MAIS QUE PALAVRAS: Um olhar sobre a formação de plateia através da Música e da Dança.

July 4, 2017 | Autor: Leonardo Feichas | Categoria: Music Education, Performance Studies, Formação De Plateia
Share Embed


Descrição do Produto

X CONFERENCIA REGIONAL LATINOAMERICANA Y III CONFERENCIA REGIONAL PANAMERICANA DE EDUCACIÓN MUSICAL ISME – INTERNATIONAL SOCIETY FOR MUSIC EDUCATION MAIS QUE PALAVRAS Um olhar sobre a formação de plateia através da Música e da Dança. Marcelo Caires Luz Sesc Acre e Universidade Federal do Acre [email protected]

Prof. Msc. Leonardo Vieira Feichas Universidade Federal do Acre [email protected]

Letícia Porto Ribeiro Universidade Federal do Acre [email protected]

Resumo: A presente comunicação busca mostrar como, através da combinação de linguagens artísticas, pode-se trabalhar a formação de púbico para a música instrumental brasileira numa ação de educação musical contemporânea que foca o desenvolvimento de uma escuta ativa. Levantamento de repertório, ensaios instrumentais e decisões interpretativas e performáticas dos músicos em sintonia com o bailarino revelam-se como importantes procedimentos metodológicos. Como resultado pretende-se mostrar que a combinação da música popular instrumental à dança contemporânea, agregada a uma prática camerística, transforma-se em uma linguagem artística de grande atratividade para o público e por meio do qual este pode desenvolver amplamente sua sensibilidade e escuta musical. Palavras chave: Educação Musical e interdisciplinaridade; Formação de plateia; Música e Dança.

Abstract: This communication aims to show how, through the combination of art forms, one can work the forming of audiences for Brazilian instrumental music in a contemporary action of music education with focus on the development of an active hearing. Repertoire research, rehearsals, performance and instrumental decisions of the musicians altogether with the dancer will be important methodological procedures. As a result, it is aimed to show that the combination of popular Brazilian music with contemporary dance results in an artistic language of great attractiveness to the public and by which it can develop broadly its sensitivity and musical hearing. Keywords: Music Education and interdisciplinary; Form new audience; Music and Dance.

Eis a questão – um panorama.

Atualmente, nas Artes, o que mais tem sido valorizado é a integração entre diferentes formas de linguagem artística e, mais ainda, uma integração que as explore de maneiras pouco usuais – quanto à abordagem e combinações – revelando assim novas e relevantes formas de comunicação, as quais têm muito a “dizer” ao transmitir diferentes tipos de mensagens, mesmo sem envolver o arsenal linguístico que o idioma falado ou cantado pode oferecer. Além disso, como músicos não podemos deixar de lado os aspectos subjetivos que constituem a interpretação sonora. A dialética musical, como evidencia Lima (2005, p.18) “se processa em larga escala pela experiência, intuição e talento do intérprete – critérios altamente subjetivos – e pelo cumprimento de certos procedimentos estéticos que se padronizaram durante a história”. Neste sentido, MAIS QUE PALAVRAS – Música e Dança nasce da ideia de que a integração entre as linguagens musical e corporal pode resultar num “produto” intelectual e artístico de considerável capacidade de comunicação no âmbito da sedução visual e sensorial e assim contribuir na formação “do ouvir” regional da população de Rio Branco, Acre. Assim, entendemos ainda, que o projeto configura-se também como uma relevante ação em educação musical, no sentido de constituir uma oficina de escuta sonora participativa. No mesmo sentido, Fux (1983, p. 51) também defende em sua obra um aspecto interessante em relação a forma de ouvir que nunca deveria ter se cristalizado nas salas de concerto ou em qualquer outro espaço que se possa realizar diferentes formas de apresentações musicais, ao afirmar que “... pode-se escutar melhor, movendo-se. A apreciação musical nunca deveria ser estática.” Já Berchmans (2006, p.20), igualmente consciente da capacidade sedutora da música, afirma que: “a música sozinha já tem um grande poder de comunicação emocional”, o que, por conseguinte, pode ser ainda mais potencializado, se ao elemento sonoro forem integrados elementos da linguagem visual. Com isso, compreendemos que a percepção musical dos ouvintes pode ser consideravelmente ampliada ao incorporar ao trabalho a Dança e as possibilidades cênicas dos movimentos produzidos pelo bailarino contemporâneo para materializar, visualmente, a expressividade e o conteúdo do repertório escolhido.

