Luteranos em Rondônia - Rogério

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Descrição do Produto

Rogério Sávio Link

Luteranos em Rondônia o processo migratório e o acompanhamento da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (1967 – 1987)

São Leopoldo

2014

© Editora Karyw a – 2014 Ru a Serafim Vargas, 66 São Leop old o – RS Cep : 93030-210 ed itorakaryw a@gm ail.com

Conselho Editorial: Dra. Ad riana Schm id t Dias (UFRGS - Brasil) Dr. Cristóbal Gnecco (Universid ad d el Cau ca - Colôm bia) Dr. Ed u ard o Santos N eu m ann (UFRGS - Brasil) Dr. Raú l Fornet-Betancou rt (Aachen - Alem anha)

D iagramação e arte-finalização: Rogério Sávio Link

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LIN K, Rogério Sávio. Lu teranos em Rond ônia: o p rocesso m igratório e o acom p anham ento d a Igreja Evangélica d e Confissão Lu terana no Brasil (1967-1987). [ebook] / Rogério Sávio Link. 2ª Ed . São Leop old o: Karyw a, 2014. 154p . ISBN : 978-85-68730-00-3 1. H istória d a Igreja; 2. IECLB; 3. Lu teranos; 4. Migração; 5. Rond ônia; 6. Colonização; I. Rogério Sávio Link. CDD 270; 981 CDU 27-9; 93

Sumário SIGLAS E ABREVIATURAS ...................................................................................... 5 ÍN DICE DAS FIGURAS............................................................................................. 7 IN TRODUÇÃO ........................................................................................................ 8 D O ESPÍRITO S ANTO A ROND ÔN IA E A REPROD UÇÃO D O ETHOS CULTURAL .......................................................................................................... 14 1. Os p rim eiros lu teranos p om eranos em Rond ônia e a situ ação geográfico-cu ltu ral ........................................................................................ 14 Os primeiros luteranos em Rondônia ......................................................... 14 Contextualização geográfica ....................................................................... 17 Contextualização cultural: a presença indígena e cabocla em Rondônia .... 18 2. O p rocesso m igratório e os m otivos d a m igração lu teranos .................. 26 Contextualizando a problemática da migração ........................................... 26 O processo migratório brasileiro e as formas de colonização ...................... 29 O processo migratório na perspectiva dos pomeranos capixabas ................ 44 3. Prim eiras d ificu ld ad es enfrentad as ........................................................... 48 4. A necessid ad e esp iritu al, a continu id ad e d a fé e as form as d e esp iritu alid ad e ............................................................................................... 53 5. Os m igrantes organizam com u nid ad es .................................................... 56 A IGREJA EVAN GÉLICA D E CON FISSÃO LUTERAN A N O BRASIL ASSUMIN DO O TRABALHO NAS N OVAS Á REAS D E COLON IZAÇÃO .............. 64 1. A Igreja assu m e o trabalho ......................................................................... 64 Os primeiros obreiros em Rondônia ........................................................... 64 Quem se arrisca nessa empreitada? ............................................................ 66 O primeiro pastorado e a consolidação da paróquia de Pimenta Bueno...... 68 O segundo pastorado e a consolidação da paróquia de Cacoal .................... 71 A formação de novas paróquias .................................................................. 72 2. A bu sca p or u m a id entid ad e eclesiástica .................................................. 75 Uma Igreja de imigrantes ........................................................................... 76 O surgimento dos sínodos .......................................................................... 78 A formação da Igreja e a questão da germanidade ...................................... 86 Os sínodos e a necessidade de uma nova postura eclesiástica ..................... 89 A emergência de uma nova postura eclesiástica ......................................... 94

3. A Igreja e as N ovas Áreas d e Colonização ............................................... 99 O trabalho nas N ovas Á reas de Colonização afinado com o programa desenvolvimentista do Estado (1972-1978).............................................. 102 A consciência crítica em relação ao modelo de desenvolvimento governamental .......................................................................................... 109 4. A p rop osta d e u m a “igreja nova” e u m “novo jeito d e ser igreja” ...... 124 C ONCLUSÃO ..................................................................................................... 131 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 137 A N EXO I: ESTRUTURA CRONOLÓGICA ............................................................. 151 A N EXO II: P RIMEIROS OBREIROS QUE VISITARAM RON DÔNIA E QUADRO DE OBREIROS QUE ATUARAM EM RON DÔN IA ATÉ 1987 .................................. 153

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Siglas e abreviaturas Arq. d a Com . d e Cacoal – Arqu ivo d a Com u nid ad e d e Cacoal. Arq. d a Com. d e Espigão – Arqu ivo d a Com unid ad e d e Espigão d o Oeste. Arq. d a Bibl. d a EST – Arqu ivo d a Biblioteca Escola Su p erior d e Teolog ia. Arq. d a IECLB – Arqu ivo d a IECLB. Arq. d o Dep ar. d e Diaconia – Arqu ivo d o Dep artam ento d e Diaconia. Arq. d o Sín. d a Am azônia – Arqu ivo d o Sínod o d a Am azônia. Arq. H ist. d a IECLB – Arqu ivo H istórico d a IECLB. Arq. p es. d e L. Altm ann e R. Zw etsch – Arqu ivo p essoal d e Lori Altm ann e Roberto Zw etsch. Arq. p es. d e A. Sp ellm eier – Arqu ivo p essoal d e Arteno Sp ellm eier. CAPA – Centro d e Aconselham ento ao Pequ eno Agricu ltor. CEBs – Com u nid ad es Eclesiais d e Base. CEI – Centro Ed u cacional Itap oranga. COR – Cu rso d e Orientad ores Ru rais. CPT – Com issão Pastoral d a Terra DEMT – Distrito Eclesiástico Mato Grosso. DERN – Distrito Eclesiástico Regional N oroeste. ECAM – Encontro d e Coord enação e Atu alização d a Am azônia . Equ inha – Dim inu tivo d e ECAM. Designa o encontro d os d ois d istritos (DERN e DEMT) em sep arad o. EST – Escola Su p erior d e Teologia. EUA – Estad os Unid os d a Am érica. FLM – Fed eração Lu terana Mu nd ial. FUN AI – Fu nd ação N acional d o Índ io. IECLB – Igreja Evangélica d e Confissão Lu terana no Brasil. IELB – Igreja Evangélica Lu terana d o Brasil.

IN CRA – Institu to N acional d e Colonização e Reform a Agrária. ISAEC – Institu ição Sinod al d e Assistência Ed u cação e Cu ltu ra. JOREV – Jornal Evangélico. N AC – N ovas Áreas d e Colonização. P. – Pastor. P . – Pastora. a

Prof. Cat. – Professor Catequ ista. Rev. – Reverend o. RO – Rond ônia. RS – Rio Grand e d o Su l. Séc. – Sécu lo. SEFAZ – Secretaria d a Fazend a.

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Índice das figuras Figura 1: Evolução da População Urbana e Rural no Brasil (1940-1991) .......... 31 Figura 2: Crescimento Populacional em Rondônia (1970–1985) ....................... 36 Figura 3: Evolução do N úmero de M igrantes em Rondônia (1977-1985) .......... 37 Figura 4: Procedência dos M igrantes em Rondônia ........................................... 37 Figura 5: Fluxo migratório na década de 1950 ................................................... 39 Figura: 6: Fluxo migratório na década de 1960 .................................................. 40 Figura 7: Fluxo migratório na década de 1970 ................................................... 40 Figura 8: Concentração Fundiária em Rondônia ................................................ 43

Introdução 1

O p resente livro é u m a obra d e caráter histórico. Ap esar d a d elim itação não ser absolu ta, seu objeto d e estu d o é a história d os lu teranos 2 no Estad o d e Rond ônia entre os anos 1967 e 1987. Em 1967, os p rim eiros p om eranos lu teranos, p rovenientes d o Esp írito Santo, m igraram p ara Rond ônia, d em arcand o, assim , o lim ite d a p resença lu t erana. O ano d e 1987 é u m m arco p ara o d esenvolvim ento d a Igreja Evangélica d e Confissão Lu terana no Brasil (IECLB) nesse Estad o, a p artir d o qu al a região foi enqu ad rad a com ou tro status na estru tu ra eclesiástica. Com o área m issionária, ela estava vincu lad a ad m inistrat ivam ente à Direção d a Igreja e aos d ois órgãos criad os esp ecialm ente p ara isso: o Dep artam ento d e Migr ação e a Coord enação d as N ovas Áreas d e Colonização (N AC). O Dep a rtam ento fu ncionou d e 1972 a 1979, qu and o foi su bstitu íd o p ela Coord enação. A Coord enação, p or su a vez, fu ncionou até 1987, qu and o foi cri ad o o Distrito Eclesiástico Regional N oroeste (DERN ). Esse d istrito tinha status d e Região Eclesiástica (som a d e vários d istritos), u m a vez qu e não estava vincu lad o a u m a região. Ele era constitu íd o a p artir d as com u nid ad es d e Rond ônia, d o Mato Grosso, d o Acre, d o Am azonas e d e Roraim a. A IECLB está estru tu rad a em sínod os d esd e 1997. Ao tod o, são 18 sínod os (IECLB, 1997, p . 1). Mas nem sem p re foi assim . Desd e a chegad a d os p rim eiros im igrantes em 1824 até a form ação d o p rim eiro sínod o em 1886, as com u nid ad es viveram u m p eríod o congregacional ou d e com u nid ad es livres, qu er d izer, não existia nenhu m a estru tu ra m aior d o qu e a local. A p artir d e 1886 com eça u m p eríod o d e organização. Ao tod o, foram qu atro sínod os: Sínod o Riogrand ense (1886), Sínod o Evangélico Lu terano d e Santa Catarina, Paraná e ou tros Estad os d a Am érica d o Su l (1905), Associação Evangélica d e Com u nid ad es d e Santa Catarina (1911), e Sínod o Brasil Central (1912). Em 1949, os sínod os u nem -se e fu nd am a

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Esse livro é o resultad o d e um a pesquisa d e m estrad o d efend id a em 2004 no Program a d e Pós-Grad uação d a Faculd ad es EST em São Leopold o com bolsa d o CN Pq. Um a prim eira ed ição foi publicad a pela Ed itora Sin od al no ano d e 2004. 2

Em 1943, Rond ônia foi reconhecid o com o Território Fed eral. Em 1981, foi transform ad o em Estad o (ESTEVES, 1993, p. 82s).

Fed eração Sinod al e, em 1954, acrescentam o n om e IECLB. Já em 1962, p erm anece ap enas IECLB. O ano d e 1968 foi u m ano d e reestru tu ração. Os sínod os foram com p letam ente extintos e su rgiram , em seu lu gar, qu atro Regiões Eclesiásticas. Du rante a d écad a d e 1980 e início d e 1990, su rgiram m ais qu atro Regiões. As regiões, p or su a vez, estavam d ivid id as em Distritos Eclesiásticos. Em 1997, a IECLB ad otou u m a nova estru tu ra, d ivid id a em 18 sínod os (IECLB, 1997, p . 1). O livro está d ivid id o em d ois cap ítu los. O p rim eiro trata sobre o p rocesso m igratório brasileiro p ara a Am azônia, analisand o o caso p articu lar d os p om eranos d o Esp írito Santo. A tese central d esse cap ítu lo é: os 3 m igrantes são objetos e sujeitos d a m igração . O segu nd o cap ítu lo versa sobre o acom p anham ento d os m igrantes p ela IECLB nesse Estad o. Em linhas centrais, p od e-se d izer qu e a IECLB, nesse “novo local”, teve u m rosto d iferente d aqu ele trad icionalm ente conhecid o. Concretam ente, ela p rocu rou acom p anhar seu s m em bros d e form a integral, ou seja, esp irit u al, p olítica, social e econom icam ente. O p rim eiro cap ítu lo – Do Espírito Santo a Rondônia e a reprodução do ethos cultural – está d ivid id o em cinco lócus. O p rim eiro tem atiza a chegad a d os p rim eiros m igrantes e a situ ação geográfico-cu ltu ral com a qu al entram em contato. O segu nd o p rocu ra analisar os m otivos d a m igração, a p artir d a sociologia e d a antrop ologia. O terceiro traz u m a reflexão s obre as p rim eiras d ificu ld ad es qu e os m igrantes tiveram d e enfrentar. O qu arto p rocu ra p ergu ntar, através d os fatores antrop ológicos, p ela cont inu id ad e d a fé no “novo” contexto. O qu into e ú ltim o narra a criação e constitu ição d a igreja em Rond ônia a p artir d os m igrantes. O centro d esse cap ítu lo é o p om eranos qu e m igra d o Esp írito Santo p ara Rond ônia e p rocu ra rep rod u zir seu ethos cu ltu ral em ou tro local, ou seja, sobretu d o, seu m od o d e vid a e su a religião. Os estu d os ap resent ad os no p rim eiro cap ítu lo d ão conta d e qu e, no p rocesso m igratório, o p om erano é objet ivad o, p ois sofre o p rocesso d a m igração, m as tam bém é su jeito, p ois tem seu s p róp rios interesses envolvid os. Assim com o sofre os reveses d a m igração, o m igrante tam bém p rocu ra criar e rep rod u zir seu ethos cu ltu ral.

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O term o em igração d iz respeito àquele que sai de um a região ou país. Im igração, ao contrário, é usad o para d esignar aquele que chega a um a região ou país. Migração, por sua vez, é o conceito geral que d iz respeito ao ato d e “sair d e” e d e “ch egar a”. Portanto, qu and o se usa o term o m igração nesta investigação, se está pensand o em form a m ais conceitual d o tod o. (FERREIRA, 1999, p. 737, 1079, 1335).

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O segu nd o cap ítu lo – A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil assumindo o trabalho nas N ovas Á reas de Colonização – traz a tem ática a p artir d a institu ição eclesiástica. N o início d a d écad a d e 1970, a IECLB estava p assand o p or m u d anças d e p arad igm as. Até essa ép oca, aind a estava fortem ente m arcad a p ela p r eservação d a germanidade e p elo gueto (SCH ÜN EMAN N , 1992, p . 11). N ão obstante, o início d essa m u d a nça rem onta ao p eríod o d a Segu nd a Gu erra Mu nd ial, qu and o os sínod os se ap roxim aram visand o a au tonom ia e u m a organização conju nta. As m u d anças qu e ocorreram na d écad a d e 1960 e 1970 (p articip ação ecu m ênica, d itad u ra m ilitar, Teologia d a Libertação etc.) p rovocaram novos p osicionam entos e p ostu ras d a IECLB. Em Rond ônia, p rocu rou -se “ensaiar novos m od elos d e ser igreja” qu e estivessem m ais afinad os com os novos p osicionam entos, p ois os obreiros tinham a exp ectativa d e qu e, nu m a região d e im igração, os m em bros seriam m ais recep tíveis p ara ou tros m od elos. N este cap ítu lo, p retend e-se p ergu ntar p or essas exp eriências, ou seja, p retend e-se d elinear qu al o p ap el assu m id o p ela Igreja no trabalho em Rond ônia e os eventu ais conflitos qu e o trab alho p ossa ter gerad o. Para tanto, d ivid iu -se o cap ítu lo em qu atro p artes. N o p rim eiro, faz -se a p onte entre os d ois cap ítu los qu and o afirm a qu e a IECLB assu m e o trabalho qu e os im igrantes iniciaram . N o segu nd o, faz -se u m recorrid o sobre a história d a IECLB em bu sca d e su a id entid ad e. Qu and o se fala d a nece ssid ad e d e u m a nova p ostu ra eclesiástica, se está p ensand o tam bém na com p reensão m issiológica qu e a Igreja d esenvolve. N o terceiro, analisa-se o trabalho e a p ostu ra d a IECLB p erante as N AC e, conse qu entem ente, Rond ônia. N o ú ltim o, p rivilegiand o a fala d os p rotagonistas, av aliou -se a p rop osta d e u m a “igreja nova” e u m “novo jeito d e ser igreja”. A obra tem , com o p rincip ais p arceiros d e d iscu ssão, a sociologia e a antrop ologia. Ao falar sobre a história d a m igração e colonização d e Rond ônia, os trabalhos sociológicos tornam -se fontes im p ortantes p ara esta análise histórica, p ois d iscu tem as m u d anças sociais qu e levam à m igração. Os trabalhos d e Pau l Singer e d o Centro d e Estu d os Migrat órios form am , nesse sentid o, o corp o central d as p esqu isas acerca d a m igração. A antrop ologia torna-se ind isp ensável, p orqu e se está trabalhand o com u m gru p o cu ltu ral e étnico qu e se d iferencia e é d iferenciad o d entro d a socied ad e brasileira. Além d isso, há conflitos qu e p od em ser m ais bem exp licad os p ela antrop ologia ou , p elo m enos, no d iálogo entre as d iscip linas. Os m igrantes p rocu ram recriar aqu ilo qu e eles conheciam anter iorm ente e os obreiros têm a intenção d e fazer algo novo, “u m novo jeito d e ser igreja”. Esse conflito está rep resentad o p ela relação d ialética entre tradição e inovação. O qu e ocorre nesse conflito, segu nd o Dagm ar Meyer –

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aqu i exp resso d e form a p olarizad a (m igrante e obreiro, t rad ição e inovação) –, é u m a síntese. O p resente é continu ação/ rep rod u ção d o p assad o, m as tam bém ren ovação. O p resente é constru íd o no p rocesso d e resign ificação d o p assad o (MEYER, 2000, p . 20, 51, 104). O p rocesso d e rep rod u ção e d e resignificação cu ltu ra l ocorre na “longa d u ração”. Conform e Fernand Brau d el a d escreveu , seria a história d aqu ilo qu e “resiste ao tem p o”, d aqu ilo qu e “resiste à m u d ança”. A hi stória d a cu ltu ra ou d as m entalid ad es é o cam p o p rivilegiad o d a longa d u ração (VOVELLE, 1993, p . 67, 74s). Com o exp ressão cu ltu ral, a religião tam bém o será. Assim , qu and o os obreiros p rocu ram vivenciar “novos jeitos d e ser igreja”, esbarram na resistência d os m em bros. Enqu anto os m em bros qu erem rep rod u zir seu ethos cu ltu ral, os obreiros id ealizam u m a “nova igreja”. Desse conflito, entretanto, nasce u m a nova síntese qu e é a continu ação d o p assad o e a resignificação no p resente. Os au tores qu e contribu em d iretam ente p ara a com p reensão a ntrop ológica d os p om eranos são Joana Bahia e And ré Droogers. Bahia fez su a tese d e d ou toram ento sobre os cam p oneses p om eranos d o Esp írito Santo, enfocand o, nas d iferentes etap as d a vid a, a constitu ição d a id ent id ad e, a m agia e a religião. Droogers, p or su a vez, fez u m estu d o sobre a religiosid ad e p op u lar d os p om eranos d o Esp írito Santo. Um exem p lo d e com o os trabalhos antrop ológicos p od em contr ibu ir p ara a análise d a m igração é a constatação d e Bahia, segu nd o a qu al o esp aço ru ral faz p arte d a id entid ad e p om erana. Ela chega a afirm ar qu e qu anto m ais colono m ais p om erano se é. Aqu eles p om eranos qu e se m u d am p ara as cid ad es, p ortanto, são consid erad os m enos p om eranos. Assim , p od e-se chegar à conclu são d e qu e a cu ltu ra p om erana favorece a m igração p ara novas fronteiras agrícolas (BAH IA, 2000, p . 89s). Esta p esqu isa versa sobre u m p eríod o recente e, com o tal, se e nqu ad ra na cham ad a “história im ed iata” ou no “p resente com o história”. Assim , ela vai com p artilhar algu ns d os benefícios e p roblem as p elos qu ais p assa esse tip o d e historiografia. O p esqu isad or d esse tip o d e história está p articip and o d o acontecim ento, p ortanto, ele p od e bu scar várias fontes alternativas, com o o testem u nho d os p róp rios envolvid os, p or exem p lo. Mas essa p roxim id ad e tam bém p od e lim itar a interp retação, p elo m otivo d e qu e o historiad or não conhece o fu tu ro, não sabe com o o p rocesso term inará. Qu içá u m a p ossível interp retação não se su stente com o d esenrolar d o p rocesso. Existe aind a certa lim itação na abo rd agem d e algu ns tem as. Algu ns assu ntos d evem ser tratad os com cu id ad o p ara não ofend er p essoas. Eric H obsbaw m , analisand o o “p resente com o história” arrola três vantagens e p roblem as p elos qu ais p assa o p esqu isad or e a p esqu isa. Em p rim eiro lu gar, qu em viveu o m om ento qu e está hist oLuteranos em Rondônia

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riand o tem u m a vantagem sobre os ou tros historiad ores, p ois não necessita fazer u m esforço m u ito grand e p ara com p reend er o p assad o. Em segu nd o lu gar, sem elhante ao qu e já foi falad o acim a, o historiad or p od e estar equ ivocad o sobre u m d eterm inad o assu nto, p ois não conhece o d esfecho. Aqu ilo qu e é im p ortan te p ara o p resente p od erá não ser p ara os historiad ores d o fu tu ro. E, em ú ltim o lu gar, a inacessib ilid ad e d as fontes. Os d ocu m entos d e arqu ivos, geralm ente não estão d isp oníveis p ara a p esqu isa. Mas isso, constata H obsbaw m , não está entre os p rincip ais p r oblem as d o historiad or. Ao contrário, p ois existe u m a abu nd ância d e o u tras fontes (H OBSBAWM, 1998, p . 243-255). N ão existem fontes bibliográficas voltad as d iretam ente ao tem a. Pod em ser encontrad os ap enas algu ns trabalhos em nível d e grad u ação. N esse sentid o, o p róp rio p esqu isad or conclu iu o seu bacharelad o em teologia com u m a m onografia sobre a história d a Igreja em Rond ônia. A p resente obra é continu ação d ireta d essa p esqu isa. As fontes p ara esta p esqu isa são d ocu m entais e orais. As d ocu m e ntais são jornais, atas, cartas, relatórios e au d iovisu ais. Elas foram colet ad as no arqu ivo d o Sínod o d a Am azônia (Ji-Paraná/ RO), nos Arqu ivos d as com u nid ad es d e Rond ônia, no Arqu ivo d a IECLB (Porto Alegre/ RS), no Arqu ivo H istórico d a IECLB, no arqu ivo p essoal d e Roberto Zw etsch , d e Lori Altm ann e d e Arteno Sp ellm eier e, tam bém , na biblioteca d a Escola Su p erior d e Teologia (Estes ú ltim os encontram -se em São Leop old o/ RS). As fontes orais, p or su a vez, são d e d u as ord ens: informações obtid as d e p essoas qu e p articip aram d os acontecim entos; e entrevistas realizad as com algu ns p rotagonistas. As inform ações foram esp orád icas, d ad as p essoalm ente, p or telefone ou p or e-m ail. Já as entrevistas foram feitas com algu ns m igrantes e obreiros qu e estiveram envolvid os d iret am ente no p rocesso e em d iferentes ép ocas. Elas foram feitas com gravad or e p osteriorm ente transcritas. Algu ns entrevistad os fizeram qu estão d e lerem a entrevista; ou tros d isp ensaram essa p rática. Com u m entrevistad o, realizaram -se d u as entrevistas, a fim d e contem p lar novos asp ectos levantad os p ela p esqu isa. Cabe d izer tam bém qu e as entrevistas têm d atas qu e variam em anos. Isso se exp lica p elo fato d o p esqu isad or u sar entrevistas qu e foram feitas, aind a d u rante a grad u ação, p ara o seu trab alho d e conclu são d e cu rso. As entrevistas foram qualitativas e em profundidade. “Qu alitativa”, p orqu e foram feitas com p ou cas p essoas, p rim and o p ela qu alid ad e e não p ela qu antid ad e. Foram escolhid as p essoas qu e rep resentam u m p ap el significativo p ara a história d a Igreja em Rond ô-

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nia. “Em p rofu nd id ad e”, p orqu e as entrevistas foram longas, p rocu rand o esgotar o tem a. As entrevistas não p ossu íam u m qu estionário esp ecífico, 4 m as ap enas p ergu ntas gerad oras qu e tinham a fu nção d e fazer o entr evistad o se lem brar d os fatos e, a p artir d isso, ad entrar m ais p rofu nd am ente nas qu estões relevantes p ara o tem a estu d ad o. Por fim , p retend e-se aqu i fazer algu m as exp licações qu e p ossam au xiliar o leitor na com p reensão d este livro. Qu and o se está faland o d e p om eranos no Esp írito Santo ou Rond ônia, tem -se em m ente os d escend entes d e p om eranos. Além d isso, não se verificará se p arte d esses p om eranos é ou não d escend ente d e casam entos m istos, ou seja, d e alem ães originários d e ou tras regiões alem ãs. Ad ota-se o conceito d e p om erano com o u m a cu ltu ra qu e se id entifica e é id entificad a com o tal (BARTH , [1969] 1998). N o corp o d o p rim eiro cap ítu lo, estão inserid as algu m as figu ras exp licativas qu e qu erem ser u m au xílio visu al na interp retação d o texto ; d a m esm a form a, as fotos encartad as entre os d ois cap ítu los. Cham a-se a atenção p ara as citações d e entrevistas e d e eventu ais cartas. Em relação às entrevistas, p rocu rou -se ser o m ais fiel p ossível na tr anscrição, p reservand o a fala coloqu ial d os entrevistad os. Qu anto às citações d e cartas, p rincip alm ente d e m em bros d e com u nid ad es d a IECLB, evitou -se o u so exagerad o d e ind icações d e erros, o qu e, ao final, ap enas d ificu ltaria a leitu ra. Lem bra-se, aind a, qu e o p róp rio au tor tem su a su bjetivid ad e fo rtem ente envolvid a no p rocesso m igratório e na form ação d a IECLB em Rond ônia. Ele é filho d e m igrantes lu teranos qu e foram p ara esse Estad o na d écad a d e 1970. O au tor está ciente d e qu e su a su bjetivid ad e p od e interferir na p esqu isa, m as, ao contrário d e tentar escond ê-la, p rocu ra exp licitá-la p ara o leitor. N esse sentid o, as p alavras d e Darcy Ribeiro, no p refácio d e seu livro O Povo Brasileiro, são m u ito elu cid ativas. Portanto, não se ilud a com igo, leitor. Além d e antropólogo, sou hom em d e fé e d e partid o. Faço política e faço ciência m ovid o por razões éticas e por um fund o patriotism o. N ão procure, aqu i, análises isentas. Este é um livro que quer ser participante, que aspira a influir sobre as pessoas, que aspira a ajud ar o Brasil [a IECLB] a encontrar-se a si m esm o (RIBEIRO, 1995, p. 17).

Seguem alguns exem plos d as perguntas gerad oras. “Descreva um pouco sobre o trabalho nas novas áreas d e colonização? Teologicam ente, o que d efend iam ? Em sua avaliação, qual era a visão d e igreja que m ovia obreiros e leigos? Qual era a visão antropológica? Quais tem as eram centrais para o trabalho?”. 4

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D o Espírito Santo a Rondônia e a reprodução do ethos cultural 1. Os primeiros luteranos pomeranos em Rondônia e a situação geográfico-cultural Os primeiros luteranos em Rondônia As p essoas qu e fazem p arte d a IECLB em Rond ônia são, em su a 5 m aioria, d escend entes d e p om eranos p rovenientes d o Esp írito Santo. Existem tam bém m igrantes lu teranos oriu nd os d os Estad os d o Su l d o Brasil, m as não p erfazem u m p ercentu al significativo. A m igração su lista d irecionou -se m ais p ara ou tras regiões am azônicas, esp ecialm ente p ara o Mato Grosso. Esse Estad o recebeu recu rsos d e tod os os p rogram as g overnam entais d e d esenvolvim ento. Por isso, tam bém , foi o Estad o ond e m ais foram im p lantad os p rojetos d e colonização p rivad a, som and o m ais d e 90% d o total. Entre os fom entad ores p rivad os d a colonização, enco ntra-se o p astor lu terano N orberto Schw antes qu e, d esd e a região d e Tenente Portela/ RS, através d e coop erativas d e colonização, teria contrib u íd o p ara a fu nd ação d e algu m as cid ad es no Mato Grosso, com o Can arana e Águ a Boa (OLIVEIRA, 1989, p . 20, 22). Isso aju d a a exp licar a concentração d e lu teranos su listas nesse Estad o. Em Rond ônia, p or su a vez, a m igração d e lu teranos su listas foi m ais ocasional, com exceção d e alg u m as fam ílias qu e p erd eram su as terras na con stru ção d a barragem d e Itaip u (SASS, 1999). Os p rim eiros lu teranos qu e chegaram em Rond ônia, com o objet ivo d e se estabelecerem , foram as fam ílias H olland er e Brau n. Eles vieram d e São Gabriel d a Palha, Estad o d o Esp írito Santo. Chegaram em Rond ô5

Pom erano é o nom e d ad o aos d escend entes germ ânicos que habitav am um a região cham ad a Pom erânia na antiga Prússia, na Eu ropa. Os pom eranos possu em língua e cultura d istinta d os dem ais grupos germ ânicos. N o Brasil, estão conce ntrad os especialm ente nos Estad os d o Esp írito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grand e d o Sul e Rond ônia. Para saber m ais sobre o s pom eranos no Brasil, consu lte BAH IA (2000), DROOGERS (1984), JACOB (1992), RÖLKE (1996), ROCH E (1968), WAGEMAN N (1949), SALAMON I (1995).

nia no ano d e 1969 e acam p aram no vilarejo d e Pim enta Bu eno , às m argens d o rio Barão d e Melgaço (H OLLAN DER; BRAUN , 2001). Martim H olland er, ju ntam ente com seu irm ão Artu r e ou tro p are nte, saiu d o Esp írito Santo, em 1967, ru m o ao Território Fed eral d e Rond ônia. Feito em u m a cam inhonete, o trajeto p ercorrid o p or eles levou 10 d ias p ara ser conclu íd o. Interrogad o sobre com o ficou sabend o d a p ossibilid ad e d e terra em Rond ônia, ele resp ond eu : “Eu fu i trab alhar em São Gabriel d a Palha. Daí vinha u ns gaú chos p ara cá m o ntar serraria e eles m e cham aram p ara vim p ara cá. Aí eu não qu is vim (...). Daí m eu p ai falou : „Vocês são novo, vocês vão lá e vê, trabalha lá‟. Daí nós resolvem os vir e viem os em bora” (H OLLAN DER; BRAUN , 2001). Im p ossibilitad os d e regressar ao Esp írito Santo p or qu estão fina nceira, trabalharam nu m a serraria em Porto Velho d u rante qu ase 10 m eses. Com o o salário recebid o fora insu ficiente p ara a viagem d e volta, seu p ai, Ped ro H olland er, foi a Rond ônia com o objetivo d e encontrar seu s filhos e d e levá-los d e volta. Ao regressarem p ara o Esp írito Santo, p assad o ap enas u m ano, estavam novam ente em cim a d e u m cam inhão ru m and o p ara Oeste (H OLLAN DER; BRAUN , 2001). N o Esp írito Santo, os vizinhos ficaram encantad os com a viajem d os H olland er. As notícias sobre as terras qu e se p erd iam d e vista, qu e não “tinham d onos” e qu e d avam “arroz no p é d o m orro” (H OLLAN DER; BRAUN , 2001), agu çavam o d esejo d e d esbravar e conqu istar u m p ed aço d elas. Assim , Em ílio Brau n e Ped ro H olland er vend eram su as coisas, ju ntaram su as fam ílias, alu garam d ois cam inhões e r u m aram p ara o “novo território” (SCH ACH , 1979 JOREV, p . 4). Ao tod o, foram m ais d e 6 60 p essoas . N o trajeto entre o Esp írito Santo e Rond ônia, tiveram qu e enfrentar várias d ificu ld ad es. Entre elas, os freq u entes atoleiros e as barreiras p oliciais qu e os im p ed iam d e p rossegu ir viagem , visto qu e o tip o d e trans-

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Esse núm ero não é totalm ente confiável visto que as fontes nem sem pre concord am entre si. O próprio pastor Gerald o Schach que atuou em Rond ônia d e 19721978 não é preciso quanto ao núm ero total. Fala em 62 pessoas (1979 JOREV, p. 4), em 22 pessoas (2000 O Cam inho, p. 11) e em 37 p essoas (1997 O Cam inho, p. 16). N esse trabalho, opta-se pela cifra superior a 60 pessoas, visto que cond iz m ais com o relato d os entrevistad os (63 pessoas). (H OLLAN DER; BRAUN , 2001).

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p orte escolhid o p or eles era p roibid o p or lei, o p au -d e-arara (SCH ACH , 1979 JOREV, p . 4). Dep ois d e terem vend id o tu d o o qu e p ossu íam no Esp írito Santo e d e ru m arem p ara Rond ônia, sem elhante ao qu e em p reend eram seu s a ntep assad os vind os d a Pom erânia, as fam ílias H olland er e Brau n cheg aram em Pim enta Bu eno. O rio Barão d o Melgaço foi o obstácu lo natu ral qu e as fez p arar. Ali, às m argens d o rio, constru íram barracas, u tiliza nd ose d e folhas d e p alm eiras (Dep artam ento d e Migração, p . 2). Em 1971, ou tras fam ílias, vind as d o Esp írito Santo, tam bém cheg aram em Rond ônia. Essas se estabeleceram no alto Melgaço. É o caso d e Rod olfo Brau n e d e su a esp osa Ad élia Brau n. Ele é filho d e Em ílio Brau n e d e H u ld a Jacob Brau n, p ioneiros ju ntam ente com os H olland er. Rod olfo conta: “O finad o p ap ai veio em 1969, d ois anos na nossa frente. N ós não viem os ju nto p or cau sa qu e nasceu u m m enino nosso” (BRAUN ; BRAUN , 2001). Por essa ép oca, tam bém chegou Em ílio Boone e Ped ro 8 Lau vers qu e fixaram resid ência em Esp igão d o Oeste . A eles cabe o créd ito d e terem aberto o cam inho p ara qu e ou tros p om er anos chegassem a essa cid ad e (BOON E, 2001). Dad a a contínu a m igração, Esp igão viria a ser a p aróqu ia d a IECLB em Rond ônia com m aior nú m ero d e m em bros. Assim , à m ed id a qu e os p om eranos d o Esp írito Santo ficavam sabend o qu e em Rond ônia existiam terras qu e p od eriam ser com p rad as a p reço m ais acessível, qu e já m oravam ou tros p om eranos ali e qu e ta m bém a Igreja já estava atend end o aqu ela região, em barcavam ru m o ao “novo território”. Diz u m a testem u nha ocu lar: “É realm ente inim aginável o nú m ero d e „Pau s-d e-Arara‟ qu e chegam a Rond ônia. São tod os os d ias d e 5 a 8, isto é, d e ap roxim ad am ente 30 fam ílias p or d ia. É gente qu e vem d e tod as as p artes d o Brasil” (SCH ACH , 1992 JOREV, p . 20). Ap esar d as constatações acim a, os p om eranos qu e m igraram p ara Rond ônia não foram os p rim eiros a ocu p ar esse território. Qu and o ch egaram ali, já existia u m a cu ltu ra cabocla local e u m m ínim o d e infraestru tu ra. Além d isso, tam bém existia u m a d iversid ad e d e p ovos ind íg e-

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Esse é o nom e d ad o a um cam inhão im provisad o para o transporte d e m igra ntes. 8

Um a pessoa que ajud ou a atrair m ais pom eranos para Rond ônia, através d e frequentes viagens, foi Martim Tesch. Ped ro Lauvers conta que conheceu a atual cid ad e d e Espigão d o Oeste em com panhia d e Martim Tesch. (LAUVERS, 2001).

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nas habitand o a região. Assim , a segu ir, p rocu ra-se d elinear u m p ou co d essa situ ação, na qu al se inseriram . Contextualização geográfica 2

Rond ônia p ossu i u m a área d e 238.512,8 km . Do Su l ao N orte, som am 700 Km e, d e Leste a Oeste, 500 Km . Em 2000, a estim ativa p op u la29 cional foi d e 1.317.614, o qu e rep resentava 5,52 habitantes p or km . Geograficam ente, faz d ivisa com os Estad os d o Mato Grosso a Leste, Am azonas ao N orte e Acre a Oeste. Com a Bolívia, faz lim ite a Oeste e ao Su l. A altitu d e m éd ia é d e 200 m etros acim a d o nível d o m ar. O relevo p od e ser d ivid id o d a segu inte m aneira: p lanícies a Oeste; d ep ressões e p equ enos p lanaltos a N orte e p lanalto a Su d este. Os p ontos m ais altos são a chap ad a d os Parecis e a serra d os Pacaás com u m a m éd ia d e 1.120m , ond e há u m p arqu e nacional. N o Estad o, encontram -se d iferentes tip os d e solo, clim a e vegetação. A fau na tam bém é m u ito d iversificad a. N a região d e Pim enta Bu eno, encontra-se u m solo arenoso, p obre em hu m os, o qu e d ificu lta a agricu ltu ra. N a faixa qu e vai d e Esp igão d o Oeste, p assand o p or Cacoal, Ji-Paraná até as im ed iações d e Ariqu em es, o solo é averm elhad o e consid erad o bom p ara o cu ltivo. N a região d e Alta Floresta d o Oeste e Colorad o d o Oeste, o solo tam bém é consid erad o p rop ício. O clim a é p red om inantem ente equ atorial e a tem p eratu ra m éo d ia anu al é d e 26 C. Possu i d u as estações: chu va (inverno am azônico) e seca (verão am azônico). H á regiões, com o Vilhena, p or exem p lo, ond e, ocasionalm ente, a tem p eratu ra tend e a cair u m p ou co. A vegetação, na p arte Su l e Su d oeste d o Estad o, constitu i-se d e u m a zona d e transição entre cerrad o e floresta equ atorial ú m id a. Em d ireção ao N orte, ela vai ficand o m ais alta, com árvores d e p orte m éd io e grand e. A estim ativa é d e qu e, originalm ente, d ois terços d o território d e Rond ônia eram cobertos p ela floresta am azônica (CITYBRASIL). A hid rografia d a região p ertence à bacia am azônica. O rio p rincip al é o Mad eira, qu e d eságu a no rio Am azonas. A m ontante, é conhecid o com o Gu ap oré e d elim ita a d ivisa com a Bolívia. Até a altu ra d e Porto

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As principais cid ad es são: Porto Velho, com 314.525 habitantes; Ji-Paraná, com 92.728; Cacoal, com 75.862; Ariquem es, com 75.098; Vilhena, com 47.669; Jaru, com 46.814; Rolim d e Moura, com 43.628; Gu ajará-Mirim , com 40.871; Ouro Preto d o Oeste, com 40.378; e Machad inho d o Oeste, com 32.517 (Estim ativa d e 2000). (CITYBRASIL).

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Velho, aind a conhecid o com o Mad eira, é navegável p or grand es em ba rcações. O segu nd o m aior rio é o Ji-Paraná ou Machad o. Ele faz o sentid o Su l-N orte, p ercorrend o tod o o Estad o e d eságu a no rio Mad eira. A m ontante, na altu ra d a cid ad e d e Pim enta Bu eno, o rio Machad o está d ivid id o em d ois rios, conhecid os com o rio Pim enta e rio Barão d o Melgaço. Contextualização cultural: a presença indígena e cabocla em Rondônia N o Esp írito Santo, os p om eranos foram assentad os nu m a terra com baixa d ensid ad e p op u lacional, p ois os ind ígenas qu e ali habitavam haviam sid o d izim ad os (WAGEMAN N , 1949, p . 12). Qu and o chegaram em Rond ônia, encontraram , se com p arand o com ou tr os Estad os d a Fed eração, u m a região com baixa d ensid ad e p op u lacional; m as tam bém e ncontraram p op u lações ribeirinhas qu e viviam d a coleta d a borracha , algu ns garim p eiros e p op u lações ind ígenas com p ou co ou nenhu m contato. Assim , a segu ir, com o objetivo d e introd u zir a nova situ ação cu lt u ral com a qu al os p om eranos entraram em contato, d escrever-se-á u m p ou co 10 d a p resença ind ígena e cabocla em Rond ônia. É m u ito d ifícil d atar a p resença hu m ana no vale d o Gu ap oré, p ois o clim a d essa região é m u ito ú m id o e não fornece cond ições p ara p rese rvar sinais arqu eológicos. Dessa form a, as d atas variam entre 12.000 e 42.000 anos (MILLER, 1983, p . 35s). Entre os p ovos d o vale, no lad o boliviano, encontram -se os Mojos e 11 12 Chiqu itos , gru p os Aru ak . Já no lad o brasileiro, a m aioria d os p ovos é d e origem d o tronco Tu p i: Gu arani, Mond é, Arikém , Canoe, Ram aram a e Pu ru borá. São p ovos nôm ad es, com u m a forte índ ole gu erreira. É intere ssante constatar tam bém qu e o vale d o Gu ap oré é consid erad o p ela arqu eologia, lingu ística e antrop ologia com o o centro d e d isp ersão d o tronco Tu p i. Ou seja, os p ovos Tu p i nasceram em Rond ônia e m igraram p ara Leste em d ireção ao oceano Atlântico (MILLER, 1983, p . 39, 85).

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N esse trabalho, com preend e-se por caboclo os m igrantes e seus d escend entes que foram atraíd os ou levad os para a Am azônia com o objetivo d e extração d as riquezas naturais, principalm ente a borracha. Miscigenand o-se com ind ígenas, tornaram -se um a cultura própria d a Am azônia, os ribeirinhos. 11

Esses d ois nom es d esign am vários grupos indígenas. (MEIRELES, 1989, p. 53).

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Fam ília ind ígena que se estend e pelo interior d a Am azônia até o sul d o Ma to Grosso. (TEIXEIRA, 1995, p. 304).

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Qu and o os m igrantes p om eranos chegaram em solo rond oniense, 13 14 15 d ep araram -se com os p ovos Su ru í , Zoró e Cinta Larga . Esses p ovos p ertencem ao tronco Tu p i, m ais esp ecificam ente à fam ília lingu ística Tu p i-Mond é (TRESSMAN N , 1993, p . 1). A fu nd ação d as cid ad es d e Esp igão d o Oeste, Cacoal e Pim enta Bu eno ocorreu nas terras d esses p ovos. Os p rim eiros contatos d os Su ru í aconteceram em 1969, ju stam ente qu and o os p rim eiros m igrantes lu teranos chegavam . “N aqu ela ép oca, eram u m gru p o d e 600 p essoas, m as p elo m enos 300 m orreram entre 1971 a 1974, p or cau sa d e saram p o, grip e e tu bercu lose” (SAMPAIO; SILVA, 1997, p . 35). À m ed id a qu e ad entravam o território, os p om eranos foram enco ntrand o ou tras etnias. O p ovo Gavião tam bém p ertence à fam ília lingu ística Tu p i-Mond é. Eles habitavam o território entre o rio Machad o e o rio Branco. H oje, e stão confinad os a u m a área ind ígena qu e d ista 65 Km d e Ji-Paraná, d enom inad a Parqu e Ind ígena Lou rd es (SAMPAIO; SILVA, 1997, p . 39). Os Arara, p or su a vez, qu e vivem no m esm o p arqu e, p ertencem à fam ília Tu p i-Ram aram a. N a ép oca d os p rim eiros contatos, eles viviam às m a rgens d o igarap é Moacir e Rio N ovo, em Ar ip u anã (MT) e eram estim ad os em d ois m il ind ivíd u os (TEIXEIRA, 1995, p . 300). O p ovo Karitiana, p ertencente à fam ília lingu ística Tu p i-Arikém (RODRIGUES, 1986, p . 46), habita trad icionalm ente a região N orte d o Estad o d e Rond ônia. Atu alm ente, estão nu m a área ind ígena localizad a a 95 Km d e Porto Velho. Os p rim eiros contatos foram estabelecid os já no final d o sécu lo XVII, com as p rim eiras band eiras. Du rante a exp loração d a borracha, m u itos foram d izim ad os enqu anto ou tr os m antid os nu m sistem a servil d e exp loração d a borracha. Som ente em 1932, foi estabele16 cid a a p az entre o p ovo Karitiana e a socied ad e envolvente , através d o Marechal Când id o Rond on (SAMPAIO; SILVA, 1997, p . 21). Do nom e d e su a fam ília lingu ística, d eriva o nom e d a cid ad e d e Ariqu em es. O p ovo Uru -eu -u au -u au (Uru -eu -w au -w au ) p ertence à fam ília lingu ística Tu p i-Gu arani (RODRIGUES, 1986 p . 39). H abitam a região cen-

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Eram 340 pessoas, em 1997. (SAMPAIO; SILVA, 1997, p. 35).

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Em 1977, estim ava-se um a p opulação d e 520 ind ivíd uos, em 1997, som avam 259. (SAMPAIO; SILVA, 1997, p. 35). 15

De 849 índios em 1989, passaram a ser 643 em 1993. (SAMPAIO; SILVA, 1997, p. 35).

Com o term o “socied ad e envolvente” quer se entend er o conjunto d as populações não indígenas com as quais os ind ígenas entram em contato. 16

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tral d e Rond ônia, abrangend o vários d os atu ais m u nicíp ios. Os trabalhos p ara estabelecer contato foram iniciad os em 1980, m as, som ente em 1981, foram m antid os contatos am igáveis. N essa ép oca, constitu íam u m grand e gru p o, com m ais d e 800 ind ivíd u os. Em 1997, som avam ap enas 62 índ ios (SAMPAIO; SILVA, 1997, p . 26ss). O p ovo Am ond ava vive na m esm a área qu e os Uru -eu -u au -u au e su a história é sem elhante. Foram contatad os na m esm a ép oca, p recis am ente em 1981. Tam bém p ertencem à m esm a fam ília lingu ística, Tu p iGu arani. Em 1997, estim ava-se u m a p op u lação d e 63 ind ivíd u os (SAMPAIO; SILVA, 1997, p . 30). Os Karip u na são d a fam ília lingu ística Pano (TEIXEIRA, 1995, p . 305). Eram m u ito nu m erosos e habitavam o N orte d e Rond ônia. Eles foram os m ais atingid os p ela constru ção d a Estrad a d e Ferro Mad eira Mam oré, entrand o em conflitos p erm anentes com os trabalhad ores d a ferrovia. Som ente em 1976, d eu -se o p rim eiro contato am istoso com a Fund ação N acional d o Índ io (FUN AI). N essa ép oca, existiam p ou co m ais d e 100 p essoas. Em 1997, som avam ap enas 20 (SAMPAIO; SILVA, 1997, p . 44). O p ovo Sakirabiap está localizad o na área ind ígena Mekém . Registros ind icam qu e m antiveram seu s p rim eiros contatos com os p eru anos no início d o sécu lo XX. Em 1940, o Serviço d e Proteção ao Índ io, antecessor d a FUN AI, estabeleceu contato com eles. Até 1997, su a p op u lação girava em torno d e 110 p essoas. Eles são classificad os ling u isticam ente com o Tu p i-Tu p ari (SAMPAIO; SILVA, 1997, p . 46). N a área ind ígena Rio Branco, vivem vários p ovos. São eles: Tu p ari qu e d á nom e à fam ília Tu p i-Tu p ari, Jabu ti, Canoe, Coru m biara, Arikap u , 17 Maku rap , Arau á e Kam p é . Estim a-se u m a p op u lação d e 323 p essoas (SAMPAIO; SILVA, 1997, p . 48). O p ovo Pakaa-nova p ertence à fam ília lingu ística Txap aku ra (RODRIGUES, 1986, p . 81). H abitam trad icionalm ente a região d e Gu ajaráMirim e cercanias. Os p rim eiros contatos d esse p ovo d eram -se p or ocasi-

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A língua desses povos, com exceção dos Tupari, não são enquadradas com o pertencentes a um a das famílias linguísticas, pois não apresentam similarid ades com elas. Alguns autores, como Teixeira, por exemplo, consid eram essas línguas como famílias linguísticas próprias. O povo d enominado Kam pé não pôde ser encontrado nas árvores linguísticas. (TEIXEIRA, 1995, p. 291-315; RODRIGUES, 1986).

