Lógicas institucionais no estudo da estratégia-como-prática: uma proposta de relação entre o conceito e a abordagem

June 30, 2017 | Autor: Leandro Bonfim | Categoria: Strategy As Practice, Institutional Logics, Institucionalismo, Estratégia-Como-Prática
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LÓGICAS INSTITUCIONAIS NO ESTUDO DA ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA: UMA PROPOSTA DE RELAÇÃO ENTRE O CONCEITO E A ABORDAGEM** Leandro R. C. Bonfim – Universidade Federal do Paraná Gustavo Abib – Universidade Federal do Paraná Sandro A. Gonçalves – Universidade Federal do Paraná **Artigo apresentado no 8th Iberoamerican Academy of Management Conference, em 2013, São Paulo.

RESUMO Este ensaio teórico tem o objetivo relacionar as ideias implicadas no conceito de lógicas institucionais e os estudos da estratégia como prática. Os argumentos são no sentido de que as lógicas institucionais estão presentes em todos os níveis estudados pelos pesquisadores da estratégia como prática – práticas, práxis e praticantes, sendo um recurso analítico promissor para que se entendam aspectos pouco explorados por esta perspectiva da estratégia. A estratégia, como um campo de estudo, tem potencial para acumular um saldo líquido positivo na junção das lógicas com sua abordagem como prática. Torna-se possível além de demonstrar o que os estrategistas fazem, explicar o porquê de fazerem de determinada maneira em detrimento de outra, baseando-nos em constructos como o campo, a agência imersa e a identidade social, sem perder de vista que a palavra “estrategista” não é um cargo, mas uma função organizacional, não é uma pessoa ou grupo, são todos os que podem contribuir para a questão fundamental que antecede todas as outras: a sobrevivência organizacional. Palavras-chave: lógicas institucionais, estratégia como prática, campo, decisões estratégicas, mudança institucional. INSTITUTIONAL LOGICS IN THE STUDY OF STRATEGY-AS-PRACTICE: A PROPOSAL OF RELATION BETWEEN THE CONCEPT AND THE APPROACH ABSTRACT This paper aims to relate the ideas implicated in the concept of institutional logics and the studies in strategy-as-practice. The arguments are in the sense that institutional logics are present in every level studied by the researchers of strategy-as-practice – practices, praxis and practitioners, being then a promising analytical resource in the comprehension of aspects few explored in this strategy perspective. Strategy as a field of study has potential to accumulate a positive net balance in the junction of the institutional logics with its practice approach. It is possible, besides explaining what the practitioners of strategy do, explain why they do in one manner instead of another, based in constructs like field, embedded agency and social identity, without losing sight of the fact that the word “strategist” is not a duty, but is an organizational role, it’s not a person or a group, but it is everyone that may contribute to the fundamental issue that precedes all the others: the organizational survival. Keywords: institutional logics, strategy-as-practice, field, strategic decisions, institutional change.

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LÓGICAS INSTITUCIONALES EN EL ESTUDIO DE LA ESTRATEGIA-COMOPRÁCTICA: UNA PROPUESTA DE RELACIÓN ENTRE EL CONCEPTO Y EL ENFOQUE RESUMEN Este ensayo teórico tiene por objetivo relacionar las ideas implicadas en el concepto de lógicas institucionales y los estudios de estrategia como práctica. De esta forma, se argumenta en el sentido de que las lógicas institucionales están presentes en todos los niveles estudiados por los investigadores de la estrategia como practica – prácticas, praxis y participantes, siendo un recurso analítico promisorio para entender aspectos poco explorados por esta perspectiva estratégica. La estratégica, como un campo de estudio, presenta potencial para acumular un saldo líquido positivo en la conjunción de las lógicas con su abordaje como práctica. Se hace posible, más allá de demostrar lo que los estrategas realizan, explicar el por qué realizar de determinada forma en detrimento de otra; sobre la base de constructos como el campo, la agencia inmersa y la identidad social; sin perder de vista que la palabra “estratega” no es un cargo, y sí una función organizacional, no es una persona o grupo, son todos los que pueden contribuir para la cuestión fundamental que antecede a todas las otras: la supervivencia organizacional. Palabras-clave: lógicas institucionales, estrategia como práctica, campos organizacionales, decisiones estratégicas, cambio organizacional.

INTRODUÇÃO Os recentes chamados para que tanto a estratégia como prática busque explicar as práticas além do nível organizacional (Vaara & Whittington, 2012), quanto para que a teoria institucional consiga explicar os microfundamentos das instituições (Thornton, Ocasio & Lounsbury, 2012), motivaram a escrita do presente ensaio. Boa parte do trabalho é possível devido às raízes comuns de ambas as abordagens, especialmente através da teoria da estruturação de Giddens (1984) e da noção de campo e explicação da imbricação entre agência e estrutura de Bourdieu (1977; 1990). Diversos autores da estratégia como prática (Jarzabkowski, Matthiesen & Van de Ven, 2009; Johnson, Smith & Codling, 2010; Vaara & Whittington, 2012) propuseram o Institutional Work como alternativa viável de conversação com a teoria institucional para explicar os fenômenos macro, assim como alguns teóricos institucionalistas (Lounsbury, 2007; 2008; Lounsbury & Crumley, 2007; Seo & Creed, 2002) têm buscado na prática e na práxis a explicação para a criação de instituições e para a mudança institucional. Entretanto, acredita-se que as lógicas institucionais podem contribuir de forma significativa ao explicar os fenômenos extraorganizacionais e interorganizacionais que influenciam as práxis e as práticas estratégicas.

