Magnetometria e georadar aplicados à arqueologia – o caso da Horta da torre

August 1, 2017 | Autor: S. Maló das Neves | Categoria: Archaeological Geophysics, Archaelogy, Geo-Archaeology
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  IV CJIG, LEG 2014 

IV Congresso Jovens Investigadores em Geociências,  LEG 2014  

Pólo de Estremoz da UÉvora, 11‐12 outubro 2014               Livro de Actas 

 

 

Magnetometria e georadar aplicados à arqueologia – o caso  da Horta da torre   

Magnetic and GPR surveys applied to archaeology ‐ case study from Horta da torre 

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S. Neves , R. J. Oliveira , J. F. Borges2, B. Caldeira2    

 Universidade de Évora, centro de geofísica de Évora, laboratório Hercules, rua romão ramalho, 59, 7000, Évora.   Universidade de Évora, departamento de física, centro de geofísica de Évora, laboratório Hercules, rua romão ramalho, 59,  7000, Évora.    *[email protected], autor correspondente

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  Resumo:  Pretende‐se com este trabalho identificar novas estruturas arqueológicas na Horta da Torre através  de  georadar  (GPR)  e  da  magnetometria  (gradiente  magnético  vertical).  Após  aquisição  e  processamento  dos  dados,  foram  realizadas  as  interpretações  para  cada  método  bem  como  a  interpretação  conjunta.  Verificou‐se  a  existência  anomalias  magnéticas  coincidentes  com  fortes  reflectores,  bem  como  a  existência  de  zonas  em  que  só  foram  identificadas  por  um  dos  métodos.  Ambos os tipos de anomalias poderão traduzir a existência estruturas arqueológicas.    Palavras‐chave: magnetometria, georadar, arqueologia, geofísica.    Abstract:   The aim of this presentation is to identify new archaeological structures through ground penetration  radar  (GPR)  and  magnetometry  (vertical  magnetic  gradient).  After  acquisition  and  processing  data,  the  interpretations  were  done  for  each  method  and  all  interpretations  in  together.  It  was  verified  that  there  are  magnetic  anomalies  and  strong  reflectors  on  the  same  sites,  also  as  have  sites  only  identified by one method. Both kinds of anomalies can be a buried archaeological structures.    Key‐words: magnetic survey, ground penetration radar, archaeology, geophysics. 

  INTRODUÇÃO  A vila romana da Horta da Torre está localizada na freguesia de Cabeço de Vide, concelho de  Fronteira.  Esta  vila  foi  localizada  nas  prospecções  para  a  carta  arqueológica  em  1999  pelo  Arqueólogo André Carneiro. Antes das escavações, eram visíveis três núcleos de estruturas,  a  “Mesquita”  em  forma  de  U,  um  taque  romano,  designado  “Banho”,  e  por  fim  a  “Torre”,  uma  estrutura  em  arco  (ábside).  Estas  estruturas  foram  evidenciadas  em  2005  a  partir  de  duas sondagens, no entanto as mesmas encontra‐se consideravelmente afectadas devido à  actividade agrícola (Mendes, 2013).  Em 2012 voltaram‐se a realizar mais sondagens, o que permitiu confirmar a qualidade dos  elementos  estruturais.  E  verificou‐se  que  a  “Torre”  é  uma  estrutura  em  dupla  ábside  que  coroa um “stibadium”, esta zona é um local nobre da sala de recepções. Estas estruturas são  1

  IV CJIG, LEG 2014 

IV Congresso Jovens Investigadores em Geociências,  LEG 2014  

Pólo de Estremoz da UÉvora, 11‐12 outubro 2014               Livro de Actas 

 

 

típicas da villae romanas do século IV e V. Nesta estrutura também foram encontrados tubos  de descarga para o interior da estrutura, o que indica que nesta sala existiam jogos de água e  fontes.  DESENVOLVIMENTO  A primeira fase da prospecção geofísica na Horta da Torre começou com os trabalhos de georadar.  Foi utilizado o equipamento GSSI SIR‐3000, com antena de 400 MHz, tendo sido todo o equipamento  acoplado a um kart (veiculo de transporte do equipamento de registo e antenas). Foram realizadas  aquisições  individuais  segundo  linhas  paralelas,  com  um  afastamento  entre  si  de  25  cm  e  enquadradas numa grelha previamente definida e georeferênciada por GPS diferencial (dGPS), o qual  permite uma precisão centimétrica na localização geográfica do levantamento.  O  processamento  dos  dados  foi  realizado  no  programa  GPR‐SLICE  (software  que  permite  a  interpretação  3D  dos  dados  de  GPR  recolhidos  no  levantamento).  Foram  realizadas  operações  de  correcção de posição, remoção de ruído de fundo, desconvolução, filtragem, ganho, e aplicação da  transformada  de  Hibert.  Esta  cadeia  de  processamento  permitiu  construir  uma  imagem  tridimensional do subsolo.   A Figura 1 apresenta três cortes horizontais do modelo tridimensional obtido através do GPR‐SLICE a  diferentes  profundidades.  As  zonas  a  amarelo  representam  zonas  de  maior  reflectividade  para  os  pulsos da onda electromagnética utilizados, que no âmbito deste trabalho podem indicar estruturas  arqueológicas.               A)                            

A1 

 

B) 

 

B1

A2 

 

 

C)              

B2

C2 

C4 

B4

15 m

A3 

C3 

B3

 

 

   

       

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Figura 1 – Cortes horizontais (depth‐slice) do modelo tridimensional à profundidade de: A) 33 cm, B) 45 cm, C) 66 cm. 

