MAESTRO LUÍZ SANTOS O MÚSICO E O EDUCADOR

September 9, 2017 | Autor: Julio Cesar Ô Preto | Categoria: Biography
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI CAMPUS MINISTRO PETRÔNIO PORTELA COORDENAÇÃO DO CURSO DE ARTES

JÚLIO CÉSAR DE OLIVEIRA

MAESTRO LUIZ SANTOS: O MÚSICO E O EDUCADOR

TERESINA (PI) 2014

JÚLIO CÉSAR DE OLIVEIRA

MAESTRO LUIZ SANTOS: O MÚSICO E O EDUCADOR

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao curso de Licenciatura Plena em Música da Universidade Federal do Piauí com requisito parcial para obtenção do grau de licenciado em Música.

Orientador: Prof. Dr. João Berchmans Carvalho Sobrinho.

TERESINA (PI) 2014

JÚLIO CÉSAR DE OLIVEIRA

MAESTRO LUIZ SATOSO MÚSICO E O EDUCADOR

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao curso de Licenciatura Plena em Música da Universidade Federal do Piauí com requisito parcial para obtenção do grau de licenciado em Música.

Orientador: Prof. Dr. João Berchmans Carvalho Sobrinho.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________ Prof. Dr. João Berchmans Carvalho Sobrinho (Orientador)

____________________________________________________ Profª. Msc. Juliana Carla Bastos

____________________________________________________ Prof. Dr. Odailton Aguiar Aragão

Dedico esta monografia ao Maestro Luiz Santos, e a minha família por acreditarem no meu comprometimento com a música em especial as minhas avós Cecília e Teresa.

AGRADECIMENTOS

À Deus por iluminar e guiar meus passos nessa longa caminhada. Ao meu pai Francisco e a minha mãe Bertolina que são minha fonte de inspiração e minha base. A todos os amigos que contribuíram de alguma forma. À todos os professores, pela incansável paciência e pelas extraordinárias orientações em especial ao Prof. Dr. João Berchmans Sobrinho meu Orientador neste Trabalho. À toda família Santos pela contribuição, atenção, generosidade e musicalidade. Aos colegas e amigos de academia que compartilharam de momentos inesquecíveis durante esses quatro anos de aprendizado.

Muito Obrigado.

Tudo que sou eu devo a música, sou Tenente-Coronel da Polícia Militar do Piauí porque sou músico, professor da Escola Técnica Federal do Piauí porque sou músico e cidadão de Nossa Senhora dos Remédios porque me tornei musico.

Luiz Santos.

RESUMO

A história musical piauiense tem sofrido com a escassez de registros biográficos das personalidades e dos fatos que marcam o início das atividades musicais no Estado do Piauí. Esta pesquisa trata de um resgate, de cunho biográfico sobre a vida e trabalhos realizados por Luiz Santos um músico, mestre que contribuiu de forma significativa para a educação musical e para realização de projetos que tinha como intuito ensinar música àqueles que não tinham acesso ao ensino musical. Trata-se de reconhecer a figura de suma importância, valorizar e deixar registrado sua historia como protagonista na transmissão e inovador em suas praticas musicais colaborando para futuras pesquisas de âmbito educacional musical.

PALAVRAS-CHAVE: Luiz Santos; Biografia musical; banda fanfarra; educação musical.

ABSTRACT The piauiense musical history has suffered from a shortage of biographies of the personalities and events that mark the beginning of the musical activities in the State of Piauí records. This research is a ransom, the biographical slant on life and work by Luiz Santos a musician, teacher who made a significant contribution to music education and conducting projects that had as aim to teach music to those who had no access to education musical. This is to recognize the figure of paramount importance, value and place on record its history as the protagonist in the transmission and innovative in their musical practices contributing to future research into musical educational context.

KEY-WORDS: Luiz Santos; musical biography; band fanfare; music education.

Lista de Figuras

Figura 1: Foto da banda de música do Colégio Lourival Parente com o Maestro Luiz Santos..............................................................................................................21 Figura 2: Maestro Luiz Santos regendo a Banda de Música da Polícia Militar, em 1988.................................................................................................................................23 Figura 3: Primeira Composição do Maestro Luiz Santos....................................................24 Figura 4: Maestro Luiz Santos junto à banda de música em José de Freitas 1993..............25 Figura 5: Os milionários, em1964........................................................................................26 Figura 6: Composição do Maestro Luiz Santos...................................................................27 Figura 7: Composição do Maestro Luiz Santos...................................................................28 Figura 8: Apresentação da escola de música Santa Cecília com banda e coral...................29 Figura 9: 1ª Apresentação da Banda Mirim da escola Técnica Federal do Piauí................30 Figura 10: Apresentação da banda de música “16 de Agosto” no 1º Fest-Banda, da Rede Globo de televisão, no Rio de Janeiro, em 1975......................................................31 Figura 11: Luiz Santos rege a execução da valsa “Daise Vasconcelos”, na festa da academia, em1990.............................................................................................................32

SUMÁRIO 1. Introdução ...................................................................................................................11 2.Maestro Luiz Santos: o músico e o educador ............................................................15 2.1 Trajetória de vida .....................................................................................................15 2.2 Luiz Santos e a Educação Musical ..........................................................................19 2.3 Trajetória Musical ....................................................................................................22 2.4 O Regente e o Compositor .......................................................................................32 2.4. 1 O Regente ..............................................................................................................32 2.4. 2 O Compositor ........................................................................................................34 3. Conclusão ....................................................................................................................36 Referências ......................................................................................................................39

1. INTRODUÇÃO

A memória cultural é a identificação de um povo, sendo a cultura a maior manifestação que possa dar identidade a uma população. Assim como os gregos, romanos entre outros povos que foram sábios e felizes quando registraram sua cultura, felizes seremos também quando isso fizermos, porque um povo sem memória cultural é um povo sem identidade. E depois de tudo que foi feito quando por algum motivo venham essas obras cair em esquecimento, é obrigação dos que se sentirem incomodados tentar mudar essa situação e reavivar essas lembranças assim estimulando a cultura e a difusão dos valores artísticos do nosso Estado. Este estudo tem o propósito de apresentar a trajetória de vida do Maestro Luiz Santos, uma vida dedicada à música e que fez desta a mola que impulsionou seus passos como educador, compositor, instrumentista e regente. Fazer da sua história um relato dignificante de tudo que foi produzido durante toda sua vida ao dedicar-se em função do produzir, ensinar, tocar, fazer música de toda forma possível, são atitudes honrosas que fazem com que seu nome seja imortalizado. Como diz a letra do samba “o corpo, a morte leva, mas o nome, a obra imortaliza”. É partindo dessa prerrogativa que se pretende realizar, nessa pesquisa de cunho biográfico, um relato das atividades do Maestro Luiz Santos, marcado por sua atuação como Músico e também com Educador, de sua experiência enquanto criador, professor e com exposição baseada na musicologia histórica, de sua formação, suas composições, letras e arranjos para bandas de música, bem como sua contribuição para a cultura e o ensino do Estado do Piauí. Maestro Luiz Santos é natural de Valença-PI. Aos 17 anos veio com a família morar em Teresina onde iniciou seus estudos musicais, e como educador contribuindo posteriormente para a formação de várias gerações de instrumentistas no Estado do Piauí, 11

