireto, um adjunto, e assim por diante.

essa definição, uma vez que “[...] aproximadamente

Contudo, o latim já foi uma língua mundial, como

um quarto da população mundial é capaz de se

destaca Barros (2005):

comunicar em um nível eficaz do inglês.”

nas terminações das palavras). Como se sabe, o

[...] o latim começa a espalhar-se por toda a Europa dominada pelos romanos para se tornar a língua da cultura cristã no Ocidente. O latim era a língua oficial da Igreja Católica Romana, da literatura e das ciências. O pensamento dos grandes cérebros da Idade Média operou por séculos em latim e fixou-se em obras escritas na língua latina. Todas as obras importantes da Filosofia e da Ciência, entre 800 e 1700, em todo o Ocidente, foram escritas em latim.

inglês não apresenta desinências para adjetivos,

Se isso é verdadeiro, que razão teria levado

artigos, pronomes demonstrativos, entre outras

uma língua tão “complexa” quanto o latim a alcançar

palavras, concordarem em gênero e número com os

tamanha repercussão? Esse questionamento

substantivos (concordância nominal), pois tais

remete-nos às palavras do lingüista britânico David

palavras permanecem invariáveis. As flexões verbais

Crystal (2005, p. 23) que diz: “Uma língua se torna

(CRYSTAL, 2006, p. 425, tradução nossa).1 Esse dado constata que nunca uma língua foi falada por tantas pessoas como tem ocorrido com o inglês nos últimos tempos. No que diz respeito aos motivos que levaram o inglês a alcançar essa posição, uma opinião um tanto desatenta, mas que tem sido frequentemente difundida, é a de que se trata de uma língua fácil, simples – por apresentar poucas flexões (variações

1

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Original: “[...] approximately one in four of the world's population are now capable of communicating to a useful level in English.”

Língua franca no brasil: inglês, globês ou inglês brasileiro? popular tiveram origens da língua inglesa, começando com a empresa americana Columbia (de 1898). (tradução nossa).

mundial por uma razão apenas – o poder das pessoas que a falam.” Isto é, assim como o grego, o latim e o francês um dia já foram línguas mundiais, o inglês angariou tais dimensões pelo poder – militar,

Portanto, uma língua não se torna mundial

econômico, científico, cultural etc. – que esses povos

simplesmente por ser considerada adquirível com

atingiram.

facilidade, mas pelas relações de poder impostas

Além das colonizações, que levaram o inglês

pelos povos que a falam, o que faz da língua,

como primeira língua a países como a Nova

também, um sinal de imperialismo. Entretanto,

Zelândia, a África do Sul, alguns países do Caribe, a

assim como se sabe que o latim foi se modificando

Austrália e a uma variedade de outros territórios; a

estrutura e fonologicamente com o passar do tempo,

globalização (comercial, cultural e tecnológica) fez

apresentando tamanha variedade que deu origem a

com que muitos países utilizassem esse idioma como

outras línguas – as línguas neolatinas: o francês, o

meio de comunicação internacional.

espanhol, o italiano e o português –, a língua inglesa,

O grande primeiro passo para o inglês tornar-

por sua vez, também tem apresentado características

se uma língua mundial foi a Revolução Industrial

peculiares variáveis de acordo com cada região,

ocorrida na Inglaterra no século XVIII, quando o

como será discutido nas seções seguintes.

inglês era a língua usada pelos criadores dessa revolução e por todos os envolvidos no trabalho que, mais tarde, seria proliferado em outros países. Em

2 INGLÊS OU GLOBÊS COMO LÍNGUA FRANCA?

seguida, houve a forte ascensão econômica (capitalista) e cultural (música, cinema, TV, entre

