LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DEFINE INTERCÂMBIO COMERCIAL? APONTAMENTOS SOBRE AS TROCAS ENTRE MATO GROSSO DO SUL E ARGENTINA

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LAMOSO, Lisandra Pereira; LIMA, Fábio de . Localização geográfica define intercâmbio comercial? Apontamentos sobre as trocas entre Mato Grosso do Sul e Argentina. In: Edvaldo Cesar Moretti; Milton Augusto Pasquotto Mariani. (Org.). Estudos fronteiriços: desafios, perspectivas e práticas. 1ed.Campo Grande: Editora da UFMS, 2015, v. 1, p. 39-66.

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DEFINE INTERCÂMBIO COMERCIAL? APONTAMENTOS SOBRE AS TROCAS ENTRE MATO GROSSO DO SUL E ARGENTINA1 Lisandra Pereira Lamoso Fábio de Lima INTRODUÇÃO A interrogação que abre o título se pauta na reflexão provocada por comentários expressos em artigos de opinião que tratam Mato Grosso do Sul como dotado de uma localização estratégica para o comércio com países do Mercosul, pois ocupa centralidade no continente Sul-americano e partilhando fronteiras com Paraguai e Bolívia, estando próximo a Argentina e Uruguai, além de contar com o Rio Paraguai para escoamento de cargas pela Hidrovia. Com todos esses qualificativos locacionais, em que medida estar próximo do Mercosul é definidor de volumes significativos nas exportações e importações estaduais? A localização é um dado objetivo, mas os desdobramentos da mesma podem, apenas se apresentar como pontos positivos enquanto um potencial, um vir a ser (ou não) e para compreender isso, a geometria espacial ajuda pouco. Nesse exercício, elencamos as trocas do estado com a Argentina. Selecionamos esse país por se um dos principais parceiros do comércio exterior brasileiro, a economia com maior potencial de consumo e mercado consumidor mais robusto (se comparado com Paraguai ou Bolívia), além da ligação do Mato Grosso do Sul com o mesmo contar com a navegação pelo Rio Paraguai, outro elemento que é exaltado como ponto positivo para o intercâmbio comercial. Primeira reflexão: a localização geográfica de Mato Grosso do Sul não é definidora de comércio2 com a Argentina. As trocas comerciais do estado são definidas pelo papel que este ocupa na divisão internacional do trabalho. Em tese, isso poderia ser exemplificado no caso do comércio de soja. Sendo Mato Grosso do Sul e Argentina produtores e fornecedores de soja para o mercado internacional poucas as possibilidades de comercializarem soja entre si. Mas essa é a lógica simplória, dada por uma rasa interpretação da teoria das vantagens comparativas. Para tornar mais completa a 1

Trabalho com apoio financeiro do CNPq e da Fundect.

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Aprofundamento das teorias sobre o comércio internacional podem ser conferidas em KRUGMAN & OBSTEFELD (2010), principalmente equívocos em relação a teoria das vantagens comparativas.

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compreensão, há que considerarmos o papel das empresas, ou melhor, as intencionalidades das corporações exportadoras e suas estratégias de competição, eliminação da concorrência, ampliação da participação no mercado e outros fatores já de domínio da literatura sobre a organização industrial. Segundo Pecqueur e Zimmermann (2005, p.81), "a relação local/global desloca a problemática tradicional da localização. Esta repousa sobre os critérios clássicos da minimização dos custos de produção”. A disputa pelos mercado via imposição da ordem global no território faz com que, por exemplo, Mato Grosso do Sul importe carne bovina da Argentina, como veremos nos dados a seguir. Segunda reflexão: a importância das corporações como atores geográficos (MARKUSEN, 2005). Na concepção da autora Markusen (2005, p.63): "a corporação empresarial constitui um dos atores econômicos mais importantes no desenvolvimento capitalista" (MARKUSEN, 2005, p.63). A inserção da economia exportadora estadual no mercado internacional é definida pelos interesses e pela materialização da intencionalidade das corporações. Para isso, a geografia econômica da distribuição dos fatos econômicos é importante, mas não suficiente. Como aporte explicativo, há que se recuperar a discussão sobre o poder econômico e a Geoeconomia é a entrada. Segundo Egler, "a geoeconomia procura compreender como o emprego do poder econômico, expresso em um conjunto de manifestações que vão desde o controle sobre a introdução do progresso técnico até definição de barreiras à entrada de competidores em mercados crescentemente oligopolizados afeta esta distribuição espacial." (EGLER, 2011, p.220-221). Isso posto, não é a proximidade Mato Grosso do Sul - Argentina que interfere nos níveis de comércio entre ambos mas o que as corporações instaladas no estado exportam e para quais mercados. São importantes corporações com unidades locais no estado: JBS, Fibria, Eldorado, Vale, Bunge, Cargil, ADM, Cosan, BRF, Louis Dreiffus Commodities3. Com base nestas duas reflexões, este texto sistematizará as características das exportações brasileiras, abordando a relação Brasil-Argentina (no âmbito do Mercosul), para contextualizar a participação do Mato Grosso do Sul. Em seguida apresentamos as exportações dos três estados ainda mais próximos à Argentina: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que permite uma comparação com as informações do último item, sobre as relações Mato Grosso do Sul e Argentina. CARACTERÍSTICAS DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS Para Almeida (2009), 60% das exportações brasileiras correspondem a produtos de baixa intensidade tecnológica, como commodities. A inserção brasileira no comércio internacional dá-se, no contexto geral, da seguinte forma: A) como produtora/exportadora de bens industrializados ao Mercosul (sobretudo à Argentina, principal parceira econômica do bloco) e a outros países de fora do bloco considerados periféricos economicamente, ou B) exportadora de produtos básicos (commodities) ou de baixa intensidade tecnológica para os países desenvolvidos que estão no “centro” da economia mundial. Ou seja, há uma troca comercial mais favorável do Brasil com os 3

