MAPA AMBIENTAL DE ROÇAS GRANDES, SABARÁ – MG, 2012: CONSCIENTIZAÇÃO E INSTRUMENTALIZAÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO PARA COLETA DE INFORMAÇÕES AMBIENTAIS DA COMUNIDADE

May 30, 2017 | Autor: I. Zaak Saraiva | Categoria: Environmental Education, Educação Ambiental
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MAPA AMBIENTAL DE ROÇAS GRANDES, SABARÁ – MG, 2012: CONSCIENTIZAÇÃO E INSTRUMENTALIZAÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO PARA COLETA DE INFORMAÇÕES AMBIENTAIS DA COMUNIDADE Illyushin Zaak Saraiva1 RESUMO Este artigo “Mapa Ambiental de Roças Grandes, Sabará – MG, 2012: Conscientização e Instrumentalização de Estudantes do Ensino Médio para Coleta de Informações Ambientais da Comunidade”, corresponde a um estudo de caso sobre o processo de coleta de informações ambientais efetuado no final do ano de 2012 por 45 alunos das três séries do Ensino Médio da Escola Estadual Professora Maria Elizabeth Vianna, em uma pesquisa sobre as condições ambientais do Vilarejo de Roças Grandes, Sabará, Minas Gerais, que é atualmente uma das comunidades com maiores índices de violência, exploração sexual de adolescentes e degradação ambiental na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Focou-se na conscientização ambiental dos alunos através de experiência orientada, em uma pesquisa de campo realizada entre os dias 08 e 22/11/2012, após um treinamento de 02 aulas, dentro da disciplina Sociologia. Divididos em grupos, os alunos percorreram a pé 12 quarteirões próximos à escola, anotando e fotografando as condições ambientais. Confirmou-se, após a etapa empírica, que 100% das ruas pesquisadas não possuem arborização nos passeios; não há tratamento de esgoto disponível no vilarejo, e em 100% das ruas pesquisadas não há fossa séptica, assim todo o esgoto doméstico e comercial vai para o Rio das Velhas; não há passeio para pedestres em 42% das ruas pesquisadas, e em 33% há entulho e lixo acumulados. Foi então elaborado com o auxílio do professor um mapa detalhado das condições ambientais do Vilarejo. Palavras-Chave: Educação Ambiental. Mapeamento Ambiental. Conscientização Ambiental. INTRODUÇÃO Várias resoluções e documentos internacionais têm contemplado o Direito ao Meio-Ambiente e à Educação Ambiental sob a perspectiva de Direito Humano, cujo acesso passa a ser considerado essencial e cuja oferta é entendida como obrigação dos Governos em todos os níveis. No Brasil, a Lei 8785/99, que trata da Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental, incumbe ao poder público não só a definição das políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, mas, especialmente, reforça o valor da Educação Ambiental dentro de todos os níveis do ensino formal, atribuindo às escolas um papel preponderante. 1

Especialista em Gestão Escolar, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais – IF Sudeste MG. Email: [email protected]