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ão d a constru ção d a estrad a d e ferro Mad eira-Mam oré. Du rante m u itos anos, registraram -se vários enfrentam entos d esse p ovo com trabalhad ores d a estrad a d e ferro, com seringu eiros, garim p eiros e, p osteriorm ente, colonos. Várias foram , tam bém , as “op erações p u nitivas” organ izad as contra esse p ovo. Som ente em 1960, foi estabelecid a a p az (SAMPAIO; SILVA, 1997, p . 49). O p ovo Cassu p á – antigam ente d enom inad o Aikanã – e o Salam ãi habitavam a região d e Pim enta Bu eno. Os rem anescentes encontram -se d esald ead os, vivend o às m argens d a BR 364, p erto d e Porto Velho ou esp alhad os na cid ad e. Dentre os d ois gru p os, os Salam ãi estão p raticam ente extintos e os Cassu p á constitu em u m gru p o d e m ais ou m enos 50 ind ivíd u os. Seu s p rim eiros contatos d atam d e 1941, d u rante a Exp ed ição Uru cu m acu am qu e visava d escobrir as lend árias Minas d e Uru cu m acu am no Rio Machad o. A p artir d o intenso contato, esses p ovos p erd eram su as raízes e terras, habitand o hoje no ou tro extrem o d o Estad o (SAMPAIO; SILVA, 1997, p . 53-59). A su a classificação lingu ística não p ôd e ser enqu ad rad a em nenhu m a fam ília lingu ística conhecid a (RODRIGUES, 1986, p . 98). Existem d ois p ovos qu e vivem nos lim ites d e Rond ônia com ou tros Estad os. Os Kaxarari, qu e fazem p arte d a fam ília lingu ística Aru ak, m ovim entam -se entre Rond ônia e Am azonas (SAMPAIO; SILVA, 1997, p . 60). Já os N am biqu ara (N am bikw ára) com p õem u m a fam ília lingu ística p róp ria e vivem a Su d este d e Rond ônia, ou seja, a Oeste d e Mato Grosso. Seu contato com a socied ad e envolvente, contu d o, se d á com Rond ônia (RODRIGUES, 1986, p . 81). Em 1995, foram contatad os d ois gru p os ind ígenas no igarap é Om erê. Am bos qu ase estão em extinção. Um tem ap enas qu atro p essoas e o ou tro tem sete. Por cau sa d as sim ilarid ad es lingu ísticas com os Canoe, estão send o classificad os com o p ertencentes ao m esm o gru p o. Além d e sses p ovos, a FUN AI tem vestígios d e qu e existem aind a vários p ovos sem contato, em d iferentes regiões d o Estad o d e Rond ônia (SAMPAIO; SILVA, 1997, p . 67ss). Sobre a p resença cabocla na região d e Rond ônia, p od e-se d izer qu e rem onta à história d a ocu p ação d esse território p elos ibéricos. O atu al 18 Estad o d e Rond ônia situ a-se a Oeste d o Tratad o d e Tord esilhas ; p ortan18

O Tratad o d e Tord esilhas, assinad o em 7 d e junho d e 1494, d elineava um a linha im aginária no Atlântico no sentid o N orte-Sul. As terras que ficavam a Leste d essa

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to, p ertencia à coroa esp anhola. N o entanto, hoje, essas terras p ertencem ao Brasil, p ois elas foram conqu istad as, ao longo d e várias d écad as. Os p rim eiros a ad entrarem essas terras foram aventu reiros e m issionários religiosos. Têm -se notícias d e qu e, já em 1524, Aleixo Garcia, com d estino ao atu al Peru , p ercorreu a região N oroeste d o p aís (LISBOA, 1989, p . 18). Mas sem d ú vid a algu m a, a conqu ista efetiva d essas terras se d eveu aos religiosos e às band eiras qu e saíam d e São Pau lo ru m o ao interior, com a finalid ad e d e ap resar ind ígenas p ara o trabalho escravo, bem com o d e d escobrir novas fontes d e riqu ezas. Do lad o esp anhol, os jesu ítas com eçaram a ad entrar ru m o ao vale d o Gu ap oré p or volta d e 1620, m as som ente consegu iram estabelecer relações com os ind ígenas em 1674. A p artir d e então, o trabalho foi intensificad o, aind a m ais com a acirrad a d isp u ta entre lu sitanos e esp anhóis p ela p osse d as terras. Assim , em 1743, os jesu ítas chegaram a consolid ar a ocu p ação d a m argem esqu erd a d o rio Gu ap oré fu nd and o alg u m as m issões (MEIRELES, 1989, p . 71s, 77). Do lad o p ortu gu ês, o trabalho d os jesu ítas não teve u m caráter d e ocu p ação. Os jesu ítas, saind o d e Belém , ond e estavam d esd e 1636, com eçaram a atend er os ind ígenas na região d o rio Mad eira a p artir d e 1669/ 1672 (LISBOA, 1989, p . 19). Eles lim itavam -se m ais em fazer incu rsões com o intu ito d e red u zir os ind ígenas em ald eam entos fora d o atu al território. Pod e-se constatar qu e os portugueses fundaram apenas uma missão na margem direita do rio Guaporé que logo entrou em d ecadência devido à expulsão dos jesuítas (MEIRELES, 1989, p . 135). O trabalho d os jesu ítas som ente foi interrom p id o qu and o eles foram exp u lsos d a Am érica. Em 1767, oito anos depois da expulsão dos territórios portugueses, a ordem jesuíta foi expulsa também de todos os territórios espanhóis (DUSSEL, 1995, p . 128). As missões, por eles fundadas, foram abandonadas. H á qu e se fazer m enção qu e o trabalho d os jesu ítas, tant o d o lad o esp anhol qu anto d o lad o p ortu gu ês, aju d ou a consolid ar os lim ites d a fronteira. Entretanto, o qu e efetivam ente garantiu a conqu ista d essas terras p ara a coroa p ortu gu esa foram as band eiras ou entrad as. Os p a u -

linha pertenceriam a Portugal e as terras que ficavam a Oeste pertenceriam à Espanha. Cf. Carl Joseph H AH N , História do culto protestante no Brasil, p. 33. Esse tratad o, bem com o tod o o processo colonizad or, tanto d o lad o português quanto d o espanhol, d esconsid erava a pertença d a terra aos povos ind ígenas que a habitavam .

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listas, p or estarem situ ad os m ais ao Su l d o Brasil e, p ortanto, m ais d istante d e Portu gal, estavam em d esvantagem no com ércio em relação ao resto d a colônia. Tu d o era m ais caro p ara eles, inclu sive a m ão -d e-obra escrava. Assim , eles contornaram essa situ ação ad entrand o o interior em bu sca d a m ão-d e-obra ind ígena, d o ou ro e d e p ed ras p reciosas (VOLPATO, 1991, p . 29ss). A band eira m ais fam osa qu e and ou p elo território d o vale d o Gu ap oré foi a d e Antônio Rap oso Tavares. Entre os anos d e 1648 e 1650, ela teria p ercorrid o o vale d o rio Gu ap oré, d escend o p elo rio Mad eira até o rio Am azonas e d e lá p ara Belém , voltand o d ep ois p ara São Pau lo. A essa se su ced eram inú m eras ou tras, tod as elas d esresp eitand o o Tratad o d e Tord esilhas, m as qu e garantiram , aos lu sitanos, a p osse sobre qu ase tod a a bacia am azônica e p arte d a p latina. Já no sécu lo XVIII, esp ecialm ente d ep ois d e 1748, qu and o foi criad a a Cap itania d e Mato Grosso, as entr ad as eram organizad as a p artir d e Cu iabá (MILLER, 1983, p . 54, 60). Essas exp ed ições, além d e p rocu rarem p or escravos fu gitivos, p artiam ru m o ao 19 Oeste com o intu ito d e encontrarem o lend ário Eld orad o . Com as frequ entes entrad as, os lu sitanos foram tom and o conta d as terras qu e p ertenceriam legalm ente à coroa esp anhola. Deve -se m encionar tam bém qu e os esp anhóis não tiveram m u ito interesse nessa região, p ois estavam concentrand o seu s esforços na conqu ista d as regiões and inas, p ois ali consegu iram saqu ear m u ito ou ro d o im p ério incaico e p osteriorm ente a p rata. Isso d eve ter facilitad o em m u ito a ocu p ação p elos lu sitanos qu e encontraram p ou ca resistência ao ad entrarem a região. Assim , em 1751, Alexand re d e Gu sm ão, qu e ocu p ava o cargo d e secret ário d o Conselho Ultram arino, consegu iu o reconhecim ento d o Tratad o d e Mad ri. Esse tratad o d elineava u m a nova fronteira no Oeste d o Brasil. A p arte esqu erd a d o rio Gu ap oré p ertenceria à Bolívia e a p arte d ireita ao Brasil (LISBOA, 1989, p . 19). Para assegu rar a p osse d as terras, os p ortu gu eses erigiram fortificações ao longo d a fronteira. O Forte d e Bragança foi o p rim eiro a ser constru íd o, m as u m a enchente em 1771 o d estru iu com p letam ente. O m ais conhecid o é o Forte Príncip e d a Beira, fortaleza qu e se localiza as m argens d o rio Gu ap oré. Su a constru ção foi iniciad a em 1776 e acabad a

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Eld orad o refere-se à lend a que m ovia a cobiça d e espanhóis e portugueses de que, na região am azônica, existiria um local com m uita riqueza m ineral (um a cid ad e d e ouro ou um rio d e ouro, por exem plo).

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em 1783 (MEIRELES, 1989, p . 173, 178s). Por essa ép oca, o interesse econôm ico na região lim itava-se a u m as p ou cas esp eciarias, com o a castanha, p or exem p lo, e à p rocu ra d e ou ro, p rata e p ed ras p reciosas. Esse foi u m d os p eríod os d a ocu p ação. N o final d o sécu lo XIX, in icia-se u m novo p eríod o p ara a região. O interesse d o m u nd o, em p roces20 so d e ind u strialização, voltou -se p ara a Am azônia. A borracha brasileira era u m a m atéria p rim a im p ortante p ara a ind ú stria m u nd ial. Devid o à d em and a qu e crescia d ia ap ós d ia, era necessário u m grand e contingen te hu m ano qu e d isp u sesse su a força d e trabalho p ara a extração d a borr acha em m eio à floresta am azônica. Foi nesse p eríod o qu e a Am azônia recebeu seu p rim eiro grand e flu xo d e m igrantes. Os nord estinos, fu gind o d a seca qu e assolou o N oroeste nos anos d e 1870-1877, foram aos m ilh ares p ara a Am azônia. Cerca d e 80 m il chegaram à região d o atu al Estad o d e Rond ônia (LISBOA, 1989, p . 21). Eles foram sed u zid os p ela p ossibilid ad e d e p articip arem d os lu cros ad vind os d a p rod u ção d a borracha (PERDIGÃO; BASSEGIO, 1992, p . 152). Ao entrar na floresta, esses seringu eiros – com o p assaram a ser cham ad os – tiveram qu e enfrentar, além d as frequ entes d oenças, tam bém os ind ígenas qu e d efend iam seu território. Para a extração d a borracha, foram necessárias infra-estru tu ras. A Bolívia, a fim d e exp ortá-la p elo Atlântico, firm ou o Tratad o d e Petróp olis com o Brasil, no d ia 17 d e novem bro d e 1903 (LISBOA, 1989, p . 21). N esse tratad o, ficou estabelecid o qu e o Brasil constru iria a estrad a d e ferro Mad eira-Mam oré e, em troca, receberia d a Bolívia a área qu e co m p õe hoje o Território d o Acre. N a constru ção d essa estrad a, m orreram inú m eros trabalhad ores. N o registro d a em p r esa constru tora norteam ericana, consta o nú m ero d e 1552 m ortos. N o entanto, há estim ativas d e qu e tenha m orrid o p elo m enos o d obro, já qu e a constru tora não se p reocu p ava em contabilizar as p erd as d e trabalhad ores locais (PERDIGÃO; BASSEGIO, 1992, p . 160). Ou tra grand e obra qu e p ossibilitou o acesso à regiã o foi a linha te21 legráfica. Em 1907, Când id o Mariano d a Silva Rond on , oficial d o corp o d e engenharia m ilitar, foi encarregad o p elo Presid ente d a Rep ú blica Afonso Au gu sto Moreira Pena (1906-1909) (COUTIN H O, 1975, p . 79) d e

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Látex extraíd o d a Hevea brasiliensis, d a fam ília d as euforbiáceas; con hecid a com o árvore-d a-borracha. 21

De Rond on provém o nom e do atual estad o d e Rond ônia.

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ligar à cap ital, p elo fio telegráfico, os territórios d a Am azônia, d o Acre , d o Pu ru s e d o Alto Ju ru á, p or interm éd io d e Cu iabá, já em com u nicação com o Rio d e Janeiro (ROQUETE-PIN TO, 1975, p . 29). Ao térm ino d essa façanha, a qu al evid encia o interesse d o Estad o em garantir a p osse d a região am azônica, existia u m corred or p or terra qu e ligava aqu ela p arte ao resto d o p aís. Por ali, inú m eras fam ílias m igrariam , acom p anhand o o cu rso d a linha telegráfica. Tam bém d eve ser d ito qu e Rond on , além d e ter integrad o essa região ao resto d o p aís através d o telégrafo, tam bém realizou inú m eros trabalhos científicos qu e visavam o reconhecim ento d ela, com o: estu d os etnográficos, m ineralógicos e cartográficos. Rond on literalm ente “colocou a região no m ap a”. Entrem entes, o flu xo m igratório p ara Rond ônia ficou p arad o p or m u itos anos, p ois os ingleses obtiveram u m grand e su cesso no cu ltivo d e borracha na Malásia. Eles p rod u ziam u m a borracha d e m elhor qu alid ad e e em m aior qu antid ad e, d evid o às cond ições m ais favoráveis d e coleta e d e m anejo. Isso rebaixou o p reço d a borracha e qu ebrou o sistem a d e p rod u ção brasileiro (PERDIGÃO; BASSEGIO, 1992, p . 153). A região exp erim entou ou tro grand e im p u lso econôm ico e m igr atório qu and o os jap oneses tom aram a Malásia d u rante a Segu nd a Gu erra Mu nd ial. A borracha brasileira voltou a ser valorizad a. N ecessitava -se u rgentem ente d ela p ara a ind ú stria, esp ecialm ente a bélica d os Estad os Unid os d a Am érica (EUA). Com o as p rop agand as eram insu ficientes p ara arregim entar p essoal em cu rto esp aço d e tem p o, o governo brasile iro d ecid iu recru tar a m ão-d e-obra nord estina. Eles ficaram conhecid os com o “sold ad os d a borracha”. Foram m ais d e 56 m il jovens nord estinos, d os qu ais 27 m il m orreram na floresta. Foi tam bém d u rante esse p eríod o, m ais exatam ente em 1943, a fim d e m elhor organizar a exp loração d a seringa, qu e o governo criou o Território Fed eral d e Rond ônia (PERDIGÃO; BASSEGIO, 1992, p . 15, 161s). Já com o térm ino d a gu erra e a p rod u ção d a Malásia norm alizad a, os “sold ad os d a borracha” foram literalm ente esqu ecid os no m eio d a floresta. Era m ais econôm ico d eixá-los p ara qu e p erm anecessem ocu p and o a região d o qu e trazê-los d e volta e não ter ond e assentá-los. Com isso, o governo fu gia d e u m p roblem a social e resolvia, em p a rte, a ocu p ação d a área am azônica. Ao térm ino d esse p rocesso, Rond ônia contava com

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u m a p op u lação ap roxim ad a d e 100 m il ind ivíd u os esp alhad os às m a r22 gens d os rios e igarap és, form and o u m a cu ltu ra ribeirinha e cabocla . De m aneira resu m id a, ap resentou -se acim a algu ns asp ectos d a geografia, d a história d a ocu p ação e d o p erfil d a p op u lação d e Rond ônia. Com essa introd u ção, o leitor p od e ter u m p anoram a d a situ açã o e d a cu ltu ra com a qu al os p om eranos entraram em contato. Agora, p or su a vez, p ergu nta-se p elos m otivos qu e levaram esses p om eranos ao territ ório d e Rond ônia. 2. O processo migratório e os motivos da migração luteranos A m igração d os p om eranos p ara Rond ônia d eve ser analisad a d e d iferentes p ersp ectivas. Esse acontecim ento não está isolad o d a d inâm ica nacional, m u ito m enos d o p róp rio p rocesso cu ltu ral d esse p ovo. N esse sentid o, além d a análise histórica, a segu ir p rocu ra r-se-á abord ar a p roblem ática d a m igração a p artir d e análises sociológicas e tam bém antr op ológicas d a cu ltu ra p om erana no Brasil. Além d isso, bu scar -se-á a confirm ação ou a refu tação d os m otivos d a m igração, arr olad os a p artir d a sociologia e d a antrop ologia, com base em entrevistas feitas com algu ns m igrantes p om eranos em Rond ônia. Contextualizando a problemática da migração Antes d e a ind u strialização ter sid o im p lantad a no Brasil, a p olítica d o governo concentrava-se na ocu p ação grad u al d e tod o o territ ório nacional. O p aís p ossu ía enorm es qu antid ad es d e terras p rop ícias à agricu ltu ra e à p ecu ária, consid erad as d evolu tas. De form a ininterru p ta, o g overno p rop iciava o su rgim ento d e novas colônias. N esse sentid o, a col onização d irigid a tem sid o p rom ovid a p or razões d e ord em “p olíticom ilitares” e “econôm ico-sociais”. “N o p rim eiro gru p o, d eve-se inclu ir basicam ente os objetivos d e ocu p ação d o território e garantia d e fronte iras. N o segu nd o, alinham -se as p reocu p ações com a ju stiça social (...) e as p reocu p ações p rop riam ente econôm icas” (TAVARES, 1972, p . 27). Para

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Perd igão e Bassegio (1992, p. 164) ind icam 37 m il pessoas para o ano d e 1959. O núm ero d e 100 m il foi obtid o som and o a quan tid ad e d e seringueiros que foram para Rond ônia d urante os dois ciclos d a borracha. Um a explicação para essa d iferença pod eria ser d ad a a partir d a crise econôm ica d os ciclos d a borr acha, a saber, que inúm eros seringueiros, não encontrand o alternativas econ ôm icas em Rond ônia, saíram para outras regiões.

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essas colônias, d irigiam -se os im igrantes eu rop eu s ou filhos d e im igra ntes já assentad os. Assim , o Brasil era id ealizad o com o u m p aís d e m igra ntes. Boa p arte d e cad a nova geração d everia p artir em b u sca d e su as terras. Jean Roche, p or exem p lo, estu d and o o com p ortam ento d e u m gru p o d e im igrantes no Rio Grand e d o Su l, observa qu e “ap enas d ois terços d os d escend entes d os p rim eiros ocu p antes p od em p erm anecer no local ou nas p roxim id ad es, u m terço é obrigad o a em igrar”. Essa contínu a m igração ru ral é favorecid a, d iz o au tor, p ela estabilid ad e d a estru tu ra social (ROCH E, 1969, p . 366s, 375). Os m otivos d a m igração arrolad os p or Roche são: no local d e or igem , a crescente natalid ad e e a falta d e p ersp ectiva; e, no local d e chegad a, as terras d evolu tas. Diz ele qu e o exced ente d e cad a geração é obrig ad o a m igrar, p orqu e o regim e d e p equ ena p rop ried ad e não p erm itia aos filhos ficar no local. Portanto, sobre os tip os d e m igrações, Roche obse rva a existência d e d ois: (1) migração de crescimento, na qu al os filhos d os colonos bu scam terras nas circu nvizinhanças, exp and ind o, assim , as fronte iras; e (2) migração de declínio, p rovocad a, sobretu d o, p ela escassez d o solo, não send o m ais p ossível m anter u m a fam ília nu m ero sa (ROCH E, 1969, p . 376ss). Roche p arece levar em conta, qu and o fala d os m otivos d a m igr ação, ap enas fatores visíveis no local d e origem e d e chegad a d o m igrante. Desconsid era, nessa p rop osta, o fato d e qu e a m igração é p lanejad a e organizad a, qu e ela tem u m a d im ensão p olítica m u ito m ais am p la. Itam ar d e Sou za, p or su a vez, d efine assim essa p roblem ática: A m igração d e um ind ivíd uo não chega a ser um fato sociológico. Mas, quand o nos d eparam os com m ilhares d e pessoas m igrand o num a d eterm inad a d ireção, estam os d iante d e u m fato sociológico, cuja explicação se encontra no estud o d as m ud anças estruturais a nível regional, nacional ou internacional. (SOUZA, 1980, p. 33).

Com essas p alavras, Sou za faz d u as afirm ações im p ortantes: Pr im eira, aqu ilo qu e interessa a u m p esqu isad or é o estu d o d as cau sas e fatores qu e fazem com qu e m ilhares d e p essoas saiam de ou cheguem a u m a m esm a região; segu nd a, as cau sas d evem ser bu scad as em nível regional, nacional ou internacional. Dessa form a, o au tor está contesta nd o as p esqu isas qu e analisam os fatores d e “exp u lsão” e “atração” s o-

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m ente a p artir d o local d e origem e chegad a d os m igrantes . Para ele, essas análises não d ão conta d e exp licar o tod o d o p rocesso. Por isso, p ôd e escrever: “O p rocesso m igratório não é algo m ecânico qu e ocorre entre u m p ólo d e exp u lsão e ou tro d e atração. N asce e se d esenvolve nu m contexto social historicam ente d eterm inad o” (SOUZA, 1980, p . 33). Assim , p od e-se afirm ar qu e a m igração interna no Brasil, com o tam bém a im igração eu rop éia, tem su as origens p rincip alm ente em fatores e d ecisões p olítico-econôm icas. Sob esses fatores, a m igração é id ealizad a, p lanejad a e execu tad a. Ela é d irecionad a, cau sand o u m intenso flu xo m igr atório. É nesse sentid o qu e Pau l Singer p rocu ra estu d ar o fenôm eno m igratório. Para ele, é evid ente qu e o interesse d o cap ital, os esp aços ge ográficos e o flu xo d e m igrantes estão relacionad os. As p op u lações d as áreas d esfavorecid as sofrem com o em p obrecim ento grad u al, levand o -as à m igração. Por isso, constata qu e “o m ais p rovável é q u e a m igração seja u m p rocesso social, cu ja u nid ad e atu ante não é o ind ivíd u o, m as o gr u p o” (SIN GER, 1990, p . 51). Com base nisso, ele p ôd e resu m ir os fatores d e exp u lsão, qu e levam à m igração, em d ois grand es p rincíp ios m otivad ores qu e cham ou d e fatores de mudança e d e estagnação. A p artir d aí, d ecorreriam os ou tros fatores qu e ele assim d escreve: Os fatores d e expulsão que levam às m igrações são d e d uas ord ens: fatores de mudança, que d ecorrem d a introd ução d e relações d e pr od ução capitalistas nestas áreas, a qual acarreta a expropriação d e cam poneses, a expulsão d e agregad os, parceiros e outros agricult ores não proprietários, tend o por objetivo o aum ento d a prod utiv id ad e d o trabalho e a conseqüente red ução d o nível d e em prego (...); e fatores de estagnação, que se m anifestam sob a form a d e u m a crescente pressão populacional sobre um a d isponibilid ad e d e áreas cu ltiváveis que pod e ser lim itad a tanto pela insuficiência física d e te rra aproveitável com o pela m onopolização d e grand e parte d a m esm a pelos grand es proprietários (...). (SIN GER, 1990, p. 38).

Os fatores d e atração, p or su a vez, são resp onsáveis p elo d irecionam ento d o flu xo m igratório, send o qu e o m ais im p ortante, segu nd o Singer (1990, p . 40), é a d em and a d a força d e trabalho. Assim , p od e-se

“N em sem pre a id eia d e m igração esteve ligad a a d inâm ica articulad a d a socied ad e, isto é, inicialm ente a ênfase d a id eia d e m igração recaía sobre o local d e origem ou d e resid ência d a p opulação e su as causa s e conseqüentes alterações”. (MEN EZES, 2000). 23

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d izer qu e os fatores d e exp u lsão d efinem as áreas d e o nd e se originam os flu xos m igratórios e os fatores d e atração d efinem su a orie ntação. Em bora Singer tenha constatad o a objetivação d o m igrante, ta m bém com p reend e qu e existem os fatores d e ord em su b jetiva. Esses fatores exp licariam os m otivos qu e levaram d eterm inad as p essoas a m igrar e ou tras não. Mas, ap esar d isso, su a constatação final é: “O qu e im p orta é não esqu ecer qu e a p rim eira d eterm inação d e qu em vai e d e qu em fica é social ou , se se qu iser, d e classe” (SIN GER, 1990, p . 52). Os m igrantes qu e p ossu em cap ital não têm p roblem as p ara se estabelecer. Mas aqu eles qu e d ep end em ap enas d a su a força d e trabalho d ificilm ente consegu em se estabelecer, tend end o, assim , a m igrar incessantem ente ou a se som ar aos 24 favelad os nas p eriferias d as cid ad es . N esse sentid o, Maria Menezes chega às segu intes conclu sões em seu s estu d os: A lógica d a atração e d a repulsão se transfere, agora, para a capacid ad e d e retenção e para o caráter seletivo d a fixação e d o d estino d os que não conseguem ficar. O tratam ento para esta questão se 25 apoia na obra d e Ravenstein (1885) que salienta a necessid ad e d e com preend er a seletivid ad e com que os lugares absorvem apenas parte d os fluxos m igratórios totais. A retenção m igratória estar ia associad a aos níveis hierárquicos d os centros urbanos e aos níveis sócio-econôm icos d os m igrantes, partind o d o princípio que tanto m aior o nível sócio-econôm ico, m aior será a probabilid ad e d e perm anecer fixad o. (MEN EZES, 2000).

O processo migratório brasileiro e as formas de colonização Os ciclos de migrações no Brasil Um a vez d efinid os os p rincip ais fatores qu e levam à m igração, faz se necessário d escrever u m p ou co o p rocesso m igratório no Brasil. N esse sentid o, Sou za constata a existência d e oito tend ências qu e p od em ser encontrad as nos ciclos econôm icos. São elas: O ciclo d a cana -d e-açú car e as m igrações internas (séc. XVI – XVII), o ciclo d o ou ro e as m igrações internas (sec. XVII – XVIII), o ciclo d o café e as m igrações internas (séc. XIX), o ciclo d a borracha e as m igrações internas (segu nd a m etad e d o séc. XIX), a batalha d a borracha e as m igrações internas (p eríod o d a Segu nd a

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Segund o Maria Taube (1986, p. 55ss), quase a totalid ad e d os m orad ores d e favelas são m igrantes que provém d a zona rural. 25

“The Law s of Migration” (As leis d a m igração).

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Gu erra Mu nd ial), a fronteira agrícola d o Paraná e as m igrações internas (segu nd a m etad e d o séc. XIX – p rim eira m etad e d o séc. XX), a m archa p ara o Oeste e as m igrações internas (a p arir d e m ead os d o séc. XX), e a 26 ind u strialização no Centro-Su l e as m igrações internas (séc. XX) . Em tod os estes ciclos, o au tor com p rova o d eslocam ento com p u lsório d e m igrantes, im igrantes e escravos p ara as regiões ond e estavam localiz ad os os interesses econôm icos. Entrem entes, p ara esta p esqu isa, é m ais relevante o estu d o d o flu xo m igratório d irecionad o p ara a região am azônica, su as cau sas e intere sses envolvid os, o p erfil d o m igrante e a situ ação d ele no novo local. Por isso, abord ar-se-á ap enas aqu eles qu e se relacionam m ais d iretam ente com a colonização d a Am azônia. Acim a, já se tratou sobre a ocu p ação d e Rond ônia d u rante as d u as ép ocas d a borracha. Agora, p ortanto, p rocu rar-se-á d escrever m ais os ciclos d iretam ente envolvid os com o p rocesso m igratório p ara a Am azônia. O processo migratório a partir do fenômeno da industrialização O novo ciclo d e m igrações a p artir d o qu al o fenôm en o m igratório no Brasil p assa a ser su bstancial e su p erior à im igração, inicia com a ind u strialização. O Centro d e Estu d os Migratórios (1986, p . 9s) afirm a qu e “é a p artir d e 1930 qu e as m igrações internas p assam a ser m ais rep rese ntativas e volu m osas qu e a im igração. Inicia-se, então, u m flu xo d o cam p o p ara a cid ad e, qu e se intensifica d écad a a d écad a” . N a d écad a d e 1940, qu ase 70% d a p op u lação brasileira concentrava-se na zona ru ral. Já, na d écad a d e 1980, essa situ ação se inverteu totalm ente. Observand o o gráfico abaixo (figu ra 1), p ercebe-se qu e hou ve, literalm ente, u m a inversão d as bases p rod u tivas d o Brasil: d e ru ral e agrícola, p assou a ser u rbano e 27 ind u strializad o .

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N ão se aprofund ará aqui estes ciclos. Apenas constatar-se-á a existência d eles para corroborar com a tese d e que, sob o fator político-econôm ico, a m igração é planejad a, d irecionad a e gerenciad a. Para m aiores inform ações consulte a obra d e Souza (1980, p. 43-73). 27

Essa tend ência continua a ser acentuad a. N o censo d e 2000, o IBGE estim ou a população rural em 18,755% e a população urbana em 81,245%.

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Figura 1: Evolução da População Urbana e Rural no Brasil (1940-1991) 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10%

1940

1950

1960

1970

1980

1991

População Rural

68,76%

63,84%

55,33%

44,08%

32,43%

24,41%

População Urbana

31,24%

36,16%

44,67%

55,92%

67,57%

75,59%

Fonte: Censo demográfico do IBGE.

Essa inversão está d iretam ente relacionad a com a m u d ança d o m od elo econôm ico. N o início d o sécu lo XX, e, d e form a m ais acentu ad a, d u rante as d u as gu erras m u nd iais, o Brasil exp erim entou a ind u strializ ação. Deixou d e ser u m p aís qu e exp ortava m atéria p rim a e im p ortava p rod u tos m anu fatu rad os p ara ser u m p aís com ind ú strias p róp rias, qu e se d esenvolviam nos m aiores centros u rbanos. Essa m u d ança foi o m aior im p u lsionad or d o fenôm eno m igratório e, com o p ôd e ser vis to acim a, a m aioria d os m igrantes se d irigiu p ara os centros qu e estavam se ind u str ializand o, trata-se d o cham ad o êxodo rural. Mas, ap esar d isso, os centros ind u striais foram incap azes d e absorver tod o o flu xo m igratório. Então, em consequ ência d ireta, a ocu p ação d a Am azônia foi fom entad a p elo governo com o form a d e evitar a convu lsão social e, ao m esm o tem p o, assegu rar a p osse d a região. Dessa form a, a m igração m ais intensiva e ofensiva p ara a Am az ônia su rge no au ge d a ind u strialização d o Brasil, d u rante o governo m ilitar. Mas su a história está d iretam ente relacionad a com o p rocesso iniciad o p or Getú lio Vargas, d u rante o Estad o N ovo, d enom inad o “Marcha p ara o Oeste”. N essa m esm a linha, Sou za escreve qu e: A “Marcha p ara Oeste”, com o expressão id eológica utilizad a pelas elites d irigentes d o Brasil para m otivar a expansão capitalista em áreas d e pouca d ensid ad e populacional e d e m uita terra fértil, su rgiu no Estad o N ovo. Em 1940 afirm ava Getúlio Vargas: “Ap ós a r eform a d e 10 d e novem bro d e 1937, in cluím os essa cruzad a no program a d o Estad o N ovo, d izend o que o verd ad eiro sentid o de bras ilid ad e é o rum o ao Oeste”. (SOUZA, 1980, p. 62).

Du rante os d ois p eríod os em qu e governou o p aís (1930-1945 e 1951-1954), Getú lio Vargas p rim ou p ela econom ia nacional. Entre os p r oLuteranos em Rondônia

31

gram as d e d esenvolvim ento, a região am azônica ganhou enorm e d est aqu e. Seu d esenvolvim ento era consid erad o u m d os m aiores d esafios a ser encarad o p ela ad m inistração nacional (SALATI et al., 1983, p . 263). Dessa form a, na era Vargas, o Estad o com eça a gerenciar a m igração e o p roce sso d e ind u strialização se intensifica. Assim , nu m artigo em 1973, o Centro d e Estu d os e Ação Social (CEAS) p u blica a segu inte tese: Sobretud o nesta segund a fase [após 1930, send o que a prim eira seria antes d e 1930], d e grand es transform ações sociais, econôm icas e políticas na história nacional, o Estad o tom a as réd eas d o processo d e colonização e – m esm o servind o-se d a interferência d e particulares que nela procuram o próprio lucro – faz d essa colon ização u m instrum ento para, d e um lad o, controlar mais facilmente territórios isolados e, d o outro, reduzir tensões sociais em áreas superpovoadas, d esviand o para as novas áreas as m igrações rural-urbanas. (CEAS, 1973, p. 35).

Com o intu ito d e viabilizar a “Marcha p ara Oeste”, foi estabelecid o u m acord o com os EUA, aind a d u rante o governo d e Vargas, p or ocasião d a Segu nd a Gu erra Mu nd ial. Os EUA qu eriam a borracha e o governo brasileiro necessitava d e recu rsos financeiros p ara execu tar os p lanos d e d esenvolvim ento (SALATI et al., 1983, p . 264). Com o já foi d iscorrid o acim a, essa constitu iu a segu nd a fase d a borr acha. Já no governo d e Ju scelino Ku bitschek d e Oliveira (1956-1961), p or su a vez, o Brasil exp erim enta grand e avanço ind u strial. O seu p r ogram a d e governo foi ind u strializar o Brasil. Seu slogan era: “Cinqu enta anos em cinco”. Para alcançar seu s objetivos, op tou p or u m a d esnacion alização d a econom ia e p rim ou p ela ind ú stria d e bens d e consu m o d u r áveis com o eletrod om ésticos e au tom óveis em d etrim ento d a ind ú stria d e base qu e tinha sid o p riorid ad e no governo d e Vargas. O favorecim ento às em p r esas estrangeiras p rovocou a aceleração d a ind u strialização no Br asil (SCH ÜN EMAN N , 1992, p . 14). O p resid ente Ku bitschek objetivou tam bém a constru ção d e u m a nova cap ital p ara o Brasil no Planalto Central. Isso im p licou u m a vasta red e d e transp orte p ara interligar os d iferentes centros econôm icos d o p aís (SCH ÜN EMAN N , 1992, p . 15). Assim , a constru ção d a estrad a qu e liga Cu iabá a Porto Velho foi conclu íd a em 1960 (LISBOA, 1989, p . 21), aind a d u rante o seu governo. Rond ônia, a p artir d essa d ata, estava co ncretam ente ligad o ao restante d o Brasil. N o p rocesso d e ind u strialização, a agricu ltu ra p assou a ser u tilizad a p ara d ois fins. Por u m lad o, necessitava-se d a agricu ltu ra na p rod u ção d e exced entes na tentativa d e angariar rend a. Com isso, p od er -se-ia im 32

Luteranos em Rondônia

p ortar equ ip am ento p ara a ind u strialização. Por ou tro lad o, necessitava se d a agricu ltu ra na p rod u ção d e alim entos a cu sto red u zid o com o objetivo d e m anter a força d e trabalho u rbano. Dessa form a, segu ind o o p r op ósito d e alcançar essas m etas, em algu m as p artes d o p aís, hou ve u m a reorientação d a p rod u ção agrícola, ou seja, a agricu ltu ra trad icional foi su bstitu íd a p or u m a m od erna, m ecanizad a e basead a na m onocu ltu ra (SCH ÜN EMAN N , 1992, p . 22). Com o a m onocu ltu ra exigiu d os colonos u m a área d e terra consid erável e cap ital p ara investim ento, sobrou ap enas u m a alternativa àqu eles qu e não tinham essas cond ições: vend er su as p rop ried ad es. Assim , a p equ ena p rop ried ad e d e agricu ltu ra fam iliar foi ced end o lu gar aos gra nd es p rop rietários. Ond e antes existiam várias fam ílias m orand o, agora se encontrava ap enas u m p rop rietário. As fam ílias foram obrigad as a m igrar ou p ara as cid ad es, ond e se som ariam ao contingente d e m ão -d e28 obra, ou p ara novas fronteiras agrícolas . Ju ntam ente com as m u d anças na base agrícola d o p aís vem o fator clim ático d o N oroeste qu e gerou u m a nova ond a d e m igração nos anos 1960. As cid ad es inchavam , faltavam em p regos e crescia o nú m ero d e sem -terras. Assim , d u rante a d écad a d e 1960, o Brasil exp erim enta forte crise social, econôm ica e p olítica (SCH ÜN EMAN N , 1992, p . 14, 22). Os m ovim entos sociais se organizavam . Tem ia-se u m a revolu ção. Isso cu lm inou no golp e d e 31 d e m arço d e 1964. N essa ép oca, a m aioria d a p op u lação brasileira já resid ia nas cid ad es. O governo m ilitar, p or su a vez, im p lem entou u m a p olítica agressiva d e favorecim ento ao grand e cap ital. Qu anto à qu estão agrária, p or exem p lo, Francinete Perd igão e Lu iz Bassegio afirm am : As d iversas políticas ad otad as em relação ao setor agrícola, pelos governos d a d itad ura m ilitar, a partir d e 1964, visavam m od ernizar e capitalizar a agricultura, m antend o intocad o o sistem a d e propr ied ad e d a terra. A estratégia d e m od ernização conservad ora, ad otad a d esd e então, tem com o d iretrizes básicas a prom oção e o fortalecim ento d a grand e em presa agropecuária e a repressão d as m assas trabalhad oras rurais. (PERDIGÃO; BASSEGIO, 1992, p. 86).

28

Entre os pom eranos no Espírito Santo, a concentração d e terra não é tão perce ptível com o em outros Estad os d a Fed eração, visto que suas terras não são aproveitáveis p ara a agricultura m ecanizad a. Mesm o assim , com o será tratad o m ais ad iante, houve tam bém concentração d e terra nos vales m ais planos.

Luteranos em Rondônia

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De sem elhante form a, estu d and o o p ap el qu e o governo m ilitar a ssu m iu na econom ia brasileira, Singer chega às segu intes afirm ações: N o Brasil, antes d e 1964, um a política d e apoio ao grand e capital teria encontrad o obstáculos insuperáveis d evid o à oposição não só d os pequenos em presários, m as tam bém d e ou tras classes igua lm ente contrárias à hegem onia d a grand e em presa. N o quad ro inst itucional criad o após 1964, este tipo d e oposição foi anulad o e as consequências d o d esenvolvim ento capitalista p assaram a ter livre curso no país. (SIN GER, 1976, p. 89).

Essa p osição favorável d o governo m ilitar em relação ao grand e cap ital d eu ao Brasil, na d écad a d e 1970, u m crescim ento econôm ico e xtraord inário qu e ficou conhecid o com o o “m ilagre brasileiro”. Mas, p or ou tro lad o, d ep au p erou a m aioria d a p op u lação brasileira. O crescim ento su rgiu p or cau sa d a acu m u lação d o cap ital nas m ãos d e algu ns p ou cos em d etrim ento d e m u itos. Em d ecorrência d ireta, em tod os os cantos d o 29 Brasil, su rgiram p equ enos focos d e conflitos . N essa ép oca, m u itos traba30 lhad ores ru rais e u rbanos se reorganizaram . Por exem p lo, na d écad a d e 1970, em p leno governo m ilitar, aconteceram d ois congressos nacionais d os trabalhad ores ru rais. Dep ois, em 1984, com o form a d e exercer p re ssão sobre o governo, u m a p arcela d os trabalhad ores ru rais sem -terra organizou -se, constitu ind o o MST (MEDEIROS, 1989, p . 150). Bernard o Marcelo Fernand es, estu d and o a form ação d o MST, escreve: De 1979 a 1984 aconteceu o processo d e gestação d o MST. Cham am os d e gestação o m ovim ento iniciad o d esd e a gênese, que reuniu e articulou as prim eiras experiências d e ocupação d e terra , bem com o as reuniões e os encontros que proporcionaram , em 1984, o nascim ento d o MST ao ser fu nd ad o oficialm ente pelos trabalhad ores em seu Prim eiro Encontro N acional, realizad o nos d ias 21 a 24 d e janeiro, em Cascavel, no Estad o d o Paraná. Em 1985, d e 29 a 31 d e janeiro, os sem -terra realizaram o Prim eiro Congresso, princip iand o o processo d e territorialização d o MST pelo Brasil. (FERN AN DES, 2000, p. 50).

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Para conhecer alguns d esses conflitos, confira Murilo Carvalho (1980).

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Antes d o golpe m ilitar d e 1964, os cam poneses estavam organizand o-se em tod o o país (eram as ligas cam ponesas) e as lutas no cam po intensificavam -se, m as, d epois d o golpe, o governo não aceitou oposição, perseguind o quem assim se posicionasse. Em d ecorrência, os m ovim entos se d esarticularam . (MEDEIROS, 1989, p. 85ss).

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Luteranos em Rondônia

Entre esses trabalhad ores, encontram -se m u itos m igrantes qu e já tinham p assad o p or exp eriências d e colonização na Am azônia e qu e ale rtavam os m ovim entos qu anto às d ificu ld ad es d e u m a colonização na Am azônia; trazend o, assim , a conscientização d e qu e a reform a agrária d everia ser feita no Su l e Su d este d o p aís (MEDEIROS, 1989, p . 147s; SAN TOS, 1985). Ao tom ar o p od er, o governo m ilitar p rop u nha -se resolver o p roblem a agrário. A p ergu nta era: o qu e fazer com esse contingente qu e 31 estava sobrand o ? Se não objetivar a colocação d esses colonos em u m a área, corre-se o risco d e u m a revolta. Era u m a qu estão d e “Segu rança N acional”. O p roblem a é m aior aind a, os sem -terra são fru tos d a reorientação agrícola qu e veio em benefício d a ind u strialização. Por isso, assentá-los im p licava ir contra o p róp rio p rocesso d e reorient ação agrícola e d e u rbanização qu e estava send o im p lantad o. A alternativa encontrad a p elo 32 governo foi abrir novas áreas p ara assentar esses colonos . N esse sentid o, ao estu d ar a m igração d o Su l d o Brasil p ara a Am azônia, José Vicente Tavares d os Santos constata: Se até o fim d aquela d écad a a ação d o Estad o oscilou entre u m a p olítica d e reform a agrária e um a política d e colonização, a p artir d o com eço d os anos 70 a últim a p revaleceu sobre a prim eira. Constata-se então a progressiva form ação d e u m sistem a d e colonização, através d a ação conjunta d e órgãos públicos e em presas privad as, sistem a que acom p anhará o aproveitam ento d e um a nova área p ara o setor agrícola e pastoril, a Am azônia. (SAN TOS, 1993, p. 43).

Assim , em 1967/ 68, o governo d ivu lgou a existência d e terras fé rteis no N orte d o p aís, enfocand o esp ecialm ente o território d e Rond ônia (PERDIGÃO; BASSEGIO, 1992, p . 88). Tam bém em 1967, o Institu to N acional d e Colonização e Reform a Agrária (IN CRA) com eçou a gerenciar o assentam ento d e colonos (LISBOA, 1989, p . 24). Su rgiram , assim , vários 33 p rojetos d e assentam ento . N os anos d e 1970, o governo criou o Progr a-

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O problem a d o governo não era só a sobra d e m ão-d e-obra, m as, sobretud o, a crescente organização d os trabalhad ores rurais que geraram enorm es conflitos Brasil afora. Para conhecer os conflitos e as organizações d os cam poneses, consu lte Med eiros (1989, p. 34-84). 32

N ão se d eve d esconsiderar tam bém que os latifund iários exerceram pressão contra a reform a agrária. 33

Surgiram os Projetos Integrad os d e Colonização (PICs), os Projetos d e Assent am ento Dirigid os (PADs) e os Projetos d e Assentam ento Rápid o (PARs). Para um a

Luteranos em Rondônia

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m a d e Integração N acional. Através d esse p rogram a visava-se m elhorar as cond ições d a região “p ara a exp ansão d o cap ital e p ara m inim izar a crise d e d esem p rego no N oroeste e no Centro-Su l, assentand o, em p rojetos d e colonização, m igrantes d essas d u as áreas” (SALATI et al., 1983, p . 271). A p rim eira tentativa d e colonização em m assa d a Am azônia foi o assentam ento d e m igrantes ao longo d a rod ovia Transam azônica. Com o fracasso d essa tentativa, o governo com eçou a incentivar a ocu p ação d e Rond ônia, Estad o qu e receberia, na d écad a d e 1970, u m flu xo m igratório m aior d o qu e qu alqu er área fronteiriça no Brasil. “Rond ônia cresce, na d écad a, 15,8% ao ano, ao p asso qu e o crescim ento p op u lacional d e tod o o território nacional não u ltrap assa a taxa d e 2,5% ao ano” (Centro d e Estu d os Migratórios, 1986, p . 66s). A segu ir (figu ra 2) vê-se o gráfico d a evolu ção p op u lacional em Rond ônia qu e, p ercentu alm ente, u ltrap assa em m u ito tod o o território nacional. Figura 2: Crescimento Populacional em Rondônia (1970–1985) 1.028.000 Número de habitantes 486.036 234.687 113.000 1970

1975

1980

1985

Fonte: Centro de Estudos M igratórios, 1986, p. 66.

Desta form a, enqu anto qu e, em 1970, su a p op u lação chegava a 113 m il habitantes, qu inze anos d ep ois, em 1985, atingia u m a cifra su p erior a 34 u m m ilhão d e habitantes . N o gráfico abaixo (figu ra 3), p od e-se ter u m a id eia d e com o o nú m ero d e m igrantes foi crescend o em Rond ônia d u ra nte o governo m ilitar. Com p arand o o nú m ero total d e m igrantes qu e ingressaram em Rond ônia em 1977 com o nú m ero d os qu e ingressaram em 1985, p ercebe-se qu e há u m crescim ento d e 3828%. Percebe-se, sobretu d o,

análise crítica d esses projetos, inclusive com um a relação d os projetos efetuad os em Rond ônia, consulte Perd igão e Bassegio (1992, p. 73ss). 34

Observa-se aqui que os núm eros anteriores a d écad a d e 1970 não são precisos. Enquanto que Francinete Perd igão e Lu iz Bassegio (1992, p. 164) d ão o núm ero d e 70 m il habitantes, o Centro d e Estud os Migratórios traz a cifra d e 113 m il.

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Luteranos em Rondônia

qu e o m aior contingente d e m igrantes nesse p eríod o se concentra no in ício d a d écad a d e 1980. Em com p aração com o nú m ero total d e m igrantes, entre 1977 e 1981, o nú m ero atinge 28,37%. Já entre 1982 e 1985, atinge 71,63%. Isso acontece p or d iversos fatores, d entre os qu ais os m ais im p ortantes são o au m ento d o cap ital investid o nessa reg ião e a p avim entação d a BR 364 – inau gu rad a em 1981 e conclu íd a em 1984 (LISBOA, 1989, p . 35 22) –, qu e liga o Estad o d e Rond ônia ao resto d o p aís . Figura 3: Evolução do N úmero de M igrantes em Rondônia (1977-1985) 164.917 153.327

102.531 70.251

57.572

61.834

44.278 4.308 1977

14.755 1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

Fonte: Centro de Estudos M igratórios, 1986, p. 67.

Algu ns Estad os d estacam -se com o aqu eles qu e m ais exp u lsaram p essoas p ara Rond ônia, em bora tivessem ru m ad o p ara lá m igrantes d e tod a a Fed eração. Entre os qu e m ais exp u lsaram , com o p od e ser verificad o abaixo (figu ra 4), encontra-se o Esp írito Santo com 8,4% d o total d e m igrantes. Figura 4: Procedência dos M igrantes em Rondônia MS ES 6% 8%

PR 24%

SP 11% MG 12% MT 15%

Outros 24%

Fonte: Centro de Estudos M igratórios, 1986, p. 68.

35

Essa pavim entação faz parte d o capital investid o, m as arrola -se aqui, porque esse investim ento propiciou a entrad a d e m ais capital e recursos hum anos.

Luteranos em Rondônia

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Portanto, com a colonização d e Rond ônia, estavam -se solu cionand o três p roblem as d e u m a só vez, a saber: 1) a ocu p ação d e u m a região d em ográfica su p ostam ente vazia; 2) a d em arcação d a fronteira; e 3) o ad iam ento d e u m a reform a agrária. “Ju stam ente, p ara não fazer a Reform a Agrária, é qu e o Governo criou o „Eld orad o Rond ônia‟ e p ara cá fez vir m ilhares d e fam ílias, lu d ibriand o-as com a p rom essa d e qu e haveria terra p ara tod os” (PERDIGÃO; BASSEGIO, 1992, p . 88). Além d isso, a ocu p ação d e Rond ônia enqu ad ra-se na abertu ra d e novas fronteiras p ara o cap ital. Em síntese, é possível d elinear a tend ência que a política d e colon ização d o regim e autoritário-m ilitar im prim iu ao processo d e colonização: Em prim eiro lugar, definiu -se um a região d e expansão agrícola, a Am azônia, ond e foi im plantad a a m aioria d os projetos d e colonização. Segund o, a responsabilid ad e d os projetos coube tanto a órgãos públicos quanto a órgãos privad os: em presas d e coloniz ação ou cooperativas d e prod utores já organizad as há bastante tem po no Centro-Sul d o país. Em am bas as alternativas, o espaço e os hom ens [e m u lheres] foram rigorosam ente controlad os. Finalm ente no que se refere à clientela d os projetos, foram em pregad os m ét od os d e seleção sociais, d and o-se preferência a um tip o específico d e agricultor: o trabalhad or rural m inifund iário d as regiões d o Sul d o país. Em últim a análise, a colonização foi im posta p ara retirar d o cam po d os possíveis a execução d e um a prem ente reform a agrária. (SAN TOS, 1993, p. 61s).

