Maassai e a Conservação do Habitat: Lion Hunting (draft)

June 24, 2017 | Autor: Joana Sá Couto | Categoria: Social and Cultural Anthropology, African Lions, Massaï
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Os Maasai E a Conservação do Seu Ecossistema: Lion Hunting

Joana Sá Couto

OS MAASAI E A CONSERVAÇÃO DO SEU ECOSSISTEMA: LION HUNTING

JOANA SÁ COUTO 216561

2015

Os Maasai E a Conservação do Seu Ecossistema: Lion Hunting

Joana Sá Couto

INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objectivo apresentar diversas perspectivas acerca da relação entre tribo Maasai e a diversa fauna e flora ao seu redor, nomeadamente a relação com a espécie considerada vulnerável, panthera leo, ou leão. A temática África Subsariana permite-nos abordar diversas e interessantes questões. Pareceu-me pertinente utilizar esta oportunidade para abordar temas tão actuais como, a conservação de ecossistemas e os interesses das populações nativas nas políticas de hoje. Utilizarei como fontes, trabalhos publicados em livros e artigos na área da Antropologia do Ambiente e da Biologia de Conservação, relacionando-os entre si, de forma a chegar a premissas mais conclusivas. Assim, começarei por expor as características dos ecossistemas retratados, irei trabalhar os dados das minhas grandes referências para este trabalho, e trabalharei as conclusões dos ditos. Procuro demonstrar que é importante que as duas disciplinas se interliguem, procurando, novos caminhos, uma vez que uma não exclui a outra, mas sim complementamse. Utilizando dados das duas áreas, é possível criar uma discussão relevante para o problema complicado do conflito entre populações humanas e a vida selvagem.

Os Maasai E a Conservação do Seu Ecossistema: Lion Hunting

Joana Sá Couto

OS MAASAI E A CONSERVAÇÃO DO SEU ECOSSISTEMA: LION HUNTING O Quénia é um país do Este de África, rico em diversas espécies de fauna e flora selvagem, com diversas reservas e Parques Nacionais. No seu geral, a África Oriental tem um clima equatorial, sendo bastante húmido e quente, podendo sofrer influências dos ventos do Oceano índico. As chuvas são recorrentes, existindo alguns meses considerados estações secas. Devido às chuvas, é possível a existência de pastos e locais onde os animais se podem alimentar e sobreviver. Isto explica a grande diversidade de animais existentes no Quénia, país do qual nos iremos centrar, sendo que esta realidade é também evidente na Tanzânia. Falamos desde os grandes herbívoros como girafas, elefantes, zebras, antílopes, entre outros, até às espécies de carnívoros. Estão presentes neste território a chita, leopardo, mabecos, hiena-malhada, hiena-riscada e a personagem central deste trabalho, o leão. A diversidade é de facto muito grande e entre estes animais ditos selvagens existem animais que conhecemos melhor como as vacas, touros, ovelhas e cabras. No século XIX, com a noção de que os recursos são finitos, cresce a preocupação com a conservação da fauna e da flora. Porém, é apenas no século XX, que se tomam sérias medidas a este respeito. Criam-se inclusivamente organizações internacionais como a IUCN – International Union for Conservation of Nature and Natural Resources (1948), International Institute for Environment and Development e a WWF – World Wild life Fund (1961). Esta necessidade de conservar, pode ser explicada por diversas razões:” The utilitarian arguments suggest that biodiversity (from genes to ecossystems) should be saved because it has value to people through a range of products and services. The non utilitarian argument is that species and populations have na intrinsic right to exist, so humans should respect and protect them.” (HAMBLER, 2004) Neste sentido, criam-se Reservas Naturais e a caça é abolida – dois factores que entram em conflito com a cultura Maasai. O primeiro, porque foram-lhes retirados territórios importantes, e o segundo devido à importância da caça do leão, como explicarei mais à frente.

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De facto, estas medidas para a conservação foram feitas a nível governamental sem a noção de como as mesmas poderiam afectar as tribos locais. É neste contexto que têm surgido trabalhos etnográficos e não etnográficos no sentido de estudar a continuação da caça ao leão e as relações dos animais selvagens com as pessoas e o gado. Este centra-se

trabalho

num estudo de

caso no âmbito da área da Biologia da Conservação em Laikipia,

Quénia,

e

em

trabalhos etnográficos, no âmbito da Antropologia do Ambiente que se focam no grande

ecossistema

de

Amboseli, no Quénia e no ecossistema Manyara.

