Literacia Digital: O módulo de ambientação online na Universidade Aberta

July 17, 2017 | Autor: Lúcia Amante | Categoria: Digital Literacy
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LITERACIA DIGITAL: O MÓDULO DE AMBIENTAÇÂO ONLINE NA UNIVERSIDADE ABERTA Terezinha Fernandes Martins de Souza1 Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil | Laboratório de Educação a Distância e Elearning (LE@D) - Universidade Aberta, Portugal [email protected] Maria João Spilker Laboratório de Educação a Distância e Elearning (LE@D) - Universidade Aberta, Portugal

[email protected] Lúcia Amante Laboratório de Educação a Distância e Elearning (LE@D) – Universidade Aberta, Portugal

[email protected]

Resumo: Este artigo apresenta os resultados de um estudo sobre a perceção dos estudantes de graduação que frequentaram o Módulo de Ambientação Online, previsto no Modelo Pedagógico Virtual® (MPV) da Universidade Aberta (UAb) portuguesa. A nível teórico, evidenciam-se os conceitos de sociedade do conhecimento em rede, cultura digital, literacias digitais e competências digitais, em convergência com as competências instrumentais, de comunicação online, de gestão do tempo e de organização pessoal. A nível empírico, a recolha de dados foi realizada por meio da aplicação de dois questionários. A análise dos resultados dos questionários e o cruzamento com o referencial teórico sobre literacias digitais funcionais (técnicas/operacionais) e comunicacionais (instrumentais e online), com os objetivos e competências a serem desenvolvidas pelos estudantes durante o módulo evidenciam que o Módulo de Ambientação Online é uma etapa fundamental para o sucesso do estudante da UAb. Palavras-chave: aprendizagem online, literacia digital, inclusão digital, módulo de ambientação online Abstract: This paper presents the results of a study on the perception of higher education students who attended the Online Familiarization Module, contemplated in the Virtual Pedagogical Model® of the Portuguese Open University (UAb). Concerning the theoretical base, it must be highlighted the concepts of networked knowledge society of the concepts, digital culture, digital literacies and digital skills in convergence with instrumental skills, online communication, time management and personal organization. The data gathering was accomplished through the application of two questionnaires online. The results of the questionnaires and the junction between the theoretical framework of functional digital literacies (technical/operational) and communication (instrumental and online) with the objectives and competencies to be developed by the students during the module, evidence that the Online Familiarization Module is a crucial step for the success of UAb’s students. Keywords: online learning, digital literacy, digital inclusion, online familiarization module

1.

Bolsista dos programas Prodoutoral Docente Capes/Brasil – 2012/2013 e Doutorado Sanduiche SWE – CNPq/Brasil - 2014/2015. 1

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Introdução No contexto da sociedade atual, indissociável das tecnologias digitais, há competências de literacia digital que o estudante deve desenvolver para que possa nela participar ativamente. Estas competências relacionam-se com o acesso, seleção, análise, avaliação, apropriação e partilha da informação, designadamente tendo em vista objetivos e fins educacionais e visando a construção de conhecimentos. As exigências decorrentes destas mudanças no contexto da atual sociedade têm tornado obsoletos os modelos educacionais clássicos das universidades, diante das inúmeras possibilidades de desenvolver um processo de ensino e aprendizagem mais flexível, criativo, colaborativo e em rede. Há um deficit considerável na gestão da informação e do conhecimento pedagógico. É assim urgente desenvolver um currículo e um projeto de formação em que o estudante universitário possa atuar com a informação disponível de modo crítico, autoral, criativo e reflexivo. Se a evolução da tecnologia, e em particular a Internet, têm vindo a potenciar essas mudanças, disponibilizando novas e diversificadas possibilidades, no contexto da educação a distância torna-se imperativo articular as novas possibilidades oferecidas pelas tecnologias com a recriação dos antigos modelos pedagógicos industriais tradicionalmente usados nestes contextos. Considerando o contexto de formação da Universidade Aberta (UAb), universidade pública portuguesa de educação a distância, nela se refletiu em particular a necessidade de acompanhar as profundas transformações da sociedade. Importa, neste âmbito, compreender como é pensada a formação dos estudantes que frequentam pela primeira vez um curso, tendo em conta que o ensino online lhes exige competências específicas. Neste sentido, todos os programas de formação certificados pela UAb incluem um módulo prévio, designado “Módulo de Ambientação Online” (MAO). Este módulo, realizado online, visa permitir aos novos estudantes adquirir um conjunto de competências base antes da frequência do curso ou programa de formação em que se inscreveram. O presente texto tem como objetivo apresentar os resultados de um estudo sobre a perceção dos estudantes de graduação que frequentaram este módulo de ambientação no início do ano letivo 2014/15, com relevo para o antes e o depois do Módulo de Ambientação Online (diagnóstico e avaliação final), identificando as dimensões relacionadas com as suas perceções iniciais sobre o que é ser um estudante online e as competências adquiridas durante o módulo.