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A estratégia aqui é apresentada como um campo, conforme proposto por Vaara e Whittington (2012), permeado – em certa medida delimitado – pelas lógicas institucionais (Westenholtz, 2009), sendo o lócus no qual os atores sociais (praticantes) interagem por meio das práxis cotidianas do trabalho estratégico. São apresentados argumentos no sentido de que as lógicas institucionais podem: (i) além de explicar o que os estrategistas fazem (Jarzabkowski, 2004; Whittington, 2006), explicar o porquê fazem de determinada maneira em detrimento de outra, ou porque tomam determinada decisão estratégica invés de outra, não dependendo exclusivamente do cálculo e do resultado econômico strictu senso; (ii) demonstrar que as decisões e as ações estratégicas dos indivíduos são tomadas sob influência de uma arranjo de lógicas, mesmo que não relacionadas à profissão de estrategista; (iii) demonstrar que os indivíduos, devido ao sistema interinstitucional, podem apresentar múltiplas identidades sociais, o que pode acarretar na sobreposição (overlapping) das identidades e dos papéis sociais, orientando sua escolha na adoção das práticas estratégicas; (iv) ilustrar que a pluralidade das lógicas envolvidas na práxis estratégica pode resultar em conflitos que podem ser resolvidos por meio de relações de poder ou de negociação, mudando as práticas estratégicas e, consequentemente, as lógicas institucionais que orientam o campo. O artigo é iniciado com uma breve revisão teórica, com pretensão metateórica das lógicas institucionais e da noção de campo, seguindo para uma apresentação da perspectiva da estratégia como prática e dos seus componentes – práxis, práticas e praticantes, para posteriormente discutir a maneira que a metateoria das lógicas institucionais pode contribuir para os avanços da abordagem da estratégia como prática.

LÓGICAS INSTITUCIONAIS “As instituições têm lógicas” (Friedland, 2009: 61). Deste modo, para começar a discussão, acredita-se que seja necessário definir o que são lógicas institucionais no contexto dado. De acordo com Friedland e Alford (1991: 248-249), lógicas “são o conjunto de práticas materiais e construções simbólicas” que constituem os princípios de organização dos arranjos institucionais, sendo “simbolicamente fundamentadas, organizacionalmente estruturadas, politicamente defendidas, técnica e materialmente restritas e, consequentemente, possuem limites históricos específicos”. Thornton, Ocasio e Lounsbury (2012) definem os elementos materiais como estruturas e práticas, baseados nas proposições de DiMaggio e Powell (1983), ao passo que

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os elementos simbólicos são referentes à identidade e significação, sendo tais aspectos das instituições herança do trabalho de J. W. Meyer e Rowan (1977). Assim, Friedland e Alford (1991) apontam cinco grandes arranjos institucionais societais centrais na sociedade ocidental moderna: mercado capitalista, núcleo familiar, Estado burocrático, democracia e o Cristianismo. Entretanto, Thornton (2004), por meio de uma revisão de diversos estudos empíricos, elaborou uma nova tipologia consistindo em seis grandes arranjos de lógicas: mercados, corporações, profissões, Estados, famílias e religiões. As lógicas estão subjacentes nas instituições centrais e “moldam [sem implicar determinismo] as preferências individuais e os interesses organizacionais, assim como o repertório de comportamentos através dos quais eles podem atingi-los” (Friedland & Alford, 1991: 232), imbuindo os atores de uma racionalidade própria, orientando suas ações e seus interesses de acordo com os princípios socialmente constituídos em dado contexto institucional. Destaca-se aqui o caráter recursivo das lógicas institucionais, pois, ao mesmo tempo em que os indivíduos e as organizações estão imersos nessa rede institucional, tais instituições são construídas e constituídas socialmente justamente pelas ações desses atores (Friedland & Alford, 1991; Thornton & Ocasio, 2008). Justamente pelo fato de os atores agirem em conformidade com elas, é que as lógicas ganham concretude, existindo tanto no plano simbólico, quanto no das ações. De outro lado, não se fala em história sem sujeito, mesmo que de forma restrita, logo, os atores, indivíduos e, particularmente pequenos grupos (nos termos de Olson, 1965) podem moldar as lógicas institucionais, ao mesmo tempo em que têm seu comportamento, valores, ideais, identidades e interesses influenciados e sustentados por elas. É o que se convencionou chamar de agência imersa, ou embedded agency (Battilana, 2006; Battilana & D’Aunno, 2009; Greenwood & Suddaby, 2006; Thornton & Ocasio, 2008; Thornton, Ocasio & Lounsbury, 2012); constructo que caracterizou grande avanço da análise das lógicas institucionais em relação aos estudos institucionais anteriores (DiMaggio & Powell, 1983; J. W. Meyer & Rowan, 1977) que privilegiam o determinismo estrutural sobre a agência individual. Outra contribuição da perspectiva das lógicas institucionais para o avanço do institucionalismo organizacional de base sociológica é o reconhecimento de que a sociedade é composta por lógicas plurais (Friedland & Alford, 1991; Seo & Creed, 2002). Uma vez que a sociedade é caracterizada como um sistema interinstitucional, conforme proposto por Friedland e Alford (1991), pode-se aceitar como premissa que os atores sociais possuem como fonte de