Os fluxos migratórios nas décadas de 1950, 1960 e 1970 A p olítica d e m igração analisad a acim a p od e ser visu alizad a nos flu xos m igratórios qu e ela gera. O Centro d e Estu d os Migratórios (1986, p . 22ss), analisand o esses flu xos e am p arand o-se em p esqu isas censitárias, com o p od e ser visto abaixo, consegu iu m ap ear três grand es tend ê ncias qu e acom p anham o interesse d o cap ital nas d écad as d e 1950, 1960 e 1970. N a p rim eira d écad a (figu ra 5), o m ap eam ento d o flu xo m igratório revela qu e o N ord este é a área d e ond e p rovém o m aior nú m ero d e m igrantes. Do Rio Grand e d o Su l e Santa Catarina, tam bém su rge u m a co rrente m igratória em d ireção ao Paraná. Qu anto às áreas d e atração, p od e-se d izer qu e existe u m d eslocam ento consid erável p ara novas áreas agrícolas, com o Paraná, Mato Gro sso e, tam bém , Maranhão. N o entanto, o eixo m igratório p rincip al d este p eríod o encontra-se d irecionad o p ara a região Su d este, p articu larm ente Rio d e Janeiro e São Pau lo. N essa ép oca, o p rocesso d e ind u strialização 38

Luteranos em Rondônia

no Su d este d o Brasil tom a corp o, ocasionand o, assim , u m a d em and a p or 36 m ão-d e-obra p ara a ind ú stria . Essa necessid ad e d e m ão-d e-obra fez com qu e m u itos nord estinos, não encontrand o alternativas econôm icas na su a região, m igrassem em d ireção a São Pau lo e ao Rio d e Janeiro. Figura 5: Fluxo migratório na década de 1950

Fonte: Centro de Estudos M igratórios, 1986, p. 22.

Se a tend ência m aior d a m igração na d écad a d e 1950 se d á p ara os centros u rbanos ind u strializad os, na d écad a d e 1960 (figu ra 6), se d ireciona p ara as novas fronteiras agrícolas. O N or d este continu a send o a p rincip al região a exp u lsar a p op u lação, m as tam bém há u m sensível au m ento d a em igração na região Su l e Su d este. Os centros ind u strializ ad os, com exced ente d e m ão-d e-obra, com eçam a exp u lsar a p op u lação.

“Foi no sud este que ocorreu um a aplicação m ais intensiva d e capital, porque nessa região localizava-se as m elhores cond ições para esses investim entos. Ali estavam os principais elem entos para um a lucrativid ad e m aior: concentração d os m eios d e prod ução, d a força d e trabalho e d os serviços ind ispensáveis para a m elhor circulação d a prod ução.” (SAN TOS, 1994, p. 33). 36

Luteranos em Rondônia

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Figura: 6: Fluxo migratório na década de 1960

Fonte: Centro de Estudos M igratórios, 1986, p. 23.

N a d écad a d e 1970 (figu ra 7), a m u d ança m ais consid erável d iz resp eito ao N ord este qu e d eixa d e ser a área qu e m ais exp u lsa su a p op u lação, ap esar d e aind a haver u m a contínu a em igração p ara São Pau lo e Rio d e Janeiro. Os centros ind u strializad os no Su d este, p or su a vez, a u m entand o a tend ência iniciad a na d écad a d e 1960, p rovocam a em igração p ara as novas áreas d e colonização na região Am azônica e tam bém p ara o Paragu ai. Ao m esm o tem p o em qu e recebe im igrantes d o N ord este, a região Su d este exp u lsa ou tros p ara a Am azônia. Figura 7: Fluxo migratório na década de 1970

Fonte: Centro de Estudos M igratórios, 1986, p. 24.

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Esses m ap as, além d e revelar qu e, no p rocesso d e ind u strialização, as áreas qu e recebiam m igrantes, em p ou co tem p o, estão exp u lsand o, tam bém revelam qu e u m a m esm a área p od e receber e exp u lsar m igrantes ao m esm o tem p o. A região Su d este, enqu anto exp u lsa os trabalhad ores ru rais p ara a Am azônia, em favor d a m ecanização e ind u strialização d a agricu ltu ra, atrai m ão-d e-obra nord estina p ara seu s centros ind u strializad os. Além d isso, tam bém existe u m a d im inu ição sensível no tem p o qu e u m a região leva p ara p assar d e área atrativa p ara área d e exp u lsão. O Centro d e Estu d os Migratórios d iz qu e O tem po entre a chegad a e a saíd a d o colono vai d im inuind o d e lugar para lugar: 100 anos nos Estad os d o Sul, 40 em São Paulo, 20 no Paraná, 10 a 5 em Mato Grosso d o Sul, e 2 a zero em Rond ônia. Vai send o encurtad o o tem po entre a atração e a expulsão d o m igrant e. Resum ind o, a possibilid ad e d e fixação d o hom em [pessoa] no cam po d im inui com a penetração d as relações capitalista s na agricultura brasileira. H oje, o colono é, ao m esm o tem po, atraíd o e e xpulso d e um m esm o lugar (por exem plo: Rondônia). (Centro d e Estu d os Migratórios, 1986, p. 69).

N esse m esm o sentid o, em Rond ônia, o Centro d e Estu d o e Pesqu isa d o Migrante fez u m a p esqu isa ju nto à Secretaria d a Fazend a (SEFAZ) e constatou qu e: (...) estavam retornand o em m éd ia d uas fam ílias por d ia d e cad a m unicípio, ou seja, 82,000 pessoas por ano. Isto consid erand o aqu eles que solicitaram licença para m ud anças junto às SEFAZs. Se co nsid erarm os tam bém os que retornam d e carro particular ou d e ôn ibus, sem ped ir licença às SEFAZs, terem os um a cifra sup erior a 100.000. (PERDIGÃO; BASSEGIO, 1992, p. 185).

Perd igão e Bassegio d izem qu e “os m esm os p roblem as não reso lvid os nas regiões d e p roced ência, e qu e encontraram em Rond ônia u m a válvu la d e escap e, são os m esm os qu e, não send o resolvid os aqu i, fazem retornar centenas d e m ilhares d e m igrantes” (PERDIGÃO; BASSEGIO, 1992, p . 90). Os p roblem as seriam , em síntese, o m od elo econôm ico qu e 37 p rivilegia o grand e cap ital e o latifú nd io .

Gabriel Kraychete (1995, p. 55), por exem plo, afirm a que “a partir d os anos 1970, a região am azônica vem send o palco d e um intenso processo de transfo rm ação em sua base econôm ica e social. Para aí se d ireciona um a grand e m obiliz ação d e capitais, estim ulad a p elos incentivos fiscais, pelo baixo preço e elevad a d isponibilid ad e d e terra na região e pela ind efinição fund iária que a caracteriza”. 37

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Ap esar d isso, m u itos m igrantes, m esm o não consegu ind o su as te rras, não retornaram ; resolveram estabelecer-se nu m a d as cid ad es d a região. Assim , em p ou cos anos, o m esm o fenôm eno d o êxod o ru ral, qu e h avia p rovocad o grand es m u d anças no Brasil, ocorreu tam bém em tod os os Estad os d a Am azônia brasileira. Pod e-se d izer qu e esse fenôm eno foi sim u ltâneo à colonização. A p orcentagem d a p op u lação u rbana em Rond ônia é inferior à m éd ia brasileira. Ap esar d isso, em 1996, esse p ercentu al atingia a cifra d e 61,97% (CITYBRASIL). A s formas de colonização Existiram basicam ente d u as form as d e colonização. A p rim eira foi a oficial, feita p elo IN CRA, qu e, em Rond ônia, assentou os colonos ao longo d a BR 364. A segu nd a form a foi a colonização p rivad a. Exem p los d esse tip o d e em p reend im ento são as em p resas Itap oranga S/ A e a C alam a qu e com eçaram a atu ar a p artir d e 1964 (PERDIGÃO; BASSEGIO, 1992, p . 76s). Am bas as form as d e colonização com eteram erros ao assentar colonos; p or vezes, tiraram p roveito d a ingenu id ad e d e colonos e ind ígenas. Frequ entem ente, assentavam m ais d e u m p rop rietário em u m m esm o lote. O IN CRA chegou a assentar colonos em áreas ond e já exist i38 am p rojetos ou em áreas ind ígenas . N esse caso, a solu ção encontrad a era tom ar d e volta as terras (CARVALH O, 1980). As em p resas p rivad as, p or su a vez, vend iam terras qu e não lhes p ertenciam . Mu ita s vezes, ap od eravam -se d e terras ind ígenas (PERDIGÃO; BASSEGIO, 1992, p . 9). A d istribu ição geográfica d os assentam entos em Rond ônia serviu p ara valorizar o m inifú nd io e o latifú nd io, bem com o tam bém p ara atrair m ão-d e-obra p ara as em p resas agrop ecu árias, visto qu e o m od elo físico d e ocu p ação d e Rond ônia é d e p equ enas p rop ried ad es ao red or d e gra nd es latifú nd ios. Enqu anto qu e 5% d os p rop rietários p ossu em 66% d a área cad astrad a os ou tros 95% d etêm ap enas 34% (figu ra 8).

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A própria fam ília d o autor é um exem plo d e quem tinha ad quirid o terras d entro d e um a área ind ígena (Área Ind ígena Zoró). Com a posterior d em arcação, a fam ília perd eu o d ireito à terra.

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Figura 8: Concentração Fundiária em Rondônia

34% 5% dos Proprietários 95% dos Proprietários 66%

Fonte: PERDIGÃ O; BA SSEGIO, 1992, p. 114.

Assim o ord enam ento d os assentam entos era p lanejad o d e form a qu e a m ão-d e-obra estivesse d isp onível p ara os grand es p rop rietários, bem com o, tam bém , p ara valorizar as terras d esses. N u m a m esm a região d e colonização, vão ser assentad os p equ enos, m éd ios e grand es p rod u t ores, u m ao lad o d o ou tro. N esse sentid o, Jean H ébette e Rosa E. Aceved o Marin, estu d and o a colonização oficial no m u nicíp io d e Ariqu em es -RO, em 1982, chegam a essa m esm a conclu são. A id eia foi, inclusive, d efend id a pelo Governad or d o então Territ ório d iante d a Com issão d e Inquérito d o Congresso N acional: “Ace rtam os com o IN CRA para que não se fizesse m ais a im plantação d e projetos d e colonização, sem que, ao lad o d eles, houvesse apoio às m éd ias e grand es em presas d e colonização p articular”. Mais ad ia nte explicava o raciocínio subjacente: “Acho que a colonização oficial é um a necessid ad e e d eve ser feita assim com o não d eve ser d e sprezad a a particular d e m éd ia e d e grand es em presas. O colono d e 2 100ha [m ed id a d e terra que equivale a 100m ] é a força fam iliar som ente. Ele trabalha no m áxim o 10ha d a sua terra . Ele não faz m ais que isso. Parte d o ano, ele está ocioso (sic!). En tão, se houver ao lad o um em preend im ento particular agropecuário, esse hom em pod e prestar seu serviço tam bém a esses proprietários, com o já está acontecend o em alguns em preend im entos em Rondônia”. (H ÉBETTE; MARIN , 1982, p. 18)

A extensão d e terra qu e cabia a cad a p rop rietário, em Ariqu em es, p or exem p lo, foi estabelecid a em 100ha p ara p equ enos p rop rietários, em 250ha p ara m éd ios p rop rietários e d e 500ha a 1000ha p ara em p resas m a iores (H ÉBETTE; MARIN , 1982, p . 11). N o restante d o território, ela res-

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p eitou m ais ou m enos a m esm a ord enação, ap enas fu gind o à regra qu an39 d o se fala d a m ega-em p resa agrop ecu ária . Além d as form as legais d e colonização, existiu , em larga escala, a grilagem . Fam ílias inteiras entravam p elos fu nd os d e u m a p rop ried ad e com o d esejo d e consegu irem u m p ed aço d e terra, m as, ap esar d e correrem risco d e m orte enfrentand o p istoleiros, p ou cas vezes obtinham a lgu m êxito. O processo migratório na perspectiva dos pomeranos capixabas Se até aqu i o fenôm eno m igratório fora ap resentad o a p artir d o d iálogo entre a história e a sociologia, levand o o leitor a com p reend ê -lo m ais com o u m p rocesso d e objetificação d o m igrante, agora, p or su a vez, coloca-se a p ergu nta p ela contribu ição d a antrop olog ia, no d iálogo entre história e sociologia, p ara as p esqu isas d a m igração. Para tanto, far -se-á 40 u so d e instru m ental antrop ológico , bem com o d e entrevistas feitas com m igrantes. A p artir d e agora, a análise volta-se p ara u m a com p reensão m ais integral d o p rocesso m igratório. Os m igrantes, nessa com p reensão, são sujeitos e objetos no p rocesso m igratório. N esse sentid o, bu scar -se-á, tam bém , a verificação d a análise sociológica no d iscu rso d os m igrantes. Já foi m encionad o acim a qu e os m em bros qu e hoje com p õem a IECLB em Rond ônia vieram , em su a m aioria, d o Esp írito Santo. Algu ns já tinham m igrad o p ara Minas Gerais ou Paraná (JACOB, 1992, p . 31). Aqu eles qu e chegaram em Rond ônia p ertenciam à qu arta geração d os p om eranos qu e im igraram p ara o Brasil. N as p alavras d e Joana Bahia: “A qu arta geração m arca a saíd a d os p om eranos p ara a criação d e colônias em ou tros Estad os, tais com o Rond ônia (Esp igão d o Oeste), Mato Grosso, Pará, Goiás e Paraná, a p artir d a d écad a d e 70” (BAH IA, 2000, p . 54). Roche, p or su a vez, estu d and o a história alem ã no Esp írito Santo, refaz a 41 trajetória d os m igrantes na bu sca d e colônias novas . Os colonos teriam sid o assentad os p rim eiram ente na terra fria, nos vales d os rios Ju cu e Santa Maria d a Vitória. Assim :

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Em Rond ônia, existem proprietários que possuem grand es extensões d e terras. N esse sentid o, Perdigão e Bassegio (1992, p. 85) constatam que “(...) apenas nove proprietários possuem quase 6% d as terras d o Estad o”. 40

Para essa tarefa, usar-se-á o trabalho d e And ré Doogers (1984), a tese d e Joana Bahia (2000), e a tese d e Dagm ar E. E. Meyer (2000). 41

Sobre a trajetória d essas m igrações internas, confira Roche (1969, p. 147-156).

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As prim eiras com unid ad es luteranas d e Cam pinho e d e Santa Le opold ina estend eram -se respectivam ente pelo vale d o Jucu e pelo d e Santa Maria d a Vitória, prosseguind o pelos afluentes, à m ed id a que aum entava o núm ero d e d escend entes d os prim eiros im igrantes e chegavam outros, após 1870. (ROCH E, 1969, p. 130).

Dessa região, as novas gerações m igraram em d ireção ao N orte d o Esp írito Santo, p ara a cham ad a terra qu ente. Assim , os p om eranos d a qu arta geração tinham u m sistem a cu ltu ral m arcad o fortem ente p ela m igração. Pod e-se afirm ar, p ortanto, qu e a m igração é u m elem ento con stante no m eio p om erano. Isso se exp lica p ela com p reensão cu ltu ral d e qu e, p ara ser u m p om erano, é necessário, entre ou tras coisas, ser cam p onês, ter religião (lu terana) e p ossu ir laços étnicos com o gru p o. Para este m om ento, d estaca-se a p rim eira necessid ad e, ou , com o Bahia tam bém 42 d efine, trabalhar nu m a terra (land) . N esse sentid o, ela d iz qu e a cu ltu ra p om erana p ossu i estratégias d e m anu tenção d o ethos cam p onês. A m ais im p ortante d essas estr atégias é a qu estão d a herança. Ela p ossu i u m a lógica p róp ria d o m u nd o cam p onês, qu e entra em conflito com o sistem a ju ríd ico brasileiro, m as qu e tem com o objetivo evitar a excessiv a fragm entação d as p equ enas p rop ried ad es. Em p rim eiro lu gar, as m u lheres não recebem herança, m as som ente u m d ote qu e tem a fu nção d e aju d álas na constitu ição d e su as p róp rias terra s (land). Geralm ente, esse d ote é com p osto p or algu ns anim ais e in stru m entos d om ésticos. A lógica p or trás d isso é qu e o esp oso tenha d ireito a u m a herança. Em segu nd o lu gar, qu anto aos hom ens, som ente o caçu la recebe herança. Os ou tros p od em ficar trabalhand o p ara o irm ão, tornarem -se arrend atários ou m eeiros. Ou tra alternativa é a m igração p ara novas colônias ou p ara as cid ad es. Essa ú ltim a é a m enos p referid a, p ois, d eixar d e ser cam p onês, seria qu ase sinônim o d e d eixar d e ser p om erano. Por isso, geralm ente, vai-se em 43 bu sca d e novas fronteiras agrícolas (BAH IA, 2000, p . 52, 60, 92) . Bahia tam bém d efend e certa esp ecialização d a cu ltu ra p om erana em m eio ao sofrim ento e à m igração. Diz qu e a cu ltu ra forjou a m etáfora d a Canaã, d a “terra qu e m ana leite e m el” (Êxod o 3.8). Para chegar a essa

A palavra land “(...) d esigna a unid ad e fam iliar com o unid ad e d e prod ução e consum o, juntam ente com a propried ad e, os anim ais, objetos e valores que const ituem seu m od o d e vid a”. (BAH IA, 2000, p. 26). 42

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A constatação d e que a cultura pom erana possui m ecanism os d e expu lsão não é algo singular, ao contrário, vários outros grupos culturais po ssuem m ecanism os sem elhantes. Os nord estinos e os gaúchos, por exem plo, constituem grupos cu lturais que pod eriam ser estudad os sob esse m esm o prism a.

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terra, o cam inho é m u ito d ifícil; p obreza e sofrim ento o m arcam , m as, ao final, vem a salvação. Ela localiza essa p roblem ática nu m p rové rbio m u ito rep etid o entre os p om eranos: “Aos p rim eiros, a m orte; aos segu nd os, a 44 m iséria; aos terceiros, o p ão” . Esse d itad o m ostra as cond ições precárias d a política d e im igração im plantad a pelo Estad o Brasileiro que m arcaram as prim eiras g erações e a im agem id ealizad a d e “terra prom etid a”, “Canaã”, qu e paulatinam ente seria construíd a pelo ethos d o trabalho cam ponês. As etapas d e pecad o, inferno, d or, m iséria se com pletariam com a salvação, ressurreição e finalm ente a Canaã alm ejad a. (BAH IA, 2000, p. 255).

Os p rim eiros são a p rim eira geração, qu e chega qu and o as d ificu ld ad es são m aiores; os segu nd os são a segu nd a geração, qu e faz com qu e o novo local p rod u za os fru tos em abu nd ância; e os terceiros são a terce ira geração, qu e se farta com a abu nd ância, não p assand o m ais p elas d ificu ld ad es d as gerações anteriores. A au tora ap resenta isso d a segu inte form a: A d iferenciação interna e as d ificuld ad es vivid as a cad a geração perm anecem em cad a nova fronteira agrícola que tem início. A cad a nova colônia, tem os o trabalho pioneiro árd uo que tem com o prim eira consequência a m orte d e m uitos para que poucos d êem continuid ad e à reprod ução social. (BAH IA, 2000, p. 257).

Dessa form a, p ôd e ser verificad o qu e a cu ltu ra p om erana p ossu i m ecanism os qu e favorecem a m igração. N a análise a p artir d a sociologia, foram d enom inad os com o “fatores d e exp u lsão”. Agora, na sequ ência, p ergu nta-se p elos “fatores d e atração”. As novas colônias não p od em ser fu nd ad as em qu alqu er lu gar. Se, com o foi visto acim a, a p ertença ao gru p o está cond icionad a ao com p art ilham ento d a cu ltu ra, a m igração, p or su a vez, é cond icionad a à existência d as cond ições necessárias p ara a rep rod u ção d o m od o d e vid a cam p onês p om erano, qu e envolve a p ossibilid ad e d e aqu isição d e terras, a existê ncia d e su a Igreja e a existência d e ou tros p om eranos. A m igração d e u m ind ivíd u o ou d e u m a p equ ena fam ília p ara u m a região ond e não existiam as cond ições necessárias é m u ito esp orád ica. Por isso, os p rim eiros m igrantes chegaram em Rond ônia totalizand o 60 p essoas, d istribu íd as em

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Outro provérbio im portante que a autora d estaca d entro d essa problem ática é: “A m orte d e um é o pão d o outro”. (BAH IA, 2000, p. 255, 257).

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d u as fam ílias, H olland er e Brau n. De sem elhante form a, conform e as cond ições m elhoravam , m ais m igrantes chegavam . A m aioria d os p om eranos, com o d iz Isau ra Boone, “com eçaram a entrar a p artir d e 1973, p orqu e já existia a Igreja, p or isso eles vieram ” (BOON E, 2001). Conclu sivam ente, p od e-se d izer qu e, d e ou tro m od o, seria d ifícil exp licar os m otivos qu e levaram os p om eranos a atravessar o p aís, d e Leste a Oeste, em bu sca d e terra, visto qu e p od eriam ter p rocu rad o u m a área m ais p róxim a, com o Bahia, Goiás ou Mato Grosso, p or exem p lo. Sobre as cond ições econôm icas d os p om eranos qu e m igraram p ara Rond ônia, p od e-se afirm ar qu e eles fazem p arte d aqu eles p equ enos p r op rietários ou sem -terra qu e não su p ortaram a m od ernização e m ecanização d a agricu ltu ra, com o fora analisad o acim a. Em geral, eles eram p equ enos p rod u tores qu e baseavam a p rod u ção na agricu ltu ra fam iliar e qu e, p or isso, não tiveram cond ições p ara com p etir com ou tros p rod u t ores m aiores. N a verd ad e (esses pom eranos), na situação em que foram colocad os, não conseguiram d esenvolver-se com o classe m éd ia. A grand e m aioria d os pom eranos não conseguiu passar d e pequenos agricu ltores que, a custo d e m uito trabalho, conseguiram sobreviver e, um a ou tra p arte é m eeira aind a hoje no Espírito Santo. (JACOB, 1992, p. 21).

Um caso clássico é o d o Sr. Davi Binow qu e, saind o d e Minas Gerais, chegou em Rond ônia em 1976. “O conflito d e terra foi assim : tinha gente qu erend o com p rar a terra e não tinha ond e crescer m ais. Dos lad os, eram p rop rietários m aiores d o qu e a gente. O caso era vend er. Com p rar não consegu ia” (BIN OW, 2001). De sem elhante form a, os Brau n tam bém enfrentaram d ificu ld ad es. – Lá fora era m uito d ifícil pra gente trabalhar. [Rod olfo Braun] – N ão tinha lugar pra morar, não tinha terra. [Ad élia Braun] – N ão tinha terra, tinha que trabalhar d e em pregad o para os outros, tud o que fosse. N ão d ava conta d e fazer [cobrir] as d espesas d a casa; ganhava m ixaria m esm o, um salário por m ês (...). – N em sei como nós vivíamos, não dava pra viver, não. (BRAUN ; BRAUN , 2001).

De u m a form a ou d e ou tra, tod os os entrevistad os estavam p a ssand o p or d ificu ld ad es em seu local d e origem (H OLLAN DER; BRAUN , 2001; LAUVERS, 2001. BOON E, 2001). O p rim eiro p astor d as com u nid ad es d e Rond ônia constatou isso em 1975: “Os fazend eiros tom am conta d o Esp írito Santo (...). Então se vai à Rond ônia” (SCH ACH , 1975 JOREV, p . 7).

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Ap esar d essa constatação, há qu e se d izer qu e os m igrantes lu ter anos não eram totalm ente sem p osses. N a colonização d a Am azônia, as p essoas qu e não tinham cond ições econôm icas d ificilm ente consegu iam terras. Os p róp rios nord estinos qu e eram consid erad os os m ais p obres e d esem p regad os, em su a m aioria, eram p equ enos p rop rietários ou tinham algu m cap ital (CEAS, 1973, p . 40). Os lu teranos, p ortanto, ao ch egarem em Rond ônia, p rocu raram com p rar o seu p ed aço d e terra e não esp eraram p elo assentam ento d o IN CRA (LAUVERS, 2001; BIN OW, 2001). Dessa form a, p od e-se afirm ar qu e os m igrantes qu e com p õem as com u nid ad es d a IECLB em Rond ônia fazem p arte d aqu eles qu e p erd eram su as terras d u rante o p rocesso d e m od ernização e d e m ecanização d a agricu ltu ra fom entad o p elo governo a fim d e gerar rend a p ara ind u strializar o Brasil. Dep ois, som and o-se ao flu xo m igratório p rom ovid o p elo governo, ru m aram p ara o então Território Fed eral d e Rond ônia. Mas, ap esar d e serem objetos nessa m igração, eles tam bém foram su je itos. Tinham seu s p róp rios d esejos, u m p ou co d e cap ital p ara investir e d ivu lgavam , no Esp írito Santo, a existência d e terras fé rteis e baratas em 45 Rond ônia com a intenção d e atrair m ais m igrantes . 3. Primeiras dificuldades enfrentadas Qu and o se fala d e m igração p ara a região am azônica, as d ificu ld ad es enfrentad as p elos colonos foram d e tod a sorte. O Centro d e Estu d os e Pastoral d os Migrantes fez u m a p esqu isa com 1866 fam ílias em 14 m u n icíp ios d e Rond ônia no ano d e 1987 e constatou , entre ou tras coisas: Enquanto a falta d e terra representava o m aior problem a para a grand e m aioria d os m igrantes antes d e sua chegad a em Rond ônia (36,17%), outros tornaram -se agora m ais relevantes. A d oença passou a ser o principal d eles, seguind o-se a ausência d e transporte, o baixo preço d os prod utos agrícolas e, em 4º lugar, aparece nov am ente a falta d e terra com o send o o principal problem a para 12,47% d os entrevistad os. (BASSEGIO, 1989, p. 35).

Qu estões com o a falta d e ju stiça, conflitos d e terras, assassinatos, trabalho escravo, d oenças e conflitos com ind ígenas tam bém foram rotina em Rond ônia. A falta d e ju stiça foi o p rincip al p roblem a, p revalecend o a lei d o m ais forte. Gerald o Schach (06/ 1972 – 01/ 1979), p rim eiro p astor

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Essa d ivulgação era inform al, ou seja, através d e cartas pessoais, fotografias e conversas.

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em Rond ônia, chega a afirm ar qu e “os assassinatos p raticam ente cau sam tantas baixas com o a p róp ria m alária” (SCH ACH , 13/ 12/ 1974, Arq. d a IECLB). N ota-se qu e qu ase tod as as contend as qu e term inavam em m orte estavam relacionad as a qu estões d e terra. Assim , na fala d os entrevistad os, não faltaram relatos d e assassinatos. N este sentid o, cham a atenção o u so d a exp ressão “segu rar a costela” ou “eu não tenho costela p ra bala” 46 (H OLLAN DER; BRAUN , 2001) . N essas falas, observa-se o m ed o e o receio qu e os m igrantes têm d os p istoleiros, p ois qu alqu er conflito sobre a p osse d as terras sem p re era solu cionad o p or u m p istoleiro. A p ose d a terra nu nca é totalm ente segu ra. A ú nica coisa qu e a garante é a arm a d e fogo. N esse sentid o, cad a colono p rocu ra ter u m a arm a, m esm o qu e, m u itas vezes, nem isso rep resentasse garantia. A títu lo d e resu m o, veja o qu e o p astor Sch ach ressalta sobre a qu estão d a ju stiça. H á certa ind ecisão e insegurança, pois há ocasiões em que surgem invasores que tom am a terra d os outros sem que seja feita justiça algum a. N estes d ois (...) anos em que conheço RO, sei d e m ais d e cem m ortes a sangue frio (assassin atos cruéis), geralm ente com arm as d e fogo. A causa é sem pre a m esm a: terra. (SCH ACH , 13/ 12/ 1974, Arq. d a IECLB).

O u so d a m ão-d e-obra escrava tam bém esteve p resente d u rante tod o o p rocesso d e ocu p ação d e Rond ônia. Os grand es latifu nd iários aliciavam p essoas p ara trabalharem em su as terras d erru band o a floresta com o objetivo d e p lantar cap im qu e serviria com o p astagem p ara o g ad o. Qu and o chegavam lá, d avam -se conta d o qu e os esp erava: p istoleiros com arm as na m ão. Se algu ém consegu isse sair d a fazend a, seja fu gind o ou p or ter sid o libertad o, não recebia nad a p elo seu serviço. Para exe m p lificar com o isso se configu rou nu m grand e p roblem a p ara os m igra ntes, arrola-se aqu i u m exem p lo. Em 1989, p ortanto, vinte anos d ep ois d a chegad a d os p rim eiros lu teranos em Rond ônia, 200 hom ens, fu gind o d a fazend a Peralta, às m argens d o rio Roosevelt, d ep ois d e consegu irem m atar o cap ataz, chegaram na cid ad e d e Esp igão d o Oeste. Até então haviam sid o m antid os com o escravos. Deveriam d erru bar a m ata e só receberiam seu s honorários ao térm ino d o trabalho, m as, qu and o se ap roxim ava a ép oca d o p agam ento, eram am eaçad os e cha ntagead os ou até assassinad os (PERDIGÃO; BASSEGIO, 1992, p . 126-130). N esse senti-

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Essas expressões referem -se ao fato d e que os órgãos vitais estão protegid os pelas costelas. Geralm ente é nessa região que as vítim as d e hom icíd io ou d e tentativas são alvejad as.

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d o, o p astor Schach escreve em 1974: “A cobiça p ela terra é a m aior d oença qu e há em RO” (SCH ACH , 13/ 12/ 1974, Arq. d a IECLB). Mas as d oenças, m u ito frequ entes, tam bém cau savam verd ad eiro flagelo entre os m igrantes. As d oenças m ais freqüentes são: a m alária, a hepatite, d esid ratação e verm inose (...). A m alária tem índ ices acentuad os apenas em certos lugares, com o em Jarú, por ex., onde d iariam ente m orre gente sem recurso algum . O governo enviou para lá u m a enferm eira, a qual há d ias viajou p ara a eternid ad e, vítim a d a m alária. Certam e nte já foram centenas as vítim as som ente naquele lugarejo ond e a população já é escassa. A hep atite, m ais rara, é d oença fatal que d ificilm ente perd oa alguém . A desid ratação e verm inose nas crianças ocorrem m ais pela falta d e orientação d os p ais. (SCH ACH , 13/ 12/ 1974, Arq. d a IECLB).

O p astor Walter Sass (1979 – 1984), qu e com eçou a atu ar em Rond ônia em 1979, fala qu e o m aior p roblem a era a m alária. Segu nd o ele, O m aior problem a foi a m alária em tod a essa área. Ariquem es era essa ép oca, 1979, 1978, a capital d a m alária d o Brasil. 80 a 90% d a população tinha m alária. A Gerd a [N ied ] e nós m exíam os [tratar com m ed icam ento] m uito com a m alária. N ão tinha hospital d o g overno, só particulares, que exploravam e se aproveitavam d a m alária. Já nessa época, m uita gente perd eu o seu lote. Os m éd icos falavam : “O senhor não pode pagar, m as o senhor tem terra, então vend e a terra pra tratar su a fam ília”. Eu tam bém vi m uita gente m orrer de m alária fauciparum. (SASS, 1999).

O m igrante Rod olfo Brau n e su a esp osa Ad élia relatam u m a situ ação d e sofrim ento em m eio à d oença. – Daí ela ad oeceu, a outra m enina ad oeceu (...). Daí curam os a o utra, a m enina, aí foi ela [esposa] que ad oeceu. Daí foi d ifícil, viu r apaz, Deus m e livre, pra tirar d e lá d e d entro pra fora... [Rod olfo Braun] – Foi a pé até no Pimenta. A ndou 22 Km até no pai dele. Daí pegou o bote, foi descendo no M elgaço, abaixou [foi] até numa fazenda. Daí largou o bote, canoinha, e foi a pé até em Pimenta. Foi lá buscar remédio pra mim e eu lá morrendo, nem abria os olhos. [Ad élia Braun] – Saí d e Pim enta era 4 horas da tard e e peguei [seguiu] pelo riachinho, fui pra lá. E quand o cheguei perto d o riachinho, baixei e atr avessei a pé. Form am 10 km puxad os. Cheguei na beira d o rio [quand o] estava escurecend o. Daí cheguei na casa d o p ap ai, era

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m ais ou m enos um as 8 horas d a noite. Aí eu apanhei [peguei] a e spingard a e red e e toquei [fu i] a pé. Cheguei em casa era 1 hora d a 47 m anhã. Pura m ata! (...) Quand o foi 2 horas, com eçou tom ar o rem éd io, com a felicid ad e d e ter id o em bora senão tinha acabad o d e m orrer lá. – Também, a menina me balançou a noite inteira. Se me deixasse quieta, 48 eu sumia . (...) Eu disse: “N ão me balança não”. M as ele mandou pra me balançar, porque eu ia sumindo (...). – A sorte foi aquele Renato Bred a que tinha, no Pim enta, um a fa r49 m ácia. Deu um rem éd io, m as que foi tão acertad o, Deus ajud ou que foi tão acertad o, que foi só aquela form a d e rem éd io. (BRAUN ; BRAUN , 2001).

A falta d e estru tu ras p ara o tratam ento d e enferm id ad es foi sem p re u m agravante. Em Colorad o d o Oeste, em 1978, a equ ip e d e traba50 lho , form ad a p elos p astores Ed na Ram m inger (07/ 1978 – 1986; 51 01/ 07/ 1989 – 06/ 1993) e Oto Ram m inger (03/ 1978 – 1986; 01/ 07/ 1989 – 06/ 1993), p elo técnico agrícola Wilm ar Lu ft (1978 – 1984) e p ela au xiliar d e enferm agem Gerd a N ied (02/ 1977 – 03/ 1986), organizou u m a com issão d e cid ad ãos p ara cobrar d as au torid ad es resp onsáveis – p refeito, secretário estad u al d e saú d e, secretário estad u al d o d ep artam ento d e estrad as e governad or – solu ções p ara os p roblem as d e saú d e d a p op u lação local. A com issão escreveu cartas reivind icatórias, m anteve contatos p essoais com o Secretário Estad u al d e Saú d e, m as som ente consegu iu a constru ção d e u m p osto d e saú d e, segu nd o atesta o relatório d e ativid ad es d a equ ip e, insu ficiente p ara atend er a d em and a local (Relatório d e acontecim entos..., 1978, Arq. d a Bibl. d a EST). Por ocasião d e u m a visita d o governad or ao m u nicíp io d e Color ad o, em 17 d e m aio d e 1978, hou ve m anifestação p op u lar e o d iretor d o

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Isso significa que não existiam outros m orad ores e que o trajeto até sua m or ad ia d everia ser feito através d e picad as no m eio d a m ata virgem . A expressão “sum ir” é em pregad a por Ad élia Braun para d esignar que ela estava perd end o os sentid os, quase d esm aiand o ou m orrendo. 48

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Frequentem ente os m igrantes tinham d e recorrer a d onos d e farm ácias ou curand eiros, visto que não existia atend im ento m éd ico. Os “farm acêuticos” em Rond ônia eram , geralm ente, m igr antes que tinham trabalhad o com o atend entes num a farm ácia nas suas cid ad es d e origem . 50

O assunto d as equipes d e trabalho será retom ad o no segundo capítulo.

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Em alguns d ocu m entos, a grafia aparece com Otto. Op tou -se pela grafia Oto, pois é a form a que o p róprio pastor assina.

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colégio local, Sr. Walfrid o Leite d e Sou za, qu e p articip ara d as reu niões organizad as p ela equ ip e d e Colorad o, p roferiu u m d iscu rso, qu alificad o p ela equ ip e com o “caloroso e envolvente” e qu e teria p rov ocad o u m a “intensa p articip ação p op u lar”. Tod as essas m anifestações p rovocaram im ed iata reação d o governo. O Sr. Walfrid o foi intim ad o e escoltad o até Porto Velho, ond e foi ad vertid o “a fazer som ente o qu e lhe com p etia”. N a região d e Colorad o, esp alhou -se a notícia d e qu e a equ ip e d a IECLB fora enqu ad rad a na lei d e Segu rança N acional. A equ ip e, insegu ra e incerta d o qu e viria p ela frente, p ed iu a p resença d o p a stor p resid ente Karl Gottschald e d o Coord enad or d as N ovas Áreas d e Colonização p astor Arteno Sp ellm eier (08/ 1973 – 02/ 1983). Esses, p rocu rand o interced er p elo p ovo d e Colorad o ju nto ao governad or, foram ad vertid os no sentid o d e qu e a equ ip e não “p rom ovesse m ais m anifestações”. Entre ou tras co isas, o governad or tam bém d eixou claro qu e “Colorad o não é p riorid ad e p ara seu governo” (Relatório d e acontecim entos..., 1978, Arq. d a Bibl. d a EST). Com o foi ap resentad o acim a, ao chegarem em Rond ôn ia, os m igrantes entraram em contato com os p ovos ind ígenas locais. Prim eiram ente, na região d e Pim enta Bu eno, Esp igão d o Oeste e Cacoal, o choqu e foi com os ind ígenas d a fam ília lingu ística Tu p i-Mond é (Su ru í, Cinta Larga e Zoró) (H OLLAN DER; BRAUN , 2001). Conform e foram ad entrand o o território, encontraram ou tros p ovos. N a região d e Ariqu em es , o contato entre ind ígenas e m igrantes foi violento. Sass afirm a sobre essa p roblem ática: Tinha os Uru -eu -w au -w au; na época a gente não sabia que tribo era que atacava nas fronteiras d o projeto d o IN CRA. As terras que o IN CRA d ava eram poucas e o pessoal ia sem pre em frente. O pe ssoal ia avançand o cad a vez m ais e ad entrava em territórios ind ígenas. (SASS, 1999).

Resu m id am ente, as d ificu ld ad es e os p erigos enfrentad os p elos m igrantes em Rond ônia ficam exp ressos em u m a notícia qu e o p astor Schach p u blicou no Jornal Evangélico logo d ep ois d e su a chegad a em 1972. H á um m ês atrás [novem bro d e 1972] d u as crianças foram m ortas por flechad as d e índ ios. A m ãe d as crianças perd eu u m a vista, foi m ed icad a e salvou -se. (...) N o d ia 27 d e ou tubro, um tem poral d errubou um a árvore sobre d uas m oças que levavam o alm oço a seus fam iliares na m ata. N ild a e Irm a Seibel, 15 e 13 anos, respectiv am ente, [eram ] filhas d o Sr. Fred erico Seibel, m em bro d e nossa com unid ad e, chegad os a d ois meses d o Espírito Santo. As d uas gar otas tiveram m orte instantânea. O fato abalou tod a a população lo-

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cal. Já há d ois m eses atrás, m ais d ois hom ens foram m ortos com o vítim as d e um d errubam ento d e árvores. Pernas quebrad as pelo m esm o tipo d e acid ente, já não são m ais novid ad e em nosso m eio. Aind a há d ias, um m oço picad o por um a cobra foi carregad o por 50 km às costas d e u m com p anheiro, d elirand o d e febre. (SCH ACH , 52 1972 JOREV, p. 4).

Com tod os esses sofrim entos – fom e, d oenças, m ortes – Schach relata qu e já em 1974 foram m u itos os qu e d esistiram d o seu p ed aço d e terra e voltaram p ara o seu Estad o d e origem (SCH ACH , 13/ 12/ 1974, Arq. d a IECLB). Ap esar d isso, a m aioria p erm an eceu e su p ortou tod os esses sofrim entos. Se não consegu issem ali, iriam m ais ad iante, m as nu n53 ca retornar , p ois isso seria regred ir m u ito, p assar vergonha na frente d aqu eles qu e os viram m igrar. Além d isso, no Esp ír ito Santo, a m aioria não p ossu ía terra (land); encontravam -se nu m a cond ição socialm ente e econom icam ente inferior a qu e estavam “agora”. Por isso, era necessário su p ortar as p rivações e p erm anecer no local. N esse sentid o, Schach cita o qu e o Sr. Em ílio Brau n teria d ito: Um d ia, Em ílio, o m eu fiel com panheiro d as jornad as a pé, enco stou sua espingard a ao tronco d e um a árvore e falou: “Pobre é igual a burro. Quanto m ais and a, m ais carga colocam sobre suas costas. E, com o and ar para trás é m od a d e caranguejo, a gente pega fé em Deus e segue pra frente”. (SCH ACH , 1979 JOREV, p. 6).

4. A necessidade espiritual, a continuidade da fé e as formas de espiritualidade Dep ois d e ter analisad o as d ificu ld ad es p elas qu ais p assaram os p rim eiros m igrantes, p od e-se d izer qu e a necessid ad e esp iritu al su rge 54 com o form a d e p ossibilitar esp erança . Se, no novo local, tu d o era incerto, p elo m enos o sentim ento d a p resença d e Deu s garantia certo equ ilí-

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Esse tipo d e artigo foi usad o para sensibilizar a igreja e as pessoas no sentid o de ajud arem com recursos para o trabalho nesse novo local. 53

Retornar com o fracassad o é um a vergonha enorm e para um m igrante. Por isso, tend e a m igrar incessantem ente a procura d e um a m elhor situação. Mas apesar d essa tend ência, m uitos reconhecem o fracasso e retornam para a cid ad e ou o Estad o d e origem , ond e passam a trabalhar com o em pregad os. 54

Tom a-se aqui a id eia d e Max Weber (1974, p. 389-394) ond e ele d iz que os bem suced id os procuram na religião um a legitim ação d e sua posição e os d espossu íd os procuram um a com pen sação d e sua cond ição precária.

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brio p sicológico e social. Psicológico, p orqu e canalizava o sofrim ento, d im inu ind o a angú stia d a incerteza. Social, p orqu e criava u m a red e d e relações qu e, em m eio às incertezas, d ava certa p roteção aos ind ivíd u os e às fam ílias. N esse sentid o, com p rovand o a necessid ad e esp iritu al d o m igrante, em qu ase tod as as entrevistas transp arece a centralid ad e d a p resença d e Deu s. Exp ressões com o “Deu s m e livre”, “Deu s aju d ou ”, “graças a Deu s”, “se Deu s qu iser” (BRAUN ; BRAUN , 2001; H OLLAN DER; BRAUN , 2001), u sad as em m om entos d e d ificu ld ad es, ind icam qu e a certeza d a p resença d e Deu s foi m u ito im p ortante, esp ecia lm ente nos p rim eiros tem p os. Em brenhad os no m eio d a m ata, sem nenhu m a cond ição d e socorro, a ú nica coisa qu e lhes d ava segu rança era p ensar qu e seu s d estinos estavam entregu es nas m ãos d e Deu s. Entrem entes, entre os p om eranos, tam bém p od em ser arrolad os fatores d e ord em cu ltu ral qu e viabilizam a vivência d a esp iritu alid ad e. Para eles, com o escreve And ré Droogers (1984, p . 9s, 13), Deu s é u m Deu s qu e aju d a e qu e p rotege. “Deu s é u m Deu s d e p roteção, m ais d o qu e d e am or”. Dessa form a, a vivência d a esp iritu alid ad e tran sm ite segu rança ao ind ivíd u o e à fam ília qu e a p ratica. Assim , Droogers d estaca tam bém qu e, se u m p om erano não se esqu ece d e Deu s, Deu s não se esqu ece d ele. Assim , viu -se qu e a religiosid ad e é im p ortante p ara os m igrantes e qu e, através d ela, os p om eranos se d efinem cu ltu ralm ente. Os p astores qu e atu am entre p om eranos, p or exem p lo, d estacam a p resença m aciça nos cu ltos. N esse sentid o, Sass d iz qu e as igrejas estavam sem p re cheias (SASS, 1999). Agora, p or su a vez, p ergu nta-se p ela continu id ad e d a fé, qu er d izer, bu sca-se exp licações d os m otivos qu e levaram os m igrantes a rep r od u zirem aqu ilo qu e eles conheciam no Esp írito Santo. N essa m esm a linha, Droogers (1984, p . 11) vai afirm ar qu e, p ara os p om eranos, a Igreja é fu nd am ental. Ela é sinal d a p resença d e Deu s entre as p essoas. Segu nd o ele, “ter fé p arece, às vezes, ser igu al a p ertencer à com u nid ad e”. N a fala d o Sr. Rod olfo Brau n, tam bém p od e ser observad o o qu anto é im p ortante a p resença d a Igreja na vid a d os p om eranos. Desd e aquela época, a Igreja acom panha d entro d a nossa casa (...). Tod a a vid a lá em casa. Está com 29 anos nos acom p anhand o (...). Graças a Deus, sem pre foi até hoje, sem pre fom os bem recebid o nas igrejas. N unca fom os excluíd os pra canto nenhum , estam os até h oje. (BRAUN ; BRAUN , 2001).

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Parafraseand o Dagm ar Meyer (2000, p . 20, 60), no seu estu d o sobre a id entid ad e alem ã no Rio Grand e d o Su l, p od e-se d izer qu e os im igrantes p rocu ram recriar o seu ethos cu ltu ral e qu e, nesse p rocesso, interagem várias instâncias d e p od er, send o qu e ela ap onta, esp ecialm e nte, a Igreja, a escola e a im p rensa. A p artir d aí, ela d em onstra com o foi send o criad a e m antid a u m a id entid ad e alem ã, tanto d entro d o gru p o qu a nto fora d ele. N o caso d os p om eranos d o Esp írito Santo, viu -se acim a qu e eles se d efinem cu ltu ralm ente a p artir d e su a etnicid ad e, a p artir d e seu ethos cam p onês e a p artir d e su a religiosid ad e, ou seja, p ara ser u m p om erano, é necessário p ertencer etnicam ente ao gru p o, com p artilhar o seu m od o d e vid a e tam bém a su a religiosid ad e. A Igreja lu terana, nesse sentid o, con stitu i-se u m a d as m aiores fontes id entitárias d os p om eranos. Portanto, ao chegarem em Rond ônia, os m igrantes p rocu raram recriar o seu u niverso, seu s valores e costu m es, p rod u zid os ao longo d e su a hist ória. Ao recriar o ethos cu ltu ral, no entanto, há u m a resignificação, p ois cu ltu ra não é o conju nto d e trad ições e costu m es qu e p ossam ser transp lantad os. Para d efinir cu ltu ra, Meyer (2000, p . 51) ap óia-se em Rattansi Donald , qu and o d iz qu e cu ltu ra é o “conju nto d os „p rocessos, categorias e conh ecim entos através d os qu ais as com u nid ad es são d efinid as (e se d efinem ) d e form as esp ecíficas e d iferenciad as‟”. Portanto, a cu ltu ra está em tran sform ação e é constru íd a p or instâncias d e p od er e d e resistência. Assim , em Rond ônia, a continu id ad e d a fé é articu lad a entre os p om er anos, os obreiros d a 55 IECLB e a socied ad e m aior, nu m p rocesso d e resign ificação . Qu anto às form as d e viver a esp iritu alid ad e, p od e-se d izer qu e, basicam ente existiam d u as p rincip ais: as m ed itações fam iliares e os cu ltos com u nitários. Para o p om erano, a p articip ação na com u nid ad e é fu nd am ental. “Dizer d e algu ém qu e ele não tem religião é o m esm o qu e afirm ar qu e ele não assiste a cu lto nenhu m ” (DROOGERS, 1984, p . 13, 46). Assim , o casal Brau n conta qu e eles se reu niam nas casas p ara lerem a Bíblia e cantarem (BRAUN ; BRAUN , 2001). Boone d iz, p or exem p lo, qu e “não tinha igreja. A gente se reu nia em casa e tam bém reu nid o com a Igreja católica, p ois já tinha u m p ou co d e gente católica” (BOON E, 2001). Portanto, a esp iritu alid ad e é vivid a nas m ed itações fam iliares e, sobretu d o, na p articip ação em com u nid ad e. Os p om eranos d o Esp írito Santo consid eram a p resença d o p astor u m elem ento fu nd am ental p ara a su a esp iritu alid ad e. N esse sentid o,

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N o segund o capítulo, o processo d e resignificação reaparece nos conflitos ger ad os entre aquilo que os obreiros alm ejavam e aquilo que os m em bros esp eravam .

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“batizar u m filho ou confirm á-lo p od em ser tarefas d e u m leigo, m as casar e m orrer cabe ao p astor execu tá-las”, p ois é tarefa d o p astor d ecifrar o cam inho p ara a terra p rom etid a. “A p resença d o p astor e d a igreja no rito d e m orte é u m elem ento fu nd am ental” (BAH IA, 2000, p . 258, 260). Um leigo que p ronuncie um d esses ritos é m al visto juntam ente com o pastor ausente, resultand o num sentim ento d e m al-estar e ressentim entos na com unid ad e. O leigo não possui a legitimid ad e e nem d om ina a linguagem autorizad a d a instituição religiosa e nem o uso d os sím bolos religiosos, lugares e objetos consagrad os (...), não send o, portanto, reconhecid o com o porta-voz d a palavra sagrad a. (BAH IA, 2000, p. 94).