Tomando forma... MAIS QUE PALAVRAS – Música e Dança, além de uma composição audiovisual direcionada para uma ação em educação musical, caracteriza-se também como um espetáculo com

foco a formação de plateia, no sentido de aliar um repertório popular, já conhecido pelo público, a elementos com os quais este pode não estar tão familiarizado, como os instrumentos “eruditos” e a música de câmara, além de envolver a dança contemporânea de forma significativa; assim, um repertório artístico cada vez maior pode estar ao alcance do público, por um meio de mais fácil percepção e compreensão. Além disso, esta ação de educação musical propõe o resgate e valorização da música popular brasileira, a folclórica e a religiosa, numa composição que está sempre em movimento; ou seja, o repertório se renova constantemente. Outro aspecto importante sobre o repertório utilizado é que a escolha das músicas se faz através de um processo altamente pessoal – subjetivamente emocional antes de técnico. Como músicos, entendemos a necessidade e queremos estar apaixonados pela música que compartilhamos com nosso público ouvinte; acreditamos que dessa forma consegue-se transmitir para as plateias a força sensorial e emocional que a Música carrega. MAIS QUE PALAVRAS – Música e Dança classifica-se também como um trabalho peculiar no sentido de sensibilizar o ouvinte de diferentes formas “visuosonoras” direcionando a complexidade do sentir em aspectos cada vez mais abrangentes. Ampliando essa temática, Pena (2008, p.29) afirma: … que o ser “sensível à música” não é uma questão mística ou de empatia, não se refere a uma sensibilidade dada, nem a razões de vontade individual ou de dom inato. Trata-se, na verdade, de uma sensibilidade adquirida, construída num processo – muitas vezes nãoconsciente – em que as potencialidades de cada indivíduo (sua capacidade de discriminação auditiva, sua emotividade etc.) são trabalhadas e preparadas de modo a reagir ao estímulo musical.

Formado pelos instrumentos piano, violino e violoncelo, o grupo trabalha com uma especial seleção musical e ao mesmo tempo com a ideia extemporânea da Música de Câmara, ou seja, um reduzido conjunto musical que faz música acústica em pequenas salas ou espaços de concerto, algo muito praticado na Idade Média, no período Barroco, e de forma menos intensa, mas ainda muito presente, em períodos posteriores da história da humanidade. Como forma de enriquecimento, agrega-se a esta formação a participação de um bailarino que busca ilustrar por meio de seus gestos, o que propõe plasticamente cada combinação dos sons emitidos, respeitando suas identidades sonoras e questões estéticas das músicas do repertório e seus elementos rítmicos, melódicos e harmônicos. Além disso, de tempos em tempos, determinados arranjos e repertório permitem o convite a outros musicistas para uma temporada com o grupo, tais como um clarinetista, flautista, percussionista etc., o que agrega ao trabalho um constante ressignificação da identidade sonora do grupo.

Nossas raízes e metas... O projeto surgiu numa conversa de corredor e da inspiração de dois músicos professores que, envolvidos com a Educação Musical e conscientes da capacidade sedutora da Música, resolveram tocar juntos, o que resultou na junção do som brilhante e percussivo do piano com a maciez e o refinamento necessário das cordas do violino e do violoncelo, tanto quando pinçadas como friccionadas. Consciente das diversas possibilidades sedutoras musicais, no campo da percepção emocional da música, Berchmans (ibid, p.18) também dialoga nessa perspectiva, ao afirmar que: A música tem o misterioso poder de provocar sentimentos de tensão, medo, alegria, tristeza, angústia, alívio, horror, compaixão etc. Este papel psicológico da música é uma poderosa ferramenta dramática, largamente utilizada por compositores que buscam despertar as mais variadas sensações no público. A música tem a força de “manipular” a resposta emocional do público.

