MACONHA E PSICOSE: EXISTE UMA RELAÇÃO?

September 12, 2017 | Autor: Mara Brum | Categoria: Educational Psychology
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MACONHA E PSICOSE: EXISTE UMA RELAÇÃO? Fátima Regina Gomes 1 Mara L T Brum 2

Resumo Este trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão de literatura no modelo de monografia acerca dos fenômenos que ocorrem durante ou imediatamente após o uso de substâncias psicoativas, tais como: as alucinações, delírios, ideias de referência, transtornos psicomotores, afeto anormal. Além disso, estudo aprofundado sobre o uso e abuso da maconha, bem como, sua relação com a psicose. Um fator importante de base sustentadora na vida do indivíduo é a família, sendo esta, peça fundamental de facilitação ou de proteção na questão da dependência e recuperação das pessoas, na medida em que, a falta de suporte e desestrutura familiar, gera comportamento de risco. Optou-se pela busca em publicações científicas impressas como forma de valorização dos profissionais locais e suas capacitações. Verificou-se que maconha exacerba os sintomas naquelas pessoas que já apresentam alguma doença mental, como a esquizofrenia ou a depressão, além disso, observa-se que existem evidências suficientes de que a maconha possa produzir em usuários pesados uma psicose. Porém, conclui-se que não há dados suficientes que provem que o uso da maconha possa gerar uma psicose crônica que perdure após o período de desintoxicação. .

PALAVRAS CHAVES: Dependência Química, Maconha, Psicose

1. Introdução As várias tendências de reflexão sobre a Doença Mental, notadamente sobre as Psicoses, embora provenientes de diversos momentos históricos do pensamento psicológico, estimulam a tônica das discussões acerca do tema. Entre os autores encontramos defensores do modelo sociogênico 3, no qual a sociedade complexa e exigente é a responsável exclusiva pelo enlouquecimento humano. Defensores do modelo Organogênico 4, diametralmente oposto ao anterior e onde os elementos 1

Graduada em Psicologia pela UCPEL – Licenciada Arte Terapeuta e Coordenadora do Hospital Dia Psiquiátrico da A.C. Santa Casa de R.G E- Cursando Pós-Graduação Abordagem Multidisciplinar em Dependência Química. E-mail: [email protected] 2 Mestranda em educação – UFPEL . email: [email protected] 3 origem e conservação da sociedade 4 Processo de desenvolvimento do embrião.

orgânicos da função cerebral seriam os responsáveis absolutos pela Doença Mental. Do modelo Psicogênico 5, onde a dinâmica psíquica é a responsável exclusiva pela doença e as disposições constitucionais pessoais pouco importam. Finalmente há o modelo Organodinâmico, o qual compatibiliza os três anteriores num enfoque bio-psico-social. Tem sido quase que unanimemente aceito na psiquiatria clínica, a associação de determinadas configurações de personalidade predispostas, e a eclosão de psicoses. Estas personalidades são as chamadas Personalidades Pré-mórbidas, cujo conceito é abordado no capítulo sobre os Transtornos da Personalidade, tanto pelo CID (Classificação Internacional das Doenças) quanto pelo DSM (Manual de Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais). A Constituição (Personalidade) Pré-mórbida é considerada pela psicopatologia como uma variação do existir humano e traduz uma possibilidade mais acentuada para o desenvolvimento de certa vulnerabilidade psíquica. Aqui o termo "possibilidade" deve ser considerado em toda sua plenitude, ou seja, trata-se de um caráter não-obrigatório, mas que deve ser levado muito a sério. Novos estudos e pesquisas pertinentes ao uso de maconha tem tido ênfase progressiva há algum tempo. A relevância deste estudo se justifica pelo aumento do uso abusivo de maconha em todo o mundo, citando como exemplo, os Estados Unidos da América (EUA), onde houve um aumento significativo de usuários dependentes, que fazem uso nocivo da droga. Em pesquisas nacionais desenvolvidas por Crippa e colaboradores (2005); Laranjeiras e colaboradores (1998) e, Lemos e Zaleski (2004) investigaram os efeitos e as suas repercussões neuropsicológicas relacionadas ao consumo de maconha. A ABEAD 6 relata que o interesse de pesquisas relacionadas ao uso de maconha tem aumentado em função de um maior número de pessoas terem utilizado esta droga, onde o uso inicial se dá mais cedo e da concentração de THC (Tetrahidrocannabind – elemento psicoativo da maconha) ter aumentado. Aumentam também os estudos que discutem os efeitos adversos agudos e crônicos da droga. Um conjunto de fenômenos psicóticos que ocorrem durante ou imediatamente após o uso de substâncias psicoativas, podem variar de medo intenso a êxtase, onde são caracterizadas por alucinações vividas (tipicamente auditivas, porém, freqüentemente em mais de uma modalidade sensorial) falsas reconhecimentos, delírios e/ou idéias de