TarangireFalamos

dos

Maasai Kisongo e Mapato (Quénia)

e

dos

Maasai

Oltukai e Esilalei. “Both study áreas are Savannahsteppe enviorements within these miarid climatic zone (…).” (GOLDMAN, 2013)

Fig. 1: Área de estudo de Mara Goldman, Joana Roque de Pinho e Jennifer Perry

O primeiro estudo de caso, por Laurence G. Frank, Roosie Woodroffe e Mordeca Ogada, foca-se no ano 1997. Para tal, utilizaram entrevistas a gerentes de 18 ranchos comerciais, três ranchos comunitários e a oito pastores dos Mukogodo Maasai, concentrandose mais nos ranchos comerciais por terem maior ocorrência de ataques. As questões abordadas prendem-se com temas como a terra, custos e gestão do gado, números e tendências dos predadores, problemas económicos da depredação. A forma como lidam com o problema, o tipo de mudanças gostariam de ver nas populações de predadores. E facto de terem colocado coleiras electrónicas a 37 leões e 39 leoas, foi também referido. (WOODROFFE, 2005). Este trabalho teve como objectivo perceber os padrões da depredação e a tentativa de solucionar o problema.

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Outras fontes citadas centram-se nas populações Maasai procurando entender o porquê da caça do leão nos dias de hoje, e o que estas sentem e acham em relação à sua conservação, uma vez que só com a ajuda destas populações locais as políticas de conservação poderão funcionar plenamente. Para tal, foram feitas entrevistas semiestruturadas e foram retirados dados, tanto no Quénia entre 2002-2004, 2005 como na Tanzânia em 2007 e 2008. Foram ainda feitas mais de 200 horas de observação participante no Quénia e mais de 300 horas na Tanzânia (nas zonas referidas na figura anterior). Para os Maasai, tribo central neste trabalho, o gado é muito importante. Nesta sociedade patriarcal a quantidade de gado tem um papel fulcral para determinar o status e a riqueza. Considerados uma representação do seu Deus, têm muita atenção à saúde dos seus animais, adornando-os e, quando mortos, utilizando toda a parte do seu corpo, que no processo desde a morte até à sua confecção nunca pode tocar o chão. Para além das suas competências como pastores são também considerados exímios guerreiros. As crianças, as inkera, começam a tratar de crias ou de tratar dos mais velhos. Os rapazes adolescentes começam a preparar-se para o futuro, começando a proteger o gado dos predadores, ajudando na construção de protecções. Quando chega a altura de iniciar o novo age-set de ilmorans, normalmente de 15 em 15 anos, os adolescentes são recolhidos e entram numa preparação que envolve vários rituais para se tornarem homens guerreiros. São primeiramente circuncisados, numa cerimónia designada de emurata. Em seguida, os anciãos irão atribuir um nome geracional aquele grupo, no ritual alamallengipaat. Por fim, os rapazes são levados para fora dos sítios onde residem para uma emananyata (conjunto de casas próprio para os futuros ilmoran) separados. Aqui irão receber treino de guerreiros e irão criar laços. Com eles vivem as irmãs mais novas de cada um. Estas são responsáveis pelas casas, comida e ainda ajudam com a pastorícia. De facto, a noção de tempo e idade para os Maasai é diferente da que estamos habituados. Não existe a ideia de ano, ou da idade que muda consoante o ano. Aqui o tempo muda por gerações, onde todos são considerados ‘da mesma idade’, do mesmo grupo geracional, identificado pelos trajes, acessórios, funções e prestígio. Um grupo de ilmorans, após o surgimento de outra geração, tornam-se anciãos júnior, e só depois passam à fase seguinte: a de anciãos. Contudo estas posteriores mudanças de estatuto geracional não se fazem ao mesmo tempo, sendo que é possível durante alguns anos