inclusive a de seus filhos, que integram hoje diversos grupos e bandas na cidade de Teresina e em outros estados brasileiros. Com isso, o maestro conseguiu notável importância dentro da música contemporânea brasileira sendo considerado um dos maiores educadores musicais de sua época. A partir da explanação biográfica e musical do maestro e compositor, esta pesquisa tem como objetivo geral demonstrar a necessidade de conhecer a produção e os processos de ensino, bem como, a metodologia utilizada a partir das práticas pedagógicas realizadas pelo Maestro Luiz Santos nos projetos que liderou como professor de música ou como regente. Para realizarmos os aspectos biográficos utilizaremos o conceito de biografia descrito por Carino (1999) em que:

Biografar é descrever a trajetória única de um ser único, original e irrepetível; é traçarlhe a identidade refletida em atos e palavras; é cunhar-lhe a vida pelo testemunho de outrem; é interpretá-lo, reconstruí-lo, quase sempre revivê-lo. O mistério do singular é, também, fortíssimo como elemento constitutivo do imaginário cultural de qualquer sociedade ou mesmo civilização. Deus, suprema síntese, não seria O Uno, O Singular? Mas a fascinação biográfica tem um aspecto muito interessante, ao qual se pretende dedicar estas reflexões. Trata-se do que se poderia denominar sua instrumentalidade educativa. (CARINO, 1999, p. 154)

E no que se trata de biografia musical, utilizaremos o conceito segundo Solomon (2007) em que biografia musical: É um gênero literário constituído de documentos ordenados das vidas de indivíduos que estão envolvidos na criação, produção, disseminação e recepção de música. Especialmente das vidas de compositores e músicos, mas incluindo também libretistas, editores, fabricantes de instrumentos, patronos, melómanos, acadêmicos e escritores. Do ponto de vista mais abrangente, a biografia é a história de vida de um indivíduo. A partir disso pode-se afirmar que envolve a totalidade dos fenômenos que condicionam ou modelam o indivíduo, todos os eventos nos quais se envolveu ou que foram gerados por conta das suas atividades, assim como cada aspecto dos seus processos mental e psicológico e cada produto da sua criatividade. A biografia em Música se centra na documentação e interpretação de fatos, influências e relações em uma vida, mas o seu legítimo campo de investigação se estende às heranças biológicas e ancestrais, os elos social e histórico, a tradição musical e o ambiente intelectual. Desta maneira, a biografia em Música se encontra inextricavelmente ligada a disciplinas tais como a história, mitologia, história da música, genealogia, sociologia e psicologia. [...] Há muito tempo que se reconhece que o acúmulo e análise de dados biográficos – performances, correspondência, autógrafos, esboços, publicações – são cruciais ao lidar com problemas de cronologia, da autenticidade das fontes compositivas, motivações pessoais, patrocínio, ideologia e recepção. E não se questiona que o assunto propriamente dito do biógrafo inclui a natureza da criatividade, a documentação dos detalhes do cotidiano, o impacto histórico da criatividade individual e os padrões transhistóricos de conduta e de crença. (SOLOMON apud BLANCO, 2007, p. 1)

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De forma mais detalhada, sua trajetória biográfica será apresentada de acordo com os seguintes objetivos específicos: 1.Discorrer sobre sua biografia; 2.Discorrer sobre as atividades educacionais; 3.Discorrer sobre as atividades como músico. O alcance das perspectivas abrangidas pelo tema em estudo é consideravelmente grande em se tratando da análise dos aspectos biográficos do Maestro Luiz Santos. Nesse sentido, o presente trabalho tem a preocupação de buscar relatar a trajetória de vida de Luiz Santos dissecando os pormenores de se conhecer a produção e os processos de ensino, bem como, a aprendizagem de música a partir das práticas pedagógicas realizadas pelo Maestro Luiz Santos nos projetos que liderou como Professor de Música ou como Regente. Para representar essa trajetória dentro dessa nova consciência de trabalhos biográficos delimita-se como corpus da pesquisa monográfica “a história de vida de Luiz Santos”, sendo destacada no recorte temporal desde sua vinda à Teresina, até os seus últimos trabalhos realizados. A escolha do Maestro Luiz Santos e da referida história de vida foi motivada pela contribuição musical e por ser exemplo seguido por ex-alunos e por muitos que o conheceram e reconhecem que Santos faz parte da história da música Piauiense. Para compor um leque aprofundado de conhecimentos sobre o tema, faz-se necessário examinar com atenção as pesquisas contemporâneas à época e as diversas obras/autores que se aprofundam nesse assunto. Alguns autores são destacados nesta pesquisa, como: Pablo Sotuyo Blanco (2007), Jonaedson Carino (1999), João Valter Ferreira Filho(2009), Ricardo Rocha (2004), Fundação Jet Memória Piauiense (1992), dentre outros. Para melhor entender a biografia desse autor recorre-se também a fala registrada em vídeo (entrevistas) de amigos e familiares do Maestro Luiz Santos, como também artigos científicos (dispostos e revistas eletrônicas). Outras fontes estão elencadas no trabalho compondo um aporte mais amplo de referências.

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Esta pesquisa, de caráter biográfico, e documental, observa a importância conceitual e teórica com que os pesquisadores definem determinados termos que subsidiarão a análise do trabalho. A pesquisa terá também um formato preponderantemente qualitativo do tipo descritivo-explicativo, buscando captar as dimensões subjetivas da ação humana. Os registros das obras musicais piauienses ao longo do tempo têm sido pouco divulgados. Confirmamos tal problemática nas dificuldades de acesso às produções musicais por parte dos interessados na área, inclusive para o presente trabalho. A escassez de divulgação das obras, especificamente do músico Maestro Luiz Santos, assim como seus hinos, dobrados, valsas e os seus projetos, bem como a música nas escolas onde o ensino musical foi feito através da formação de bandas e fanfarras, também são elementos motivadores para essa pesquisa monográfica. Em termos gerais, esta pesquisa propõe-se também a sinalizar a necessidade de registro e de visibilidade aos trabalhos que foram realizados por ele, com o intuito de incentivar a promoção das obras de músicos que contribuíram para a formação musical de uma geração, assim como a formação da história musical do nosso Estado. Como contribuição à sociedade, a pesquisa será disponibilizada pela UFPI com a proposta de fomentar e implementar estudos metodológicos de ensino de música e seu desenvolvimento no Piauí como também no Brasil todo. Em suma, este trabalho acredita estar abrindo uma perspectiva no âmbito músicoeducacional por tratar-se de uma temática da música brasileira ainda pouco explorada: a biografia musical. Nesse sentido, a trajetória do Maestro Luiz Santos: O músico e o educador é de trazer um horizonte maior de estudos críticos na incipiente linhagem de obras biográficas musicais em um movimento reflexivo e esclarecedor sobre essa gama de educadores da música nesse período da história brasileira.

