Mãos do Mundo - poemas

June 15, 2017 | Autor: Julia Larré | Categoria: Portuguese and Brazilian Literature, Tarot, Poems
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MÃOS DO MUNDO (poemas inéditos)

Julia Larré (2011)

O musicista

que mulher esperaria os teus dedos a tocar-lhe o corpo?

entregar a alma ao conhecer o universo nas tuas mãos

o sexo frágil tempo – que não passa – neste encontro.

O ator

a boca bem sabe do sorriso que guarda

o olho feroz invade a sala a cama

invade a roupa o rosto

invade

o nada.

Drag-Queen

teu nome soa ecoa em meu ventre.

meu corpo sabe teu reino é esse.

dorme que o dia começa

e teus sonhos enchem a noite.

O atleta

o forte que sabe do tempo das horas certas de espera

prenúncio de um tempo infinito

as horas passam eo forte se apega ao que já tem.

O poeta

e toma o leito

o poema

que corre

é um

sem rumo.

leito que abarca noites insones e desejos.

a árvore dos frutos escuros ilumina o círculo do tempo.

o poeta traz para si a noite os frutos a árvore.

MUNDOLHARES

Imperfeito

o homem se mata. planta – e colhe frutos.

os frutos nunca espelham a alegria do homem – estúpido – ao colhê-los.

é que as horas não me são suficientes.

elas vêm pintam meus dedos fecham meus olhos e o sono não chega.

é que as horas trazem de volta o tempo que nem houve.

Noite esquecida

à noite dormem os pássaros em minha janela acesa.

os sonhos alcançam suas asas alçam o vento em voos esquecidos.

à noite os pássaros dormem em mim.

Rio que corre no asfalto

um segundo instante das águas destroem os séculos as portas as casas.

Confidência

cão e seu dono unidade e compaixão

do homem o osso na boca carinho olhos de bicho

cão e dono uivam noite branca

juntos ladram em torno da morte.

Lotus

ergue-se em esplendor o sol sabe de seus segredos noturnos

de manhã o lago em flor acorda.

Equilíbrio

traços de terra cheiro de chão – impossível não pensar na hora alheia.

o equilíbrio – impossível – relampejo amortece os ventos por segundos.

o equilíbrio – inalcançável talvez – se perpetua no desejo – ponderado de uma hora que passa.

os peixes das águas

comem a própria cauda.

Deus

observa.

A uma criança

a verdade absoluta – calor

os abraços entornam a pele

o amor transborda no aperto

o presente está em mim

o futuro revive.

Sorriso

um sorriso lágrima disfarçada por entre lagos castanhos.

o sorriso nos bordados de uma mãe que nas mãos segura um pássaro.

Oroboro

a fome de ser um só.

engulo sonhos desejos

e como – num só beijo – minha própria mão.

dentro do ovo o escuro.

nascer para a morte é a espera de cada um.

viajante do tempo

cronos

a foice castra a profundidade de meu seio.

O MUNDO E SUA ROTA

Poema 0 (zero)

o homem caminha por entre nuvens e círculo sabe de sua rota olha o éter – o eterno retorno – corre o risco de seguir o caminho desconhecido.

Poema 1

o mestre ensina o lugar do espírito

sonho aprendiz pés descalços.

a lama é ouro.

instrumentos são divinos.

o mestre trilha junto seu caminho.

Poema 2

Beth – a mãe.

o livro e sua coroa sonham luas.

o pai bem sabe do disfarce.

as luas virão ao certo

e o ventre não mais gestará.

Poema 3

a beleza tem seu cetro e escudo.

a gestação – suas jóias

e serpentes.

Poema 4

o pai e sua figura – poder razão controle.

os chifres do touro e a espada – encontro perverso com a certeza do sangue derramado.

Poema 5

o material não é nada.

o homem bate seu cajado

une céu e terra

e sabe que o tremor nos leva a Deus.

Poema 6

completude e tentação –

brotos na árvore

dos amantes.

Poema 7

dois caminhos.

a escolha – essa jornada mental –

traz de volta a incompletude de ser.

Poema 8

a boca do animal consome as mãos da mulher.

realidade encara de frente.

Poema 9

qual o segredo da chama que nasce?

quais os desejos do homem que me guia?

Poema 10

fim.

bem sei que a vida é uma roda.

fim –

Poema 11

olhos cegos

e a visão do não e do sim.

causa e efeito

a espada se lança no espaço do infinito

e corta o coração de quem olha.

Poema 12

a necessidade do sacrifício é apenas um reajuste.

o mundo gira ao contrário

ou eu lutei contra o cosmos?

Poema 13

esta sou eu.

a morte.

cavalo branco porte de guerra.

guerreio com o sol com o homem

minha bandeira – negra – fim

anuncia

um ciclo de mim.

Poema 14

pés descalços – água.

círculos concêntricos almejam bater na pedra.

o olho que vê flutua e se perde

na água que rebate.

Poema 15

anjo maligno besta infiel

convence-me de que não existe e tenta limitar a percepção.

existe – está aqui em qualquer lugar e é meu.

.

Poema 16

esta é a casa de Deus que o homem queima e revela.

as horas de Saturno.

Poema 17

a verdade se revela

sou herdeiro de minha terra

os pais nos deixam verter na água e mergulhar no brilho das estrelas do oceano.

Poema 18

a ilusão de se achar humano.

o cão cava a terra e bebe a água do lago.

Poema 19

o brilho que ilumina as plantas reside em mim.

Poema 20

ressuscitar os mortos –

o toque da trombeta revela

o que o passado enterra.

Poema 21

o mundo quase fecha sua rota.

a liberdade da certeza.

recomeço.

Poema 22

seguir adiante

o homem olha

ao redor –

precipício.

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