Com o intuito de facilitar a comunicação

outros) dos Estados Unidos da América, a partir do

internacional, foram muitas as tentativas (frustradas)

final do século XIX e durante o século XX. Como

de tornar o esperanto (língua artificial criada pelo

2

exemplo disso, Crystal (2006, p. 430) sublinha que: Quando em 1877 Thomas A. Edison projetou a vitrola, a primeira máquina que podia tanto gravar quanto reproduzir som, as primeiras palavras a serem gravadas foram 'What God hath wrought', [...] Todas as grandes gravadoras de música

filólogo Ludwik Lejzer Zamenhof em 1887) a língua franca do século XX. Entretanto, por relações de poder, como visto na seção anterior, foi o inglês que acabou recebendo essa função. A expressão língua franca é utilizada para se referir a “[...] uma língua para a comunicação rotineira entre (grupos de) pessoas que possuem línguas maternas diferentes.”

2

Original: “When in 1877 Thomas A. Edison devised the phonograph, the first machine that could both record and reproduce sound, the first words to be recorded were 'What God hath wrought', […] All the major recording companies in popular music had English-language origins, beginning with the US firm Columbia (from 1898).”

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(CARTER; NUNAN, 2005, p. 223, tradução nossa)3. Essa definição também é corroborada por Jenkins

tradução em português) ou pelo site http://www.jpn-globish.com/, nos quais ele sugere

(2006, p. 160, tradução nossa)4.: “[…] em seu aspecto

o globês como língua franca. Nessa proposta, o

mais legítimo, o inglês como língua franca é definido

vocabulário apresenta-se um tanto limitado,

como uma língua usada para a comunicação apenas

havendo substituições de expressões como the son of

entre falantes de línguas diferentes.” utilizada por tantos falantes estrangeiros como

my brother (o filho do meu irmão) no lugar de my nephew (meu sobrinho), that thing where we wash the hands (aquela coisa com a qual lavamos as mãos) no

língua franca seria uniforme, ou seja, tratar-se-ia de

lugar de faucet (torneira) e assim por diante. Esse seria

uma mesma língua? Trabalhando nos Estados

um caminho para realizar a comunicação, mesmo

Unidos, o francês Jean-Paul Nerrière percebeu que,

que o falante não retenha um vocabulário vasto ou

ao se comunicar com falantes não-nativos da língua

específico.

Uma questão que surge é: a língua inglesa,

inglesa, conseguia estabelecer uma melhor

De qualquer modo, assim como a língua

comunicação do que com os próprios nativos, uma

inglesa tendeu a se modificar entre os falantes

vez que a variedade linguística falada por eles

estrangeiros, formando, assim, uma outra língua (o

diferenciava-se do inglês-nativo (tanto na pronúncia

globês), o mesmo fenômeno deve ocorrer com esta,

quanto na estrutura). A partir de então, Nerrière

pois a tentativa de uma língua universal uniforme

notou que a língua que falavam não era o inglês (tal

parece ser sempre frustrada, já que as línguas, como

qual o falado pelos nativos), mas uma outra língua

veremos a seguir, variam de acordo com as

parecida, a qual ele chamou de globês (Globish). Essa

necessidades de cada região.

terminologia (Globish, que vem de globo, global) é usada para identificar a variedade do inglês falada

3 VARIEDADES DO INGLÊS NO MUNDO

por estrangeiros para a comunicação global. Suas principais características são: a) a comunicação

Um fenômeno que comumente ocorre com

através das 1500 palavras mais freqüentes da língua

qualquer língua ao longo do tempo é chamado de

inglesa e b) uma pronúncia baseada na inteligibilidade (conseguir entender e ser entendido),

variedade linguística. Trata-se das diferenças que surgem tanto na pronúncia quanto na estrutura de

e não na perfeição (GRZEGA, 2006).

uma língua, a qual varia de acordo com cada

As idéias de Nerrière são divulgadas em seu

comunidade lingüística. Esse fenômeno acontece

livro Don't speak English, parlez Globish (ainda sem

porque “As palavras novas tendem com freqüência a

3

4

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Original: “[…] a language for routine communication between (groups of) people who have different L1s.” Original: “[...] in its purest form, ELF is defined as contact language used only among non-mother tongue speakers”.