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2. MAESTRO LUÍS SANTOS: O MÚSICO E O EDUCADOR 2. 1 Trajetória de Vida1

Luiz José dos Santos era filho de Dona Benedita Martins dos Santos e Firmino José dos Santos. Nasceu no dia 23 de maio de 1922 no povoado Cajueiro, em Berlengas, que por Carta Régia de 19-06-1761 elevou-se a categoria de vila com a denominação de Valença e posteriormente em 30-12-1889 elevada à condição de cidade, atualmente Valença do Piauí. Vindo de família humilde, condição herdada das gerações anteriores. Os pais tiveram dificuldades para poder sustentar os sete filhos, surgindo da relação familiar o primeiro exemplo a ser seguido por Luís Santos, seu pai Firmino. Nem Luiz Santos imaginava quanto proveito tiraria de todas as dificuldades vividas naquela época. Seu Firmino foi quem deu o primeiro instrumento à Luiz Santos ainda criança, ganhando um pífano que ele mesmo fizera. Ouvindo as cantorias de sua mãe, o que era do cotidiano das mulheres que lavavam roupa a beira do rio Sambito, foi então que Luiz Santos tocou suas primeiras melodias mesmo sem saber o que o futuro lhe reservava. A partir de então foi dado os primeiros passos na vida musical promissora daquele que um dia viraria referência na música piauiense. Tempos depois, Luiz Santos perdeu seu pai Firmino e a família ficou desestruturada, com as necessidades materiais e financeiras ficando ainda maiores. Um problema de saúde de um dos irmãos fez com que seu tio Raimundo, que morava em Teresina, fosse buscá-lo em Valença para fazer uma cirurgia na capital. Dona Benedita decidiu que sozinho ele não iria, foi então que a família se organizou e começou a trajetória da vinda de Luiz Santos junto à sua família para Teresina em 1939. Depois de tudo preparado, a família iniciou uma viagem nada fácil, uma longa marcha à pé tocando burros e levando os poucos pertences que possuíam, numa viagem que 11

Todo conteúdo da trajetória de vida foi retirado de entrevistas com familiares e ex-alunos de Luiz Santos.

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durou várias semanas, mais ansiando pelas mudanças de vida que aconteceriam. A chegada na cidade “grande” foi conturbada e o futuro maestro sequer sabia ler. Na capital, Luiz Santos exerceu várias profissões humildes, sendo a primeira delas a de faxineiro no seminário de padres onde hoje é conhecido em nossa capital como Colégio Diocesano. Trabalhou também em serviços gerais como agente de porteira na pensão de Dona Sinhá, onde hoje funciona a repartição da prefeitura. Foi porteiro também de Dona Mundoca e Seu Lapinha, próximo ao Quartel da Polícia Militar, quando Luiz Santos já pensava em música. Suas primeiras lições e o estudo da tabuada aconteceram, quando era faxineiro do seminário onde funcionou o Colégio Pedro II. A iniciativa partiu de um jovem de nome João, que lhe ensinou a ler e o ensinando também, os primeiros rudimentos de música, sendo esse o seu primeiro contato real coma música na capital. Posteriormente, em conversas com os amigos ficou sabendo de um “tal” Antônio que dava aula de teoria musical e habilitava jovens para tocarem instrumentos. Contando a novidade ao irmão José Firmino os dois foram procurar o “tal” Antônio que era na verdade o Mestre Antônio Rodrigues, esse que se tornaria seu primeiro professor de música por volta de 1941. Luís Santos estudou no Ateneu, hoje Liceu Piauiense. Em 1944 o interessado Luiz Santos trabalhou em um bar chamado Bar Rio Branco, local onde teve seus primeiros contatos com os senhores que falavam de grandes músicos nacionais e da cidade e controlavam os sucessos do momento que era executado no rádio. Estudando, Santos começou a desenvolver seu gosto pela música, o Mestre Antônio Rodrigues lhe dava instruções e detalhes e recebia de volta a dedicação e o rápido aprendizado. O futuro professor e maestro passou a circular entre os músicos da época e aprendeu muito com eles. Em 1944, deixou o emprego no Bar Rio Branco e ingressou no Exército, e ao chegar ao 25º Batalhão de Caçadores já tocava trompete e se destacava com o instrumento, que executou durante toda sua vida de músico. Por já está se destacando como trompetista, 16

rapidamente integrou a banda do 25º Batalhão. Santos podia sempre ser visto discutindo sustenido, pentagrama e semicolcheias, em círculos exclusivos da época no âmbito do quartel. Os principais amigos da época eram os bons profissionais da banda do 25º BC, que era regida pelo Maestro Brigada Aristides. Após licenciado do exército, em função do término da Segunda Guerra Mundial em 1945, Luís Santos atuou como músico instrumentista pelo interior do Maranhão, passando por cidades como Mata do Nascimento, hoje Dom Pedro e na capital São Luís. Nessas alturas Santos já era conhecido pelo talento no qual executava seu instrumento. No dia 30 de abril de 1946 depois de uma longa conversa com Dona Benedita, entrou para Polícia Militar do Piauí, instituição na qual fez carreira iniciando como praça, mas como era de se esperar foi guinado para a banda de música da Corporação. Iniciando a carreira como aprendiz no mesmo ano já foi promovido a cabo, e um ano depois recebeu a promoção de terceiro-sargento e com louvor foi aprovado em concurso em primeiro lugar com a nota máxima dez. Eram difíceis as provas de teoria musical e prática instrumental. Na ocasião, Luís teve a honra de ser considerado destaque no concurso solar “América”, com a banca examinadora composta por maestros da Policia Militar do Piauí e do 25º Batalhão de Caçadores. No ano seguinte, casou-se com Dona Adélia Carvalho dos Santos, uma relação que serve de exemplo para todos que conheceram o casal e juntos tiveram 15 filhos dos quais dois faleceram em tempos difíceis. Muitos da família herdaram de Luís Santos e Dona Adélia o dom da música, da educação e da carreira militar. Hoje grande parte de seus filhos se encontram nessas distintas áreas às vezes em duas ao mesmo tempo como o pai, músico, professor ou militar. Anos depois foi destacado pelo comando da Policia Militar pra José de Freitas onde assumiu a função de mestre de música. Foi um momento importante em sua carreira, pois já 17

