Linguagem, alteridade e violência na perspectiva de Derrida

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Nina S. v. O. Gaul

Linguagem, alteridade e violência na perspectiva de Derrida

Área de pesquisa: Desconstrução ÉTICA E FILOSOFIA POLÍTICA

Rio de Janeiro Setembro de 2016

Linguagem, alteridade e violência na perspectiva de Derrida

Introdução

O que a impossibilidade do outro, através do pensamento da desconstrução, tem a ver com a metafísica tradicional? A desconstrução expõe o problema da alteridade como algo não pensado nas construções clássicas. O que podemos ver é o edifício da metafísica e suas instituições universalistas (totalitárias), em que as construções mais caras – também à Filosofia – são abaladas em suas estruturas pretensamente originárias. É na língua e na linguagem que Derrida vai mostrar o sistema de diferenças como possibilidade de deslocamento das fibras rígidas da metafísica tradicional, e é em nome do outro (impossível) que ele o faz.

Em “O Monolinguismo do Outro ou a Prótese de Origem”, Derrida expõe algo de sua própria história e experiência como cidadão judeu franco-argelino nos anos da Segunda Guerra Mundial. O “monolinguismo do outro”, é o termo com o que ele nomeia a sua morada, o seu lugar de habitação. Não é uma questão ou uma opção, Derrida diz, mas sim um “meio absoluto”, inultrapassável e incontestável; ele não pode recusá-lo. (DERRIDA, 1996, p. 14) Nos diálogos de abertura do texto, Derrida confia ao interlocutor:

À beira do francês, unicamente, nem nele nem fora dele, na linha inencontrável da sua costa que, desde sempre, para sempre, eu me pergunto se se pode amar, fruir, suplicar, rebentar de dor ou muito simplesmente rebentar noutra língua ou sem mesmo nada dizer a ninguém, sem falar sequer. Mas

antes de tudo, eis o duplo gume de uma lâmina afiada que gostaria de te confiar, quase sem palavras, eu sofro e fruo com isso que te digo nossa língua dita comum: Sim, eu não tenho senão uma língua, ora ela não é minha.” (DERRIDA, 1996, p. 14; 15).

O interlocutor protesta: “dizes o impossível”. (DERRIDA, 1996, p. 15). Os diálogos transcorrem em meio às acusações que passam por “uma contradição lógica acrescida de uma contradição pragmática ou performativa”, até pelo cepticismo, relativismo, niilismo. Implicado na afirmação “sim, eu não tenho senão uma língua, ora ela não é minha” (DERRIDA, 1996, p. 14), Derrida então, empenha-se em demonstrar a sua “contradição performativa”. Com efeito, ele pede permissão para “demonstrar” que essa palavra, “demonstrar”, também quer dizer outra coisa – e que é exatamente essa outra coisa, este outro sentido, esta outra cena da demonstração que interessa a ele. (DERRIDA, 1996, p. 18).

A afirmação ou mesmo depois a da contradição pode ser vista como um primeiro aspecto importante do pensamento de Derrida. O “meio absoluto” de que fala, que é a “monolíngua do outro”, a sua língua que não é sua, é a contradição originária, essencial, como um “primeiro sim” que lhe invade, sendo mais íntimo a ele, Derrida, do que ele mesmo, enquanto sujeito auto-idêntico. Contradição originária, porque se dá a si mesma, essa ipseidade anterior que vem do outro é constitutiva do sujeito; aqui acontece o fenômeno da alteridade. Essa relação com o “outro”, na língua, é o jogo da diferença que interessa ao pensamento de Derrida. A tensão que constitui a “borda da

língua”, não estar na língua e também não estar fora dela, estar sempre às margens da língua, diz respeito à própria condição humana.

A escritura e a estratégia desconstrucionista

Derrida comenta no início de “Gramatologia” sobre uma iminente transformação do problema da linguagem que, no decorrer da cultura ocidental, acabou se consolidando como “o horizonte mundial das mais diversas pesquisas e dos discursos mais heterogêneos em intenção, método e ideologia”. Trata-se, precisamente, da emancipação da escritura que, até então, sempre fora considerada como um domínio derivado, restrito, uma mera extensão ou simples apêndice da linguagem.” (DUQUEESTRADA, 2002. p. 9)