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a convivência de duas gerações de ilmorans, o que se prova uma vantagem quando em batalha. Como forma de estatuto e de instituição da superioridade de cada geração, era comum na cultura Maasai, a morte de leões, considerados os grandes adversários dignos. Contudo, hoje, os leões ou panthera leo, são uma espécie considerada vulnerável, e a caça a esta espécie pode representar um grande perigo. É neste sentido que a caça foi banida no Quénia em 1977 – enquanto que na Tanzânia é proibida apenas dentro das Reservas Naturais. “Maasai hunting of lions in both countries usually occurs without following procedures outlined in the law and seems to be tolerated by the authorities. In practice prosecution is rare, probably because of the group effort of the hunt, which makes responsible individuals difficult to isolate.”(GOLDMAN, 2013) As pesquisas feitas em Laikipia, Quénia,sugere-nos de forma simplista que a morte dos leões é feita por retaliação à morte do gado, apesar de esclarecer que o gado morre mais frequentemente de doenças do que de depredação. Por outro lado, dados retirados das populações dos panthera leo no seu habitat da Tanzânia demonstram que outra grande ameaça é a caça desportiva. As referidas pesquisas referem-se a outros predadores, mas neste trabalho pretendo retratar os dados referentes aos leões. Tabela 1

Ranchos comerciais

Ranchos comunitários

Mortes por ano

0,8%

0,7%

Causa da morte

Tiro

Veneno

Previsões

Morte

de

leões

ligada Morte de leões a aumentar

directamente à morte do gado In WOODROFFE, 2005 A causa mais comum para o conflito entre humanos e a vida selvagem tem a ver com a predação do gado. “Several factors may contribute to this situation. First, domestic livestock have retained little predator behavior and are therefore easy prey for wild carnivores. Second, livestock may compete with wild herbivores for grazing and reduce the abundance of wild prey for carnivores. (…)” (WOODROFFE, 2005)

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Nos ranchos comerciais, quando o gado é morto, espera-se que o leão volte para acabar de comer a presa, para o matar a tiro, ou estuda-se durante algum tempo qual o animal que tem a tendência para o destruir. Este tipo de comportamento é descrito como existente

“Local people’s tolerance for predators is not always closely related to the true impact that those predators have on their livelihoods. To assess attitude, we asked managers/owners of comercial ranches and individual pastoralists if they would prefer to have more, fewer or the same number of each predator (Frank 1998). (…)Local pastoralists showed a stronger antipathy towards hyenas, unanimously wishing that there were none. They were also reluctant to tolerate leopards, which they percieved to have cause equivalente damage. Interestingly, however, pastoralists’ started attitudes to predators were greatly improved where, they recieved, ou were expecting to recieve, income from ecoturism, even though such people were equally likely to experience losses to predators (Woodroffe, 2001b). Pastoralists’ desire to augment local populations of particular predators was influenced by their perceptions of what foreign tourists would wish to see: hence they were particular keen to see increases in big cats, but tended not to want spotted hyenas to increase in number because they did not expect that tourists would wish to see them.(Woodroffe, 2001b)” (WOODROFFE, 2005)

também nos ranchos comunitários e nas terras dos Maasai. Contudo devemos ter em conta que, poucos dos entrevistados acusam o controlo letal de predadores prontamente, sendo que esperavam perceber se existia um comportamento recorrente do mesmo animal. Através da monotorização dos leões, é possível perceber que preferem atacar o gado preso nos ranchos comerciais uma vez que a densidade populacional é menor e o número de cabeças de gado é superior. Paralelamente, chegaram à conclusão que o número de ataques é superior após a ocorrência de secas. Isto porque, enquanto há seca, as presas selvagens, encontrando-se fracas, são mais fáceis de apanhar. Quando chove e há comida, tornam-se mais difíceis de caçar. Nesta situação, presas que estão confinadas e bem alimentadas por humanos parecem a melhor solução. Estes comportamentos ocorrem em todos os cenários utilizados para este trabalho. De acordo com os investigadores, as bomas feitas pelos Maasai protegiam melhor o gado do que vedações simples de arame como as utilizadas na Europa. Mas a melhor forma de evitar o ataque de predadores é o controlo e a vigia por humanos, visto que os animais evitam