tinha na bagagem elementos de formação jazzística e de banda militar, enquanto o universo musical de José de Freitas era povoado pelos senhores tradicionais. Nesta cidade, o Maestro com o grande sucesso das apresentações da banda que era feita no salão da Prefeitura, levou à construção do Clube do Recreio onde as apresentações se tornaram comuns e a comunidade teve o seu próprio espaço. Tempos depois Luís Santos voltou à Teresina para concluir a segunda série ginasial no Colégio Desembargador Antônio Costa. Nesta época, o primeiro-sargento Raimundo Nonato de Carvalho que pertencia à banda de música da Escola Preparatória de Cadetes em Fortaleza-Ceará, convidou Luís Santos para fazer um curso de formação musical no Conservatório Alberto Nepomuceno. No momento era o que Luiz Santos precisava para ingressar no quadro de Oficiais da Polícia Militar do Piauí como previa a lei de promoção. Agarrando a oportunidade que lhe foi dada, partiu pra Fortaleza para estudar música e lá também se destacou e integrou os melhores conjuntos musicais tocando nos mais refinados clubes, e executando solos ao trompete. Dentre tantos trabalhos e funções que exerceu por onde passou, Luiz Santos mostrouse empenhado em desenvolver sempre o melhor que pudesse, pois sabia que os frutos e as oportunidades surgiriam através de cada trabalho desenvolvido, e essas oportunidades surgiram tanto no âmbito educacional quanto de músico instrumentista e sendo os pormenores destacados mais a frente nesta pesquisa. Luiz Santos compartilhou de todo seu conhecimento em áreas distintas como músico, como professor de português ou como ministrante do curso de relações humanas. Como músico, Santos foi criador de várias bandas dentre elas o conjunto OS MILIONÁRIOS, que fez grande sucesso em todo Piauí, além de contribuir para a história musical de nosso estado. O maestro é considerado um dos grandes de nossa cultura, um dos músicos mais respeitados de sua época, respeito que conseguiu com muita luta, persistência e 18

principalmente talento e comprometimento, qualidades que deixam seu nome fixado na História da Música Piauiense, com o trabalho digno de ser sempre citado servindo de exemplo para a educação nos dias de hoje. No dia 04 de março de 2009, o Piauí perde o musico, educador, e maestro e Luiz Santos que ao longo de seus 86 anos, contribuiu muito para a educação do nosso estado, na área musical é formador de grande parte dos que hoje ensinam, trabalham, promovem a música em nossa capital e no Brasil. Uma trajetória reconhecida por grande parte dos que fazem parte do meio musical do Piauí.

2.2 Luiz Santos e a Educação Musical

A educação musical no Brasil, desde a década de 50 do século XIX, tem uma forte influência das instituições militares no sentido de formação musical, pois essa instituição foi uma das mais presentes e populares no país. A educação musical daquela época se dava dentro dos quartéis nas bandas militares através dos instrumentos de sopro e percussão. Essa instituição é responsável pela formação dos futuros regentes e maestros de bandas ou orquestra que se formaram no Brasil, além de ser considerada por muitos estudiosos um espaço importante de aprendizagem musical e desenvolvimento de novas perspectivas de ensino de música. No Piauí, não foi diferente, pois é notável a presença dessa instituição no ensino e formação dos grandes nomes de nossa música. Dentre esses nomes está o do Maestro Luiz Santos, considerado um dos principais nomes da história da Educação Musical desenvolvida através de bandas de Música no Piauí. Segundo Ferreira Filho (2009): A memória das bandas de Música torna-se essencial em qualquer pesquisa histórica relacionada à Educação Musical no Brasil, uma vez que essas instituições seculares sempre traziam atreladas a si a dimensão do ensino-aprendizagem, sobretudo na pessoa de seus regentes e mestres. No Piauí, segundo Bastos (1990) duas dessas bandas chegaram mesmo a institucionalizar seu ensino de Música, criando escolas de ensino de teoria musical e técnica instrumental para seus membros: a Escola de Música do 25º Batalhão de Caçadores e a Escola de Música da Força Policial do Estado, ambas com funcionamento registrado na década de 1950. (FERREIRA FILHO, 2009, p. 121)

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Luiz Santos exerceu várias atividades no âmbito educacional. Formado em Licenciatura de nível Médio em Português no Liceu Piauiense, Luiz Santos deu início a uma nova fase de sua vida. Logo após formado, o maestro criou a Escola Primária Dom Pedro Primeiro, que preparava os alunos para o ingresso aos Colégios Ginasiais e aqueles que almejavam os concursos de cabo e sargento da Policia Militar do Piauí. Luiz Santos adquiriu experiência participando de cursos como o de Comunicação Oral no Rio Grande do Norte, e o Encontro Nacional de Educação Artística no Rio de Janeiro em 1974. Porém, a estada de Luiz Santos frente ao ensino particular durou pouco tempo, pois logo adiante recebeu o convite para lecionar para o governo. Luiz Santos, tanto como professor como diretor, atuou em diversas escolas como por exemplo, o Ginásio Popular de Teresina, Unidade Escolar Helvídio Nunes, Colégio Leão XIII, Colégio Diocesano, Álvaro Ferreira e na Unidade Escolar Lourival Parente, esta última atuando como Diretor. Com professor de português, Luiz Santos de fato deixou sua contribuição na formação de todos aqueles que passaram por sua sala de aula, pois era notável sua capacidade em transmitir os conteúdos, e a facilidade com que se comunicava com os alunos. A partir dessa vivência surgiram grandes oportunidades que o consagraria como um dos grandes da educação de nosso Estado. Em sua trajetória como professor, proporcionou cursos de reciclagem de professores, e promoveu festividades, celebrações de missas, cultos e atividades esportivas. Dentre as atividades realizadas enquanto diretor do Colégio Lourival Parente, criou a banda de música do Colégio e fez diversas apresentações pela capital Teresina.

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Figura 1: Foto da banda de música do Colégio Lourival Parente com o Maestro Luiz Santos. Fonte: Acervo particular da família de Luiz Santos.