5 Relativo á psicogenia. Doença ou transtorno provocado por causas psicológicas. 6 Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, 2005- em http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v08/m31684.pdf - acessado em 07-02-2012

referência (freqüentemente de natureza paranóides ou persecutória), transtornos psicomotores (excitação ou estupor) e afeto anormal. Os transtornos psicóticos induzidos por substâncias psicoativas podem apresentar-se com vários padrões de sintomas. Essas variações serão influenciadas pelo tipo de substância envolvida e pela personalidade do usuário. Para drogas estimulantes tais como, cocaína e anfetaminas, os transtornos psicóticos induzidos por estas, estão em geral intimamente relacionados em altos níveis de dose, e/ou, do uso prolongado da substância. Diante do exposto, faz-se necessário um aprofundamento sobre a maconha e sua origem.

2. Maconha - Um breve Histórico A maconha (palavra de origem angolana) é uma das drogas extraídas de plantas, onde registros datam 2712 a.C. quando foi mencionada na Farmacopéia Chinesa. Também encontrada em fibra vegetal há 4000 a.C. no norte da China Central, onde se difundiu gradualmente para a Índia, Oriente Médio, chegando à Europa somente no fim do século XVIII e início do século XIX, passando pelo Norte da África e atingindo as Américas, onde até então, era utilizada principalmente por suas propriedades têxteis e medicinais. Navegadores portugueses introduziram na África e na Ásia, o tabaco, onde em troca, seus navios trouxeram para o Brasil escravos acostumados a fumar maconha. No Brasil, a droga foi utilizada para produção de fibras, onde na mesma época os Estados Unidos importava da Europa a semente para o plantio. Navios portugueses, espanhóis, holandeses, franceses e ingleses usufruíam de velas e cordas de maconha, que seus governos espalharam sementes da planta por todo o planeta. (Amarante, p.185). Até o século XX a maconha era a mais famosa das Américas, como fibra têxtil e planta medicinal. No século XIX, a maconha começa a ser usada por escritores e artistas, mas sua utilização restringia-se a pequenos círculos boêmios de grandes cidades e de imigrantes asiáticos e africanos. No século XX, Cientistas identificaram os efeitos colaterais da maconha, e seu uso ficou excluído das farmacopéias, sendo proibido por lei em vários países, onde seu consumo passou a ser disseminado no mundo nos anos 60. Também conhecida como Cannabis sativa, suas flores e pequenas folhas fornecem a maior parte da droga, que é moída, assemelhando-se à grama cortada. Da extração da planta se obtém um produto mais potente chamado de “haxixe”, sendo que,

atualmente, seu material é geneticamente alterado e com nível de tetrahidrocanabidnol dez vezes maior. Atualmente, a maconha é conhecida como, Haxixe - no Oriente Médio e África do Norte; Charas – no Extremo Oriente; Marijuana – Estados Unidos e México e demais

países

da

língua

espanhola;

