Mais sobre o uso de sentenças clivadas como respostas a perguntas WH

May 31, 2017 | Autor: Sergio Menuzzi | Categoria: Syntax-Semantics Interface
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MAIS SOBRE O USO DE SENTENÇAS CLIVADAS COMO RESPOSTA PARA PERGUNTAS WH1

Maria Cristina Figueiredo Silva2 Sérgio de Moura Menuzzi3

RESUMO: Segundo Belletti (2008), as línguas possuem três estratégias diferentes para responder a questões WH sobre o sujeito da sentença: VS, focalização in situ ou clivadas (reduzidas ou plenas). Para essa autora, as estratégias B e C podem ir juntas: por exemplo, o francês também pode usar a estratégia in situ, embora tenha preferência pela estratégia clivada. A sua análise, dentro do Projeto Cartográfico, entende que a estratégia de clivagem é um modo de a língua que não tem sujeito nulo usar a periferia do vP para focalização informacional, pois tanto VS quando clivagem (reduzida ou não) envolvem movimento do sujeito para a posição de foco na periferia do vP, enquanto que a estratégia de focalização informacional do sujeito in situ envolve uma posição de foco dentro do DP. Por razões de economia, a língua que dispõe de VS não precisa lançar mão das outras estratégias, já que a derivação mais econômica está disponível imediatamente. Por outro lado, Roisenberg (2009), e Menuzzi (2012), trabalhos que procuram investigar exatamente que tipo de estrutura informacional é compatível com as clivadas, mostram que na verdade as clivadas (plenas) são compatíveis com contextos que impliquem unicidade. Em particular, Menuzzi (2012:110), mostra que, como uma questão do tipo “quem saiu?” naturalmente pode ter uma resposta que implique unicidade, a clivada é bastante adequada como resposta para ela: “foi o Pedro que saiu”. No entanto, quando o contexto é tal que é incompatível com essa interpretação de unicidade – por exemplo, quando falamos de uma festa e a pergunta é “quem estava lá?” –, a clivada não é adequada (daí a impossibilidade de uma resposta como “era o Paulo que estava lá”). Este trabalho pretende averiguar essas observações, aplicando a falantes de PB um teste de preferência de ordenação de respostas, que variam sistematicamente o contexto informacional. Os resultados preliminares estão em consonância com as observações de Roisenberg (2009) e de Menuzzi (2012). PALAVRAS-CHAVE: Respostas a questões WH; Clivadas; Português brasileiro; Estrutura informacional; Focalização in situ.

1

Artigo publicado nos “Anais do IX Congresso Internacional da Abralin”. Belém do Pará: UFPA, 2015. p. 1-13. 2 Universidade Federal do Paraná/ CNPq, bolsista PQ I-D, processo no.309413/2012-5. E-mail para contato: [email protected] 3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul/ CNPq, bolsista PQ II, processo no 313011/2013-3. E-mail para contato: [email protected]

1. Introdução Segundo Belletti (2008), as línguas naturais possuem três estratégias diferentes para responder a questões WH com foco no sujeito da sentença, como mostrado em (1), extraído de Belletti (2008:1): (1)

A.

Italiano: VS (“inversão livre”) a. Chi è partito / ha parlato ? /quem saiu / falou?/ b. E’ partito / ha parlato Gianni /saiu / falou o João/

B.

Francês: clivada reduzida ou plena a. Qui est parti/ a parlé? /quem saiu / falou?/ b. C’est Jean (qui est parti/ a parlé) /foi o João (que saiu/ falou)

C.