Quanto a sua formação musical, além da formação de banda militar e pelo seu destaque como instrumentista, Luiz Santos concluiu o curso de formação musical no Conservatório de Música Alberto Nepomuceno, em Fortaleza-Ceará. Curso que certamente ampliaria seus horizontes e lhe proporcionaria dentro do quadro da Polícia Militar do Piauí uma ascensão e responsabilidades para as quais Santos se sentia preparado para assumir. Após a realização de vários trabalhos frente à banda do Colégio Lourival Parente, Luiz Santos foi convidado para assumir, como professor, na Escola Técnica Federal do Piauí dando mais uma guinada em sua vida. E, em 1970, foi admitido para o quadro de docentes como professor de Educação Artística da Escola Técnica Federal do Piauí ETF-PI – atual IFPI. Eis então a oportunidade que lhe faltava, oportunidade essa que enriqueceu sua obra e consolidou seu nome na História da Educação Musical no Piauí. Nessa fase de sua vida Luís Santo criou a banda de música da Escola Técnica junto aos alunos, banda que ainda hoje em nossos dias é referência e é regida pelo professor Eraldo Lopes que foi aluno de Luiz Santos. No período em que Luiz Santos esteve como professor da Escola Técnica Federal do Piauí, Santos foi responsável por levar a banda em diversos festivais e encontros de bandas, e 21

com isso ser responsável pela formação musical de muitos instrumentistas que hoje trabalham, ensinam e vivem de música integrando diversos grupos musicais em nosso estado e pelo Brasil a fora.

2.3 Trajetória musical Nas pesquisas feitas para este trabalho foi constada o real fato de que a música na vida de Luiz Santos se expressa desde cedo e em diversas formas, que serão elucidados mais detalhadamente neste tópico. Como já abordado, Luiz Santos desde cedo se destacou como instrumentista, característica que lhe levou a mais alta patente na Policia Militar do Piauí. Exerceu também a função de instrumentista no 25º batalhão de caçadores quando por lá esteve. Mas sempre visando uma estabilidade maior, logo após sair do exército no pós-guerra como descreve seu filho José Luiz em depoimento oral em 2012 “Luiz Santos tinha um objetivo que poucos tinham naquela época que era entrar para a Policia Militar do Piauí, logo depois de se desligar do exército.” (LUIZ, depoimento oral, 2012) Dentro desse contexto, o maestro Luiz Santos via nesta instituição a possibilidade de se estabilizar e seguir como militar e músico. Após seu desligamento do exército, Luiz Santos sentou praça na polícia militar e dava-se início a uma carreira na instituição onde deixaria seu nome marcado. Em sua estada na Banda da Policia Militar do Piauí realizou apresentações por todo estado do piauiense e nos estados vizinhos. Atuando como instrumentista e devido ao seu bom desempenho e competência logo assumiu o compromisso como mestre de banda. Em relação aos ambientes em que Santos trilhou seus passos como profissional. Ao referir-se a esta técnica Cislaghi (2009) os descreve afirmando que: “Um dos espaços em que são desenvolvidas atividades de ensino e aprendizagem de música são as bandas de música. Estas possuem uma história, uma tradição como espaço de formação e atuação em música”. (CISLAGHI, 2009, p. 13) 22

Neste aspecto, é possível articular a questão acima destacada com a imagem vista abaixo em que o maestro dentro de um ambiente militar rege a banda de música.

Figura 2: Maestro Luiz Santos regendo a Banda de Música da Polícia Militar, em 1988. Fonte: Acervo particular da família e Luiz Santos.

Em 1955 Luiz Santos recebeu a primeira de suas várias missões, foi designado para José de Freitas para assumir a função de mestre de música. Foi um momento marcante em sua carreira, pois já com experiência de banda e com todo um repertório particular partiu para aquela que seria sua primeira oportunidade de fazer música fora de Teresina. Após sua chegada em José de Freitas se deparou com um gosto musical já formado pelos senhores tradicionais que ali moravam do qual também era executado pela banda. Mais a sua regência, sua formação e seu gosto musical fizeram com Santos apresentar-se ao grupo outros estilos musicais formando assim um novo repertório e que incluíam-se músicas românticas, boleros, sambas-canção entre outros estilos e, sem muita resistência, conquistou o respeito dos músicos e de toda sociedade de José de Freitas. Dentre as atividades realizadas pelo maestro 23

destacam-se as apresentações feitas na sede da Prefeitura. Santos conseguiu com o sucesso da banda a criação do Clube Recreio, espaço para a realização de apresentações da banda e de vários eventos. Após dois anos em José de Freitas, Luiz Santos sofreu muito com o falecimento de dois filhos: Santinho e Celina. Mesmo com a dor da perda dos filhos, nesse período nasce em Luiz Santos mais uma vertente musical, a de compositor. Em meio a tantas dificuldades o maestro compõe sua primeira música, em homenagem ao seu filho Jose Firmino Neto, um bolero com o título de Santinho. Aflora então o lado do compositor Luiz Santos. Segue abaixo a imagem com a partitura da música.

Figura 3: Primeira Composição do Maestro Luiz Santos. Fonte: Memória Piauiense (1992)

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Como fruto desse trabalho Luiz Santos deixa à cidade de José de Freitas a banda de música e uma formação de músicos para darem seguimento ao projeto da banda e o ensino da música naquela cidade.

Figura 4: Maestro Luiz Santos junto à banda de música em José de Freitas 1993. Fonte: Acervo particular da família de Luiz Santos.

Retornando para Teresina Luiz Santos foi convocado pelo coronel Francisco Batista Torres de Melo para que ajudasse a Policia Militar a gozar de uma apreciação mais amigável com a sociedade já que a instituição muito fechada era assim vista pelo olhar da sociedade. Luiz Santos sugeriu então que se criasse uma banda para apresentações nos clubes e praças de Teresina, uma Jazz Band da Policia Militar, tornando essa banda um elemento de ligação entre a instituição e a sociedade piauiense. Após aprovação pelo comando da Policia Militar do Piauí que determinou a compra dos instrumentos para que se formasse o conjunto, Santos partiu então para a formação do grupo que contava com os músicos Simplício Cunha, no saxofone e clarinete, Lourival no baixo elétrico, Artur Pereira como baterista, João de Deus vocal, Bruno do Carmo como guitarrista, Gabriel Oliveira como percussionista e Luz Santos assumiria a coordenação e regência do conjunto que ficou conhecido como “Os Milionários”. O grupo gravaria um disco no estúdio da Rádio Pioneira com composições dos próprios 25

integrantes e também composições de parceiros tornando-se um grupo de grande expressão no cenário musical piauiense cumprindo o seu papel como elo entre a instituição da Policia Militar e Sociedade Piauiense

Figura 5: Os milionários, em1964. Fonte: http://maestrorochasousa.blogspot.com.br/2009/06/maestro-luizsantos.html.

