Malema - no seu fundo, é boa pessoa

July 24, 2017 | Autor: Andre Thomashausen | Categoria: South Africa
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No seu fundo, é boa pessoa

Jacob Zuma, Presidente da África do Sul, declarou a sua estima por Julius
Malema, o líder da juventude do Congresso Nacional Africano (ANC),
sublinhando que "no fundo ele é boa pessoa" e que "o partido deverá dar-lhe
mais valor para que ele se torne "um bom e dinâmico líder".
Este reparo, no dia em que Malema foi declarado culpado da prática de
"linguagem odiosa", susceptível de instigar a população negra contra a
minoria branca da África do Sul, é assustador. O tribunal superior de
Joanesburgo considerou que a canção preferida de Malema, Dubula Ibhunu
(Matem o boer - fazendeiro branco), faz lembrar os trágicos momentos na
história de outros povos, em que linguagem de ódio desencadeou genocídios.
Ainda no domingo, Malema declarou, durante mais um comício, aquilo que
classificou de "estado de guerra contra os exploradores brancos que
roubaram as terras e os recursos aos nossos países africanos".
Os reparos de Zuma certamente terão um impacto no desfecho do processo
disciplinar contra Malema, a decorrer perante a Comissão Disciplinar do
ANC. Tal como num processo anterior, Malema é acusado de indisciplina e de
desrespeito aos líderes do partido. Da outra vez, fez um apelo público ao
derrube violento do Governo do Botswana, por ser um Governo que age ao
serviço "do imperialismo americano".
As demais insistências de Malema, de que todas as terras agrícolas bem como
os sectores mineiros e financeiros devem ser totalmente nacionalizados, de
que o Presidente Robert Mugabe, do Zimbabwe, é seu ídolo e que a África do
Sul deveria seguir os modelos de Cuba e da Venezuela, poderiam ser
ignoradas, não fosse o facto de um crescente número de poderosas figuras do
ANC, incluindo a veterana Winnie Mandela, os possíveis candidatos
presidenciais, Tokyo Sexwale e Mathews Phosa, e agora o próprio Zuma,
louvarem Malema como "líder nato" e "futuro Mandela".
Malema, nascido pobre em 1981, nunca conheceu o seu pai, teve em vez de uma
mãe uma avó. Simboliza o fracasso trágico do sistema educacional e da
segregação da população africana herdada do tempo do apartheid. Orienta-se
pelos ressentimentos contra todos os que o fazem sentir-se mal e é motivado
por emoções de medo e raiva. "Numa recente conferência de imprensa,
respondendo a um jornalista estrangeiro, que o irritou com perguntas sobre
a moralidade dos seus "negócios", Malema explodiu: "Você não tem cara, seu
maldito macaco."
Malema tem um instinto agudo para tudo o que constitui e reforça o seu
poder populista. Sabe que os colectivos humanos, para se sentirem fortes,
precisam de visões simples de um inimigo. Sabe que 40% da população da
África do Sul, que sobrevive muito mal no sector informal, quer alguém a
quem atirar culpas. Consegue mobilizar de um dia para o outro milhares de
jovens que facilmente se identificam com ele.
De forma trágica, Malema simboliza não só as consequências da política
irresponsável do apartheid, mas também o fracasso da política do ANC desde
1994 em construir uma nação sul-africana na qual cada pessoa possa, pelo
menos, sonhar com uma vida justa. O sonho da "Nação Arco-íris" de Nelson
Mandela, nos anos 90, tornou-se um pesadelo, em que Malema surge como o
carrasco que anda de Range Rover branco, tem uma colecção de relógios de
pulso Patek Philippe e Panerai, e só bebe whisky 20 anos. Os jovens de uma
geração perdida vêem em Malema a pessoa que poderá ajustar contas por eles.
Só que esse ajuste de contas custará à África do Sul o seu grande prestígio
internacional.
ANDRÉ THOMASHAUSEN, PROFESSOR DE DIREITO INTERNACIONAL E COMPARADO NA
UNIVERSIDADE DA ÁFRICA DO SUL (UNISA)
publicado a 2011-09-16 às 01:00


Para mais detalhes consulte:
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1998649
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