Língua franca no brasil: inglês, globês ou inglês brasileiro?

ser usadas dentro da comunidade local, exatamente

pertence a todo o mundo. Nesse aspecto, a língua

porque elas dizem respeito a noções distintas ali.”

não deveria ser encarada como um meio de

(CRYSTAL, 2005, p. 38). Cada região possui

dominação ou imposição dos países hegemônicos,

palavras específicas para nomear plantas, animais,

mas, sobretudo, como um instrumento dinâmico

comidas, costumes, política, esportes, dentre outros

que pode facilitar a comunicação e relações entre os

elementos que são próprios da cultura local. Nessa

países, inclusive de línguas distintas. Dentro de um

perspectiva, “O termo idioma designa com muita

ponto de vista lingüístico, trata-se de um processo

precisão a língua como algo que reflete os traços

natural que ocorre e sempre ocorrerá com qualquer

próprios de uma comunidade (o grego idioma já

língua ao longo da história.

tinha o sentido de 'costume especial').” (SAUSSURE, 2006, p. 221).

No que tange às variedades do inglês, Crystal (2008) nos traz alguns exemplos de como as

Com efeito, não poderia ser diferente com a

variedades locais do inglês podem influenciar na sua

língua inglesa. Mesmo sendo legítima a observação

compreensão. No inglês da África do Sul, é natural

de Narrière segundo a qual a língua falada por ele e

uma frase como “The bakkie had to stop at a red robot”

seus interlocutores estrangeiros não era o inglês dos

(O caminhão teve que parar no sinal vermelho), em

nativos, essa variedade – que ele chamou de globês

que foram utilizadas as palavras bakkie no lugar de

(Globish) – também não se apresenta de modo uniforme. A partir daí, pode-se dizer que não existe o

truck (caminhão) e robot no lugar de trafficlight (sinal, semáforo), que são mais comuns em outras

inglês ou o globês como língua franca, mas ingleses ou

variedades do inglês. Milhares de palavras como

globeses. “O que acontece quando um grande número de pessoas adota o inglês em um país? Elas

essas são apresentadas no Dictionary of South African English (Oxford) de Jean e William Branford.

desenvolvem um inglês próprio. Existem agora

Para compreender uma frase como “His watch

muitas variedades novas de inglês falado se desenvolvendo ao redor do mundo, em países como

was more Petticoat Lane than Bond Street” (O relógio dele estava mais para Petticoat Lane do que para Bond Street)

Índia, Cingapura e Gana.” (CRYSTAL, 2005, p. 35).

faz-se necessário conhecer um pouco sobre Londres

Portanto, a língua inglesa não é mais o idioma

e saber que Petticoat Lane é uma rua onde os relógios

da Inglaterra ou dos Estados Unidos, uma vez que

são mais baratos e, provavelmente, falsificados,

“Quanto mais uma língua se torna nacional, depois internacional e por fim global, mais ela cessa de ser

enquanto Bond Street trata-se de um centro de compras muito caro.

propriedade dos que a originaram.” (CRYSTAL,

Tais fenômenos ocorrem em qualquer

2005, p. 56). Assim, o inglês tornou-se uma língua

variedade do inglês no mundo. Por isso que “Os

franca (léxica e gramaticalmente variável) que

professores e seus alunos, muitos já concordam,

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precisam aprender não (uma variedade do) inglês,

Vocabulário: o emprego de falsos cognatos (palavras

mas ingleses, suas semelhanças e diferenças,

aparentemente semelhantes, mas diferentes no significado) como college (faculdade) por colégio,

questões ligadas à inteligibilidade, o forte elo entre língua e identidade, e assim por diante.” (JENKINS, 5

2006, p. 173, tradução nossa) .

expert (especialista) por esperto, library (biblioteca) por livraria, parents (pais) por parentes etc. A polissemia divergente faz com que o inglês possa ter