Dentre tantas atividades realizadas por Luiz Santos a mais presente é o ensino musical através das bandas atuando como professor, regente, fundador de bandas ou coordenando projetos da área. De acordo com Cislaghi (2009). “As bandas de música estão presentes em diversos contextos e estando relacionadas a manifestações e eventos sociais populares de natureza diversas, encontrando-se bastantes nas comunidades e influenciando a vida das pessoas. Além disso, constituem um espaço importante de ensino e aprendizagem musical envolvendo várias perspectivas de ensino: ensino individual ou coletivo, aula de teoria musical, marcialidade entre outros. Assim é inquestionável o papel educativo desses grupos”. (CISLAGHI, 2009, p. 13)

Luiz Santos passou por diversas cidades do Piauí dentre elas, Nossa Senhora dos Remédios onde por contato e amizade com o professor Pedro Vasconcelos, então Secretário de Cultura da cidade, e a convite do Prefeito Délson Castelo Branco criou a Banda de Música “Dosa Fernandes”. Segundo o livro Memória Piauiense, “a presença do maestro naquele município se constituiria um capítulo à parte em sua obra musical. A banda foi formada em 26

tempo recorde, graças ao método objetivo que emprega no ensino de música” (1992, p.22). A banda se tornou um grande patrimônio da cidade e em dois anos de fundação já executava marchas e dobrado e recebia calorosamente os aplausos de toda população presente. O livro supracitado afirma que ainda naquela cidade foi orientador de técnica vocal e arranjo para coral. Em meio a todo esse processo Luiz Santos compõe o Hino de Nossa Senhora dos Remédios, um dobrado em homenagem ao seu amigo e secretário de cultura Pedro Vasconcelos, e uma valsa dedicada à esposa do secretário Daise Vasconcelos como visto nas duas imagens abaixo.

Figura 6: Composição do Maestro Luiz Santos. Fonte: Memória Piauiense (1992)

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Figura 7: Composição do Maestro Luiz Santos. Fonte: Memória Piauiense (1992)

Um fato que comprova o amor e vontade de fazer música de Luiz Santos é que tudo que fez em Nossa Senhora dos Remédios foi feito sem vínculo empregatício, apenas com a administração municipal. O livro Memória Piauiense relata que “o professor entende a arte como um fim último, para a proclamação do útil e do belo. Ele se prende de corpo e alma à música e à banda. De um lado, busca satisfazer os apelos materiais que não são muitos. De outro, faz por puro amor à música”.(1992, p. 23)

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Uma passagem também muito significativa relacionado à criação de bandas de música é o convite feito pelo prefeito da cidade de Caxias, no Maranhão, Aloísio Lobo para fundar a Escola de Música Santa Cecília. Aceito o convite Luiz Santos fundou a banda e um coral e em pouco tempo já realizariam as primeiras apresentações em Caxias e logo depois partiriam para apresentações de grande de valor em Teresina e no Teatro Artur Azevedo em São Luís, no Maranhão.

Figura 8: Apresentação da escola de música Santa Cecília com banda e coral. Fonte: Memória Piauiense (1992)

Em Teresina, Luiz Santos foi professor e criador da Banda de Música da Escola Técnica Federal do Piauí, atual IFPI. Essa foi e continua sendo uma das maiores escolas formadoras de músicos técnicos em Teresina. Das escolas e projetos em que Luiz Santos trabalhou foi constatado que em todas tiveram dificuldades com o acesso a obras para serem executadas. Sobre esse problema José Rodrigues, em depoimento oral, comenta que “Luiz Santos se saiu bem dessas dificuldades com o talento e o ouvido que era muito bom. Ele ouvia e escrevia as músicas, cansei de vê-lo em sala de aula ou em sua casa ouvindo e escrevendo.

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As partes dessa época que eu vi fazendo isso só ele e o Simplício”. (RODRIGUES, depoimento oral, 2014) No período em que Luiz Santos esteve sob o comando da banda de música da Escola Técnica, o maestro foi o responsável por levar a banda à participar de festivais e a apresentações que deram a Banda o notório respeito perante toda a sociedade piauiense. De acordo com o livro Memória Piauiense, a “banda atingiu tal perfeição que nas paradas das quais participava recebia o nome carinhoso de ‘segunda banda da Policia’”. (1992, p 19)

Figura 9: 1ª Apresentação da Banda Mirim da escola Técnica Federal do Piauí. Fonte: Acervo particular do Instituto Federal do Piauí – IFPI.

Devido ao comprometimento e competência do maestro a fama se espalha e eis que surge mais um convite feito à Luiz Santos, o de reger a Banda 16 de Agosto da Prefeitura Municipal de Teresina no 1º Primeiro Fest-Banda da Rede Globo, no Rio de Janeiro. O evento teve a participação de 21 bandas de todo o Brasil. O destaque da banda regida por Luiz Santos foi imenso para as proporções do evento, sendo aprovada na primeira fase e ficando em 7º

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sétimo lugar no geral ao final do evento. Receberam, por conta disso, dois prêmios em instrumentos musicais.

Figura 10: Apresentação da banda de música “16 de Agosto” no 1º Fest-Banda, da Rede Globo de televisão, no Rio de Janeiro, em 1975. Acervo: Memória Piauiense (1992)

O sucesso do trabalho de Luiz Santos frente à Banda 16 de Agosto chamou a atenção do poder publico que na pessoa do então secretario Wall Ferraz convocou o maestro pra criar bandas estudantis em Teresina e no Interior. Foram criadas cinco bandas em Teresina e seis em cidades do interior do Estado onde, para José Rodrigues, “o ensino era feito através de exalunos do professor Luiz Santos” (RODRIGUES, depoimento oral, 2014). O maestro então coordenador-geral do projeto deu início em Teresina aos projetos de ensino de música nas escolas através das bandas de fanfarra que ainda em nossos dias são responsáveis pela musicalização de crianças e jovens de todo Piauí. Todo o trabalho com bandas de música e projetos na mesma vertente tornou Luiz Santos o maior fundador de bandas do Piauí. A esse respeito, Sérvio (2002) afirma: “A partir da talentosa geração provinda da primeira formação da Banda estudantil da Escola Técnica Federal, Teresina teve os primeiros professoresformadores de bandas não-militares” (SÉRVIO, 2002, p. 63). Esses são certamente os dois

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maiores legados que Luís Santos deixou ao ensino de música no Piauí: o ensino através das bandas de música e seus ex-alunos hoje professores, também mestres de música.