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racionalidade não apenas uma única instituição, mas múltiplas instituições (Thornton & Ocasio, 2008), sendo tal pluralidade fonte de contradição e conflito institucional, de modo que os atores inseridos em dado contexto social podem explorar tais contradições para transformar as relações institucionais da sociedade. A princípio, os trabalhos que assumiram a premissa da possibilidade de agência na mudança institucional, abordaram de modo que uma nova lógica emergente sobreporia uma lógica dominante já estabelecida no campo (Berente, 2009), seja ela uma lógica híbrida, ou uma lógica completamente nova, como nos estudos de Thornton e Ocasio (1999) e Thornton (2001; 2002), no qual o conflito entre a lógica da profissão – lógica editorial – é sobreposta por uma emergente lógica de mercado no campo da indústria de publicações. Porém, estudos em campos maduros indicam que as lógicas conflitantes podem coexistir ao longo de grandes períodos de tempo (Dunn & Jones, 2010; Reay & Hinings, 2005; 2009). No caso das lógicas conflitantes no ensino da medicina nos Estados Unidos, investigado por Dunn e Jones (2010), a lógica da ciência(curativa) coexiste com a lógica do cuidado (preventiva) ao longo dos anos, sendo cada lógica apoiada por seu grupo de interesse. O comportamento das lógicas nesse caso demonstra que a lógica dominante no início do período estudado – da ciência ou curativa – foi ultrapassada em relevância em dado período de tempo pela nova lógica dominante – preventiva, entretanto a lógica da ciência em momento algum perdeu seu status de taken-for-granted, alcançando o equilíbrio com a lógica preventiva em tempos recentes. O que se pode destacar ainda no trabalho de Dunn e Jones (2010) é o fato de a instabilidade gerada através do conflito entre as duas lógicas do campo permitir a “invasão” de uma lógica de um domínio alheio à educação médica – a lógica de mercado. Um tipo de comportamento díspar pode ser observado no estudo de Reay e Hinings (2009) sobre a concorrência de lógicas existentes no campo da saúde em Alberta (Canadá), no qual os autores relataram que, durante o período de mudança de uma lógica dominante de profissionalismo médico na gestão da saúde do Estado para uma emergente lógica corporativa (business-like); os atores do campo, mesmo orientados por diferentes lógicas institucionais, cooperaram para que ambas as lógicas pudessem coexistir ao longo do tempo de modo que o atendimento aos pacientes não fosse prejudicado – ao contrário do observado no estudo de Dunn e Jones (2010), no qual os atores buscavam que a lógica defendida por eles sobrepujasse a lógica concorrente. Posto isto, a definição adotada para balizar o estudo deste ponto em diante foi construída por Thornton e Ocasio (1999: 804) baseados em Friedland e Alford (1991: 243) e Jackall (1988:

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112), a partir da qual as lógicas institucionais são “o padrão histórico socialmente construído de práticas materiais, premissas, valores, e regras pelas quais os indivíduos produzem e reproduzem sua substância material, organizam o tempo e o espaço, e fornecem significado às suas realidades sociais”. Thornton e Ocasio (2004) chamaram o conjunto de constructos que constituem a abordagem de lógicas institucionais de metateoria – com destaque à agência imersa, a sociedade como sistema interinstitucional e a contingência histórica (Thornton & Ocasio, 2008). A próxima seção é dedicada à definição de um constructo ganhou força em escopo e volume à luz da metateoria das lógicas institucionais (Greenwood, Raynard, Kodeih, Micelotta & Lounsbury, 2011): a noção de campo organizacional.

Campo organizacional As lógicas institucionais perpassam os campos organizacionais, ou seja, as mesmas lógicas – a da profissão e de mercado, por exemplo – podem estar presentes orientando a ação em campos distintos, como nos estudos no campo editorial de Thornton (2001; 2002; 2004), do campo de assistência à saúde analisado por Reay e Hinings (2005; 2009), ou no campo do ensino da medicina estudado por Dunn e Jones (2010). Nesse sentido, é relevante que seja claramente definida a noção de campo organizacional, salientando que o mesmo não é formado apenas por organizações do mesmo setor industrial no seu sentido econômico (Delmestri, 2009; Hoffman, 1999; Westenholz, 2009). Deste modo, destacamos de maneira particular alguns trabalhos relevantes que se propuseram a realizar o estudo dos campos organizacionais, como os de Machado-da-Silva, Guarido-Filho e Rossoni (2006), Wooten e Hoffman (2008) e Delmestri (2009). A definição de campo usualmente adotada nos estudos institucionais fundamenta-se no entendimento de DiMaggio e Powell (1983: 148), que consideram ser a unidade de análise composta por “organizações que, em conjunto, constituem uma área reconhecida de vida institucional: fornecedores chaves, consumidores de recursos e de produtos, agências reguladoras, e outras organizações que produzem serviços ou produtos similares”, aliadas à definição de Scott (1994: 204f), que considera o campo como sendo “uma comunidade de organizações que compartilham de um sistema de significados comum, da qual os participantes interagem mais frequente e necessariamente entre si do que com atores de fora do campo”.

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Entretanto, Machado-da-Silva, Guarido-Filho e Rossoni (2006) sustentam a existência de seis perspectivas teóricas de campo: o campo como a totalidade dos atores relevantes – na qual os autores enquadram a definição supracitada de DiMaggio e Powell (1983) e de Scott (1994); o campo como arena funcionalmente específica, adotada por Scott (1991) – não sendo delimitado geograficamente, mas sim de acordo com as funções, ou seja, um coletivo de organizações, similares ou não, que operam no mesmo domínio (Scott, 2005); o campo como centro de diálogo e discussão – no qual os autores identificam a concepção de campo de Hoffman (1999: 352), que afirma que mais do que apenas um coletivo de organizações influentes, “o campo é o centro de canais comuns de diálogo e discussão”, ou seja, o que define o campo são as questões que unem as organizações, mesmo que possuam interesses díspares; o campo como arena de poder e de conflito – inspirados nas definições bourdieusianas de campo (Bourdieu, 1996; Warde, 2004); o campo como esfera institucional de interesses em disputa – na qual o campo é um sistema de poder, uma arena, onde atores poderosos usam de habilidades sociais para produzir instituições que garantam e estabilizem sua posição de dominação ante a outros atores interagentes do campo (Fligstein, 2001; 2008); e o campo como rede estruturada de relacionamentos – perspectiva na qual busca-se sustentar o conceito de campo através das noções da análise rede social (ver Powell, White, Koput & Owen-Smith, 2005). Já Wooten e Hoffman (2008) buscaram identificar dentro das perspectivas institucionais de que maneira o conceito e sua operacionalização, foram tratados nas correntes institucionalistas mais incipientes, nos recentes estudos, e quais as evoluções no conceito de campo que tem probabilidades de emergir em pesquisas futuras. Novamente as noções de campo de DiMaggio e Powell (1983) e Scott (1994) são destacadas pelos autores nas perspectivas incipientes do neoinstitucionalismo, de modo que o campo é caracterizado pelos processos internos de assemelhamento, isomorfismos (mimético, normativo e coercitivo), e pela pouca ou nula efetividade de agência. No que concerne à literatura recente relacionada com o campo organizacional na teoria institucional, surge como novidade a inserção da perspectiva de agência e mudança institucional (Wooten & Hoffman, 2008). A perspectiva do empreendedorismo institucional (Battilana, 2006; DiMaggio, 1988; Greenwood & Suddaby, 2006; Hardy & Maguire, 2008) e posteriormente do institutional work (Battilana & D’Aunno, 2009; Kaghan & Lounsbury, 2011; Lawrence & Suddaby, 2006; Lawrence, Suddaby & Leca, 2011; Zietsma & Lawrence, 2010) são grandes responsáveis por tal inserção. O que liga ambos os enfoques de