N a fala d e Bonne, observa-se tam bém qu e os p rim eiros m igrantes tinham u m a vivência ecu m ênica. Qu er d izer, não im p ortava qu e o cu lto fosse com gente d e ou tra igreja, o im p ortante era estar d e bem com Deu s. Mais tard e vão su rgind o os locais esp ecíficos p ara os cu ltos. A p rim eira cap ela geralm ente é sim p les. Erigid a d e m ad eira, frequ entem ente não tinha p ared es. Em resu m o, a vivência d a esp iritu alid ad e, no início d a colonização, é m u ito sim ilar àqu ela exp eriência d os seu s antep assad os qu e im igraram p ara o Brasil no sécu lo XIX. Veja com o Martin Dreher (1993, p . 120s) a d escreve: “Os p rim eiros cu ltos foram realizad os em „casa‟, em chou p anas constru íd as nas p icad as. Cantava -se, rezava-se e lia-se p alavras d a Bíblia ou d e algu ns livros d e p regação”. 5. Os migrantes organizam comunidades Muitos im igrantes tentaram , por conta própria, sensibilizar sace rd otes d o seu próprio país para que venham prestar assistência aos seus co-nacionais. Outros se organizam entre si para m anter viva a prática religiosa, construind o um a capela e d otarem -se eles m esm os d e um pad re ou pastor leigo (...). (BEOZZO, 1993, p. 53).

Com essas p alavras, José Oscar Beozzo resu m e d u as tend ências d o p ap el d os im igrantes na ed ificação d e com u nid ad es d u rante o sécu lo XIX: tentar sensibilizar sacerd otes e institu ições qu e os p ossa atend er esp iritu alm ente ou organizar-se em com u nid ad es leigas. Essas tend ências tam bém vão ser p ercebid as nos m igrantes p om eranos qu e se estabelecem em Rond ônia. O m érito d e hoje existirem com u nid ad es filiad as à IECLB em Rond ônia d eve ser cred itad o, em grand e p arte, aos m igra ntes qu e foram p ara lá. Sem eles, d ificilm ente existiriam com u nid ad es ali. Assim com o a IECLB só existe no Brasil p or cau sa d os im igrantes qu e vieram trazend o ju nto a su a vivência d e fé (DREH ER, 1984, p . 53). De sem elhante form a, 56

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aqu eles qu e foram p ara Rond ônia levaram consigo tam bém a su a. Assim , p od e-se d izer qu e os m igrantes tom aram a iniciativa d e se constitu írem em com u nid ad es. Schach d iz: A m issão partiu d a própria com unid ad e d aquele povo pobre, d aqueles pom eranos capixabas que estavam lá no m ato d e Rond ônia e que escreviam à d ireção d a igreja querend o um pastor, querend o alguém para acom panhá-los espiritualm ente na su a nova terra. (SCH ACH , 2001).

Um m igrante qu e m erece d estaqu e nesse trabalho é, sem d ú vid a algu m a, Martim Discher. Ele tornou -se o p rim eiro líd er com u nitário, eleito na reu nião p ara institu ição d a p rim eira com u nid ad e em Rond ônia, a 23 d e ju lho d e 1970 (Ata, 1970, Arq. d o Sín. d a Am azônia). N a falta d e p astor, ele se encarregava d e d irigir os cu ltos qu e eram realizad os d e 14 em 14 d ias (SCH ACH , 2001). N a reu nião d e fu nd ação d a com u nid ad e, estavam p resentes: Pastor Joachim Maruhm , Vice-Pastor Distrital d o Distrito eclesiástico Sul d o Estad o d o Espírito Santo; o Sr. Vald em ar H olz , tesoureiro tam bém d aquele d istrito, enviad os especiais, com o representantes d a IECLB e m ais aind a d ezessete (17) m em bros fund ad ores, nas pessoas d os senhores, Martim Discher, H um berto Discher, Alfred o H äese, Franz Discher, Carlos Trespad ini, Martim H oland er, Ge rnad o H oland er, Ad olfo H oland er, Florêncio H oland er, Em ílio Braun, Arlind o Braun, H enrique H oland er, Ped ro H oland er, Fra ncisco Discher, Floriano Braun, Ed uard o H oland er e Evald o Sim o ura. Estavam presentes aind a d ez senhoras, esposas d os mem bros acim a, com o visitantes. (Ata, 1970, Arq. d o Sín. d a Am azônia).

Dessa form a, no d ia 23 d e julho d e 1970, sem préd io, sem patrim ônio, sem pa stor, e na m ais genuína força do Santo Espírito d e Deus, o sacerd ócio real d e tod os os crentes reuniu um a d úzia (sic.) d e fam ílias luteranas para fund ar a prim eira com unid ad e d a IECLB em Pim enta Bueno. Martim Discher foi escolhid o com o o líd er d o grupo. Coube tam bém a ele a tarefa d a pregação d a palavra nos cultos. (SCH ACH , 2000 O Cam inho, p. 11).

N o m esm o d ia, foram rem etid as ao então P. Presid ente Karl Gott schald d u as cartas. Um a requ eria o reconhecim ento d a filiação d a com u nid ad e e a ou tra p ed ia verbas p ara a constru ção d e u m a cap ela (DISCH ER, carta, 23/ 07/ 1970, Arq. d a IECLB). As d u as cartas foram resp ond id as em 1º d e ou tu bro d e 1970. A fu nd ação d a com u nid ad e foi reconh ecid a oficialm ente na reu nião d o Conselho Diretivo nos d ias 25 a 27 d e setem bro d aqu ele ano em Cu ritiba. N a m esm a reu nião, tam bém se ap r oLuteranos em Rondônia

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varam as verbas p ara a constru ção d a cap ela (SCH N EIDER, carta, 01/ 10/ 1970, Arq. d a IECLB). A constru ção d a cap ela foi efetivad a em 22 d e d ezem bro d e 1971. Com o o atend im ento p astoral d em orou a ser concretizad o, Discher tom ou a iniciativa d e escrever a algu m as p essoas no Estad o d o Esp írito Santo, a fim d e agilizar a qu estão. N o Arqu ivo d a IECLB, constam algu m as d essas cartas. A p rim eira, d o d ia 21 d e fevereiro d e 1971, é end er eçad a a Vald em ar H olz e ao P. Schelzel. N ela, Discher p ed e qu e Schelzel vá a Rond ônia p ara fazer atend im ento p ast oral. Devid o à falta d e p astor, a carta m enciona três batism os qu e o p róp rio Discher d everia oficiar (DISCH ER, carta, 21/ 02/ 1971, Arq. d a IECLB). Dois m eses ap ós a p rim eira carta, no d ia 11 d e abril d o m esm o ano, Discher escreve u m a carta ao p astor d e su a p aróqu ia d e origem no Esp írito Santo, Jost Ohler. N ela, literalm ente, ele p ed e socorro ao p astor. Diante d a falta d e atend im ento p astoral, afirm a qu e se via p ressionad o a tom ar u m a d ecisão: a IECLB os atend eria ou seriam obrigad os a acord ar com o p astor d a Igreja Evangélica Lu terana d o Brasil (IELB), qu e já estaria assistind o a região (DISCH ER, carta, 11/ 04/ 1971, Arq. d a IECLB). N o d ia 17 d e ju nho d e 1971, Discher escreveu ao Prof. Cat. Elgu id o Pu m p m acher em São Gabriel d a Palha, Esp írito Santo. Agrad eceu p ela visita e atend im ento p astoral ocorrid o algu ns d ias antes e o convid ou p ara assu m ir, d efinitivam ente, os trabalhos p astorais. “N ós tod os esp eram os ao senhor, p ois p recisam os com u rgência d e u m p astor e a co m u nid ad e gostou m u ito d o senhor” (DISCH ER, carta, 17/ 06/ 1971 Arq. d a IECLB). Assim , d ep ois d e d ois anos (1970-1972) enviand o cartas na esp erança d e qu e u m obreiro os assistisse p astoralm ente em d efinitivo, as p reces d aqu eles m igrantes foram ou vid as; a IECLB d esignou u m obreiro catequ ista p ara Rond ônia. Até o m om ento, a p esqu isa esteve voltad a p ara o m igrante, p ara as cau sas qu e p rovocam a m igração e p ara a organização e rep rod u ção d o ethos cu ltu ral. N o segu nd o cap ítu lo, p or su a vez, p rocu rar -se-á estu d ar o p ap el d esenvolvid o p ela IECLB no contexto histórico d e Rond ônia.

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Luteranos em Rondônia

Gerald o Schach (1974) Foto: Martin Logois

Gerald o Schach e Arteno Spellm eier (1974) Foto: Martin Logois

Prim eiro tem plo d a Com unid ad e d e Espigão d o Oeste (1973) Foto: Arteno Spellm eier

Povo ind ígena Suruí em Espigão d o Oeste (1974) Foto: Martin Lagois

Inauguração d o tem plo d e Pim enta Bueno (1974) Foto: Martin Lagois

N estor Kannenberg na Escola Im igrante (Pim enta Bueno 1975) Foto: Arteno Spellm eier

Fotografia d e m em bros e obreiros na Fazend a Agrícola: Gerald o Sch ach sentad o, Ad olfo Büttow d e chapéu d e palha, João Artur Müller d a Silva e Ad alberto Reinke à d ireita (Espigão d o Oeste 1977/ 78) Foto: Arteno Spellm eier

Da esquerd a para d ireita: Ad alberto Reinke, Ad olfo Büttow , Oto H . Ram m inger, Arnild o Wied emann, Gerd a N ied e Arteno Spellm eier (1978) Foto: Desconhecid o

Da esquerd a para a d ireita: Walter Sass, Gerd a N ied , A lgusto Kunnert e Arteno Spellm eier (Ariquem es 1981) Foto: Desconhecid o

Inauguração d o CEI em Espigão d o Oeste (1978) Foto: Arteno Spellm eier

A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil assumindo o trabalho nas N ovas Áreas de Colonização 1. A Igreja assume o trabalho Os primeiros obreiros em Rondônia Por p arte d a IECLB, a iniciativa d e assistir p astoralm ente os m em bros m igrantes em Rond ônia foi p rim eiram ente d efend id a p or algu ns p astores qu e atu avam na então Região Eclesiástica I, atu al Sínod o Esp ír ito Santo a Belém e Sínod o Planalto Central. N o d ia 19 d e ju nho d e 1969, o p astor d a Com u nid ad e Evangélica d e Confissão Lu ter ana d e Brasília, Ernesto Schliep er, escrevia ao Conselho Diretor d a IECLB sobre a necessid ad e d e assistir aos m em bros qu e m igraram p ara Rond ônia. Sobre com o tom ou conhecim ento d a m igração, ele escreve no início d a carta: “Re56 cebi nesta d ata carta d o Rev. Jost Ohler d e Córrego Bley, com u n icand om e a transferência d e 7 fam ílias d e su a com u nid ad e p ara Pim enta Bu eno/ Rond ônia, com o p ed id o qu e eu assu m isse a assistência esp iritu al d estas fam ílias” (SCH ILIEPER, carta, 19/ 06/ 1969, Arq. d a IECLB). Com o já existia tod a u m a d iscu ssão na Igreja d a necessid ad e d e assu m ir a brasilidade e d e se exp and ir p ara o N orte d o Brasil, o Conselho Diretor d ecid iu levar o caso ao Conselho Missionário a fim d e qu e esse se encarregasse d e achar u m a solu ção p ara o p roblem a (SCH N EIDER, carta, 09/ 08/ 1969, Arq. d a IECLB). A u rgência em acom p anhar aqu elas fam ílias d e m igrantes era vis ível. Isso p od e ser p ercebid o nas p alavras d e Johannes Ed u ard Schlu p p , Pastor Regional d a Região Eclesiástica I, em carta d e 28 d e janeiro d e 1970 à Secretaria Geral d a IECLB: “Esp ero qu e d esta vez a nossa Igreja p ossa

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Jost Ohler era p astor d a p aróquia d e origem d os prim eiros m igrantes que ch egaram em Rond ônia, a saber, São Gabriel d a Palha (ex-Córrego Bley). Em 1970, o Prof. Cat. Elguid o Pum pm acher assum iria o pastorad o d essa com unid ad e. (IECLB, 1970).

m esm o com eçar o trabalho em tem p o e não atrasad o com o em ou tros lu gares” (SCH LUPP, carta, 28/ 01/ 1970, Arq. d a IECLB). O p rim eiro p astor lu terano d a IECLB d e qu em se tem notícia d e ter and ad o p or Rond ônia foi H orst Schm eckel (Dep artam ento d e Migração, S/ D, p . 3). Era u m alem ão qu e atu ava no Esp írito Santo. Martim H olla nd er d iz qu e, em 1970, teria recebid o a visita d ele no Alto Melgaço (H OLLAN DER; BRAUN , 2001). Tam bém em 1970 (ju lho-setem bro), Vald em ar 57 H olz e o P. Joachim Maru hn foram d esignad os p ela Direção d a IECLB p ara fazerem u m a viagem a Rond ônia com o objetivo d e localiz arem os m em bros qu e p ara lá tinham m igrad o (H OLZ, 20/ 09/ 1970, Arq. d a IECLB). Em Rond ônia, oficiaram cu ltos e batism os, bem com o p articip aram d a fu nd ação d a com u nid ad e d e Pim enta Bu eno em 23 d e ju lho d e 1970 (Ata, 23/ 07/ 1970, Arq. d a Com . d e Esp igão). N o final d o relatório qu e H olz end ereçou d iretam ente ao P. Presid ente d o Conselho Diretor d a IECLB, Karl Gottschald , consta a segu inte su gestão: “Qu e seja iniciad o u m trabalho nessas regiões qu anto m ais breve, p ara evitar qu e ou tras d enom inações religiosas tom em frente (...) e consigam u m grand e cam p o d e trabalho qu e p ertence a nossa igreja” (H OLZ, 20/ 09/ 1970, Arq. d a IECLB). N esse m esm o sentid o, o Prof. Cat. Elgu id o Pu m p m acher, qu e esteve em Rond ônia em m aio d e 1971, referind o-se à d isp u ta entre a IELB e a IECLB, escreve em seu relatório: “Qu em p rim eiro constru ir, será o vitorioso” (PUMPMACH ER, 13/ 07/ 1971, Arq. d a IECLB). A u rgência era inevitável, ou se ia d efinit ivam ente às novas áreas ou p erd er-se-ia u m a p ossibilid ad e d e exp and ir a Igreja em d ireção ao N orte d o Brasil. Dessa form a, o Conselho Diretor d ecid e enviar algu ém p ara o Te rritório Fed eral d e Rond ônia com o objetivo d e “verificar as cond ições d e Pim enta Bu eno, no qu e d iz resp eito à instalação d e u m a p aróqu ia d a IECLB” (KUN ERT, carta, 19/ 11/ 1971, Arq. d a IECLB). Walter Schaeffer, o então P. Distrital d e Taqu ari, foi encarregad o d essa tarefa. Assim , d e 25 d e janeiro a 25 d e fevereiro d e 1972, ele esteve p ercorrend o Ro nd ônia (SCH AEFFER, 10/ 03/ 1972, Arq. d a IECLB). Sobre o resu ltad o d a visita, escreve em seu relatório: “Tom o a liberd ad e d e su gerir à d ireção d a nossa

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Vald em ar H olz é um leigo resid ente no Espírito Santo d esignad o pela Direção d a IECLB para localizar as fam ílias que m igraram para Rond ônia e avaliar as cond ições d e um a assistência eclesiástica.

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igreja qu e envie u m p astor ou u m p rofessor catequ ista a esta com u nid ad e” (SCH AEFFER, 10/ 03/ 1972, Arq. d a IECLB). Agora, o Conselho Diretor p ossu ía três relatórios sobre a situ ação d e Rond ônia (H OLZ, 20/ 09/ 1970; PUMPMACH ER, 13/ 07/ 1971; SCH AEFFER, 10/ 03/ 1972, Arq. d a IECLB) e via-se no lim iar d e u m a d ecisão, p ois não encontrava algu ém qu e se d isp onibilizasse a trabalhar em Rond ônia: A IECLB acom p anharia os m em bros nessa nova região e, nesse sentid o, enviaria logo u m a p essoa p ara atu ar lá ou entr egaria o trabalho, d efinitivam ente, à IELB. Bu scand o agilizar essa d ecisão, Rod olfo Schneid er, o então Secretário Geral d a IECLB, escreveu p ara o Conselho Diretor em 28 d e fevereiro d e 1972: Em vista d e já se prolongar por m uito tem po o planejam ento d o provim ento d e P.[im enta] Bueno com um pastor ou prof. catequista, (...) sugiro que o Conselho Diretor se pronuncie sobre a questão, inclusive, se aprovaria a sugestão feita por pastores d o Espírito Santo d e entregar este cam po d e trabalho a [sic.] IELB, caso não acharm os um pastor que queira assum ir este trabalho. (SCH N EIDER, carta, 28/ 02/ 1972, Arq. d a IECLB).

Quem se arrisca nessa empreitada? Qu ase tu d o já estava encam inhad o p ara qu e a Igreja assu m isse d efinitivam ente o trabalho p astoral em Rond ônia. Só u m a coisa estava fa ltand o: p essoas qu e se d isp u sessem p ara o trabalho. O p rim eiro nom e cogitad o, já em novem bro d e 1971, p ara atend er p astoralm ente as fam ílias em Pim enta Bu eno foi o Prof. Cat. Célio H orst. Segu nd o consta nos d ocu m entos, ele teria se oferecid o, m as p osteriorm ente d esistiu d a id eia (SCH N EIDER, carta, 23/ 11/ 1971; SCH N EIDER, carta, 28/ 02/ 1972, Arq. d a IECLB). Com a d esistência d e H orst, a situ ação ficou crítica, p ois naqu ela ép oca faltavam obreiros na IECLB. Um p astor estava fora d e cogitação, visto qu e era m ais vantajoso ficar ond e existiam com u nid ad es trad icionalm ente constitu íd as d o qu e se d eslocar p ara regiões sem estru tu ra a lgu m a. Sem d ú vid a, p ara iniciar u m trabalho m issionário em p éssim as cond ições no m eio d a floresta am azônica, seria m u ito d ifícil encontrar u m p astor. Assim , Rod olfo Schneid er encam inhou , no d ia 10 d e fevereiro d e 1972, u m a carta ao P. Martim Reu sch, então d iretor d o Dep artam ento d e Catequ ese em Ivoti, p ed ind o-lhe qu e p rocu rasse “entre os p rofessores catequ istas, qu em eventu alm ente estaria d isp osto a assu m ir esta tarefa” (SCH N EIDER, carta, 10/ 02/ 1972, Arq. d a IECLB). Em carta d o d ia 03 d e m arço d o m esm o ano, o P. Reu sch resp ond eu ao p ed id o d o Secretário

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Geral. E, entre os eventu ais cand id atos cit ad os na carta, encontra-se o 58 Prof. Cat. Gerald o Schach . Entrem entes, naqu ele ano tam bém saíram algu m as notícias no Jo rnal Evangélico. As qu e m ais cham am a atenção, com resp eito a Rond ônia, são: a p u blicação d o relatório d o Prof. Cat. Elgu id o Pu m p m acher (PUMPMACH ER, 1972 JOREV, p . 10, 14) e u m artigo intitu lad o “Esp erase u m Pastor” (SEI, 1972 JOREV, p . 4). Com essas m atérias, além d e inform ar os m em bros, está claram ente exp ressa a intenção d e d esp ertar vocações p ara atu ar em Rond ônia. Foi lend o u m artigo d esses qu e Gerald o Schach em p olgou -se com a id eia d e ir p ara Pim enta Bu eno (SCH ACH , 2001). Então entrou em contato com o Dep artam ento d e Catequ ese e com a Secretaria Geral d a Igreja (REUSCH , carta, 03/ 04/ 1972, Arq. d a IECLB; SCH ACH , 2001). A Direção d a Igreja p rontam ente ap rovou o envio d e Schach e lhe d esignou o títu lo d e p astor -au xiliar, visto qu e ele tinha for59 m ação catequ ética e estaria assu m ind o as fu nções p ast orais . Assim , em carta d o d ia 9 d e m aio d e 1972, Schneid er com u nicou ao p resid ente d a com u nid ad e d e Pim enta Bu eno, Sr. Martim Discher, a ap rovação d e u m p astor p ara su a com u nid ad e: Com grand e alegria e satisfação posso d ar -lhe hoje a notícia, que o Conselho Diretor aprovou na sua últim a reunião, nos d ias 5 a 7 d e m aio, a id a a Pim enta Bueno d o Sr. Prof. Catequista Gerald o Sch ach, para lá d esem penhar funções pastorais e d ed icar -se ao atend im ento d os nossos m em bros evangélicos e à fund ação e organização d e um a paróquia naquela zona. (SCH N EIDER, carta, 09/ 05/ 1972, Arq. d a IECLB).

A p róxim a m atéria a ap arecer no Jornal Evangélico, com o títu lo “Finalm ente: Pastor em Pim enta Bu eno” (SCH ACH , 1972 JOREV, p . 20) – u m a antítese d a m atéria anterior, “esp era-se u m p astor” – é a concretização d o trabalho d o Conselho Diretor, d e algu ns p astores e catequ istas, m as, em esp ecial, d os m em bros d as com u nid ad es d e Rond ônia, qu e est avam em form ação.

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Os catequistas citad os são: Ivo Deuner, d e Marechal Când id o Rond on/ PR, Clóvis N aehr, d e Carazinho/ RS e Werner Grasser, d e Um uaram a/ PR. (REUSCH , carta, 03/ 03/ 1972, Arq. d a IECLB). 59

N esta pesquisa não se fará essa d istinção, Schach será tratad o com o título d e pastor. Além d o m ais, enquanto trabalhava nas N AC, Schach fez um curso d e teologia. (SCH ACH , 2001).

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O primeiro pastorado e a consolidação da paróquia de Pimenta Bueno N o d ia 10 d e ju nho d e 1972, a Com u nid ad e Evangélica Lu terana d e Pim enta Bu eno recebeu o seu p rim eiro p astor efetivo, Gerald o Schach . Cansad os d e esp erar p or u m obreiro, ao chegar naqu ele p equ eno vilarejo, a p rim eira p ergu nta qu e os m em bros fizeram a ele foi: “Seu p astor, o senhor veio p ra ficar, ou só está d e p assagem , com o algu ns ou tros qu e já p assaram p or aqu i” (SCH ACH , 2001). A satisfação d o P. Schach em p od er d izer qu e tinha vind o p ara ficar e a alegria d os m em bros em saberem qu e finalm ente tinham u m p astor qu e os acom p anharia está registrad a no Jornal Evangélico d e 1972: Foi nesta hora que eu agrad eci a Deus por ter-m e cham ad o p ara esta m issão aqui em Rond ônia. Agrad eci por pod er d izer: “N ão! Eu não vou em bora. Eu vim para ficar com vocês”. A partir d este in stante a alegria foi geral, e a notícia d e m inha chegad a se fez correr ligeira. (SCH ACH , 1972 JOREV, p. 20).

O p rim eiro com p rom isso d o P. Schach foi ir até a gleba Esp igão d o Oeste, ond e d everia reu nir os m em bros p ara fu nd ar u m a com u nid ad e, p ois, com o relataram ao p astor, os “p ou cos m em bros evangélicos estão send o assed iad os p elo p astor d a igreja m issú ri, lu terana d o Brasil, e p ar ece qu e essa sem ana eles vão ter u m a reu nião p ra m u d ar d e igreja” (SCH ACH , 2001). Essa inform ação tam bém é confirm ad a p or Ped ro La u vers, m em bro qu e iniciou a ocu p ação d e Esp igão d o Oeste ju nto com Em ílio Boone (LAUVERS, 2001). Qu and o chegou na gleba d e Esp igão d o Oeste, a p rim eira tarefa foi reu nir os lu teranos p ara celebrar cu lto e constitu ir u m a com u nid ad e. Assim , ap ós u m cu lto celebrad o na casa d o Sr. Vald em iro Brand t (SCH ACH , 2001), em 14 d e ju nho d e 1972, realizou -se a “reu nião em assem bleia geral p ara a fu nd ação d a com u nid ad e Evangélica d e Esp igão d o Oeste, filiad a à IECLB” (Ata d e fu nd ação..., 14/ 06/ 1972, Arq. d a Com . d e Esp igão). Contam os com a presença d o rev. pastor Gerald o Schach e m ais d ezesseis m em bros fund ad ores nas pessoas d os senhores: Em ílio Boone, Vald em iro Brand t, Ernesto Prochnow , Pedro Lauvers, Otto Lü d tke, Ed uard o Doring, Germ ano Binow , Ad olfo Wind ler, Isid oro Wind ler, Artur Bautz, Teod oro Klem s, Floriano Precilius, Teod oro Loose, Alberto H offm an, Rod olfo Blanck, Antônio Döm is. (Ata d e fund ação..., 14/ 06/ 1972, Arq. d a Com . d e Esp igão).

O atend im ento d essa com u nid ad e, qu e, m ata ad entro, d istava 35 Km d e Pim enta Bu eno, era m u ito d ifícil, p ois d everia ser feito a p é ou a cavalo. Além d isso, as fam ílias estavam esp alh ad as no m eio d a m ata, o 68

qu e d ificu ltava o acesso e tam bém a reu nião p ara cu lto. Schach lem bra qu e os cu ltos d everiam ser realizad os ao m eio d ia p ara qu e as p essoas p u d essem com p arecer ao cu lto e p ara qu e p u d essem retornar às su as casas. Se o cu lto fosse celebrad o m ais ced o, m u itos não p od eriam vir e, se fosse m ais tard e, m u itos não consegu iriam retornar p ara su as casas (SCH ACH , 2001). Dep ois d e voltar d e Esp igão d o Oeste, Schach celebrou o segu nd o cu lto em Pim enta Bu eno (SCH ACH , 2001). Sobre esse cu lto, ele enfatiza: “O p rim eiro cu lto qu e aqu i realizam os, em 18 d e ju nho d e 1972, reu niu m ais d e 130 p essoas” (SCH ACH , 1972 JOREV, p . 20). Ou tro p onto d e p regação, ond e o P. Schach acom p anhava as fam ílias, era na cabeceira d o rio Barão d e Melgaço. Com o, na ép oca em qu e os m igrantes chegaram em Rond ônia, não existiam estrad as, os rios fu nci onavam com o p rincip al via d e acesso. Portanto, qu and o os p rim eiros m igrantes chegaram , o m elhor lu gar p ara ad qu irir terra era às m argens d os rios p rincip ais. Para chegar às fam ílias qu e m oravam rio acim a, Schach tinha qu e fazer o trajeto d e barco. N o prim eiro ano, a gente pagava barco, alugava, ou ia com o pass ageiro d um batelão, que era um tal d e ônibus aquático. Daí, levávam os o d ia inteiro d e m otor, para chegar lá. É, m as d epois d o s egund o, terceiro ano, a gente com prou um barco a m otor. A Secret aria Geral d a IECLB ofereceu as cond ições. E a gente atend ia o pessoal d o Melgaço por barco. (SCH ACH , 2001).

Rod olfo Brau n, qu e resid iu no Alto Melgaço, conta a exp eriência qu e teve ju nto ao P. Schach . N aquele d ia que ele ia chegar lá em casa, ele falou: “N ós vam os juntar tod o m und o e nós vam os pra lá, pra lá na m ata”. Aí eu m ais (...) m eu irm ão m atam os d u as antas. (...) A sorte foi que o p ovo levou a carne tod a, senão tinha estragad o tud o. Daí ele d eu o culto lá e com eram carne até ficar azu l, churrasco, assad o no fogo, com e nd o com m and ioca. Aí d e tard e foi tod o m und o em bora, levaram a carne tod a e aind a sobrou m uita carne. É, d e vez em qu and o, ele entrava lá em cim a; d e vez em quand o, ele ia lá em casa. (BRAUN ; BRAUN , 2001).

A cid ad e d e Cacoal e a com u nid ad e local d a IECLB su rgiram d u rante o p astorad o d e Schach . Cacoal não existia em junho d e 1972 e em julho, d e repente, um a enorm id ad e d e barracas d e lonas foram m ontad as na beira d a BR 364. (...) E as árvores iam caind o e a vila foi se form a nd o, assim d a noite para o d ia. Em questão d e d ois, três m eses, o pessoal já d izia:

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“O pastor tem que ir a Cacoal, porque está surgind o um a nova com unid ad e, um a nova vila. Tem que ir lá, tem luteranos tam bém lá”. E lá fom os nós. Pegam os um Toyota [cam inh onete] em prestad o d um cam arad a e fom os lá. E já com eçou o prim eiro culto em Cacoal, tam bém , no m esm o ano d e 1972, na beira d a BR. (SCH ACH , 2001).

“Com o tem p o, a gente ia d e Pim enta Bu eno atend end o o Melgaço, Pim enta Bu eno, Esp igão d o Oeste, Cacoal” (SCH ACH , 2001). Som and o a qu antid ad e d e fam ílias-m em bro d essas com u nid ad es e tam bém d e Vila Rond ônia, atu al Ji-Paraná, Schach contabilizou o nú m ero d e 150 fam ílias, em novem bro d e 1972 (SCH ACH , Relatório, 1972, Arq. d a IECLB). Com o crescim ento d as com u nid ad es, Schach as organizou nu m a p aróqu ia. Em 19 d e abril d e 1973, “reu niram -se p ela p rim eira vez os p resbíteros d as com u nid ad es d e Pim enta Bu eno, Esp igão D‟Oeste, Cacoal, Melgaço e União d a Vila Rond ônia” p ara a institu ição d a p aróqu ia d e Pim enta Bu eno. A configu ração d a p aróqu ia ficou com p osta p elas “com u nid ad es d e Pim enta Bu eno, Esp igão D‟Oeste, Baixo Melgaço, Cacoal, Vila Rond ônia, m ais os p ontos d e p regação: Vila Rond ônia, Km 4, Vista Alegre, Melgaço Km 37, Alto Melgaço e Igarap é Felise Freira” (Ata, 29/ 04/ 1973, Arq. d a Com . d e Esp igão). Assim , os p ontos d e p regação e as com u nid ad es foram crescend o. A gente, no final d e 1975, já se fazia presente no Colorad o d o Oeste, Vilhena, tod os os pontos no interior d e Espigão d o Oeste, Rolim d e Moura que estava com eçand o, Cacoal e tod as aquelas linhas d o IN CRA, Linha 11, Linha 10, Linha 9, Linha 8, Linha 7, Linha 5, tod o o interior d e Cacoal. Depois m ais ad iante a gente tinha ponto d e trabalho em Vila Rond ônia (...) a gente tinha um ponto d e pregação na cid ad e, um no km 4, na saíd a pra Porto Velho. Depois, no km 20 e pouco, a gente saltava d o ônibus e entrava 28 km a pé, no m ato, num a picad a, lá na colonização d e Ouro Preto , ond e se criaram d ois pontos d e pregação, um na Linha 28, um na Linha 8, não sei m ais ao certo. Depois a gente teve um ponto d e pregação lá perto d e Ariquem es, num lugar cham ad o Carapanã e o últim o era em Porto Velho-Centro, na casa d e um a fam ília, tam bém ; aliás, a m aioria era na casa d as fam ílias, naquela época. Outros iam se som and o com o tem po, m as som and o tod os, naquela época, eram 33 lugares. E, quand o com eçou, 1975, eu já estava ped ind o água [cansad o]. (SCH ACH , 2001).

Dep ois d e algu ns anos, a configu ração d as com u nid ad es m u d ou d rasticam ente. Os m em bros d as com u nid ad es e p ontos d e p regação d e Pim enta Bu eno e d o Melgaço d ecresceram , levand o ao fecham ento d e m u itos p ontos d e p regação. A d ecad ência d e Pim enta Bu eno e d o Melg aço d eve-se p ela infertilid ad e d o solo d aqu ela região. Pim enta Bu eno p o s70

su i u m solo m u ito arenoso qu e não p rop icia a agricu ltu ra. Gerald o Sch ach lem bra: Mas as terras d e Pim enta Bueno eram tod as m uito fracas, terra d e areia branca. E o nosso povo é agricultor por excelência, e quand o entraram m ais em Rond ônia, d escobriram Espigão d o Oeste, Cacoal, d escobriam terras férteis com bonitas árvores, m ad eira d e lei, foram se localizand o naquelas colonizações m ais ad iante. (SCH ACH , 2001).

Martim H olland er, com resp eito a esse assu nto, conta: “N ós ficam os bom beand o [trabalhand o sem obter retorno] ali (...). N ós p erd em os o bond e, p orqu e eu tinha essa área aí em cim a, as m ais fracas fom os nós qu e escolhem os” (H OLLAN DER; BRAUN , 2001). Assim , nota-se, na fala d o Sr. H olland er, qu e as fam ílias qu e se estabeleceram às m argens d o rio Barão d e Melgaço não consegu iram se estabelecer, p ois as terras eram inférteis e d e d ifícil acesso. O segundo pastorado e a consolidação da paróquia de Cacoal A Paróquia Evangélica d e Pim enta Bueno, em seu constante crescim ento veio a tornar-se a m aior em extensão geográfica, abrangend o um a área que se estend e por m ais d e 700 Km , d esd e Vilhena a Porto Velho, ond e se percorre m ais d e 2000 Km m ensais d e carro, bote, canoa a rem o, m ontaria e a pé. (SCH ACH , Relatório, 1974, Arq. d a IECLB).

É assim qu e Gerald o Schach inicia u m relatório red igid o em 29 d e agosto d e 1974. Esse relatório tem p or objetivo p rop or a criação d e u m segu nd o p astorad o em Rond ônia, visto a im p ossibilid ad e d e u m ú nico p astor consegu ir atend er tod as as com u nid ad es e fam ílias. O relatório ap resenta d u as hip óteses p rop ostas p ela Diretoria d a Paróqu ia d e Pim e nta Bu eno. A p rim eira é a criação d e u m a p aróqu ia com sed e em Cacoal. A segu nd a seria a criação d e u m a Paróqu ia com sed e em Esp igão d o Oeste (SCH ACH , Relatório, 1974, Arq. d a IECLB). Dessa form a, Rond ônia estaria d ivid id a em d u as p aróqu ias: 1) Pim enta Bu eno, 2) Cacoal ou Esp igão 60 d o Oeste .

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Se a igreja d ecid isse pelas paróquias d e Pim enta Bueno e Cacoal, Rond ônia seria d ivid id a no sentid o Leste-Oeste. Se a igreja optasse pelas paróquias d e Pim enta Bueno e Espigão d o Oeste, Rond ônia seria d ivid id a quase que no sent id o N orteSul.

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Em carta, enviad a ju nto com o relatório, Schach salienta qu e “u m Gerald o Schach, m esm o com a graça d e Deu s, se torna insu ficiente p ara lu tar sozinho nesta im ensid ão”. Ele term ina p or fazer u m u ltim ato à D ireção d a IECLB: ou se acata u m a d as d u as alternativas ou ele d esistiria d a su a fu nção d e p astor-au xiliar na Paróqu ia d e Pim enta Bu eno (SCH ACH , carta, 29/ 08/ 1974, Arq. d a IECLB). Assim , “em 1975, a Direção d a Igreja se convenceu qu e, d e fato, era necessário enviar m ais u m obreiro p ara Rond ônia” (SCH ACH , 2001). A d ecisão tom ad a foi em favor d e criar a Paróqu ia d e Cacoal. Dessa form a, anim ad os com essa d ecisão, os p resbíteros d as com u nid ad es d e Cacoal se reu niram no d ia 9 d e novem bro d e 1975 p ara fu nd ação d e u m a nova p aróqu ia em Rond ônia e p ara estabelecer os lim ites geográficos com a Paróqu ia d e Pim enta Bu eno (Ata, 09/ 11/ 1975, Arq. d a Com . d e Cacoal). O p astor enviad o foi João Artu r Mü ller d a Silva (01/ 1976 – 07/ 1978), qu e atu aria em Cacoal entre 1976 e 1978. O Jornal Evangélico d e fevereiro d e 1976, noticiand o os acontecim entos, traz a m atéria: “Um Recém -Form ad o nas N ovas Áreas” (SILVA, 1976 JOREV, p . 7). O trabalho qu e Silva assu m iu na p aróqu ia d e Cacoal fora u m a exp eriência inéd ita na IECLB. Cacoal foi a p rim eira p aróqu ia a articu lar o trabalho em equ ip e. Além d o p a stor, contava-se com u m técnico agrícola, Ad olfo Bü ttow (1974 – 1983?), e u m a agente d e saú d e, Lenir Bü ttow (1976 –1979). Esse p rojeto ficou co61 nhecid o com o UMA . Com a saíd a d o P. Silva, Vald ir Frank (02/ 1979 – 01/ 1993) assu m iu a Paróqu ia em 1979, p erm anecend o até 14 d e janeiro d e 1988. A formação de novas paróquias62 Por ocasião d a saíd a d o P. Schach e d o P. Silva, a configu ração d as p aróqu ias m u d ou bastante. Em 1979, a sed e d a Paróqu ia d e Pim enta Bu eno foi transferid a p ara Esp igão d o Oeste, p erm anecend o com o m esm o tam anho e estru tu ra. Isso aconteceu p orqu e o m aior nú m ero d e m em bros concentrou -se em Esp igão.

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O projeto UMA será trabalhad o m ais ad iante.

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Devem ser feitas algum as consid erações aqui. Tod as as p aróquias que foram instituíd as existiram prim eiram ente com o com unid ad es que esta vam ligad as a um a p aróquia m ais d istante, cujo pastor assistia period icam ente. As form ações d as paróquias aqui arrolad as situam -se d entro d o período estud ad o por esse trabalho, portanto, não contem plam futuras m ud anças que possam ter ocorrid o.

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A região m ais ao Su l d e Rond ônia recebeu u m nú m ero consid er ável d e im igrantes. Diferentem ente d as ou tras regiões, tam bém acolheu lu teranos gaú chos e p aranaenses, d e form a qu e se tinha u m a “igreja lu t erana m ista” (TREIN , 2003). Desd e 1977, essa região contava com u m p r ojeto UMA. Os p rim eiros p astores foram Oto H erm ann Ram m inger e Ed na Moga Ram m inger. Ju nto com eles, com o atend ente d e enferm agem , 63 trabalhou a d iaconisa Gerd a N ied e Wilm ar Lu ft, com o técnico agrícola. N o d ia 12 d e ju nho d e 1983, foi constitu íd a oficialm ente a Paróqu ia Su l d e Rond ônia. Su a área d e abrangência abarcava Vilhena , Colorad o e Cerejeiras, m as os p astores atend iam aind a Ju ína e Arip u anã (Ata, 12/ 06/ 1983, Arq. d a IECLB). Ariqu em es foi a p aróqu ia m ais ao N orte d e Rond ônia. Walter Sass , p rim eiro p astor a atu ar nessa p ar óqu ia, atend ia, além d e Ariqu em es, tod o a red ond eza e o extrem o N orte d o Brasil: Ou ro Preto , Porto Velho, Acre, Manau s e Roraim a. Ele chegou na região em 1979, ano em qu e a p aróqu ia foi institu íd a. Desd e o início, o trabalho contou com u m p rojeto UMA. Gerd a N ied , qu e já tinha atu ad o em Colorad o, foi transferid a p ara Ariqu em es. Ad olfo Bü ttow , qu e já tinha atu ad o em Cacoal, assu m iu a coord enação d o trabalho agrícola (SASS, 1999). A p aróqu ia d e Rolim d e Mou ra foi institu íd a em m arço d e 1981. Inácio Lem ke (04/ 1981 – 02/ 1988) foi o p rim eiro p astor e Va ld ir Wazlaw ick (1982 – 1984?) o p rim eiro técnico agrícola. Em 12 d e ju lho d e 1982, iniciou -se a constru ção d a casa p aroqu ial (LEN KE, carta, 12/ 07/ 1982, Arq. d a IECLB). O m éd ico Delm ar Pu rp er (1981 – 1982; 1983 – 09/ 1984) trabalhou algu ns m eses no p rojeto UMA, m as foi a enferm eira Iracem a Lem ke (1981-1990) qu em assu m iu d efinitivam ente as ativid ad es na área d a saú d e. A p aróqu ia abarcava a região d e Rolim e Alta Floresta d o Oes64 te . As com u nid ad es d essa região foram form ad as p or p om eranos cap ixabas, grand e p arte d eles m igrand o internam ente d entro d e Rond ônia (TREIN , 2003). O centro d o Estad o, Ji-Paraná e a região circu nvizinha, vinha send o atend id o p or obreiros qu e se encontravam em ou tras áreas. Schach foi o p rim eiro a atend er essas com u nid ad es em form ação. Logo em segu id a,

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N ied seria transferid a para o projeto UMA d e Ariquem es em 1979.

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Em janeiro d e 1987, a com unid ad e d e Alta Floresta d o Oeste d esm em brou -se d a paróquia d e Rolim d e Moura e ped iu um pastor. (PRESIDEN TE d a p aróquia d e Alta Floresta d o Oeste, carta, 08/ 01/ 1987, Arq. d a IECLB).

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foram assistid os d esd e Cacoal e d ep ois a p artir d e Ariqu em es, send o qu e só recebiam visitas p astorais d e d ois em d ois m eses (MEMBROS, carta, 29/ 06/ 1984, Arq. d a IECLB). Sass lem bra: “Os m em bros eram só p om eranos qu e viviam nas linhas. N a cid ad e, não tinha com u nid ad e. Esses p om eranos, antes d e m im , eram atend id os p elo p astor Gerald o Schach d e Esp igão d o Oeste. Dep ois p elo João Artu r Mü ller d a Silva , d ep ois p elo p astor Vald ir Frank” (SASS, 1999). A p aróqu ia d e Cacoal era a segu nd a m aior em nú m ero d e m em bros. E a p aróqu ia d e Ariqu em es era m u ito extensa, p ois o p astor d everia assistir tod o o N orte. Isso d ificu ltava o acom p anham ento d os m em bros qu e resid iam na região d e Ji-Paraná e Ou ro Preto d o Oeste. Assim , os m em bros d essas com u nid ad es e os obreiros d as N ovas Áreas d e Colonização (N AC) insistentem ente escreveram cartas p ara a Direção d a IECLB, com a intenção d e convencê-la d a necessid ad e d e criar u m novo p astorad o. Os m em bros d o p rojeto d e coloniz ação d e Ou ro Preto escreveram : “Ju stam ente com as com u n id ad es d as Linhas 8, 24, 28 d e Ou ro Preto e com u nid ad e d e Ji-Paraná, p ed im os p ela u rgente instalação d e u m p astor em Ji-Paraná” (MEMBROS, carta, 01/ 07/ 1984, Arq. d a IECLB). Por p arte d os obreiros, d estaca-se aqu i o conteú d o d e u m d ocu m ento: Reunid os no IX ECAM [Encontro d e Coord enação e Atualização d a 65 Am azônia] , nós, obreiros nas N AC, voltam os a estud ar e sentir a necessid ad e d a criação d e um novo pastorad o na cid ad e d e JiParaná, que abrangeria Alvorad a d o Oeste e os novos projetos d e colonização que estão surgind o com a construção d a BR 429 que liga Presid ente Méd ici a Costa Marques, fronteira com a Bolívia, no vale d o Guaporé, m ais Ouro Preto e o novo projeto Urupá, para ond e se d eslocaram m uitos m em bros d a com unid ad e d e Cacoal. (OBREIROS, carta, 18/ 06/ 1984, Arq. d a IECLB).

A Direção d a IECLB convenceu -se d a necessid ad e d e criar u m n ovo p astorad o e d esignou u m p astor p ara essa p aróqu ia qu e foi crid a em 1985. Assim , H ans Trein (02/ 1983 – 02/ 1987), Coord enad or d as N AC d esd e 1983, escreveu à nova p aróqu ia em d ezem bro d e 1985 relatand o qu e Werner Kiefer (02/ 1986 – 08/ 1989) havia sid o d esignad o p ara lá. Kiefer chegou em Ji-Paraná em fevereiro d e 1986 (TREIN , carta, 23/ 12/ 1985, Arq. d a IECLB; KIEFER, carta, 10/ 02/ 1986, Arq. d a IECLB).

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N as N AC, eram realizad as d uas m od alid ad es d e form ação perm anente d os obreiros: um a, cham ad a ECAM, reunia tod os os obreiros do Mato Grosso e Rond ônia, outra, cham ad a Equinha (d im inutivo d e ECAM), reunia os obreiros que se encontravam m ais ao N orte (Rond ônia).

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Até aqu i, d elineou -se a iniciativa d os m igrantes e d a IECLB p ara a constitu ição d e com u nid ad es em Rond ônia. Agora, p rocu rar-se-á analisar e avaliar a p rop osta d e trabalho d esenvolvid o p ela Igreja nessa região. Para tanto, faz-se necessário u m a reconstitu ição d o p rocesso histórico d e form ação d a IECLB, p ois o m om ento histórico vivid o p ela Igreja, na ép oca d a colonização d e Rond ônia, está p rofu nd am ente relacionad o com a história d e su a form ação. 2. A busca por uma identidade eclesiástica N a ép oca em qu e d ecid iu acom p anhar seu s m em bros m igrantes p ara as N AC, a IECLB estava p rocu rand o u m “novo jeito d e ser igreja”. Um a Igreja qu e qu eria ser brasileira e p reocu p ad a com as p essoas em seu ser integral, qu er d izer, esp iritu al e fisicam ente (lê-se econôm ica e p oliticam ente). Até esse m om ento a IECLB, excetu and o algu m as p essoas p r ecu rsoras, estava voltad a exclu sivam ente p ara o atend im ento esp iritu al d e su as com u nid ad es e p ara a aju d a caritativa, e, em seu horizonte, não existia a p reocu p ação sócio-p olítica. A p artir d a transferência d a V Assem bleia Geral d a Fed eração Lu terana Mu nd ial (FLM), qu e se rea lizaria em Porto Alegre/ RS em 1970, p ara Evian, na França, d á -se início, na IECLB, u m a crescente p reocu p ação com o d esenvolvim ento sócio-p olítico. Os gru p os (leigos e obreiros) ou trora m arginalizad os qu e ad vogavam u m com p rom isso p olítico-social d a IECLB com o Brasil agora p assavam a ter força exp ressiva e com eçavam , assim , a ind icar o cam inho a ser segu id o d oravante p ela Igreja. É em m eio a esse “novo jeito d e ser igreja” qu e a Igreja em Rond ônia com eça a nascer. Em 1949, os sínod os qu e form ariam a IECLB constitu íram -se em u m organism o eclesiástico nacional, a Fed eração Sinod al. Do p onto d e vista sócio-religioso, ela é com p osta d e d iferentes confessionalid ad es, o qu e aind a se faz sentir p rofu nd am ente. Os m em bros qu e com p õem a IECLB em Rond ônia são basicam ente p om eranos d o Esp írito Santo e, com o tais, estão situ ad os no conju nto d as tend ências eclesiásticas qu e integram a IECLB, a saber, d a trad ição lu terana (PRIEN , 2001, p . 30). Assim , a análise histórica d esse p rocesso aju d a a com p reend er, além d o m om ento histórico vivid o p ela Igreja, tam bém a cosm ovisão religiosa e o lu gar d esse p ovo d entro d a IECLB. Daí ad vém a im p ortância d e refazer, m esm o qu e em breves traços, o su rgim ento d a IECLB, a p artir d as te nd ências qu e a com p õe, e d e su as d isp u tas internas qu e cu lm inam em “novas form as d e ser igreja”, ju stam ente na ép oca em qu e a colonização d e Rond ônia estava em and am ento.