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Nesse sentido, as conferências ambientais internacionais mais recentes também têm atribuído às escolas um papel central como agente dispersor da educação ambiental, especialmente no caso de países em desenvolvimento – como é o caso do Brasil – dada a alta penetração social de que gozam as escolas no seio das comunidades carentes, e o alto valor que a instituição escolar detém nessas comunidades, como repositório por excelência do saber formal dentre as populações mais pobres e excluídas. A Declaração de Tessalônica (DTH, 1997), por exemplo, aprovada por representantes de dezenas de países dos vários continentes, reunidos pelo UNICEF, traz a indicação de que as “escolas sejam encorajadas e apoiadas, para que ajustem seus currículos em direção a um futuro sustentável” (DTH, 1997, p.4). Por seu turno a Estratégia de Vilnius (CEE/ONU, 2005), aprovada por representantes de todos os países europeus reunidos pela ONU, avança nessa direção ao afirmar que os “estabelecimentos de ensino desempenham um papel importante, já que desenvolvem capacidades a partir da primeira infância, proporcionando conhecimentos e influenciando as atitudes e os comportamentos” (CEE/ONU, 2005, p. 10). Em território Brasileiro, o Decreto 4281/2002, que regulamenta a já citada Lei 9795/99, traz indicações claras da preponderância da Escola como instituição primordial à Educação Ambiental, quando afirma: “Art. 6º. Para o cumprimento do estabelecido neste Decreto, deverão ser criados, mantidos e implementados, sem prejuízo de outras ações, programas de educação ambiental integrados: I - a todos os níveis e modalidades de ensino. [...]”. Chama a atenção, especificamente no que se refere aos objetivos deste trabalho, a previsão constante na Lei 9795/99 de que: Art. 8o As atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental devem ser desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar, por meio das seguintes linhas de atuação inter-relacionadas: [...] II - desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações; III - produção e divulgação de material educativo; IV - acompanhamento e avaliação. [...] § 3o As ações de estudos, pesquisas e experimentações voltar-se-ão para: I - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à incorporação da dimensão ambiental, de forma interdisciplinar, nos diferentes níveis e modalidades de ensino; II - a difusão de conhecimentos, tecnologias e informações sobre a questão ambiental; III - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à participação dos interessados na formulação e execução de pesquisas relacionadas à problemática ambiental;

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IV - a busca de alternativas curriculares e metodológicas de capacitação na área ambiental; V - o apoio a iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção de material educativo; VI - a montagem de uma rede de banco de dados e imagens, para apoio às ações enumeradas nos incisos I a V.

Vê-se que, para além da necessidade de pesquisar-se as condições ambientais das comunidades e das cercanias das escolas, a referida lei demonstra a necessidade de envolver-se os próprios estudantes no processo de produção local de conhecimento ambiental, através de sua instrumentalização para participação ativa em processos de coleta de informações ambientais. O presente estudo se concentrará nas diversas etapas do projeto de elaboração de um mapa da degradação ambiental no Vilarejo de Roças Grandes, Sabará – Minas Gerais, Brasil, por adolescentes alunos do ensino médio da Escola Estadual Professora Maria Elizabeth Vianna, projeto que aconteceu entre novembro de 2012 e abril de 2013, sob o escopo da disciplina Sociologia. O primeiro objetivo do projeto de elaboração do mapa foi a conscientização dos alunos adolescentes acerca das características ambientais desejáveis num cenário urbano como o estudado. Um segundo objetivo do projeto foi a própria instrumentalização dos estudantes para a realização da coleta de informações ambientais, a partir de um pequeno treinamento. Outro objetivo integrante do projeto de elaboração do mapa ambiental foi obviamente o próprio mapeamento ambiental cartográfico dos problemas apontados pela pesquisa efetuada no bairro, contemplando informações relativas aos vários tipos de degradação encontrados na comunidade. Este trabalho caracteriza-se por um estudo exploratório, com caráter descritivo, visando contribuir com os conhecimentos existente sobre o tema no Brasil, cujo produto secundário foi a criação de metodologia de instrumentalização dos estudantes para pesquisa ambiental da comunidade. O CONTEXTO LOCAL DE ROÇAS GRANDES – MG Santo Antônio de Roças Grandes, ou simplesmente “Roças Grandes”, é atualmente um vilarejo de cerca de 4.500 habitantes localizado às margens do Rio das Velhas,