Inglês: SV (focalização in situ) a. Who came/spoke? b. John came/spoke /O João veio/ falou/ c. John did

Para a autora, essa variação está relacionada ao parâmetro do sujeito nulo: línguas de sujeito nulo, dispondo da ordem VS em sua gramática, consistentemente escolherão essa estratégia para focalização informacional do sujeito; por outro lado, línguas que não possuem sujeito nulo (e tampouco VS) estarão restritas a escolher entre a clivagem e a focalização in situ. As estratégias B e C podem inclusive estar ambas disponíveis para uma mesma língua: por exemplo, o francês, embora tenha preferência pela estratégia clivada, também pode usar a estratégia in situ. No entanto, como Belletti mesma reconhece, as clivadas têm conteúdo semântico específico que fornece “identificação única exaustiva” para o constituinte que exibe informação nova, uma propriedade que nem VS nem focalização in situ partilham. Essa visão das clivadas é bastante difundida, tendo recebido inclusive um a formalização parcial na conhecida análise de Kiss (1998). Nosso objetivo neste trabalho é mostrar que a variação apontada por Belletti pode não estar tão fortemente relacionada ao parâmetro do sujeito nulo, em particular no que diz respeito à possibilidade de uso de clivadas e focalização in situ como estratégias de resposta a perguntas WH com foco no sujeito. Para este fim, propomo-nos aqui a fazer uma comparação inicial entre as estratégias de resposta utilizadas pelo português brasileiro e pelo espanhol do Rio do Prata, uma das variedades do espanhol faladas na América Latina. Organizamos nosso trabalho como se segue:

Na seção 2, sintetizamos alguns dos principais aspectos da análise de Belletti para as estratégias de resposta a perguntas WH sobre o sujeito. Na seção 3 discutimos o espanhol do Rio da Prata (doravante ERP), uma língua de sujeito nulo que tem à disposição a estratégia VS. Na seção 4, revisitamos os dados do português brasileiro (doravante PB), uma língua de sujeito nulo parcial que, crucialmente, praticamente perdeu VS durante o último século. Nessa seção, veremos que alguns estudos sobre o PB, como os de Guesser (2007) e de Quarezemin (2009) parecem confirmar a análise de Belletti (2008). Na seção 5, no entanto, reconsideramos alguns dos fatos acerca do uso das clivadas como respostas a perguntas WH retomando brevemente a discussão apresentada em Roisenberg (2009) e Menuzzi (2012). Com base nela, mostramos que há indícios de que a proposta de Belletti (2008) de que clivadas de sujeito seriam uma estratégia privilegiada de resposta a perguntas WH pode ser um equívoco baseado no fato de que Belletti não controlou variáveis importantes da estrutura informacional das clivadas. A hipótese que emerge dessa discussão é que, se a estrutura informacional dos contextos de interrogação de sujeitos WH for manipulada, diferentes padrões de resposta preferencial devem emergir. Em particular, esperamos que as clivadas serão favorecidas em contextos com “pressuposição de unicidade”, independentemente de serem clivadas de sujeito ou objeto. Para confirmar a hipótese acima mencionada, apresentamos os resultados preliminares de um experimento similar ao conduzido por Guesser e Quarezemin. Nosso experimento é aplicado a informantes tanto do PB quanto do ERP; seu design é descrito na seção 6. Na seção 7 apresentamos os resultados preliminares e nossas conclusões a partir deles. Na seção 8 retomamos a discussão em relação as propostas de Belletti e, mais geralmente, sobre as questões sobre a tipologia das respostas a perguntas WH. 2. Estratégias para responder perguntas WH sobre o sujeito A análise de Belletti (2008), desenvolvida dentro do Projeto Cartográfico, entende que a ordem VS é o modo mais direto de responder a uma pergunta WH sobre o sujeito. Por hipótese, VS colocaria o sujeito na posição correta para ser interpretado como foco informacional, que é uma posição baixa na periferia de vP. Ainda segundo Belletti, por razões de economia a língua que dispõe de VS não precisa lançar mão de outras estratégias, já que a derivação de VS é a mais econômica e está disponível imediatamente. Por outro lado, Belletti postula que a estratégia de clivagem seria um modo de uma língua que não tem sujeito nulo usar a periferia do vP para focalização informacional, sendo um tipo de “VS disfarçado”. De acordo com as estruturas sintáticas propostas por Belletti, tanto VS quando clivagem (reduzida ou não) envolvem movimento do sujeito para a posição de foco na periferia do vP. Contudo, de acordo com essa análise das clivadas, seu uso como respostas a questões WH para o sujeito deveria ser possível também em línguas que dispõem de VS: isso aconteceria em contextos em que a competição com VS fosse de algum modo afetada e a condições de economia não excluíssem a clivada. E, de fato, Belletti observa