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atacar em locais onde os humanos estão mais visíveis e em maior número. Por outro lado, os cães domésticos provaram ser um factor importante na protecção do gado. O estudo de caso foca-se muito nos problemas económicos trazidos pela depredação. De facto, para pessoas consideradas, pelos padrões europeus, pobres, é difícil lidar com a falta de gado, uma vez que a morte do leão não lhes devolve o valor das cabeças destruídas, e o governo também não tem condições para lidar com esta falta, mantendo-se alegadamente o problema das mortes de leões por vingança. Um facto interessante é que as fêmeas com tendências para atacar gado também tendem a reproduzir-se menos “(…)than did females with no known history of stock killing at the time of capture (0.231 cubs/female/year, compared to 0.981) (…) and those cubs were less likely to survive (…)” (WOODROFFE AND FRANK, 2005) Apesar deste estudo ser muito enriquecedor de forma a padronizar o comportamento dos leões,não oferece grande conteúdo antropológico. É aqui que entra o trabalho da Antropologia de Ambiente. Esforços têm sido feitos no sentido de compreender melhor os Maasai e a sua motivação. Invoco aqui o trabalho de Mara Goldman, Joana Roque de Pinho e Jennifer Perry: “Beyond Ritual and Economics: Maasai lion hunting and conservation politics”. Criticando a explicação dicotómica apresentada por inúmeros trabalhos, como o exemplo referido acima, de que a caça ao leão dos Maasai é apenas um ritual cultural ou por vingança pela perda do gado, procuram assim desconstruir esta ideia, oferendo outros dados.

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RAZÕES PARA A LION HUNTING ENTRE MAASAI 100% 90% Número de respostas

80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

Reforço do Papel dos Ilmoran

Tanzânia

25%

Oportuni dade de praticar "warriorh ood" 13%

Quénia

76%

10%

Divertime nto/Ritua l

Spearing skills

Retaliaçã oà predação

Evitar a predação

4%

0

95%

27%

4%

2%

14%

18%

in GOLDMAN, 2013 Note-se que, enquanto os Maasai da Tanzânia vão ao encontro das ideias do estudo referido anteriormente, das revenge killings, os Maasai do Quénia invocam razões muito mais culturais para a caça, assim como vão completar a tabela 1, no sentido em que, para além do veneno utilizam também as setas .De facto, para os ilmoran, matar um leão é símbolo de prestígio, pelo que retiram as suas patas e cauda para colocarem nas suas lanças para toda a aldeia ver o seu feito. Quando um novo grupo geracional vai à sua primeira caça de leão – este ritual é invocado pelos Maasai da Tanzânia, mas outrora existia na maioria das secções – o primeiro ilmorans a atirar uma seta mortífera é o mais prestigiado do grupo. Tendo em conta que os ilmorans têm a função de proteger a tribo, a forma que encontram nos dias de hoje de o comprovar e mostrar superioridade em relação as gerações dos seus ascendentes é a de destruir um adversário que consideram importante. Tão importante que a morte de toda uma alcateia é considerada pecado. Esta necessidade de superar a geração anterior também pode provocar um aumento na morte de leões, uma vez que, se um age-set é conhecido por matar um determinado número de leões, socialmente o age-set mais recente sente-se obrigado a matar mais do que a geração anterior.

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É demonstrado também neste trabalho a dimensão emocional envolvida nas mortes por retaliação à predação. Como referido anteriormente, o gado é considerado sagrado. Os indivíduos criam verdadeiros laços de afecto com os animais, dando-lhes, nomes por vezes.

“My son’s boma had two cattle killed and one olmurrani hurt (by a lion). I cried, so the lion must cry. [Let’s say] another lion then comes to the settlement another day. The government says ‘don’t go [kill the lion] and we will pay[compensation]’.But we cannot do it. We cannot stop de ilmurran because we already lost our cattle and this loss hurts deep in our soul [roho]. “ (GOLDMAN, 2013) É importante denotar a existência de lion hunting como forma de protesto político, da qual não existem valores conclusivos no âmbito do trabalho referido (este factor não está contemplado na tabela), e as quais são ignoradas nos trabalhos do âmbito da Biologia da Conservação, apesar de ser um problema a tratar. Estas mortes ocorrem quando as populações sentem que não são ouvidas e que as medidas governamentais não vão ao encontro do seu melhor interesse, nascendo