Ao nos referirmos a “empresas”, consideramos as unidades jurídicas caracterizadas por uma empresa ou razão social que engloba o conjunto de atividades econômicas exercidas em uma ou mais unidades locais e a unidade local representa o espaço físico, geralmente área contínua, no qual uma ou mais atividades econômicas são desenvolvidas, correspondendo a um endereço de atuação da empresa, segundo definição do IBGE, 2004. Sobre as exportações e empresas no Mato Grosso do Sul, cf. Lamoso (2011).

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países ditos “não centrais” e o Mercosul, e inversamente desproporcional e menos vantajosa com os países desenvolvidos, dos quais importa principalmente produtos industrializados com alta intensidade de tecnologia. Em específico ao padrão de comércio realizado com a Argentina, apesar de os dois países realizarem trocas de produtos industrializados, essencialmente no setor automobilístico, verificamos uma certa vantagem ao Brasil, que possui um parque industrial mais diversificado e desenvolvido em comparação ao país vizinho, que nas últimas décadas (70, 80 e 90), sofreu com a desindustrialização. Para Soares (2011) esse processo de desindustrialização atingiu seu nível mais alto na década de 1990, no governo de Carlos Saúl Menem adepto das políticas liberais. Nesse período, a queda da participação relativa do produto industrial no PIB foi ainda mais acentuada, comparada a outros governos, passou de 31% em 1989 para 18% em 1999. Isso demonstrou a perda de importância do produto industrial durante a política de abertura irrestrita realizada pelo Presidente Menem em seus dois mandatos (1989-1999). Ao referir-se à perda de competitividade internacional brasileira nos anos 1990, não foi maior devido ao desenvolvimento do comércio realizado com Mercosul, diz Gonçalves (2001): “A perda de competitividade internacional do Brasil deve ser qualificada a partir da análise da distribuição geográfica do comercio exterior brasileiro, bem como da composição da pauta de exportação”. Com o surgimento do Mercosul ocorre um tratamento preferencial dos países constituintes. Para o autor, há uma “discriminação positiva da integração regional”, implicando a mudança dos preços, com um desvio de comércio em favor dos integrantes do bloco. Os países que participam desse processo de integração substituem seus fornecedores internacionais com custos baixos, resultando no comercio de âmbito regional. Desde o início da década de 1990, os setores industriais passaram por um forte processo de reestruturação de suas unidades produtivas. A modificação foi mais intensa nas porções do território nacional onde predominavam as empresas transnacionais. Muitas delas se adequaram ou se aproveitaram das políticas de integração econômica no âmbito do Mercosul, valendo-se das vantagens comparativas em relação aos países integrantes do bloco. Por exemplo, o acesso privilegiado às menores tarifas de importação para os produtos brasileiros no mercado argentino, e os custos menores de transporte possibilitou um incremento na balança comercial efetiva entre os dois países. Diante desse contexto, a integração regional (Mercosul) podia ser a possibilidade de aproximação das economias, pois juntas podiam obter um maior poder de barganha frente ao dinamismo do comércio internacional, protagonizado pelas grandes potências mundiais (Estados Unidos, Europa e Japão). Ou seja, os processos de regionalização do espaço mundial tendiam a ampliar-se mutuamente, em diversos países em diferentes localidades do globo terrestre. Esse processo de regionalização experimentado pelos países do Cone Sul, trouxe reduções tarifarias entre os membros, permitindo um aumento significativo da balança comercial entre os países do Mercosul, sobretudo Brasil e Argentina. A evolução das exportações brasileiras com destino à Argentina passou de 645 milhões de dólares em 1990, para 19 bilhões de dólares em 2013. Ao passo que importações originarias do país vizinho somavam 1,3 milhão de dólares em 1990, elevando-se para 16 bilhões de dólares em 2013.

3

25.000.000.000

20.000.000.000

15.000.000.000

10.000.000.000

5.000.000.000

1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

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EXPORTACÕES

IMPORTACÕES

Figura 1 – Balança comercial Brasil - Argentina em US$ FOB, entre 1989-2013 1989 Elaborado pelos autores com dados do MDIC.