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sendo também sede de uma das regionais administrativas do Município de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. Sua história, contudo, remonta a mais de 300 anos, tendo surgido inicialmente como o Arraial de Santo Antônio de Roças Grandes, fundado pelo famoso bandeirante paulista Borba Gato e seus homens, no período inicial da extração do ouro no Rio das Velhas, no final do século XVII, de acordo com a Rede Colaborativa de Sabará (RCS, 2004). O nome “Roças Grandes” é explicado pelo fato de que havia, onde hoje se situa a Igreja Matriz de Santo Antônio, uma grande baixada margeando o rio, de terra muito fértil e muito propícia à agricultura, o que levou os primeiros bandeirantes a plantarem ali suas roças de mandioca para permitir futuras expedições ao local, vindas de São Paulo. Trata-se do povoado mais antigo do Município de Sabará, e um dos mais antigos da Região Metropolitana de Belo Horizonte, guardando tradição fortemente católica, simbolizada pelas romarias anuais ao Santuário de Santo Antônio, famoso por atrair peregrinos de todo o Brasil cujas doações aos pedintes / mendicantes residentes na comunidade contribuem para a manutenção da situação precária das condições de vida dos mesmos (RCS, 2004). Em toda a região de Roças Grandes a mendicância é vista como fonte de trabalho e geração de renda, constituindo para alguns pesquisadores o principal empecilho para a realização de projetos de inclusão produtiva, graças à cultura assistencialista instaurada no vilarejo. (RCS, 2004) Segundo Ramos (2010), o povoado de Roças Grandes é considerado uma das regiões mais violentas do entorno da cidade de Belo Horizonte, marcado por altos índices de gravidez na adolescência e violência letal entre os adolescentes. Ainda segundo a Rede Colaborativa de Sabará (2010) a região de Roças Grandes [...] é considerada violenta, resultante da presença excessiva de álcool, drogas e prostituição. Casos de abuso e exploração sexual, agressão física e emocional, abandono e negligência, exploração de trabalho infantil, espancamentos, dentre outras, são constantes, o que coloca os residentes infanto-juvenis em situação de vulnerabilidade pessoal (RCS, 2010, p.6).

Para a RCS (2010), há poucas alternativas de emprego, e a grande maioria dos residentes empregados exerce suas atividades fora do distrito (nas cidades de Sabará e Belo Horizonte).

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Como observação mais voltada aos objetivos do projeto analisado neste estudo, no que diz respeito às condições de moradia e acesso aos serviços de abastecimento e iluminação pública no Vilarejo de Roças Grandes, segundo a Rede Colaborativa de Sabará (2004) [...] partindo das análises e observações constatam-se a presença de verdadeiras vilas e favelas na Regional, além de domicílios que se encontram em situação de risco, na beira de córregos e rio, encostas suscetíveis à erosão e deslizamentos, sem contar com as inúmeras áreas íngremes e de difícil acesso devido á localização montanhosa e os barracos improvisados (lona, madeirite, etc.). Grande fração das moradias não possui água tratada e canalizada em suas residências, utilizando águas de poços e nascentes de procedência duvidosa e danosa para a saúde. Inúmeras residências têm energia elétrica mas não recebem conta ou seja a mesma é de origem “desconhecida” proveniente de “bicos” e “gatos” e o que mais uma vez seria de benefício para a Regional é uma arma contra a vida. A rede de esgoto mais utilizada é o depósito dos desjeitos no rio, no solo a céu aberto tornando inviável a sobrevivência saudável de seus residentes, o mesmo acontece com o lixo que é coletado apenas na região central da regional. (REDE COLABORATIVA DE SABARÁ, 2004).

Através da observação crítica do cenário acima descrito, percebe-se ser a comunidade em estudo um lócus que demanda uma variada gama de políticas públicas, entre as quais se destaca a demanda por um amplo, gradual e planejado trabalho de Educação Ambiental com vistas à mudança dos paradigmas ambientais dos habitantes do vilarejo, o que necessariamente passa pela ação da Escola e dos estudantes, como afirma a Comunidade Econômica Europeia (CEE, 2005). Importa assegurar que todos os alunos e todos os estudantes adquiram os conhecimentos apropriados em matéria de desenvolvimento sustentável e estejam conscientes do impacte das decisões que não visam tal desenvolvimento. (CEE, 2005, p.10).