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Uma Igreja de imigrantes Entre os m od elos d e p rotestantism o encontrad os na Am érica La tina, a IECLB está classificad a com o igreja de transplante, étnica ou d e imigração (BON IN O, 2003, p . 76s). Seu rosto é étnico; p rep ond erantem ente germ ânico. Isso se d eve p elo fato d e qu e ela não su rgiu atr avés d e m issão entre o p ovo nativo, m as sim d evid o à im igração d e p r otestantes p ara o Brasil. Su a história rem onta à crise d o sistem a econôm ico eu rop eu d o sécu lo XIX, ao grand e crescim ento d em ográfico d a Eu rop a nesse p eríod o e à fom e cau sad a p or invernos rigorosos (PRIEN , 2001, p . 25). Por essa ép oca, inú m eras p essoas não encontraram m ais lu gar d entro d o sistem a econôm ico, obrigand o-se a em igrar. O continente am ericano se lhes ap re66 sentava com o u m a alternativa viável . É d entro d este contexto qu e, em 1824, os p rim eiros im igrantes alem ães p rotestantes vão chegar no Rio 67 Grand e d o Su l . Em su a m aioria, os im igrantes eu rop eu s eram trabalh ad ores ru rais p obres. Algu ns p ossu íam u m p equ eno p ed aço d e terra e ou tros eram servos nu m regim e feu d al qu e estava entrand o em d ecad ê ncia. Esses ú ltim os, liberad os d o senhor feu d al, não tinham p ara ond e ir e nem cap ital p ara investim ento. O p ou co qu e p ossu íam serviu ap enas p ara cu stear a travessia d o Atlântico. Entre esses, encontram os os p om eranos qu e, no Brasil, se fixaram p rep ond era ntem ente no Rio Grand e d o Su l (na região d e São Lou renço, Pelotas e Santa Cru z d o Su l) e no Esp írito 68 Santo . Por serem trabalhad ores ru rais em cond ições m iseráveis, a form ação d os im igrantes era elem entar. Mesm o assim , d estacavam -se em relação à m aioria d os lu so-brasileiros, d os qu ais u m a m inoria tinha algu m tip o d e form ação. Som ente d ep ois d e su focad as as revoltas liberais n a Alem anha, em 1848, vieram p ara o Brasil p essoas com u m p ou co m ais d e

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Em sua grand e m aioria, os em igrantes europeus estabeleceram -se na Am érica d o N orte. Entre 1860-1930, 35 m ilhões de europeus m igraram para os EUA. Para o Brasil, d urante tod o o séc. XIX, m igraram m ais ou m enos 1 m ilhão. (PRIEN , 2001, p. 25). 67

Som ente d epois d e 1824, com a nova constituição elaborad a por Dom Ped ro I e influenciad a pelo espírito liberal-m açônico, ficou estabelecid a a possibilid ad e d e im igrantes não-católicos rom anos estabelecerem -se no Brasil. (PRIEN , 2001, p. 33). 68

Prien (2001, p. 29) tam bém relaciona a região d e Joinville e d o Vale d o Itajaí/ Santa Catarina com o local d e estabelecim ento d os pom eranos. Entretanto, nessa região, eles eram em m inoria entre outros im igrantes alem ães.

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escolarid ad e e m elhores cond ições financeiras, bu rgu eses e nob res em p obrecid os (PRIEN , 2001, p . 29). Do p onto d e vista sócio-religioso, os im igrantes qu e se estabeleceram no Brasil eram m u ito variad os. Além d os livre-p ensad ores, qu e não se id entificam com nenhu m a d enom inação religiosa, e católicos, “havia entre os p rotestantes, qu e constitu íam m ais d a m etad e d os em igrantes, lu teranos, reform ad os, u nid os, bem com o (...) m enonitas” (PRIEN , 2001, p . 30). Assim , d esses im igrantes não se p od e esp erar u m a u niform id ad e religiosa. Ao contrário, p rovenientes d e d iferentes confissões, essas d iferenças tam bém vão se fazer p resentes aqu i no Brasil. Delas p od e -se d ep reend er p arte d os em p ecilhos p ara o su rgim ento d e u m a organização eclesiástica. Em consequ ência d essa d iversid ad e, o Sínod o Riogrand ense, fu nd ad o em 1886 p or iniciativa d o P. Wilhelm Roterm u nd , bu scand o abraçar as d iferentes confessionalid ad es, os p astores não -ord enad os, 69 70 d enom inad os d e p seu d op astores e as com u nid ad es livres , ficou sem u m a base confessional clara. Essa base seria d ad a em 1922 p or influ ência d o P. H erm ann Dohm s. Ap esar d isso, Martin N orberto Dreher exp ressa qu e, em 1929, aind a havia falta d e clareza qu anto à confessionalid ad e, o qu e, segu nd o ele, p od e ser observad o em acu sações p or p arte d o Sínod o Missú ri (DREH ER, 1984, p . 96s). Desd e a chegad a d os p rim eiros im igrantes no Rio Grand e d o Su l (1824) até a form ação d o p rim eiro sínod o – Sínod o Evangélico Alem ão d a Província d o Rio Grand e d o Su l (1868) –, sob a lid erança d o P. H erm ann Borchard , p assaram -se 44 anos (WACH H OLZ, 2003, p . 371). Som ente d ep ois d e u m a geração inteira foi p ossível o su rgim ento d e u m a u nid ad e 71 m ais orgânica . Até então as com u nid ad es organizavam -se ind ep end entem ente u m a d a ou tra e elegiam u m p astor leigo, entre os seu s m em bros, com o gu ia esp iritu al. Qu and o os sínod os com eçam a se estabelecerem , inicia u m a ép oca d e intensas tensões entre com u nid ad es livres com seu s p astores não-ord enad os e as novas institu ições eclesiásticas. José Oscar

“Pseudopastores” eram pastores que não tinham uma formação teológica, mas que eram escolhidos pela comunidade devido a um melhor conhecimento das letras. 69

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Com unid ad es livres são com unid ad es que não queriam p erd er sua liberd ad e subm etend o-se a um a organização eclesiástica. N o sul d o Rio Grand e d o Sul, aind a hoje pod em ser encontrad as com unid ad es livres. 71

A falta d e um a organização form al não quer d izer que não havia nenhum tipo d e relacionam ento entre as com unid ad es. Se a confessionalid ad e não d ava essa unid ad e, pelo m enos a germ anid ad e a d ava.

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Beozzo (1993, p . 61) afirm a qu e há u m p rocesso d e “germ anização” qu e acentu a a clericalização e com bate as organizações leigas m ais au tôn om as. Veja com o ele ap resenta essa qu estão: As com unid ad es luteranas conheceram um períod o d e “germ an ização” d e sua organização e d e sua vid a que se trad uziu num a com pleta d epend ência d a Alem anha, d e ond e passaram a vir tod os os pastores e d irigentes d a Igreja, atrasand o com pletam ente o no rm al d esenvolvim ento d a vid a d a Igreja e sua inculturação em te rras brasileiras, a tal ponto que só d epois d a II Guerra Mund ial, teve início a form ação teológica aqui no Brasil ou seja m ais d e 120 anos d epois que a Igreja aqui chegara com os prim eiros im igrantes. (BEOZZO, 1993, p. 60s).

Em 1875, o Sínod o Evangélico Alem ão d a Província d o Rio Grand e d o Su l foi d efinitivam ente extingu id o (WACH H OLZ, 2003, p . 396). O sínod o qu e assu m iu o lu gar d ele foi o Sínod o Riogrand ense . Logo ap ós su a fu nd ação, su rgiram m ais qu atro sínod os: o Sínod o Evangélico Lu t erano d e Santa Catarina, Paraná e ou tros Estad os d a Am érica d o Su l; a Associação d e Com u nid ad es Evangélicas d e Santa Catarina; o Sínod o Brasil Central; e o Sínod o Missú ri. Os qu atro p rim eiros sínod os ju ntaram se e constitu íram a IECLB. O ú ltim o, p or su a vez, form ou a IELB. N u m a tentativa d e introd u zir o leitor na d iversid ad e sociorreligiosa, d escrever-se-á, d e form a m ais p articu lar, o su rgim ento d e cad a u m d os sínod os. Essa d escrição, aind a qu e breve, é im p ortante p ara o leitor se d ar conta d o p rocesso d e form ação d a IECLB e p ara com p reend er, d esd e o p onto d e vista sócio-religioso, a form ação d o p ovo qu e com p õe a IECLB em Rond ônia. O surgimento dos sínodos Sínodo Riograndense (1886) Com o já foi m encionad a acim a, a p rim eira tentativa d e constitu ir u m sínod o d ata d e 1868, p ela iniciativa d o P. Dr. H erm ann Borchard . Esse sínod o p erd u rou até 1875, qu and o foi d issolvid o (PRIEN , 2001, p . 117). Seu fracasso d eve ser atribu íd o, d e form a m ais enfática, à id entifica72 ção d o sínod o com su a p essoa .

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Em junho d e 1970, d ois anos após a fund ação d o Sínod o, Borchard d eixa a reg ião e seu sucessor na presid ência d o Sínod o W. Kleingünther enfrenta um a an i-

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Onze anos d ep ois d a d issolu ção d o “sínod o d e Borchard ”, m ais p recisam ente em 20 d e m aio d e 1886, o Sínod o Riogrand ense foi fu nd ad o 73 com êxito, send o o P. Dr. Wilhelm Roterm u nd o p rincip al fom entad or. Ele tam bém foi o p rim eiro p resid ente eleito p or ocasião d o Prim eiro Co ncílio Ord inário realizad o em Santa Cru z, no ano consecu tivo à fu nd ação d o Sínod o (PRIEN , 2001, p . 122). Se o Sínod o Evangélico Alem ão d a Pr ovíncia d o Rio Grand e d o Su l não se solid ificou , d evid o a u m a falta d e força u nificad ora cap az d e ju ntar as d iferentes com u nid ad es, o êxito d e Roterm u nd d eve ser visto, d e form a m ais geral, a p artir d e u m a ép oca catalisad ora qu e torn ou necessária e conveniente u m a organização eclesiástica, e, d e form a m ais enfática, a p artir d o trabalho d ese nvolvid o p or Roterm u nd . N a ép oca em qu e o sínod o foi constitu íd o, o Brasil estava p assand o p or m u d anças significativas no cam p o p olítico. Em 1889, os m ilitares p ositivistas p roclam aram a rep ú blica e, no ano segu inte, é d ecretad a a sep aração entre Igreja e Estad o (PRIEN , 2001, p . 126). N a verd ad e, esses acontecim entos não influ enciaram d iretam ente na fu nd ação d o Sínod o Riogrand ense, p ois eles são p osteriores. Em relação à fu nd ação d os o u tros sínod os, eles d evem ser levad os bem m ais em conta. Mesm o assim , d eve-se consid erar qu e id eias rep u blicanas já germ inavam no contexto 74 brasileiro . N esse esp írito, já em 1870, foi criad o o Partid o Rep u blicano, p or ocasião d a p u blicação d o M anifesto Republicano no jornal “A Rep ú blica” (SILVA; BASTO, 1983, p . 190). N o geral, o clim a d e rep ú blica incitava nas com u nid ad es e clérigos u m a liberd ad e m aior em tod os os asp ectos, tanto religioso (liberd ad e d e cu lto) qu anto p olítico (grêm ios d e p reserv ação d a germ anid ad e). É nesse contexto qu e se d eve entend er a fu nd ação d o Sínod o Riogrand ense. Efetivam ente, os fatores qu e m ais p rop orcionaram o su rgim ento d o sínod o foram , p or u m lad o, a necessid ad e d e u m a organização eclesiástica qu e d efend esse os interesses d as com u nid ad es frente ao Estad o, qu e criasse cond ições p ara a form ação d e p rofessores p ara as escolas evangélicas e qu e se p reocu p asse com o atend im ento d as com u nid ad es

m osid ad e por parte d os ou tros clérigos que preferiam não serem tutelad os, por um a organização eclesiástica. (PRIEN , 2001, p. 115s). 73

Roterm und assum ira as com unid ad es d e São Leopold o e Lom ba Grand e em 1875, justam ente qu and o o sínod o d e Borchard estava em d issolução. (PRIEN , 2001, p. 118). 74

Entre outros acontecim entos, lem bra-se aqui a guerra d os Farrapos (1835-1845).

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m ais longínqu as ou sem obreiro. Por ou tro lad o, sem d ú vid a, p ara a constitu ição d o sínod o, foi im p rescind ível a p essoa d e Roterm u nd . Além d e p astor, ele era escritor, jornalista, ed itor e fu nd ad or d e u m a escola (DREH ER, 1984, p . 90). H abilid ad es qu e m u ito o p rojetaram tam bém p ara fora d o âm bito eclesiástico. Assim , graças a essas necessid ad es e ao em p enho d e Roterm u nd , o Sínod o Riogrand ense p ôd e ser fu nd ad o com êxito. Qu anto à p reservação d a germanidade e a abertu ra p ara a brasilidade, Dreher (1984, p . 90) constata qu e o sentim ento germ ânico estava m ais p resente em algu ns setores d a Igreja, p rincip alm ente no clero form ad o em institu ições acad êm icas alem ãs. Por exem p lo, o p róp rio Roterm u nd teria d ito qu e “igreja e germ anid ad e estão ligad os entre si p ara o qu e d er 75 e vier”. Em contrap artid a, a m aioria d os m issionários , qu e p rovinham d e d iferentes regiões d a Alem anha, esboçavam op inião d iferente. Entre eles, Ernesto Ku nert d efend ia u m a não id entificação entre Igreja e germ anid ad e. “Já em 1891, Ku nert exp ressava a op inião d e qu e o p rotesta ntism o d everia u sar a língu a p ortu gu esa p ara ser aceito p elos brasileiros” (DREH ER, 1984, p . 103). As com u nid ad es, p or su a vez, qu e já tinham vários m em bros nascid os no Brasil, estavam m ais abrasileirad as. Reflexo d isso encontra -se na p róp ria lu ta incessante p or p arte d e p essoas e gru p os qu e fom entavam a germ anid ad e. Ora, a necessid ad e d e p reservar o caráter alem ão ind ica qu e ele estava se p erd end o ou , p elo m enos, a su a p reservação não era u m a qu estão tão hom ogênea. Ou tro conflito envolvend o essas d u as p os ições contrárias d e com o ser Igreja no Brasil está p reservad o na escolha d o nom e d o Sínod o. N ele, evitou -se u sar conscientem ente o term o alem ão. Com isso, além d e evitar atritos com o Estad o, não se qu eria fechar as p ortas aos p ossíveis m em bros brasileiros (PRIEN , 2001, p . 121). Em 1901, essa d isp u ta, em relação à id entificação d o sínod o com a Alem anha, voltaria, m as, d esta vez, iriam sair vitoriosos aqu eles qu e d efend iam a id entificação entre Igreja e germ anid ad e. Em 1900, foi “p u blicad a a lei eclesiástica qu e p ossibilitava às com u n id ad es evangélicas fora d a Alem anha a filiação à Igreja Territorial d a Prú ssia” (DREH ER, 75

Da Alem anha vinham d ois tipos d e obreiros: teólogos formad os em institu ições acad êm icas e m issionários form ad os em casas d e m issão. Segund o Dreher, os prim eiros representam m ais um sentim ento nacionalista, enquanto o s segund o estavam m ais preocupad os com a m issão entre os pagãos. (DREH ER, 1984, p. 94101).

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1984, p . 98). Assim , no ano segu inte, em virtu d e d as vantagens finance iras ad vind as d essa p ossibilid ad e, o XV Concílio Sinod al resolveu recom end ar às com u nid ad es a filiação. Tam bém , m u d ou o nom e Sínod o Riogrand ense p ara Igreja Evangélica Alem ã d o Rio Grand e d o Su l (Sínod o Riogrand ense) (PRIEN , 2001, p . 136). Essas d ecisões rep resentaram u m jeito d e ser igreja qu e fechou as p ortas p ara a realid ad e brasileira, situ ação qu e seria revertid a som ente m ais tard e com a catástrofe d as d u as gu erras m u nd iais. O Sínodo Evangélico Luterano de Santa Catarina, Paraná e outros Estados da A mérica do Sul (Sínodo da Caixa de Deus) (1905) Se o Sínod o Riogrand ense su rgiu p ela necessid ad e qu e as com u n id ad es tinham d e u m a organização qu e viabilizasse o atend im ento p ast oral e a form ação escolar, os ou tros sínod os se constitu íram m ais p ela p ressão d e entid ad es estrangeiras qu e p raticam ente forçavam a u nião entre as com u nid ad es e p ela boa exp eriência d o Sínod o Riogrand ense. Tod os os ou tros sínod os qu e form aram a IECLB su rgiram d ep ois d a Proclam ação d a Rep ú blica, d a liberd ad e d e cu lto e d a p rom u lgação d a lei qu e p erm itia a filiação d e com u nid ad es evangélicas fora d a Alem anha à Igreja Territorial d a Prú ssia. As v antagens qu e ad vinham d a ligação com a Igreja-Mãe e a liberd ad e p ara se organizar com o Igreja foram fatores im p ortantes p ara a constitu ição d os ou tros sínod os. Além d isso, o su ce sso d a fu nd ação d o Sínod o Riogrand ense influ enciou p ara a criação d os d em ais. O segu nd o a ser constitu íd o, em 9 d e ou tu bro d e 1905, foi o Sínod o Evangélico Lu terano d e Santa Catarina, Paraná e ou tros Estad os d a Am é76 rica d o Su l ou tam bém conhecid o com o Sín od o d a Caixa d e Deu s. Ele atu ou , tam bém , no Esp írito Santo, entre os p om eranos , entrand o em atrito com o Sínod o Brasil Central, qu e era assistid o p elo Conselho Su p erior Eclesiástico Evangélico d e Berlim . Em Santa Catarina, d isp u tava com u n id ad es com a Associação Evangélica d e Com u nid ad es d e Santa Catarina , qu e não tinha u m a p osição confessional clara (PRIEN , 2001, p . 177ss). Seu p rim eiro p resid ente foi o P. Otto Ku hr (FISCH ER, 1986, p . 15). Ao contrário d os d em ais sínod os, aos qu ais faltavam confessionalid ad e clara, ele o d estaca-se p ela p osição confessional lu terana. N o artigo 5 d o estatu to, consta:

Segund o Prien (2001, p. 173), nos estatu tos foi registrad o o nom e “Sínod o Evangélico Lu terano d e Santa Catarina, Paraná e outros Estad os d o Brasil”. 76

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Os m em bros d o “Sínod o Evangélico Luterano no Brasil” com prom etem -se a não pregar e ensinar, em seu m inistério d a pregação e ensino, nem publicam ente nem em particular, nad a além d o que ensinam a Sagrad a Escritura e os Escritos Confessionais da Igreja Evangélica Lu terana, qu ais sejam : os tr ês Sínod os Ecum ênicos, a Confissão d e Augsburgo inalterad a, a Apologia d a m esm a, os C atecism os Maior e Menor d e Lutero, os Artigos d e Esm alcald e e a Fórm ula d e Concórd ia; a viver e a se cond uzir segund o a Palavra d e Deus, a tam bém ad m inistrar em tod a parte fielm ente os santos sacram entos conform e a instituição d e nosso Senhor Jesus Cristo. Os m em bros tam bém prom etem cond uzir fiel e consciosam ente o m inistério d a pregação e o serviço eclesiástico que lhes é confiad o segund o (os d ireitos e) as ordens d a Igreja Evangélica Lu terana e a prestar a seus superiores, com tod a a reverência, a obed iência d evid a. (PRIEN , 2001, p. 170) 77

Essa clara p osição confessional é fru to d a Caixa d e Deu s alem ã qu e assu m iu o trabalho no Brasil a p artir d e 1896. Ela id entifica -se com o lu terana e, p ortanto, confessionalm ente está alinhad a ao Sínod o Missú ri. Isso p od e ser notad o, p or exem p lo, qu and o, no cabeçalho d o jornal d o sínod o, encontrava-se a frase d o fu nd ad or d o Sínod o Missú ri C. F. W. Walther: “A Palavra d e Deu s e a d ou trina d e Lu tero jam ais p assam ” (PRIEN , 2001, p . 168, 175). Em d ecorrência d essa confessionalid ad e, o Sínod o d a Caixa d e Deu s frequ entem ente entrava em atritos com com u nid ad es e ou tros sínod os ligad os ao Conselho Su p erior Eclesiástico Evangélico d e Berlim . 78 Brigas entre com u nid ad es e p astores eram constantes . Entrem entes, as d iferenças foram su p erad as e, em 1962, o Sínod o d a Caixa d e Deu s u niu se com a Associação Evangélica d e Com u nid ad es d e Santa Catarina (PRIEN , 2001, p . 539). Um a d iferença m arcante entre o Sínod o d a Caixa d e Deu s e o Sínod o Riogrand ense foi a p articip ação d e leigos. Prien constata: “O novo sínod o não era tanto u m sínod o d e com u nid ad es, com o o Sínod o Riogrand ense, e, sim , m ais u m sínod o d e p ast ores. Isso tam bém se m ostra n a com p osição d a com issão sinod al, p ara a qu al se elegeram exclu sivam ente p astores.” (PRIEN , 2001, p . 173).

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Mais tard e a Caixa d e Deus viria a se cham ar Fed eração Martinho Lu tero.

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Para conhecer m ais sobre esses conflitos, confira a obra d e Prien (2001, p. 178ss).

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A A ssociação Evangélica de Comunidades de Santa Catarina (1911) N o d ia 6 d e agosto d e 1911, constitu iu -se a Associação Evangélica Alem ã d e Com u nid ad es d e Santa Catarina, sob a p resid ência d o P. Walther Mu m m elthey (FISCH ER, 1986, p . 15). Prien exp ressa qu e essa associação, com o o p róp rio nom e já d eixa transp arecer, não teve u m car áter d e sínod o, p ois, segu nd o os estatu tos, a Associação não era p ortad ora d e resp onsabilid ad e eclesiástica (PRIEN , 2001, p . 155). Sem elhante ao Sínod o Riogrand ense, a Associação foi form ad a p or com u nid ad es e obreiros m u ito heterogêneos. H avia p roblem as relacionad os às d iferentes origens d os p astores. Foram qu atro as organizações qu e enviaram p astores à Santa Catarina: o Conselho Su p erior Eclesiástico Evangélico d e Berlim , Socied ad e Evangélica p ara os Alem ães Protesta ntes na Am érica., a Socied ad e Alem ã d os Irm ãos, e a Socied ad e Mission ária d a Basiléia (PRIEN , 2001, p . 148). As três ú ltim as organizações eram d e caráter p ietista e reavivam entista. N esse sentid o, Prien escreve: Além d as origens d istintas e da form ação d istinta d os clérigos, sua ligação com suas respectivas instâncias na pátria revelou -se um obstáculo para a unificação. Tensões entre os m issionários (4) e os pastores d e form ação acad êm ica (6) tam bém se m anifestaram com o perturbad oras. (PRIEN , 2001, p. 148).

Essas tensões se fizeram sentir p rofu nd am ente qu and o se tentou u m a ap roxim ação p ara constitu ir u m a organização eclesiástica. Um sín od o estava fora d e qu estão, p ois as d iferenças eram m u ito grand es. Então, em 2 d e m aio d e 1896, foi fu nd ad a form alm ente, m as sem estatu tos, a Conferência Pastoral Evangélica d e SC, sob a p resid ência d o P. H einrich Ru nte. Um corp o eclesiástico qu e contem p lasse as com u nid ad es seria efetivad o som ente em 1911 com a criação d a Associação (PRIEN , 2001, p . 149, 155). De certa form a, tam bém d evem ser levad as em conta as d ificu ld ad es geográficas, qu and o se fala d a constitu ição d a Associação. As com u nid ad es p erm aneciam qu ase qu e sem com u nicação d evid o à top ografia m ontanhosa qu e d esce em d ireção ao litoral form and o vales. Isso nat u ralm ente im p ed ia u m contato m ais intenso e necessário, já qu e a com u n icação requ eria vários d ias e m u ito esforço p ara transp or os obstácu los (PRIEN , 2001, p . 150s). O Sínodo Brasil Central (1912) N os d ias 28 a 30 d e ju nho d e 1912, no Rio d e Janeiro, foi fu nd ad o o Sínod o Brasil Central ou Sínod o d as com u nid ad es Evangélicas Alem ãs 83

d o Brasil Central. O Sínod o foi fu nd ad o a p artir d a u nião d e d ez com u n id ad es, d as qu ais estavam p resentes d ois m em bros d e cad a e seu s resp ectivos p astores (PRIEN , 2001, p . 165). O p resid ente eleito foi o P. Lu d w ig H oep ffner (FISCH ER, 1986, p . 15). Os m otivos d a fu nd ação d esse sínod o d evem ser bu scad os na conflu ência d e três interesses d istin tos: d o Conselho Su p erior Eclesiástico Evangélico d e Berlim , d as com u nid ad es e d os p astores. A origem d o Sínod o Brasil Central está ligad a d iretam ente ao Conselho Su p erior Eclesiástico Evangélico d e Berlim , ao qu al as com u nid ad es eram filiad as. Prien (2001, p . 162) afirm a qu e, d evid o às d istâncias entre as com u nid ad es e a consequ ente d ificu ld ad e d e com u nicação, a iniciativa d e fu nd ar o sínod o d eve ser vista a p artir d o Conselho Su p erior Eclesiástico Evangélico d e Berlim e não a p artir d as com u nid ad es e obreiros p r op riam ente d itos. Ele tinha interesse em consolid ar e am p liar su a influ ê ncia no Brasil e cobrou d as com u nid ad es e p astores u m a u n id ad e sinod al. Por ou tro lad o, os interesses d as com u nid ad es e d os obre iros não d evem ser d escartad os totalm ente. As com u nid ad es bu scavam u m a m aior seg u rança na assistência esp iritu al e os obreiros u m m elhor am p aro instit u cional p ara seu trabalho. Além d isso, tod os qu eriam u m a m aior eficácia no atend im ento p astoral. N a tentativa d e abranger as d iferenças, a confessionalid ad e não foi ap reciad a nos estatu tos d o sínod o. Entrem entes, não era nisso qu e resid ia a p rincip al qu estão. O m aior p roblem a era qu e m u itos já não falavam m ais a língu a alem ã e, em d ecorrência d isso, p rocu ravam ou tras d enom inações eclesiásticas – m etod ista e p resbiteriana –, ond e se sentiam m ais à vontad e. Essa qu estão fez com qu e, d ois anos ap ós su a fu nd ação, o Sín od o Brasil Central fosse o p rim eiro sín od o a p u blicar u m m anu al p ara cu ltos e ofícios em língu a p ortu gu esa (PRIEN , 2001, p . 157-167). O Sínodo M issúri (1904) O Sínod o Missú ri, ao contrário d os d em ais sínod os qu e m antiv eram u m a estreita p arceria com a Igreja d a Alem anha, estava ligad o u m bi79 licalm ente ao Sínod o Missú ri d os EUA. N os EUA, u m gru p o d e em igrantes p rovenientes d a Saxônia (Alem anha) fu nd ou em 1847 o Sínod o Evangélico Lu terano d e Missú ri (WARTH , 1970, p . 129). Já no Brasil, o

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Sínod o Evangélico Lu terano Alem ão d e Missouri, Ohio e outros Es tad os, hoje Igreja Lu terana – Sínod o Missouri. (STEYER, 1999, p. 11).

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Sínod o Missú ri nasceu com a vind a d e p astores norte-am ericanos p ara atend er as com u nid ad es existentes. O p rim eiro contato foi estabelecid o na ú ltim a d écad a d o sécu lo XIX p elo p astor J. F. Bru tschin, d e N ovo H am bu rgo, qu e se d esligara d o Sínod o Riogrand ense. Assim , em 1899, o Sínod o Missú ri d os EUA enviou oficialm ente o P. J. C. Brod ers ao Brasil. Em 24 d e ju lho d e 1904, o Distrito Brasileiro d o Sínod o Missú ri foi fu nd ad o (WARTH , 1970, p . 129s) e, “em 1941, (...) foi equ ip arad o em seu status aos d istritos su bvencionad os nos EUA, a fim d e consegu ir o reconhecim ento d e igreja nacional p elo governo” (PRIEN , 2001, p . 525). Com o os centros m ais im p ortantes estavam ocu p ad os p elos p ast ores d o Sínod o Riogrand ense, o trabalho d os p astores m issu rianos enco ntrou m aior esp aço nas com u nid ad es livres, nas com u nid ad es d istantes ou em conflitos com o Sínod o Riogrand ense. As brigas eram constantes, p ois o Sínod o Missú ri não resp eitava u m lim ite geográfico. Su a intenção era atu ar em tod o o Brasil. Ond e existisse u m a com u nid ad e qu e se d em onstrasse favorável, ali o sínod o se fazia p resente. Assim , ele entrou em co nflito tam bém com os ou tros sínod os qu e d elim itavam m ais a su a atu ação 80 geográfica . Além d isso, d o p onto d e vista d a confessionalid ad e, o Sín od o Missú ri consid erava-se lu terano, exp u rgand o, p ortanto, os elem entos d as igrejas reform ad as e u nid as, os qu ais se encontravam p resentes em três sínod os, excetu and o a Caixa d e Deu s qu e se d izia lu terana. Assim , o ap ego à trad ição lu terana estabelecia afinid ad es entre o Sínod o Missú ri e o Sínod o d a Caixa d e Deu s. m as m ais d o qu e isso, a existência d as rivalid ad es e d as afinid ad es sem p re foi instru m ento d e barganha em p od er d os m em bros, p astores e com u nid ad es d e tod os os sínod os. A ju nção d os sínod os em d u as igrejas – IECLB e IELB – é algo qu e aind a p erm anece em aberto, p ois a d iferença entre eles está m ais centrad a na influ ência d e seu s p astores d o qu e d e m em bros. Enqu anto qu e a IECLB recebeu influ ências d a Igreja-Mãe d a Alem anha, p ortanto, m ais ligad a com a p reservação d a germ anid ad e, a IELB recebeu influ ências d os EUA, p erm anecend o m ais d istante d a qu estão d a germ anid ad e

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Os d em ais sínod os tinham um a ligação com u m com a Igreja Mãe d a Alem anha que, d e um a form a ou d e outra, d ava-lhes um a id entid ad e m ais com u m e, consequentem ente, um m aior resp eito pelo espaço geográfico d e cad a sínod o, com exceção d o Sínod o d a Caixa d e Deus que entrou em conflito com outros sínod os por violar suas d elim itações geográficas. (PRIEN , 2001, p. 177ss).

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e, p or isso, esteve m ais aberta p ara p roblem áticas d as com u nid ad es, co81 m o a língu a, p or exem p lo (PRIEN , 2001, p . 524ss) . A formação da Igreja e a questão da germanidade Sobre a form ação d os sínod os, p od e-se conclu ir qu e o Riogrand ense, o m aior em nú m ero d e com u nid ad es e m em bros d entre aqu eles qu e com p u seram a IECLB e o p rim eiro a ser fu nd ad o, foi m otivad or p ara tod os os ou tros. Ele su rgiu d evid o às necessid ad es qu e p astores e com u nid ad es sentiam d e u m a estabilid ad e no atend im ento esp iritu al, d e g arantias p revid enciárias, d e u m a m elhor eficácia no atend im ento e na qu alificação d o atend im ento p astoral, bem com o d os p rofessores d as escolas evangélicas. Por su a vez, os d em ais sínod os su rgiram d evid o a boa exp eriência realizad a p elo Sínod o Riogrand ense e p or influ ências d as institu ições m antened oras d a Alem anha. Elas p ressionavam p ara qu e o tr abalho fosse m ais organizad o e cobravam certa tranqu ilid ad e nas fronteiras entre os sínod os, em bora, não raras vezes, as d iferenças, sejam elas d e o r82 d em confessional ou d e nacionalid ad e , p rovocavam conflitos entre p astores, com u nid ad es e sínod os. Aind a sobre as d iferenças existentes entre os em igrantes, Dagm ar Meyer lem bra: Os im igrantes alemães não com punham (...) um grupo hom ogêneo, sob m uitos aspectos: eram oriund os d e d iferentes regiões e estad os, por vezes d iferentes países; m uitos d eles eram cam pones es e servos, outros tantos m arginalizad os urbanos e excluíd os d o processo d e ind ustrialização que se iniciava; alguns poucos pod iam ser e nquad rad os com o intelectuais em exílio político e (...) nos prim eiros grupos, havia aind a m uitos ind ivíd uos “socialm ente ind esejáveis”, libertad os d e prisões sob a cond ição d e que em igrassem . (MEYER, 2000, p. 41).

Mesm o com tantas d iferenças, existiram fatores qu e ap roxim aram os sínod os, a tal p onto d eles ju ntarem -se nu m a ú nica Igreja. Os p rincip ais

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H á que se consid erar tam bém que a preservação d a germ anid ad e para o Sínod o d e Missúri tam bém fora um instrum ento im portante. Mas ao contrário d o Brasil, nos EUA, a problem ática d a germ anid ad e havia sid o d iscutid a m ais profund am ente a partir d a Prim eira Guerra Mund ial. N o Brasil, esse d ebate ocorreu s om ente d epois d a Segund a Guerra. (PRIEN , 2001, p. 527ss). 82

Já foi d ito que, sob o ponto d e vista confessional, os em igrantes eram luter anos, reform ad os e unid os. Sob o ponto d e vista d a nacionalid ad e, eles eram alem ães, suíços, húngaros, escand inavos, entre outros.

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são as d ificu ld ad es fin anceiras, a d ep end ência d os sínod os em relação à Igreja d a Alem anha e as crises ad vind as d as d u as Gu erras Mu nd iais e o p rogram a d e nacionalização. A germ anid ad e, p or su a vez, tam bém foi fator d e u nião entre os alem ães. Dagm ar traça o cam inho d a p reservação d a germ anid ad e atr avés d e d u as grand es rep resentações: a língu a alem ã e o p rotestantism o. Segu nd o ela, a cu ltu ra alem ã p assou p or u m p rocesso d e nacionalização, no qu al a língu a e a religião, d esd e Lu tero, foram aglu t inad ores cu ltu rais qu e p ossibilitaram “u m jeito d e ser alem ão” (MEYER, 2000, p . 76). Por isso, qu and o se falava em p reservar a germ anid ad e, se estava faland o em p reservar a língu a alem ã e o p rotestantism o. Ap esar d a germ anid ad e ser fator im p ortante na form ação d a IECLB, ela não existiu d esd e sem p re com tanta intensid ad e. Dreher enfatiza qu e “som ente ap ós 1871 foram feitas tentativas d e fu nd am entar teolog icam ente o fato, tid o inicialm ente com o algo natu ral, d e qu e p rotestantes alem ães fizessem u so d a língu a alem ã em su a ativid ad e eclesiástica” (DREH ER, 1984, p . 20). Com o foi d ito, u m grand e im p u lso m otivad or p roveio d as institu ições m antened oras eu rop éias p ara a form ação d os sínod os. Os sínod os recebiam recu rsos m ateriais e p essoais d essas org anizações e sentiam -se ligad os a elas. Essa assistência foi p ossível graças aos interesses d o Est ad o alem ão qu e su rgiu em 1871 e qu e tinha interesses em consegu ir m ercad o p ara seu s p rod u tos (MEYER, 2000, p . 75). Assim , a germ anid ad e foi fom entad a p elo Estad o alem ão e, com isso, garantiu , no início d o sécu lo XX, a p osição d e segu nd o m aior forneced or d e p rod u tos ind u strializad os ao Brasil (KLUG, 1997, p . 182). Além d o m ais, as teorias eu gênicas, qu e floresceram no sécu lo XIX e início d o sécu lo XX e qu e ad vogavam a p u r ificação ou o ap erfeiçoam ento biológico d as p op u lações, favoreceram o sentim ento d o germ anism o, p ois id entificavam os p ovos germ ânicos com o estand o no top o d a evolu ção (MEYER, 2000, p . 66). Para exem p lificar com o essas id eias se faziam p resentes nas com u nid ad es evangélicas, cita-se aqu i p arte d e u m artigo p u blicad o no Deutsche Post d e 20/ 03/ 1907, em Porto Alegre. O leitor atento queira refletir com igo em que consiste, exatam ente, a nossa nacionalid ad e e com o ela pod e, pois, ser conservad a ou d estruíd a. Um a p arte está no sangue. Ela d epend e, pois, d e se m anter puro o sangue alem ão. Tod os aqueles que se casam com co m ponentes d e outras raças, abrem m ão d e sua germ anid ad e ; sua fam ília e seus d escend entes são excluíd os d a linhagem alem ã (eles pod em , quand o m uito, ser consid erad os com o „ad ubo cultural‟ ou „renovad ores d o sangue‟. Infelizm ente já tem os m uitos d esse tipo; no interesse d e nossa raça, o alerta contra tais casam entos m iscig e-

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nad os nunca é suficiente; na m aior parte d as vezes eles [os cas am entos] não são nem m esm o felizes e agrad áveis). (Apud MEYER, 2000, p. 67).

N o Brasil, as teorias eu gênicas e o sentim ento d o germ anism o atingiram u m a força aglu tinad ora tal qu e, em 1905, u m observad or enviad o p ela Liga d as Ind ú strias Alem ãs constata qu e “na A m érica d o Su l, o su eco, o d inam arqu ês, o su íço, o finland ês, o noru egu ês (...) o au stríaco são alem ães” (Ap u d MEYER, 2000, p . 41). Essa id entificação com a Alem anha favoreceu a ap roxim ação d os sínod os p ara a constitu ição d a IECLB. Diferente é o caso d o Sínod o Missú ri qu e, recebend o su as influ ências d iretam ente d os Estad os Unid os, não cu ltivava tão fortem ente o se ntim ento d e germ anid ad e. Esse tam bém d eve ser visto com o u m d os p onto d e sep aração entre as d u as igrejas. Entrem entes, é im p ortante d izer tam bém qu e a id eia d e germ anism o não estava tão fortem ente p resente em tod os os d escend entes germ ânicos. Mu itos d eles casavam -se com p essoas qu e d iferiam d e su a origem e, inclu sive, ou tros tantos não falavam m ais a língu a d os p ais. Aliás, o p róp rio fato d e existirem p essoas insistind o no caráter d a p rese rvação d em onstra qu e m u itos não estavam d and o o m esm o valor à ge rm anid ad e. Qu içá, eles viam no Brasil u m a nova p átria qu e lhes d ava m ais d o qu e tiveram na antiga, ond e, m u itas vezes, foram exp lorad os em d em asia. Mas, verd ad eiram ente, a m aioria ou p elo m enos setores com grand e abrangência p ara d entro d as com u nid ad es estavam interessad os na p reservação d a germ anid ad e. Por p arte d os obreiros, tam bém levantaram -se algu m as vozes qu e ad vogavam a não id entificação d o Evangelho com a germ anid ad e . Dre83 her relata qu e, em 1896, o P. Ernesto Schliep er tom ou a segu inte p osição com resp eito às tarefas d a Igreja Evangélica no Brasil: “Com qu e bênção a Igreja Evangélica p od eria trabalhar entre os brasileiros. O Sínod o não só está vocacionad o a trabalhar entre os alem ães, está tam bém cham ad o a m issionar entre os rom ânicos” (DREH ER, 1984, p . 102). Ou , com o já foi citad o anteriorm ente, a op inião d o P. Ernesto Au gu st Ku nert qu e cham ava a atenção p ara qu e “não se d esse ao trabalho eclesiástico u m a feição tal, com o se estivesse a serviço d a id eia p angerm anista, a serviço d o n acionalism o. Pois d essa m aneira, seria criad a u m a barreira qu e sep araria o evangelho d os alem ães d aqu ele d os brasileiros, su rgiria u m evangelho 83

Cham a-se aqui a atenção para o fato d e que Schlieper ter u m a posição d iferente d o outro acad êm ico Roterm un d .

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„alem ão‟” (Ap u d DREH ER, 1984, p . 103). Coerente com su as id eias, já em 1891, Ku nert d efend ia o u so d a língu a p ortu gu esa (DREH ER, 1984, p . 103). Em m eio a esse em bate, as com u nid ad es filiaram -se às institu ições eclesiásticas alem ãs e organizaram -se localm ente em sínod os p ara coord enarem seu trabalho local. Grad ativam ente, tornava -se Igreja d os alem ães e p ara os alem ães. Com o consequ ência, as com u nid ad es estavam cad a vez m ais longe d e assu m irem u m a brasilid ad e e d e ap resentarem u m a p rop osta d e Igreja p ara os brasileiros. Se, p or u m lad o, a germ an id ad e e a aju d a d a Alem anha p ossibilitaram a ap roxim ação d os sínod os, p or ou tro lad o, atrav ancaram a p ossibilid ad e d os sínod os serem u m a Igreja no Brasil e p ara os brasileiros. Som ente u m a catástrofe m u ito gra nd e p od eria reverter essa situ ação. E ela veio em d obro: as d u as gu erras m u nd iais. Os sínodos e a necessidade de uma nova postura eclesiástica Até a Prim eira Gu erra Mu nd ial (1914-1918), os sínod os tinham forte d ep end ência d a Igreja d a Alem anha, tanto no qu e se refere à ord em p essoal (p astores, p rofessores p ara as escolas), qu anto no qu e se refere à ord em financeira. As vantagens qu e ad vinham d a ligação entre os sín od os e a Alem anha eram m u ito su p eriores a qu alqu er tentativa d e au t onom ia. Mas a abru p ta situ ação iniciad a com a Prim eira Gu erra Mu nd ial im p ôs novas p reocu p ações aos sínod os. A p artir d e agora, eles iriam com eçar a refletir o qu anto p od eria ser p er igosa a d ep end ência exclu siva e tão intensa d a Alem anha. Assim , in iciou -se u m a nova fase em qu e os sínod os bu scariam novos p arceiros e a au tonom ia com eçaria a ser ensa iad a. Em m ead os d e 1919, o Sínod o Evangélico Alem ão d a Am érica d o N orte ofereceu aju d a aos sínod os (PRIEN , 2001, p . 202). E, em 1921, o Sínod o Riogrand ense com eçou , nu m “Pré-Sem inário”, a p rep arar jovens brasileiros p ara o estu d o d e teologia, o qu al, no entanto, aind a d everia ser 84 finalizad o na Alem anha (H EES, 1986, p . 80) . Dentre os m aiores p roblem as enfrentad os p elos sínod os d u rante a gu erra, encontram -se a p roibição d o u so d a língu a alem ã e o fecham ento d e institu ições qu e d em onstrassem algu m tip o d e relação com a ge rm a-

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N esse m esm o ano, o Sín od o Riogrand ense, sem elhantem ente ao que a IECLB vai fazer nas N AC, criou um Departam ento d e Colonização para aconselham ento e assistência a novos colonos.

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nid ad e, p rincip alm ente as escolas. Prien constata qu e, além d os Estad os su linos serem colocad os em estad o d e sítio, N o final d e 1917, as escolas alem ãs foram fechad as progressiv am ente e, por fim , inclusive o uso d a língua alem ã foi proibid o. As forças nativistas receberam u m forte em puxo, o que pronunciava coisas piores para o futuro d e instituições eclesiásticas que, por r azões teológicas e id eológicas, se haviam com prom etid o com o cu ltivo d a língua, d a cultura e d os costum es alem ães. (PRIEN , 2001, p. 184).

Com o fim d a gu erra, os sínod os se reorganizaram . Em bu sca d e m aior au tonom ia, eles com eçavam a ter m aior p od er d iscip linar sobre a vid a d as com u nid ad es. N a Alem anha, a Igreja tam bém se reestru tu rou . Em 1922, foi criad a a Fed eração Eclesiástica Evangélica Alem ã. E, em 1924, foi p rom u lgad a a lei qu e tornava p ossível a filiação d e com u nid ad es na d iásp ora. Mais d o qu e isso, conform e instru ções d e Berlim , n enhu m a com u nid ad e ou p astor p od eria m ais se filiar ao Conselho Su p erior Eclesiástico Evangélico d e Berlim e tod a com u nid ad e ou p astor já filiad o seria, au tom aticam ente, transferid o à Fed eração. Com isso, a Alem anha bu scava reorganizar-se e restabelecer su as influ ências, bem com o reconqu istar m ercad o externo p ara seu s p r od u tos (PRIEN , 2001, p . 211). Consequ entem ente, a filiação ao novo sistem a eclesiástico alem ão retard aria o p rocesso d e au tonom ia. Mas nem tu d o estava p erd id o. Pelo m enos, algo novo fru tificou . Em vez d as com u nid ad es e obreiros, ind ep end entem ente, p rocu rarem su a filiação à Fed eração Eclesiástica Evangélica Alem ã, algu ns sínod os filiaram -se com o corp oração. Ao m esm o tem p o, tam bém , bu scaram am p liar o seu p od er d iscip linar sobre com u nid ad es e obreiros. Em 1932, a Associação Evangélica d e Com u nid ad es co n85 clu iu o p rojeto d e u m a “Ord em d a Vid a Eclesiástica” , qu e, segu nd o Prien, p od e ser consid erad o u m m arco p ara a form ação d a Igreja. Mas a filiação d e su as com u nid ad es à Fed eração som ente aconteceria qu atro anos m ais tard e. Em 1929, em nom e d e tod as as com u nid ad es, o Sínod o Riogrand ense filiou -se à Fed eração. O Sínod o Evangélico Lu terano filiou se em 1933. O Sínod o Brasil Central, p or su a vez, m otivou a filiação d e su as com u nid ad es já a p artir d e 1928 (PRIEN , 2001, p . 240, 245, 270, 290, 326).

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Estatuto que regulam en tava a vid a eclesiástica.

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Se a Prim eira Gu erra não fora su ficiente p ara rom p er com o “co rd ão u m bilical” qu e ligava a Igreja d o Brasil à Igreja d a Alem anha, a Segu nd a Gu erra Mu nd ial, ju ntam ente com a nova conju ntu ra nacionalista d o Brasil, foi o im p u lso necessário p ara qu e as com u nid ad es tom assem consciência d e qu e, se elas qu isessem existir com o Igreja, d everiam bu scar a ind ep end ência. A p artir d e 1937, o Estad o N ovo iniciou u m p lano d e nacionaliz ação qu e red u ziu d rasticam ente as ativid ad es ed u cativas d as escolas alem ãs (FISCH ER, 1986, p . 16). João Klu g (1997, p . 227), p or exem p lo, d iscorrend o em su a tese d e d ou toram ento, conclu i qu e as escolas teu tocatarinenses, d u rante esse p rocesso, foram p erd end o grad ativ am ente su a au tonom ia e id entid ad e, qu and o não foram fechad as. Isso aconteceu p or cau sa d e leis, d ecretos e resolu ções insp irad as p ela constatação d a nece ssid ad e d e nacionalização nas áreas d e im igração e p elo d iscu rso d o “p erigo alem ão”. Essas m ed id as d e nacionalização cau saram o d eclínio d o sentim ento d e germ anid ad e. As consequ ências d a Segu nd a Gu erra levaram os sínod os a se p osicionarem : ou se nacionalizavam e assu m iam a nova p átria ou p od eriam estar fad ad os à extinção. Aqu eles qu e lu tavam p or u m rosto brasileiro d os sínod os, estavam ganhand o m aior esp aço e, consequ entem ente, iniciava u m a nova fase, qu al seja, u nid ad e e nacionalização. Assim , Joachim Fischer (1986, p . 17) p ôd e conclu ir qu e, d u rante os anos d a Segu nd a Gu erra, “encerrou -se o ciclo em qu e os sínod os estavam fortem ente orientad os p ara a Alem anha. Iniciou -se a terceira etap a d a nossa história, a d a igreja nacional au tôn o86 m a” . A Escola Su p erior d e Teologia foi fu nd ad a em 1946, d and o au t onom ia na form ação d e obreiros. E, em 26 d e ou tu bro d e 1949, a Fed eração Sinod al foi institu íd a. Sobre os novos ru m os d a Igreja, Dreher afirm a: Determ inad os pela experiência d a guerra, com d iferentes expect ativas qu anto ao fu turo, os quatro Sínod os iniciaram um a nova era. Esta era é d eterm in ad a por um a reorientação teológica d a Igreja, que m uitas vezes levara a u m a perigosa relação d e Evangelho e germ anid ad e. Procura-se agora um a renovação interna d a Igreja, um a aproxim ação d e tod os os Sínod os, visand o o surgim ento d e um a Igreja no Brasil e um a abertura para a ecúm ena. N essa reor ientação seriam superad os os últim os resquícios d e um a “Igreja alem ã no exterior”. (DREH ER, 1984, p. 245s).

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A prim eira etapa seria a d as com unid ad es livres; a segunda a d os sínod os e a terceira a d a união d os sínod os na Fed eração Sinod al. (FISCH ER, 1986, p. 17).