Verifica-se se um saldo positivo na balança comercial em favor da Argentina nos anos 1990, posterior à criação do Mercosul (1991). O superávit argentino deu-se deu em praticamente todos os anos década de 1990 com saldo positivo em relação ao comércio comér com o Brasil, obtendo déficit negativo apenas em 1992, 1993 e 1994. Essa tendência continuou nos primeiros anos da década de 2000, rompida a partir de 2004, ano em que o Brasil apresenta superávit em relação a Argentina, seguindo ininterruptamente até o ano de 2013. Vale ressaltar que a crise internacional que atingiu a América Latina no final dos anos 90 e a profunda crise político político-econômica econômica da Argentina em 2001 contribuíram para a diminuição dos volumes na balança comercial entre os dois países entre 1999 a 2003. O padrão de comércio internacional, de forma geral, pode ser diferenciado em categorias, de acordo com a especificidade da produção dos setores, caracterizados como intraindustrial4 e/ou interindustrial5. Como nos demonstra Ricardo (1996) es este te tipo de padrão de comércio interindustrial nos revela que quando existem diferenças de produtividade na produção de um determinado bem, aquele que apresentar a mais elevada, possui vantagem comparativa nesse produto. Assim, para que as vantagens possam ser compartilhadas, 4

O comércio intraindustria pode ser entendido como a exportação e importação, entre dois doi países de produtos do mesmo segmento industrial. 5

O comércio interindústria produz ganhos adicionais, permitindo que os países sejam beneficiados por mercados maiores, uma vez, que eles podem se especializar em uma gama menor de produtos, sem perder a totalidade otalidade de produtos oferecidos aos consumidores, produzindo em uma escala maior, com custos menores e produtividade mais alta.

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os países devem se especializar nos bens com os quais detêm vantagens comparativas, reduzindo os custos na produção, trocando tais bens com a produção de outro país. Um bom exemplo figurativo de comércio interindustrial pode ser demonstrado na Figura 1: País A Exporta computadores (menor custo de oportunidade) Importa alimentos

Computadores Vantagens comparativas Alimentos

País B Exporta alimentos (menor custo de oportunidade) Importa computadores

Figura 2 – Padrão de comércio interindústria Fonte: Montoro et al (2010)

O comércio intraindustrial corresponde à exportação e importação de produtos de um mesmo segmento industrial. E quanto mais intenso se torna esse tipo de comercio, supõe-se ser mais avançado o padrão de comércio do país. “O crescimento do comércio intraindustria tende a ocasionar uma distribuição menos irregular dos ganhos decorrentes do incremento comercial. Ou seja, provoca o crescimento equilibrado do comércio entre dois países” (BNDES, 1993), como demostrado na figura 2 de maneira didática. País A Capital-intensivo Exporta computadores Importa computadores e alimentos

Computadores

Computadores

Computadores

Alimentos

Comércio intraindústria Economia de escala e diferenciação do produto

País B Trabalho-intensivo Exporta alimentos e computadores Importa computadores

Comércio interindústria Vantagens comparativas

Figura 3 – Padrão de comércio intraindústria Fonte: Montoro et al (2010)

Vasconcelos (2003), analisando o período 1900-1998, observa que o fluxo comercial entre o Brasil e os países do Mercosul obteve resultados positivos devido ao comércio intraindustrial. Na relação comercial com a Argentina, no período de 20032005, as empresas de plásticos e as automobilísticas são as que mais apresentaram esse tipo de comércio (MONTORO et al, 2010). Os índices de comércio intraindustria desde a criação do Mercosul, demonstram-se favoráveis ao Brasil, pelo fato de este apresentar uma base industrial mais desenvolvida, em comparação com os outros integrantes do bloco. Vale ressaltar a complementariedade econômica Brasil-Argentina no setor industrial de automóveis e autopeças, implementado com a efetivação de acordos bilaterais a partir dos anos 1990, com atuação maciça de empresas multinacionais que atuam no setor dos dois países. Com a abertura econômica no início dos anos 1990, no governo Collor, deuse largada ao processo de privatizações com o Estado assumindo o papel de regulador 5

das operações de desestatização da economia. Mesmo com esse contexto nacional, “o governo nunca deixou por completo de adotar políticas de incentivos setoriais” (ALMEIDA, 2009, p.09). Com forte atuação do BNDES em financiar projetos de privatização que contou também com a participação dos fundos de pensão estatais. O setor automobilístico não ficou de fora dessa oportunidade; ao contrário, recebeu recursos financeiros para a reestruturação de suas unidades. E como aponta Almeida (2009), “os demais setores da indústria não contavam com uma política industrial”. De qualquer modo, era um privilégio concedido pelo governo às empresas automobilísticas, representadas essencialmente por multinacionais estrangeiras. Gonçalves (2001) analisa que os produtos automotivos brasileiros tiveram uma perda significativa de competitividade nos anos 80, e retomando os níveis de desenvolvimento ao longo dos anos 90, reestruturando suas unidades produtivas. Segundo este autor: Cabe destacar, todavia, que este setor é dominado por empresas estrangeiras e beneficiou-se do comércio intra-firma por meio da criação do Mercosul (...) Isto significa que cerca de metade das exportações brasileiras do setor automobilístico em 1997 estava orientado para o mercado argentino na forma de comércio intra-firma (GONÇALVES, 2001, p.11).