A Figura 1 apresenta duas zonas com fortes reflectores que se mantém em profundidade (zona 2 e  3). Os reflectores da zona 1 desaparecem à profundidade 66 cm, o que pode indicar que a estrutura 

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termina antes dessa profundidade. A zona 4 apresenta reflectores a partir da profundidade 45 cm, o  que pode indicar o início de uma nova estrutura.  Na segunda fase da prospecção foi utilizada a magnetometria. Para tal, foi utilizado o magnetómetro  Gem  Systems,  GSM‐19,  com  disposição  em  gradiente  vertical  (dois  sensores  que  registam  o  valor  absoluto  do  campo  magnético  terreste,  e  a  partir  do  qual  se  obtém  o  gradiente  vertical  do  campo  magnético).  Os  sensores  foram  colocados  num  kart,  tendo  sido  dispostos  de  80  cm  entre  si,  e  o  sensor inferior a 20 cm do solo. Foram marcadas no terreno 3 grelhas com diferentes dimensões, de  modo a cobrir a zona de estudo. Dentro das grelhas foram marcados alinhamentos, afastados entre  si de 50 cm. As amostras foram georreferenciadas através do GPS do magnetómetro.  Os  dados  foram  processados  através  do  programa  MAGY,  tendo  sido  aplicados  os  seguintes  métodos: correcção de posição, filtragens (filtro IIR passa baixo a 400 mHz, e gaussiano), e despiking  (eliminação de spikes). (Ciminale e Loddo 2001; Eder‐Hinterleinter et al. 1996)  A Figura 2 apresenta o resultado da magnetometria bem como a interpretação da mesma. As zonas  mais  claras  representam  anomalias  magnéticas  negativas,  enquanto  as  zonas  mais  escuras  estão  associadas  a  anomalias  magnéticas  positivas.  A  anomalia  magnética  de  valor  nulo  é  representada  pela  cor  cinza.  As  anomalias  de  maior  valor  absoluto  podem  estar  associadas  a  estruturas  arqueológicas. 

(nT/m) 

15 m 

 0

 

                    

Figura 2 – Gradiente magnético vertical. 

Na  Figura  2  estão  representados  os  alinhamentos  relativos  às  anomalias  magnéticas  que  poderão  estar relacionados com estruturas arqueológicas. A zona de estudo contém ruído, ou seja, a atividade  agrícola  desenvolvida  ao  longo  dos  tempos  destruiu  parte  das  estruturas  arqueológicas  localizadas  mais  à  superfície,  espalhando  os  seus  elementos,  o  que  origina  perturbações  nos  registos  magnéticos, e por vezes impossibilitam a correcta interpretação dos dados. 

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O  resultado  da  conjugação  dos  resultados  obtidos  (interpretações  dos  dados  GPR  e  da  magnetometria) é apresentado na Figura 3. Nesta  figura é possível identificar duas zonas (Z1 e Z2)  em que existe coincidência nas anomalias detectadas pelas duas anomalias (anomalias magnéticas e  fortes reflectores), o que torna mais plausível a existência de estruturas com potencial arqueológico  nesses locais.  É  possível  verificar  que  os  alinhamentos  dos  reflectores  mais  intensos  bem  como  das  anomalias  magnéticas estão alinhados ou perpendiculares às estruturas arqueológicas existentes.  

Legenda:  Grelha do GPR

10 m 

Grelha da  magnetometria  Reflectores do 

Z1 

Anomalias  magnéticas 

Z2



  Figura 3 – Interpretação dos resultados de georadar e do gradiente magnético. 

CONCLUSÃO  Verificou‐se  que  existem  duas  zonas  cujos  resultados  obtidos  pelos  dois  métodos  –  GPR  e  Gradiometria  ‐  são  coincidentes,  o  que  reforça  os  indícios  de  existirem  estruturas  arqueológicas  nesses mesmos locais.   Foram identificadas zonas com potencial arqueológico através de um só método. Contudo, deverão  ser alvo cruzamento de métodos para compreender melhor o tipo de estruturas presentes.  Foi  possível  verificar  que  o  solo  está  bastante  contaminado  pelos  elementos  das  estruturas  arqueológicas  caoticamente  distribuídas  pelo  terreno  devido  à  actividade  agrícola  que  por  vezes  atinge  maiores  profundidades  ou  por  derrubes  que  afectam  as  estruturas  e  que  por  vezes  impossibilita a correcta interpretação dos dados.  Agradecimentos  Este  trabalho  foi  cofinanciado  pelo  Fundo  Europeu  de  Desenvolvimento  Regional  (FEDER),  através  do  INALENTEJO,  no  âmbito  do  projecto  IMAGOS  –  Inovative  Methodologies  in  Archaeology,  Archaeometry  and  Geophysics  –  Optimizing  Strategies  X  APOLLO  –  Archaeological  and  Physical  On‐site  Laboratory  –  Lifting  Outputs), operação n.º ALENT‐07‐0224‐FEDER‐001760 e referência 8BI/APOLLO/2013.  Agradece‐se a colaboração do arqueólogo André Carneiro e da geofísica Teresa Teixidó.    Bibliografia    Ciminale, M., & Loddo, M. (2001). Aspects of Magnetic Data Processing, Archaeol. Prospect., 8, pp. 239–246. 

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Eder‐Hinterleinter, A., Neubauer, W., Melichar, P. (1996). Restoring magnetic anomalies. Archaeol. Prospect., 3,  pp. 185–197  Mendes,  M.  (2013).  FRONTEIRA:  Arqueologia  em  Tempo  de  Férias”,  acedido  em  21  de  Agosto  de  2014,  em:  http://terraalentejana.blogspot.pt/2013/07/fronteira‐arqueologia‐em‐tempo‐de‐ferias.html. 

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