Maconha,

Bomba,

Fumo,

Coisa,

Erva,Bolo,Chá,Baura – no Brasil, onde essa sinonímia tem suas variáveis de acordo com o grupo de usuários costumes e modismos da época. As formas de consumo da maconha se dão através de fumo, ou por via oral, misturada em alimentos infusões etc. A maconha, quando administrada, passando pela corrente sanguínea, o THC (tetraidrocanabinol), passa por todos os tecidos do organismo, onde afeta principalmente o cérebro e o sistema cardiovascular, sendo que, o curto ou médio prazo o THC atua em todos os sistemas vitais do organismo, originando sérias conseqüências. Pesquisas realizadas com alunos do ensino médio e fundamental da rede pública, pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas CEBRID 7 (1997), mostram que, a maconha é a droga ilícita mais usada no Brasil,onde, em levantamento de 1997, as capitais que apresentavam o maior índice de consumo, foram Curitiba (11,9%) e Porto Alegre (14,4%). Constatou-se que 7,6% dos estudantes relataram já ter experimentado maconha uma vez na vida. No estudo realizado por “Saibro e Ramos” (2003) com 1586 estudantes, em 14 escolas públicas e privadas do ensino médio e fundamental de Porto Alegre, verificou-se que o uso da maconha teve seu pico de experimentação na faixa etária dos 14 aos 16 anos (72,5%), sendo, a prevalência de uso na vida (uso experimental) de 21% nesta população. Além de observarem que o consumo de maconha tem aumentado entre os adolescentes, alguns estudos abordam os prejuízos acarretados ao longo do tempo. .Há evidências de que o uso prolongado de maconha é capaz de causar prejuízos Cognitivos relacionados à organização e integração de informações complexas, envolvendo vários mecanismos de processo de atenção e memória (Ribeiro e Marques, 2002)

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Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas.

As alterações neuropsicológicas relevantes identificadas em usuários crônicos desta substância, tais como, os déficits em tarefas psicomotoras, e a atenção e memória de curto prazo (Pope et al, 1995) 8. Após períodos breves de tempo de uso desta substância, em alguns casos, são detectados dificuldades de aprendizagem em função de prejuízos na memória de curto prazo. Também prejuízos da atenção podem ser detectados a partir de fenômenos, tais como, do aumento da vulnerabilidade à distração, o afrouxamento das associações, indução de erros em testes de memória, inabilidade em rejeitar informações irrelevantes e piora da atenção seletiva. (Oliveira, 2006) A Associação Brasileira de Psiquiatria lembra que a adolescência é um momento da vida de maior vulnerabilidade e que pode favorecer a experimentação e a manutenção do uso de maconha e fatores, como por exemplo: o baixo rendimento escolar, o uso de outras substâncias psicoativas por parte do próprio adolescente ou de amigos seus. A delinqüência e desestrutura familiar contribuem para a manutenção do comportamento do uso de maconha em adolescentes e adultos jovens. A Organização Mundial de Saúde em Oliveira, 2006 reconhece dependência química como doença. Uma doença é uma alteração da estrutura e funcionamento normal da pessoa, que lhe seja prejudicial. Por definição, como o diabetes, ou a pressão alta, a doença da dependência não é culpa do dependente; o paciente somente poderá ser responsabilizado por não querer o tratamento, se for o caso. A dependência química não tem uma causa única, é um conjunto de fatores que atuam ao mesmo tempo, sendo que, às vezes, uns são mais predominantes naquele indivíduo específico do que em outros. No entanto, sempre há mais de uma causa, sendo que, a dependência química gera inúmeros problemas sociais, familiares, físicos etc. Conforme a OMS (Organização Mundial de Saúde), as primeiras experiências com drogas ocorrem, freqüentemente, na adolescência. Vários trabalhos têm evidenciado a precocidade da faixa etária do início do uso de drogas, geralmente dentro da adolescência, entre 10 e 19 anos. Na adolescência as regras costumam ser questionadas e contestadas e, juntando-se ao faturista ser uma época de experimentações, surge então, um risco maior para o uso de drogas ilícitas como, o álcool e fumo. 8

Revista Brasileira de Psiquiatria Oficial journal of Brasilian Psichiatric Association, Volume 32Suplemento I – maio 2010.

