\"Literatura de Angola\", em CRISTÓVÃO, Fernando (dir.): Dicionário Temático da Lusofonia, Lisboa: Texto Editores, 2005

May 24, 2017 | Autor: Silvia Busto Caamaño | Categoria: Angola, Literatura Angolana, Pepetela, Agostinho Neto, Luandino Vieira, PALOP
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Silvia Busto Caamaño Língua e Cultura dos Países de Fala Portuguesa Ano letivo: 2016/17 (Literatura de Angola)

Cristóvão, Fernando (dir.): Dicionário Temático da Lusofonia, Lisboa: Texto Editores, 2005 A história da Literatura Angolana de Expressão Portuguesa está bastante relacionada com a história da imprensa e do jornalismo angolano, facto que se associa, nomeadamente, a que no próprio jornalismo se reforçou um nacionalismo que serviria de suporte à angolanidade. Para justificar este acontecimento, a seguir, são exprimidos sucessos que tiveram lugar em Angola, como o desenvolvimento de uma abundante imprensa livre em que se recolhe a colaboração literária de debates espalhados pelo território angolano. Em primeiro lugar, a criação do primeiro órgão da imprensa livre por volta do ano 1855, mas também os jornais culturais e literários Aurora, o Jornal Loanda (1879), o Echo de Angola (1881), o Pharol do Povo (1883), o Arauto Africano (1889), e o Polícia Africano (1890), entre outros, foram destacados, especialmente, por estarem ligados com a angolanidade da literatura angolana, a qual ganharia autenticidade a partir de 1950 com o grito do Vamos Descobrir Angola!, próprio dos Novos Intelectuais. Para além disso, importa mencionar a colaboração que Joaquim Dias Cordeiro da Matta, o intelectual mais prestigiado pela sua multifacetada obra, e considerado um modelo no processo evolutivo da Literatura Angolana de Expressão Portuguesa, ofereceu ao Jornal de Loanda, assinando algumas Jeremiadas Históricas, no estilo de Alexandre Herculano. Aliás, destaca-se o mesticismo linguístico, que começa a aparecer em Angola a partir do século XVIII, o qual significava a ausência da imposição de uma fala prestigiada, facto que conduzia à inexistência de um grupo social europeu, de forma que se marginalizavam as manifestações contrárias à sua norma. Este facto foi estudado pelo historiador António de Oliveira Cadornega na História Geral das Guerras Angolanas (século XVII) como uma espécie de demonstração de que a cultura angolana já estabelecia uma diferença entre a cultura portuguesa e a cultura negra. Assim, surgirão órgãos, como o Jornal de Loanda, em que se recolhiam poemas de expressão mestiça. É 1

o caso de Poesia, autoria de João da Cruz Toulson, que foi um modelo para autores como Cordeiro da Matta ou Eduardo Neves. Por outro lado, surgiram gerações, como a Geração de 1880 ou a Geração da Luz e Crença, as quais tinham como objetivo principal fundar uma literatura propriamente angolana, e lutar contra a forte pressão político-social que se ia exercer no século XX sobre a tentativa da intelectualidade angolense, respetivamente, facto que depois conseguiria O Angolense. Além disso, como consequência da guerra colonial que teve lugar na década de 1960, o jornal A Província de Angola, o qual representava o jornalismo colonial, não analisou pormenorizadamente os autores chave na Literatura Colonial, pelo que somente aqui são tratados os escritores Castro Soromenho (ficção), Tomás Vieira da Cruz e Geraldo Bessa Victor (poesia). Para além disso, um grupo de estudantes, entre os que se destacam Viriato da Cruz, Agostinho Neto e Mário António, do Liceu Salvador Correia, fundaram, em Luanda, o Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, que levará a cabo acções a fim de redescobrir a angolanidade. A seguir, aponta-se que é preciso conhecer as acções levadas a cabo pelo Movimento dos Novos Intelectuais de Angola para ter noção do objetivo da Mensagem, mediante a qual se assentou a Literatura Angolana. Em 1953, a revista Cultura criou-se a fim de que a angolanidade redescoberta por Mensagem não se extinguisse. No entanto, o discurso poético de Mensagem não foi suficiente para redescobrir a Literatura Angolana, pelo que foi necessário criar o discurso da novelística angolana, inaugurado pela Geração da Cultura, que tinha um cunho nomeadamente político. Será a partir desse momento quando a Literatura Angolana se centre na construção de uma língua nova, também angolana. Quanto aos escritores que se destacam nas Literaturas Angolanas, mencionam-se Luandino Vieira (fundador da novelística angolana de expressão portuguesa), Uanhenga Xitu (garantiu a genuidade musséquica da linguagem luandina), Manuel Rui (representava uma visão do intelectual mestiço), Ruy Duarte de Carvalho (profissional chegado a África que tem como propósito regressar a liberdade política e cultural a Angola), Arlindo Barbeitos (modelo da modernidade angolana), ou Pepetela (abre perspectivas novas ao romance angolano ou também pode dizer-se que o inaugurou), entre outros. Estes autores são essenciais nas Literaturas de Angola; de facto, após a Independência de Angola e da proclamação da União dos Escritores Angolanos, foram 2

revelados ao grande público. Aliás, a meados da década de 1980 apareceram escritoras femininas destacadas em Angola, entre as que se podem mencionar Paula Tavares, Isabel Ferreira ou Maria Amélia Dalomba, entre outras. Em conclusão, afirma-se que a Literatura Angolana vai entrar, a partir da década de 1980, num período de normalização política que se gerou com o fim da Guerra Civil. Assim, surgirão romancistas como Sousa Jamba. Além do mais, mantém-se a esperança de que os discursos de Agostinho Neto, Luandino Vieira e Pepetela, entre outros, que foram silenciados por causa da Guerra, floresçam agora.

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