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Competências digitais e literacia digital Uma Sociedade em Rede, para Castells (1999), caracteriza-se pela primazia da morfologia (estrutura, formação e classificação) social sobre a ação social na era da informação e do conhecimento. O que a define é o movimento, a desconstrução e a reconstrução contínua, novos valores, mudança da noção de tempo e espaço, convergência das tecnologias da informação e das relações de poder. “Rede é um conjunto de nós interconectados” (CASTELLS, 1999, p. 566). As redes concretas são as arquiteturas das relações sociais, económicas, políticas e culturais possibilitadas por tecnologias da informação que operam à velocidade da luz e configuram os processos e funções predominantes nas nossas sociedades. Para Jenkins et al. (2006) as competências e habilidades relacionadas com as tecnologias digitais são necessárias e imprescindíveis para atuar na cultura participativa. Para o autor as literacias no contexto da sociedade atual podem ser vistas como habilidades e competências sociais e culturais, formas de interação (coletiva, colaborativa e criativa) contextualizadas numa comunidade maior e não uma habilidade individual a ser usada para a expressão pessoal. O autor cita o exemplo de como determinados grupos de jovens usam as suas habilidades e conhecimentos informais para atuar dentro de redes sociais e em comunidades de aprendizagem na lógica da inteligência coletiva, por meio de jogos, simulações, remixagem de conteúdos, usando diferentes recursos e realizando múltiplas tarefas em simultâneo. Jenkins (2006) ressalta que tais habilidades e competências também devem fazer parte do ensino formal de jovens, de modo sistemático e criativo, para que todos possam igualmente participar na sociedade do conhecimento. A busca de como, porquê e para quê fazer o uso efetivo de tecnologias digitais na formação de estudantes na universidade (Crawler, and Fetzner, 2013) nos coloca diante da necessidade de delinear algumas dimensões para um processo de formação com foco nas literacias, apresentando as suas características e domínios e visando traçar possíveis categorias de análise, bem como caminhos para lançar o olhar sobre propostas e práticas de formação para aquisição de literacias digitais com foco nas competências a desenvolver. O processamento de informação com o intuito de gerar conhecimento com tecnologias digitais nos usos, apropriações e participações em processos de formação académica online requer desenvolver competências de gestão do tempo online e organização pessoal em sintonia com os modelos de colaboração-comunicaçao proposto por Okada (2014) que destaca o trabalho em equipe, a adaptabilidade e a flexibilidade.

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É importante também a dimensão instrumental da comunicação em Selber (2004) e em Moreira (2010) em que os indivíduos são utilizadores competentes de recursos e meios nos processos de comunicação, participação e interação. Também as competências de comunicação online em espaços virtuais que preveem os valores e regras relacionados com a comunicação online, vão ao encontro das dimensões comunicativa e axiológica apresentadas por Moreira (2010) em que se destacam os valores éticos, respeitosos, democráticos e críticos no uso de tecnologias digitais para a comunicação e interação. fluidas. A competência de reflexão sobre as aprendizagens realizadas ampara-se na dimensão cognitiva apontada por Moreira (2010), um aspeto fundamental a considerar na construção do conhecimento pessoal dos estudantes. Conforme ressaltam Souza; Marques, e Amante (2014), estes são desafios à universidade, como instituição formadora, existindo uma aproximação à realidade dos estudantes que assim se apropriam, consomem e produzem com tecnologias digitais nas suas práticas diárias. Destaca-se como fundamental o conhecimento das dimensões das literacias digitais e os saberes que são mobilizados para situações e finalidades específicas em práticas educativas e/ou pedagógicas na universidade, para responder à complexidade do repertório de competências digitais requeridas aos estudantes na contemporaneidade numa perspectiva de participação crítica.