Não está comprovado que a maconha gere danos cerebrais irreversíveis em humanos, porém, seu uso crônico, gera diminuições mais sutis na atividade cerebral, como, a diminuição nas habilidades mentais, especialmente na concentração, e na capacidade de memória recente. A médio ou longo prazo, as reduções destas habilidades persistem enquanto o usuário mantiver-se cronicamente intoxicado e poderá ou não reverter-se após o uso descontinuado se a pessoa tornar-se abstinente por um tempo prolongado. Por quanto mais tempo a maconha for usada, mais afetadas ficarão suas habilidades mentais. Este tipo de efeito deverá ter atenção especial aos adolescentes que ainda estão em fase de desenvolvimento. Entre os efeitos psicológicos da maconha estão: ansiedade, euforia, pânico e paranóia, especialmente em usuários menos experientes; diminuição das habilidades mentais, especialmente a atenção e memória; diminuição das capacidades motoras e possivelmente aumento do risco de dirigir, se intoxicado; aumento do risco de experenciar sintomas psicóticos entre os sujeitos com predisposição para tal doença. Os efeitos físicos são: relaxamento/euforia, pupilas dilatadas, conjuntivas avermelhadas (branco dos olhos), boca seca, aumento do apetite, rinite/faringite, comprometimento da capacidade mental, percepção alterada, coordenação motora alterada, voz pastosa, aumento dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, despersonalização ansiedade/confusão, alucinações, perda da capacidade de insight. Alguns efeitos crônicos da maconha, como, fadiga crônica e letargia, náusea crônica, dor de cabeça, irritabilidade, tosse seca, dor de garganta crônica, congestão nasal, piora da asma, infecções freqüentes dos pulmões, bronquite crônica, diminuição da coordenação motora, alteração na memória e concentração, alteração da capacidade visual (profundidade e cor), infertilidade, problemas de menstruação, impotência, diminuição da libido e satisfação sexual. Alteração no pensamento abstrato, depressão e ansiedade, mudanças rápidas do humor/irritabilidade, ataques de pânico, mudanças de personalidade, tentativas de suicídio, isolamento social, afastamento de laser e outras atividades. Existem alguns fatores fortemente associados ao uso abusivo de drogas e dependência química, como por exemplo, os fatores genéticos, psicológicos, familiares e sociais. Em geral parece que esses fatores não costumam agir isoladamente e sim em conjunto. Na pesquisa realizada encontraram-se referências aos fatores sócio-ambientais quanto ao uso de drogas, ou seja, nas influências do destino vivencial da pessoa sobre

seu comportamento, pensamento e sentimento, onde a família é de fundamental importância e bases sólidas.

2.1. Família A família – aparece como um dos inúmeros fatores associados à dependência química. A família, ou, mais precisamente, as atitudes da família, com propósitos educativos, parece ser um fortíssimo fator de intervenção e influência, principalmente em relação à prevenção da dependência. Dessa forma, o meio familiar pode ser um importante elemento de proteção ou, ao contrário, de facilitação dos comportamentos de risco, do abuso ou de uma possível dependência de drogas. Os principais fatores familiares de proteção ao uso de drogas se encontram nos laços afetivos estabelecidos entre seus membros, no monitoramento das atividades e amizades do adolescente, na construção de escalas de valores éticos e no estímulo para condutas sociais adequadas. Pons (1998). Rebolledo, Ortega e Pillon (2004, citado por Broecker e Jou, 2007) 9 analisaram 2.829 estudantes de ambos os sexos, com idades entre 12 e 17 anos, mediante o Test. Drug Use Screeninginventory. Alguns autores tais como: Rebolledo, Ortega e Pillon atribuíram à ausência do pai no domicílio do adolescente, como um risco 22 vezes maior de chance de o adolescente ser dependente de drogas, quando comparado aos adolescentes que viviam com ambos os pais. Segundo estudos, o papel dos pais e do ambiente familiar é marcante no desenvolvimento dos filhos. A falta de suporte e estrutura familiar, bem como o comportamento de risco ou o uso de drogas pelos próprios pais são atitudes facilitadoras ao uso, abuso e dependência dos filhos. Para ARMSTRONG 10 o cuidado adequado aos filhos durante toda a infância, como um lar, onde as intervenções paternas sejam menos restritivas e impositivas, está relacionado a uma vida mais saudável na adolescência, capacitando esse indivíduo, quando adulto, a desempenhar um bom papel paterno ou materno.

