Lisboa no período da Grande Peste de 1569: causas e consequências de uma demografia instável

September 22, 2017 | Autor: Lígia Camarão | Categoria: History of Lisbon
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Lisboa no período da Grande Peste de 1569: causas e consequências de uma demografia instável Lígia Camarão 11 de Dezembro de 2009

É facto histórico comprovado, que a Cidade de Lisboa sofreu cerca de 20 períodos da epidemia da peste, sendo que o período mais avassalador foi já na era Moderna, no ano de 1569. Este período ficou conhecido como a Grande Peste de Lisboa. Esta epidemia, que rapidamente se tornou numa pandemia, deu um corte bastante acentuado na demografia da cidade. Esta Grande Peste começou em Julho de 1569 e só terminou na primavera do ano seguinte. Durante estes meses, morreram cerca de 600 pessoas por dia, num total de 60 000 no final da pandemia. Se antes mesmo deste período, Lisboa mantinha-se com uma elevada taxa populacional, após este negro período, Lisboa estava transformada numa autêntica necrópole.

Antecedentes Muitos anos antes da Grande Peste de Lisboa, esta doença já matava centenas de pessoas na era Medieval, um pouco por todo a Europa. As suas causas do surgimento e propagação desta doença, são segundo vários investigadores, diversas. Desde « […] a corrupção do ar e as misteriosas influências divinas, celestes, […]»1, condições meteorológicas, bacilos2, animais infectados como exemplo; ratos3, pulgas4, e até mesmo a própria transmissão de ser humano para ser humano5. Ou seja, qual fosse o foco de infecção, o mesmo era sempre altamente contagioso e quase sempre fatal. Existiam dois tipos conhecidos de peste; a Peste Pulmonar e a Peste Bubónica. Esta ultima é a principal fonte de estudo deste trabalho e a principal causa de morte no ano de 1569 na cidade de Lisboa.

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Cf., Mário da Costa ROQUE, As Pestes Medievais Europeias e o «Regimento Proueytoso Contra há Pestenença», Lisboa, Valentim Fernandes [1495 – 1496]. Tentativa de Interpretação à Luz dos Conhecimentos Pestológicos Actuais, Paris, Fundação Calouste Gulbenkien, Centro Cultural Português, 1979, p.18. 2 Bactéria que determina doença no organismo animal. Bacilo pasteurella pestis. 3 Ratos comensais, ratus rattus, rattus norvegicus. 4 Pulga Xenopsylla cheopis. 5 Vide, Idem, Ibidem.

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Lisboa no período da Grande Peste de 1569: causas e consequências de uma demografia instável Lígia Camarão 11 de Dezembro de 2009 Alguns estudos elaborados nos séculos anteriores ao início da peste, afirmavam que muitos astrólogos, conseguiram prever os muitos perigos e calamidades, que o planeta iria sofrer, de entre elas a Peste. O eclipse6 total da lua no dia 18 de Março7 de 1345, foi considerado por muitos um mau prognóstico a juntar ás anteriores previsões dos astrónomos. A partir então do ano de 1345/46, começam a surgir os primeiros surtos de Peste na Europa e também nos restantes continentes, (ex: Norte de África).

«Era MCCCLXXXVI fuit generalis pestilentia per totó mundo in qua mortui sunt due partes hominum»8

No caso de Portugal, apesar de não haver a total certeza de quando terá surgido o primeiro caso de peste, os estudos indicam que terá sido no ano de 1348. A partir do momento em que esta doença entre em terras de Portugal, foi deixando um rasto de mortandade por todo a parte. Desde os primeiros surtos de peste, que apareceram na era Medieval, até á Grande Peste de Lisboa, o caos ficou espalhado por toda a parte. Esta foi sem duvida uma doença típica da época, que assumiu enormes proporções. Devido ás péssimas condições higiénicas, habitações precárias, má alimentação e acima de tudo também alguma ignorância, surge então as cíclicas epidemias de Peste Negra. É entre os anos de 1348 e 1352, que esta doença devasta o país ainda no reinado de D. Afonso IV9.

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Cf., Mário da Costa ROQUE, As Pestes Medievais Europeias e o «Regimento Proueytoso Contra há Pestenença», Lisboa, Valentim Fernandes [1495 – 1496]. Tentativa de Interpretação à Luz dos Conhecimentos Pestológicos Actuais, Paris, Fundação Calouste Gulbenkien, Centro Cultural Português, 1979, p.89. 7 O eclipse deu-se as 22h e 55m. 8 Cf., Fortunato de São Boaventura, História Chronologica e Crítica da Real Abbadia de Alcobaça, Lisboa, Imprensa Régia, 1827, p.- 43. Códice CLXXXIII, nº66 do Inventário dos Códeices Alcobacenses, Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal, 1930, p.62, Tomo I. 9 1291-1357.