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Assim , d e 14 a 16 d e m aio d e 1950, realizou -se o I Concílio d a Fed eração Sinod al, em São Leop old o. N o relatório qu e o Presid ente Dohm s exp ôs no Concílio, constam algu m as teses sobre o novo jeito d e ser igreja qu e a Fed eração Sinod al rep resentava. Segu em abaixo as d u as p rincip ais teses. 1 – A Fed eração Sinod al é igreja d e Jesus Cristo no Brasil com tod as as consequências que d aí resultarem para a pregação d o Evangelho neste país e a co-responsabilid ad e para a form ação d a vid a política, cultural e econôm ica d e seu povo. 2o – Esta Igreja é confessionalm ente d eterm inad a pela Confissão d e Augsburgo e o Pequeno Catecism o d e Lu ther, pertence à fam ília d as Igreja m old ad as pela reform a d e Martin Lu ther, e quando ad otará em lugar d e “Fed eração Sinod al” a d enom inação d e Igreja, o que esperam os para breve, exprim i-lo-á nesta m esm a d enom in ação. (Prim eiro Concíli..., 1950, p. 4). o

N u m sim p ósio d e H istória d a Igreja realizad o em 1986, Fischer, p alestrand o sobre as m u d anças ocorrid as d ep ois d esse Concílio, afirm a qu e essas teses foram m u ito im p ortantes p ara fu tu ras d ecisões e p osicion am entos d a Igreja. Em seu 1 Concílio Geral, em 1950, esta igreja d efiniu -se com o “igreja d e Jesus Cristo no Brasil”. Assum iu expressam ente “a co responsabilid ad e pela form ação d a vid a política, cultural e e conôm ica” d o povo brasileiro com o um tod o. Consequentem ente, envolveu -se m uito m ais d o que no passad o em questões que d izem respeito ao tod o d a socied ad e, com o aconteceu, por exem plo, em 1970, no Manifesto d e Curitiba, que abord a a relação entre Igreja e Estad o, e em 1976, no d ocum ento “N ossa Responsabilid ad e Social”. Desenvolve seu trabalho evangélico-pastoral visand o os problem as concretos que atingem seus m em bros, com o o êxod o r u ral, a reform a agrária, o crescim ento d as periferias urbanas e, ultim am ente, a Constituinte. Em bora pequena em núm ero, quer contrib uir para que sejam prom ovid as as m ud anças necessárias e encontr ad as soluções ad equad as, justas e hum anas, com patíveis com o esp írito d o Evangelho. Sua voz no passad o quase inaud ível fora d e seus m uros, pod e ser ouvid a, hoje, inclusive em organism os inte rnacionais, com o a Fed eração Lu terana Mund ial e o Conselho Mu nd ial d e Igrejas, e nacionais, com o o Conselho N acional d e Igrejas Cristãs (CON IC). (FISCH ER, 1986, p. 17s). o

Por su a vez, o vice-p resid ente d a Fed eração, Ernesto Schliep er, p or ocasião d o ato inau gu ral d o I Concílio, afirm ou a au tonom ia d a nova Igreja nas segu intes p alavras:

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A Fed eração Sinod al, sabend o-se assim vinculad a às Igrejas no Brasil e às Igrejas ecum ênicas em tod o o m und o, é e será um a igreja autônom a no Brasil, sem d epend ências d e qualquer natureza d e outras igrejas ou instituições. Livre d e quaisquer am bições d e p od er ou d e atuação alheias ao seu próprio m and ato, ela reconhece com o sua única m issão, e com ela sabe ind icad a a d ireção d o seu cam inho: a d e ser e tornar-se cad a vez m ais Igreja d e Jesus Cristo no Brasil. (SCH LIEPER, palestra, 1950).

Encerrand o a fase d e solid ificação d a u nid ad e d a Igreja, foi d ecid id o qu e a Fed eração Sinod al, p or ocasião d o IV Concílio em 1962, p assaria 87 a se cham ar Igreja Evangélica d e Confissão Lu terana no Brasil . Entrem entes, os sínod os som ente seriam extingu id os em 1968, d and o lu gar às regiões eclesiásticas (SCH ÜN EMAN N , 1992, p . 4), ju sto qu and o os p rim eiros colonos p om eranos, vind os d o Esp írito Santo, chegaram em Rond ônia. Prien resu m e essa p assagem no segu inte p ar ágrafo: N o Concílio Geral Extraord inário d e outubro d e 1968, foi superad o o fed eralism o e efetuad a a fusão d os três sínod os rem anescentes, d epois d e d iscutid a a Constituição no V Concílio Geral, em 1966. Portanto, os Sínod os foram interligad os jurid icam ente, o território eclesiástico d as qu atro regiões foi subord inad o a um p astor regional com funções quase episcopais, que se subd ivid em por sua vez em d istritos e paróquias. Em Porto Alegre, instituiu -se um a d ireção eclesiástica central. O D. [Dr.] Ernesto Schlieper foi eleito com o prim eiro presid ente d a Igreja. (PRIEN , 2001, p. 540).

Assim , o p eríod o d as d u as gu erras e a p olítica nacionalista ad otad a p elo governo brasileiro significou , p ara os evangélico-lu teranos, u m p eríod o d e p rofu nd as m u d anças e reorientações. Sobre isso, Dreher faz a segu inte afirm ação: Creio que a Igreja Evangélica d e Confissão Lu terana no Brasil r epresenta um caso único entre as cham ad as igrejas jovens d o Terce iro Mund o. As experiências d a Segund a Guerra Mundial e do Estad o N ovo levaram a que os evangélico-luteranos nacionalizassem com pletam ente o seu clero. N um espaço d e 15 anos inverteu -se com pletam ente a com posição d o clero. N ão chegam , hoje [1993], a 10% os estrangeiros no clero. Essa nacionalização d o qu ad ro d e obreiros possibilitou um a total integração em term os políticos; se antes o pastor estrangeiro estava tolhid o em seus posicionam entos d e

Em 1954, já se ad otara o nom e “Fed eração Sinod al – Igreja Evangélica d e Confissão Lu terana no Brasil”. (PRIEN , 2001, p. 537s). 87

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ord em política, agora os pastores brasileiros se posicionam franca e abertam ente. Se até 1945 a Igreja Lu terana era um a Igreja Alem ã, hoje ela é talvez a m ais integrad a Igreja d o protestantism o brasileiro, d entro d a realid ad e brasileira. (DREH ER, 1993, p. 130).

A emergência de uma nova postura eclesiástica Du rante as d u as gu erras m u nd iais, os evangélico-lu teranos exp erim entam u m p rocesso d e nacionalização. Essa exp eriência ap rofu nd ou se na d écad a d e 1960, iniciand o u m p eríod o d e p rofu nd as m u d anças e reorientações. Mu d anças qu e se fizeram sentir qu and o a IECLB d ecid iu acom p anhar os m em bros nas N AC. Com o se viu acim a, a IECLB su rgiu d a ju nção d e qu atro sínod os qu e tinham u m a orientação voltad a p ara a Alem anha. Eles consid eravam -se com o Igreja alem ã, na qu al a língu a era im p rescind ível p ara a p regação d o Evangelho. As d u as gu erras e a n acionalização p rom ovid a p elo Estad o brasileiro p rovocaram u m a m u d a nça rad ical. Os sínod os u niram -se nu m a tentativa d e alcançar ind ep end ência, tanto financeira qu anto na form ação d e obreiros. Essa u nião tam bém p ossibilitou a p articip ação na vid a nacional. A IECLB na scia, agora, com o u m a Igreja nacional e, em consequ ência d isso, bu scaria am p liar su a m issão p ara o N orte d o Brasil. A d écad a d e 1960 tam bém foi d e p articip ação ecu m ênica p ara as igrejas e d e p rofu nd as m u d anças p olíticas na socied ad e, qu e se fizeram sentir tam bém nas igrejas. Ao final d a Segu nd a Gu erra, a Gu erra Fria com eçou a instau rar-se. O m u nd o d ivid ia-se entre com u nism o e cap italism o, esqu erd a e d ireita. N os p aíses p obres, agitavam -se band eiras qu e p rop agavam revolu ção. O Brasil não ficou fora d isso, ao contrário, crescia o sentim ento nacionalista, su rgiam m ovim entos d e base e os ru m ores d e u m a revolu ção se faziam p resentes. Su rgia a Ped agogia Libertad ora d e Pau lo Freire, as Com u nid ad es Eclesiais d e Base (CEBs) e a teologia d iscu tia qu al o seu p ap el no p rocesso revolu cionário (Conferência d o N ord este). Em 1961, o Conselho Mu nd ial d e Igrejas, reu nid o em N ova D élhi/ Índ ia, d iscu tiu a necessid ad e d as igrejas se p osicionarem p oliticam ente nos seu s resp ectivos p aíses (SCH ÜN EMAN N , 1992, p . 71s). A nível nacional, e influ enciad a p or N ova Délhi, foi realizad a a Conferência d o N ord este, nos d ias 22-29 d e ju lho d e 1962, em Recife. Segu nd o Sch ü nem ann (1992, p . 37), “foi o evento d e m aior im p acto no m u nd o p rote stante. Seu tem a: „Cristo e o p rocesso revolu cionário brasileiro‟ foi trab alhad o p or p astores, teólogos e cientistas sociais (...)”. Sand ra Cristina Donner, d issertand o sobre os jovens lu teranos e a revolu ção brasileira, conclu i: 94

A partir d a Conferência d o N ord este, as igrejas protestantes prop useram -se a tom ar novos rum os. H avia um consenso d e que as igr ejas não p od eriam assistir paralisad as ao processo revolucionário que supostam ente estaria convulsionand o o Brasil, sob o risco d e ficarem d e fora d o novo país que estaria se forjand o. (DON N ER, 2001, p. 67).

Em bora algu ns lu teranos tenham p articip ad o d a Conferência d o N ord este (SCH ÜN EMAN N , 1992, p . 72), eles aind a eram m inoria e não tiveram m u ita exp ressão p ara d entro d a Igreja. A Igreja fu gia d a resp onsabilid ad e p olítica. Seu trabalho era ap enas assistencial. A nível oficial e no nível d as com unid ad es o m áxim o d e preocup ação social que se conseguia apurar era o d a assistência social ou serviço social que não tocasse nas questões estruturais d o país. Questionar o sistem a significava aliar -se às correntes teológicas d a 88 “Teologia d a Revolução” ou setores subversivos d a socied ad e brasileira. (SCH ÜN EMAN N , 1992, p. 81).

Segu nd o Donner, os ú nicos lu gares ond e se d iscu tia p olítica na Igreja, nos p rim eiros anos d a d écad a d e 1960, eram nas casas d e estu d an89 90 tes u niversitários e na Revista d a Ju ventu d e Evangélica . Ap esar d o esp aço consegu id o na Igreja em virtu d e d as transform ações ocorrid as até então, os gru p os e p essoas qu e bu scavam u m com p rom etim ento p olítico aind a eram m inoria. Isso foi tão evid ente qu e o golp e d e 1964 foi bem recebid o p ela m aioria d os p astores e leigos d a IECLB. Schü nem ann afirm a qu e ele chegou a ser aclam ad o com o salvad or (SCH ÜN EMAN N , 1992, p . 95). Em p arte, isso ocorreu , tam bém , p orqu e, na d écad a d e 1960, m ais ou m enos 30% d os p astores eram estrangeiros (PRIEN , 2001, p . 540). A m aioria era d e origem alem ã e estava p rofu nd am ente m arcad a p elo anticom u nism o. O m u ro d e Berlim foi ergu id o ju stam ente em 1961. “Por

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Teologia d a Revolução era o nom e d ad o à Teologia d a Libertação, nos seus prim órd ios. N o início d a d écad a d e 60, o m aior expoente protestante d essa teol ogia foi Richard Schaull, teólogo presbiteriano d e proced ência norte-am ericana. 89

Em 1955, o P. Ernest N eisel, em Porto Alegre/ RS e, em 1956, o P. Richard Wa ngen, em Curitiba/ PR, iniciaram -se os trabalhos com universitários. (SCH ÜN EMAN N , 1992, p. 66). 90

Sand ra Donner (2001, p. 72) cita um a entrevista com God ofred o Boll, pastor d a casa d e estud ante d e Porto Alegre, ond e ele afirm a que o lugar d e d iscussão política d entro d a igreja se restringia às casas d e estud ante e Revista d a Juventud e Evangélica.

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isso, o golp e m ilitar d e 64 foi recebid o com o „red enção‟” (SCH ÜN EMAN N , 1992, p . 74). O m otivo d a abertu ra p ara a d iscu ssão p olítica d ent ro d as casas d e estu d antes u niversitários foi traçad o p or Sand ra Donner (2001, p . 71) com o send o p rovocad o p or u m a ép oca d e p rofu nd as d iscu ssões p olíticas. 91 Conform e su a argu m entação, a Cad eia d a Legalid ad e e as Reform as d e 92 Base , segu id as p ela tom ad a d e consciência na Conferência d o N ord este, p rovocaram o d esp ertar p olítico. A abertu ra ecu m ênica foi fu nd am ental p ara esse d esp ertar p olítico a p artir d a fé, p ois, na IECLB, reinava aind a a p osição id eológica d e qu e fé e p olítica não se m ist u ram . As casas d os u niversitários estavam sob a chancela d a Fed eração Lu ter ana Mu nd ial, o qu e lhes d ava certa au tonom ia em relação à Direção d a IECLB (SCH ÜN EMAN N , 1992, p . 66). Além d isso, os m ovim entos ecu m ênicos intern acionais e nacionais tend iam a tom ar p osições p olíticas e a cobrar d as igrejas u m a p osição. Foi assim na Conferência d o N ord este, no Conselho Mu nd ial d e Igrejas em N ova Délhi e seria assim , ta m bém , em Up p sala, na Su écia, em 1968. N essa reu nião, conform e Schü n em ann, o Conselho Mu nd ial d e Igrejas su geriu às igrejas, em seu d ocu m ento final: (...) participar d e m aneira ativa no m ovim ento em favor d e m ud a nças rad icais d e estrutura, já qu e constituem o único m eio d e insta urar um a m aior justiça na socied ad e e que, em especial nos países m enos d esenvolvid os, as Igrejas d everiam fazer sua a cau sa d os d eserd ad os d a sorte e fazer-se porta-vozes d as m assas, e, além d isso, tom ar posição aberta exigind o que seus fiéis tom em consciência d a necessid ad e d a revolução. (SCH ÜN EMAN N , 1992, p. 75).

Assim , se, p or u m lad o, os gru p os conservad ores form avam a m aioria, p or ou tro lad o, no d ecorrer d a d écad a d e 1960 e 1970, su rgiram p e ssoas e gru p os qu e bu scavam u m novo jeito d e ser igreja. O sentim ento d a necessid ad e d e m u d ança d entro d a IECLB crescia a p assos largos. Tinhase a id eia d e qu e d o jeito qu e estava não p od eria ser. Mot ivad os p elo id eal d e m u d ança, su rgiram algu ns gru p os, com o o “Movim ento Enco n-

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A Cad eia d a Legalid ad e foi lid erad a por Leonel Brizo la, então atual govern ad or d o Rio Grand e d o Sul, que, em 1961, por ocasião d a renúncia d o presidente Jânio Quad ros, iniciou um m ovim ento d e resistência em Porto Alegre contra aqueles que não queriam que o vice-p resid ente João Goulart, id entificad o com as classes trabalhad oras, assum isse a presid ência d o Brasil. (DON N ER, 2001, p. 19-23). 92

Projeto adotado pelo Presid ente João Goulart no qual buscava forças no nacion alismo radical para fazer as m ud anças estruturais do país. (DONNER, 2001, p. 24).

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trão” e a “Pastoral Pop u lar Lu terana” . Enqu anto o p rim eiro bu scava u m a renovação esp iritu al, abrind o esp aço p ara a renovação carism ática, o segu nd o bu scava u m engajam ento p olítico e a transform ação d a socied ad e p or vias d em ocráticas. O Encontrão se id entificava com os Movim entos Avivam entistas d os EUA e a Pastoral com a Teologia d a Libertação d a Am érica Latina. Por isso, brigas e d iscord âncias entre os d ois m ov im entos sem p re foram constantes. Mesm o assim , o su rgim ento d esses gru p os sinaliza novos tem p os p ara a IECLB. Um a ép oca em qu e a Igreja com eçaria a assu m ir a brasilidade, seja ela no âm bito esp iritu al, com o qu eria o Movim ento Encontrão, ou no âm bito d a p articip ação p olítica, com o alm ejava a Pastoral. 93

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Os gru p os conservad ores tom ariam ou tro golp e, em 1970, com a transferência d a V Assem bleia d a FLM a ser realizad a em Porto Alegre p ara Evian na França. A assem bleia foi cancelad a p orqu e a m aioria d os lu teranos d a IECLB ap oiava o golp e d e 1964, enqu anto qu e a FLM cobr ava d ela u m a p osição frente às d enú ncias d e tortu ra qu e ch egavam em su as m ãos.

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O Movim ento Encontrão tem seu início em m ead os d a d écad a d e 1960 e início d e 1970. Sua gênese está intrinsecam ente relacionad a aos grupos ECO. Os gr upos ECO são um a proposta d e ed ificação d e com unid ad e basead a na m ord om ia – entrega d e Tem po, Talento e Tesouro, os tr ês T. Esses são pequenos grupos, d e no m áxim o seis pessoas, com objetivos, m etod ologias e regras d isciplinares próprias. Alguns pastores e leigos achavam que a IECLB sofria d e u m profund o sono esp iritual e que era necessário fazer algum a coisa para sair d e sse “sono à m od a d a bela ad orm ecid a”. Foi a cid ad e d e N ovo H am burgo a prim eira a exp erim entar a proposta d e ed ificação a partir d os grupos acim a citad os. Seguind o o exem plo d e N ovo H am burgo, outros pastores com eçaram a usar o m esm o m ét od o em su as com unid ad es. Eles com partilhavam d e um a m esm a afinid ad e espiritual e m et od ológica. Dessa form a, foi que, em 1970, lid erad os por um pastor estad unid ense – John Aam ot – seis pastores e um estud ante d e teologia se reun iram em Gram ad o para coord enarem seus esforços e com p artilharem experiências. Apesar d os p articipantes d essa reunião não ad otarem um nom e para o seu m ovim ento, m ais tard e ele viria a ser cham ad o d e “Encontrão”. N os prim eiros d ez anos, teve um crescim ento significativo, chegand o a ter m ais d e m il participantes; contud o, não foi abraçad o por tod a a Igreja, antes, d evid o ao seu caráter evangelical, sofreu m uitas críticas por parte d a m aioria d os pastores e m em bros. (MUELLER, 1991). 94

A Pastoral Popular Lu terana tem seu início no final d a d écad a d e 1970 e início d e 1980. Foi legalm ente criad a em 1982. N o início, som ente pastores particip avam , m as, já em 1984, foi tam bém aberta p ara leigos.

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Esboçou -se [tam bém ] por p arte d os d irigentes eclesiásticos eur opeus e norte-am ericanos o tem or d e o evento ser usad o pelo pr óprio regim e para legitim ar-se frente à opinião pública nacional e internacional, precisam ente porque teria espaço para um a palavra d e saud ação. O presid ente d a República falaria ao m und o, usand o a Assem bleia. (SCH ÜN EMAN N , 1992, p. 86).

Em bora a IECLB tenha se sentid o m u ito p reju d icad a com o cancelam ento d a Assem bleia, Schü nem ann d efend e a tese d e qu e ela serviu p ara d ar voz e vez aos gru p os m inoritários qu e bu scavam u m com p r om etim ento com a realid ad e p olítica d o Brasil. Ele conclu i qu e “a transferência d a V Assem bleia Geral d a Fed eração Lu terana Mu nd ial op erou com o u m a terap ia d e choqu e, abrind o as p ortas p ara u m p osicionam ento sócio-p olítico m ais crítico e p articip ativo” (SCH ÜN EMAN N , 1992, p . 95). Em d ecorrência d ireta d o cancelam ento d a A ssem bleia, a IECLB p rod u ziu O “Manifesto d e Cu ritiba”, em 24 d e ou tu bro d e 1970, p or ocasião d o VII Concílio Geral. O d ocu m ento trata d a relação entre fé e p olít ica, cham and o a atenção d a Igreja p ara o com p rom isso d e vigiar (Conform e Ezequ iel 33.7), d esem p enhand o u m a fu nção crítica na socied ad e. Isso se d eve p orqu e “a m ensagem d a Igreja sem p re é d irigid a ao hom em [ser hu m ano] com o u m tod o, não só à su a „alm a‟. Por isso, ela terá consequ ências e im p licações em tod a a esfera d e su a vivência – inclu sive física, cu ltu ral, social, econ ôm ica e p olítica”. Du rante o trabalho nas N AC, essa foi u m a afirm ação m u ito rep etid a p elos p astores qu e ali atu avam (SPELLMEIER, 2000; SASS, 1999). Entrem entes, lem bra Arteno Sp ellm eier , coord enad or d o Dep artam ento d e Migração entre agosto d e 1973 e fevereiro d e 1983, qu e o Concílio d e Panam bi, em 1972, foi m u ito m ais im p ortante p ara o com p rom isso sócio-p olítico d a Igreja. Ele d iz qu e, “em Panam bi, a IECLB d ecid iu d u as coisas (...) m u ito im p ortantes. Em p rim eiro lu gar, ela d ecid iu acom p anhar os m em bros m igrantes qu e aband onavam su a terra e iam p ara a cid ad e ou iam p ara a Am azônia” (SPELLMEIER, 2000). Em segu nd o lu gar, ela d ecid iu , em consonância com o Manifesto d e Cu ritiba, (...) ser um a igreja d o povo (...), um a igreja para tod as as pessoas e p ara a pessoa tod a. (...) Isso foi algo assim bastante revolucionário para aquele tem po, em 1972, em que a igreja vivia um a grand e d icotom ia aind a entre o m aterial e o espiritual, entre o par ticular e o coletivo, entre o técnico e o político. Eu acho que foi um passo m u ito grand e que foi d ad o pela IECLB naquele tem po (...) e encim a d isso a gente construiu tod o esse trabalho no N orte. (...) E o fato d a igreja ter investid o bastante em projetos está relacionad o com essa questão d e serm os um a igreja para tod os os h om ens, para tod as as pessoas e para a pessoa com o um tod o. (SPELLMEIER, 2000).

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Ou tro d ocu m ento im p ortante, elaborad o em 1975 e ap rovad o em 1976, su rgid o em d ecorrência d a p reocu p ação social, foi “N ossa Resp onsabilid ad e Social”. Esse d ocu m ento, elaborad o em form a d e u m a carta circu lar enviad a a tod as as com u nid ad es, conclam ou os cristãos à resp o nsabilid ad e ind ivid u al e coletiva. O d ocu m en to reza: “N ão consegu im os ver Deu s no p rogresso, m as sim naqu eles qu e são p or ele tritu rad os, não no p od er, m as naqu eles qu e são p or ele abatid os, não no d inheiro, m as naqu eles qu e não tem com o com p rar o elem entar p ara su as vid as (Mc 8.34-38)”. N a m esm a ép oca, foi p u blicad o o p rim eiro volu m e d o Proclam ar Libertação, u m au xílio hom ilético p ara os obreiros e obreiras d a IECLB, qu e é a exp ressão d a entrad a d a Teologia d a Libertação na Escola Su p erior d e Teologia, em São Leop old o (SCH ÜN EMAN N , 1992, p . 110). A d écad a d e 1970 tam bém rep resenta u m a grand e reviravolta nas relações d e gênero e, consequ entem ente, p ara a ord enação d e m u lheres na IECLB. Já em 1952, as m u lheres com eçaram a entrar na Facu ld ad e d e Teologia, m as, som ente na d écad a d e 1970, as p rim eiras foram form ad as. Ap esar d e já estarem atu and o em com u nid ad e, som ente em 1983 foi o rd enad a a p rim eira m u lher form ad a na Escola Su p erior d e Teologia (KRÜGER, 1996, p . 13s). A em ergência p or u m a nova p ostu ra d a Igreja em relação aos p roblem as brasileiros não aconteceu sem lu tas. Mas, nu m a igreja, ond e grand e nú m ero d os p astores e m em bros eram conservad ores – os qu ais ap oiaram o golp e m ilitar d e 1964 – agora é significativo o n ú m ero d aqu eles qu e estão ligad os a m ovim entos e p artid os d e esqu erd a. Mesm o qu e d e u m a form a u m p ou co d icotôm ica, Schü nem ann sintetiza o p ensam e nto d essa ép oca: Duas opções para o ser-Igreja se apresentavam . Um a d os ricos e, outra, d os pobres. Um a d os que ad m inistravam a Bíblia d e m aneira ind ivid ualista e, outra, d os que vivem a Bíblia em com u nid ad e. Um a Igreja ond e o pobre não tem vez e é objeto d e d ecisões, d e a ssistência e d e d iplom acia e outra ond e o povo aprend e a falar, se levantar e agir; um a igreja que separa – ou parece separar – religião e política e outra que conhece um a só realid ad e. (SCH ÜN EMAN N , 1992, p. 116).

3. A Igreja e as N ovas Áreas de Colonização Com o se viu acim a, na ép oca d a colonização d e Rond ônia, a IECLB estava m ergu lhad a em p rofu nd a crise d e p arad igm a. Por u m lad o, exist iam os conservad ores e, p or ou tro, aqu eles qu e bu scavam novos jeitos d e 99

ser igreja. Os qu e bu scavam novos jeitos est avam cientes d e qu e a IECLB tinha qu e sair d o gu eto e ir em d ireção ao N orte d o Brasil. O Movim ento Encontrão encam inhou seu p rojeto d e Missão Zero, enfocand o a região 95 u rbana ; enqu anto as p essoas qu e se id entificavam m ais com a Teologia d a Libertação bu scavam acom p anhar os m em bros nas N AC e ap oiar os 96 p equ enos agricu ltores p ara qu e esses não ad erissem ao êxod o ru ral . Assim , qu and o a IECLB d ecid iu acom p anhar os m em bros nas N AC, o p rojeto qu e se segu iu foi claro: qu eria-se ensaiar novos jeitos d e ser igreja. N ad a m elhor d o qu e ensaiá-los nas novas áreas. Essa id eia está exp ressa na m oção d o Secretário Geral Rod olfo Schneid er p ara o Concílio d e Panam bi: A IECLB encontra-se no início d e um a época com pletam ente nova, com chances que talvez nenhum a ou tra Igreja no m und o tenha: o d esbravam ento d o Oeste brasileiro oferecerá à IECLB a possibilid ad e d a experiência e execu ção d e novos m étod os d e trabalho e d e novos tipos d e m inistérios, em zonas recém -abertas, livres d e trad ições e estrutu ras obsoletas. A d isposição d e enfrentar o d esconh ecid o, para form ar o seu futuro, d á aos colon izad ores d essas áreas a abertura d e colaboração e aceitação d esses novos m étod os d e trab alho. Desta experiência haverá certam ente, com o reflexo, um a reação d e abertura e m aior d isposição nas Com unid ad es estruturad as, para novas form as d e trabalho e novos tipos d e m inistérios. (SCH N EIDER, m oções, 12/ 10/ 1972, Arq. pes. d e A. Spellm eier).

A crise na agricu ltu ra, a m od ernização e a m ecanização fizeram -se sentir p rofu nd am ente d entro d a IECLB, p ois exp u lsou seu s m em bros d as colônias p ara as cid ad es ou p ara as novas fronteiras agrícolas. A IECLB p recisaria tom ar u m a d ecisão: acom p anharia esses m em bros ou se re stringiria ao atend im ento d e su as com u nid ad es já estabelecid as. N o caso d e Rond ônia, a situ ação era em ergencial; e tam bém não fu gia d o qu e historicam ente se havia feito, a saber, acom p anhar os m em bros em novas 97 áreas . Por isso, Gerald o Schach , p rim eiro p astor a atu ar em Rond ônia,

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Missão Zero é um a iniciativa m issionária que tem por regra iniciar trabalhos m issionários em cid ad es ond e não existam m em bros trad icionalm ente ligad os à IECLB. (OSTERBERG, 1995, p. 4s). 96

Em d ecorrência d a d ecisão d e Panam bi e d o trabalho em Rond ônia, lem bra Arteno Spellm eier, nasceu o CAPA. (SPELLMEIER, 2000). 97

Os sínod os procuravam d ar assistência às fam ílias que m igravam para novas fronteiras agrícolas. N esse sentid o, o Sínod o Riogrand ense instit uiu o pastorad o itinerante. (WITT, 1996, p 49).

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foi enviad o em ju lho d e 1972, antes m esm o d o Concílio d e Panam bi (ou tu bro d e 1972) tom ar a d ecisão em favor d o acom p anham ento d as fam ílias nas N AC (SCH ACH , 2001). Portanto, a IECLB qu eria ser igreja no Brasil e qu eria exp and ir-se p ara o N orte com o u m a igreja nacional. Assim , qu and o foi convid ad a a assu m ir u m trabalho nu m novo contexto qu e, p ara su a com od id ad e, já tinha su as bases com eçad as, rap id am ente ela se p osicionou p ositivam e nte e criou as estru tu ra p ara tal atend im ento. Por se tratar d e u m a região nova, d e d ifícil acesso e, tam bém sem nenhu m a infra-estru tu ra, a Direção d a Igreja d ecid iu qu e tod as as coisas referentes a Rond ônia p assariam d iretam ente p elas su as m ãos, facilitand o, assim , o trabalho d os obreiros nessa região (SCH ACH , 2001). As inú m eras corresp ond ências entre o então Secretário Geral d a Igreja, Rod olfo Schneid er, e o p astor Gerald o Schach revelam a im p ortância qu e a Igreja d ava a esse trabalho. Com o form a d e incentivar o tr abalho nas N AC e d e com p ensar o alto cu sto d e vid a, os obreiros recebiam ta m bém u m abono. Entrem entes, a IECLB não qu eria ap enas acom p anhar os m em bros, m as qu eria fazer algo d iferente. Por isso, o VIII Concílio Geral d e Pana m bi (1972) resolveu d ar “carta branca” ao Conselho Diretor p ara a atu ação tanto nas N AC qu anto nos centros u rbanos (JOREV, 1972, p . 1). Motivad o tam bém p or esse Concílio, no qu al se ratificou o acom p anham ento d os m em bros d e form a integral, o Conselho Diretor criou , em 1972, o Dep artam ento d e Migração qu e, em 1979, p assou a ser d enom inad o d e Coo r98 d enação d as N AC, com sed e em Cu iabá/ MT . O Dep artam ento ficou encarregad o d e acom p anhar os m em bros qu e m igravam p ara as N AC e p ara os centros u rbanos. Um a terceira atribu ição foi acom p anhar os p equ enos agricu ltores p ara qu e esses não ad erissem ao êxod o ru ral e, co nsequ entem ente, enfraqu ecessem as com u nid ad es d a IECLB no m eio ru ral (SPELLMEIER, 2003). O Dep artam ento teria com o p rincíp io trabalhar a p essoa com o u m tod o. Assim , p or exem p lo, o trabalho p astoral nas N AC, esp ecialm ente em Rond ônia, contava tam bém com técnicos agrícolas e agentes d e saú d e. A id eia era p ôr em p rática a assistência integral d as p essoas (SASS, 1999; SPELLMEIER, 2000; SCH ACH , 2001).

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Spellm eier (2000) d iz que, em 1979, o Departam ento d e Migração d eixou d e existir e que a questão urbana e d o êxodo rural foi ligad a ao Departam ento d e Missão e, para as novas áreas, se criou, então, a Coord enação d as N AC.

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A atu ação d a IECLB em Rond ônia p od e ser d ivid id a em d u as tend ências básicas. A p rim eira, qu e vai d e 1972 a 1978, está p r ofu nd am ente afinad a com o p rogram a d e d esenvolvim ento governam ental. A segu nd a, qu e inicia em 1979, u ltrap assa o p eríod o estu d ad o nesta p esqu isa (1987) e está m arcad a p or u m p osicionam ento p olítico m ais acentu ad o e p or u m a forte crítica ao m od elo d esenvolvim entista, bem com o ao p ap el qu e a Igreja assu m iu nesse p rocesso. A segu ir, p rocu rar-se-á estu d ar a p rim eira ép oca, d eixand o a segu nd a p ara o p róxim o lócu s. O trabalho nas Novas Áreas de Colonização afinado com o programa desenvolvimentista do Estado (1972-1978) Entre os anos d e 1972 e 1978, a IECLB, m ais d o qu e acom p anhar os m em bros nas N AC, m otivou a m igração. Qu anto m aior o nú m ero d e m igrantes lu teranos, m ais as com u nid ad es d as N AC crescer iam e tornarse-iam ind ep end entes financeiram ente. A p rop agand a, nesse sentid o, foi m ais intensam ente d irecionad a p ara o Mato Grosso. Para isso, a IECLB p rod u ziu u m a série d e au d iovisu ais p ara serem ap resentad os nas com u nid ad es d o Su l d o p aís. Um a d essas foi a colonização d o Teles Pires qu e, segu nd o a p rop agand a, d everia iniciar em ju lho d e 1976. A p u blicid ad e afirm ava qu e existiriam terras d isp oníveis p ara m em bros d a IECLB. O u tra série foi a d ivu lgação d e Canarana, intitu lad a “Canarana: Terra Prometida”. Títu lo com o qu al se qu eria fazer u m a alu são à Canaã d a visão b íblica. Além d esses au d iovisu ais, algu ns artigos p u blicad os no Jornal Evangélico sobre as N AC serviram com o p rop agand a p ara a m igração (DEPARTAMEN TO DE MIGRAÇÃO, 1975 JOREV, p . 6). Entre eles, d estaca-se a p u blicação d e u m a m atéria d e cap a, em 1975, na qu al se d ivu lgava a existência d e terras d isp oníveis p ara os m em bros d a IECLB em Rond ônia. O Departam ento d e Migração d a Igreja Evangélica d e Confissão Lu terana no Brasil (...) neste jornal apresenta um a nova área d e colonização, a região d o Rio Colorad o em Vilhena, no sul d o Território Fed eral d e Rond ônia. N o Projeto Integrad o d e Colonização d e Paulo Assis Ribeiro, a ser executad o pelo IN CRA, ficou aberta a possibilid ad e d e m em bros d a IECLB serem colocad os em grupos m aiores, facilitand o a vid a com unitária, tanto para a igreja, com o para o próprio agricultor. (DEPARTAMEN TO DE MIGRAÇÃO, 1975 JOREV, p. 1).

Desd e 1972, a IECLB tinha u m obreiro atend end o a região e tinha criad o o Dep artam ento d e Migração p ara qu e esse viabilizasse o trabalho. Com o a Igreja tinha d ecid id o acom p anhar os m igrantes d e form a int egral, ou seja, esp iritu al, social, econom icam ente e, m ais tard e, p olitica-

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m ente, o trabalho era id ealizad o d e form a qu e p u d esse co ntem p lar esses asp ectos. N o entanto, d u rante os d ois p rim eiros anos, o trabalho fora qu ase qu e em inentem ente esp iritu al. Schach estava sozinho atend end o as fam ílias lu teranas esp alhad as nu m a im ensa área d e d ifícil acesso. Perco rria u m a área qu e, d e u m p onto ao ou tro, d istava m ais ou m enos 550 Km . Dorm ia em hotéis, nas casas d os m em bros ou acam p ava com a fam ília nas im ed iações d as constru ções eclesiásticas em and am ento. Veja o qu e Schach d iz: “Eu p egava a m inha esp osa e nossa filha Letícia, recém na scid a, p egávam os o Toyota (...), levávam os u m fogareiro, cobertas e tr avesseiros e nós acam p ávam os (...) e ali ficávam os u m a sem ana fixos, atend end o, então, (...) os arred ores” (SCH ACH , 2001). Entrem entes, Sch ach e o Dep artam ento d e Migração, na p essoa d o Arteno Sp ellm eier , com eçaram a viabilizar alternativas p ara a região. O qu e se qu eria era o d esenvolvim ento econôm ico d aqu elas p essoas e isso, na visão d os obreiros d aqu ela ép oca, p assava essencialm ente p ela ed u cação e p ela saú d e . A experiência do N úcleo A vançado e da Fazenda A grícola O N ú cleo Avançad o em Rond ônia su rgiu p or iniciativa d e exalu nos d o Colégio Sinod al qu e se sentiram m otivad os a iniciar u m Ca m p u s Avançad o no Oeste brasileiro. O grand e incentivad or foi o d iretor Arnild o H op p en (JOREV, 1974, p . 4). Para não p arecerem p retensiosos, p ois cam p u s referia-se exclu sivam ente às u niversid ad es, resolveram cham ar d e N ú cleo Avançad o (SEI, 1973 JOREV, p . 8). O p rojeto foi elaborad o e im p lantad o a p artir d e 1972 (Projeto... Arq. d a IECLB). A id eia era “p restar assistência aos colonos qu e lá se rad icaram ” (N AUMAN N , carta, 22/ 08/ 1972, Arq. d a IECLB). Visava a assistência escolar, sanitária, social e agrícola (H OPPEN , carta, 14/ 03/ 1973, Arq. d a IECLB). Gerald o Schach acolheu a id eia com m u ito entu siasm o e escreveu enfatizand o qu e se d everia iniciar o p rojeto na área d a ed u cação, higiene e orientação geral (SCH ACH , carta, 29/ 09/ 1972, Arq. d a IECLB). Dep ois d e m ontad o o p rojeto, constitu íram -se gru p os qu e, d u rante as férias escolares d e final d o ano, se d eslocavam p ara atend er as N AC. Um cu rso foi realizad o em janeiro d e 1974 e o ou tro em 1975 (JOREV, 1975, p . 11). Pod e-se d izer qu e basicam ente “faziam cu rsos d e ap erfeiçoam ento p ara p rofessores d e e scolas d a red e p ú blica d e Rond ônia” (SCH ACH , 2001). Em Pim enta Bu eno, os ex-alu nos d ed icaram -se a constitu ir u m a escola p ara a alfabetização. Esp ecial m otivad or era o P. Schach qu e, d esd e 1972, em p enhava-se nessa tarefa (SCH ACH , carta, 29/ 09/ 1972, Arq. d a IECLB). O p rim eiro p rofessor foi o Catequ ista N estor Kannem be rg (1973 – 1975). Em 1975, foi su bstitu íd o p or Ad alberto Reinke (1975 – 1981?) (SCH ACH , carta, 1975, Arq. d a IECLB). Mais tard e, essa escola, cham ad a 103

Escola Im igrante, seria d esativad a em fu nção d o Centro Ed u cacional Itap oranga (CEI) criad o em Esp igão d o Oeste. Preocu p ad o com o fech am ento d a escola, o Secretário Geral d a Igreja escreve em ou tu bro d e 1974: É um a d as m etas d o trabalho d a IECLB em N AC atend er não só o setor evangelístico propriam ente d ito, m as tam bém as áreas d e ed ucação, higiene e saúd e e orientação em assuntos agrícolas. Deste ponto d e vista seria um lam entável retrocesso se, por exem plo, a Escola Im igrante d eixasse d e funcionar. (SCH N EIDER, carta, 16/ 10/ 1974, Arq. d a IECLB).

O CEI, p rovisoriam ente cham ad o CTA (Centro d e Treinam ento Agrícola), foi constru íd o com verbas d e u m a organização su eca d enom inad a Lutherhjaelpen, com verbas d a Lutheran W orld Relief (Aju d a Lu terana Mu nd ial) d os EUA e d o Canad á e com o trabalho volu ntário d os m e m bros d as p aróqu ias d e Rond ônia (SPELLMEIER, Relatório..., 1978, Arq. a p es. d e A. Sp ellm eier). Ele foi constru íd o em 1978 e abrigou tu rm as d e 1 a e 2 séries d o ensin o fu nd am ental, sob a d ireção d o Prof. Cat. Ad alberto Reinke (SPELLMEIER, Relatório..., 1977, Arq. p es. d e A. Sp ellm eier). Tanto a Escola Im igrante qu anto o CEI nu nca foram reconhecid os oficialm e nte p elo governo. Isso foi u m d os m otivos qu e p ôs fim ao p rojeto ed u cacional em Rond ônia. Era tam bém interesse d aqu eles qu e estavam envolvid os com o N ú cleo consegu ir u m a área d e terra p ara servir d e cam p o exp erim ental. A id eia era “ter u m lu gar ond e os jovens ficariam d u rante u m tem p o e term inariam o p rim ário, ficariam u m tem p o na fazend a, ficariam u m tem p o em casa, nesse jogo d e escola-trabalho” (SPELLMEIER, 2000). Schach d iz: “Sonhávam os com u m a escola agrícola p ara os filhos d os agricu ltores” (SCH ACH , 2001). Foi com esse interesse qu e Schach e Em ílio Boone, o então p resid ente d a p aróqu ia, foram ao escritório d a Colonizad ora Itap oranga (SCH ACH , 2001). Pronto, a partir d aquele dia, a nossa igreja luterana tinha a d oação d e m il hectares d e terras em Espigão d o Oeste a um pouco m ais d e 20 Km d a sed e d a cid ad ezinha, d oad os para serem um cam po experim ental, um a fazend a para o cultivo agrícola e p ara a criação d e gad o. Com o local para construir o colégio agrícola, e a futura sed e d a igreja, recebem os, por d oação, d uas qu ad ras urb anas, na cid ad e d e Espigão d o Oeste, ond e, de fato, com eçam os a construir as pr im eiras salas d e aulas, um a resid ência para o professor Ad alberto Reinke, que era o d iretor d a escola. E assim se d eu o in ício a esse sonho. (SCH ACH , 2001).

Em hom enagem à colonizad ora, o nom e d ad o ao novo colégio qu e su rgiu em Esp igão d o Oeste foi Centro Ed u cacional Itap oranga. Ele “foi 104

criad o em p rincíp ios d e 1978 em favor d e tod o o p ovo trabalhad or” (JOREV, 1978, p . 12). O centro, conju gad o com a fazend a, foi id ealizad o com o objetivo d e treinar os filhos d os colonos em técnicas agrícolas. Os filhos ficariam 15 d ias no centro e 15 d ias na fazend a, no sistem a escola trabalho (SPELLMEIER, 2000). Em relação à fazend a, as p rim eiras m ed id as tom ad as foram d err u bar a m ata, form ar p astagem e consegu ir as m atrizes bovinas. O trabalho foi feito p or m ão-d e-obra volu ntária. Ao tod o, os m em bros contribu íram com m ais d e 500 d ias d e serviços na fazend a e no CEI (SPELLMEIER, Relatório..., 1877, Arq. p es. d e A. Sp ellm eier). Tod a com unid ad e d e Espigão d o Oeste foi organizad a em grupos d e fam ílias. Cham ávam os isso d e setores, os quais tinham em m éd ia d ez fam ílias cad a. Inicialm ente éram os d ezessete se tores. Tínham os convencionad o, na nossa igreja, na com unid ad e d e Esp igão d o Oeste, que cad a m em bro evangélico luterano d oaria um a sem ana d e seu serviço por ano para o colégio agrícola, para a fazend a agrícola. E o técnico agrícola Ad olfo Büttow d ava assistência e orientação. Ele já m orava em Espigão d o Oeste d esd e o início d o Cam pus Avançad o. (SCH ACH , 2001).

O gad o, qu e serviria d e m atriz, foi em p restad o p or Erno H einz, u m m em bro evangélico d e Montenegro, Rio Grand e d o Su l. Ele ced eu , p or 10 anos, 100 novilhas d a raça nelore e 5 tou ros registrad os. N o final d o p r azo, d everia ser d evolvid a ap enas a qu antia em p restad a (SCH ACH , 2001). Assim foi o início d o Centro Ed u cacional e d a Fazend a Agrícola em Ro nd ônia. Tod o o trabalho foi realizad o com m ão-d e-obra volu ntária, as terras foram d oad as, o gad o foi em p restad o. Tod a a com u nid ad e foi envo lvid a no p rojeto. Mas d eve ser frisad o qu e esse trabalho só com eçou a ser concretizad o p orqu e esteve encabeçad o p ela nova geração d e obre iros 99 com p rom etid os com u m a nova visão d e igreja . N as p alavras d e Schach : “Eu creio qu e faz p arte d o sonho qu e nós obreiros e m e m bros d a igreja tínham os nos p rim eiros anos, no m eio d e u m a selva am azônica, d e qu e o Evangelho não seja ap enas falad o, m as qu e ele seja d e fato ação” (SCH A-

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Spellem eier já havia tid o u m a experiência sim ilar no Rio Grand e d o Sul, na região d a grand e Santa Rosa, ond e trabalhou com o pastor. Essa experiência co nsistiu em incentivar um trabalho com unitário no qual os m em bros d oavam tem po d e serviço para o plantio e manutenção d e um sítio que proporcionaria à par óquia seu sustento. (SPELLMEIER, 2003).

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CH , 2001). Lam entavelm ente, a Fazend a Agrícola teve u m a existência 100 cu rta. Em 1981, ela foi vend id a e o p rojeto foi d esativ ad o . A experiência das equipes de trabalho: projetos UM A Ou tra grand e novid ad e exp erim entad a em Rond ônia foi as Equ ip es d e Trabalho. Desd e o início, a intenção era atend er as p essoas int egralm ente (SASS, 1999). Para isso, u m p astor ap enas era insu ficiente. Assim , as equ ip es foram id ealizad as d e form a qu e contassem com u m p astor, u m técnico agrícola e u m agente d e saú d e. Tod as as equ ip es foram financiad as com d inheiro d a A merican Lutheran Church (Igreja Evangélica Lu terana d a Am érica) d os EUA e os p rojetos ficaram conhecid os com o Equ ip es UMA (United M ission A ppeal; Ap elo Missionário Unid o) (SILVA, 1978 JOREV, p . 11). Ao tod o, foram qu atro equ ip es UMA qu e atu aram na região d e Rond ônia: Cacoal, Colorad o d o Oeste, Ariqu em es e Rolim d e Mou ra (SPELLMEIER, 2000). A p rim eira equ ip e foi m ontad a em 1975 p ara atend er a Paróqu ia d e Cacoal, qu e estava se constitu ind o (SPELLMEIER, carta, 13/ 05/ 1975, Arq. d a IECLB), e iniciou seu trabalho em janeiro d e 1976 (SPELLMEIER, Relatório..., 1976, Arq. d a IECLB). As p essoas qu e a com p u seram foram o P. João Artu r Mü ller d a Silva, recém -form ad o na Facu ld ad e d e Teologia, em São Leop old o, o técnico agrícola Ad olfo Bü ttow e, com o agente d e saú d e, Lenir Bü ttow . O casal Bü ttow m orava, até então, em Esp igão d o Oeste, ond e trabalhavam p ara o N ú cleo Avançad o d o Colégio Sinod al (JOREV, 1976, p . 7). A segu nd a equ ip e foi m ontad a em Colorad o d o Oeste em 1977. Oto e Ed na Ram m inger atu aram com o p astores, Wilm ar Lu ft era o técnico agrícola e a Irm ã Gerd a N ied , agente d e saú d e (SPELLMEIER, 2000). 101 Em 1979, d evid o a conflitos entre os obreiros , N ied foi transferid a p ara a equ ip e d e Ariqu em es. O p rojeto UMA d e Colorad o ficaria sem assistência na área d a saú d e até a im p lantação d e ou tro p rojeto d e saú d e com verbas d e Pão p ara o Mu nd o. O m éd ico Delm ar Pu rp er assu m iu esse p rojeto.

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A vend a d a fazenda e o fim d o projeto ed ucacional serão retomados m ais adian-

te. 101

N ão foi possível pesquisar as causas d esse conflito, portanto, apenas lem br am os com o um fato.

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A necessid ad e d e u m a terceira equ ip e, qu e se localizaria em Ar iqu em es, já estava send o estu d ad a em 1977 p or Arteno Sp ellm eier (SPELLMEIER, Relatório... 22/ 12/ 1977, Arq. p es. d e A. Sp ellm eier). Mas ela foi m ontad a som ente em 1979, qu and o Ariqu em es constitu iu -se em u m a p aróqu ia. Walter Sass assu m iu as fu nções p astorais. Gerd a N ied foi transferid a d e Colorad o p ara essa equ ip e. Ad olfo Bü ttow tam bém fora transferid o p ara Ariqu em es e su a esp osa d esligou -se d o p rojeto UMA. Com a transferência d ele p ara Ariqu em es, em 1979, o p rojeto UMA d e Cacoal ficou sem técnicos. Em Ariqu em es, Fried el Fischer (1981 – 1990?) assu m iu , em 1981, o p astorad o ao lad o d e Sass. Com a saíd a d e Sass, em 1984 (SASS, 1999), Fischer p erm aneceu sozinho no p astorad o. Em m ead os d a d écad a d e 1980, Leonor Schram m el (1985 – 1990?) su bstitu iria Bü ttow na coord enação d a área agrícola e a Irm ã Doraci Ed inger (03/ 1986 – 03/ 1993) su bstitu iria N ied , na saú d e. A ú ltim a equ ip e, p or su a vez, foi m ontad a em Rolim d e Mou ra, em 1981. O p astor qu e assu m iu essa p aróqu ia foi Inácio Lem ke. O m éd ico Delm ar Pu rp er atu ou algu ns m eses nessa equ ip e, m as d esligou -se d o trabalho. Posteriorm ente, assu m iu o p rojeto d e saú d e em Colorad o d o Oeste. Em 1981, a enferm eira Iracem a Lem ke assu m iu a área d a saú d e e p erm aneceu até 1990. A área d a agricu ltu ra ficou a cargo d e Vald ir W azlaw ick. Em 1985, Vald ir Lu ft assu m iu essa área, p erm anecend o até 1987. Além d a assistência local, as equ ip es UMA d esenvolveram cu rsos d e agricu ltu ra e saú d e em ou tras localid ad es d e Rond ônia. Em m ead os d e 1979, Gerd a N ied , Lenir Bü ttow , Ad olfo Bü ttow e Wilm ar Lu ft ficaram resp onsáveis p or realizar u m cu rso d e agricu ltu ra e saú d e em Ou ro Preto d o Oeste (Ata, 12-15/ 10/ 1978, Arq. d o Sín. d a Am azônia). Sobre as d ificu ld ad es d os p rojetos, Sp ellm eier d iz qu e não havia falta d e recu rsos financeiros, m as qu e o d ifícil era encontrar obreiros d isp ostos a esse trabalho. “Era m u ito d ifícil m ontar as equ ip es, p orqu e qu and o encontrava técnico agrícola, não encontrava enferm eira, qu and o encontrava enferm eiro, não encontrav a o p astor” (SPELLMEIER, 2000). Com o fim d o financiam ento d os p rojetos UMA p ela A merican Lutheran Church, os p rojetos foram encam inhad os p ara “Pão p ara o Mu nd o” 102 e p ara EZE . Veja, com o exem p lo, o caso d e Ariqu em es: “Gostaríam os d e com u nicar-lhes qu e com o início d o Projeto Saú d e e Agricu ltu ra Ar i102

Evangelische Z entralstelle für Entwicklungshilfe (Central Evangélica para o Serviço d o Desenvolvim ento). (TREIN, 2003).