Competências a Desenvolver pelos Estudantes Num contexto social marcado pelo uso de tecnologias digitais, segundo Gomes, Amante e Oliveira (2012) há a necessidade de novas formas de comunicar, de procurar informação, de se relacionar com o conhecimento e de criar relações entre as pessoas. De modo que as competências para atuar no espaço universitário também se encontram em constante mudança, exigindo dos docentes/formadores e estudante/participantes, um conjunto de habilidades e atitudes para lidar com esta realidade. Tal conjunto evidencia-se especialmente na modalidade de educação online. Nesse sentido, num espaço de formação para o uso de tecnologias digitais a nível educacional, seja na escola ou na universidade, como refere Amante (2013) deve terse em consideração o acesso, o uso e o desenvolvimento de competências de literacias digitais como fator de inclusão social e de sucesso académico. O êxito na sua concretização depende dos modelos (sociais e pedagógicos) adotados.

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O Modelo Pedagógico Virtual® (Pereira, Mendes, Morgado, Amante, & Bidarra, 2007) (MPV), desenvolvido na Universidade Aberta, defende que a educação de adultos a distância deve contribuir para o desenvolvimento da literacia digital, impulsionando-o a partir da motivação e necessidade do uso das novas ferramentas. Assim, a familiaridade com ferramentas tecnológicas não é concebida como um critério para o acesso do estudante aos cursos, pois a UAb inclui esse conhecimento no âmbito dos seus objetivos educacionais visando “a promoção de estratégias educativas que contribuam para a aquisição e desenvolvimento da literacia dos estudantes” (Pereira, et al. , 2007). O facto de a UAb trabalhar com a linha de força da inclusão digital dos estudantes, leva a que todos os programas de formação certificados pela Universidade Aberta incluam um módulo designado “Módulo de Ambientação Online” (MAO). Este módulo, realizado online previamente ao início das atividades letivas para os novos estudantes, visa permitir a aquisição de um conjunto de competências base, quer de natureza tecnológica,

quer

de

natureza

sócio-pedagógica.

Coloca-se

a

ênfase

no

desenvolvimento de competências relacionadas com a comunicação online e com ser estudante online, considerando o contexto específico da formação em causa e o modelo pedagógico seguido na instituição. São cinco os conjuntos de competências a serem desenvolvidas pela UAb, reunidas no Quadro 1, onde se procura estabelecer um paralelismo com os modelos identificados em estudos de três diferentes autores que contemplam dimensões e competências similares.

Quadro 1: Dimensões e Competências de Literacias Digitais

Competências definidas no MAO pela UAb

Dimensões identificadas em modelos relacionados com competências digitais

Usar com proficiência instrumentos de comunicação em ambiente virtual (abrir documentos, colocar uma mensagem nos fóruns, responder a mensagens nos fóruns, enviar ficheiros, documentos e submeter um trabalho).

Dimensão instrumental – tecnologias da informação e comunicação como ferramentas e indivíduos como utilizadores competentes (Modelo de Multiliteracias digitais de Selber, 2004)

Aprender a usar instrumentos relativos ao modelo pedagógico da Universidade Aberta (PUC, Cartão de Aprendizagem, e-fólio, participar numa consulta online).

Dimensão instrumental – o conhecimento prático, saber usar meios, recursos e ferramentas digitais (Modelo de Multialfabetizações, Moreira, 2010).

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Desenvolver competências de comunicação online (aplicar as regras de etiqueta online, fazer uma apresentação online, participar numa discussão online, apresentar um ponto de vista fundamentado numa discussão).

Dimensão comunicativa – a criação de textos de diversa natureza (hipertexto, audiovisual, icónico, tridimensional etc.), sabendo difundi-los em meios e suportes para comunicações fluídas e interações pessoais (Modelo de Multialfabetizações, Moreira, 2010).

Desenvolver competências de gestão do tempo online e de organização pessoal.