2.4 O Regente e o Compositor 2.4.1 O Regente Antes de tudo é necessário esclarecer que para assumir o posto de regente, existe um conjunto de características que o levara a tal posição. Uma atividade complexa que influi diretamente na execução da obra e nas relações de todo o grupo. O título de regente é fruto de uma grande experiência e conhecimento musical além de outras características que vão além do saber música. Dessa maneira, Rocha estabelece que: “Ser um bom músico não é suficiente para tornar-se um bom regente. A regência é a arte que exige uma vocação específica, fundada na liderança, assim como formação e conhecimentos diversos para a saudável e estimulante relação com o grupo liderado. E sendo a formação do regente um bem patrimonial pode ser dividido em duas naturezas: patrimônio Próprio: bem inalienável, intransferível, que quando se tem, não se pode perder: Quando não se tem, não se pode obter: patrimônio adquirido: bem acumulado e cultivado”. (ROCHA, 2004, p. 19)

Figura 11: Luiz Santos rege a execução da valsa “Daise Vasconcelos”, na festa da academia, em 1990. Acervo: Memória Piauiense (1992).

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Luiz Santos é conhecido como professor, regente ou maestro, isso porque existem características semelhantes entre aqueles que assumem tal posição. Luiz Santos enquanto professor ou regente sempre impôs respeito e tinha postura de líder, mas sempre disposto a ajudar. Luiz Santos em todos os projetos que esteve a frente como professor ou regente ele deixou sua marca. José Rodrigues esclarece em depoimento a postura do maestro afirmando que “enquanto professor Luiz Santos era muito rígido, e que o processo didático dele foi um processo que naquela época era meio estranho para a idéia do academicismo. Ele é um dos precursores do aprender fazendo” (RODRIGUES, depoimento oral, 2014). Luiz Santos usou a didática que para ele era mais confiável e lhe dava o resultado pretendido, o aprender fazendo, atividades em grupo e individual dando responsabilidades aos alunos e fazendo-os parte do contexto como também os inserindo em um trabalho de formação. Por isso, assumiu tantos compromissos que às vezes parecia ser incapaz de serem realizados. Nesse sentido, Cislaghi em seu artigo para a Revista ABEM 2011 assevera o seguinte: “Os conteúdos são estabelecidos em função de experiências que o aluno vivencia frente a desafios cognitivos e situações cotidianas, que partem dos interesses e necessidades do próprio aluno (Libâneo, 1994). São valorizados mais os processos mentais e habilidades cognitivas do que os conteúdos organizados racionalmente. Sobre os métodos de ensino, configura-se o “aprender fazendo”; são valorizadas tentativas experimentais, atividades de pesquisa e descoberta e o estudo do meio natural e social, realizados em forma de trabalho individual ou em grupo”. (CISLAGHI, 2011, p. 65-66)

Os diversos perfis de mestre de banda, pode ser analisado pela formação, postura frente aos grupos e meios utilizados para realização de seus trabalhos e de acordo com essa pesquisa o perfil que mais se enquadra Luiz Santos é o Tradicional, que segundo Silva (2009): “É uma pessoa geralmente do sexo masculino e que obteve seus ensinamentos musicais em uma banda de música desde criança. Lá ele aprendeu um pouco de cada instrumento e de regência. Além disso, é um arranjador e comumente um compositor. Grande parte destes desenvolve suas funções em bandas do interior, sendo comum o caso dos músicos que aprenderam em uma banda da cidade e depois de atuarem profissionalmente em uma banda militar, retornaram para assumir a função de “mestre”. Normalmente não recebem remuneração ou apenas uma ajuda de custo, e quase sempre gastam bastante de suas economias na busca por melhores condições de seu grupo musical”. (SILVA, 2009, p. 164)

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Essas características são perceptíveis na pessoa e no trabalho de Luiz Santos, como já foi dito anteriormente. Santos realizou grandes trabalhos em que não tinha vínculo com a administração da cidade como, por exemplo, Nossa Senhora dos Remédios e todo sua trajetória é pertinente a presença das características descritas sobre um mestre de banda tradicional. O papel do mestre de banda vai além da orientação de um grupo para a execução de uma obra musical. O mestre tem influência direta na formação dos músicos que vivem e convivem ao seu redor, dando-lhe a capacidade de expor os pensamentos que foram adquiridos durantes as aulas e ensaios e com isso tornando-se influência direta na formação de futuros regentes maestros. Um exemplo da influência de Luiz Santos na formação musical de maestros pode ser visto com Aurélio Melo, maestro da Orquestra Sinfônica de Teresina, que segundo o próprio Aurélio em entrevista oral relatou que : “Apesar de não ter sido aluno sistemático de Luiz Santos tive o prazer de participar da banda que foi pro festival na Rede Globo no Rio de Janeiro onde executaram Honra aos trombones, uma peça sinfônica no qual eu era responsável pelo solo e mesmo tendo músicos mais adiantados no grupo, fui escolhido por entender melhor a relação do musico com a regência. Foi Luiz Santos que transmitiu a mim a importância de ser um maestro e hoje estou na condição de dirigir grupos e, portanto, despertei para essa função quando convivi e compartilhei da musicalidade do Maestro Luiz Santos”. (MELO, depoimento oral, 2014)

2.4.2 O compositor Nesta pesquisa foram expostas algumas de suas composições, que marcaram sua passagem por diversas cidades como mestre de banda. Mais o que é perceptível nas composições de Luiz Santos são as homenagens características dos músicos daquela época principalmente dos que possuem formação militar. O Maestro passeou por diversos estilos musicais tornando-se um dos pioneiros a inserir outros estilos nos repertórios das bandas, além dos Dobrados que era de práxis no repertório das bandas. Luiz Santos compôs valsas, bolero, Fox, dobrados, hinos e sambas. 34

Segue abaixo um quadro com algumas composições do Maestro e sua classificação quanto ao estilo musical, algumas ainda com estilo musical desconhecido encontradas nos arquivos da Escola Técnica Federal ETFPI do Piauí atual IFPI Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Piauí e no acervo da Polícia Militar do Piauí. Quadro de Composições de Luiz Santos. Coronel Kleber Tenente Coronel José Ribeiro Tenente Coronel Sebastião Simplício Professor Pedro Vasconcelos Capitão Aquino Canção do Flamengo Aspirante Lucides Governador João Castelo Professor Castelo Aluízio Lobo Doutor Jorge Cunha Canção do 1º Batalhão da Polícia Militar-PI Canção da C C S Carnaval no Tigrão Ginanabeth Daise Vasconcelos Adélia Santinho Concidélia Izadélia Amanda Professor ManoelCarvalho Baião da Saudade Salve-se Quem Puder Simplício e Seu Clarinete A Família Brasil Samba Todo Cabloco Tem Vento Geral O Pilão do Adão Hino do River Atlético Clube Hino de Nossa Senhora dos Remédios Hino de Barras Hino do Colégio Álvaro Ferreira Hino do Complexo Escolar Zona Sul Hino da Escola Técnica Federal do Piauí Hino dos Titulares do Esporte A Cor do Som Homenagem as Mães Deus Juri e Consciência