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campo apresentados até o momento – a do passado e a do presente – é “sua conceituação de campo como ‘coisas’ que produzem resultados” (Wooten & Hoffman, 2008: 137). A partir de então, os autores buscaram apresentar perspectivas futuras de pesquisa acerca de campo no institucionalismo organizacional, sendo que a principal demanda é o foco na racionalidade coletiva nos campos, e estes tomados como espaços relacionais nos quais os atores se conectam a partir do momento em que se reconhecem mutuamente como participantes e atores nesses espaços (vale a nota: o reconhecimento mútuo não é concordância, é saber que vai afetar e ser afetado pelo outro), mesmo sem a necessidade de relações formais ou quaisquer tipos de laços (Wooten & Hoffman, 2008). O conceito comporta dificuldades para definição, merecendo destaque para o risco de “considerar inadvertidamente o nível de análise em termos espaciais e não em analíticos” (Delmestri, 2009: 128). Deste modo, Delmestri (2009) critica a noção de Wooten e Hoffman (2008) de campo como espaço relacional, pois acredita que as relações interorganizacionais dadas simplesmente através da ciência entre as partes não caracteriza um campo organizacional, mas sim o conceito que o autor buscou em R. E. Meyer (2008) de contextos de (inter)ação, na qual podem estar incluídos atores que pertençam a outros campos. Feitas estas considerações e partindo do pressuposto que as lógicas institucionais constituem “o princípio de organização do campo” (Westenholtz, 2009: 285), assume-se campo organizacional como constituído pelo grupo de atores que (1) operam no mesmo domínio (Scott, 2005), (2) com suas ações sob orientação de um mesmo conjunto de lógicas institucionais – seja por uma única lógica dominante, seja por lógicas múltiplas e concorrentes (R. E. Meyer, 2008), (3) compondo uma rede de interdependência mútua, tanto cooperativa quanto competitiva (Delmestri, 2009), (4) fornecendo tanto recursos para a realização dos objetivos dos atores, quanto limitação às suas oportunidades (Beckert, 2010).

A ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA A abordagem da estratégia como prática, a partir dos avanços da escola processual da estratégia (Whittington, 1996), expande a agenda de estudo focada nas organizações em seu ambiente, no sentido de incluir os praticantes da estratégia em seu dia-a-dia nas organizações. A diferença reside na ideia de se pensar estratégia como algo que os estrategistas fazem, ao invés de ser algo que as organizações possuem (Jarzabkowski, 2004; Whittington, 2006), possibilitando

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que a estratégia seja estudada não apenas de modo temporalmente transversal (muitas vezes por um senso de estática comparada) nos níveis campo, de indústria, e organizacional, mas também longitudinalmente a partir de todo um processo estratégico, com o foco no nível do indivíduo, que afeta os resultados organizacionais estratégicos por meio das práticas de trabalho cotidianas (Vaara & Whittington, 2012). Esse processo é chamado de strategizing, adotando o emprego dos verbos no gerúndio para enfatizar a noção processual de movimento, conforme proposto por Karl Weick (1979). A “prática” orientadora do pensamento e análise começou a ser adotada para o estudo da estratégia nas organizações por pesquisadores da Europa (Jarzabkowski & Kaplan, 2010), que buscaram fundamentos em teóricos da prática, especialmente em autores como Pierre Bourdieu (1977, 1990) e a noção de habitus, Lev Vygostky (1978) e as atividades, Michel Foucault (1978) e a prática discursiva, Michel de Certeau (1984) e o cotidiano, Anthony Giddens (1984) através da Teoria da Estruturação (Jarzabkowski & Kaplan, 2010; Feldman & Orlikowski, 2011; Reckwitz, 2002; Varaa & Whittington, 2012; Whittington, 2010), e posteriormente no idealizador da chamada “virada da prática”, Theodore Schatzki (2001: 11), que propôs a definição de um campo de práticas, i.e., “a total relação de práticas humanas interconectadas”, argumentando pela importância da pesquisa em tal campo no qual ocorrem “fenômenos como conhecimento, significado, atividade humana, ciência, poder, linguagem, instituições sociais, e transformações históricas (...)”. Carter, Clegg e Kornberger (2008) apontam algumas confusões conceituais nos termos adotados para explicar a estratégia como prática, especialmente o próprio termo “prática”, que por ser mal delimitado pode, assim como o termo “lógica” (Thornton & Ocasio, 2008), envolver risco de ser utilizado como uma buzz-word, pois na abordagem da estratégia como prática, “prática pode significar qualquer coisa (...)”. Deste modo, “uma categoria talismã – da estratégia – é substituída por outra – da prática” (Carter, Clegg & Kornberger, 2008). Portanto, assim como realizado com os construtos que orientam a abordagem das lógicas institucionais, serão exploradas as definições dos constructos fundamentais da abordagem da estratégia como prática, mais especificamente, a práxis, as práticas e os praticantes.