Colaboração-comunicação – trabalho em equipa, gestão colaborativa – liderança, responsabilidade social e pessoal, flexibilidade e adaptabilidade (Modelo de Competências-chave para coaprendizagem na era digital, Okada, 2014).

Desenvolver capacidades de reflexão sobre aprendizagens realizadas.

Dimensão cognitiva – a aquisição de conhecimentos e habilidades específicas (buscar, selecionar, analisar, compreender e recriar a informação) pela ativação de operações de alto nível (síntese, comparação, análise discriminativa, reflexão, reelaboração, apropriação e reconstrução pessoal do conhecimento) (Modelo de Multialfabetizações, Moreira, 2010).

Dimensão axiológica – os valores éticos, respeitosos, democráticos e críticos no uso das tecnologias digitais e interações sociais (Modelo de Multialfabetizações, Moreira, 2010).

Contextualização: O Modelo Pedagógico Virtual da Universidade Aberta

A UAb apresenta-se com a singularidade de ser uma universidade totalmente virtual. Com o desenvolvimento e evolução tecnológica, em especial a comunicação mediada por computador, designadamente o uso da plataforma de aprendizagem (Moodle), a UAb criou seu próprio Modelo Pedagógico Virtual ® (Amante, 2011). De acordo com Pereira et al. (2007, p. 8), o Modelo Pedagógico Virtual da Universidade Aberta “é um modelo centrado no desenvolvimento de competências com recurso integral aos novos instrumentos de informação e comunicação”. Para os autores, o desenvolvimento tecnológico conduz a que a educação a distância e as metodologias de ensino e aprendizagem virtuais sejam reconfiguradas, promovendo novas formas de mediação tecnológica e de interação com e entre os estudantes. Desse modo, para Pereira et al. (2007), o MPV da UAb impõe novos requisitos tecnológicos para atender novos domínios de saber, baseado no modelo de ensino online. Este modelo contempla quatro grandes linhas de força: i) a aprendizagem

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centrada no estudante; ii) o primado da flexibilidade; iii) o primado da interação; e iv) o princípio da inclusão digital. Este conjunto de linhas de força é fundamental para compreender o trabalho desenvolvido pela universidade na formação de seus estudantes, pois são norteadores da sua ação pedagógica, na organização do ensino, no papel do estudante, do professor, no planeamento, na conceção das atividades de aprendizagem, nos materiais e na avaliação das competências dos estudantes. Todavia, pela especificidade deste texto, centraremos o olhar no princípio da inclusão digital. A inclusão digital é entendida por Pereira et al. (2007, p.14) “como a facilitação do acesso aos adultos que pretendem frequentar um programa numa instituição superior e não tenham ainda adquirido desenvoltura na utilização das Tecnologias da Informação e da Comunicação”. As redes virtuais e de acesso a sistemas de comunicação mediada por computador como uma realidade na formação de adultos na universidade contribui para a construção da sociedade do conhecimento e como estratégia educativa para a aquisição e desenvolvimento da literacia digital dos estudantes de acordo com as competências que o ensino online exige. Neste contexto de promoção da inclusão digital, à semelhança de instituições de outros países que funcionam em regime de e-learning (Crawley & Fetzner, 2013; Moisey, & Hughesto, 2008), o desenvolvimento da literacia dos novos estudantes é potenciado, como atrás aludimos, pela oferta de um módulo, tendo em vista adquirir essas competências antes da frequência do curso ou programa de formação. No presente trabalho, focamo-nos nesse Módulo de Ambientação Online (MAO) delineado para o 1º ciclo de estudos. Este módulo, realizado totalmente online, tem a duração de duas semanas, sendo destinado a todos os estudantes que ingressam na UAb, com o objetivo principal de introduzir e apresentar aos estudantes o ambiente de aprendizagem online, e apoiá-los no desenvolvimento de competências a vários níveis. O MAO decorre com o apoio e sob orientação de um monitor. Estes são supervisionados pelo coordenador do módulo de ambientação (Pereira et al., 2007).