Essa tendência, segundo Gonçalves (2001) continua presente no comércio realizado após o ano 2000, com uma forte aproximação principalmente da Argentina, nosso principal parceiro do Mercosul. Porém, em estudos mais recentes referentes ao Mercosul, Gonçalves (2009, p.09) aponta que “na fase ascendente do ciclo internacional a partir de 2003 (até 2007), o comércio intra-regional voltou a se expandir ainda que um dinamismo inferior aquele observado na década de 1990”. O comércio intraindústria se aproveita de vantagens competitivas dos dois países para reestruturarem suas unidades produtivas, aumentando a competitividade em relação a produtos automobilísticos que são importados de outros países de fora do bloco do Mercosul. Podemos considerar que as empresas automobilísticas, no estágio da produção flexível pós-fordista, se valem dos acordos, embora tenham sido motivo de constantes insatisfações nos últimos anos. Ainda assim, tem ocorrido importação/exportação de vários componentes básicos da fabricação, como freios, faróis, caixas de câmbio, motores, entre outros. A Tabela 1 apresenta a participação da Argentina no total do comércio exterior brasileiro no ano de 2013. Nos dados, podemos constatar a participação expressiva da categoria "automóveis e acessórios", com 53,35% do total. Tabela 1:Exportações do Brasil para a Argentina em 2013 Produtos exportados Automóveis e acessórios

US$ FOB

%

10.464.750.600

53,35

Minérios de ferro

907.295.016

4,63

Lâminas e perfis de ferro/aço

403.595.404

2,06

Papel

395.732.791

2,02

Polietileno e seus derivados

315.463.046

1,61

6

Demais

36,34

7.128.577.585

Organizada pelos autores com dados do MDIC

O comércio de produtos automobilísticos intenso tem início em meados da década de 1990, com incentivos fiscais e acordos econômicos, como o de dezembro de 1990, o Acordo de Complementação Econômica (ACE) n°14, adotado posteriormente com a criação do Mercosul. A expressão do setor automobilístico pode ser comprovada na Tabela 2, representando quase metade das importações advindas da Argentina. Tabela 2:Exportações da Argentina para o Brasil em 2013 Produtos exportados

US$ FOB

%

Automóveis e acessórios

7.631.371.271

46,36

Trigo e derivados

952.257.537

5,78

Naftas p/ petroquímica

552.460.723

3,36

Batata

222.571.091

1,53

Malte

246.964.316

1,5

Demais

6.857.043.167

41,65

Organizada pelos autores com dados do MDIC

Note-se a relação de trocas comerciais entre os países no setor automobilístico, representado em 2013, praticamente metade da composição de produtos na balança comercial Brasil-Argentina. Esse fluxo comercial derivado do setor automobilístico é exemplo das observações apontadas por Chesnais (1996) sobre a influência das multinacionais na integração comercial. Segundo o autor, Onde o comércio liberado aparentemente teve efeito integrador, os verdadeiros agentes do processo são sobretudo as multinacionais, às quais a liberalização permitiu organizar como desejavam o trabalho de suas filiais e suas relações de terceirização (CHESNAIS, 1996, p.211).

A indústria automobilística comprova a tese de Chesnais sobre o peso das multinacionais no comércio que integra Brasil e Argentina. As estratégias das corporações, que impõem seu “poder de mando” no território, expressão de Santos (1994). A Argentina é efetivamente comprador de produtos manufaturados brasileiros. Esse movimento é dado essencialmente pelo setor automobilístico, como demonstrado anteriormente. Poderia ter implicações negativas para o Brasil sua colocação de manufaturados no mercado internacional caso não contasse com a expressão das exportações para a Argentina. O movimento é contrário, considerando as exportações brasileiras com os países do mundo. Desde o ano de 2010, tem ocorrido uma inversão na pauta das exportações brasileiras, com maior participação dos produtos básicos em detrimento da redução (valores percentuais) de produtos manufaturados. No ano de 2013, essa relação foi de 46,8% básicos, 37,4% manufaturados e 13,6% semimafuturados, do total geral das exportações para o resto do mundo. 7

A demanda chinesa por alimentos e matérias-primas favorece e consolida a estrutura produtiva brasileira concentrada na exportação de produtos de baixa intensidade tecnológica. Segundo Almeida (2009), ao invés de criar políticas para amortizar os efeitos dessa demanda, o atual cenário da política industrial brasileira “na verdade o fortalece ao estimular a concentração de internacionalização das empresas brasileiras produtoras de commodities e produtos de baixa tecnologia” (ALMEIDA, 2009, p.25). Com a possibilidade de perda do poder hegemônico dos Estados Unidos, pode aparecer espaço para “novos atores” mundiais, como é o caso do Brasil entre os países em desenvolvimento, pois a demanda chinesa por matéria-prima pode dar um novo dinamismo para a economia brasileira. Mas, como apontam os “pessimistas”, o Brasil pode vir a retomar a posição primário-exportadora, anterior à década de 1930 (CUNHA, 2011),semelhante ao que ocorreu com a Argentina no início do século XX, com sua política econômica bilateral voltada para os ingleses, naufragando com o advento da I Guerra Mundial. Em relação à China, aponta-nos Cunha (2011, p.21): “sua demanda por matérias-primas e energia afeta, cada vez mais, a distribuição mundial da oferta e dos preços das commodities, com distintos impactos sobre outros países, produtores e consumidores”.

Tabela 3:Principais produtos exportados do Brasil para a China em 2013 Produtos Exportados

Valor US$ F.O.B.