A ESCOLA NO CONTEXTO DA COMUNIDADE A Escola Estadual Professora Maria Elizabeth Vianna, desde seu início, aparece, existe e se expande como projeção da necessidade da própria comunidade em propiciar às crianças o acesso à Educação Escolar, necessidade expressa no processo de criação da mesma, sob forte demanda. Nesse sentido, ela foi primeiramente instalada no período do Estado Novo, mais precisamente no dia 08/02/1942, para criar uma alternativa de educação às crianças da comunidade de Roça Grande, já que o vilarejo é muito afastado da cidade sede de Sabará –

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cerca de oito quilômetros – e à época não havia ponte cruzando o Rio das Velhas (único acesso de Sabará ao distrito), o que tornava a locomoção dos estudantes até a Escola na sede do Município muito difícil, através de várias horas a pé, ou de balsa, que nos períodos de cheia do Rio das Velhas estava comprometida. Daí constatar-se que a Escola se insere no seio da comunidade como fruto do anseio dessa última, o que deu à mesma a especial condição de legitimidade que a torna capaz de apresentar à comunidade de Roças Grandes as suas críticas e sugestões sobre o modelo urbano ambientalmente insustentável. No que diz respeito à Educação Ambiental, o caso específico da Escola Estadual Professora Maria Elizabeth Vianna traz assim uma característica especial, dadas as condições da localidade em que se situa, Roças Grandes, que por um lado ainda é rica em meio ambiente (o vilarejo está rodeado de matas primárias e secundárias, e no interior dos quintais da grande maioria das casas ainda há muita vegetação arbórea composta quase 100% de árvores frutíferas), contudo, por outro lado, apresenta ruas de cimento sem qualquer arborização pública nos passeios ou praças. Tal aparente contradição resgata informações importantes sobre a cultura local, primeiramente trazendo à superfície o fato de que o vilarejo de 300 anos de idade ainda carrega firme uma relação ancestral das famílias não só com as árvores frutíferas mas com o próprio quintal das casas como espaço de expressão da natureza dentro de um cenário urbano ou semi-urbano. Por outro lado, traz à tona também um sinal de alerta no que diz respeito ao modelo de urbanização e à estética vigente, com ruas e praças sem arborização, dominadas pelo cimento, com muito calor à tarde e sem sombra para os pedestres, e dezenas de terrenos baldios e lotes cheios de entulho e lixo acumulado. Nesse sentido, adotou-se nesse trabalho a concepção expressa no Decreto 4281/2002, a de que a Ação da Educação Ambiental não pode ser levada a cabo sem aproveitar a legitimidade da Escola dentro da comunidade como ferramenta estratégica para a mudança, ou seja, não se pode desperdiçar a existência da Escola, já inserida dentro da comunidade como o lócus privilegiado de construção do conhecimento, e lócus tradicional de aprendizagem, jamais agindo sem a participação da Escola. De acordo com Brasil (2009) a ação centrada em "atingir" os membros de uma certa Comunidade ao redor da Escola com a cultura da sustentabilidade, passa necessariamente pela conscientização progressiva dos membros de cada segmento da