que isso acontece em italiano: embora VS seja a opção preferida, a clivagem se torna possível quando a pergunta é clivada, como em (2), ou “with agentive predicates expressing a somewhat negative presupposition” (p. 5), como exemplificado em (3): (2)

a. b.

(3)

a. b.

Chi è (stato) che ha rotto il vaso? /who is it that broke the vase?/ È (stato) Gianni. /it is (has been) Gianni. Chi ha urlato? /who screamed?/ È stato Gianni. /it has been Gianni/

Olhando para um conjunto de línguas tipologicamente diferentes, Belletti (2008) avança algumas generalizações descritivas sobre as estratégias mencionadas, que são: (a) o modo como a questão é formulada não influencia necessariamente o tipo de resposta (apesar dos fatos do italiano acima mencionados); um exemplo disso seria o que acontece emo português europeu, que usa questões clivadas mas prefere respostas VS; (b) as estratégias de clivagem (especialmente a clivagem reduzida) e a focalização in situ podem se alternar em algumas línguas, como no caso do francês, que além da clivagem também pode usar SV para responder questões WH sobre o sujeito; (c) somente sujeitos têm acesso a esse conjunto de opções (qual seja: VS, clivadas e foco in situ); objetos podem fazer uso apenas de SVO como estratégia de resposta a uma pergunta WH (em todas as línguas de ordem SVO). É preciso ainda dizer que na literatura que fala sobre a semântica das clivadas, segundo a autora, é senso comum atribuir à clivada a propriedade de prover identificação única e exaustiva do constituinte clivado. Não é muito claro em seu texto se em todas as instâncias de uso da clivada como resposta para perguntas em francês a interpretação é sempre única e exaustiva; por seu turno, VS não teria essa propriedade (cf. Belletti 2008, p. 5, nota 13), que tampouco seria exibida pela focalização in situ. 3. A relevância dos dados do ERP O espanhol rio-platense é uma língua de sujeito nulo típica e tem, portanto, VS como uma opção disponível em sua gramática. Certas generalizações avançadas por Zubizarreta (1998) para o espanhol padrão se aplicam também ao ERP e podem ser sumarizadas como segue: (a) em sentenças monoargumentais que responem a uma questão WH sobre o sujeito, a ordem VS é preferida, já que coloca o sujeito na posição mais à direita da sentença, posição que recebe o acento principal da frase;

(b)