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qu em es (...) o Leonor Schram m el e a Doraci Ed inger serão rem u nerad os p or este novo p rojeto e d eixam d e p ertencer ao p rojeto UMA a p artir d e 01 d e ju lho d e 1986” (FISCH ER, carta, 30/ 09/ 85, Arq. d o Dep ar. d e Diaconia). O novo p rojeto d ava continu id ad e ao trabalho anterior, m as p revia a instalação d e u m a área exp erim ental, na form a d e u m a p rop ried ad e m od elo. A id eia era exp erim entar u m a agricu ltu ra altern ativa, sem o u so d e ad u bos qu ím icos e d efensivos agrícolas. Para isso, tam bém se p rocu rou m anter u m intercâm bio d e inform ações com o Centro d e Aconselh am ento ao Pequ eno Agricu ltor (CAPA ) no Rio Grand e d o Su l. O p rojeto 103 foi totalm ente extinto em setem bro d e 1993 . M issão indígena Paralelam ente às equ ip es, tam bém foi realizad a a exp eriência d e u m trabalho com ind ígenas. O P. Schm eckel, p or ocasião d e su a visita a Rond ônia, já tinha alertad o a Direção d a Igreja , em 1972, p ara a necessid ad e d e u m fu tu ro trabalho entre os ind ígenas d a região (SCH N EIDER, carta, 21/ 06/ 1972, Arq. d a IECLB). Du rante a ocu p ação d e Rond ônia, o conflito fora inevitável, p ois os colonos ocu p aram as terras d os ind ígenas. Lori Altm ann (08/ 1978 – 11/ 1980) e Roberto Zw etsch (08/ 1978 – 11/ 1980) relatam qu e, em Esp igão d o Oeste, os Su ru í “foram confinad os a u m p equ eno p ed aço d e terra na p eriferia d a vila e lá viviam em estad o d e m iséria, ap rend end o d esd e logo a m end igar, e send o objetos d e u m a hip ócrita carid ad e cristã d aqu eles qu e antes lhes u su rp aram as terras” (ALTMAN N ; ZWETSCH , 1980, p . 49). Os p om eranos qu e se fixaram naqu ela região constantem ente reclam avam ao P. Schach qu e os ind ígenas tinham invad id o a su a lavou ra e rou bad o su a p lantação (SCH ACH , 2001). Ou tro grand e choqu e cu ltu ral fora a qu estão d a nu d ez. Sch ach d iz: Às vezes, a gente estava no m eio d o culto, em Espigão d o Oeste, e vinham d ois, três, quatro índ ios e índ ias totalm ente nus, entravam na igrejinha e paravam no fund o d o corred or, naquela exclam ação, que na época a gente ou via d eles: “uh, uh!” Faziam aquele “uh” d e ad m iração pelo que estava acontecend o. E d aí a gente seguia norm alm ente com tod o o culto, os índios saíam , pois eles não entend iam nad a. A gente não entend ia a língua d eles, nem eles a nossa. Só que d epois vinha o problem a quand o as pessoas d iziam : “Tem os

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(Ata, 04/ 1986, Arq. d o Sín. d a Am azônia). N ão será possível trabalhar o d esenrolar d esse projeto neste livro.

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que acabar com essa pouca vergonha, esse problem a, esse atentad o ao pud or, esses índ ios pelad os na Igreja”. A gente d izia: “Mas não tem nad a errad o nisso, eles sem pre viveram assim , portanto, pra eles, é coisa m ais natural, nós é que estam os m aliciand o”. Assim com prei a m aior briga com a “m ulherad a” d a com unid ad e d e Espigão d o Oeste. Elas d iziam : “Até o p astor está acobertand o essa porcaria, essa sujeira, essa imoralid ad e, está d efend end o essas...” Usavam tud o quanto é nom e d epreciativo. (SCH ACH , 2001).

Com o os m em bros d a IECLB estavam em choqu e cu ltu ral com os Su ru í, o Coord enad or d o Dep artam ento d e Migração, Arteno Sp ellm eier , tom ou a d ecisão d e contratar, em 1976, Arnild o Wied em ann (1976 – 1977?), qu e já atu ara com os N am biqu ara e Erikbaktsa no Mato Grosso, p ara trabalhar com o enferm eiro ju nto aos Su ru í (ALTMAN N ; ZWETSCH , 1980, p . 28, 49). N o JOREV (1976, p . 2), essa notícia ap areceu com o títu lo: “A s Experiências de um Jovem Indianista”, qu e tam bém traz u m relato d a vid a d e Wied em ann. Com isso, bu scava-se ap azigu ar os conflitos entre ind ígenas e im igrantes (SCH ACH , 2001). A id eia era am enizar a revolta d os índ ios e p assar aos colonos o com p rom isso m ission ário qu e d everiam ter em relação aos ind ígenas; m as n ão era u m p rojeto m u ito refletid o, antes u m a op eração d e em ergência. Sobre isso, Schach com enta: Então, esses choques fizeram com que a gente refletisse, com o C oord enad or d o Departam ento d e Migração, Arteno Spellm eier , quand o ad otam os um a prim eira solução. Isto surgiu lá pelo ano d e 1976, não sei m ais bem , ond e o Arnild o Wied em ann veio, então, com o enferm eiro, m as na verd ad e a enferm agem era só um prete xto. Ele passava lá as águas oxigenad as usava m erthiolate, p assava um a pom ad inha nas ferid inhas d os índ ios e eles respeitavam m uito isso. Então, essa am izad e que o Wied em ann fazia com os índ ios fazia tam bém com que a com unid ad e d os brancos luteranos tivessem a certeza d e que a nossa igreja está fazend o m issão com os índ ios e que, com o tal, havia u m relativo clim a d e convivência pacífica e ntre brancos e índ ios. Mas a igreja, com o um tod o nunca tinha assim um a id eia m ais concreta na questão d a m issão com os índ ios. (SCH ACH , 2001).

A consciência crítica em relação ao modelo de desenvolvimento governamental O segu nd o p eríod o, qu e inicia em 1979, aind a não tem u m a d ata p osterior qu e p ossa servir com o d elim itad ora. Esse trabalho fixou o ano d e 1987, p orqu e a p artir d esse ano, a Coord enação d as N AC d eixou d e existir, d ivid ind o-se em d ois d istritos – DERN (Distrito Eclesiástico Regional N oroeste) e DEMT (Distrito Eclesiástico Mato Grosso) – e enqu ad rand o-se na estru tu ra d a IECLB. O ano d e 1986 foi o tem p o d e transição. Os d ois d istritos foram fu nd ad os e organizad os nesse ano, m as os p asto109

res d istritais som ente assu m iram as fu nções resp ectivas a p artir d o início d o ano segu inte. O p rim eiro “Concílio d as p aróqu ias d e Rond ônia, Acre , Ju ína e trabalho ind ígena” realizou -se nos d ias 10 e 11 d e abril d e 1986. N esse Concílio, organizou -se a estru tu ra eclesiástica d o d istrito, elegend o Rosem ar Ahlert (07/ 1982 – 06/ 1990) p ara p astor d istrital e Fried el Fischer p ara vice (Ata, 10-11/ 04/ 1986, Arq. d o Sín. d a Am azônia). O Concílio d o d ia 3 d e m aio d e 1986 em Rond onóp olis criou o DEMT, elegend o, p ara p astor d istrital, Gerd Uw e Kliew er e, p ara vice, Teobald o Wie tter (Encam inham ento..., 26-28/ 09/ 1986, Arq. d a IECLB). O Coord enad or d as N AC, H ans Trein, ficou trabalhand o até fevereiro d e 1987 (TREIN , 2003). Os anos d e 1978 e 1979 m arcam p rofu nd as m u d anças no trabalho d a IECLB em Rond ônia. N esse p eríod o, há u m a m u d ança no qu ad ro d e obreiros d e Rond ônia. Os p rim eiros p astores qu e trabalharam em Rond ônia, Gerald o Schach e João Artu r Mü ller d a Silva, foram transferid os p ara ou tros Estad os. Schach foi p ara Cu iabá, no Mato Grosso, e Silva p ara o Rio Grand e d o Su l. Ou tra grand e m u d ança ocorreu em fevereiro d e 1979 qu and o a Coord enação d as N AC foi transferid a p ara Cu iabá, no Mato Grosso. Agora a Coord enação estava d entro d os lim ites geográficos d as N AC, o qu e facilitava o trabalho e d ava u m com p rom isso m aior com a realid ad e local. Os novos obreiros, recém -form ad os, trou xeram p ara o cam p o d e trabalho novos p osicionam entos teológicos qu e estavam send o d iscu tid os 104 na Facu ld ad e d e Teologia e na IECLB com o u m tod o . H erd eiros d o p osicionam ento social d a Igreja e d a Teologia d a Libertação, qu e estava 105 send o refletid a na Facu ld ad e d e Teologia , p osicionavam -se p oliticam ente ao lad o d os p obres e op rim id os. “A neu tralid ad e se nos torna i m p ossível (Rm 12.9-21). Som os cham ad os a tom ar p artid o”, reza o d ocu m ento N ossa Resp onsabilid ad e Social. Pau lo Daenecke, p or su a vez, d iz qu e eles liam qu ase qu e exclu sivam ente livros d a Teologia d a Libertação. Ugo Assm ann, Gu stavo Gu tiérrez, Leonard o Boff, Clod ovis Boff, Carlos

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Essa afirm ação não d eve ser entend id a rad icalm ente, d e form a que possa ser feito um corte d e um antes e um d epois. N a história, as rupturas não d eixam d e ter continuid ad e. Além d isso, as id eias acontecem na longa d uração (Veja intr od ução). Assim , lem bra-se aqui que Silva lia, d urante seu períod o d e trabalho em Rond ônia, pensad ores d a Teologia d a Libertação. (SILVA, 2003). 105

Com o foi visto acim a, em m ead os d a d écad a d e 1970, foi elaborad o o d ocum ento N ossa Responsabilid ad e Social e a série Proclam ar Libertação com eça a ser ed itad a.

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Mesters e Pau lo Freire estavam entre os p rincip ais au tores lid os (DAEN ECKE, 2003; SPELLMEIER, 2003; TREIN , 2003). Teologicam ente, o servir (Mc 10.35-45) e o esvaziar-se (Fp 2.5-11) m oviam a p rática d os obreiros qu e trabalharam em Rond ônia. N esse sentid o, Sp ellm eier escreveu u m relatório p ara o ECAM d e 1978 no qu al ele faz u m a avaliação d o trabalho nas N AC. Ao final, ele conclu i: “Pr op onho a vocês p ara refletirem em su as fam ílias (...) e com seu s m e m bros u m „esvaziam ento‟, u m a op ção p ela sim p licid ad e, tanto no qu e se refere ao nosso m orar, com o no qu e se refere ao nosso vestir e viver” (DEPARTAMEN TO DE MIGRAÇÃO, relatório, 197, Arq. p es. d e A. Sp ellm eier). H ans Trein com enta: “N o fu nd o, eu p enso qu e o p onto d e p artid a teórico qu e se tinha através d os m em bros d a Igreja é d e ser u m a célu la d e irrad iação d o Evangelho, servir, ser sal naqu ela socied ad e nova qu e estava se constru ind o ali” (TREIN , 2003). Os tem as centrais d esse p eríod o foram a qu estão d a d im ensão d a saú d e integral, d o sacerd ócio geral d e tod os os crentes, a qu estão d a terra e d a m igração, d a p olítica e, tam bém , a qu estão ind ígena (DAEN ECKE, 2003). N as ativid ad es voltad as p ara a saú d e, d iscu tiam -se as d im ensões econôm icas e sociais com o cau sad oras d e enferm id ad es. “A saú d e ou a d oença não m ais com o u m a fatalid ad e, m as sim com o u m a exp ressão física d o bem estar ou d o m al estar social” (TREIN , 2003). Dep end end o d o acesso a u m a boa alim en tação e d o tip o d e trabalho, as p essoas ficavam m ais su scetíveis ou não às d oenças (TREIN , 2003). Por falta d e obreiros qu e p u d essem assistir as fam ílias d isp ersas e d istantes, bem com o p or cau sa d a bu sca p or u m a form a alternativa d e ser igreja em Rond ônia, o sacerd ócio geral foi incentivad o e p rom ovid o d esd e o início. H ans Trein d iz: Então, d eterm inad as tarefas, com o culto infantil, ensino confirm atório, grupo d e juventud e, se fosse pro pastor sair d a sed e, cad a vez, pra fazer isso nas d iferentes com unid ad es, prim eiro, ele não ia agüentar, segund o, a paróquia não ia conseguir cobrir os custos e isso significaria, então, um d os outros tem as foi: nós temos que form ar gente, nas d iferentes com unid ad es, que possam atend er e sse tipo d e trabalho, cu lto infantil, ensino confirm atório. Inclusive, d e vez em quand o, até d e pod er realizar um enterro. (TREIN , 2003).

Os Cu rsos d e Orientad ores Ru rais (COR), qu e iniciaram em 1978, tinham fortem ente p resente essa d im ensão d o sacerd ócio geral. Eles foram , em síntese, u m a form a d e cap acitação e ap erfeiçoam ento d as lid eranças. N esse sentid o, Daenecke afirm a qu e eles serviram com o u m fó111

ru m d e d iscu ssão d a nova p ostu ra d a Igreja em Rond ônia (DAEN ECKE, 2003). Mas a qu estão d o sacerd ócio geral não era ap enas u m a d iscu ssão d e form ação d e leigos p ara o trabalho na com u n id ad e. Em Rond ônia, essa qu estão foi fortem ente d iscu tid a a nível teológico, bem com o os obreiros p rocu raram cobrar d a IECLB u m a p osição oficial. Assim , os técn icos qu e trabalharam em Rond ônia reu niram -se nos d ias 5 e 6 d e d ezem o bro d e 1986 em Rolim d e Mou ra p ara o “1 Encontro d os Missionários Leigos d a IECLB na Região d a Am azônia” com a finalid ad e d e d iscu tir a situ ação d o m ission ário leigo na Igreja. Escreveram u m a carta qu e foi p u blicad a no JOREV d e m aio d e 1987 com o títu lo “Técnicos qu e atu am nas N ovas áreas tam bém se consid eram m issionários”. O teor d a carta reivind ica o reconhecim ento d o sacerd ócio geral. Veja os p ontos qu e eles p ond eram : a) Sentim os, na prática, que não som os reconhecid os com o obreiros m issionários d a IECLB, m esmo que estejam os engajad os em trabalhos d essa natureza; b) nosso trabalho está incluso nas priorid ad es estabelecid as pela IECLB – questão ind ígena, ed ucação, ação m issionária em favor d os em pobrecid os (sem -terra, m igrantes...) – e sem pre coerente com a m ensagem d o Reino (Marcos 1.14). Apesar d isto, tod o nosso esforço e empenho não é valorizad o e, conse quentem ente, não o som os com o pessoas m issionárias; c) (...) nos é im posto um atrelam ento à visão d o pastor, restringind o a nossa atu ação. Ex.: o pastor, via d e regra, é o coord enad or d os projetos; d ) p ela prática d a nossa instituição, é transparente a preferência pelo r econhecim ento tão som ente d e pastores com o m issionários, tend o estes total apoio juríd ico, financeiro e institucional. Convém le m brar que existem técn icos atu and o em áreas específicas (catequistas, enferm eiras, técnicos agrícolas, agrônom os, assistentes com unit ários, ind igenistas, d iaconisas), que tam bém fazem parte d o sacerd ócio geral d e tod os os crentes. N ós, os m issionários, igualm ente som os m issionários d a IECLB, porque som os luteranos e porque entend em os que m issão acontece quand o: 1) Cad a um em sua área específica, d e acord o com sua incum bência e possibilid ad e, respond e concretam ente ao cham ad o d as com unid ad es oprim id as e com elas luta para rom per essa situação, contribuind o para a pr esença, aind a que incom pleta, d o Reino d e Deus, d e um a nova just iça, d e um a nova socied ad e; 2) a presença m issionária contem pla a pessoa hum ana, o seu contexto e as inter -relações econôm icas, sociais e políticas entre hom ens. (JOREV, 1987, p. 16).

Sobre a qu estão d a terra, H ans Trein lem bra qu e o p rim eiro p osicionam ento d a Igreja era tentar acom p anhar os m em bros e assentá-los nas m elhores terras. Mas, no final d a d écad a d e 1970 e na d écad a segu inte, esse p osicionam ento m u d aria significativ am ente.

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Então, num a certa altura d o cam peonato, ficou m uito claro que a colonização, assim com o ela estava send o executad a, (...) não era um a ativid ad e d e assentam ento ou re-assentam ento d e agricultores, (...) m as, no fund o, era um com ércio d e terra . (...) Foi quand o a gente com eçou a entend er que o problem a er a bem m ais fund o, d e estrutura fund iária. Ao m esm o tem po em que, no Sul, estavam aum entand o o núm ero d e latifúnd ios, (...) ao m esm o tem po em que sobra gente no Sul, que tem que m igrar, aum enta o núm ero d e lat ifúnd ios. Quer dizer, há um processo d e reconcen tração d e terra no Sul que é responsável pela expulsão, d o êxod o rural ou d a ocup ação d e novas fronteiras agrícolas. De m od o que a gente com eçou a perceber que colonização não é reform a agrária (...). Ela é contra a reform a agrária. Por m ais absurd o que pareça, ali ond e tem estrad as, ond e tem hospitais, ond e tem escolas estão aum entand o os latifúnd ios, o núm ero d e latifúnd ios. E ali ond e nad a d isso tem , ond e está tud o inóspito aind a o pessoal tem que enfrentar a falta d e e strad as, carregar saco d e arroz nas costas (...). Ali ond e estão grassand o a m alária e a leishm aniose e outras d oenças, febre am arela e assim por d iante, ond e não tem hospitais e atend im ento, ali as pe ssoas d evem ir. Enquanto que, no lugar ond e tem tod a essa infra estrutura, o latifúnd io está aum entand o. Então, a gente p ercebeu que isso não está certo. Esse eu acho que foi um d os grand es pontos ond e que a gente foi d esafiad o a refletir teologicam ente. (TREIN , 2003).

Em ju nho d e 1979, a Com issão Pastoral d a Terra (CPT) realizou u m sim p ósio sobre m igrações em Cascavel-PR. A IECLB p articip ou oficialm ente através d a Coord enação d as N AC. Veja o qu e exp ressa u m d os p arágrafos d o d ocu m ento qu e o sim p ósio p rod u ziu : As igrejas, quer católicas, quer protestantes, são organizações concretas e, com o tais, inserem -se no jogo d e forças d e expulsão ou fixação d o hom em na terra. Pod em continuar ignorantes, m as não retirad as d a realid ad e que am eaça a sobrevivência d e m ilhões d e brasileiros. Felizm ente, m ovidas por um a fid elid ad e ao Evangelho, as igrejas estão encontrand o forças para “trocar d e lad o”, optand o pelo oprim id o, pelo sem terra e sem rum o. (CPT, 1979).

Em resp osta a esse sim p ósio, os obreiros d e Rond ônia envolveram se na criação d a CPT d o Estad o. Pau lo Daenecke envolveu -se na coord enação d a CPT em 1979 (Ata, 21-22/ 10/ 1979 Arq. d o Sín. d a Am azônia). Em 1981, assu m iria o cargo n ovam ente (DAEN ECKE, 2003). Por ocasião d a p rim eira Rom aria d a Terra em Rond ônia, qu e se realizou em Ji-Paraná no d ia 20 d e ju nho d e 1987, Inácio Lem ke era o vice-p resid ente d a CPT (JOREV, 1987, p . 15). Sobre a p articip ação d os obreiros na CPT, o P. Fried el Fischer, ocu p and o o cargo d e d istrital, escreve em 1989:

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Por parte d os obreiros/ as d a IECLB houve, d esd e a criação d a CPT-Regional/ RO no início d os anos 80, um a forte colaboração com a CPT. A equipe d a CPT-Regional/ RO, atualm ente, está com posta por três luteranos e três católicos, o que d em onstra seu car áter ecum ênico. (...) Aqui, no Estad o d e Rond ônia, as Paróquias d a IECLB são convid ad as p/ CPT e participam através d e seus repr esentantes em reuniões, assem bleias etc. (FISCH ER, carta, 26/ 05/ 89, Arq. d o Sín. d a Am azônia).

Lem bra Sp ellm eier qu e o envolvim ento na organização d os p equ enos agricu ltores, sind icatos e CPT rend eu p ersegu ições p olíticas aos obreiros d a IECLB em Rond ônia. O caso m ais m arcante foi o “Conflito d a Fazend a Cabixi” em Colorad o d o Oeste, em m aio d e 1982, ond e m orr eram u m p osseiro, d ois p istoleiros e a m u lher d e u m d os p istoleiros. Oto Ram m inger, p astor em Colorad o, Olavo N ienow (1979 – 09/ 1984), qu e trabalhava no Projeto d e Ap oio ao Migrante, financiad o p or Pão p ara o Mu nd o, José Barbosa, líd er d os p osseiros, Francisco Cezário, líd er sind ical e 34 p osseiros foram p resos. Ram m inger, N ienow e Cezário foram enqu ad rad os com o au tores intelectu ais. O caso som ente foi encerrad o em m aio d e 2001, qu and o os ú ltim os acu sad os, d entre eles Ram m inger e N ienow , foram absolvid os. As p risões tiveram u m caráter em inentem e nte p olítico. “H avia a clara intenção d e incrim inar p essoas qu e p restavam algu m tip o d e ap oio aos sem terra d a ép oca”, afirm am Ram m inger e N ienow (Carta circu lar, 21/ 05/ 2001). Os acu sad os consegu iram habeas corpus e foram libertad os d ep ois d e 34 d ias d evid o a d iversas p ressões e m anifestações d e líd eres eclesiá sticos e p olíticos (RAMMIN GER; N IEN OW, Carta circu lar, 21/ 05/ 2001). N esse sentid o, em 16 d e ju lho d e 1982, reu nid os em São Leop old o p ara u m sem inário d e estu d os, 55 p astores assinaram u m a carta d irigid a ao ju iz d a Com arca d e Vilhena, na qu al exp ressavam seu p osicionam ento, ind ignação e cobravam d a Ju stiça a resolu ção d o caso. N a carta, arrolaram sete p ontos, exp ressand o: 1) N ossa solid aried ad e irrestrita aos posseiros, ao representante d os sind icatos e aos obreiros d a igreja; 2) nosso repúd io às prisões injustas que gerou os conflitos em Colorad o, ond e pessoas foram m ortas; 3) nosso repúd io às prisões injustas d e que foram vítim as os acim a m encionad os; 4) nossa reivind icação d e que os ind iciad os sejam d eclarad os inocentes, porque, d e fato, o são; 5) nossa esp erança d e que o pastor Oto e o professor Olav o possam continuar a d esem penhar livrem ente seu m inistério pastoral com unitário; 6) nosso d esejo d e que os posseiros recebam a garantia d a terra para nela trabalhar e viver, livres d e tod a e qu alquer am eaça ou pers eguição; 7) nossa estranheza pelo não ind iciam ento d os funcionários

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d a fazend a Cabixi envolvid os no incid ente, bem com o d e seus m and antes. (PASTORES, carta, 16/ 07/ 1982, Arq. d a IECLB).

A venda da Fazenda A grícola e o fim do projeto educacional Em 1979, Schach d eixou à d isp osição o seu cargo d e p astor na Paróqu ia d e Pim enta Bu eno (Paróqu ia, carta, 28/ 11/ 1978, Arq. d a IECLB). Por u m p eríod o d e 8 m eses (29/ 12/ 1978 à 31/ 08/ 1979), Erno Jú lio Dieter (12/ 1978 – 08/ 1979) assu m iu os trabalhos d a com u nid ad e. Mas foi o P. Pau lo Au gu sto Daenecke (07/ 1979 – 02/ 1981) qu em assu m iu d efinitiv am ente a Paróqu ia. Infelizm ente, a trajetória d o P. Daenecke não seria m u ito p acífica, nem m u ito d u rad ou ra. Segu nd o a ata d o Conselho Par oqu ial d e 4 d e abril d e 1981, “com a saíd a d o Pastor Gerald o d a p ar óqu ia, d eu -se u m a reviravolta, p ois o Pastor Erno e d ep ois o Pastor Pau lo est avam p raticam ente p or fora d o assu nto d a fazend a” (Ata, 04/ 04/ 1981, Arq. d a Com . d e Esp igão). E, na ocasião em qu e Daenecke era p astor em Esp igão d o Oeste, grileiros entraram na fazend a. Para tirá-los d e lá, fez-se necessária a intervenção d a p olícia. Em ílio Boone teria p ed id o a reint egração d e p osse na Ju stiça e a p olícia, vind a d e Ji-Paraná, cu m p riu a ord em ju d icial (BOON E, 2001). O p astor, inconform ad o com a situ ação, tem atizou essa qu estão na p réd ica d o d om ingo segu inte, p osicionand o-se a favor d os p osseiros. A consequ ência foi u m a revolta geral qu e term inou com a d em issão d o p astor no final d e 1980. O Conselho Paroquial fez um a votação para ver se o pastor Paulo fica ou não. O resultad o d a votação foi d e 23 (vinte e três) para o pastor ir em bora e 1 (um ) voto para ficar. Ficou resolvid o então que o pastor vai em bora e o d ireito d o uso d o carro fica com o catequista N ilo José Klitzke [01/ 1981 – 07/ 1982], que a partir d esta d ata fica responsável sobre o serviço pastoral d esta p aróquia. (Ata, 05/ 11/ 1980, Arq. d a Com . d e Espigão).

Daenecke (2003) confirm a qu e, em seu trabalho p astoral, a fazend a não era p riorid ad e e qu e não via sentid o p ara a Igreja p ossu ir u m a área d e terra d essa envergad u ra. Tam bém confirm a ter p osicionad o-se a favor d os p osseiros qu e entraram na fazend a. Diz qu e, no cu lto em q u e trou xe esse assu nto, hou ve u m a d iscu ssão violenta, p ois Ad alberto Reinke e Em ílio Boone qu e cu id avam d a fazend a interrom p eram a p réd ica e d iscu tiram com ele. Esse p osicionam ento d e Daenecke é fru to d a nova d iscu ssão teológica qu e iniciara na Igreja em p rincíp ios d a d écad a d e 1970. Pr ofu nd am ente com p rom etid o com a Teologia d a Libertação, não p od eria p osicionar-se favorável ao latifú nd io. Enqu anto crescia a consciência d e u m a reform a agrária, enqu anto os sem terra se organizavam , enqu anto a

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CPT se estru tu rava, tornava-se u m a contrad ição im ensa a Igreja p ossu ir u m a fazend a. Veja o qu e Daenecke d iz a esse resp eito: Quer d izer, tod a essa questão d a busca por um a justiça em term os d e um a reform a agrária, reform a agrícola. E a gente não via isso d esvinculad o. N aquela hora, acho que, realm ente, nós não tính am os esta preocupação d e ver que isso tinha sentid o pra igreja, com o trabalho ou coisa assim . Era um a coisa que a gente não p ercebia útil. E d entro d o contexto tam bém , se d e fato se pensava, quer d izer, qual a utilid ad e, pra que um a área d e terra pra igreja, coisa assim . Pra nós isso era secund ário, d igam os, um a questão não tão v ital, ter ou não ter um a área d e terra. (DAEN ECKE, 2003).

Esse foi o p rim eiro m otivo. O segu nd o, m as qu e vem em d ecorrê ncia d esse, foi a d esistência d os m em bros em contribu ir em favor d o p rojeto. Ap esar d os m em bros terem se engajad o nos m u tirões, não se conve nceram com p letam ente d a im p ortância e d a necessid ad e d esse p rojeto. Assim , qu and o o p astor Daenecke se p osicionou contra a fazend a, atingiu em cheio a d isp osição d os m em bros. Schach lem bra: Quem conhece a com unid ad e d os pom eranos luteranos vind os d o Estad o d o Espírito Santo, sabe que eles, ao m enos naquela época, eram m uito fiéis à igreja e ao m esm o tem po m uito d epend entes d a autorid ad e d o pastor. O pastor prega a p alavra d e Deus. O pastor é um a grand e autorid ad e. E, se chega um pastor e d iz que é pecad o a igreja ter terra, eles acred itam . (SCH ACH , 2001).

Um terceiro m otivo qu e se p od e arrolar foi a qu estão financeira. A Paróqu ia tinha feito u m a d ívid a m u ito grand e com a Direção d a Igreja p ara a m anu tenção d a fazend a e, som ad a a isso, vinha a necessid ad e d e fazerem novos investim entos. Assim , os m em bros qu e já ap resent avam u m claro d esinteresse em continu ar com a fazend a, com m ed o d e não consegu irem sald ar a d ívid a e p ressionad os p ela p resença d o P. Presid e nte Ernesto Ku nert e d o Secretário Geral Rod olfo Schneid er nu m a reu nião d o Conselho Paroqu ial realizad a no d ia 7 d e m arço d e 1981, d ecid iram vend er, d efinitivam ente, a fazend a (Atas, 04/ 04/ 1981, 07/ 03/ 1981, Arq. d a Com . d e Esp igão). Em ílio Boone, qu e tinha se oferecid o p ar a ad qu irir 106 a área d e terra, acabou p or com p rá-la .

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A questão d a vend a d a fazend a não será porm enorizad a. Existem m uitas co ntrad ições a esse respeito e, aparentem ente, algum as pessoas tiraram pro veito nessa transação.

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H ou ve aind a algu m as tentativas d e reap roveitar o CEI p ara ou tras ativid ad es, m as, a longo p razo, o p rojeto foi send o esqu ecid o. Qu and o lem brad o d esse tem a, Schach fala com m u ito p esar: Eu d evo d izer que foi um a grand e perd a, um grand e sonho e u m grand e projeto foi frustrad o por falta d e visão, por falta d e plan ejam ento e d e cap acid ad e ad m inistrativa, e o que é pior, por falta d e am or e d e respeito pelo sonho e pelo trabalho honesto e sacrificad o d e tod a um a com unid ad e. (SCH ACH , 2001).

Sentid o p elo fracasso d o p rojeto, Sp ellm eier d esabafa: A partir d o m om ento em que a fazend a estava m orta, a id eia d a escola estava m orta, então, d eixou d e existir pa ra m im . Eu p essoalm ente achei que foi um a pena, acho que foi um a pena que a gente não teim ou, não continuou, não tentou realizar aquela id eia d e criar um a escola-trabalho. (SPELLMEIER, 2000).

Demais trabalhos alternativos realizados em Rondônia Em Rond ônia, além d a Escola Im igrante, d a fazend a agrícola e d as equ ip es UMA, tam bém foram criad os ou tros p rojetos d e ed u cação e d esenvolvim ento. Por exem p lo, Walter Sass conta qu e consegu iam financiam ento p ara constru ir várias casas d e farinhas qu e au xiliariam na rend a d e seringu eiros e ribeirinhos (SASS, 1999). Tam bém foi d esenvolvid o o p rojeto Escola d a Vid a em Ariqu em es qu e consistia em u m a esp écie d e internato ond e as filhas d os agricu ltores p u d essem ficar enqu anto estivessem estu d and o na cid ad e. A id eia era m anter u m a vid a com u nitária, ao m esm o tem p o em qu e viabilizasse a op ortu nid ad e d e continu id ad e nos estu d os. As Irm ãs Ald a Sp rand el, (02/ 1982 – 12/ 1984) e Elli Em m a Stoefel trabalharam nesse p rojeto. Entrem entes, qu erer-se-á aqu i ap rofu nd ar ap enas os d ois p rojetos qu e foram m ais significativos p ara o p ovo rond oniense: os COR e o Projeto Vacas. Os COR fu ncionaram d e 1978 até 1983 (AH LERT, carta, 28/ 03/ 1983, Arq. Sín d a Am azônia). Eles foram realizad os no CEI em Esp igão d o Oeste. Eram cu rsos sem anais qu e visavam form ar e qu alificar lid eranças. “Foram p lanejad os não p ra p r ofissionalizar jovens, m as p ra d ar instru m entos p ra jovens p od erem aju d ar ou tras p essoas” (SPELLMEIER, 2000). Foram organizad os p ara: o

1 Aprofund am ento d e conhecim entos em agropecuária, saúde públio ca e vida comunitária; 2 Aprofund am entos d e conhecim entos ped ao gógicos; 3 Aprofund am ento d e conhecim entos políticos; e objetiva form ar “orientad ores rurais” em agro-pecuária, saúde e vida comuni-

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tária [grifo m eu]. (SPELLMEIER, Relatório..., 1977, Arq. pes. d e A. Spellm eier).

Portanto, os COR tinham três áreas básicas nas qu ais p rocu ravam form ar os agricu ltores: agro-veterinária, saú d e e vid a com u nitária. Com o exem p lificação, Veja qu ais foram os tem as centrais d o p rim eiro COR: N a área d e vid a com unitária, abrangend o pregação e catequ ese, foo o ram estud ad os e refletid os os seguintes textos: 1 Coríntios 12; 1 Coríntios 11 (a liberd ad e cristã); Mateus 28. 18ss e outros (batism o); Tiago 5.13ss e outros (o d om d e curar hoje); Lu cas 15.3-7; Lu cas 14.15-23. N a área d a saúd e, tend o em vista especialm ente a p arteira leiga, foram estud ad os e refletid os os seguintes tem as: Deveres, d ireitos e lim itações d as parteiras; o corpo hum ano; noções d e higiene para a gestante e a criança; verm inose e outras d oenças end êm icas d a região; fecund ação e form ação d a criança; m étod os anticoncepcionais; sintom as d e gravid ez; d everes d a gestante; o p arto; situação d a saúd e no T. F. Rond ônia; cuid ad os com o recém -nascid o; vacinação. N a área d a agro-veterinária, foram estud ad os e refletid os entre outros os seguintes tem as: N a bovinocultura – d oenças d a região, suas causas, sintom as e tratam entos; instalações; castrações; fecund ação e form ação. N a suinocultura – d oenças d a região, suas causas, sintom as e tratam entos; instalações; castrações; fecund ação e form ação. (SPELLMEIER, Relatório..., 1978b, Arq. pes. d e A. Spellm eier).

O p rim eiro COR foi realizad o entre os d ias 16 e 29 d e ju lho d e 1978, p or ocasião d a inau gu ração d o CEI. Para esse cu rso, ficou estabelecid o qu e p articip ariam , no m áxim o, “45 agricu ltores, send o qu e 15 na área d a Saú d e e H igiene, 15 na área Agro-p ecu ária e 15 na área Vid a Com u nitária”. Ao tod o, p articip aram 35 p essoas d e d iferentes d enom in ações, católicos, ad ventistas e lu teranos (SPELLMEIER, Relatórios..., 1978a, 1978b Arq. p es. d e A. Sp ellm eier). Sobre o relacionam ento com as ou tras igrejas, Sp ellm eier d iz: Com as outras igrejas, era m ais d ifícil o relacionam ento, porque a partir d o m om ento que a gente se relacionava com a Igreja Católica, tinha d ificuld ad es com o resto. Porque o resto estava m uito, a ssim , querend o se construir em cim a d os m em bros d a Igreja Católica. (SPELLMEIER, 2003).

N aqu ela ép oca, Élio Schefler, estu d ante d e teologia com form ação técnica em agrop ecu ária, esteve assessorand o o p rim eiro COR. Veja o qu e ele relata:

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Eu e o m éd ico Delm ar Purper viem os d e São Leopold o pra assessorar os cursos d os antigos COR em Espigão d o Oeste. N aquele tem po, o Centro Ed ucacional Itaporanga estava send o constru íd o, inclusive participei d a inauguração. N aquela época, foi feita a ina uguração d o Centro. E foi a m inha pr im eira viagem para Rond ônia, d e fato. Foi d e ônibus, estrad a, não tinha asfalto d e Cuiabá pra cá. Foi um a surpresa enorm e. Levam os d ois d ias na vind a e três d ias na volta, d epois. E aquele COR m e im pressionou. Eu , naqu ela ép oca, assessorei os prim eiros socorros na área d e zootecnia anim al e foi m uito interessante esses cursos d e castrações e d e prim eiros tratam entos, partos e socorros. (SCH EFLER, 2003).

As p assagens e d esp esas d os p articip antes d os COR eram p agas p or coletas, send o qu e a contribu ição d os p articip antes d ev eria ser d ad a em alim entação. Cad a região d everia trazer u m a esp écie d e alim ento. N o p rim eiro COR, ficou estabelecid o qu e os p articip antes qu e vinham d e Colorad o d o Oeste d everiam levar arroz e os d e Cacoal e Pim enta Bu eno levariam feijão, galinha, café e farinha d e m an d ioca (SPELLMEIER, Relatório..., 1978a, Arq. p es. d e A. Sp ellm eier). O fim d os COR está relacionad o com d ois fatores: 1) Algu ns p art icip antes não resp ond iam às exp ectativas d os id ealizad ores, qu anto à p articip ação e engajam ento nas com u nid ad es. Algu m as p essoas p rocu ravam a form ação com o form a d e se sobressair sobre as ou tras, fu gind o d o sentid o id ealizad o d e aju d a m ú tu a, d e com u nhão. 2) Os cu rsos estavam send o m u ito p aternalistas, p ois p agavam até as p assagens d os p articip a ntes. Isso, p ossivelm ente, geraria p roblem as nu m fu tu ro em qu e os cu rsos d everiam se m anter p or conta p róp ria. Veja o qu e Sp ellm eier conta sobre isso: O pessoal term inou com os COR, porque acha que as pessoas que as com unid ad es estavam m and and o não eram o pessoal idealizad o e porque a gente estava p agand o as passagens pro pessoal. (...) Mas era tud o colono lascad o. Então, a d ecisão foi, a gente vai agora tr abalhar nas bases e d aí vai ter com unid ad es m ais organizad as, m ais conscientes, e aí nós vam os com eçar com os COR d e novo, porque d aí vão ser m and ad os os caras certos. N unca m ais aconteceu nad a (...). (SPELLMEIER, 2003).

Em ou tra entrevista, ele tam bém com enta: Mas d aí tam bém o grupo term inou com esses cursos, porque era m uito p aternalista, porque a gente pagava até a passagem para o pessoal, o pessoal trazia alim entação, m as a gente pagava a pass agem , pois eles não tinham d inheiro. Então, o sonho era, quand o as com unid ad es estivessem bem organizad as, as com unid ad es m a nd ariam o seu pessoal. Com o as com unid ad es nunca se organiza-

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ram , nunca m and aram , nunca m ais aconteceram os cursos. Então se cortou u m a form ação, um a qu alificação d e pessoal, porque foi m íope d a parte d o nosso grupo, porque grand e parte d os líd eres, d as lid eranças, tanto d as com unid ad es quanto d os partid os políticos, com o d os sind icatos, eles nasceram d aqueles grupos qu e foram por nós qualificad os. Então houve m uita m iopia tam bém d entro d o nosso grupo. (SPELLMEIER, 2000).

O Projeto Vacas, p or su a vez, foi elaborad o p ara atend er as com u nid ad es m ais ao Su l d e Rond ônia e Ju ína, no Mato Grosso. Su a sed e era em Colorad o d o Oeste. Foi financiad o ecu m enicam ente p or d u as entid ad es: Pão p ara o Mu nd o e Miserior. A p rim eira é p rotestante e a segu n d a é católica. Sobre a elaboração d o p rojeto, H ans Trein com enta: “Era u m p rojeto m u ito interessante, sobretu d o, p orqu e ele não foi elaborad o na m esa d e escritório, m as foi elaborad o nu m p rocesso d e d ois anos ju nto com os fu tu ros atingid os p or esse p rojeto ou os fu tu ros beneficiários d o p rojeto” (TREIN , 2003). O antecessor d o Projeto Vacas foi o Projeto d e Ap oio ao Migrante, financiad o p or Pão p ara o Mu nd o. Olavo N ienow estava a cargo d ele. Através d esse p rojeto nasceu o Projeto Vacas. Os técnicos qu e trabalharam n o Projeto Vacas foram Wilm ar Lu ft e o engenheiro agrônom o Ed gar N ied erberger (1983 – 09/ 1984). Com o p rojeto ap rovad o, a p artir d e 1982, com eçaram a entrar as verbas. O p rojeto visava o d esenvolvim ento econôm ico d as fam ílias d e agricu ltores. Consistia d e u m d eterm inad o nú m ero d e vacas qu e foram d istribu íd as entre as fam ílias. Os técnicos d o p rojeto d everiam acom p anhar os colonos na assistência veterinária. Mas o p rojeto não qu eria ap enas ser d esenvolvim entista, ao contrário, visava a organização p olítica d os agricu ltores. Para atingir esse objetivo, três ou qu atro fam ílias g a107 nhavam u m a vaca qu e d everiam cu id ar e exp lorar a p rod u ção , form and o, assim , u m a m ini associação. A cad a gru p o d e 20 vacas, cabia u m tou ro, envolvend o, p ortanto, 60 a 80 fam ílias qu e d everiam estar envolvid as nu m a associação. A som a d e tod as as associações form aria u m a coop er ativa ou u m a associação m aior. A p rim eira cria d e cad a vaca d everia ser d evolvid a p ara ser rem etid a a ou tro gru p o d e fam ília. Assim , ao final d e qu atro anos, o p rojeto alcançaria a au to-su ficiência e p od eria ser entregu e à associação. N esse m eio tem p o, ele estava send o interm ed iad o p ela IECLB (TREIN , 2003). Os p astores resp onsáveis p elo and am ento d o p rojeto foram Ed na Ram m inger e Oto Ram m inger, p elo qu al recebiam d ois salá-

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Em Juína, era um a vaca para d uas fam ílias. (RAMMIN GER; RAMMIN GER, carta, 09/ 1984, Arq. d a IECLB).

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rios m ínim os (RAMMIN GER; RAMMIN GER, carta, 09/ 1984, Arq. d a IECLB). O Projeto Vacas entrou em crise em 1984. Instau rou -se u m conflito entre os técnicos e os p astores. Ap arentem ente, os técnicos qu eriam a ssu m ir o controle d o p rojeto e não qu eriam ser m ais tu telad os p ela Igreja e p elos p astores. Em si, essa au tonom ia estaria p r evista, m as som ente p ara d ali há u m ano (TREIN , 2003). O p rojeto tam bém enfrentou p roblem as d e m á ad m inistração, com o o controle d as vacas em p restad as, d o p atrim ônio e d e não p restação d e contas (Ata, 18/ 08/ 1984, Arq. d a IECLB). Os p astores estavam cobrand o u m a m aior com p etência e isso gerou ind ign ação nos técnicos. Bu scand o a au tonom ia, os técnicos entraram em conflito com os p astores e p assaram a fazer p rop agand a p ara qu e os p astores saíssem ou fossem exp u lsos d a p aróqu ia (RAMMIN GER, carta, 30/ 01/ 1984, Arq. d a IECLB). Com o não obtiveram êxito, nu m a reu nião d a d iretoria d a p aróqu ia no d ia 20 d e setem bro d e 1984, com u nicaram qu e estariam se d em itind o d o p rojeto (PARÓQUIA, carta, 02/ 1985, Arq. d a IECLB). Assim , o p rojeto entrou em crise. Com a finalid ad e d e d ar continu id ad e ao trabalh o, fora criad o u m a associação d enom inad a A108 PROVACA (Associação d o Projeto Vacas) qu e recebeu , em 1986, os bens d o Projeto Vacas com o herança (H OFMEISTER, carta, 12/ 09/ 1986, Arq. d a IECLB). N ovos rumos para a questão indígena Até a colonização d e Rond ônia, a IECLB não tinha u m trabalho exp ressivo p ara com os p ovos ind ígenas. H ou ve u m a exp eriência no Mato Grosso, na d écad a d e 1950, entregu e aos m issionários jesu ítas e u m a em Tenente Portela, em 1964, entre os índ ios Kaingang, p or iniciativa d o P. N orberto Schw antes qu e, na ocasião, atu ava nessa região (SCH WAN TES, 1989, p . 39). Essa m issão, conhecid a com o Gu arita, segu iu o cam inho trad icional d as m issões cristãs na Am érica Latina: visava integrar o p ovo ind ígena na socied ad e envolvente e convertê-los ao cristianism o. Para isso, constru iu -se u m a escola com internato p ara facilitar a integração d o p ovo ind ígena na socied ad e brasileira. “O trabalho m issionário p rop riam ente d ito foi entregu e ao Summer Institut of Linguistic (Institu to Lingu ístico d e Verão), qu e estu d ou a língu a e trad u ziu o N ovo Testam ento p ara

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N ão será d iscutid o o and amento d esse novo projeto. Apenas arrola -se aqui, porque faz parte d a continuid ad e d o Projeto Vacas.

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o kaingang” (ALTMAN N ; ZWETSCH , 1980, p . 53) . Em Rond ônia, p or su a vez, a ú nica exp eriência d a Igreja era a d o ind igenista Wied em ann qu e atu ava com o enferm eiro. 109

Em 1977, a Direção d a IECLB d ecid iu m ontar u m p rojeto m ission ário p ara atu ar entre os Su ru í. O Secretário d e Missão Fried rich Gieru s p ed iu qu e Wied em ann (1977) elaborasse u m relatório sobre a situ ação d os Su ru í p ara servir d e su bsíd io p ara o p rojeto. Assim , organizou -se u m convênio com a FUN AI tend o com o base a exp eriência d e Gu arita (ALTMAN N ; ZWETSCH , 1980, p . 50) e qu e fora assinad o em agosto d e 1978. N esse sentid o, cabia à IECLB m anter u m p r ofessor, u m lingu ista e u m técnico agrícola. A FUN AI, p or su a vez, ficou resp onsável p ela con stru ção d a infra-estru tu ra: p réd io escolar e resid encial (Convênio d a IEa CLB com a FUN AI). A P . Altm ann e o P. Zw etsch foram enviad os, em m arço d e 1978, p ara atu ar nesse p rojeto. Os d ois vinham recentem ente d a Facu ld ad e d e Teologia, send o qu e Altm ann não havia aind a conclu íd o os estu d os d e teologia. N a facu ld ad e, eles foram fortem ente influ enciad os p ela Teologia d a Libertação. Portanto, em bora o p rojeto tenha sid o m o ntad o nos m old es d e Gu arita, eles estavam im bu íd os d a nova teologia d e m issão qu e nascia: o esvaziamento (Fl 2.5-11), o servir (Mc 10.35-45) e o libertar (Lc 4.16-30). Com essa nova visão, eles iriam trabalhar entre os Su ru í. Bu scariam organizá-los p oliticam ente, tentand o inseri-los nos m ovim entos ind ígenas d e lu ta p ela terra, e econom icam ente, tentand o viabilizar su a au to-su stentabilid ad e. Eles p rop u seram u m a “p astoral d e convivência”, na qu al p rocu ravam , ao invés d e evangelizar, se engajar nas lu tas d o p ovo, d and o, assim , testem u nho d o Evangelho. Veja com o Altm ann e Zw etsch abord am essa p roblem ática em 1980: Em 1978 foi, então, iniciad a esta cam inhad a com o povo Suru í, d entro d e um a nova perspectiva m issionária, que recebeu u m a influência consid erável d a crítica necessária à m issão trad icional feita pela teologia latino-am ericana d a libertação. Foi a teologia d a libertação que tam bém repensou o conceito central d a evangelização, que assim se tornou m uito m ais abrangente e enraizad o no chão d a vid a e d a cultura ind ígena. Estes novos ventos atingiram a reflexão teológica na IECLB e isto se p od e notar na Carta Pastoral às com unid ad es d a IECLB, d e outubro d e 1978, ond e se procura red efinir o trabalho m issionário d a IECLB, nos seguintes term os: “O alvo que este trabalho m issionário persegue, é o d esenvolvim ento d a com unid ad e indígena, a partir d a cultura ind ígena, pela realização d o

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O Summer Institut of Linguistic tem origens fund am entalistas.