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Objetivos e Metodologia Este estudo tem como principal objetivo uma análise da perceção dos estudantes de graduação que frequentaram o Módulo de Ambientação Online no início do ano letivo 2014/15, com relevo para o antes e o depois do MAO (diagnóstico e avaliação final) identificando as suas percepções iniciais sobre o que é “Ser estudante online” e as competências adquiridas durante o módulo de formação. Optámos por uma metodologia de natureza mista (qualitativa e quantitativa). Assim, para além da análise documental do Modelo Pedagógico Virtual da Universidade Aberta e do Plano do Módulo de Ambientação, aplicámos dois questionários, cujos resultados serão explorados neste texto. Os questionários foram previamente validados por especialistas da instituição, testados e já aplicados em várias edições do MAO. Destes questionários, analisámos dois blocos de questões do Questionário Diagnóstico e do Questionário Final. O primeiro composto por perguntas relacionadas com o acesso e uso de computador e internet para a caracterização da amostra e obtenção de um breve perfil dos estudantes. O segundo bloco referente a perguntas relacionadas com as perceções iniciais dos estudantes sobre o que é ser estudante online. No Questionário Final analisámos igualmente 2 blocos de questões, sendo o primeiro relacionado com as competências instrumentais de comunicação e o segundo com as competências de comunicação online, com o intuito de verificar a importância atribuída ao MAO para a aquisição das referidas competências pelos próprios estudantes. De um universo de 894 novos estudantes, responderam ao Questionário Diagnóstico 798, sendo 406 (40.88 %) do sexo feminino e 392 (49.12 %) do sexo masculino. Ao questionário final, que pretendeu avaliar as competências desenvolvidas ao longo do MAO responderam de forma válida e completa 647 estudantes. Destes 343 (53.01%) são do sexo feminino e (304 46.99%) do sexo masculino.

Apresentação e Análise dos Resultados

Caracterização da Amostra Dos 798 estudantes, 788 (98,75%) possui computador em casa com ligação à internet, 6 (0.75 %) possui computador, mas sem ligação à internet e apenas 4 (0.50 %) não possui computador. Em relação à Internet, 788 (98.75 %) dos estudantes usam habitualmente e 10 (1.25 %) não usam habitualmente.

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Sobre o tipo de utilização que realizam da Internet, destaca-se em 1º lugar o correio eletrónico (93,4%) e a pesquisa de informação (87,3%), sendo ainda de referir a visita a sites e a leitura de jornais online (75,7%), surgindo os jogos como a atividade menos frequente (7,6%).

Ser Estudante Online No questionário inicial, relativo ao sentimento de ser um estudante online (Quadro 2), destaca-se a perceção de que os estudantes consideram que, nesta modalidade de ensino, terão de se apoiar especialmente em trabalho de natureza individual; revela-se assim que os estudantes, ainda que usando habitualmente as tecnologias como se evidenciou na caracterização da amostra, desconhecem as possibilidades que estas oferecem, designadamente no campo educacional, para o desenvolvimento de trabalho em equipa, ainda que a distância. No que se refere ao fator estímulo do ensino online versus ensino presencial, as respostas distribuem-se, fundamentalmente e de modo semelhante pelo “Concordo em parte” versus “Discordo em parte”, registando-se ainda um valor assinalável de respostas neutras. Este resultado indica-nos que alguns estudantes prefeririam o ensino presencial, ainda que estejam a frequentar o ensino a distância.

Quadro 2 - Ser Estudante Online Itens

Concordo Totalmente

Concordo em parte

Neutro

Discordo em parte

Discordo Totalmente

Penso que vou ter de me apoiar mais no meu trabalho individual do que se fosse às aulas presenciais.

360 (45,1%)

312 (39,1%)

55 (6,9%)

53 (6,6%)

18 (2,3%)

Acho que o ensino online é mais estimulante do que o ensino presencial.

61 (7,6%)

253 (31,7%)

261 (32,7%)

196 (24,6%)

27 (3,4%)

Sobre a comunicação num curso online, os estudantes, na grande maioria, concordam em parte que esta é mais difícil do que no ensino presencial (Quadro 3). Como principal sentimento face à frequência do curso destaca-se “a curiosidade sobre o funcionamento de uma sala de aula virtual” (71,3%), ainda que alguns estudantes tivessem indicado sentir algum receio por não estar numa sala de aula convencional (25,3%).