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Lisboa no período da Grande Peste de 1569: causas e consequências de uma demografia instável Lígia Camarão 11 de Dezembro de 2009 «Por que en o ano da Era de mil e trezentos e oytenta e sex anos ueo a pestilençia e a morteidade de door de leuadigas por todo o mundo tam grande que nõ ficou hi uiua a dizima dos homees e molheres que entõ hi auia.»10

Neste primeiro surto, a Peste Negra em Portugal, tem uma duração de cerca de três meses11, e neste período de tempo, devasta o pais, matando um numero indeterminado de pessoas.

A Peste Bubónica ou Peste Negra A Peste Bubónica ou Peste Negra, como é mais conhecida em todo o mundo, começa o seu ciclo de propagação do seguinte modo; como já acima referido, a pulga pestífera entra em contacto com o cadáver do rato já anteriormente infectado e depois, para se alimentar vai então picar a pele do ser humano. Ou seja deste modo, trasmite-lhe a peste deixando na zona onde picou, um pequeno sinal quase imperceptível, do sucedido. Mais tarde esse pequeno sinal que passa quase despercebido, poderá começar a apresentar-se rodeado de um círculo em tons de rosa ou até mesmo de um ponto negro12, na zona infectada pela pulga.

 Sintomas É então a partir de este ponto de infecção que as bactérias entram no organismo humano, provocando mais tarde uma espécie de bubão13. É então da denominação bubão, que vem o nome da Peste Negra, ou seja Peste Bubónica14.

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Cf., Vieira de Meirelles, Memórias de epidemologia portuguesa, Coimba, [s.n.] 1856, p.-34. De Setembro, até finais de Dezembro de 1348. 12 Muitas das vezes, este ponto negro, aparece denominado de curbúnculo primitivo. Veja-se, Enciclopédia Médica…. 13 Tumor duro e inflamatório. Um bubão é ainda parecido a uma ingua, que por sua vez é uma glândula linfática que normalmente aparece nas virilhas, axilas ou pescoço. Veja-se, Enciclopédia Médica…. 14 Peste Bubónica, que deriva de bubão inguinal, que por sua vez é a íngua da peste. Cf., Idem, Ibidem. 11

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Lisboa no período da Grande Peste de 1569: causas e consequências de uma demografia instável Lígia Camarão 11 de Dezembro de 2009 Sendo que o tempo de incubação do vírus, poderá levar entre 6 a 15 dias, alguns dos sintomas iniciais, são náuseas, vertigens, agitação, dores dos membros, vómitos, cefaleias e febres altas na casa dos 40 ºC. As picadelas, acontecem normalmente na zona do pescoço, braços e pernas. Por conseguinte, o aparecimento dos bubões15 (tal como as inguas), poderá estar situado na zona das axilas, na zona cervical e restante zona inguinal. Estes bubões devem ser drenados, para não se dar o surgimento de fístulas. É ainda de salientar, que ao contrário da Peste Pulmonar, a Peste Bubónica, apresenta um quadro muito mais favorável do que a Peste Pulmonar16. Se o epidemiado não receber tratamento eficiente, irá morrer devido à toxemia, em poucos dias. Esta peste, mata entre 70% a 90% em quase todos os casos. Esta elevada taxa de mortalidade, deriva da resistência do doente á epidemia e da própria intensidade com que os bacilos atacam o organismo.

A demografia portuguesa durante os surtos de Peste Se por um lado, o rápido crescimento da população desde o século XIX, até ao nosso presente, é uma constante, por outro lado, antes do século XIX, o crescimento mundial era lento. As várias investigações de demografia histórica que foram efectuadas através do estudo da população nacional, mostra-nos, os efeitos devastadores na população provocados pela peste. Esta doença provou vários impactos tanto a nível social como económico. Se anteriormente, no século XI a evolução demográfica começa a subir, a partir do século XVI, novos surtos de peste17 tornam a aparecer. Os surtos de peste, foi um dos fenómenos que mais contribuíram para que o crescimento demográfico parasse novamente e crescer. É então de constatar, que sempre

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O tamanho destes bubões, poderá oscilar entre o tamanho de uma noz ou de um ovo. A Peste Pulmonar não é tão comum como a Peste Bubónica 17 Existiram cerca de 20 surtos de peste, desde a era Medieval. 16

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Lisboa no período da Grande Peste de 1569: causas e consequências de uma demografia instável Lígia Camarão 11 de Dezembro de 2009 que passava um período de peste, população voltava novamente ao seu crescimento normal. É então de salientar que a nível demográfico, Portugal da era Moderna, passou por dois diferentes aspectos sobre a demografia social, nomeadamente; o crescimento moderado da população e a queda da mesma devido á peste negra; e o recuperar da população para os níveis normais, antecedentes à peste18. Podemos então afirmar, que nestas épocas de crise, a elevada19 taxa de mortalidade nacional, devia-se à miséria, violência, as fomes, as guerras, a subalimentação e a principal causa, a peste. Concluímos então, que o grande elemento que regulava o crescimento e declínio da população nacional, era a mortalidade, devido a todos os factos já acima assinalados.