em sentenças transitivas, a ordem VOS implica na interpretação de foco estreito sobre o sujeito; entretanto, sentenças com a ordem VSO não podem ter seu sujeito interpretado como foco informacional. As predições que a análise de Belletti faz para o ERP são claras: se VS é possível, ela deve ser a opção preferida porque é a derivação mais econômica em sua análise. Além disso, dado que nenhum princípio formal exclui o uso de uma clivada (reduzida ou não) em línguas como o italiano e o espanhol, é de se esperar que algumas instâncias de clivadas sejam atestadas onde outras considerações suspendem os efeitos de economia. Finalmente, como a focalização in situ é uma estratégia mais custosa, ela deve ser excluída no caso do ERP (como Belletti sustenta que é no italiano). No entanto, como veremos, nosso experimento com falantes nativos do ERP mostra que, embora VS seja mesmo uma estratégia favorecida para responder a questões sobre o sujeito, também a focalização in situ é uma opção, isto é, SV é uma resposta possível para os informantes nesse contexto. Adicionalmente, a “família clivada” (plenas, reduzidas, invertidas) se mostrou também uma opção de resposta tanto para questões sobre o sujeito quanto para questões sobre o objeto, em condições que vamos tornar mais precisas nas próximas seções. Pinto (2010) lembra um detalhe importante: Zubizarreta (1998) observou que VS no espanhol moderno está em declínio. 4. A relevância dos dados do PB O PB é uma língua de sujeito nulo parcial, em que a construção com inversão do sujeito só é possível poucos contextos – basicamente com verbos inacusativos –, à qual crucialmente falta a construção VS, como já notou a literatura (cf. Nascimento 1984, Kato 2000, entre tantos outros). Portanto, VS não é uma opção geral da gramática dessa língua para responder a perguntas WH com foco no sujeito; assim, outras estratégias devem ser utilizadas para responder a tais perguntas. Nesse sentido, Belletti (2008) reporta o trabalho de Guesser (2007), que montou um experimento de produção controlado exatamente para saber que estratégias de resposta o PB usa. Seus resultados indicam que os falantes nativos de PB respondem questões WH sobre o sujeito usando clivagem em 50% das vezes e SV (com foco in situ) em 38% das vezes. É preciso dizer que “clivagem” aqui é um título geral que recobre uma variedade de construções – clivadas plenas (como em “Foi o Pedro que chegou”), clivadas reduzidas (como em “Foi o Pedro”), clivadas truncadas (“o Pedro que chegou”) ou pseudoclivadas (“Quem chegou foi o Pedro”). Num trabalho semelhante, Quarezemin (2009) investiga as estratégias preferidas para responder perguntas WH sobre o objeto e também situações em que o objeto é foco contrastivo, pedindo que os informantes escolham a melhor maneira de responder a uma pergunta num contexto específico. Seus resultados impressionam: de 105 sentenças com objeto como foco informacional, 99 exibem ordem SVO; apenas 6 fazem uso de alguma estrutura clivada (2 reduzidas e 4 pseudo-clivadas). Por outro lado, em contextos de contraste, a clivagem foi a opção preferida: 59 escolhas em 63 possibilidades. Esses resultados levam a crer que, no caso de focalização do objeto, SVO é a estratégia

preferida para o foco informacional (como previsto por Belletti 2008) e a clivagem é a estratégia principal para veicular foco contrastivo. Ainda que a robustez dos dados seja impressionante, é preciso indagar se ela não advém exatamente de uma extrema uniformidade no tipo de contexto que aparece nos testes. Antes de responder a essa pergunta, contudo, vamos examinar um pouco mais detidamente a interpretação das clivadas. 5. A “pressuposição de unicidade” das clivadas Roisenberg (2009) e Menuzzi (2012), trabalhos que procuram investigar exatamente que tipo de estrutura informacional é compatível com as clivadas, mostram que uma das condições que favorecem fortemente o uso de clivadas (plenas) são contextos que “pressuponham unicidade” – isto é, contextos em que a pessoa que pergunta e a que respondem compartilham a presunção de que a resposta ao constituinte WH é um único referente. Em particular, Menuzzi (2012:110) argumenta que uma questão como (4a) pode ser concebida facilmente em um contexto em que apenas uma pessoa saiu; nestes contextos, há pressuposição de unicidade, e a clivada é bastante adequada como resposta para ela, como mostra (4b): (4)

A: B:

Quem saiu? Foi o Pedro (que saiu).

No entanto, quando o contexto é pragmaticamente incompatível com uma pressuposição de unicidade do referente, a clivada não é adequada. O exemplo em (5) ilustra essa situação, se supusermos que o tema da conversa é uma festa onde B esteve ontem – normalmente, há muitas pessoas em uma festa: (5)

A: B: B’:

Quem estava lá? # Era o Pedro (que estava lá) O Pedro (estava lá)

O mesmo parece ser verdadeiro com respeito aos objetos: quando a unicidade do referente é claramente pressuposta pelo contexto, a sentença clivada é uma boa resposta para uma questão WH. Por exemplo, suponha que haja apenas dois professores na escola, Pedro e Paulo, e que normalmente apenas um deles fica com as crianças no recreio. Nesse contexto, uma resposta como (6B) é claramente aceitável. (6)

A. B.

Quem você viu na escola hoje? Foi o Pedro (que eu vi na escola).