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comunidade, a começar pelos próprios alunos adolescentes, que a partir de determinado momento poderão passar a atuar como "semeadores" da cultura da sustentabilidade. No dizer desse autor, para consolidar uma relação sustentável na vida comunidade/escola, não há receita pronta, mas é necessário lidar com o chamado “tripé espaço-currículo-gestão”: [espaço] repensar o ambiente, no sentido de torná-lo integrador, educador e sustentável, o que implica sua adequação em termos arquitetônicos, isto é, redesenhar os espaços de acordo com novas finalidades. Pode-se começar por revisitar o projeto arquitetônico, pensando pequenas intervenções, para ampliar o aproveitamento da iluminação natural, garantir uma distribuição de cores harmoniosas, mais conforto térmico e acústico (BRASIL, 2009, p. 21). [currículo] É necessário repensar a matriz curricular, permeando os componentes curriculares, disciplina, eixo, áreas de conhecimento, projeto, etc., com a temática ambiental, de modo a imprimir novas dinâmicas na relação ensino-aprendizagem, fazendo com que o currículo se aproxime mais da realidade vivenciada pelos estudantes (BRASIL, 2009, p. 27). [gestão] Como implementar uma gestão socioambiental democrática, participativa, que trabalhe com a gestão de pessoas e de recursos físicos e financeiros? Um primeiro passo é lembrar que a convivialidade em uma escola sustentável é calcada no diálogo e no compartilhamento de informações, em que estudantes e demais componentes da comunidade escolar contribuem com a seleção das experiências de aprendizagem, com base nas suas histórias de vida [...] (BRASIL, 2009, p. 29).

O PROJETO DE MAPEAMENTO AMBIENTAL DE ROÇAS GRANDES Está razoavelmente claro a esta altura que um tipo de ação voltada ao objetivo de "usar" a Escola como ferramenta estratégica da Ação da Educação Ambiental para a sustentabilidade seria, por exemplo, uma atividade extra-escolar que exigisse dos estudantes a realização de um trabalho em que pudessem atuar com uma postura altiva e soberana – ao contrário das aulas escolares tradicionais de perfil conservador em que a postura predominante dos alunos é a submissa – uma vez que apesar de não serem detentores do saber teórico/acadêmico, os alunos detém legitimidade e se expressam com propriedade acerca dos problemas ambientais, por se tratar de residentes do próprio bairro, que ali passaram grande parte de suas vidas e que sofrem quotidianamente as conseqüências da degradação ambiental. Nesse sentido, concebeu-se o projeto de "mapeamento das condições ambientais" do bairro, envolvendo apenas os alunos das três séries do ensino médio, dividindo-se as turmas em grupos de 3 a 4 alunos cada grupo, e atribuindo a cada grupo uma rua, praça ou avenida a ser pesquisada, a pé, pelos membros do grupo. Os alunos fariam o percurso com um mapa do bairro, retirado do website googlemaps, anotando os problemas ambientais de cada quarteirão (lixo ou sujeira na rua,

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terrenos baldios, falta de arborização, etc.) e posteriormente elaborando com o auxílio do Professor um Relatório de Degradação Ambiental do bairro. Depois de elaborado o Relatório de Degradação Ambiental seria confeccionado um mapa com a localização exata dos indícios da degradação ambiental das cercanias da Escola, tudo isto com a ajuda do Professor. A partir do mapa e do relatório, os alunos, em grupo, deveriam elaborar um Programa básico de recuperação gradual das condições ambientais da Escola e de seu entorno, propondo, para cada um dos fatos anotados, uma ação que o corrija / minimize, além de um possível responsável pela ação, atribuindo distintos papéis para os diversos segmentos da Comunidade Escolar. PLANEJAMENTO