4 O INGLÊS BRASILEIRO O linguista Carl James (1988) chamou de Brazilianisms (brasilianismos) – a maneira como a língua portuguesa interfere no inglês falado no Brasil

duas ou três palavras com o mesmo significado ou com significados diferentes enquanto o português possui somente uma como em rob/steal (roubar); as/like/as if (como); till/until/by/as far as (até) e assim

(também chamado de interlíngua), ou seja, as

por diante. Gramática: omissões de termos como em The study of

peculiaridades que caracterizam a variedade do

(the) English language is hard (O estudo da língua inglesa

inglês brasileiro causadas pela interferência

é difícil) e I want (to) go now (Eu quero ir agora), nas quais o artigo definido 'the' e a partícula de infinitivo

fonológica e estrutural da língua portuguesa. A maioria dos exemplos que serão apresentados foi extraída dos resultados da pesquisa desse autor e

'to' são omitidos. Há também a redundância, como nas frases Niteroi is (more) cleaner than Rio (Niteroi é

estão divididos em:

mais limpa que o Rio), em que o comparativo de superioridade 'more' não precisaria ser utilizado por já

Fonologia: tendência de substituir os sons de vogais puras como em sheep (/∫ i:p/) por ship (/∫ Ip/), pool

se encontrar na desinência 'er' em 'cleaner' e We changed (of) place quickly (Nós mudamos de lugar

(/pu:l/) por pull (/pul/), pat (/pæt/) por pet (/pet/) e assim sucessivamente. Substituição de sons nos

rapidamente), em que a preposição 'of' já está implícita no verbo 'changed'. Troca na ordem das palavras como em What would have Adam thought? (O

ditongos como em hair (/heůr/) por he (/hi:/) e fear (/fIůr/) por fee (/fi:/). A palatização, que confunde o som de palavras como dear (/dIůr/) por jeer (/dZIůr/)

que Adam teria pensado?) e Will be my wife chosen by my family? (Minha esposa será escolhida por minha

e tease (/ti:z/) por cheese (/t∫ i:z/), além da nasalização das vogais antes de 'm' e 'n' como em home

família?) nas quais os verbos 'have' e 'be' deveriam aparecer após os sujeitos 'Adam' e 'my wife'.

(/hůum/), que é pronunciada /hům/ e phone (/fůun/), pronunciada /fůn/.

Essas foram apenas algumas características

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Original: “Teachers and their learners, it is widely agreed, need to learn not (a variety of) English, but about Englishes, their similarities and differences, issues involved in intelligibility, the strong link between language and identity, and so on.”

Língua franca no brasil: inglês, globês ou inglês brasileiro?

do inglês brasileiro, que consiste na língua franca que

Este trabalho propôs uma reflexão sobre a

está sendo utilizada no Brasil. No que se refere aos

língua inglesa e suas variedades como língua franca.

aspectos fonológicos, o linguista Luiz Paulo da

Verificamos que o poder (militar, político,

Moita Lopes (2006, p. 130) acredita que

econômico, cultural, entre outros) imposto pelos povos representa um fator decisivo para a utilização

[...] só uma pequena minoria da população terá a chance de usar inglês como meio de comunicação oral tanto dentro como fora do país. Além disso, não há empregos (de intérpretes, recepcionistas etc.) suficientes no mercado brasileiro para os quais o desempenho em habilidades orais em LE seja necessário.

Partindo dessa perspectiva, os falantes e estudantes do inglês brasileiro deveriam ter como principal objetivo o aprendizado da leitura e escrita (inglês instrumental), pois o autor completa que: “[...] os únicos exames formais de LE, em nível de graduação e pós-graduação, envolvem nada mais que o domínio de habilidades de leitura.” (LOPES, 2006, p. 131). De certo modo, a observação de Moita Lopes é verdadeira, porém, esse cenário certamente será modificado, tendo em vista a rápida propagação das variedades do inglês como língua franca em torno do mundo. Em um futuro breve, o inglês brasileiro provavelmente será mais utilizado no âmbito oral. Por isso, não se deve abandonar o desenvolvimento das várias habilidades da língua (leitura, escrita, fala, audição, diferenças culturais, variedades linguísticas, dentre outras). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