Part.%

Soja mesmo triturada

17.147.972.473

37,26

Minérios de ferro e seus concentrados

15.933.123.916

34,62

Óleos brutos de petróleo

4.034.516.244

8,77

Celulose

1.577.536.322

3,43

Açúcar de cana, em bruto

1.419.631.336

3,08

Couros e peles, exceto em bruto

638.844.188

1,39

Catodos de cobre

584.155.447

1,27

Óleo de soja em bruto

507.163.277

1,10

Ferro-ligas

496.690.817

1,08

Fumo em folhas e desperdícios

453.879.422

0,99

3.232.639.604

7,02

Demais produtos Organizada pelos autores com dados do MDIC

O comércio realizado entre os países latino-americanos e a China vem crescendo nos últimos anos. No caso do Brasil, a China é o principal parceiro

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econômico. Os produtos mais exportados pelo Brasil com destino à China são a soja (37,26%) e minério de ferro (34,62%).

Tabela 4:Exportações daChinapara o Brasil em 2013 Produtos exportados

Valor US$ F.O.B.

Part.%

Partes de aparelhos transmissores ou receptores

1.979.608.768

5,31

Partes e acessórios de máquinas para processamento de dados Circuitos impressos e outras partes para aparelhos de telefonia Circuitos integrados e micro conjuntos eletrônicos Motores, geradores e transformadores eletrônicos e suas partes Maquinas automáticas para processamento de dados e suas unidades Produtos laminados planos de ferro ou aços

1.572.057.480

4,21

1.290.778.230

3,46

1.026.151.783

2,75

994.720.295

2,67

981.248.704

2,63

694.549.533

1,86

682.842.977

1,83

642.102.443

1,72

632.922.648

1,70

26.805.167.181

71,86

Compostos heterocíclicos, seus sais e sulfonamidas Brinquedos, jogos e artigos para diversão e suas partes Tecidos de fibras têxteis, sintéticas ou artificiais Demais produtos Organizada pelos autores com dados do MDIC

Importamos da China produtos de alta tecnologia ou valor agregado, posição esta que pode comprometer a indústria brasileira de manufaturados, perdendo em competição para o dinamismo das indústrias chinesas. No ano de 2013, a Argentina correspondeu à terceira posição no ranking das exportações brasileiras, absorvendo 8% do total comercializado com o mundo (US$ 19,6 bilhões FOB). Perdeu apenas para a China, que consumiu 19% do total (US$ 46 bilhões FOB), e Estados Unidos, com destino de 10% das exportações brasileiras (US$ 24,6 bilhões FOB). Tabela 5:Principais destinos das exportações brasileiras, por países, em 2013 Países

Valor US$ FOB

Part.%

China

46.026.153.046

19,01

Estados Unidos

24.652.515.702

10,18

Argentina

19.615.414.342

8,10

Países Baixos (Holanda)

17.325.879.802

7,15 9

Japão

7.964.030.522

3,29

Alemanha

6.551.654.000

2,71

Venezuela

4.849.839.836

2,00

Coréia, República da (Sul)

4.719.969.854

1,95

Chile

4.483.782.976

1,85

Panamá

4.423.101.466

1,83

Organizada pelos autores com dados do MDIC

Para a Argentina, o principal parceiro econômico é o Brasil, que absorveu no ano de 2013, um total de 20,4% de todas as suas exportações (US$ 16,4 bilhões FOB), seguidos por Chile, 6,3% (US$ 5,06 bilhões FOB), China, 6,2% (US$ 5,02 Bilhões FOB), Estados Unidos,5,1% (US$ 4,13 bilhões FOB) e Espanha, 3,3% (US$ 2,65 bilhões FOB) (MINISTÉRIO DAS RELACÕES EXTERIORES, 2014). As importações brasileiras no ano de 2013 tiveram a Argentina na terceira posição no ranking de origem dos produtos importados pelo Brasil, com um total de 6,8% (US$ 16,4 bilhões FOB). A primeira posição foi ocupada pela China 15,5% (US$ 37,3 bilhões FOB) e, na segunda posição os Estados Unidos 15% (US$ 36 bilhões FOB) do total das importações brasileiras em 2013.

Tabela 6:Principais origens das importações brasileiras, por países, em 2013 Países

Valor US$ F.O.B.

Part.%

China

37.302.150.042

15,57

Estados Unidos

36.001.999.377

15,02

Argentina

16.462.929.322

6,87

Alemanha

15.182.002.770

6,34

Nigéria

9.647.535.388

4,03

Coréia, República da (Sul)

9.491.255.833

3,96

Japão

7.081.664.858

2,96

Itália

6.716.928.480

2,80

França

6.497.922.565

2,71

Índia

6.357.300.153

2,65

Organizada pelos autores com dados do MDIC

Para a Argentina, novamente constatamos a importância do Brasil como protagonista e principal parceiro econômico, representando a origem de 26,1% (US$ 17,9 bilhões FOB) das importações totais argentinas de 2013. Seguido por China, 14,5% (US$ 9,9 Bilhões FOB), Estados Unidos, 12,4% (US$ 8,4 bilhões FOB), 10