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Quadro 3 - Perceção em Relação a Comunicação Online Itens

Penso que a comunicação num curso online será mais difícil do que se fosse ensino presencial.

Concordo totalmente

Concordo em parte

Neutro

Discordo em parte

Discordo totalmente

105 (13.16 %)

282 (35.34 %)

128 (16.04 %)

190 (23.81 %)

9 (11.65 %)

Por outro lado, a maioria sentiu que se integraria com facilidade numa sala virtual (57,1%) e que se adaptaria facilmente à utilização da tecnologia para frequentar o curso (56,8%). Os sentimentos expressos, sobre ser estudante online, estão relacionados com uma das Competências-chave para a coaprendizagem na era digital (Okada, 2014) designadamente a de Colaboração-Comunicação – trabalho em equipe, gestão colaborativa



liderança,

responsabilidade

social

e

pessoal,

flexibilidade

e

adaptabilidade. Neste caso a ênfase coloca-se na flexibilidade para integrar uma turma diferente do que conhece, suportada por uma plataforma virtual de ensino e aprendizagem e ainda na adaptabilidade ao uso de tecnologias digitais e interfaces para realizar os processos de comunicação, participação e interação.

Competências Técnicas e de Comunicação Online No questionário final, relativo ao uso de tecnologias digitais na plataforma, os estudantes afirmam que o MAO foi importante ou muito importante para o domínio das ferramentas tecnológicas a usar, designadamente, aprender a colocar mensagens na plataforma, responder a mensagens nos fóruns, abrir documentos, localizar informação, enviar documentos e responder a questionários online. Globalmente consideram, assim, que o módulo contribuiu para o desenvolvimento das competências necessárias para o uso instrumental de comunicação (Quadro 4).

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Quadro 4 - Desenvolvimento de Competências Digitais Do ponto de vista do domínio das ferramentas tecnológicas, considero globalmente …

Frequência

Percentagem

Que o módulo de ambientação desenvolveu todas as competências necessárias;

226

34,93%

Desenvolveu em grande parte as competências necessárias;

380

58,73%

Se revelou insuficiente para desenvolver as competências necessárias;

17

2,63%

Foi curto para desenvolver as competências necessárias.

24

3,71%

A competência de usar com proficiência instrumentos de comunicação em ambiente virtual vem ao encontro de uma das dimensões dos multiliteracias proposto por Selber (2004), a literacia instrumental, no qual as tecnologias da informação e comunicação são percecionadas como ferramentas e os indivíduos como usuários competentes. Corresponde também a uma das dimensões do modelo de multialfabetizações de Moreira (2010), a dimensão instrumental, relacionada ao conhecimento prático, no sentido de o sujeito saber usar meios, recursos e ferramentas digitais para se comunicar e interagir com os outros. A maioria dos estudantes atribui ao módulo um grau “importante” ou “muito importante” na aquisição das competências de comunicação online: regras de etiqueta, exprimir ideias, participação em discussões, apresentação de um ponto de vista fundamentado numa discussão, entre outros (Quadro 5).

Quadro 5 - Importância do MAO Itens

Nada importante

Pouco importante

Importante

Muito importante

Para a aprendizagem de regras de "etiqueta" online;

14 (2.16 %)

75 (11.59 %),

319 (49.30 %)

239 (36.94 %)

Para a facilidade de exprimir ideias em contexto online;

11 (1.70 %)

69 (10.66 %)

353 (54.56 %)

214 (33.08 %)

Para a participação discussões online.

14 (2.16 %)

65 (10.05 %)

334 (51.62 %)

234 (36.17 %)