Em nossa visão, concomitantemente a todas as técnicas e formas organizacionais utilizadas para se melhor executar um texto sonoro, deve-se considerar os aspectos comunicativos, sedutores e implícitos em um determinado texto sonoro. Não se pode esquecer que os compositores, quando escrevem suas obras, alicerçam-se, na grande maioria dos casos, nos aspectos emotivos musicais; na capacidade que o som tem de emocionar, de encantar, de intrigar ou de chocar seus públicos. O fato é que o músico precisa estar consciente do como e do porque expressará uma determinada obra e que objetivos tangenciam seu projeto expressivo. Quando isso ocorre, observamos interpretações extremamente inovadoras e com uma proposta comunicativa e, consequentemente, sedutora ou intrigante, muito clara. Contrapondo essa ideia com a Arte, tomada como área central de nossa discussão, colocamos duas relevantes e complementares ideias de Izquierdo (2003, p.109) que ampliam mais um pouco a temática aludida: A arte entra pelos sentidos e atinge o nosso coração. Cada tipo de arte requer experiência prévia no gênero para ser apreciado e sentido. Para que uma determinada expressão artística “nos toque o coração” é preciso que “o coração sinta” que está sendo tocado, e não poderá fazê-lo se o estímulo lhe é alheio ou estranho.

Enfim, MAIS QUE PALAVRAS – Música e Dança organiza uma ação pontual de educação musical, além de um espetáculo de escuta ativa e de grande sensibilização sensorial e motora, possibilitando à plateia um despertar diferenciado para a dimensão da vivência musical. Assim, somamos ainda a ideia de Fux (ibid) que defende “a vivência musical se amplia e se enriquece

quando se estende ao corpo. A música não pode dividir-se; tem que ser vivida na sua totalidade pelo corpo, em todas as suas etapas (...)”. Conclusões O projeto em evidencia organiza uma especial ferramenta de apreciação musical e de formação de plateia, atribuindo uma reformulação do paradigma nos processos de escuta do público de forma diferenciada na capital acriana – Rio Branco – transformando-se num concerto didático e uma escuta sinestésica, sensível, ou seja, uma escuta ativa, uma “esponja sensorial” que estimula e “convida” o corpo a participar com movimentos espontâneos e, num segundo momento, prédeterminados. Entendemos ainda que esta ação de educação musical e formação de plateia conduz o ouvinte para prontamente reformular seu paradigma do escutar no sentido de agregar a dimensão visual para a plasticidade de sons independentes ou de “textos” musicais completos interpretados pelo grupo. Enfim, cabe registrar que a apreciação e visualização do espetáculo com os recursos que somam as cenas, tais como: iluminação e efeitos visuais como sombras e tecidos, aliados aos movimentos contemporâneos de interpretação do bailarino, colaboram para o despertar do prazer na audição, do movimento corporal, de um sublime despertar sensorial que certamente conduz o ouvinte a uma experiência sonora e visual ampla, significativa e integrada.

Referências BERCHMANS, Tony. A música do filme: tudo o que você gostaria de saber sobre a música de cinema. São Paulo: Escrituras, 2006. a.

FUX, Maria. Dança uma experiência de vida. 3 ed. São Paulo: Summus, 1983. IZQUIERDO, Ivan. Tempo de viver. São Leopoldo-RS: Unisinos, 2003. LIMA, Sonia Albano. Uma metodologia de Interpretação musical. São Paulo: Musa, 2005. LUZ, M. C. Educação Musical na Maturidade. São Paulo: Som, 2008. MATEIRO, Teresa. ILARI, Beatriz. (Org.) Pedagogias em Educação Musical. Curitiba: InterSaberes, 2012. PENA, Maura. Música(s) e seu ensino. Porto Alegre: Sulina, 2008.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.