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ZART.Carla e BROECKER, Psicologa -Terapeuta de Casal e Família, Especialista Dependência Química los e mestre los PUCRS Psicologia pela. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141382712007000200015&script=sci_arttext#*b 10

Armstrong T, Bauman A, Davies J (2000). Physical activity patterns of Australian adults. Results of the 1999. National Physical Activity Survey. Canberra: Australian Institute of Health and Welfare.

SPROVIERI11 diz que a adolescência, por ser um período de grandes transformações, leva a família a uma reorganização de papéis e ao estabelecimento de novas regras.

São necessárias adaptações na estrutura e organização familiar para

preparar a entrada do adolescente no mundo adulto. Copiando Zart 12 refere que, a presença dos pais junto aos filhos é tão ou mais importante na adolescência do que na infância, uma vez que seu papel agora é estar atento, mobilizar sem dirigir, apoiar nos fracassos e incentivar nos êxitos. Em suma, estar com os filhos, é respeitar cada vez mais sua individualização (SAMPAIO, 1994). 13 Também, observou-se que, o modelo cultural é outro fator que contribui para levar os indivíduos a consumirem drogas, pois desde os tempos remotos beber não é proibido , ao contrário, a mídia fortalece o consumo de bebidas e cigarros como sendo algo que os ídolos usam e visto no ocidente como algo tolerável, se a pessoa for bem sucedida financeiramente. Outro fator importante é a própria pessoa, pois ela é responsável pelo seu próprio destino. A família e a sociedade, sem dúvida, têm papel fundamental no desenvolvimento da pessoa, entretanto, a parte mais importante deve vir de si, em saber sobre seus limites e propensões, tanto para o uso das drogas, quanto para os efeitos psicóticos causados por esta. Já dizia Sartre: A pessoa não deve ser responsabilizada pelo que o destino fez com ela, mas é totalmente responsável pelo que ela vai fazer com aquilo que o destino fez com ela. Após este breve relato sobre aos efeitos da maconha no organismo e seus principais

fatores desencadeantes, se fará uma descrição sobre a psicose e suas

manifestações .

3. Psicose A psicose, de acordo com alguns autores, é uma doença mental caracterizada pela distorção do senso de realidade, inadequação e falta de harmonia entre o pensamento e a afetividade. 11

Sprovieri, M.H. _ Stress, alexitimia e dinâmica familiar em famílias de portadores de autismo. Tese de Doutorado em Serviço Social apresentada à PUC-SP, 1998 12 Carla Zart psicóloga e Broecker, Terapeuta de Casal e Família, Especialista Dependência Química los e http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413mestre los PUCRS Psicologia pela. 82712007000200015&script=sci_arttext#*b 13 SAMPAIO, Daniel – Ninguém morre sozinho: o adolescente e o suicídio. 5ª ed.. Lisboa: Editorial Caminho, SA, 1994