 O combate à crise demográfica portuguesa «Os três cavaleiros do Apocalipse»20, esta é uma frase, que até aos nossos dias, está bem em vários estudos efectuados dentro da área da demografia. Estes três cavaleiros, seriam então as guerras, as fomes e as epidemias, que surgiram durante estes períodos de grande declínio demográfico. Ao falarmos do combate á crise demográfica, temos de dividir em duas partes; a primeira a nível geral e a segunda a nível da epidemia da peste, para fazer um estudo mais minucioso do tema. Neste ponto iremos apenas tratar alguns dos elementos de combate à crise demográfica portuguesa, a nível geral e de uma maneira bastante resumida, deixando o estudo um pouco mais extenso para os elementos de combate à peste. Para combater então esta crise, e garantir o aumento populacional do país, Portugal começa por investir na nupcialidade21. Ou seja, ao aumentar a nupcialidade,

Cf., H. A. De Oliveira Marques, Breve História de Portugal….. Muitos destes factores, ocorreram até ao século XVIII, praticamente na entrada da era Contemporânea. 20 Esta frase aparece em vários estudos dentro da área da demografia. Um dos grandes demografos do nosso tempo, foi o autor desta histórica frase. 21 Aumentava o numero de casamentos e diminuía a idade média, em que estes se podiam realizar. 18 19

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Lisboa no período da Grande Peste de 1569: causas e consequências de uma demografia instável Lígia Camarão 11 de Dezembro de 2009 nestes períodos críticos, também o número de nascimentos aumentava, e assim podia-se tentar elevar a balança demográfica nacional. Este tornou-se então num dos principais motivos que regulavam o aumento da população, pois sempre que surgia períodos de grande mortalidade, seguidamente surgia um novo período de natalidade. Dentro deste contexto de combate ao declínio da demografia portuguesa, existe ainda o melhoramento das condições higiene e sanitárias, o melhoramento das habitações, e da alimentação e também da saúde, tentando dizimar outros graves problemas, como a febre tifóide, a febre amarela, e turbeculose. Antes mesmo deste melhoramento, estas foram as causas que desorganizaram por grandes períodos a vida económica e social do país, que por conseguinte deu origem a motins e revoltas por parte da população. Dentro deste clima, foram ainda fundados hospitais, como o Hospital de Todosos-Santos, e fundadas Misericórdias, que tal como o nome indica, prestavam auxilio aos mais desfavorecidos e restantes vitimas da peste. Os períodos de peste deram ainda origem a outro grande flagelo social, que infelizmente ultrapassou todos os séculos, para ainda se encontrar nos dias de hoje – a exclusão social.

A Grande Peste de Lisboa de 1569 Já aqui analisamos os antecedentes da Peste Negra, assim como também as suas causas e consequências. Vamos agora então passar a uma análise mais minuciosa, deste período de morte negra, que tanto marcou a cidade de Lisboa e o país.

 A devastação

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Lisboa no período da Grande Peste de 1569: causas e consequências de uma demografia instável Lígia Camarão 11 de Dezembro de 2009 Por toda a cidade, homens e mulheres evitam-se uns aos outros, parentes abandonavam-se, o número de crianças abandonadas aumentava de dia para dia, mulheres eram deixadas à sua sorte, e o número de mortes crescia22 a olhos vistos. Morte, segregação, miséria, pânico, pobreza, desordem social, devastação, e isolamento, são alguns dos sentimentos que se fazia sentir por toda a cidade. A peste chega uma vez mais, com toda a sua força e mata cerca de 600 pessoas por dia, reduzindo assim a população a cerca de um terço23. Se por um lado a peste desorganizou a economia e a sociedade de Lisboa, por outro lado, também esta epidemia eu origem ao aparecimento de novas formas organizacionais na cidade, com o objectivo de querer enfrentar e acabar com esta epidemia. No ano de 1506, era de se notar a irregularidade das estações do ano. Esta irregularidade deu origem á fome e por conseguinte a problemas maiores. Começava novamente a surgir a peste. Já desde Janeiro desse mesmo ano, que a peste se começava a fazer senti em Lisboa, e a partir da primavera o aumento da epidemia redobrava a intensidade e a taxa de mortalidade subia em flecha24.