Por outro lado, se o contexto não pressupõe unicidade , a resposta com uma sentença clivada degrada em aceitabilidade, como mostra com uma frase similar a (6B), mas agora enunciada num contexto que não favorece a pressuposição de unicidade – um contexto em que B esteja falando da festa em que B ontem.

(7)

A. B. b’.

Quem você encontrou na festa? # Foi o Pedro (que eu encontrei na festa). (Eu encontrei) o Pedro (na festa).

Se esses fatos são reais, como supomos, há pelo menos duas conclusões a serem extraídas deles. Em primeiro lugar, é possível que o controle do fator “pressuposição de unicidade do referente” revele que a clivada não é uma estratégia de responder perguntas WH sobre o sujeito apenas em PB ou línguas sem a ordem SV; pode na verdade ser usada em qualquer língua em que clivadas tenham a mesma condição pragmática de uso, incluindo as de sujeito nulo. Adicionalmente, o controle desse fator pode também revelar um outro fato pertinente para as hipóteses de Belletti: pode ser que a clivagem não seja uma estratégia reservada para respostas a sujeitos WH por razões de ordem sintática das línguas sem ordem VS; talvez esteja igualmente disponível para responder a objetos WH nessas línguas, uma vez asseguradas as condições pragmáticas adequadas. É isso o que pretendemos checar agora. 6. O experimento Muito como o experimento conduzido por Quarezemin (2009), nosso experimento pediu a 12 falantes nativos de PB e 11 falantes nativos de ERP para ordenar as preferências de resposta a questões colocadas em contextos específicos. Cada teste continha quatro histórias, duas das quais envolviam questões WH sobre o sujeito e duas sobre o objeto; para cada uma das funções havia uma questão em um contexto com pressuposição de unicidade, e outra sem essa pressuposição. Além dessas quatro histórias, o experimento continha outras três, que eram distratoras. Os testes apresentavam quatro opções de resposta para os falantes de PB e cinco para os falantes de ERP: para os falantes de PB, não apresentamos VS como opção para o sujeito; e no teste para objetos em ERP, acrescentamos uma outra estrutura da família clivada no lugar correspondente ao da ordem VS para sujeitos. Nossos informantes tinham de 18 a 60 anos de idade; os informantes de ERP são em sua maioria estudantes de intercâmbio que estavam cursando um semestre de língua portuguesa para realizarem o exame Celpebras; os informantes de PB são em sua maioria professores universitários ou alunos de pós-graduação em Letras. Tomamos os cuidados usuais com a aplicação destes testes: nenhum informante foi submetido à mesma história em condições diferentes, a ordem de apresentação das respostas era diferente para cada história, os testes tinham diferentes ordens de apresentação para as histórias. Ilustramos em (8) abaixo um dos contextos com pressuposição de unicidade e, em (9), um contexto sem essa pressuposição, ambos de perguntas sobre o sujeito. (8)

O falante B está contando para o falante A que foi numa festa em que alguém tirou a roupa e pulou na piscina.

A: B:

Me conta: quem tirou a roupa? (a) Foi o Pedro. (b) O PEDRO tirou a roupa. (c) Quem tirou a roupa foi o Pedro. (d) Foi o Pedro que tirou a roupa.

Ordem de preferência: ______, _______, _______, ______ (9)

O falante B está contando ao falante A que foi numa festa super legal. A: B:

Quem ‘tava lá? (a) O PAULO ‘tava lá. (b) Quem ‘tava lá era o Paulo. (c) Era o Paulo que ‘tava lá. (d) Era o Paulo.