Estudos apontam, que nos últimos anos houve aumento considerável em torno das pesquisas sobre a Psicose, buscando compreender o que acontece com a pessoa que desenvolve o primeiro episódio psicótico desde sua fase inicial.Tentam também, identificar sobre fatores associados a recidiva dos sintomas psicóticos.( CHAVES, p.39)14 Observou-se que os sintomas depressivos podem ocorrer em todas as fases do transtorno psicótico, e são os mais precoces e mais freqüentes sinais da psicose iminente e em estágios mais avançados, sendo também os mais freqüentes sinais indicativos de uma recaída. Segundo Pitta, as manifestações psicopatológicas podem variar no seu início, de forma insidiosa, às formas mais agudas. Alguns casos de esquizofrenia desenvolvem-se insidiosamente em condições prejudicadas na infância, no desenvolvimento da personalidade e da cognição, o que dificulta reconhecer o pro domo da psicose. (Pitta ET AL Chaves. 33). Conforme Hafner, observou-se que, quase todos os sintomas negativos precedem os positivos por alguns anos. As formas de início insidioso são particularmente precursoras de transtornos de esquizoafetivos, maníacos ou induzidos por substâncias psicoativas com melhor prognóstico. (HAFNER ET AL Chaves. 34). A psicose tem início repentino e duração curta (um mês) em que o paciente fica incapacitado de realizar suas funções sociais e profissionais. Como se trata de um quadro psicótico, na maioria das vezes o paciente nega estar doente, e pode até admitir que algo não vai bem, que tem algum problema, mas de forma alguma admite que o problema é mental. Muitos desses surtos são acompanhados de eventos estressantes ou fortes, como perda de pessoa querida, do emprego, mudança de cidade ou ambiente social; forte ferimento físico, acidente com seqüelas, e ainda, eventos positivos como o nascimento de um filho ou o casamento. O período que se observa em média entre a ocorrência do evento e o início da psicose é de duas semanas, a completa recuperação pode levar de dois a três meses, sendo que a fase pior dura menos de um mês. A pessoa passa a ter um comportamento desorganizado, não acaba o que começa e o que faz, muitas vezes não tem sentido. Veste-se inadequadamente, não atende aos apelos dos familiares, recusa-se em colaborar com o que é preciso. O sono, como em

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CHAVES. Ana Cristina. LEITE, Ângela L Scantgno de Souza. - Fases Iniciais da Psicose: A experiência do programa de atendimento de pesquisa no primeiro episodio psiquiátrico .São Paulo: Roca, 209

todos os transtornos psicóticos fica diminuído. O senso de perigo pode ser perdido, deixando o fogo da cozinha aceso, a porta da rua aberta, permitindo que crianças brinquem com facas afiadas, etc. Alguns pacientes tornam-se repetitivos nos gestos ou nas palavras. Surgem personagens inexistentes das fantasias delirantes ou das alucinações auditivas, com quem o paciente se relaciona. Às vezes rituais com cunho religioso são entoados ou criados pelos pacientes. Diversas outras manifestações podem surgir, os quadros psicóticos, costumam ser muito variados, e só alguns foram comentados aqui. Far-se-á a seguir um relato sobre a relação da maconha com a psicose.

4. Relação entre Maconha e Psicose O estudo aponta que o uso de maconha pode levar a sintomas de curta duração como despersonalização, falta de motivação, desinteresse, sentimento de perda de controle, medo de morrer, pânico irracional e idéias paranóides. Em pesquisa com usuários de maconha, 15% dos indivíduos relataram sintomas psicóticos, como por exemplo, ouvir vozes; sensação de perseguição ou risco de ser machucado por outra pessoa. A maconha pode precipitar à psicose da seguinte forma: Quanto ao uso agudo de altas doses, poderá induzir a uma psicose com sintomas de confusão e alucinação; o uso contínuo poderá levar a uma psicose crônica que persiste após a abstinência; e com o uso prolongado poderá levar a uma psicose com redução parcial após a abstinência; sendo que o uso de maconha pode ser um fator de risco para sérias doenças mentais como a esquizofrenia. Conforme artigo da Colband 15, o uso de maconha está associado a altos graus de doenças psiquiátricas. Uma pesquisa realizada em 1990 com 20.000 cidadãos da comunidade e de instituições mostraram que 50% dos indivíduos com dependência ou abuso de maconha também obedeceram ao critério para outro distúrbio mental. Em 1998 um estudo feito com 133 recrutas italianos mostrou que a predominância de doenças psiquiátricas estava relacionada a um padrão de uso de maconha, onde, entre 69% dos dependentes de maconha, 41% dos usuários eram abusivos e 24% dos usuários eram ocasionais, e apresentavam pelo menos um diagnóstico psiquiátrico, sendo que os mais comuns eram distúrbios do humor depressivo, depressão maior e distimia. A severidade dos sintomas aumentou proporcionalmente ao aumento do uso. Outra