 A propagação da peste Já referimos acima, as causas da propagação desta terrível doença, mas analisemos agora de uma maneira mais completa estas causas. Muitos estudos indicam, que a Peste Bubónica, terá sido trazida25 por mercadores vindos de Veneza, dai a existir o antigo provérbio «Mercator, ego pestiferus»26.

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Cf., Mário da Costa ROQUE, As Pestes Medievais Europeias e o «Regimento Proueytoso Contra há Pestenença», Lisboa, Valentim Fernandes [1495 – 1496]. Tentativa de Interpretação à Luz dos Conhecimentos Pestológicos Actuais, Paris, Fundação Calouste Gulbenkien, Centro Cultural Português, 1979, p.120. 23 Cf., Teresa Rodrgues, As crises de mortalidade em Lisboa (séculos XVI a XIX) – Uma análise global, in Boletin de la Asociación de Demografia Histórica, XIII, número 2, [s.n.], 1995, pp.- 56-60. 24 Por volta desta altura, já morriam cerca de 130 pessoas por dia. 25 Cf., Teresa Rodrigues, As crises de mortalidade em Lisboa (séculos XVI a XIX) – Uma análise global, in Boletin de la Asociación de Demografia Histórica, XIII, número 2, [s.n.], 1995, p.- 73. 26 Tradução: Sou mercador, logo portador de peste.

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Lisboa no período da Grande Peste de 1569: causas e consequências de uma demografia instável Lígia Camarão 11 de Dezembro de 2009 Infelizmente e como é de constatar, através da informação existente, desconhecimento da natureza endémica deste tipo de doenças, juntamente com a ineficácia terapêutica, não dava aos médicos da altura, grandes alternativas para poderem actuar no combate da epidemia. Anteriormente no reinado de D. Manuel I27, havia sido feito o alvará de 1506. Com este alvára conseguiu-se fazer um dos regimentos de saúde mais antigos. Neste regimento, estipulava medidas extremas de repressão, para quem entrasse na cidade portando a doença, ou para quem mandasse para a cidade, alguém empestado. Era visível o terror que esta epidemia trazia para a cidade, se bem que quem mais temia pela sua contaminação, seria a população de origem burguesa, incluindo o rei, visto que para a população mais pobre, a morte já era algo que fazia parte do seu quotidiano de vida. «Da fome, da guerra e da peste[…]28» Por toda a cidade, eram feitas preces públicas e procissões. Durante ambas, o povo implorava em gritos à misericórdia divina. Cristãos-novos eram vitimas de marginalização, sendo assim queimados29 e mortos, arrastados pelas ruas, apedrejados, ou seja, eram também considerados de certa maneira culpados, por tanto mal estar a acontecer. Parecia, não existir maneira de travar este período de morte negra, como erfa muitas vezes conhecido. Lisboa estava reduzida a um terço da sua população habitual. A demografia da cidade estava completamente alterada e os níveis de mortalidade aumentavam de dia para dia. Parecia não existir já sítios para enterrar tantas vitimas, o que levou a que os corpos começassem a ser queimados, até mesmo como medida de protecção para evitar ainda mais a propagação da doença. Crianças e mulheres eram completamente abandonadas á sua sorte, na rua pessoas eram deixadas a morrer, os médicos com os seus fracos conhecimentos, não conseguiam

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Rei da segunda dinastia (Avis-Joanina), 1495-1521, o Bem-Aventurado. Antigo ditado pronunciado na época. 29 Por vezes, encontravam-se ainda vivos. Eram queimados sobretudo nas ribeiras do Tejo e no Rossio. 28

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Lisboa no período da Grande Peste de 1569: causas e consequências de uma demografia instável Lígia Camarão 11 de Dezembro de 2009 ter mão na doença, e nem mesmo as medidas de protecção conseguiam travar a epidemia que matava a cada dia eu passava, mais gente. Por todo o lado, a cidade de Lisboa, estava transformada numa necrópole

 Medidas de combate à propagação da peste, e penas aplicadas ao seu não cumprimento Eram construídos estabelecimentos com destino aos portadores de peste e restantes portadores de doenças infectocontagiosas, que por sua vez, não podiam ficar nos Hospitais. Normalmente estes espaços, eram construídos em locais afastados das grandes maças populacionais, em zonas arejadas e longe30 das portas da cidade. É ainda de constatar que nestas casas especiais, a população de origem pobre, era normalmente internada á força. D. João III