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Evangelho. Para que este Evangelho seja palavra viva no seio d a com unid ad e ind ígena, é preciso que, nas relações entre índ ios e não-índ ios, haja justiça. E esta justiça só pod e se concretizar com a libertação d as terras ind ígenas para o uso exclusivo d a com u nid ad e ind ígena. Daí que no trabalho m issionário o tem a d a terra d esponta com o prioritário.” Mais ad iante a m esm a carta especifica qual o com prom isso m issionário que tem os pela frente: “Por tud o isso, em nossa perspectiva m issionária, entend em os com o um com prom isso evangélico estar totalm ente solid ários com a luta d os índ ios para a d efesa d e sua terra. N esse sentid o, um d os a spectos im portantes e prioritários d o nosso trabalho m issionário é estar atento às lutas concretas que as lid eranças ind ígenas no Brasil vêm levand o cor ajosam ente, com o ficou m ais um a vez m anifesto na sua últim a a ssem bleia d e Chefes Ind ígenas, realizad as em m aio d este ano, na a ld eia xavante d e São Marcos, Mato Grosso.” (ALTMAN N ; ZWETSCH , 1980, p. 54s).

Infelizm ente, o trabalho com os Su ru í não iria d u rar m u ito. Em 1979, os d ois p astores foram exp u lsos d a área ind ígena p or algu ns fu ncionários d a FUN AI. A p ostu ra teológica e p olítica ad otad a p or eles co nflitou com os interesses d e algu ns fu ncion ários (ALTMAN N ; ZWETSCH , 1980, p . 88ss, 94). Sobre essa qu estão, Altm ann e Zw etsch p ond eram : Talvez esse nosso pressuposto e a m aneira com o procuram os colocá-los em prática, d e m od o ativo e apaixonad o, e que por vezes possa ter parecid o aos olhos d os funcionários d a FUN AI zelo exagerad o e purism o d escabid o, tenha contribuíd o d e form a d ecisiva para a arbitrária expulsão qu e sofrem os, justam ente porque nossa postura questionava com o qu estiona tod o o trabalho que fica no assistencialism o e no paternalism o autoritário, com o tem sid o o caso d a FUN AI entre os Suruí. Com o não acred itam os que esta polít ica ind igenista tenha futuro e m uito m enos vá servir para a “m elhor luta ind ígena” (...), só pod em os lam entar profund am ente que a FUN AI se estruture d e form a tão m onolítica, que a im peça d e ace itar um trabalho alternativo e crítico com o vínham os tentando realizar. E vaticinam os que – a continuar nesse cam inho – a FUN AI há d e perd er o resto d e m oral que, porventura, aind a tenha junto à opinião pública, há d e sofrer sem pre m ais a oposição com bativa d os grupos civis e m issões m ais com prom etid as com a libertação d os povos ind ígenas d o Brasil e, finalm ente, contribui para su a própria auto-extinção, porque se coloca contra a história d os povos ind íg enas e suas tentativas cad a vez m ais organizad as d e tom á -la (a história) em suas m ãos. (ALTMAN N ; ZWETSCH , 1980, p. 92s).

Os obreiros d e Rond ônia p osicionaram -se ao lad o d e Altm ann e Zw etsch e red igiram , p or ocasião d o encontro d os obreiros d e Rond ônia em ou tu bro d e 1979, u m m anifesto d e solid aried ad e, o qu al traz a co m -

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p reensão d a p ráxis teológica qu e m ovia a atu ação d os obreiros e obreiras em Rond ônia. O qu e segu e é a rep rod u ção integral d esse m anifesto: N ós, obreiros d a IECLB, no Território Fed eral d e Rond ônia, reun id os em Colorad o, entre os d ias 20-22 d e outu bro d e 1979, d ecid im os m anifestar-nos em solid aried ad e aos m issionários Roberto e Lori d iante d o conflito e am eaças verbal d e expulsão d os m esm os d a área d o grupo indígena Suru í, localizad o no posto indígena Sete d e Setem bro que faz parte d o parque ind ígena Aripuanã :  Sentim o-nos no d ever d e apoiar os colegas Roberto e Lori d iante d estes fatos. a) Pois a situação que eles vinham d esenvolvend o em seu trabalho é a m esm a que nós procuram os d esenvolver em nossos trabalhos. b) A nossa fé e o evangelho nos convocam a op tar pelos oprim id os e m arginalizad os. c) Acred itam os na auto-d eterm inação d os povos ind ígenas e na valorização d e sua própria cultura. d ) Porque, na realid ad e d o posto ind ígena, nossos colegas procuraram se id entificar tanto quanto possível com a com unid ad e ind ígena, partind o d e sua vid a e luta.  Repud iam os os argum entos d esprovid os d e fund am entos m ais concretos para a proibição verbal d o d iretor d o parque ind ígena Aripuanã para a continuid ad e d o trabalho junto com a com unid ad e Suruí, acusand o Lori e Roberto d e incom patibilid ad e com fu ncionários d a FUN AI e por interferência na ad m inistração d o parque. Cham am os a atenção d e que esta incom p atibilid ad e não é co ntra a com unid ad e Suruí, ao contrário, entre estes estão tend o boa aceitação.  Denunciam os que m ais e m ais se torna necessário a observação d o estatuto d o índ io nos seus itens básicos, com o são: d ireito à te rra, à auto-d eterm inação, à preservação d a cultu ra e d o m od o d e ser e viver d o índ io; isto porque sem pre d e novo interesses econôm icos e políticos d a socied ad e branca prevalecem contra os interesses v itais d as com unid ad es ind ígenas.  Apelam os ao Conselho Diretor d a IECLB que procure averiguar os fatos e tom e séria provid ência. N ão no sentid o d e encobrir os fatos d enunciad os, sim plesm ente substituind o elem entos, mas que tom e posição clara e objetiva consid erand o que fatos como estes não são isolad os m as acontecem d entro d e um am plo processo d e encarnação d a igreja em favor d os oprim id os. (Ata, 21-22/ 10/ 1979, Arq. d o Sín. d a Am azônia).

4. A proposta de uma “igreja nova” e um “novo jeito de ser igreja” Para os que acred itam na força d os pequenos, Rond ônia oferece um a esperança que brota d o nascim ento d e um a nova igreja e d as sem entes d a organização que m uitos m igrantes carregaram cons i-

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go. N a prelazia d e Ji-Paraná, (...) as CEBs são priorid ad e. E d entro d elas, a CPT, o trabalho no cam po d a saúd e, etc. Estão ju ntos neste trabalho, tanto os católicos com o os luteranos (IECLB). (CEN TRO DE ESTUDOS MIGRATÓRIOS, 1982, p. 11s).

Esse é o teor d e u m artigo p u blicad o em 1982 p elo Centro d e Est u d os Migratórios. Ele d em onstra a exp ectativa d os obreiros católicos e lu teranos na vivência d e u m novo m od elo d e igreja, o m od elo d as CEBs . Com o se viu acim a, o trabalho nas N AC foi iniciad o e m antid o sob a e xp ectativa d e exp erim entar novas form as d e ser e d e viver igreja. N esse sentid o, o trabalho fora fortem ente voltad o p ara qu estões sociais, p olíticas e econôm icas. Assim , algu ém p ôd e escrever: “As Igrejas, lu teranas e católicas, d esd e os com eços d a m igração, não faltaram à solid aried ad e. Com seu ap oio e incentivo, criand o-se Associações d e Aju d a Mú tu a e Projetos Alternativos” (MEN EZES, 1992, p . 83). N o âm bito com u nitário, d a vivência esp iritu al, o trabalho tam bém ganhou novos im p u lsos. Discu tiu -se litu rgia, vestes litú rgicas, sacerd ócio geral e criou -se u m cancioneiro p róp rio d as N AC. Dep ois d e ter verificad o isso, p rop õe-se aqu i fazer u m a avaliação d o trabalho d esenvolvid o em Rond ônia, d e ixand o a cargo d os p róp rios leigos e obreiros externarem seu p osicion am ento. Percebe-se, sobretu d o, qu e a exp ectativa d e u m trabalho alternat ivo, p or p arte d a Igreja, era qu ase qu e exclu sivam ente d os obreiros qu e atu ram em Rond ônia e qu e tinham o resp ald o d e algu m as lid eranças d a Direção d a IECLB e d e u m p equ eno gru p o d e seu s obreiros qu e se fort aleceram com os p osicionam entos d o m ovim ento ecu m ênico m u nd ial, sobretu d o com a transferência d a V Assem bleia Geral d a FLM e com os p osicionam entos d a IECLB qu e se segu iram . N o trabalho em Rond ônia, os obreiros enfrentaram u m p roblem a qu e se p od eria resu m ir em “continu id ad e e renovação” ou “trad ição e inovação”. Os obreiros estavam com exp ectativas d e qu e o trabalho em Rond ônia p od eria e d everia ser d iferente d o qu e trad icionalm ente a IECLB vinha fazend o. Os m em bros, p or su a vez, no geral, esboçavam u m d esejo d e continu id ad e e d e rep rod u ção d o trabalho qu e conheciam anteriorm ente. N ão raro, isso gerou conflitos entre obreiros e m em bros. N a qu estão d a litu rgia, p or exem p lo, os obreiros qu eriam ap roxim ar o s agrad o e o cotid iano, e os m em bros os qu eriam sep arar. “Os p regad ores leigos, em m u itas com u nid ad es, n ão eram aceitos”. A qu estão d o cu lto em alem ão tam bém gerou conflitos. Veja o qu e Sp ellm eier enfatiza sobre isso: “Mas, qu and o se tratava d a língu a, aí nós fom os, assim , u m p ou qu inho au toritário. Tinha com u nid ad es, aind a, qu e qu eriam cu lto em alem ão. Aí nós, ap esar d e qu e isso foi só u m ou d ois casos, nós nos neg am os” (SPELLMEIER, 2003). 125

N o intu ito d e vivenciar novas form as d e ser igreja, os obreiros d e Rond ônia criaram u m a vestim enta litú rgica alternativa, a bata. Tratava -se d e u m a vestim enta d e cor bege, com u m com p rim ento até os joelhos e com m angas com p rid as. N a altu ra d o coração, era afixad o, em form a d e círcu lo, u m m otivo com as corres litú rgicas. A bata foi inau gu rad a p elo p astor João Artu r Mü ller d a Silva e p or Arteno Sp ellm eier na com u nid ad e d e Cacoal em m arço d e 1976 (SILVA, Relatório..., 13/ 04/ 1976, Arq. d a IECLB). Veja o qu e Sch ach d iz sobre isso: “Em vez d e u sar u m talar p reto, nós inventam os u m a bata qu e ia ap enas até os joelhos, d e cor bege clara, a qu al id entificava a p essoa qu e celebrava o cu lto, qu e coord enava o cu lto” (SCH ACH , 2001). Com a saíd a d os d ois p rim eiros obreiros, hou ve aind a u m a tentat iva d e u sá-la, com o é o caso d e Pau lo Daenecke (DAEN ECKE, 2003). Entrem entes, ap esar d os p rim eiros obreiros falarem qu e a vestim enta foi bem aceita p elos m em bros, o fim d as exp eriências com a bata d eve ser bu scad o na crítica d os m em bros qu e d esejavam o talar p r eto trad icional e na crítica d a Igreja qu e d izia qu e as N AC já não eram m ais IECLB (SCH ACH , 2001, SILVA, 2003). Ou tra qu estão era qu e os p róp rios obreiros, a p artir d a segu nd a fase, reflexionaram m ais sobre a relação entre trad ição e inovação e p rocu raram retom ar e m anter aqu ilo qu e os m em bros consid eravam com o send o d e su a id entid ad e cu ltu ral. Sobre essa qu e stão, Sp ellm eier reflete: Com o é que tu vai ajud ar os m em bros m igrantes que estão inseg uros, que estão ansiand o pra ter um pouquinho d e segurança, d e ter um pou quinho d e seu p assad o, d e não querer perd er seu passad o, com o é que tu consegue repassar esse conteúd o pra eles. Esse foi um processo que nós d em oram os m uito pra entend er e m uito m ais tem po aind a pra d epois conseguir cam inhar e entrar num p rocesso d e interação com os próprios m em bros. Porque, não é por acaso que o pom erano do Espírito Santo, que já m orou, talvez, no Paraná, e foi pra Rond ônia, continua pintand o a sua igr ejinha d e azul e d e branco. Esse é um lugar onde ele está fixand o a sua id entid ad e. Disso ele não vai abrir m ão. De outras coisas, eles tiveram que abrir m ão d e tud o, uns tiveram qu e abrir m ão d e ter um a vaca d e leite outros tiveram que abrir m ão d e ter um a roça, as m ulheres tiveram que abrir m ão d e terem um fogão que presta, d e ter u m a casa qu e presta, d e ter u m a roça feita, tiveram que abrir m ão d e tud o. E em que eles se agarram então? Pod e d izer: “N ão, na palavra d e Deus!”, m as isso é filosofia de pastor. A palavra d e Deus, ela é concreta tam bém . Ela assum e d im ensões bem concretas na vid a. Pra eles um a d im ensão, tranqüilam ente, é essa que eles pod em falar a língua que sem pre falaram , o pom erano, ou que pinta sua igrejinha d e azul e d e branco. Lá eles fixaram sua id entid ad e. Ou d e pod er cozinhar a com id a que eles sem pre com iam . (...) E esse processo nós

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d em oram os m uito pra entend er. N ós tínham os, a ssim , d urante um tem po, a ilusão d e que, em terra nova, tud o com eçava d o zero. E não era verdade. Nunca começa do zero. Sempre tem um pressuposto. (SPELLMEIER, 2003).

H ans Trein tam bém reflete sobre esse assu nto: N ós achávam os que, pessoas que têm coragem d e arrancar raízes econôm icas e sociais e m igrar para u m lugar d esconhecid o e com eçar a vid a e tud o m ais, que essas pessoas tam bém tivessem abert ura e até d isposição pra novos jeitos d e ser igreja. E não era verd ad e. A igreja, o talar preto, a liturgia, o culto eram um a d as pou cas co isas que eles pod eriam ter, nesse novo lugar, ond e se agarrar, um a coisa conhecid a. E nós sem pre nos surpreendíam os d e novo qu e as pessoas buscavam essa igreja, entre aspas, trad icional, na nossa m aneira d e ver. E, no início, nós não entend em os por que isso era assim . (TREIN , 2003).

Por p arte d os m em bros qu e se chocaram com os novos jeitos, r ep rod u z-se aqu i, na íntegra, u m a carta d e Rod olp ho Gu m , m em bro d a 110 p aróqu ia d e Cacoal, end ereçad a ao P. Vald ir Frank. N essa carta , ele reclam a d o trabalho alternativo d a Igreja, ap ontand o esp ecialm ente o não u so d a língu a alem ã no cu lto, o trabalho com ind ígenas, a op ção p elo p obre/ op rim id o e o trabalho d a CPT. Meu am igo Pastor Vald ir irm ão em Cristo, eu teu am igo tam bém em Cristo quero d escaregar o m eu sentim ento d e nossa Igreja é tão d ifícil para construir eu m e sinto as vezes culpad o as vezes os m em bros não gostam d o m eu jeito d e trabalhar, e nosso am ad o pastor eu m e sinto fraco triste aqui no Território tud o por tud o s obre nossa Igreja, eu quero tam bém d izer a ti m eus sentim ento. Ver em que situação que senhores trabalham . Pastor Vald ir m eu am igo eu fiz esta carta que eu não quero d iscutir com senhor com o com Pastor João porque o Pastor Gerald o m e d isse eu pod ia ter falad o isso particular pra ele então fiz essa carta p ara d izer contigo e com tod a a Igreja d o nosso país. Pastor eu m e sinto até hoje que o Pastor João d isse se é para m im fazer culto em alem ão eu d igo thiáu Território eu m e sinto por irm ão Roberto, quand o ele foi para ensinar os ind ios conhecer o Sa lvad or que veio ao m und o para tod os e Batizar os ind ios o que Cristo ped iu em nom e Dele. O que esta escrito em Mateus 28-18.

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A carta será citad a abaixo literalm ente, respeitand o os erros d e ortografia, gr am ática e concord ância.

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O Roberto ele foi ensinar o chefe com o se trabalha com d inheiro, e d o Pastor Paulo eu m e sinto que está and and o na Ru a e a p aroquia d ele esta sem Pastor, por que? E nossos m em bros cad a vez m enos eu m e sinto m uito triste com isso, que eu não quero ser m ais bonito e nem m ais d o que tod os m ás com fé quero d izer a ti eu d iscuti um d ia com Roberto na casa d o Lu iz sobre o rico e pobre então d isse com Roberto que em m uitas casas falta a fé e a petição que o povo não confia em Deus sobre tod as as coisas o que pod e ajud ar qualquer um d e nós eu d ize para Roberto ped ir a Deus para qu e Ele abençõe a saúd e e a colheita p ara nós então m e perguntou se presisava Deus p ara tud o d ize eu que sim . Ele parece que não gostou. Se Deus não d a jeito quem então. E então logo prim eiro culto seg id o a pregação d o pastor era d e fé d e um a pessoa que tinha m uita fé as vezes so p ara tirar um ou tro d o seu cam inho então essa bota eu calcei que ela sirvia p ara m im m ás eu carrego ela até hoje m ás ela m e m achucou. E outra vez no culto d e N atal eu vim com tod a fam ília para esgutar a boa N ova d o Salvad or que veio Salvar tod os que crêm N ele m ás então a m inha fam ília escutou que um bom N atal e Salvação é um a boa bolsa d e d iheiro e isso eu não sabia qu e eu acho Cristo Salvad or nasceu p ara alegrar tanto o pobre com o o rico. Se alegria for d iheiro então nós tod os estãom perd id o. Me d esculpa a d izer m ás a nossa igreja junta a Católica se d eu por falsa testem unha ao próxim o. Ela não prega m ais o Evangelio d e Paz e alegria e am or ao p roxim o so prega d estrução e m orte e fom e d esânim o para os trabalhad ores m ás d e que nós vivem os se nós querem os so falar so d a autorid ad e com o o d iheiro d os pobres, então vam os olhar tam bém para nossa Igreja que veve d o m esm o m od o que tod o pessoal ajud a p agar estud os d os pastores e carro para and ar e a m anuntenção e viagens e pouco trabalho nós vem os. Se reunem 2-3 vezes ao ano para estud ar com o se fala m al d os ricos e governos, e o trabalho para com Deus é poco. N ossas crianças não aprend em m ais o viver cristão com o prezisa que se nós d eicham os d e pregar o Evangelio d a Boa nova e so d esanim am os o povo com o e quem recebe Salvação. Que eu encherga a lei Pastoral d a Terra junta com o p artid o que si cham a M-D-B só fazem briga entre o povo e d esanim am tod os os trabalhad ores a ond e nós vemos a crise d o jeito que está. Cristo não apoiou a Espad a d o Ped ro Ele d isse guard a a tu a Espad a Ped ro. E resolveu o problem a d a orelha e Ped ro está vivo m ais o m iseravel pobre que caregava a sacolinha d o d iheiro e que enganou um p obre sem culp a foi pra m orte sem Salvação e asim acontese hoje aind a as vez um pobre Cristão sofre por causa d e traiad or e m entiroso. Eu quero que esta cartinha fica conhecid a em tod as as Paróquias em Rond ônia e asim tam bém na m ão d o presid ente d e tod a nossa Igreja e m ais aind a aond e vocês querem levar [sic]. (GUM, carta, S/ D, Arq. d o Sín. d a Am azônia).

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Algu m as vezes, o trabalho em Rond ônia, ao tom ar cam inhos p r óp rios, foi criticad o p or ter se d iferenciand o d o rest ante d os trabalhos d a IECLB. Trein lem bra qu e os obreiros d as N AC estavam refletind o com os m em bros sobre a d estinação d as ofertas, p or exem p lo. Eles achavam qu e os m em bros d everiam d estinar as ofertas, o qu e gerou p roblem as com a Direção d a Igreja qu e estabelecia, d e antem ão, os m otivos p ara elas (TREIN , 2003; Ata, 10/ 1984, Arq. d o Sín. d a Am azônia). Ou tra qu estão foi qu e as com u nid ad es e obreiros d as N AC confeccionaram u m cancioneiro p róp rio – Entre N ós Está – com m ú sica d e ou tras d enom inações religiosas, p or exem p lo canções d e Maria e p op u lares, com o o Menino d a Porteira. Esse tip o d e exp eriência contribu iu p ara a acu sação d e qu e as com u nid ad es d as N AC não eram m ais IECLB (SASS, 1999; TREIN , 2003). N as p alavras d e Schach (2001): “N ós fom os m u ito criticad os, até p ela Direção d a Igreja, d iziam : „vocês estão faland o u m a ou tra lingu agem , vocês estão su bvertend o a ord em , vocês estão fu gind o d a rota estabelecid a‟”. De form a conclu siva, a fim d e elu cid ar o trabalho alter nativo realizad o p ela Igreja em Rond ônia, segu em abaixo algu m as p alavras d e Trein . Segu nd o ele, as exp eriências nas N AC foram inu sitad as p ara a IECLB. O trabalho, concebid o d entro d essa form a, com o um trabalho int egrad o entre o trabalho pastoral e o trabalho d a área d a terra , d a agricultura, d as técnicas agrícolas, e tam bém d a saúd e d eu u m a cara pra nossa Igreja que era inusitad a. N ão tinha, em lugar nenhum , na nossa Igreja, até aquela época, um trabalho que colocasse essas coisas em conjunto, d esconsid erand o, agora, pastores que tinham com o hobby a agricultura e que d avam ao seu pastorad o um a d im ensão agrícola. Mas, d e um a form a tão claram ente articulad o, eu acho que isso foi pioneiro lá. Mais ou m enos, na época, surgiu o CAPA aqui no Rio Grand e d o Sul. (...) N ós nos sentim os co-responsáveis pelo surgim ento d esse tem a, tam bém , porque sem pre d evolvíam os à nossa Igreja d o Sul a problem ática com a qu al nós estávam os lid and o naquela época. E, n esse ano d e 1982, fom os convid ad os, pela prim eira vez, pra participar d e um Concílio Geral d a Igreja. E viem os, lá d o N orte, o Walter Sass, um m enino ali d e Cacoal, d a com unid ad e d e Cacoal, e eu pra prestar contas, por assim d iz er, pra IECLB no seu Concílio Geral. A fala nossa foi feita no aud itório d o Colégio Sinod al sobre o que nós estávam os fazend o lá. Porque, até ali, nós estávam os sentind o a Direção d a Igreja com um a grand e suspeita em relação ao que nós fazíam os, no sentid o, assim , com entário que se ouviam : “Ah, esses caras lá nas N ovas Áreas, na ve rd ad e, eles só querem fazer u m negócio d iferente”. N ós fom os pe rguntad os se a gente fazia cultos lá e se, nos nossos cultos, tinha le itura d e evangelho, se nós cantávam os lá, se nós fazíam os oração. Quer d izer, a julgar por esse tip o d e pergunta, e por alguns com e n-

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tários que nos chegavam aos ouvid os, havia sem pre um a suspeita m uito grand e d e que o nosso trabalho tinha um a d im ensão política m uito forte, m as que tinha um a d im ensão eclesiástica quase que zero. Então, essa foi um a d as oportunid ad es que nós tivem os pra colocar a d im ensão d o trabalho, pra relem brar o próprio Concílio Geral d as suas linhas m estras, d as suas d iretrizes que eles tinham nos d ad o, a partir d e 1972 e eu acho que o pessoal se convenceu, porque a gente foi aplaud id o em pé d urante o Concílio. A partir d e lá, m elhoraram as relações. Eu acho que a própria Direção da Igreja percebeu, tam bém , que o Concílio entend eu e respald ou aqu ilo que lá no N orte estava se fazend o. Tinha, sem d úvid a nenhum a, u m cunho político bem m ais acentuad o d o que qualquer outro trabalho d a nossa Igreja aqui no Sul. Mas acho que o Concílio tam bém entend eu a necessid ad e d esse cunho político. (...) Então, acho que, no geral, d á pra d izer que nós aprend emos um m onte d e teologia lid and o com o pessoal. Tod as essas tem áticas que a gente aprend eu lá e que tam bém tentou carregar pra d entro d a Igreja eu acho que ajud ou a abrir, senão portas, pelo m enos jan elas pra ou tras d im ensões d a nossa fé luterana. (TREIN , 2003).

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Conclusão Os p rim eiros lu teranos, os irm ãos Martim e Artu r H olland er, ch egaram em Rond ônia em 1967. Eles saíram d o Esp írito Santo com o objet ivo d e trabalhar nu m a serraria e d e conhecer a região. N o ano segu inte, voltaram p ara o Esp írito Santo, convenceram seu s p arentes e am igos, vend eram su as p rop ried ad es e m igraram , em 1969, p ara o então Territ ório Fed eral d e Rond ônia. A fam ília Brau n m igrou ju ntam ente com os H olland er. N os anos qu e se segu iriam , inú m eras fam ílias iriam fazer o m esm o trajeto. Ao chegarem em Rond ônia, encontraram u m a terra d iferente d aqu ela qu e conheciam . N a Am azônia, entraram em contato com d ois gr u p os cu ltu rais, os ind ígenas e os caboclos. N o Esp írito Santo, seu s antep assad os foram assentad os n u m a terra com baixa d ensid ad e p op u lacional, p ois os ind ígenas qu e ali habitavam haviam sid o exterm inad os. Em Ro nd ônia, o choqu e cu ltu ral com os ind ígenas estava em seu au ge. Portanto, inú m eros conflitos foram vivenciad os. N essa p esqu isa, ap ontou -se som ente p ara algu ns d esses conflitos. Essa qu estão aind a d em and a novas investigações. Os caboclos form am ou tro “gru p o cu ltu ral” com o qu al os m igra ntes entraram em contato. N aqu ela ép oca, Rond ônia estava totalm ente integrad a no sistem a extrativista d a Am azônia. As vias d e acesso eram os rios e igarap és e, em su as m argens, encontravam -se os seringu eiros. Os p rim eiros lu teranos estabeleceram -se ao longo d os rios e assim ilaram a cu ltu ra extrativista. Com a abertu ra d e estrad as e o crescim ento d o n ú m ero d e m igrantes, o sistem a m u d aria rap id am ente. Em p ou cos anos, o rio d eixou d e ser a via p rincip al d e locom oção, o sistem a extrativista d a borracha entrou em d ecad ência e os p om eranos estabeleceram -se longe d os grand es rios, ad entrand o em terras m ais altas. N o p rocesso m igratório, p rocu rou -se com p reend er o m igrante com o objeto e com o sujeito. Com o objeto, o sistem a m anip u lou e cond icionou seu s m ovim entos e ações. A m igração, nesse sentid o, foi id ealizad a e p lanejad a p ara finalid ad es esp ecíficas. Ela é resu ltante d e u m sistem a qu e a p ressu p õe. A ind u strialização gerou d ois m ovim entos p rincip ais: u m d e atração d e m ão-d e-obra p ara a ind ú stria e ou tro d e exp u lsão d os p equ enos agricu ltores p ara novas frentes agrícolas. É d entro d esse segu nd o m ovim ento qu e a m igração d os p om eranos lu teranos p od e ser entend id a.

Com o su jeito, os m igrantes p od em escolher seu d estino. Eles d ecid em se vão ou se ficam , p ara ond e vão e com o vão. Seu s interesses estão envolvid os e eles vão p rom over e m anter u m sistem a qu e lhes garanta rep r od u zir o seu ethos cu ltu ral. Portanto, a m igração d eve ser entend id a nesse d u p lo sentid o. O estu d o d a m igração foi feito com o au xílio d a sociologia e d a antrop ologia. A sociologia sem p re d om inou a análise d as m igrações e seu p ap el é fu nd am ental p ara entend er o p rocesso. Através d ela, conhece -se os fatores d e exp u lsão e d e atração qu e não estão, necessariam ente, lig ad os ao local d e origem e chegada d o m igrante. N o caso d a m igração p ara a Am azônia, estavam envolvid os, entre ou tras coisas, o interesse d o cap ital internacional e a segu rança d a Am azônia (Segu rança N acional). Além d isso, o governo p lanejou e incentivou a m igração p ara p rotelar u m a reform a agrária e p ara au m entar o tam anho d o m inifú nd io no Su l d o p aís, m ecanizand o-o e tornand o-o base p ara a entrad a d e d ivisas. Em qu estões d e m igração, a abord agem antrop ológica é recente, m as revela u m p otencial enorm e p ara essa tarefa. Através d ela, ch egou -se à constatação d e qu e p od em ser arrolad os fatores d e atração e exp u lsão p ara u m gru p o cu ltu ral. N o caso d os p om eranos, viu -se qu e eles estão m ais p rop ensos a m igrar p ara novas fronteiras agrícolas d o qu e p ara as cid ad es. A rep rod u ção d o seu ethos cu ltu ral, segu nd o Joana Bahia, exige a p osse d e u m a terra (land). N a com p reensão cu ltu ral d esse p ovo, qu and o u m p om erano m igra p ara a cid ad e, torna-se m enos p om erano. Além d isso, o sistem a d e d ivisão d e p rop ried ad e p rivilegia o filho m ais jovem e exclu i as m u lheres. Para rep rod u zir seu ethos cu ltu ral, aqu eles qu e não p ossu em herança d evem m igrar em bu sca d e novos esp aços. Tanto na analise sociológica qu anto na análise antrop ológica e ncontram -se fatores qu e tornam os m igrantes objeto e fatores qu e os tornam su jeitos na m igração. N a sociológica, d estaca m -se os interesses econôm icos e p olíticos. O m igrante é objeto d e interesses alheios a ele, m as tam bém tem seu s p róp rios interesses econôm icos e p olíticos envolvid os. Já na análise antrop ológica, p od e-se d izer qu e o m igrante é cond icionad o p ela su a cu ltu ra. Ele age e p ensa cu ltu ralm ente situ ad o. Com o objeto, ele vai p rocu rar rep rod u zir a cu ltu ra qu e herd ou . Mas, nessa ação, ele ta m bém é su jeito, p ortanto, ele tam bém está agind o e criand o novas form as cu ltu rais. A relação entre objeto e sujeito d eve ser vista d e form a d ialética. Com o objeto, os m igrantes sofreram as contrad ições d a colonização. E com o su jeito eles as geram . N o lu gar ond e foram assentad os, não existia nenhu m a infra-estru tu ra. N ão tinham atend im ento hosp italar, escolar e 132

nem ju stiça. Para serem atend id os, d everiam d irigir -se p ara os centros m aiores (Porto Velho e Cu iabá). As d oenças e os acid entes cau saram m ortes entre os m igrantes. Os assassinatos foram frequ entes e as testem u nhas os ap ontaram , ao lad o d as d oenças, com o os p rincip ais cau sad ores d e m ortes. Com o su jeitos, os m igrantes constru íram tod a u m a infraestru tu ra e cond ições p ara a rep rod u ção d o seu ethos cu ltu ral. E, com o objeto, eles a constru íram a p artir d aqu ilo qu e herd aram cu ltu ralm ente. N esse sentid o, os m igrantes p om eranos p rocu raram , a p artir d aqu ilo qu e conheciam , organizar a su a igreja. Eles qu eriam rep rod u zir aqu ilo qu e cu ltu ralm ente conheciam e necessitavam p ara a rep rod u ção d o seu m od o d e ser. A Igreja Evangélica d e Confissão Lu terana no Brasil (IECLB) foi convid ad a p elos p róp rios m igrantes p ara acom p anhá -los nas novas com u nid ad es qu e se form avam no m eio d a floresta am azônica. Ela p ro ntam ente aceitou essa tarefa e p rocu rou encontrar algu ém qu e qu isesse a ssu m ir esse trabalho. A d ecisão d e acom p anhar os m em bros nas N ovas Áreas d e Colonização (N AC) d eve ser vista no conju nto d a história d a IECLB. Os sínod os qu e form aram a IECLB p rocu ravam acom p anharam seu s m em bros na m igração. Dessa form a, foram exp and ind o su a influ ê ncia geográfica. Com Rond ônia, não foi d iferente. A IECLB p rocu rou o rganizar a assistência às fam ílias qu e m igraram p ara lá. Em 1972, enviou u m obreiro p ara Rond ônia. N aqu ela ép oca, faltavam p astores e a Igreja d ecid iu enviar u m catequ ista qu e assu m iria as fu nções p astorais. O cat equ ista enviad o foi Gerald o Schach . N a m esm a ocasião, foi criad o o Dep artam ento d e Migração, com sed e em Porto Alegre, qu e d everia gere nciar o trabalho nas N AC. Mas a Igreja não p retend ia ap enas rep rod u zir aqu ilo qu e, no p assad o, seu s sínod os e regiões vinham fazend o: assistir seu s m em bros em novas áreas. Ela qu eria tornar -se u m a Igreja m ais brasileira e via-se cham ad a a tom ar p osições d iante d a conju ntu ra sóciop olítica brasileira. A IECLB form ou -se d a ju nção d e qu atro sínod os qu e d ep end iam d a Alem anha. Com a Segu nd a Gu erra Mu nd ial e com o p rocesso d e n acionalização iniciad o p or Getú lio Vargas, os sínod os sentiram a necessid ad e d e serem m ais ind ep end entes d o exterior, se qu isessem sobreviver com o Igreja. Eles u niram -se em torno d o sem inário d o Sínod o Riogrand ense, em São Leop old o, ond e os fu tu ros obreiros p u d essem iniciar seu s estu d os. Constitu ind o-se nu m a Igreja, viam a necessid ad e cad a vez m aior d e ser u m a Igreja no Brasil e p ara os brasileiros. A crítica ao u so d a língu a alem ã nos cu ltos recebeu novos im p u lsos. A d écad a d e 1960 foi d e p art icip ação ecu m ênica a nível n acional e internacional. Isso trou xe novos qu estionam entos e p rerrogativas qu e iriam fru tificar na d écad a su bs e-

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qu ente. Em 1970, a IECLB p ôd e fazer u m a au tocrítica em consequ ência d a transferência d a V Assem bleia Geral d a Fed eração Lu terana Mu nd ial, qu e d everia ser realizad a em Porto Alegre, p ara Evian, na França. Em d ecorrência d ireta d esse acontecim ento, a Igreja com eçou a tom ar p osições m ais voltad as p ara qu estões sócio-p olíticas. Ela p rod u ziu , em 1970, “O Manifesto d e Cu ritiba”, ond e fez reflexões sobre a relação entre a Igreja e o Estad o e ond e tom a p osição qu anto aos d ireitos hu m anos. N o início d essa d écad a, d iscu tia-se o relacion am ento entre fé e p olítica. Em 1976, a IECLB d ivu lgou ou tro d ocu m ento ond e conclam ava seu s m em bros e su as com u nid ad es à resp onsabilid ad e social. Assim , ao acom p anhar seu s m em bros nas N AC, a Igreja levaria essa nova p reocu p ação p ara o cam p o d e trabalho. Desd e o início, a IECLB p reocu p ou -se em d ar u m a d im ensão nova aos trabalhos em Rond ônia. Ela qu eria acom p anhar seu s m em bros d e form a integral: esp iritu al, p olítica e econom icam ente. O trabalho d a Igreja teve d ois m om entos d istintos d entro d a ép oca estu d ad a p or est a investigação (1967-1987): o trabalho d a Igreja afinad o com o d iscu rso d esenvolvim entista d o governo (1972-1978); o trabalho d a Igreja com o novas p ostu ras eclesiais e sócio-p olíticas (1979-19??). Entrem entes, lem bra-se aqu i qu e essa cronologia não é absolu ta e qu e os m od elos coexistiram em d iferentes grau s. O p rim eiro m om ento in icia em 1972, com a chegad a d o p rim eiro p astor e com a criação d o Dep artam ento d e Migração e vai até 1978. N e ssa fase, o trabalho d a Igreja esteve afinad o com o p rogram a d e d esenvolvim ento governam ental. A Igreja qu eria exp and ir-se p ara o N orte e viase cham ad a a contribu ir no d esenvolvim ento d o p aís. Ela ap oiou a colonização p ara a Am azônia com o form a d e d im inu ir os conflitos sociais no cam p o e incentivou a m igração d e seu s m em bros. Com verbas d o exter ior, a IECLB m anteve p rojetos ed u cacionais, econôm icos e sociais em Rond ônia. A assistência d as com u nid ad es era feita p or u m a equ ip e fo rm ad a p or u m p astor, u m técnico agrícola e u m a agente d e sa ú d e. Em Esp igão d o Oeste, u m p rojeto ed u cacional contou com u m a fazend a d e m il hectares qu e d everia servir p ara o treinam ento d os filhos d os colonos em técnicas agrícolas. N a segu nd a fase, iniciad a em 1979, há u m a m u d ança no qu ad ro d e obreiros e o Dep artam ento d e Migração d eixou d e existir, criand o -se a Coord enação d as N AC, com sed e em Cu iabá. Essa segu nd a fase está m arcad a p or críticas, p or p arte d os obreiros qu e atu ram em Rond ônia e d e algu m as lid eranças d a IECLB, à colonização e ao m od elo d esenvolv im entista. H á u m a reavaliação d o trabalho d a Igreja, com influ ências d a Teologia d a Libertação, p ara qu estões d e caráter sócio-p olíticas. O traba134

lho d esenvolvim entista continu a, m as agora com enfoqu es voltad os m ais p ara a organização d as p essoas em sind icatos, associações e na “lu ta p ela terra”. A Igreja rom p e com o ap oio à m igração e p assa a criticar o sistem a 111 agrário brasileiro qu e p rivilegiava o latifú nd io . A reform a agrária p assa a ser d efend ia e os trabalhad ores sem terra recebem o ap oio d as igrejas. N esse sentid o, a vend a d a fazend a agrícola em 1981 é u m reflexo d a nova fase. O trabalho ind ígena, iniciad o em 1978, tam bém traz em seu bojo as novas com p reensões teológicas e p olíticas. O serviço e o esvaziamento são term os teológicos qu e m arcam a reflexão d os obreiros e obreiras d a IECLB em Rond ônia. O trabalho qu e a Igreja e seu s obreiros p rop u seram realizar em Rond ônia entrou em conflito com as exp ectativas d os m em bros. Os m igrantes p rocu ravam reconstru ir seu m od o d e vid a e su as exp ressões religiosas assim com o conheciam anteriorm ente. Os obreiros, p or su a vez, qu eriam u m a exp eriência d e ser igreja d iferente d aqu ilo qu e trad iciona lm ente era conhecid o. O u so d a língu a no cu lto, nesse sentid o, foi p onto d e d iscu ssão. Os m em bros qu eriam qu e os p astores fizessem cu ltos em alem ão e os obreiros viam nisso u m “ranço” d a antiga form a d e ser igreja e, p ortanto, não p od eriam aceitar qu e, no Brasil, se fizessem cu ltos com o se estivessem na Alem anha. A criação d e u m a vestim enta litú rgica alte rnativa tam bém d eve ser encarad a nesse sentid o. Com a saíd a d os p rim e iros obreiros, ela logo d eixou d e ser u sad a. N a segu nd a fase d o trabalho nas N AC, os obreiros com eçaram a fazer u m a reflexão sobre a resistência qu e os m igrantes p om eranos tinham em exp erim entar form as alternativas d e ser igreja e iniciaram u m p rocesso tam bém d e valorização d o tr ad icional, d esd e qu e esse não exp ressasse u m p osicionam ento p olítico e social qu e contrad issesse o serviço e o esvaziam ento. O qu e se está d iscu tid o aqu i é a relação entre inovação e trad ição. H á u m p rocesso d e resistência e d e criativid ad e qu e gera algo d istinto. Portanto, sobre a p ergu nta se Rond ônia foi u m novo jeito d e ser igreja, p od e-se d izer qu e não e qu e sim. O não exp ressa a continu id ad e d o trad icional e o sim a criativid ad e d a inovação. O p resente é a continu ação d o p assad o, m as tam bém é o p assad o refeito. O p resente é a resignificação d o p assad o.

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Em 1982, a IECLB assum iu com o tem a d o ano a questão d a terra e d a refo rm a agrária. O lem a foi: “Terra d e Deus – Terra para Tod os”. (JOREV, 1982).

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Por fim , constata-se aqu i qu e o p resente trabalho não p rocu rou esgotar os tem as, m as ap enas abri-los p ara novas p esqu isas. Os p rojetos d e d esenvolvim ento, os p rojetos ed u cacionais, a m issão ind ígena e o trabalho d as equ ip es abrem inú m eras p ossibilid ad es qu e ap enas com eçaram a ser p esqu isad as. Além d isso, a história d e cad a p ar óqu ia constitu i-se nu m d esafio à p arte qu e p od e d esvend ar qu estões relevantes, p rincip alm ente no qu e d iz resp eito ao p rocesso d e resignificação cu ltu ral.

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Referências bibliográficas

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Anexo I: Estrutura cronológica 1967-1972 – Fase do pioneirismo; 1967 – Prim eiros p om eranos qu e visitam Rond ônia; 1968 – Prim eiros p om eran os qu e se estabelecem em Rond ônia; 1970 – Manifesto d e Cu ritiba; 1970 – Visita d o P. H orst Schm eckel. Visita d e Vald em ar H olz e d o P. Joachim Maru hn; 1971 – Visita d o Prof. Cat. Elgu id o Pu m p m acher; 1972-1978 – Fase do trabalho afinado com o discurso desenvolvimentista do governo; 1972 – Visita d o Pastor Walter Schaeffer; 1972 – Criação d a p rim eira p aróqu ia; 1972 – Concílio d e Panam bi; 1973 – Criação d o Dep artam ento d e Migração; 1973 – Criação d a Escola Im igrante; 1974 – Im p lantação d o N ú cleo Avançad o d o Colégio Sinod al; 1974 – Prim eiro cu rso d e ap erfeiçoam ento p ara p rofessores; 1975 – Segu nd o cu rso d e ap erfeiçoam ento p ara p rofessores; 1976 – Docu m ento N ossa Resp onsabilid ad e Social; 1976 – Doação d a Fazend a Agrícola; 1976 – Constitu ição d a Paróqu ia d e Cacoal; 1976 – Criação d a equ ip e UMA d e Cacoal; 1976 – Prim eiro trabalho com o p ovo ind ígena Su ru í. 1977 – Criação d a equ ip e UMA d e Colorad o d o Oeste; 1978 – Inau gu ração d o Centro Ed u cacional Itap oranga e fecham e nto d a Escola Im igrante; 1978 – Mu d ança no qu ad ro d e obreiros com a saíd a d os p rim eiros obreiros; 1978 – Início d os Cu rsos d e Orientad ores Ru rais; 1978 – Missão com ind ígenas nu m a nova p ersp ectiva; 1979 – 1987 – Fase da crítica social, política e econômica; 1979 – Fim d o Dep artam ento d e Migração e criação d a Coord en ação d as N AC, com sed e em Cu iabá; 1979 – Mu d ança na sed e d a Paróqu ia d e Pim enta Bu eno p ara Esp igão d o Oeste;

1979 – Constitu ição d a Paróqu ia d e Ariqu em es; 1979 – Criação d a equ ip e UMA d e Ariqu em es; 1981 – Vend a d a Fazend a Agrícola; Visita d o Pastor Presid ente Ernesto Ku nert e d o Secretário Geral Rod olfo Schneid er; 1981 – Constitu ição d a Paróqu ia d e Rolim d e Mou ra; 1981 – Criação d a equ ip e UMA d e Rolim d e Mou ra, 1982 – Tem a d a IECLB p ara o ano: “Terra d e Deu s – Terra p ara Tod os”; 1982 – Im p lantação d o Projeto Vacas; 1982 – Conflito d a fazend a Cabixi e p risão d e Olavo N ienow e d o P. Oto Ram m inger; 1983 – Mu d ança d e coord enad or d as N ovas Áreas d e Colonização; 1983 – Constitu ição d a Paróqu ia Su l d e Rond ônia; 1985 – Constitu ição d a Paróqu ia d e Ji-Paraná; 1986 – Início d a reestru tu ração d as N AC em d istritos. 1987 – Fim d a Coord enação d as N AC e criação d o DERN e d o DEMT.

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Anexo II: Primeiros obreiros que visitaram Rondônia e quadro de obreiros que atuaram em Rondônia até 1987 Obreiro Alda Sprandel

Função e atuação Diaconisa que trabalhou na Escola da Vida em Ariquemes Catequista em Espigão do Oeste

Ano de atuação 02/ 1982 – 12/ 1984

Técnico agrícola do Projeto UMA de Cacoal e posteriormente Ariquemes Indigenista que atuou com o povo Suruí

1974 – 1984 (?)

08/ 1973 – 02/ 1983

Edla Bublitz

Coordenador do Departamento de Migração e das NAC. Diaconisa que trabalhou na área da saúde do Projeto UMA de Ariquemes Médico do Projeto Saúde no Sul de Rondônia Diaconisa que trabalhou na área da saúde do Projeto UMA de Ariquemes Engenheiro agrônomo que atu ou no Projeto Vacas em Colorado do Oeste Diaconisa que atuou em Ariquemes

Edna Moga Ramminger

Pastora em Colorado do Oeste e Juína

Elguido Pumpmacher

Catequista que visitou Rondônia

Elli Emma Stoefel

Diaconisa que trabalhou na Escola da Vida em Ariquemes Estudante de teologia em função pastoral em Espigão do Oeste Pastor que atuou em Ariquemes

01/ 1980 – 01/ 1982

06/ 1972 – 01/ 1979

Hans Alfred Trein

Catequista em função pastoral em toda Rondônia e depois na paróquia de Pimenta Bueno (Espigão do Oeste) Diaconisa que atuou como enferm eira nos projetos UMA de Colorado do Oeste e Ariquemes Coordenador das NAC

Horst Schmeckel

Pastor que visitou Rondônia

Iracema Lemke

Enfermeira que trabalhou no Projeto UMA de Rolim de Moura

Adalberto Reinke Adolfo Büttow Arnildo Wiedemann Arteno Spellmeier Clarice Lüdtke Delmar Purper Doraci Edinger Edgar Niederberger

Erno Júlio Dieter Friedel Fischer Geraldo Schach

Gerda Nied

1975 – 1981 (?)

1976 – 1977 (?)

02/ 1982 – 12/ 1985 1981 – 1982; 1983 – 09/ 1984 03/ 1986 – 03/ 1993 1983 – 09/ 1984 03/ 1986 – 06/ 1986 07/ 1978 – 1986; 07/ 1989 – 06/ 1993 05/ 1971

12/ 1978 – 08/ 1979 1981 – 1990 (?)

02/ 1977 – 03/ 1986

02/ 1983 – 02/ 1987 1970 1981 – 1990

04/ 1981 – 02/ 1988

Inácio Lemke

Pastor em Rolim de Moura

Ismael Tressmann

Pastor e indigenista em Espigão do Oeste

Joachim Maruhn João Artur Müller da Silva

Pastor designado pela igreja para visitar Rondônia Pastor em Cacoal

01/ 1976 – 07/ 1978

Joni Roloff Schneider

Catequista em Vilhena

01/ 1986 – 01/ 1988

Lenir Büttow

Trabalhou na área da saúde do Projeto UMA de Cacoal Técnico Agrícola do Projeto UMA de Ariquemes Pastora que atuou como indigenista entre o povo Suruí em Rondônia e Kulina no Acre (Nesse período, Lori ainda não havia concluído os estudo de teologia. Ela atuou como professora) Pastora que atuou em Cacoal e Espigão do Oeste Catequista em Espigão do Oeste

Leonor Schrammel Lori Altmann

Marli Lutz Nestor Kannemberg Nilo José Klitzke

02/ 1986 – 1995 1970

1976 – 1979 1985 – 1990 (?) 08/ 1978 – 11/ 1980

01/ 1984 – 01/ 1993 1973 – 1975 01/ 1981 – 07/ 1982

Oto Hermann Ramminger

Catequista que também assumiu as fu nções pastorais em Espigão do Oeste Trabalhou no Projeto de Apoio ao Migrante em Colorado Pastor em Colorado do Oeste e Juína

Paulo Augusto Daenecke

Pastor em Espigão do Oeste

Roberto Zwetsch

Pastor que atuou como indigenista entre o povo Suruí em Rondônia e Kulina no Acre Pastor em Espigão do Oeste, Alta Floresta do Oeste e Ariquemes. Primeiro Pastor Distrital Leigo Designado pela igreja para visitar Rondônia Pastor que atuou em Cacoal, Espigão do Oeste e Ji-Paraná Técnico agrícola que trabalhou no projeto UMA de Rolim de Moura Técnico do Projeto UMA de Rolim de Moura Pastor que atuou em Ariquemes

08/ 1978 – 11/ 1980

Pastor designado pela igreja para visitar Rondônia Pastor em Ji-Paraná

01-02/ 1972

Olavo Nienow

Rosemar Ahlert

Valdemar Holz Valdir Frank Valdir Luft Valdir Wazlawick Walter Sass Walter Schaeffer Werner Kiefer Wilmar Luft

Técnico agrícola do Projeto UMA e do Projeto Vacas no Sul de Rondônia

1979 – 09/ 1984 03/ 1978 – 1986; 07/ 1989 – 06/ 1993 07/ 1979 – 02/ 1981

07/ 1982 – 06/ 1990

1970 02/ 1979 – 01/ 1993 1985 – 1987 (?)d 1982 – 1984 (?) 1979 – 1984

02/ 1986 – 08/ 1989 1978 – 1984 (?)

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