MANUTENÇÃO E UTILIZAÇÃO DAS AGUAS DE CHUVA NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

July 13, 2017 | Autor: Marcelo Tredsone | Categoria: Semiárido, Conservacion De Suelo Y Agua
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"MANUTENÇÃO E UTILIZAÇÃO DAS AGUAS DE CHUVA NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO"









Seropédica/RJ
2014

SUMÁRIO






INTRODUÇÃO__________________________________________________3

UTILIZAÇÃO DE PRATICAS CONSERVACIONISTAS PARA MANUTENÇÃO E UTILIZAÇÃO DAS AGUAS DE CHUVA NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO ____4

BARRAGENS SUBTERRÂNEAS _____________________________6
BARRAGINHAS___________________________________________7
CISTERNAS DE PLACAS____________________________________8
MANUTENÇÂO DA COBERTURA DO SOLO____________________9


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS________________________________10










Seropédica/RJ
2014
INTRODUÇÃO

O Grande parte da região Nordeste e uma parte da região Sudeste Brasileira são caracterizadas com clima semiárido para subúmido, onde as restrições hídricas e as secas periódicas são os principais empecilhos para o sucesso da atividade agrícola (BRASILEIRO, 2009). Sendo assim, a utilização de captação e manutenção da água de chuva, junta a utilização de práticas conservacionistas, como, o uso de plantas como cobertura de solo ou com manejo adequado da vegetação espontânea, são estratégias importantes e que podem mudar todo o desempenho da produção agrícola regional.
Mesmo em condições de bacia hidrográfica preservada, a qualidade das águas é afetada pelo relevo superficial e pela condição de infiltração no solo (VON SPERLING 2005). Este impacto depende do contato da água em infiltração ou escoamento com substâncias e impurezas presentes no solo, onde, a cobertura vegetal e a composição do solo exercem grande influência na qualidade das águas. Os parâmetros que indicam as características físicas, químicas e biológicas são indicadores da qualidade da água, e passam a constituir impurezas quando alcançam valores superiores aos estabelecidos como normais para um determinado uso, podendo causar danos à saúde humana e ao ambiente (BARRETO, 2007).
Além do fator de qualidade, no Semiárido, o solo, na sua maior parte, é muito raso, portanto, a retenção de água subterrânea é muito difícil. Em boa parte da região, a exploração da monocultura, somada à prática agrícola sem os devidos cuidados técnicos e à falta de vegetação, vem contribuindo para a compactação do solo, modificando sua textura e qualidade na condução e armazenamento de água. Nessas condições, a água da chuva cai e corre; na maioria das vezes, percorre distância e vai abastecer bacias hidrográficas distantes das famílias carentes da oferta de água, tanto para o consumo humano como para a produção agrícola e consumo animal. Tal situação, sobretudo nos períodos de estiagens prolongadas, impõe às famílias a condição de percorrer quilômetros de distância para encontrar água para atender às suas necessidades.
Assim essas regiões apresentam restrições quanto à sua produtividade agropecuária, devido diversas peculiaridades edafoclimática, dentre elas, pode-se ressaltar características de escassez de água em um longo período do ano. Observando modelos e dados climáticos, Marengo (2005) evidenciou que o aumento da ocorrência e intensidade desses períodos de estiagem, decorrentes das mudanças climáticas, são os principais empecilhos para o sucesso da atividade agrícola nessas regiões.
Portanto o desafio principal no semiárido é a capacitação das famílias para a captação, armazenamento e uso adequado da água das chuvas, por meio de sistemas integrados que possam atender à demanda nos seus diversos fins. Partindo dessa constatação, e necessário o investimento financeiro das entidades públicas, tal como, o estimulo dos agricultores e agricultoras a refletirem sobre os potenciais de captação e armazenamento de água da chuva existentes em suas propriedades, visando despertá-los para a estruturação de experiências capazes de permitir uma convivência mais harmoniosa com a realidade semiárida. Nesse sentido, o presente trabalho reúne informações de um sistema integrado familiar de captação, manejo e gerenciamento de água da chuva, que pode permitir a melhoria da qualidade de vida das famílias no semiárido brasileiro.


UTILIZAÇÃO DE PRATICAS CONSERVACIONISTAS PARA MANUTENÇÃO E UTILIZAÇÃO DAS AGUAS DE CHUVA NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