a

necessidade de incluir as populações nas decisões políticas acerca da conservação dos habitats e ecossistemas. “In 2003, Kaputei Maasai living adjacent to Nairobi National Park killed lions in protest when the requested for support and dialogue with KWS were not met. According to local Maasai, lions were preying on sick and recovering cattle after a severe drought. They had asked KWS to intervene, and recieved no respond. One of the Maasai leader of the group that led the protest explained, ‘ We were killing lions because of the cruelty of the government. Not because the lions erred but because the government refused to help’ (interview, 2008).” (GOLDMAN, 2013) De acordo com os relatos dos informantes referidos, a grande hipótese de o governo pagar por cabeça de gado destruída é impossível. Não necessariamente apenas por motivos económicos, pelas dificuldades em controlar essas perdas, mas porque os próprios Maasai recusam essa ajuda. A sua sociedade não funciona com base no dinheiro, como a grande económica capitalista. Não faria sentido essa grande soma de dinheiro, se o seu status e prestígio depende do gado, morto pelos predadores. Poderiam estar ‘ricos’ aos olhos do mundo ocidental, mas socialmente, sem gado, seriam os mais pobres. Algo que os Maasai têm vindo cada vez mais a valorizar, contudo, é a educação. A curiosidade pelos gadgets modernos, e pelo saber fá-los envolver-se em projectos pelo simples

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prazer e possibilidade de lidar com essas curiosidades. É um dos factores que os fez envolver_, por exemplo, no programa Lion Guardians, iniciado em 2007. No âmbito deste projecto, é dada a formação necessária a ilmorans para se tornarem cúmplices dos conservacionistas e autoridades que pretendem conservar os ecossistemas do Quénia e Tanzânia, sensibilizando as populações para a coexistência entre espécies, e assim facilmente controlando as populações dos panthera leo. Aqui, os ilmorans são transformados em protectores de leões, tendo como função a monotorização dos mesmos e o controlo de lion hunting da sua secção. É um trabalho remunerado.

Fig. 2:Este Locais onde parece existemter Lion Guardians. Estes locais são, porpagamento norma, locais não de projecto mais vantagens do que o simples poronde cabeças existem reservas naturais. Será que os Maasai querem conservar os leões ou apenas adoptam essa atitude quando recebem valores monetários? Tudo aponta para o desejo de preservar esta espécie. Para além de ser um animal importante na sua cultura, por ser considerado um digno adversário, uma vez que possui características admiradas também nos guerreiros, também existem outros factores, como a beleza

do

animal,

seu

comportamento

e

o

interesse

para

os

turistas.

Aliás, no âmbito de uma pesquisa etnográfica, foi perguntado aos entrevistados se tivessem a possibilidade de salvar uma espécie, qual seria, 8.4% respondeu: o leão.

Os Maasai E a Conservação do Seu Ecossistema: Lion Hunting Joana Sá Couto “Notably, some informants characterized lion and elephant as both harmful to humans and livestock and beautiful, emphasizing how they offer entertaining, even fascinating sights: ‘Everything is different with the lion: how it lies down, walks, stands. Althought it kills people, it’s good to look at!’(…) ‘I like the lion, even though it’s agressive. If you see one, you must stop and look at it! […] a lion builds the mind so much! I don’t know what’s really inside, but it must have something magical (…). When informants listed lions as ugly (which happened less frequently then listing them as beautiful), they mentioned their ‘bad colors’ and ‘scary appearence’ (…). Women, particular, find lions ugly because of their terrifying mane, and the fear lions inspire them in general. “ (ROQUE DE PINHO, 2014)

Existem muitas maneiras de controlar os danos causados por carnívoros, que não envolve destruí-los. As vedações são facilmente ultrapassadas por animais persistentes, e no caso do leão, facilmente ultrapassáveis pela sua destreza. A existência de luz no local onde o gado está preso também não se aplica no caso dos leões que partilham o seu habitat com humanos diariamente, como é o caso, até porque é um carnívoro que ataca durante o dia, normalmente. Na tabela 2 (em anexo), o leitor encontrará possíveis soluções que nunca foram aplicadas a estes ecossistemas retratados e que envolvem elevado envolvimento monetário e pessoal. Seria interessante discutir e testar essas possibilidades uma vez que é urgente encontrar maneiras de atenuar o conflito entre pessoas e os animais selvagens, conseguindo um equilíbrio entre os interesses das populações e os objectivos conservacionistas.