Ora, por um movimento lento cuja Necessidade mal se deixa perceber, tudo aquilo que – há pelo menos uns vinte séculos – manifestava tendência e conseguia finalmente reunir-se sob o nome de linguagem começa a deixar-se deportar ou pelo menos resumir sob o nome de escritura. Por uma Necessidade que mal se deixa perceber, tudo acontece como se – deixando de designar uma forma particular, derivada, auxiliar da linguagem em geral (entendida como comunicação, relação, expressão, significação, constituição do sentido ou pensamento, etc.), deixando de designar a película exterior, o duplo inconsistente de um significante maior, o significante do significante – o conceito de escritura começava a ultrapassar a extensão da linguagem. (DERRIDA, 2013. p. 15; 16)

Derrida está chamando atenção para o jogo dos signos e sua lógica. Tudo acontece como se o conceito ocidental de linguagem se revelasse hoje como a forma ou a deformação de uma escritura primeira: mais fundamental do que a que, antes desta conversão, passava por um mero “suplemento da fala” (Rousseau). Essas escrituras, que antes definiam a reduplicação acidental e a secundariedade decaídas, agora descrevem, ao contrário, o movimento da linguagem, onde o significado é afetado, desde sempre, pelo jogo das remessas significantes. (DERRIDA, 2013. p. 8; 9)

Paulo Cesar Duque-Estrada, em seu artigo recente “Para além dos rastros os rastros: escritura e desconstrução da linguagem” (DUQUE-ESTRADA, 2016. p. 13) comenta os dois momentos de uma “lógica da derivação” intrínseca ao próprio conceito de linguagem. Num primeiro momento, a palavra falada, pronunciada, atua como significante principal, pois ela está mais próxima da origem do sentido e do significado, a função dela é expressar o sentido. Derrida diz que sentido e palavra falada, origem e sua expressão imediata, são inseparáveis e constituem a essência da linguagem. Num segundo momento, a palavra falada, significante principal, pode ser fixada em uma forma escrita, atuando assim como um significante secundário. Isto porque, enquanto palavra escrita, ela já está mais afastada da origem, isto é, do sentido; ela se relaciona apenas com a palavra falada. Ela passa a ser agora um significante do significante. Essa desconexão com a origem que é intrínseca à palavra escrita faz com o que ela seja algo facilmente e perigosamente espalhável, para além do contexto em que o sentido foi originalmente proferido. (DUQUE-ESTRADA, 2016. p. 15). As formas escritas são concebidas como “reduplicações acidentais”, “secundariedade decaída”, e esta é justamente a característica “fonologocêntrica” da metafísica. Deste vínculo entre voz e sentido, Derrida observa que a voz da verdade é

sempre a voz da lei, de Deus, do pai. (DUQUE-ESTRADA, 2002. p. 18). Após demonstrar que todo o significado é um constructo, Derrida desconstrói então a própria ideia de “significado”, por simples cautela, para evitar o retorno a qualquer suposta presença ou pretensão de presença de um sentido original, absoluto. Exigindo assim que se mantenha uma permanente vigília crítica quanto a esta possibilidade de tal retorno. Em verdade o que há, de acordo com Derrida, são remetimentos à significantes, sem que estes se estanque no significado. Assim o que há é a relação dos significantes com outros significantes que Derrida irá chamar de “rastros”. (DUQUE-ESTRADA, 2016. p. 16; 17)

Aliás, é nesta perspectiva que Derrida chama atenção para o sistema de representação gráfica disponível como sobrevida, os arquivos, memórias, conceitos, textos, discursos, linguagens etc. A escritura como um sistema de representação gráfica e a sua estrutura de signos, não é somente uma condição formal, mas também um tema histórico e material da determinação do sujeito. (WOLFREYS, 2007. p. 88). Essas determinações edificadas na tradição metafísica são as estruturas brutas que a desconstrução irá denunciar.

Derrida vai demonstrar como em qualquer estrutura conceitual existe sempre o ato violento de escolha de termos, onde um conceito sempre ocupa o lugar mais privilegiado que o outro, há sempre uma hierarquia, uma imposição. Essa violência está sempre inscrita no sistema de comunicação geral. Assim, em “Posições”, Derrida vai falar de uma estratégia geral da desconstrução. ele aponta justamente para essa hierarquia intrínseca a toda e qualquer dicotomia conceitual e, consequentemente, para o que há de impositivo e conflitivo na universalidade dos conceitos. (DUQUE-

ESTRADA, 2002. p. 11). Há sempre um prejuízo sensível nas divisões conceituais, a escolha de um dos termos é violenta e reprime o termo rejeitado, por isso Derrida vai propor uma fase de inversão (dos termos) no trabalho desconstrucionista.