Alemanha, 5,4% (3,7 bilhões FOB) e México, 3,3% (US$ 2,2 bilhões FOB) (MINISTÉRIO DAS RELACÕES EXTERIORES, 2014). Esses dados apresentados acima confirmam a relevância do papel integrador das duas maiores economias do Mercosul e revelam o papel que a integração regional pode desempenhar, a longo prazo, em economias de escala, vindo a fortalecer o poder de barganha no cenário internacional. O protecionismo e o difícil acesso aos países desenvolvidos podem aproximar em um nível cada vez maior as economias SulAmericanas, consolidando as relações sul-sul. Portanto, Brasil e Argentina podem ser considerados, apesar de várias divergências intrabloco, um exemplo efetivo de integração comercial realizado no âmbito do Mercosul. PROXIMIDADE GEOGRÁFICA E TROCAS COMERCIAIS COM OS ESTADOS DO SUL O comércio com a Argentina, realizado pelos estados brasileiros, revela-nos questões particulares sobre o comércio intraindústria realizado por transnacionais que atuam nos dois países, aferindo vantagens competitivas em determinados setores industriais, como é o caso do setor automobilístico, verificado anteriormente. São Paulo foi o estado que mais exportou para a Argentina no ano de 2013, com um total de 43% do total entre todos os estados que exportaram para o país vizinho. Seguido de Minas Gerais, 10,8%, Paraná, 10,6%, Rio Grande do Sul, 9,8% e Bahia, 7% do total das exportações. Dentre os cinco principais estados que exportaram para a Argentina no mesmo período, dois deles (Paraná e Rio Grande do Sul) fazem fronteira com o território argentino. Santa Catarina, o outro estado que faz fronteira com o país vizinho, apresenta-se na oitava colocação. Tabela 7 – Principais unidades da federação que comercializaram com a Argentina no ano de 2013 Unidade da federação SP

Exportação

%

Importação

%

43,01

Unidade da federação RS

8.281.690.755

3.780.305.800

22,97

MG

2.085.751.983

10,83

SP

3.346.336.297

20,33

PR

2.048.891.843

10,64

PR

2.322.099.522

14,11

RS

1.897.532.290

9,85

MG

2.035.198.964

12,36

BA

1.357.841.027

7,05

BA

1.405.377.077

8,54

RJ

1.222.566.857

6,35

SC

1.103.972.602

6,71

ES

594.847.253

3,09

RJ

929.380.540

5,65

SC

517.643.727

2,69

PE

541.968.520

3,29

MS

434.431.905

2,26

ES

255.002.886

1,55

AM

283.583.320

1,47

CE

191.039.219

1,16

Organizada pelos autores com dados do MDIC

Percebemos uma certa diferenciação na posição dos estados em relação às importações. O estado que mais importa da Argentina é Rio Grande do Sul, com 22,9% do total das importações por unidades da federação. Depois, vem São Paulo, 20,3%, Paraná, 14,11%, Minas Gerais, 12,3% e Bahia, 8,5% do total das importações. O Rio Grande do Sul é o primeiro colocado e o Paraná, o terceiro no ranking das importações, 11

por estados fronteiriços com a Argentina. Santa Catarina ocupou a sexta posição nas importações, sendo que apresenta-se como a oitava nas exportações. Tabela 8 - Rio Grande do Sul –Balança comercial com à Argentina em 2013 Produtos importados Automóveis e acessórios

US$ FOB

Naftas para petroquímica

2.585.336.703 489.110.551

%

Produtos exportados Automóveis e 68,39 acessórios

US$ FOB

12,94 Polietilenos

%

852.740.987

44,94

210.979.422

11,12

Trigo

74.625.943

1,97 Polipropileno

62.548.889

3,3

Cebola Óleos brutos de petróleo

57.749.219

1,53 Buta-1, 3-dieno

46.756.011

2,46

44.654.128

1,18 Hidrocarboneto

37.983.979

2,0

Organizada pelos autores com dados do MDIC

Tabela 9 – Paraná - Balança comercial com à Argentina em 2013 Produtos importados Automóveis e acessórios Malte

US$ FOB

%

Produtos exportados Automóveis e 68,76 acessórios 2,81 Papéis

1.596.677.772 65.291.370

US$ FOB

%

1.475.493.065

72,01

128.114.704

6,25

Trigo

61.328.582

2,64 Éter

29.320.346

1,43

Pasta química de Madeira Cevada cervejeira

50.689.865

2,18 Refrigeradores

26.760.232

1,31

17.748.074

0,87

44.120.990

1,9 Gasóleo

Organizada pelos autores com dados do MDIC

Tabela 10 – Santa Catarina - Principais produtos importados da Argentina 2013 Produtos importados Polímeros plásticos