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http://www.colband.com.br/edutech/webquest_template/docs2/maconha%20X%20psicose%20q7.htm

evidência é o alto grau e abuso da droga entre os portadores de doenças psiquiátricas. Estudo mostrou que o risco de obedecer à critérios para abuso de drogas é 4,6 vezes maior naqueles que sofrem de esquizofrenia do que na população em geral, sendo que a maconha é a droga mais usada. Verificou-se, através de estudo, que altas doses de maconha podem levar a uma psicose tóxica, porém algumas pesquisas evidenciam o uso da maconha para "tratar" sintomas como depressão e ansiedade. Estudos vêm apontando um aumento dos episódios de alucinação entre pacientes em tratamento de esquizofrenia e continuação do uso de maconha. A maconha é considerada um fator de risco para doentes mentais, porém, não existem evidências de que ela desencadeie

a doença

mental. Segundo Werner 16 fatores de risco não são elementos estáticos, e sua identificação e avaliação só têm valor se estiverem conectadas a programas de intervenção onde exista um acompanhamento periódico no sentido de proporcionar educação para a saúde, reabilitação e tratamento

5. Considerações finais Entre as alternativas encontradas para tentar contornar o uso de drogas lícitas ou ilícitas, pelos jovens e pessoas com predisposição para desenvolverem quadros psicóticos, está em primeiro lugar, à importância da família, que deverá estar estruturada, com bases sólidas, que imponha limites sem cobranças exageradas ou com agressividade. A presença dos pais, que acompanhem as atividades dos filhos, que estabeleçam regras, de condutas claras, que se envolvam afetivamente com a vida dos filhos, e que deixem claro sobre a hierarquia familiar. Sendo o meio social, agente e reprodutor de hábitos e atitudes é importante que os pais fiquem atentos aos grupos sociais que os adolescentes estão se ligando, procurar manter-se informado da rotina dos filhos e dos seus amigos, conversar sobre as armadilhas que os vícios trazem e o mal que causam a saúde. Já, para os indivíduos que apresentem pré-disposição para quadros psicóticos, é preciso acompanhamento multidisciplinar e grupos de apoio como medidos de precaução nas patologias já existentes, que tendem a se desenvolver com o uso e abuso de drogas.

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Werner EE. Vulnerable but invincible: high risk children from birth to adulthood. Eur Child Adolesc Psychiatry. 1996:5 Suppl 01h47min-5

Segundo Laranjeira, existem fortes evidências sugerindo que a maconha pode sim, precipitar o aparecimento de um quadro psicótico, como, a esquizofrenia em pessoas vulneráveis, isto é,que tenham a pré-disposição da doença. Há também dados sugerindo que o uso de maconha exacerba os sintomas naquelas pessoas que já apresentam alguma doença mental, como a esquizofrenia ou a depressão. (Laranjeira, 2011) 17. O estudo mostrou que existem evidências suficientes de que a maconha possa produzir em usuários pesados uma psicose aguda (desorganização mental grave), com os seguintes sintomas: confusão mental, perda da memória, delírio, alucinações, ansiedade, agitação. Porém, não há dados suficientes que provem que o uso da maconha possa gerar uma psicose crônica que perdure após o período de desintoxicação. Diante do estudo feito verificou-se que as pessoas com pré-disposição a quadros psicóticos, são mais vulneráveis e suscetíveis a fazerem a dependência química. A problemática gerada em torno das drogas é um fato bastante complexo que gera grandes conflitos e severas conseqüências. Com este estudo, buscou-se fazer uma compreensão esclarecendo sobre a relação que existe entre a maconha e a psicose, contribuindo assim para um avanço e conhecimento dessa realidade. O presente estudo contribui na identificação de aspectos conseqüentes do uso de drogas e manifestação da doença. Por essa razão, a prevenção, acompanhamento e intervenção tornam-se medidas importantes.