Práxis, práticas e praticantes

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A tríade de elementos-chave para a abordagem da estratégia como prática, de acordo com Whittington (2006), é composta pela práxis, pelas práticas e pelos praticantes da estratégia. O primeiro vértice a ser determinado é quem são os praticantes da estratégia. Whittington (2006) define como praticantes da estratégia todos os atores envolvidos no trabalho da estratégia, seja na sua concepção, implementação ou execução, i.e., tais atores não são necessariamente apenas executivos, incluindo até mesmo atores externos à organização, como consultores, advogados, gurus do mundo dos negócios, entre outros. Mantere (2005) ressalta o cuidado que se deve ter para que sejam considerados como praticantes os atores que possuam ações estratégicas realmente relevantes. Por isso, acrescenta-se à discussão o conceito proposto por Jarzabkowski (2004: 10), no qual os praticantes da estratégia são os atores “aqueles que recorrem às práticas para agir”. Deste modo, interpreta-se que só podem ser chamados praticantes da estratégia, aqueles atores: (1) que estejam envolvidos no processo da estratégia; (2) os quais suas ações sejam estrategicamente relevantes (3) e que intencionalmente agem estrategicamente (Chia & Rasche, 2010). Cabe ressaltar que, apesar de a abordagem da estratégia como prática buscar abarcar outros atores relevantes para o processo, é possível encontrar autores que utilizaram tal lente com o foco de estudo empírico nos principais executivos e CEO’s das grandes corporações (McCabe, 2010), assim como autores que buscam analisar diversos níveis da organização, tanto os executivos principais, quanto intermediários, e o nível operacional (Mantere & Vaara, 2008). O segundo elemento que compõe a perspectiva da estratégia como prática é a práxis. Práxis é o sinônimo de prática, no singular, que é diferente de práticas, no plural (Reckwitz, 2002). Tal confusão, ressaltada por Carter, Clegg e Kornberger (2008), é um dos pontos que demanda maior reflexão da perspectiva em questão. Práxis “compreende as interconexões entre ações de indivíduos e grupos, diferentes e dispersos, e as instituições social, política e economicamente imersas dentro das quais os indivíduos agem e para as quais contribuem” (Jarzabkowski, Balogun & Seidl, 2007: 9). A partir de tal definição, Jarzabkowski e Spee (2009) demonstram que a práxis torna-se a ligação entre o nível micro ou intraorganizacional, com o nível macro, ou extraorganizacional, mas todas tomadas mais como propriedade e como microanálise, em oposição à tradição estruturo-funcional. Deste modo, é válido inferir que há um ponto cego no estudo da estratégia como prática, que é a análise de um nível além da práxis – tratada como a menor unidade de análise social (Reckwitz, 2002): o nível da ação individual. Neste nível os agentes, resgatando na definição aqui

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adotada de praticantes, agem intencionalmente (Chia & Rasche, 2010), i.e., eles “refletem deliberadamente em quais os meios mais eficientes para atingir seus fins” (Pouliot, 2008: 257) antes mesmo de estarem inseridos na práxis estratégica. Este texto não tem o objetivo de pregar a adoção de uma visão utilitarista e atomística da ação individual, entretanto acredita-se que a estratégia está altamente relacionada à intencionalidade, à racionalidade e à reflexividade do sujeito, sendo, talvez, o fato que diferencia o estudo da estratégia como prática do estudo das demais práticas cotidianas, em especial daquelas esvaziadas de conteúdo, que consomem tempo e esforços, mas que não vão além de mitos e cerimônias (J. W. Meyer e Rowan, 1977). O terceiro elemento constitutivo da abordagem da estratégia como prática, são as práticas, que são padrões socialmente reconhecidos e estáveis que servem de guia para a ação coletiva (Reckwitz, 2002), sendo as formas pelas quais as atividades são executadas de acordo com o que os membros do contexto social aprendem um com os outros (Barnes, 2001). As práticas são responsáveis por dar forma às práxis estratégicas, sendo sobre elas (as práticas) que os praticantes se debruçam no seu dia-a-dia do trabalho estratégico (Jarzabkowski, Balogun & Seidl, 2007; Whittington, 2006). Deste modo, a prática é o principal nível de análise da estratégia (Jarzabkowski & Spee, 2009), perpassando a visão típica de níveis como o organizacional, o mesonível de campo (que, com adequações incluem o da indústria e o do setor) e o macronível social, no sentido de ser transversal a todos eles. Para ilustrar a definição de práticas, pode-se citar um praticante da estratégia, que, convicto de que o melhor caminho para definir a estratégia de sua organização seja por meio das estratégias genéricas de Porter (1980). Esse praticante vai debruçar-se sobre as práticas legitimadas de como aplicar o modelo porteriano, incorporando em suas práxis as ações estratégias que o possibilitem de atingir o fim esperado.

AS LÓGICAS INSTITUCIONAIS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA Nesta seção argumenta-se que a metateoria das lógicas institucionais – assim chamada por Thornton e Ocasio (2008) – pode ajudar a compreender os fenômenos da estratégia como prática. O princípio que orienta a explicação desta por meio daquelas é que, apesar de a noção de lógicas institucionais terem sido desenvolvidas por Friedland e Alford (1991) para explicar níveis sociais, Thornton e Ocasio (2008) apontam a sua grande capacidade de explicação dos