US$ FOB 186.413.135

%

Produtos exportados 16,89 Papel

US$ FOB

%

92.895.743

17,95

Inseticidas

58.415.520

5,29 Laminas ferro/aço

58.471.486

11,3

Desodorantes corporais e

54.729.133

4,96 Motocompressor

32.624.093

6,3

12

antitranspirantes Ligas de alumínio

48.303.324

Batata

45.273.864

4,38 Refrigeradores 4,1 Carne suína

22.424.195

4,33

22.216.483

4,29

Organizada pelos autores com dados do MDIC

Analisando o movimento de exportação e importação dos cinco principais produtos entre os estados brasileiros fronteiriços (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) e a Argentina no ano de 2013 percebemos que nos estados do Rio Grande do Sul e do Paraná, ocorre um intercâmbio intraindustrial no setor automobilístico. A categoria “Automóveis e acessórios” representou 45% das exportações e 68% das importações do Rio Grande do Sul na balança comercial com o país vizinho em 2013. Esse setor representou para o estado do Paraná, 72% das exportações e 68% das importações, no mesmo período. Outro setor de destaque no comércio entre o Paraná e a Argentina é o de papel-celulose. O Paraná importou US$ 50 milhões de pasta química de madeira e exportou US$ 120 milhões em papéis para o país vizinho no ano de 2013. Para os autores Costa et al (2012) que realizaram uma análise dos setores competitivos no comércio exterior do Paraná entre 1996-2008, afirmam que o setor de papel-celulose apresentou o comércio de tipo intraindústria em todo o período analisado. A implantação do Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (CODESUL), acordo firmado entre os estados da região sul do Brasil, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná no ano de 1961, é um exemplo de políticas que podem oferecer suporte ao intercâmbio comercial.Em 1992, o estado de Mato Grosso do Sul passou a integrar o conselho. O CODESUL constitui-se um foro privilegiado à coordenação e à potencialização em torno de questões comuns aos estados participantes, em especial aquelas relativas ao desenvolvimento econômico e social e à integração ao Mercosul6.

AS RELAÇÕES ENTRE MATO GROSSO DO SUL E A ARGENTINA A economia do estado de Mato Grosso do Sul tem base no agronegócio, com pecuária bovina, lavouras de soja, milho, cana-de-açúcar e silvicultura (eucalipto). A agroindústria de aves e suínos é desenvolvida nos municípios do sul do estado. Na região Nordeste, encontra-se em expansão a produção de eucaliptos que são processados pelas empresas do complexo papel-celulose Eldorado,Fibria e InternationalPaper. O setor sucro-álcool energético também se encontra em expansão, no Centro-sul do estado. No Pantanal, a atividade que insere a economia do estado no mercado internacional é a exploração mineral de ferro e manganês.

6

Para mais informações sobre o CODESUL, acessar o site: http://www.codesul.com.br/.

13

Figura 4 - Cone Sul da América do Sul Elaboração: Cristovão Henrique Ribeiro da Silva, 2014

As atividades produtivas em Mato Grosso do Sul passam por uma transição que tinha o predomínio no binômio grãos-carne para um processo de expansão de novos sistemas produtivos do eucalipto e da cana-de-açúcar. A expansão da cana ocorre de forma mais acentuada no centro-sul do estado e o eucalipto na porção nordeste, com investimentos da Fibria e, da Eldorado. De Corumbá, na Bacia do Pantanal, são exportados produtos minerais como minério de ferro e manganês, via Rio Paraguai, para mercados regionais da Argentina, Paraguai e Venezuela. Nos anos de 2006, 2008, 2010, 2011, 2012 e 2013, as exportações de Mato Grosso do Sul voltadas para a Argentina estabeleceram-se na segunda posição, perdendo todos esses anos apenas para a China. Por sua vez, a China vem se destacando como o maior destino das exportações do Mato Grosso do Sul, sendo, nos últimos anos, o maior comprador das exportações sul-matogrossenses e também do Brasil. A relação dos produtos mais exportados por Mato Grosso do Sul, com destino à Argentina, revela-nos a face exportadora do estado, sendo o minério de ferro o principal produto exportado. O escoamento da produção de minérios é realizado no município de Corumbá/MS, e utiliza a navegaçãopelo Rio Paraguai, com destino à Argentina. (Ver figura 4). Tabela 11- Exportações de minério de ferro e manganês de Mato Grosso do Sul para Argentina (2000-2013) Ano 2013

US$ FOB 426.025.554

% do total 98,06

14

2012

321.876.508

97,01

2011

558.614.572

97,18

2010

278.906.038

91,96

2009

95.204.605

92,84

2008

193.556.489

93,48

2007

70.729.635

94,28

2006

85.891.448

90,52

2005

56.473.260

83,33

2004

36.310.380

83,33

2003

32.117.329

73,97

2002

26.065.139

94,02

2001

17.673.244

93,71

2000

18.958.624

84,50

Organizada pelos autores com dados do MDIC * De todos os produtos exportados de Mato Grosso do Sul para a Argentina de 2000-2013, Minério de Ferro e manganês apresentam-se em destaque por serem os produtos mais exportados.

Podemos citar outros produtos exportados para a Argentina pelo estado de Mato Grosso do Sul, com menor importância que o minério de ferro, que são a carne suína (0,56%), pasta química de madeira (0,49%) e a dextrina (0,22%) no ano de 2013.