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teria mandado anteriormente a Veneza32, uma delegação para se

informar e inteirar de todas as medidas sanitárias a adoptar para o combate da peste. Finalmente no ano da Grande Peste de Lisboa, foi a vez de D. Sebastião mandar vir de Sevilha dois médicos33, com grande experiência no combate a esta doença. Ambos os especialistas, organizaram várias medidas e protecção à propagação da peste, que deram ás autoridades olisiponenses, para que estas as fizessem cumprir. Algumas dessas medidas eram; 

Reforçar o abastecimento de víveres à cidade;



Acender fogueiras de lenhas aromáticas na via publica de manhã e à noite;



Proceder a limpeza das ruas;



Evitar expor ao ar o sangue obtido das seringas;



Proceder ao encerramento dos banhos públicos;



Mandar queimar as roupas de menor valor das pessoas atacadas pela doença;



Colocar de quarentena os navios de transporte de escravos;



Lançar ao mar as imundices;

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Por exemplo: eram construídas em Vale de Alcântara, junto ao estuário do Tejo. O Piedoso. 1521-1557. 32 Por volta de 1516. 33 Garcia de Salzedo e Tomas Alvarez. 31

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Lisboa no período da Grande Peste de 1569: causas e consequências de uma demografia instável Lígia Camarão 11 de Dezembro de 2009 

Contratação de médicos para cuidados domiciliários;



Mandar enterrar os mortos em covas fundas e com uma grande camada de cal viva por cima dos corpos.

Era ainda aconselhado não abrir as janelas antes do nascer do sol, não sair de casa, aspergir o interior da casa com vinagre etc. Infelizmente nem sempre estas medidas foram cumpridas à risca, e o lixo e a imundice, continuo de certa forma a acumular-se nas ruas da cidade e arredores. Até hoje, os historiadores não têm a total certeza, de como teriam ou não sido cumpridas, todas as medidas de protecção e também de punição, no que consta á peste. Sabemos que existiam penas, por infracções às leis sanitárias e sabemos também que essas mesmas penas, variam de acordo com a função da condição social do infractor. Deste modo, é de constatar as seguintes penas, aplicadas por parte do poder régio e também pelo provedor mor da saúde, ao não cumprimento das medidas de prevenção; 1. Açoitamento em publico, e seguidamente colocado em degredo na Ilha de S. Tomé, durante sete anos; 2. Ao cavaleiro, escudeiro ou mercador, era aplicada uma pena mais leve e por conseguinte menos vergonhosa, que consistia numa multa e dois anos de degredo, que normalmente era numa aldeia da Beira Interior.

Conclusão Concluindo este tema, a verdade é que a morte negra, não teria tido alcançado a elevada taxa de mortalidade que alcançou, se as medidas de higiene, alimentação e saúde, fossem melhores. A peste foi um fenómeno característico d um mundo em mutação. Foi o grande preço a pagar por um pais que se estava a abrir para o resto do mundo, através do aumento de relações comerciais.

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Lisboa no período da Grande Peste de 1569: causas e consequências de uma demografia instável Lígia Camarão 11 de Dezembro de 2009 Apesar da assistência médica e alimentar se ter tornado numa realidade mais constante e de as campanhas informativas, não foi o suficiente para combater o número de mortes que se fez contar no fim deste período da Grande Peste. Uma análise detalhada a este tema, permite concluir que este surto de peste deu um corte extremamente violento na população da cidade de Lisboa. O aumento brusco do número de óbitos causados por esta doença, originou uma das maiores crises demográficas jamais vistas. O fraco cumprimento das medidas de prevenção, especialmente a nível da higiene e alimentação, fez com que fosse praticamente impossível travar este terror. Lisboa um cidade outrora cheia de vida, de cores, de luz e de população vinda de toda a parte, estava reduzida a uma cidade fantasma. O único ponto positivo que este período teve foi ao obrigar o homem ocidental da época a mudar a sua forma de se relacionar com o meio ambiente, começando assim a planejar o urbanismo a higiene e por conseguinte, originar uma evolução livrando assim o povo da ignorância. Em relação á cidade de Lisboa, apenas só muitos anos mais tarde e após o terrível terramoto de 1755, é que a cidade obtém melhores condições tanto a nível sanitário como urbano. A Mui Nobre e Sempre Leal Cidade de Lisboa, sofreu no ano da Grande Peste, a pior crise demográfica jamais vista por todos seus habitantes. A sempre querida e sempre amada cidade eterna, ficou reduzida a uma cidade de terror, e a todas as suas vítimas e familiares desta época negra, dedico este estudo.

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