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fenômenos através de múltiplos níveis de análise, ou seja, pode ser um terreno fértil para a análise dos fenômenos estratégicos que se pretende estudar pela lente da estratégia como prática. Entende-se, primeiramente, que uma vez que Vaara e Whittington (2012) consideram a estratégia como um campo, é possível pressupor que a mesma – seja ela na abordagem como prática ou nas mais tradicionais – possa ser relacionada ao conceito de campo estabelecido em seções anteriores. A importância de verificar tal condição pelo passa fato de que, além de serem os princípios constitutivos e organizacionais do campo (Westenholtz, 2009), as lógicas institucionais perpassam os diversos campos existentes em dado nível social relevante para análise, sendo, portanto, o campo organizacional, o principal nível de análise nas pesquisas de lógicas institucionais (Greenwood et al., 2011, Dunn & Jones , 2010; Glynn & Lounsbury, 2005; Lounsbury, 2007; Marquis & Lounsbury, 2007; Purdy & Gray, 2009; Reay & Hinings, 2009). A afirmação de Scott (2005) de que um campo é composto por um grupo de atores que operam no mesmo domínio possibilita que se faça a inferência de que os praticantes da estratégia – a partir do momento que são considerados como praticantes todos os atores relevantes envolvidos no trabalho estratégico, inclusive os extraorganizacionais (Mantere, 2005; Whittington, 2006) – estão inseridos no mesmo contexto institucional (o corporativo) e operam dentro de um mesmo domínio (o estratégico), estando mutuamente interdependentes, tanto cooperativamente quanto competitivamente (Delmestri, 2009). Ao satisfazer a primeira condição imposta pela definição, parte-se para o próximo pressuposto que deve ser atendido para que seja caracterizado o campo. Partindo-se do princípio que, para que haja caracterização de um campo, os atores devem possuir suas ações orientadas pelo mesmo conjunto de lógicas institucionais, e do pressuposto que um campo é uma fração da sociedade, sendo, portanto, um sistema interinstitucional (Friedland & Alford, 1991; Thornton & Ocasio, 2008), é possível inferir que, devido ao fato de os praticantes da estratégia estarem imersos em um ambiente interinstitucional, os mesmos estão sob a influência de uma constelação de lógicas (Goodrick & Reay, 2011), sejam elas conflitantes ou não. Assim a estratégia pode ser considerada como um “campo institucional especializado” (Whittington, 2007: 1580). Whittington (2007) caracteriza ainda a estratégia como uma profissão, consequentemente os estrategistas são profissionais que possuem suas ações e decisões orientadas pelas lógicas institucionais da sua profissão – a de estrategista.

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O problema surge pelo fato de que, diferente de outras profissões já estabelecidas, não há evidência alguma que demonstre ser convencional que os estrategistas possuam background formativo como tal (i.e., estrategistas), visto que grande parte dos praticantes é oriunda de diversas profissões (e.g. engenheiros, administradores, economistas, médicos, advogados, entre outros). Deste modo, a mesma lógica (a da profissão de estrategista), está permeada por influências de diversas outras lógicas profissionais no momento que o praticante está envolvido na prática estratégica do seu dia-a-dia. Para ilustrar este argumento, imagine um estrategista com formação em Arquitetura envolvido em uma práxis estratégica qualquer – uma reunião do Conselho Administrativo, por exemplo – na qual é apresentado um fluxograma indicando os processos de implementação de um planejamento estratégico. Pela lógica, espera-se que o arquiteto ali presente possua o seu raciocínio orientado pela lógica das práticas estratégicas que o mesmo considere como ideais, entretanto, a lógica da sua profissão de arquiteto se sobrepõe sobre sua lógica de estrategista, ocasionando em restrições ou conflitos cognitivos que o impedem de analisar o conteúdo do fluxograma com a estrutura mental de estrategista, fazendo com que o mesmo consiga analisar apenas a beleza das formas e a simetria dos traços do fluxograma, conforme lhe foi orientado no curso de Arquitetura. Ao se analisar as seis grandes lógicas institucionais na tipologia proposta por Thornton (2004) – mercados, corporações, profissões, Estado, famílias e religiões – pode-se ir além do conflito entre lógicas presentes em profissões distintas (como no exemplo do estrategista arquiteto) que orientam as ações do mesmo ator – o praticante da estratégia. Ao se entender que o indivíduo está imerso em diversos contextos sociais ao longo de sua existência (Granovetter, 1985; Thornton, Ocasio & Lounsbury, 2012), sendo, portanto, impossível que entenda seu comportamento sem que sejam considerados tais contextos (Friedland & Alford, 1991), argumenta-se que o mesmo não é capaz de simplesmente despir-se de suas crenças e valores oriundos desses contextos para vestir seu uniforme de homem organizacional, para então isolar sua estrutura mental e tomar suas decisões estratégicas. Deste modo, ao mesmo tempo em que o praticante da estratégia tem suas ações orientadas pela lógica da profissão, ele sofre mutuamente influência de todas as demais lógicas institucionais que moldam o seu comportamento – a lógica de sua religião, a lógica do regime de Estado e de mercado em que está inserido ou a lógica da corporação em que trabalha. Isso não significa que as lógicas coexistentes sejam sempre conflitantes (Goodrick & Reay, 2011; Greenwood et al, 2011), visto que a lógica institucional da

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profissão pode estar de acordo ou até mesmo reforçar com os princípios que orientam as ações por uma lógica corporativa ou de mercado. Um fenômeno semelhante ao aqui exposto através da análise do campo da estratégia – ou da profissão do estrategista – foi apontado nos estudos de Goodrick e Reay (2011) sobre as constelações de lógicas institucionais – i.e., “um conjunto de lógicas em um padrão reconhecível” (Goodrick & Reay, 2011: 402) – que orientam as ações da profissão de farmacêutico nos Estados Unidos desde meados do Século XIX até os dias atuais, variando desde padrões nos quais há uma lógica dominante e outras nem tão relevantes, até padrões nos quais múltiplas lógicas possuem certa equivalência de força em relação à influência sobre a profissão. Os autores consideraram no estudo as lógicas de mercado, da corporação, da profissão e de Estado, deixando de considerar as lógicas de família e da religião das tipologias traçadas por Thornton (2004). Acredita-se que ao se estudar a estratégia como prática, ou os praticantes da estratégia, longitudinalmente, há a possibilidade de encontrar os traços das lógicas não consideradas por Goodrick e Reay (2011), pois, mesmo que esteja no contexto corporativo, o estrategista não deixa de ter suas ações e decisões orientadas, por exemplo, pelos seus princípios religiosos ou pelos princípios morais que carrega desde o princípio de sua socialização primária. É de suma importância que se tenha em mente que as lógicas que orientam a ação em um momento, não imputam de forma irreparável sua relação de causa e efeito. Apenas se pode dizer que originariamente foi assim, mas as ações passaram a ser sustentadas por outras lógicas no decurso do tempo. Não há, para esta ontologia, a defesa de um princípio, apenas de origem. Pode-se contra-argumentar que o nível de análise das práticas já explica a ação dos praticantes da estratégia. Entretanto, a inquietação parte de dentro da própria estratégia como prática a partir do chamado de Vaara e Whittington (2012) para que a estratégia como prática vá além das práticas a nível organizacional. Não cabe a este trabalho ignorar o fato de que realmente os praticantes tomam as práticas estratégicas como modelos de ação (Jarzabkowski, 2004) – e.g. a prática X é a ideal para que se resolva problema Y no contexto C (logicamente inspirado em Searle, 1995) –, entretanto esse comportamento caracteriza-se pelo conteúdo racional e material da decisão (March & Olsen, 2006). O que está além da prática é a porção cognitiva e simbólica da ação, sendo que a mesma não pode ser percebida, sequer explicada pelo praticante no momento da sua práxis estratégica. Esse é um dos pontos em que as lógicas institucionais