Tabela 12- Principais produtos exportados de Mato Grosso do Sul para à Argentina no ano de 2013 Produtos Minério de ferro e manganês

US$ FOB

% 426.025.554

98,06

Carne suína

2.417.533

0,56

Pasta química de madeira

2.129.825

0,49

Dextrina

973.146

0,22

Fécula de mandioca

484.057

0,11

Organizada pelos autores com dados do MDIC

Como podemos analisar as exportações de Mato Grosso do Sul para a Argentina são concentradas particularmente em um produto, o minério de ferro com extração no maciço do Urucum, na cidade de Corumbá. Faz-se necessário um maior investimento na diversificação da pauta exportadora do estado (alguns investimentos já vêm ocorrendo, porém em setores específicos da indústria). Apenas com uma base 15

industrial mais sofisticada e principalmente diversificada, o Mato Grosso do sul poderá aumentar seu leque de inserção no mercado internacional, sobretudo com os países integrantes do Mercosul, aproveitando-se das vantagens do comércio intrarregional. Tabela 13 - Principais produtos importados da Argentina por Mato Grosso do Sul Ano

Produto*

US$ FOB

% do total

2013

Carne bovina

28.513.464

26,88

2012

Carne bovina

49.672.689

45,01

2011

Carne bovina

40.241.526

42,7

2010

Carne bovina

27.978.676

37,46

2009

Carne bovina

13.593.197

26,7

2008

Carne bovina

19.370.349

22,23

2007

Alho

15.740.657

18,01

2006

Alho

8.719.060

16,55

2005

Alho

7.432.445

14,39

2004

Batatas

7.167.327

21,84

2003

Batatas

6.928.016

28,4

2002

Carnes bovina

2.110.051

37,53

2001

Trigo (inclui Farinha)

1.598.002

39,5

2000

Alho

343.500

17,98

Organizada pelos autores com dados do MDIC

Quanto aos produtos importados da Argentina no ano de 2013, a carne bovina é o principal, representando um total de 26,8% das importações. A carne é seguida da Fio-maquinas de ferro/aço, batatas e alho, com as 2º, 3º e 4º colocações respectivamente. O que devemos atentar, nas importações, é para o fato de o Mato Grosso do Sul ser um dos principais produtores e exportadores de carne bovina, estado no qual têm se instalado frigoríficos de representatividade como JBS, que, no ano de 2012, foi a segunda empresa no total em valores de exportações em nosso estado. Tabela 14 - Produtos que o Mato Grosso do Sul importou da Argentina em 2013 Produtos

US$ FOB

%

Carne bovina

28.513.464

26,88

Fio-máquinas de ferro/aço

25.017.184

23,58

Batatas

19.671.778

18,54

Alhos

9.404.020

8,86

Filés de merluzas e abróteas

5.404.465

5,09

Organizada pelos autores com dados do MDIC

As importações de carne bovina chamam a atenção, pois o Mato Grosso do Sul possui um dos principais rebanhos bovinos do país, com 20.634.817 cabeças,

16

segundo dados do Censo Agropecuário de 2006 (IBGE). Mesmo assim, a carne bovina representou 26% do total das importações no ano de 2013. A carne é, assim como a indústria automobilística na escala nacional, um dos exemplos de integração via comércio intraindústria. Segundo Galera (2011),frigoríficos multinacionais, internacionalizados, com grande capacidade de abate em suas plantas industriais, como é o caso do JBS e do Marfrig, importam carne da Argentina para fechar lotes de exportação aos seus fornecedores, principalmente na Europa e na Ásia (Hong Kong).

CONSIDERAÇÕES FINAIS Este texto apresentou subsídios à discussão sobre as limitações do fator localização/proximidade para a explicação das trocas comerciais, considerando o estudo de caso entre Mato Grosso do Sul e Argentina. A geometria espacial que considera "estar próximo" como uma variável propulsora dos intercâmbios é questionada. A ela acrescentamos dois outros fatores: qualidade e características da inserção internacional - o papel do Mato Grosso do Sul na divisão internacional do trabalho - e o papel das corporações como atores geográficos importantes no desenvolvimento capitalista, o que se conjuga a um olhar mais atento à geoeconomia e não apenas à geografia econômica. Mato Grosso do Sul possui uma centralidade locacional na América do Sul mas isso não é suficiente para dinamizar suas exportações e importações com os países vizinhos (Paraguai e Bolívia) ou próximos, como é o caso detalhado no estudo, da Argentina. Partimos de uma caracterização do comércio entre Brasil-Argentina, no qual localizamos as empresas automobilísticas como mantenedoras de trocas entre os dois países, confirmando a tese das corporações e seu papel estrutural para a compreensão do comércio exterior. Quanto analisamos as exportações sul-mato-grossenses nos deparamos com as vendas de minério de ferro, pela Vale, que realiza exploração em Corumbá. É um caso de produto primário que associa as vantagens comparativas e a presença da Hidrovia do Rio Paraguai como corredor de integração entre mercado fornecedor e consumidor. O minério tem alcançado médias históricas sempre superiores das demais exportações, sendo 98% do total em 2013.Neste caso, a verticalização da cadeia mínerosiderúrgica incrementa a agregação de valor mas teria o efeito de redução do comércio entre Mato Grosso do Sul e seu parceiro comercial no Mercosul. Nas importações, destaque para a carne bovina e a materialização dos interesses e estratégias das corporações que atuam no setor, confirmando a tese defendida por Markusen (2005). O trabalho não esgota mas contribui para lançar uma agenda de pesquisa que pode ser pautada pelos potenciais de comércio entre Mato Grosso do Sul e os países que lhe fazem limite ou estão próximos, considerando não o fator locacional como protagonista mas ele associado aos atores geográficos (corporações) e a leitura pela geoeconomia.

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