DA

PESQUISA

DE

CAMPO

E

TREINAMENTO

DOS

ADOLESCENTES PESQUISADORES Como etapas prévias à pesquisa de campo, foram efetuados (1) o planejamento da pesquisa e (2) o treinamento dos adolescentes pesquisadores. Na etapa do planejamento, foram discutidas com os estudantes quais eram as contribuições almejadas com a realização da pesquisa, com destaque para a percepção do benefício para a comunidade, pois pela primeira vez, seria realizada uma pesquisa de campo pelas ruas do bairro, pelos próprios moradores, sobre a degradação ambiental. Discutiu-se com os alunos adolescentes os possíveis benefícios trazidos à Escola, já que a pesquisa ambiental seria uma oportunidade de complementação prática do ensino tradicional já oferecido aos alunos do Ensino Médio. Decidiu-se finalmente que os 45 alunos voluntários que se apresentaram seriam divididos em 12 grupos, sendo cada grupo responsável por percorrer a pé uma determinada rua ou avenida do vilarejo, anotando e fotografando as condições ambientais. Na etapa do treinamento, foi o mesmo efetuado em duas aulas, sendo assim descritas: (1) 1ª Aula - Parte 01: O professor exibe no website GoogleMaps imagens aéreas com as ruas do seu vilarejo, e também fotografias mostrando as condições de degradação de ruas e praças, incluindo as condições da Escola; Parte 02: A palavra é aberta a todos na forma de um debate estimulado, sendo os alunos levados a dizer o que acham das condições ambientais do vilarejo, e sobretudo, das razões que os mesmos atribuem aos problemas mostrados; Parte 03: Os alunos respondem a um questionário contendo questões

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abertas sobre processos devastatórios e poluentes presentes no vilarejo, incluindo os processos relacionados ao consumo familiar e também os processos das empresas existentes no bairro que gerem devastação dos rios e áreas verdes, além de poluírem e sujarem o meio ambiente urbano. (2) 2ª Aula - Parte 01: O professor mostra um vídeo de um processo bem sucedido de recuperação de áreas degradadas em ambientes urbanos, qual seja, o caso das nascentes no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, feito nos anos 1990; Parte 02: Abrese a palavra aos alunos, sendo estimulados a dizerem o que acham do processo de recuperação mostrado no vídeo, e sobretudo, a opinarem sobre a possibilidade de recuperação das condições ambientais do próprio vilarejo em que vivem; Parte 03: Os alunos respondem a um questionário onde são estimulados a propor ações concretas visando a recuperação do vilarejo, compondo um plano de recuperação para ser realizado em no máximo 06 meses. A PESQUISA DE CAMPO NAS RUAS DA COMUNIDADE E O TRATAMENTO DOS DADOS COLETADOS Na etapa empírica, ocorrida entre os dias 08 e 22/11/2012, os adolescente percorreram a pé os 12 quarteirões escolhidos, marcando no mapa base impresso os fatos que os mesmos julgaram depreciativos do ambiente e que em sua opinião eram negativos, especialmente a existência ou não de esgoto tratado nas ruas analisadas, a presença de árvores nos passeios, a existência de calçamento nos passeios e ruas, de lixo ou sujeira sem coleta nas ruas, de terrenos baldios, etc. Os grupos formados por 3 ou 4 adolescentes elaboraram um breve relatório de até duas páginas cada grupo, citando as incidências de degradação ambiental mais importantes verificadas na pesquisa de campo, e marcando no mapa base impresso os devidos locais das degradações, e depois fotografando-os. Os relatórios foram revisados pelo professor da disciplina, e em seguida, compilados num único volume. Os dados foram tratados estatisticamente através do software Microsoft Office Excel 2010 e transformados em símbolos conforme a relevância das variáveis estudadas, sendo então agrupados cartograficamente no formato de um Mapa Ambiental através do software Microsoft Paintbrush 2010. O MAPA AMBIENTAL DE ROÇAS GRANDES

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O Mapa Ambiental produzido pelo professor com os dados coletados pelos alunos adolescentes, que pode ser visto na Figura 1, é o principal produto da pesquisa efetuada, sendo um indicativo claro e de fácil compreensão, por isso mesmo bem adequado a iniciativas de Educação Ambiental e Conscientização Ambiental.