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possuem alto poder explicativo, podendo contribuir significativamente para os estudos da estratégia como prática. Neste sentido, o estudo das lógicas institucionais nas pesquisas de estratégia como prática é recomendável devido ao fato de que os “estímulos e rituais externos interagem com as estruturas mentais para gerar comportamentos rotineiros” (DiMaggio, 1997: 277), ao mesmo tempo em que as “instituições definem os limites da racionalidade ao restringir as oportunidades e alternativas que percebemos, deste modo, aumentando a probabilidade de certos tipos de comportamento” (Barley & Tolbert, 1997: 94). Assim, ao se estudar a estratégia como prática como um campo permeado – e porque não, delimitado – pelas lógicas institucionais, pode-se entender não apenas o que os estrategistas fazem (Jarzabkowski, 2004; Whittington, 2006), mas também entender o porquê de o fazerem de modo A invés de um modo B ou N (...), considerando que os diferentes tipos de ação poderiam levar ao mesmo resultado. Reitera-se que a resposta reside no fato de que a ação realizada pelo praticante não é “uma escolha entre possibilidades ilimitadas, mas entre um conjunto de opções legitimadas estritamente definidas” (Wooten & Hoffman, 2008: 130). Mas afinal, como são definidas tais opções? Argumenta-se que elas são definidas pelo conjunto das lógicas que orientam as ações do campo no qual o praticante está imerso, aliadas às demais lógicas que moldam o self do indivíduo ao longo da sua existência. Tal assertiva deve ser foco de análises empíricas que possam explicar a ação do estrategista, não apenas com foco na sua racionalidade e conhecimento das práticas estratégicas – seja ele tácito ou explícito –, mas também através da análise das lógicas que permeiam o campo no qual as práxis estratégicas ocorrem. Além da contribuição para entender a ação dos praticantes, e consequentemente a práxis estratégica, as lógicas institucionais podem ajudar a compreender tanto a formação das práticas estratégicas, como também como elas são legitimadas (Wry, Lounsbury & Glynn, 2011), passando a ligar conjuntos de atores díspares (Jarzabkowski, Balogun & Seidl, 2007), com formação diversa, com diferentes objetivos e inseridos em variados contextos, às mesmas práticas estratégicas, havendo anteriormente ou não interação entre eles no campo da estratégia. “As lógicas institucionais criam distintas categorias, crenças expectativas e motivos, e, assim, constituem a identidade social dos atores” (Rao, Monin & Durand, 2003: 797), nesse sentido, os praticantes recorrem, através da identidade social, aos vocabulários e às narrativas (R. E. Meyer & Hammerschmid, 2006; ver também Loewenstein, Ocasio & Jones, 2012; Wry, Lounsbury &

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Glynn, 2011) para escolher qual prática adotar baseado na sua maior identificação, o que o torna mais propenso a tomar como certas as práticas propostas por Porter (1980) em detrimento à adoção das práticas do Balanced Score Card (Kaplan & Norton, 1992), por exemplo. Como visto anteriormente, a existência de múltiplas lógicas institucionais implica também na existência de múltiplas identidades sociais, as quais estão relacionadas aos diversos papéis sociais que os mesmos desempenham na sociedade (Thornton, Ocasio & Lounsbury, 2012), como por exemplo, o papel de pai em seu ambiente familiar, o papel de cliente do banco no qual possui conta, ou o papel de estrategista e decisor da organização em que trabalha. Cada papel possui um script que determina qual a conduta ideal e quais as expectativas que estão relacionadas a ele, que é chamado por March e Olsen (2006) de lógica da adequação (appropriateness), que pode por muitas vezes divergir dos seus objetivos e interesses (Thornton, Ocasio & Lounsbury, 2012). Tal relação se apresenta promissora, demandando estudos empíricos que possam demonstrar de que maneira os praticantes da estratégia enfrentam o que pode-se chamar de crise – ou sobreposição (overlapping) – de identidade, ao longo do exercício de suas atividades e, se realmente, as lógicas institucionais que moldam o comportamento, as preferências e as escolhas dos estrategistas podem possuir padrões reconhecíveis, assim como no caso dos farmacêuticos conforme demonstrado por Goodrick & Reay (2011). A relação aqui defendida, da identidade social moldada pelas lógicas institucionais, caracteriza-se mais ao nível de orientação das escolhas e ações individuais, buscando uma alternativa para a lacuna apontada a partir da literatura da estratégia como prática. Deste modo, é possível apontar que a ação dos estrategistas no seu dia-a-dia é orientada pelas práticas estratégicas, que aqui se chamou de conteúdo material da decisão (March & Olsen, 2006), relacionados à racionalidade, à reflexividade e à intencionalidade do sujeito coforme o proposto por Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007), mas é também orientada pelas lógicas institucionais – que seria o conteúdo simbólico (Thornton & Ocasio, 2008) e cognitivo – que moldam tanto a identidade dos praticantes (R. E. Meyer & Hammerschmid, 2006), quanto às práticas nas quais baseiam as suas ações e decisões. Ao se pensar na práxis, recorre-se novamente à definição dada por Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007), na qual a práxis é a inter-relação entre as ações econômica, social e politicamente imersas dos diferentes e dispersos indivíduos e grupos. Esse dado contexto de interação entre os praticantes na práxis estratégica toma contornos ainda mais complexos no que