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LARANJEIRA, Ronaldo - Doutor em Psiquiatria, Coordenador da UNIAD a Professor Adjunto do Depto de Psiquiatria da UNIFESP.

6. Referencia Bibliográfica ARMSTRONG, T Bauman A, Davies J (2000). Physical activity patterns of Australian adults. Results of the 1999. National Physical Activity Survey. Canberra: Australian Institute of Health and Welfare AMARANTE, Silva Fernando. Uso de Drogas Psicoativas: Teorias e métodos para multiplicador prevencionista. Rio Grande: SENPRE, 2005. CAETANO, Dorival. Classificação dos Transtornos Mentais e Comportamentos da CID-10: Descrição Clínicas e Diretrizes Diagnósticas- Coord. Organiz. Mundial da Saúde, Porto Alegre, Artes Medicas, 1993. CONACE – Consejo Nacional para El Control de Estupefacientes, Ministério Del Interior. Tercer estúdio nacional de consumo drogas en Chile 2000. Sistema Nacional de Información sobre Drogas, Chile, 125p, (2001). CRIPPA, J.A; LACERDA, A.L.T.; Amaro, e Busatto Filho, G.; ZUARDI, A.W e Bressan, R.A. Efeitos cerebrais da maconha – Resultados dos estudos de neuroimagem. Ver. Bras. Psiq. 27(I) , 70-78. CHAVES. Ana Cristina. LEITE, Ângela L Scantgno de Souza. - Fases Iniciais da Psicose: A experiência do programa de atendimento de pesquisa no primeiro episódio psiquiátrico. São Paulo: Roca, 2009. LARANJERA, R.; JUNGERMAN, F.S e Dunn, J. Drogas: ,maconha, cocaína e crack. São Paulo: Editora Contexto. 1998. LEMOS,T & ZALESKI, M. As principais drogas; como elas agem e quais os seus efeitos. Em Pinsky, I e Bessa, E., Adolescencia e Drogas. São Paulo. 2004. PONS, J - El modelado familiar y el papel educativo de los padres en la etiología del consumo de alcohol em los adolescentes. Revista Española de Salud Publica, 72(3), 251-266 (1998). Revista Brasileira de Psiquiatria Oficial journal of Brasilian Psichiatric Association, Volume 32- Suplemento I – maio 2010. OLIVEIRA, Margarethe Silva- Consequências Neuropsicológicas do uso da maconha em adolescentes e adultos Jovens. Em: http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v08/m31684.pdf SAMPAIO, Daniel – Ninguém morre sozinho: o adolescente e o suicídio. 5ª ed.. Lisboa: Editorial Caminho, SA, 1994 SANTOS, Filho LG - CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. Disponível em http://www.gan.com.br/campanhas-e-projetos/sejadiferente/80-cebrid-centro-brasileiro-de-informacoes-sobre-drogas-psicotropicas

SILVA, Fernando Amarante. Uso de drogas psicoativas. Rio Grande, 2005. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina e SENAD – Secretaria Nacional Antidrogas, Presidência da República, Gabinete de Segurança Nacional (2001). SPROVIERI, M.H. _ Stress, alexitimia e dinâmica familiar em famílias de portadores de autismo. Tese de Doutorado em Serviço Social apresentada à PUC-SP, 1998 Revista Brasileira- Loucura do baseado: maconha e psicose, acessado em 17.11.2010 – Disponível em: WWW.SCIELO.BR. ZART.Carla e BROECKER, Psicologa -Terapeuta de Casal e Família, Especialista Dependência Química los e mestre los PUCRS Psicologia pela. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141382712007000200015&script=sci_arttext#*b

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