Insisto muito e incessantemente na necessidade dessa fase de inversão que se pode, talvez, muito rapidamente, buscar desacreditar. Fazer justiça a essa necessidade significa reconhecer que, em uma oposição filosófica clássica, nós não estamos lidando com uma coexistência pacífica de um face a face, mas com uma hierarquia violenta. Um dos termos comanda (axiologicamente, logicamente, etc.), ocupa o lugar mais alto. Desconstruir a oposição significa esquecer a estrutura conflitiva e subordinante da oposição.” (DERRIDA, 2001. p. 48)

À inversão da hierarquia dos termos soma-se uma segunda fase que lhe é inseparável: o deslocamento. Esse movimento vai inscrever um outro sistema, um outro registro discursivo. Com isso a estrutura não pode mais ser compreendida como antes. Mas não é nenhum outro discurso ou regime conceitual que interessa à desconstrução. Não é uma nova identidade ou mesmo a multiplicidade de identidades que se encontra em causa. O que interessa aqui é o processo de disseminação e não de polissemia. A polissemia apenas desdobraria os vários níveis semânticos do registro discursivo. Assim, ela manteria a plenitude de uma suposta palavra integral, plena de sentido, regulada pelo horizonte do mesmo. O processo de disseminação, por sua vez, não se deixa absorver pela esfera semântica. A força e forma de sua ação perturbadora, como diz Derrida, fazem explodir o horizonte semântico.” (DERRIDA, 2001. p. 51)

O afastamento que é inerente ao processo de disseminação, um tipo de “dispersão” – termo usado por Geoffrey Bennington em sua entrevista para “Desconstrução e Ética”, – acaba difundindo uma indecisão, pois a exposição à violência da escolha de um termo é tão forte que a estrutura abalada não tem caminho de volta e acaba provocando uma fratura exposta à razão metafísica. Derrida chama o que habita as oposições conceituais de “indecidíveis” ou “quase-conceitos”, tornando-os possíveis sem vir a construir dialeticamente um terceiro termo. (DUQUE-ESTRADA, 2002 p. 13; 14)

Indecidíveis’, isto é, unidades de simulacro, ‘falsas’ propriedades verbais; nominais ou semânticas, que não se deixam mais compreender na oposição filosófica (binária) e que, entretanto, habitam-na, opõe-lhe resistência, desorganizam-na, mas, sem nunca construir um terceiro termo, sem nunca dar lugar a uma solução na forma dialética especulativa (o pharmakon não é nem remédio nem o veneno, nem o bem nem o mal, nem o dentro nem o fora, nem a fala nem a escrita (...)(DERRIDA, 2001 p. 49; 50)

É nesta perspectiva que a acolhida dos indecidíveis e a suspensão de uma decisão proposta por um pensamento em constante deslocamento, que é o pensamento da desconstrução, detonam qualquer possibilidade de atualização de possibilidades previamente estabelecidas. Isso coloca a experiência do pensamento diante de um abismo, diante do inesperado, o que Derrida chama de por vir. Este encontrar-se diante do inesperado constitui o cerne da questão da alteridade em Derrida.

Desconstrução em movimento

O gesto da desconstrução parece traçar uma nova concepção de linguagem. Contrário às concepções metafísicas tradicionais, em que a linguagem encontra-se sempre associada – por adequação, expressão, desvelamento etc. – a uma ideia de verdade, Derrida entende a linguagem como sendo sempre linguagem do outro (do impossível). Há uma alienação natural na linguagem pois nela encontramo-nos exapropriados pelo o que vem do “outro”, na experiência da linguagem, quando estamos dando nosso testemunho. Ao darmos o nosso testemunho, ao expressarmos nossa experiência singular, já caímos na generalidade da língua, somos o refém universal no estar na língua, um estado de alienação desalienado.

(...) O que é que acontece quando alguém vem descrever uma ‘situação’ pretensamente singular, a minha por exemplo, e a descreve testemunhando-a em termos que o ultrapassam, numa linguagem cuja generalidade assume um valor de certo modo estrutural, universal, transcendental ou ontológico? Quando

o

primeiro

vindo

subentende:

‘O

que

vale

pra

mim,

insubstituivelmente, vale pra todos. A substituição está em curso, já operou, cada um pode dizer, para si e de si, a mesma coisa. Basta que me ouçam, e eu sou o refém universal. (DERRIDA, 1996, p. 34).