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CONCLUSÃO A grande causa para conflito entre a vida selvagem e os Maasai é a predação ao gado. Este, determina o status e o prestígio para esta tribo, sendo um bem precioso e valorizado, elevado até ao ponto de ser considerado sagrado. Estimam os animais de tal modo, que estas perdas são sentidas, com grande tristeza e sentimento de vingança. O estudo de caso “People and predators in Laikipia District, Kenya” de Laurence Frank, et al., refere-se à morte dos leões em Laikipia, Quénia, de modo minimalista, assumindo que as mortes tanto nos ranchos comerciais como nos ranchos comunitários são revenge killings de leões, não mostrando a diferença entre os dois tipos de morte nem as suas razões. O contexto deste trabalho é confuso, não dando para perceber se os ranchos comunitários têm a ver com os Maasai ou não. Estas explicações dicotómicas oferecidas pela Biologia da Conservação são criticadas por antropólogos da Antropologia do Ambiente, que pretendem demonstrar o porquê de os Maasai matarem leões para melhor compreender e gerir o conflito. De facto, as perdas são sentidas nos ranchos comerciais e nos ranchos comunitários de maneiras diferentes. Uma, é uma perda mais económica e de lucro,à qual se responde facilmente com um tiro. Para os Maasai a realidade é mais complexa. É isto que Mara Goldman e Joana Roque de Pinho pretendem desconstruir e trazer para a discussão: o ponto de vista do nativo. Os Maasai matam leões não só pela morte do gado mas também por razões culturais. Sendo o panthera leo pensado como o grande guerreiro da savana, os grandes guerreiros ilmorans consideram-no um adversário digno. Caçar um leão apenas com uma seta comprova a superioridade do ilmorans que primeiro atira a seta fatal. Hoje, devido à ilegalidade da caça ao leão no Quénia, algumas revenge killings são feitas através do veneno – considerado pelos Maasai uma maneira cobarde de matar animais contudo, estas mortes por razões mais culturais e sociais, como comprovar a força de um ageset, por exemplo, são feitas de modo tradicional e costumam ser toleradas pelas autoridades. É claro neste estudo, a necessidade de incluir os Maasai nas decisões políticas. A tentativa de indemnização pelo governo pelo gado destruído de nada adianta, visto que a estrutura social e económica dos Maasai valoriza o gado mais do que o dinheiro. Através de um relato de uma experiência no rancho Manyara, percebe-se também que por não sentirem que são ouvidos pelas autoridades e sentirem que estas não acautelam os seus melhores interesses, optam por matar esta espécie vulnerável como protesto político.

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Um exemplo claro do interesse dos Maasai em serem envolvidos nestas problemáticas é o projecto Lion Guardians. De facto, como percebi através da leitura por alguns trabalhos etnográficos com os Maasai, a educação é algo muito valorizada, sendo que são muito curiosos com as tecnologias modernas. Neste sentido, recrutou-se, de modo remunerado, vários ilmorans em áreas não contempladas por Reservas Nacionais para, lhes dar formação, para monitorizar as populações de leões, responsabilizando-se por evitar as caças aos leões e sensibilizar a tribo. Para substituir a caça ao leão, os ilmorans do grupo fazem uma espécie de ‘Jogos Olimpicos’ em que competem entre si numa série de provas físicas. O projecto “Influence of Aesthetic Appreciation of Wildlife Species on Attitudes towards Their Conservation in Kenyan Agropastoralists Communities” liderado também pela antropóloga Joana Roque de Pinho vai-nos responder à questão de saber se os Maasai desejam que os leões sejam conservados. A resposta é sim, por variadíssimas razões. Mesmo alguns dos informantes que referiram que os leões eram feios, queriam a sua preservação. De facto, todos têm um objectivo comum. Autoridades governamentais, ambientalistas, conservacionistas, antropólogos têm o objectivo de preservar os ecossistemas e habitats selvagens, e as espécies selvagens. Logo, o conflito entre Maasai e leões pode ser facilmente resolvido através da integração dos Maasai nas decisões, uma vez que são estes são os mais afectados. Discutindo ideias, é possível testar outras formas de manter os predadores longe do gado para amenizar este conflito. Criam-se aqui questões interessantes. Será que os Maasai querem abandonar o seu modo de tratar o gado, estariam dispostos a faze-lo pela conservação de predadores? Será que os ilmorans vão arranjar outras formas de se mostrar poderosos guerreiros, como os Lion Guardians o fizeram? Até que ponto é que isso poderá fragilizar a visão dos ilmoran, e modificar a estrutura social? Será que uma visão fragilizada de um grupo poderá provocar guerras entre secções da tribo Maasai? São algumas das perguntas relevantes que esta temática nos remete. Este trabalho, serve assim para demonstrar a possível complementaridade da Biologia da Conservação com a Antropologia do Ambiente, trabalhando proximamente com os Maasai para resolver conflitos e entender estas e mais questões. O grande desafio deste trabalho foi de facto, a tradução de termos científicos e termos dos próprios Maasai que em artigos diferentes surgiam escritos de maneiras diferentes. Aqui a chave é mesmo a leitura extensiva e tentativa de compreensão da tribo e destas temáticas.