Ordem de preferência: ______, _______, _______, _______ 7. Resultados e discussão Antes de mais nada, devemos chamar a atenção do leitor para um ponto metodológico importante: tínhamos poucos informantes, de modo que não pudemos considerar todas as opções de resposta; isso fragmentaria em excesso os resultados e obscureceria os padrões que poderiam ser obtidos. Optamos então por colocar clivadas reduzidas e plenas como um grupo só, ignorando as pseudo-clivadas (que colocam problemas que vão além da nossa possibilidade de discussão neste trabalho). Vamos examinar primeiramente os resultados do teste no ERP. Comecemos pelas respostas a questões WH sobre o sujeito. No Quadro 1, a seguir, apresentamos as respostas dadas como primeira e segunda opções (isto é, as duas “melhores respostas”) para os contextos com pressuposição de unicidade e sem pressuposição de unicidade. Os números que nos parecem mais interessantes estão em negrito. Quadro 1: Respostas preferidas (em 1º e 2º lugares) para questões WH sobre o sujeito no ERP segundo o contexto

Foco in situ Clivadas (plenas e reduzidas) VS

Contextos com pressuposição de unicidade 1ª opção 2ª opção Total 06 02 08

Contextos sem pressuposição de unicidade 1ª opção 2ª opção Total 07 02 09

05

07

12

04

02

06

00

03

03

00

06

06

Parece claro que foco in situ e clivadas são as melhores escolhas para questão WH sobre o sujeito; VS é a segunda opção (empatada com clivadas) apenas quando não há pressuposição de unicidade. Esse é um resultado curioso e está em consonância com a observação de Zubizarreta (1998) salientada por Pinto (2010): VS está em declínio no espanhol, em particular na variedade rio-platense, de modo que é possível que esteja sendo reservada para outros contextos – talvez, para contextos apresentacionais ou de foco largo. Por outro lado, a proximidade dos números totais na primeira linha sugere que a pressuposição de unicidade não é uma condição que afete foco in situ; contudo, unicidade claramente favorece as clivadas, dada a diferença na segunda linha nos totais: a escolha por clivadas cai pela metade (de 12 para 6) quando em contextos sem pressuposição de unicidade. E é de qualquer modo um resultado surpreendente que as clivadas sejam escolhidas como primeira opção mais vezes que VS mesmo nos contextos sem unicidade. Aparentemente, a verdadeira competição em contextos com unicidade é entre foco in situ e clivadas (com alguma vantagem para as clivadas: 12 ocorrências versus 8); por outro lado, a competição em contextos sem unicidade é entre foco estreito marcado (foco in situ e clivadas) versus foco estreito não marcado (VS), sendo o primeiro claramente favorecido, com 15 ocorrências, versus apenas 6 do segundo. O Quadro 2 a seguir apresenta os resultados para questões sobre o objeto. Quadro 2: Respostas preferidas (em 1º e 2º lugares) para questões WH sobre o objeto no ERP segundo o contexto

Foco in situ (= VO) Clivadas (plenas e reduzidas)

Contextos com pressuposição de unicidade 1ª opção 2ª opção Total 03 05 08 07

05

12

Contextos sem pressuposição de unicidade 1ª opção 2ª opção Total 08 01 09 02

07

09

Aqui é importante ter em mente que foco in situ e posição final para o foco coincidem. Em contextos com unicidade, temos os mesmos números que no Quadro 1, sugerindo que a mesma situação encontrada para os sujeitos se repete para os objetos: tanto foco in situ quanto clivadas são boas opções, com clivadas favorecidas (12 ocorrências contra 8 de foco in situ). Nos contextos sem unicidade, na ausência de diferença entre foco in situ e uma estratégia VO independente, emerge uma oposição com as clivadas: o foco in situ é a primeira opção 8 vezes num total de 9, enquanto a clivada é escolhida como segunda opção 7 vezes num total de 9 possibilidades. Esse último resultado parece indicar que o aparecimento de clivadas entre as melhores opções para responder perguntas WH sobre o sujeito em ERP é um efeito colateral da distinção entre foco estreito marcado no sujeito e VS; VS parece mais ser um modo de incluir o sujeito no foco largo do que uma construção para marcar foco estreito no sujeito. No caso da ordem VO, o acento no objeto é compatível tanto com

foco largo da sentença quanto com foco estreito sobre o objeto e assim qualquer construção marcada será desnecessária (e desfavorecida, no caso da clivagem, por conta da unicidade). Vejamos agora um quadro comparativo entre sujeito e objeto tomando em conta apenas a primeira opção de resposta. Quadro 3: Apenas a primeira opção de resposta para questões WH sujeito e objeto no ERP segundo o contexto