de um idioma como língua mundial. Esse fato tem ocorrido com a língua inglesa, que, em princípio, representava a língua dos Estados Unidos e da Inglaterra, mas que, com a sua vasta utilização e variedades ao redor do mundo, deixa de pertencer àqueles que a originaram. Um exemplo disso é que o número de não-nativos falantes do inglês no mundo é maior que dos próprios nativos. Embora haja uma crítica (fundamentada) contra a “imposição” do inglês como língua franca, representando um sinal do imperialismo, a lingüística mostra que há uma tendência natural na modificação das línguas, a qual afetará (e já tem afetado) o inglês de tal forma que dará origem a outras línguas. Esse mesmo fenômeno ocorreu com várias outras línguas como o sânscrito, o latim, línguas germânicas (das tribos Angle e Saxon que originaram o próprio inglês) etc. Constatamos que o inglês utilizado como língua franca por falantes estrangeiros do mundo inteiro não é o inglês-nativo nem o globês, como sugeriu Narrière, mas variedades da língua inglesa que atendem às necessidades próprias de cada região, oferecendo um léxico específico para elementos culturais locais e uma pronúncia influenciada pela língua materna de cada comunidade. Essas variedades são como espécies de dialetos locais que

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certamente tornar-se-ão tão distintos entre si que deixarão de ser entendidos. Portanto, apresentamos a variedade do inglês falado no Brasil, à qual chamamos de inglês brasileiro. Defendemos a idéia de que o principal foco da língua consiste na comunicação. Sendo assim, o inglês brasileiro deve ser baseado na inteligibilidade (conseguir entender e ser entendido) e não na reprodução fiel de padrões americanos ou ingleses. Muitas escolas de idiomas oferecem cursos de inglês com o equivocado slogan de que lá se ensina inglês americano ou britânico, quando de fato o que se aprende é o inglês brasileiro, uma vez que até o inglês falado nos Estados Unidos e na Grãbretanha apresenta uma enorme variedade fonológica, lexical e estrutural. Nessa perspectiva, os falantes e estudantes do inglês brasileiro deveriam se concentrar na utilização de um inglês brasileiro eficaz, que seja capaz de se inter-relacionar com falantes de todo o mundo, atentando para as diferenças socioculturais e estabelecendo um melhor entendimento para a construção de um mundo melhor para todos. REFERÊNCIAS BARROS, Carmen Dolores Branco do Rego. As línguas através dos tempos. Rio de Janeiro: PUC, 2 0 0 5 . D i s p o n í v e l e m : Acesso em: 06 Set. 2008. CARTER, Ronald; NUNAN, David. (Eds.) The Cambridge guide to teaching English to

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speakers of other languages. Cambridge: CUP, 2005. CRYSTAL, David. A revolução da linguagem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. ______. English worldwide. In: HOGG, R.; DENISON, D. (Eds.) A history of the English language. Cambridge: CUP, 2006. p. 420-439 ______. Local Englishes . Disponível em: Acesso em: 06 Set. 2008. GRZEGA, Joachim. Globish and basic global English (BGE): two alternatives for a rapid acquisition of communicative competence in a globalized world? Journal for EuroLinguistiX 3, 2006. Disponível em: Acesso em: 06 Set. 2008. JAMES, Carl. What's wrong with Brazilian English? Niteroi, RJ: UFF, 1988. JENKINS, Jennifer. Current perspectives on teaching world Englishes and English as a lingua franca. TESOL Quartely, v. 40, n. 1, p. 157181, mar. 2006. LOPES, Luiz Paulo da Moita. Oficina de lingüística aplicada : a natureza social e educacional dos processos de ensino/aprendizagem de línguas. São Paulo: Mercado das Letras, 2006. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. 27 ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

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