Derrida abala todo e qualquer processo identitário e oferece assim uma experiência em movimento, uma nova forma de escritura em processo permanente de emancipação com relação à suposta presença do autor, do significado original, do contexto, etc. Mas como poderia a experiência discursiva, tal como proposta pela

desconstrução, ser lançada para fora das amarras da metafísica tradicional? Na verdade não se trata de um ser lançado para fora. A questão não é se colocar de um suposto “lado de fora”. Alias não é por acaso que a desconstrução traz consigo o tema de ligação entre alteridade, violência e justiça. Como colocado em “Desconstrução e Ética. Ecos de Jacques Derrida”, de Paulo Cesar Duque-Estrada:

Uma característica desse pensamento, (...) é o deslocamento de ênfase que, do plano da formulação de questões e respostas, problemas e soluções, passa a recair sobre o plano das aporias, das contradições, dos investimentos arbitrários, das denegações, enfim, dos fatores de complicação de toda ordem que fazem parte, e que, para a desconstrução, necessariamente fazem parte da formulação de toda questão e toda resposta, de todo problema e toda solução. Tais fatores, na perspectiva de um tal pensamento são partes integrantes, constitutivas, de toda e qualquer verdade 1. A conclusão, sempre precipitada, que vê nesse argumento uma apologia da violência e que, por essa razão não hesita em repudiá-lo, deve aqui ser suspensa. Ela deve ser suspensa pela observação permanente de uma suspeita dirigida ao caráter pretensamente não violento das motivações, finalidades e pressupostos que norteiam essa mesma conclusão. (DUQUE-ESTRADA, 2004 p. 34)

O efeito rebote da construção metafísica é a exposição da violência, da exclusão, de algum prejuízo sensível, deixado na origem, enquanto que o “fenômeno da alteridade, se assim, podemos dizer, diz respeito a uma aporia ou dissimetria de origem, somente 1 Neste sentido, como tentaremos mostrar, desconstruir não consiste em golpear e destruir, aproximar-se de alguma coisa para desferir-lhe um ataque, o que constituiria a sua própria violência. Desconstruir é, antes, algo ou, melhor dizendo, um acontecimento, cuja necessidade é intrínseca à violência constitutiva daquilo mesmo que se desconstrói. Essa necessidade de origem constitucional da desconstrução não é a de uma autodestruição que já estivesse desde o início destinada a ocorrer, mas, antes, o que a princípio pode parecer paradoxal, a de uma afirmatividade que se abre ao infinito. Violência aqui não quer dizer aniquilamento, destruição, mas afirmação. (DUQUE-ESTRADA, 2004 p. 34)

formulável na forma de um paradoxo, que, ao mesmo tempo, incita e impossibilita a consumação de um desejo de apropriação que opera em cada uma dessas práticas violentas. Também a justiça, outro tema inseparável desta mesma discussão, vai se mostrar como uma instância, se é que, neste caso, pode-se falar em “instância”, indissociável dessas articulações.” (DUQUE-ESTRADA, 2004. p. 37) Derrida comenta que a problemática do direito, da lei e da justiça “é o lugar mais próprio (‘se é que tal coisa existe’) dos textos desconstrucionistas”. Em “Alteridade, Violência e Justiça: trilhas da desconstrução”, Paulo Cesar Duque-Estrada comenta:

A discussão relativa à legibilidade e ilegibilidade do texto, e, portanto, à necessidade de um tratamento do mesmo que não apenas se deixa levar pelo ideal de restituição, mas que também problematize a própria restituição, e que permaneça “ali”, na linha inencontrável desse corte que jamais se fecha, no movimento irremediavelmente oscilante dessa “dupla seção”, sem lugar, sem origem ou telos determinado, toda essa discussão, enfim, se aplica igualmente às questões relativas ao ideal, no âmbito do direito, de se fazer justiça no tratamento das leis. (DUQUE-ESTRADA, 2004. p. 58)

Geoffrey Bennington comenta em “Desconstrução e Ética” que Derrida num determinado momento, sugere que a desconstrução é justiça, “a justiça como uma questão que diz respeito a casos singulares aqui e agora”. O que ele parece querer dizer é que o próprio gesto da desconstrução é fazer justiça, fazer justiça à singularidade de qualquer evento, nesse sentido nos perguntamos se haveria necessidade de algum programa de justiça universal, dado que não existe nenhum caso, ato ou evento universal.