A agricultura familiar do semiárido, de modo geral, sofre de forma mais acentuada a restrição ocasionada pela qualidade dos recursos naturais disponíveis – a água, principalmente, e o acesso e a qualidade dos recursos naturais, influenciam decisivamente os sistemas produtivos adotados e condicionam a relação desses produtores com o mercado (TONNEAU & SABOURIN, 2007).
As limitações na escala da geração de tecnologias apropriada aos agricultores da região também fazem parte do aparato de investimentos necessários para o desenvolvimento da agricultora familiar da região. Frente a essas expectativas de mudanças do paradigma regional e nacional, a adoção de estratégias que possibilitem a manutenção e captação das águas de chuva junto a proteção contínua do solo em região de clima semiárido, poderá ser uma das alternativas para o sucesso e perpetuação das atividades agrícolas em regiões que compartilhem destas características.
Neste contexto, o termo water harvesting (Figura 1), traduzido normalmente no Brasil, ainda que de forma limitante, por captação de água de chuva, é usualmente empregado para descrever uma série de métodos de coleta, concentração e armazenamento das águas que escoam por superfícies naturais ou artificiais. Em regiões de escassez, as técnicas de water harvesting são utilizadas para o aproveitamento de água de precipitações reduzidas e vazões em cursos d'água intermitentes. Em um sentido mais amplo, o termo water harvesting pode ser definido como a coleta de água para seu uso produtivo (SIEGERT, 1994). De fato, diversas definições têm sido apresentadas e não existe nenhuma de aceitação geral.
captação de águas subterrâneascaptação de águas subterrâneaságuas subterrâneas águas subterrâneas escoamento superficialescoamento superficialWATER HARVESTING WATER HARVESTING vapor d´águavapor d´águacaptação de água de chuvacaptação de água de chuvacaptação de vazões de cheiacaptação de vazões de cheia
captação de águas subterrâneas
captação de águas subterrâneas
águas subterrâneas
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escoamento superficial
escoamento superficial
WATER HARVESTING
WATER HARVESTING
vapor d´água
vapor d´água
captação de água de chuva
captação de água de chuva
captação de vazões de cheia
captação de vazões de cheia





captação de água de neblinas e de orvalho, utilização de cobertura de solo.captação de água de neblinas e de orvalho, utilização de cobertura de solo.
captação de água de neblinas e de orvalho, utilização de cobertura de solo.
captação de água de neblinas e de orvalho, utilização de cobertura de solo.






Figura 1: Os principais grupos de técnicas de water harvesting (adaptado de PRINZ, 1999)

Estudos de campo recentes sugerem que é real a perspectiva de se duplicar a produtividade agrícola com a produção de mais produtos por gota de chuva. Todavia, tal produtividade não pode ser obtida apenas com a gestão de recursos hídricos, sendo necessário aprimorar o estabelecimento de práticas agrícolas associadas ao uso de técnicas de captação de água de chuva (FALKENMARK et al., 2001). Portanto, um projeto de captação de água de chuva para fins agrícolas deve estar relacionado com atividades simultâneas de manejo da cobertura, teor de matéria orgânica e fertilidade de solos, controle de pragas, rotação de culturas, capacitação de mão-de-obra rural e serviços de extensão.
Uma destas práticas de manejo da água são as barragens subterrâneas, sistemas de barraginhas e a manutenção da cobertura do solo.

BARRAGENS SUBTERRÂNEAS
Consiste em uma técnica de represamento da água no solo, por meio da construção de um septo impermeável que impede o fluxo água do aquífero aluvial (Figura 2). O objetivo é usar o solo como um reservatório, evitando a perda de água por escoamento subterrâneo e por evaporação (SILVA et al., 1995).
Brito et al. (1999) citam o uso de barragens subterrâneas como subirrigação para cultivos sem a aplicação de defensivos químicos. O manejo do solo e da água na barragem subterrânea tem sido o principal entrave ao seu uso, principalmente com relação aos perigos de salinização do solo. Para evitar problemas dessa natureza Brito & Anjos (2000) recomendam colocar um tubo de descarga de fundo no septo impermeável para a execução de esgotamentos anuais.
Costa (2002), ao trabalhar na barragem objeto deste estudo, cita que a mesma possui uma boa condição de armazenamento de água, porém com tendência de incremento da salinidade dos solos pelo uso de água salina na irrigação.


Figura 2: Construção de barragem subterrânea na zona rural de Itinga/MG.

BARRAGINHAS
A captação e o armazenamento de parte do escoamento superficial que se forma quando da ocorrência de chuvas, e sua utilização posterior como irrigação de suplementação, pode reduzir, significativamente, as chances de perda das colheitas de cultivos anuais tais como milho e feijão.
A tecnologia da barraginha pode ser uma boa opção para proteger o solo contra o processo erosivo. O sistema, que armazena a água da chuva, como um mini açude, permite a infiltração lenta da água no solo, reduzindo o impacto negativo da água em áreas já erodidas.


Figura 3: Construção de barraginhas na zona rural de Itinga/MG.


CISTERNAS DE PLACAS
Consiste em aproveitar os telhados das casas como área de captação e os depósitos ou cisternas como recipientes para armazenamento (Figura 4).
A viabilidade da captação de água de chuva por meio dos telhados das casas, foi confirmada por meio de uma pesquisas (CAVALCANTI, et al., 2000; GOULD & NISSEN-PETERSEN, 1999; PACEY & CULLIS, 1986), na qual os resultados comprovaram que a área média dos telhados era de 84 m2 e que mais da metade das residências tinham 75 m2 de telhado, superfícies tais, que proporcionam a uma família de 5 pessoas, água limpa para beber e cozinhar durante o ano todo, a baixo custo. A área é de fácil de acesso por ficar próxima à casa (CAVALCANTI, et al., 2000).