Foco in situ Clivadas (plenas e reduzidas)

Contextos com pressuposição de unicidade Pergunta Pergunta Total Sujeito Objeto 06 03 09 05

07

12

Contextos sem pressuposição de unicidade Pergunta Pergunta Total Sujeito Objeto 07 08 15 04

02

06

Este último quadro confirma o papel da unicidade em favorecer o uso de clivadas – talvez fosse mais adequado falar no papel da ausência da unicidade no desfavorecimento do uso de clivadas. Quando agrupamos os dados que dizem respeito tanto a sujeitos quanto a objetos, vemos claramente que foco in situ e clivadas são opções que estão aproximadamente no mesmo nível quando há unicidade – 9 e 12 ocorrências, respectivamente; todavia, na ausência de pressuposição de unicidade do referente, a escolha por clivadas como melhor opção cai drasticamente: 15 ocorrências do foco in situ contra 6 ocorrências de clivadas. Tendo esboçado esse panorama dos dados do ERP, podemos passar agora ao exame dos dados do PB. Comecemos examinando as respostas preferidas para perguntas WH que versam sobre o sujeito em PB segundo os contextos. Quadro 4: Respostas preferidas (em 1º e 2º lugares) para questões WH sobre o sujeito no PB segundo o contexto

Foco in situ Clivadas (plenas e reduzidas)

Contextos com pressuposição de unicidade 1ª opção 2ª opção Total 03 07 10 08

05

13

Contextos sem pressuposição de unicidade 1ª opção 2ª opção Total 10 01 11 01

08

09

Nos contextos com unicidade, a clivagem é claramente favorecida em PB, ultrapassando o foco in situ tanto nos totais (13 ocorrências contra 10) quanto na concentração de primeira escolha para clivadas (8 ocorrências) versus segunda opção para o foco in situ (7 ocorrências). Sem unicidade, as clivadas caem definitivamente

para segunda opção (8 ocorrências contra apenas 1 ocorrência de escolha como primeira opção). Aqui temos um retrato claro do efeito da unicidade sobre as escolhas. Examinemos agora as respostas a questões WH sobre objetos no PB. Quadro 5: Respostas preferidas (em 1º e 2º lugares) para questões WH sobre o objeto no PB segundo o contexto

Foco in situ (= VO) Clivadas (plenas e reduzidas)

Contextos com pressuposição de unicidade 1ª opção 2ª opção Total 06 05 11

06

03

09

Contextos sem pressuposição de unicidade 1ª opção 2ª opção Total 10 01 11

01

05

06

A situação aqui se parece mais com o padrão exibido pelas respostas a perguntas WH sobre o objeto no ERP do que ao padrão dos sujeitos em PB: como no ERP, sob unicidade, tanto foco in situ/VO quanto clivagem parecem ser opções igualmente possíveis, como mostra a proximidade das totais no quadro acima (diferentemente do que acontece com os sujeitos em PB, onde clivadas são claramente favorecidas); como no ERP, e também como os sujeitos no PB, nos contextos sem unicidade, as clivadas se tornam uma opção claramente desfavorecida com relação ao foco in situ/VO – são primeira opção apenas uma vez, contra 10 ocorrências de foco in situ/VO. Finalmente, vamos examinar apenas as primeiras opções de resposta tanto para questões sobre o sujeito quanto para questões sobre o objeto. Quadro 6: Apenas a primeira opção de resposta para questões WH sujeito e objeto no PB segundo o contexto