em

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Assim, sobre a aquisição global de competências de comunicação online, 71,3% dos estudantes consideraram o MAO importante, tendo 20,4% considerado que o módulo foi decisivo para se sentir perfeitamente à vontade para comunicar na plataforma de aprendizagem. As competências de comunicação online previstas pelo módulo vão ao encontro da dimensão comunicativa do modelo de multialfabetizações de Moreira (2010), pautada na capacidade de criar mensagens de diversa natureza e sua difusão em meios e suportes para uma comunicação fluída e desenvolvimento de interações pessoais. Assinala-se ainda que, no que respeita à possibilidade de refletir e avaliar o conjunto das competências desenvolvidas ao longo do percurso, tendo em vista as atividades letivas futuras, o MAO foi percecionado pelos estudantes como muito útil (64.91 %) e útil (33.54 %). A competência de desenvolver a capacidade de reflexão sobre as aprendizagens realizadas é convergente com a dimensão cognitiva das multialfabetizações de Moreira (2010) na qual, dentre outros conhecimentos e habilidades específicas que são realizadas pela ativação de operações de alto nível, está a reflexão sobre o processo de construção do conhecimento pelo próprio sujeito. Destaca-se assim, a importância dos processos metacognitivos na aprendizagem (Pozo, 2002) que podem também ser promovidos no contexto da preparação dos estudantes para a frequência de um curso online.

Conclusões No contexto da cultura digital há um conjunto de diversas competências que são requeridas aos estudantes na universidade em função das necessidades que advém da própria vivência na sociedade do conhecimento, em que a informação é distribuída continuamente em rede, suportada por uma convergência de meios e mensagens, apontando para múltiplas literacias presentes neste contexto. Procurámos identificar como estas se dão na formação oferecida pelo MAO da UAb, na perspetiva dos próprios estudantes, no início do seu percurso académico. Neste sentido, foi possível identificar que os estudantes desconhecem, em parte, as possibilidades das tecnologias no campo educacional quando inseridas num modelo pedagógico que valoriza a interação, continuando a pensar que o ensino a distância se fundamenta no desenvolvimento de trabalho individual. A opção pela educação a distância revela-se

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ainda, em alguns casos, uma opção condicionada pela impossibilidade de frequentar o ensino presencial, em certa medida considerado mais estimulante, ainda que muitos estudantes se revelem curiosos sobre o funcionamento de uma turma online, mas simultaneamente algum receio por não estarem numa sala de aula convencional. Com efeito, consideram que no contexto online a comunicação é mais difícil que no contexto presencial, ainda que revelem a expetativa de fácil integração na sala de aula virtual e a fácil adaptação ao uso da tecnologia necessária nesse contexto. No desenvolvimento deste estudo, será interessante verificar como se alteram, ou não, estas perceções no final do primeiro ano do curso. Estamos em crer que muitos aspetos são modificados pela vivência efetiva do contexto de aprendizagem online pelo estudante. Verificámos também, no estudo realizado, a importância atribuída pelos estudantes às competências desenvolvidas pelo MAO como forma de se situarem no novo contexto de aprendizagem, designadamente no quadro do Modelo Pedagógico da Universidade Aberta. Assim, desenvolver competências de gestão do tempo online, organização pessoal e uso competente dos instrumentos relativos ao ambiente virtual em uso no curso, requer a cooperação nos trabalhos de equipa, adaptabilidade e flexibilidade nos processos de comunicação. Ressalta, também, nas competências efetivamente desenvolvidas durante o MAO, a dimensão instrumental da comunicação no uso competente de recursos e meios das tecnologias da informação e comunicação para a participação e a interação. Em relação à comunicação os estudantes consideraram que globalmente o MAO promoveu o desenvolvimento de grande parte as competências necessárias. Quanto às competências de comunicação online estas preveem o uso adequado da comunicação em espaços virtuais, incluindo criar e difundir textos e mensagens usando diversos meios e recursos sem esquecer os valores e regras subjacentes ao exercício ético da comunicação nestes contextos. Assim, o conjunto das competências (para ser estudante online, de comunicação e de comunicação online) desenvolvidas durante o MAO, foi considerada como muito útil pelos estudantes, tendo em vista as atividades letivas futuras. Por seu turno, a competência de desenvolver a reflexão sobre as aprendizagens é apontada pelos estudantes como fundamental na construção pessoal do conhecimento.

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Com o desenvolvimento de tais competências acreditamos ser possível diminuir a distância entre a cultura de participação dos estudantes nos espaços virtuais da cibercultura, nas suas práticas sociais diárias, e a cultura de conhecimento promovida pela universidade, alargando o domínio de competências digitais, associadas a competências sociais e cognitivas, importantes para atuar na sociedade do conhecimento, designadamente na promoção da aprendizagem, tornando-a acessível, cada vez mais a um maior número de cidadãos.

Referências

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