Figura 4: Cisternas de placas na zona rural de Itinga/MG.

MANUTENÇÂO DA COBERTURA DO SOLO
Os solos agrícolas nas regiões tropicais, por estarem expostos aos fenômenos climáticos, térmicos e hídricos, necessitam de proteção contínua. A movimentação e exposição direta resultam no aumento da evaporação, perda de terra e nutrientes, redução dos teores de matéria orgânica e destruição da estrutura original das partículas dos solos, com consequência sobre a produtividade agrícola (Perin et al., 1998). A proteção contínua do solo pode ser alcançada através da cobertura, viva ou morta, proporcionada por espécies perenes utilizadas na adubação verde.
Bragagnolo & Mielniczuk (1990) afirmam que a cobertura do solo reduz a perda de água por evaporação, além de diminuir as oscilações da temperatura do solo, dependendo da insolação e da umidade do solo.


Figura 5: Manutenção da cobertura do solo, através do uso de leguminosas zona rural de Itinga/MG.


CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A adoção, aperfeiçoamento e criação de técnicas de captação e manejo da água de chuva junto ao manejo de plantas de cobertura para o solo, na região do semiárido, apesar de depender de muitos fatores a serem levantados em cada região, aponta-se uma possibilidade viável de aumentar a eficiência no cultivo e manutenção da "autossuficiência" por água, para atender as necessidades básicas das famílias e assim, elevar a qualidade de vida nessas áreas com restrições hídricas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRETO, L. V. Estudo das águas do rio Jiquiriçá. Monografia. Engenharia Ambiental. Itabuna, FTC, 2007. 47 p.
BRAGAGNOLO, N. & MIELNICZUK, J. Cobertura do solo por resíduos de oito seqüências de culturas e seu relacionamento com a temperatura e umidade do solo, germinação e crescimento inicial do milho. R. Bras. Ci. Solo, 14:91-98, 1990.
BRITO, L. T. de L.; SILVA, D. A. da; CAVALCANTI, N. de B.; ANJOS, J. B. dos; REGO, M. M. do. Alternativa tecnológica para aumentar a disponibilidade de água no semiárido. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. v3 n 1, p 11-115. Campina Grande 1999.
BRITO, L. T. de L.; ANJOS, J. B. dos. BARRAGEM SUBTERRÂNEA: captação e armazenamento de água no meio rural. 1º Simpósio sobre Captação de Água de Chuva no semiárido Brasileiro. Petrolina 1997.
CAVALCANTI, A.; JALFIM, F.; PAIVA, I.; NETO, J.; NETO, L.; FARIAS, M.; ALVES, R. Diagnóstico da situação hídrica de 22 comunidades do Sertão do Pajeú- PE e Médio Oeste do Rio Grande do Norte. Recife: Marco Zero do Plano Trienal do PAAF da Diaconia. 2001. 24p.
COSTA, M. R. da. Avaliação de Reservatórios Constituídos por Barragens Subterrâneas. 2002. 189f. Tese (Mestrado em Engenharia Civil) Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
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FALKENMARK, M., FOX, P., PERSSON, G. and ROCKSTRÖM, J., Water harvesting for upgrading of rainfed agriculture: problem analysis and research needs – SIWI report 11, Stockholm International Water Institute, Sweden, 2001.
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MARENGO, J., "Vulnerabilidade da agricultura do semi-árido à variabilidade natural e a mudanças climáticas". In: NAE/Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República - nº 3, Fevereiro, Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Brasília, DF. 2005.
PACEY, A.; CULLIS, A. Rainwater harvesting: the collection of rainfall and runoff in rural areas. London. UK. Intermediate Technology Publications. 1986. 216p.
PERIN, A.; TEIXEIRA, M. G.; GUERRA, J. G. M. Avaliação inicial de algumas leguminosas herbáceas perenes para utilização como cobertura viva permanente de solo. II. Amendoim forrageiro, Galáxia e Centrosema. Seropédica: Embrapa Agrobiologia, dez. 1998. 6p. (Embrapa CNPAB. Comunicado Técnico, 28).
PRINZ, D., Traditional irrigation techniques to ease future water scarcity, XVII International congress of the international commission on irrigation and drainage, Spain, 1999.
SIEGERT, K., Introduction to water harvesting: some basic principles for planning, design and monitoring. In: FAO, Rome. Water harvesting for improved agricultural production, 1994.
SILVA, M. S. L. da; ANJOS, J. B. dos; LOPES, P. R. C.; SILVA, A. de S. Sistema de Captação e Conservação de Água em Barragem subterrânea. Petrolina, PE, EMBRAPA-CPATSA, 1995. 4p. (EMBRAPA-CPATSA, Comunicado Técnico, 58).
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