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tange à pluralidade das lógicas institucionais. Conforme argumentado, as escolhas e decisões dos indivíduos são baseadas pelo conjunto de lógicas institucionais presentes no contexto no qual estão inseridos, com as quais se identificam socialmente – no caso, a práxis estratégica, adotando determinadas práticas estratégicas – e as lógicas institucionais que moldaram o self do estrategista ao longo de sua existência – instituições religiosas, familiares, profissionais, culturais, entre outras. Assim sendo, cada ator que compõe a práxis estratégia (lembrando que esses atores podem ser tanto intra como extraorganizacionais, como consultores) pode possuir, além de interesses e objetivos distintos (Jarzabkowski, Balogun & Seidl, 2007), orientação das suas ações e decisões por conjuntos de lógicas muito particulares, de modo que podem ocorrer conflitos não apenas de interesse, mas entre as lógicas institucionais (Pache & Santos, 2010; Purdy & Gray, 2009) que orientam a ação de cada ator interagente. Conforme constatado por Thornton e Ocasio (1999) no estudo da indústria editorial, as relações de poder devem determinar qual conjunto de lógicas institucionais vai se sobressair, orientando a tomada de decisão do grupo estratégico de modo que o conflito pode demandar concessões, negociações e formas híbridas das lógicas (Haveman & Rao, 2006), possibilitando a mudança nas práticas e, consequentemente, a possibilidade de mudança institucional (Johnson, Smith & Codling, 2010).

FIGURA 1: As lógicas institucionais e a estratégia como prática

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Para sintetizar o raciocínio adotado ao longo do estudo, recorre-se à Figura 1, de modo que a mesma é útil para mostrar que os praticantes, no momento em que vão realizar suas ações individuais, são orientados inconscientemente pelas lógicas institucionais e reflexiva e intencionalmente pelas práticas que tomam como certas. A partir desse conjunto de ações individuais os praticantes formam as práxis, de modo que as práxis são capazes de moldar novas práticas estratégicas. Tais práticas estratégicas trabalham em uma relação recursiva entre a práxis e as lógicas institucionais, pois são constituídas por lógicas institucionais, ao mesmo tempo em que as lógicas institucionais são produzidas e reproduzidas através das práticas adotadas nas práxis estratégicas e, consequentemente, das ações dos praticantes da estratégia. A escolha de qual prática será adotada pelo praticante é dependente da identidade social, que o tornará mais propenso a se identificar e adotar a prática A, invés de uma prática B ou N (...), sendo possível, então, identificar não apenas o que os praticantes fazem, mas o porquê de fazerem do modo escolhido. A tomada de decisão será então realizada durante a práxis estratégica, de forma que os conflitos são resolvidos ou por relações de poder – indivíduos ou grupos que defendem determinada lógica conseguem se impor – ou por meio de concessões e negociações, que acarretarão novas práticas, as quais poderão moldar novas lógicas institucionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA AGENDA DE PESQUISA Visando a integração entre o conceito de lógicas e a abordagem de estratégia como prática, neste ensaio os argumentos servem para estimular o debate e reflexão sobre os microprocessos e a microanálise da estratégia. Foram apresentados constructos constitutivos das lógicas institucionais que podem ser úteis para explicar pontos pouco explorados pelos pesquisadores da estratégia como prática. O conceito de agência imersa (embedded agency), por exemplo, ressalta que os estrategistas têm suas ações orientadas pelas lógicas institucionais, contudo, os mesmos ajudam a moldá-las por meio de suas práxis. Já a noção de campo foi utilizada para demonstrar que uma vez que a estratégia pode ser caracterizada como um campo, a mesma pode ser vista como um sistema interinstitucional permeado por uma constelação de lógicas institucionais que moldam as decisões estratégicas dos profissionais da estratégia (os praticantes).

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Os praticantes, no contexto de interação das práxis, buscam fazer com que suas escolhas se sobressaiam sobre as escolhas dos demais, dependendo de uma relação de poder ou de negociação para que as decisões do grupo sejam tomadas. Tais conflitos podem gerar mudanças nas práticas estratégicas legitimadas e, consequentemente, mudanças nas lógicas institucionais do campo. A partir dessa assertiva, acredita-se que o estudo das lógicas institucionais pode ajudar a compreender não apenas de modo descritivo o que é feito pelos estrategistas, mas também explicar o porquê de eles tomarem determinadas decisões em detrimento de outras, sendo que o resultado econômico poderia ser o mesmo. Apontou-se também que, a estratégia sendo um campo interinstitucional, pode acarretar em uma sobreposição (overlapping) de papéis sociais devido à existência das identidades sociais plurais. Assim como se procurou demonstrar a metateoria das lógicas institucionais como uma alternativa para os estudos da estratégia como prática, o inverso também se mostra promissor, visto que a estratégia como prática pode ser considerada um vasto campo para o estudo das lógicas institucionais de modo que possam ser mais bem entendidos, por exemplo, os processos de mudança institucional. Thornton, Ocasio e Lounsbury (2012) apontam que, assim como a identidade, as práticas constituem elementos centrais das lógicas institucionais, reforçado pelo fato de as lógicas institucionais, além de moldarem as práticas individuais ou organizacionais, são moldadas pela agência e reafirmadas pela prática dos mesmos (Berente, 2009) – refletindo a dualidade da estrutura apontada por Giddens (1984). Nesse sentido, o estudo de Johnson, Smith e Codling (2010) com vistas de investigar as mudanças institucionais ocorridas durante o processo de privatização da companhia ferroviária Britânica, é um exemplo positivo de como se valer das pesquisas de estratégia como prática para explicar fenômenos institucionais. Ao contrário de alguns estudos de referência em mudança institucional (Dunn & Jones, 2010; Hoffman, 1999; Marquis & Lounsbury, 2007; Sine & David, 2003), os autores não buscaram apenas dados históricos, mas foram revelar a prática contida neles, no dia-a-dia organizacional ao longo do processo de privatização, acompanhando as reuniões e os encontros estratégicos que foram fundamentais para o processo de mudança institucional no campo.

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