É dentro de uma certa espectralidade que se encontra o pensamento da desconstrução. Em “Às Margens. A propósito de Derrida” na organização de Paulo Cesar DuqueEstrada, John Caputo comenta sobre o fenômeno de “espectralidade”: “Mas isto não é o que eu quero dizer com o ‘hiper-real’ que estou aqui atribuindo a Derrida, e que tem a ver precisamente com o que se furta ao olhar que escapa, com o que não se exibe, abrigado e afastado para a outra margem, furtando-se à a fenomenalidade de ambos; o conhecido dado fenomenológico e o hiper-dado espectral da “realidade virtual”. Ele situa a desconstrução no terreno do hiper-realismo, ou o seu realismo além do realismo ou sem realismo, ele comenta que consiste numa “obra de amor”. A reverência ao outro interditado é “entregar-se ao impossível”, e a singularidade é o primeiro traço do que Caputo está chamando de hiper-real. “Longe de negar ou de minar a singularidade, o que a desconstrução faz é uma afirmação ética ou hiper-ética da singularidade do outro.” (CAPUTO, 2002. p. 34)

John Caputo em seu artigo “Por amor às coisas mesmas: o hiper-realismo de Derrida.” Lembra “(...). No final de uma famosa leitura de Husserl, após afirmar que a trajetória em direção à Ícaro, o que significa dizer que as asas de cera de nossos significantes encontram-se destinadas a se derreterem no sol da presença, Derrida acrescenta: ‘E, ao contrário do que a fenomenologia – que é sempre fenomenologia da percepção – tentou nos fazer acreditar, ao contrário do que no nosso desejo não pode deixar de ser tentado a crer, a coisa mesma sempre escapa (la chose même se dérobe toujours).’ (DUQUE-ESTRADA, 2002. p. 29). É na suspeita de qualquer presença e em nome do outro (impossível) que a cena da desconstrução se movimenta.

Conclusão provisória

O que pode o discurso que move um material onde há sempre uma violência que lhe é intrínseca? Para a metafisica colocam-se duas possibilidades: ou tentar dar conta de tal violência, resgatando no discurso o que ficara de fora, ou ele assumir deliberadamente um dos termos da hierarquia conceitual. Ou resgatar, incluir ou se decidir por um dos termos. Esta dupla possibilidade pode ser observada ao longo da história da metafísica; seja através de um permanente exercício de discursos moralizantes, seja pelo impensado de uma decisão por um dos termos. Os dois casos parecem totalitários, movendo-se sempre pela lógica do “mesmo”: o primeiro pretende reunir tudo dentro de Um, o segundo escolhe apenas Um termo. Nesse sentido, Derrida parece nos presentear com um novo material para seguir na experiência do pensar.

O tema da alteridade parece ser inerente ao processo de desconstrução. O que antes, na metafísica, esteve sempre disponível para uma suposta apreensão que trazia consigo uma suposta presença, é agora algo “outro”, uma alteridade, somente pensável através de uma suspeita radical, sempre em curso, sempre em deslocamento, através dos discursos, em relação a qualquer pretensão de presença.

Bibliografia:

DERRIDA, Jacques. Gramatologia. Trad. Miriam Chnaiderman e Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Perspectiva, 2013. DERRIDA, Jacques. Posições. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. DERRIDA, Jacques. O Monolinguismo do outro ou a prótese de origem. Trad. Fernanda Bernardo. Porto: Campo das Letras, 2001. DERRIDA, Jacques. O Monolinguismo do outro ou a prótese de origem. Trad. Fernanda Bernardo. Porto: Campo das Letras, 2001. DUQUE-ESTRADA, Paulo Cesar. Às Margens. A propósito de Derrida. Rio de Janeiro: Editora Puc. São Paulo: Loyola, 2002.

DUQUE-ESTRADA, Paulo Cesar. Desconstrução e Ética. Ecos de Jacques Derrida. Rio de Janeiro: Editora Puc. São Paulo: Loyola, 2004.

WOLFREYS, Julian. Compreender Derrida. Trad. Caesar Souza. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2012.

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