Foco in situ Clivadas (plena e reduzida)

Contextos com pressuposição de unicidade Pergunta Pergunta Total Sujeito Objeto 03 06 09 08

06

14

Contextos sem pressuposição de unicidade Pergunta Pergunta Total Sujeito Objeto 10 10 20 01

01

02

Novamente, o quadro confirma o papel da unicidade nas escolhas pelas melhores respostas, de maneira bastante robusta: sob unicidade, clivadas são preferidas frente ao foco in situ (14 ocorrências contra 9); porém, em contextos sem unicidade, a escolha por clivadas cai dramaticamente, independentemente de estarmos falando de sujeitos ou objetos.

8. Conclusões gerais Podemos resumir nossos achados aos seguintes pontos: 1. Diferentemente do que era esperado segundo Belletti (2008) – e mesmo segundo nosso experimento piloto –, VS no ERP não se mostrou como a melhor opção para responder a uma questão WH sobre o sujeito. Foco in situ e clivadas são as melhores opções (equivalentes sob unicidade; com preferência para foco in situ na ausência de unicidade); VS parece ter se tornado uma (segunda) opção apenas na ausência de unicidade. 2. Unicidade tem um papel preponderante e muito similar na duas línguas – ERP e PB: ela favorece as clivadas e sua ausência desfavorece claramente a clivagem, tanto em contextos de perguntas WH sujeito quanto de perguntas WH objeto. 3. Há contudo uma diferença entre as línguas: no ERP a presença de unicidade não parece ser suficiente para favorecer o uso de clivadas sobre o foco in situ, seja para sujeitos, seja para objetos; o mesmo parece ser verdadeiro para as questões WH objeto em PB. No caso das perguntas WH sobre sujeitos, contudo, a unicidade faz pender a balança para as clivadas, mesmo que não tão fortemente. 4. Qualquer que seja a explicação última para esses fatos (supondo que eles sejam confirmados por dados adicionais, posto que o número de participantes do presente experimento é excessivamente pequeno), eles claramente não estão preditos pela equação mais simples sugerida por Belletti, que opõe línguas de sujeito nulo a línguas de sujeito não nulo para daí derivar a possibilidade de responder questões com clivadas, VS ou focalização in situ. Finalmente, se voltarmos aos exemplos (2) e (3) do italiano, que exibem clivadas (reduzidas), podemos facilmente constatar que esses são casos em que a unicidade do referente está pressuposta pelo nosso conhecimento de mundo – razão pela qual podemos hipotetizar que, se experimento similar fosse aplicado em italiano, possivelmente obteríamos um quadro semelhante ao aqui apresentado.

REFERÊNCIAS BELLETTI, A. Answering Strategies. Ms. Università di Siena, 2008. KATO, M. The Partial Pro-Drop Nature and the Restricted VS Order in Brazilian Portuguese. In M. Kato & E. Negrão (Eds.), Brazilian Portuguese and the Null Subject Parameter, 223-258 Vervuert, 2000. KISS, K. É. Identificational Focus and Information Focus. Language, v.74, p.245-273, 1998. NASCIMENTO, M. MENUZZI, S. Algumas observações sobre foco, contraste e exaustividade. Revista Letras, vol. 86, p. 95-121, 2012. PINTO, C. Línguas românicas, línguas germânicas, movimento do verbo e efeito V2. Anais do Seta 4: 99-115, 2010.

QUAREZEMIN, S. Estratégias de focalização no português brasileiro: uma abordagem cartográfica. Tese de doutoramento. Florianópolis: UFSC, 2009. ROISENBERG, G. Clivadas e tópicos contrastivos: estudos sobre a semântica e a pragmática da articulação informacional. Dissertação de mestrado. Porto Alegre: UFRGS, 2009. ZUBIZARRETA, M.L. Prosody, Focus and Word Order. Cambridge, Mass.: The MIT Press, 1998.

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