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Tentei utilizar um discurso objectivo e claro e explicar os contextos, simplificando as conclusões dos trabalhos que utilizei como referência. Assim desenvolvi competências de tratamento da pesquisa como também da própria pesquisa em si, sendo fulcral as fontes credíveis. Através de mais pesquisa, ou até trabalho etnográfico se possível, poderei responder a dúvidas que me surgiram como o significado de boma, o porquê das mulheres terem dado respostas tão negativas em relação aos animais selvagens, o porquê de na Tanzânia ser mais comum as revenge killings, entre outras. Penso que a conservação de espécies e ecossistemas é do melhor interesse de todos, assim como a conservação destas formas de organização sociopolítica como os Maasai e outras tribos pelo mundo. O estudo das questões do conflito entre as tribos e as leis de conservação é interessante, mas também o estudo das estruturas sociopolíticas é fulcral para trazer informação preciosa sobre os porquês para se conseguir entender como minimizar este conflito, e manter as políticas de conservação. É ,portanto, urgente que antropólogos, biólogos, autoridades e os nativos trabalhem em conjunto. É do melhor interesse tanto das tribos como dos ecossistemas, pois, como vimos, a morte de animais apesar das medidas políticas é recorrente.

Fig.2: ilmorans

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS •

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ANEXOS

Method

Remarsonefficiency (E),

Zootechnicalmeasures

manpowerrequirement (M), andcost

Flock/Herd Management Shepherding

Fewerlosseswithshepherd presente. Combinationwith LGD andnight-time corralsrecommended

Hotspotsavoidance

Carnivoreswillkilllivestockmostly in specific áreas. Avoidingsuchareasreduceddepredation

Controlofcalvingandlambing

Newbornlivestockishighlyvulnerable to most médium-sizeandlargecarnivores

Confininglivestockatnight (pens)

Crowdingatnightrequiresadvancedhealthcare. Nightpensmustbeperdatorproof, otherwiveriskofexcessivekiling.

Disposaloflivestockcarcasses

Disposalofcarcasses (disease) reducedlosses to predators. Removingkills (predation) provokesadditionalkills

Guardinganimals Livestockguardingdogs (LGDs)

Efficientagainstallpredators, workbest in combinationwithshephards. Training (socialization) andtakingcareofthepupsvery time-consuming. Socializationnoteasy; manyLGDs do notcorrectlybond to flock. Best E in age of 2-3 years. LGD oftendisturb (play) flockwhenyoung; mayeveninjureorkilllambs. LGD mayfrightenhikers (…)mayoamandhuntwildlife. PrematuredeathofLGDs.

Tabela 2.References to non-lethaltechniquesused for carnivoredamageprevention In WOODROFFE, 2005 (TABELA 4.2)

Os Maasai E a Conservação do Seu Ecossistema: Lion Hunting

FIG 3 – Mapa do Quénia e Tanzânia

Joana Sá Couto

Os Maasai E a Conservação do Seu Ecossistema: Lion Hunting

Joana Sá Couto

CONCEITOS: Ecossistema: sistema formado pela interacção de uma comunidade de organismos uns com os outros e com o seu ambiente físico. (WEDDELL, 2002) Conservação: efeito de manter, cuidar ou preservar algo. Aplicado ao conceito de ecossistema faz referência à protecção da fauna e flora presente no mesmo. Habitat: tipo de ambiente em que a espécie prospera, descrito em termos físicos e /ou químicos. Uma espécie pode ocupar diferentes tipos de habitats. (WHITTAKER, 1975) Boma: termo utilizado tanto para descrever conjunto de casas, como para descrever as vedações de árvores secas construídas para proteger o gado. Age-setsystem: base da estrutura social Maasai, divide os indivíduos em grupos geracionais através de rituais. Complementado por cerimónias e festivais. Ilmorans: nome atribuído ao grupo geracional de guerreiros mais ’recente’. Os guerreiros são respeitados por toda a comunidade e espera-se que consigam proteger a sua comunidade de outros povos e predadores, sendo ao mesmo tempo inteligentes, fortes e gentis.

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