DOBRADO DOBRADO DOBRADO DOBRADO DOBRADO DOBRADO DOBRADO DOBRADO DOBRADO DOBRADO DOBRADO MARCHA MARCHA CANÇÃO MARCHA FREVO VALSA VALSA VALSA BOLERO

BAIÃO CHORO CHORO FOX SAMBA

MARCHA MARCHA MARCHA MARCHA MARCHA MARCHA MARCHA 35

3. CONCLUSÃO A influência da Música sobre o ser humano é sobre maneira de engrandecê-lo e completá-lo. É preencher o vazio individual ajudando-o a construir e assumir sua personalidade, encontrando uma forma de expressá-la socialmente, e possibilitando um clima propício ao desenvolvimento humano. É criar condições para estimular o gosto pela arte fazendo dela instrumento de transformação e inclusão. Foi com a intenção de promover esses valores e de auxiliar e conduzir a musicalidade nos indivíduos que fez com que o Maestro Luiz Santos dedicar-se a música e ao ensino musical no Piauí. O estudo da história de vida de Luiz Santos faz com que acreditemos que é possível romper barreiras e transfigurar a realidade para uma esfera que alimente a criação. A preocupação com a aprendizagem e a paixão pela música fez com que o Maestro dedicasse toda sua vida a educação de música no Estado do Piauí. Os registros das obras musicais piauienses ao longo do tempo têm sido pouco divulgados. Confirmamos tal problemática nas dificuldades de acesso às produções musicais por parte dos interessados na área, inclusive para o presente trabalho. A escassez de divulgação das obras, especificamente do músico Maestro Luiz Santos, tais como seus hinos, dobrados, valsas, entre outros, justifica a dificuldade, para o desenvolvimento do trabalho, mas os seus projetos com a música nas escolas onde o ensino musical foi feito através da formação de bandas e fanfarras, foi o que motivou essa pesquisa. Com o objetivo de resgatar parte da memória musical do Piauí, este trabalho biográfico tratou com o cuidado de relatar fatos importantes da passagem de um dos maiores músicos que nasceu no Piauí e que construiu uma história digna de registro para fins educativos. Levando em consideração sua produção e sua contribuição na formação musical de grandes mestres, dentre regentes e maestros, que nos dias de hoje propagam o ensino da musica no Piauí, assim como o Maestro durante toda sua vida. Luiz Santos serviu e serve de 36

modelo por ser pioneiro e pela vontade e capacidade com a qual liderou grandes grupos e projetos musicais no Piauí. Nesse ponto, julgamos como importante a teoria de Silva, Ferreira Filho e Carino esclarecendo, em características e definições, as biografias musicais, história dos mestres da música e a memória da música piauiense. Através dos conceitos e pensamentos desses e de outros teóricos ficou mais fácil compreender o momento em que estava inserido e o que pretendia Luiz Santos sobre a situação contextual da música piauiense. A preocupação em expor a fala, em depoimentos orais, de familiares e amigos foi importante por acharmos que esses pontos, mesmo subjetivos, poderiam dar um encaminhamento ao universo particular de Luiz Santos esmiuçando questões pessoais. Assim como também, foi relevante utilizar um quadro visualizando as principais canções do Maestro. Outro tópico julgado importante e, por isso, contemplado nesse trabalho, diz respeito as figuras retratando momentos de vida pessoal, a regência em bandas e corais, bem como algumas das composições de Luiz Santos o qual implicam na intenção em projetar de forma “didatizada” e justificada a história de vida do Maestro. Procuramos também, principalmente no capítulo de desenvolvimento, sistematizar as várias vertentes, regente-compositoreducador de música-militar-pai, de Luiz Santos no intuito de ajudar a entender melhor a relação da sua história de vida com a música, já que consideramos que todos os seus intentos foram voltados para essa arte. Propomo-nos aqui a sinalizar a necessidade de registro e de visibilidade aos trabalhos que foram realizados por ele, com o intuito de incentivara promoção das obras de Músicos que contribuíram para a Formação musical de uma geração, assim como a formação da história musical do nosso Estado. Como contribuição à sociedade, a pesquisa será

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disponibilizada pela UFPI com a proposta de fomentar e implementar estudos metodológicos de ensino de música e seu desenvolvimento no Piauí como em todo Brasil. O prestígio de Luiz Santos como músico e educador musical o elevou ao ápice da cultura piauiense por sua visão transformadora e basilar na música desse Estado. Reflexiva e construtiva: assim foi abordada a biografia do Maestro Luiz Santos usando o seu mundo e suas histórias como elementos catalizadores dessa transformação. Torna-se, portanto, valorosa a biografia do Maestro como preenchimento da história da música piauiense.

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REFERÊNCIAS CISLAGHI, Mauro César. Concepções e ações de educação musical no projeto de banda fanfarras de São José – SC: três estudos de casos. Dissertação (Mestrado em Música) – Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Santa Catarina, 2009. FERREIRA FILHO, João Valter. História e Memória da Educação Musical no Piauí: das primeiras iniciativas às universidades. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Piauí. Teresina, 2009. FUNDAÇÃO JET. Memória piauiense – Luiz Santos. Teresina: FJET, 1992. ROCHA, Ricardo. Regência – Uma arte complexa: técnicas e reflexões sobre a direção de orquestras. São Paulo: IBIS LIBRIS, 2004. SÉRVIO, Evaldo Passos. Música, Educação e Sociedade: o fenômeno bandístico em Teresina/PI. 2002. 211 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Piauí. Teresina, 2002.

FONTES ELETRÔNICAS BLANCO, Pablo Sotuyo. João Manoel Dantas: pesquisa biográfica e musical. Disponível em : http://www.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2007/musicologia/musicol_PSBla nco.pdf Acesso: 18/01/2014 CARINO, Jonaedson. Biografia e sua instrumentalidade educativa. Educação & Sociedade, ano XX, nº 67,Agosto, 1999. Disponível em: Acesso: 02/04/2014 SILVA, Lélio Eduardo Alves da.As bandas de músicas e seus mestres. Cadernos Colóquios, 2009. Disponível em: Acesso: 11/07/2014

FONTES ORAIS MELO, Raimundo Aurélio. Depoimento oral. Entrevista concedida ao pesquisador Júlio César de Oliveira. Teresina, 2014. RODRIGUES, José. Depoimento oral. Entrevista concedida ao pesquisador Júlio César de Oliveira. Teresina, 2014. SANTOS, Firmina Martins. Depoimento oral. Entrevista concedida ao pesquisador Júlio César de Oliveira. Teresina, 2011. 39

SANTOS, José Luís Carvalho do. Depoimento oral. Entrevista concedida ao pesquisador Júlio César de Oliveira. São Luís, 2011.

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