Figura 01 - Mapa da Degradação Ambiental no entorno da Escola Maria Elizabeth Vianna

A Figura 01 mostra uma prevalência de altos índices de degradação nos locais pesquisados pelos alunos adolescentes. Observa-se que (1) 100% das ruas pesquisadas não possuem arborização nos passeios; (2) não há tratamento de esgoto disponível no vilarejo, sendo que em 100% das ruas pesquisadas não há fossa séptica, assim todo o esgoto doméstico e comercial vai para o Rio das Velhas; (3) não há passeio para pedestres em 42% das ruas pesquisadas, e (4) em 33% há entulho e lixo acumulados.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Considera-se que o projeto de elaboração do Mapa Ambiental de Roças Grandes por Estudantes do Ensino Médio obteve sucesso em seus objetivos propostos inicialmente. No que diz respeito ao objetivo de elaboração de um Mapa da Degradação Ambiental no Vilarejo de Roças Grandes, considera-se que este objetivo foi concluído no mês de abril de 2013, tendo como produto principal o mapa exposto na Figura 01. Quanto ao objetivo de promover a conscientização dos alunos adolescentes acerca das características ambientais desejáveis num cenário urbano como o estudado, e acerca da leitura apropriada da degradação ambiental encontrada na realidade, percebe-se um sucesso efetivo. Também se verifica sucesso sobre o objetivo de instrumentalizar-se os alunos adolescentes para a realização da coleta de informações acerca dos problemas ambientais. Finalmente, a respeito das condições ambientais no entorno da Escola, confirmou-se após a etapa empírica da elaboração do Mapa da Degradação Ambiental que as condições são de alto nível de degradação nos três itens destacados, a saber, (1) condições relativas à arborização, (2) tratamento de esgoto e (3) condições de acessibilidade / mobilidade urbana. Espera-se que o presente estudo tenha adicionado conhecimento a respeito do potencial de instrumentalização de estudantes de ensino médio para realização de pesquisas sobre a degradação ambiental no entorno das escolas brasileiras. E espera-se também que o mapa de degradação ambiental produzido sobre o vilarejo estudado contribua para a elaboração de estudos posteriores sobre as condições ambientais em nível regional e estadual. Reconhece-se a necessidade de pesquisas futuras sobre o tema, com diferentes cortes temporais e geográficos, que permitam conclusões mais abrangentes e formulações generalistas. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto Nº 4.281 de 25/06/2002 – Regulamenta a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências.

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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4281.htm. Acesso em 13/09/2013 às 22h50m. BRASIL. Educação Ambiental. 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=12332&I temid. Acesso em 08/08/2013 às 21h01m. BRASIL. Lei 9.795/1999 de 27/04/1999 - Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm. Acesso em 13/09/2013 às 23h09m. COMUNIDADE ECONÔMICA EUROPÉIA. Estratégia da CEE/ONU para a Educação para o Desenvolvimento Sustentável adoptada na reunião de alto nível de Vilnius, a 17 – 18 de Março de 2005. Disponível em: http://www.dgidc.minedu.pt/educacaocidadania/data/educacaocidadania/educacao_ambiental_para_a_sustentabilida de/Documentos/estrategia_ceeeonuparads.pdf. Acesso em 08/08/2013 às 23h33m. RAMOS, Luciana Ferreira Tavares. Os diferentes sentidos atribuídos à escola e ao saber por jovens em situação de risco social de uma Escola Técnica de Ensino Médio em Roça Grande, Sabará. Dissertação de Mestrado. Belo Horizonte: UNA. Universidade de Negócios e Administração. 2010. 159 p. REDE COLABORATIVA DE SABARÁ. Diagnóstico Sócio-Econômico para pequenas áreas. Contextualização Geral a partir de dados secundários. Município/Sabará – Regional - Roça Grande. 2004. 24 p. REDE COLABORATIVA DE SABARÁ. Pesquisa Juventude em Sabará 2010: vulnerabilidades e perspectivas de desenvolvimento. 2010. 20 p. UNESCO. Declaração de Tessalônica: Tessalônica, Grécia, 1997. Disponível em: http://xa.yimg.com/kq/groups/24824012/60620622/name/DECLara%C3%A7%C3%A3o+TH ESSALONIKI.doc. Acesso em 05/08/2012 às 14h26m.

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