MARANHÃO Fº, Eduardo Meinberg de Albuquerque. \"In ‘Cyber Jesus’ we trust\": uma análise do site da Bola de Neve Church como estratégia de marketing religioso. Revista Sertões, Mossoró-RN, v.3, n. 1, p. 3-12, 2013.

June 7, 2017 | Autor: Du Meinberg Maranhão | Categoria: Neo-Pentecostalism, Religion and Marketing, Bola de Neve Church
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In ‘Cyber Jesus’ we trust: uma análise do site da Bola de Neve Church como estratégia de marketing religioso1 Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho2 Resumo A principal estratégia do planejamento de marketing religioso neopentecostal da Bola de Neve Church é o uso de sua plataforma virtual. Seu portal na internet oferece informações sobre a igreja de modo dinâmico e interativo, viabilizando ao fiel-internauta a visita a formas distintas de midiatização da agência religiosa: mídia impressa, radiodifusão, teledifusão, ministérios, slogans, patrimônio físico, estética corporal, mercadorias disponibilizadas na Lojinha da Bola e no Shopping da Bola, canção gospel. Neste trabalho pretendo sinalizar para uma proposta, ainda que inicial, de análise de sites vinculados a firmas religiosas, tomando como exemplo, o da Bola de Neve Church. Palavras-chave: Bola de Neve Church; análise de site; marketing religioso neopentecostal 1 - Introdução A Bola de Neve Church foi fundada em 1999, em São Paulo, por Rinaldo Luiz de Seixas Pereira, mais conhecido por seus fiéis como apóstolo Rina.3 Formado em propaganda e marketing, pós-graduado em administração e surfista, Rinaldo gerenciou a experiência religiosa da BDN a partir de suas vivências como ex-líder da Renascer em Cristo, importando uma linguagem coloquializada, adaptada a um público majoritariamente formado por jovens conectados à internet, em boa parte surfistas e atletas, de classe média e média-alta de capitais e de cidades litorâneas; além de uma liturgia fundada em gêneros poético-musicais como o reggae, o rock n’roll, o hip hop.4 2 - O uso de slogans como In Jesus we trust como estratégia de marketing da BDN 1

Versão inicial deste artigo foi apresentada em comunicação no dia 29 de setembro de 2011, com o título “In Cyber Jesus we trust: a internet como midiatizadora da Bola de Neve” no GT Mídia Cibernética e as Religiões: novas fronteiras e combinações, coordenado por Emerson José Sena da Silveira e Valter Luis de Avellar, noV Congresso Internacional em Ciências da Religião, na PUC de Goiás. Este trabalho aproveita algumas das ideias de minha dissertação de mestrado em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), intitulada A grande onda vai te pegar: mídia, mercado e espetáculo da fé na Bola de Neve Church, defendida em 2010, com orientação e co-orientação, respectivamente, de Márcia Ramos de Oliveira (UDESC) e Artur Cesar Isaia (UFSC). 2 Doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo 3 Church significa igreja em inglês, daí Igreja Bola de Neve. Refiro-me à igreja através de suas iniciais, BDN. 4 Ainda que jovens surfistas e skatistas de classe média e média-alta continuem fazendo parte de um de seus públicos-alvo principais, com a grande projeção midiática da firma religiosa, especialmente nos seus primeiros anos, o público se tornou mais abrangente e heterogêneo. Ainda assim, as filiais da instituição preservam na decoração de seus templos as surfboards que substituem os púlpitos, além de outros símbolos que retratam a prática de surfe, skate, esportes radicais e de paisagens litorâneas como importantes referentes discursivos e marketizadores da agência religiosa.

Revista Sertões, ISSN: 2179-9040, Mossoró-RN, v.3, n. 1, p. 3-12, jan./jun. 2013.

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Uma das estratégias do marketing religioso neopentecostal da BDN está no uso de seu logotipo, que se assemelha a uma bola de neve, acompanhado do slogan In Jesus We Trust, que atuam como carimbo institucional desta agência religiosa.

Logotipo oficial da BDN, acompanhado do slogan In Jesus we trust. Fonte: Ministérios. Bola de Neve Church. Disponível em . Acesso em: 10 ago. 2009.

Como comenta Leonildo Silveira Campos, o slogan, ou conjunto de palavras de ordem, serve para provocar mais ação do que reflexão, oferecendo um “andaime composto de estruturas ideológicas que, preenchidas pela imaginação dos destinatários, levam as pessoas à prática de ações programadas pelos detentores do poder simbólico, aceito como legítimo.” 5 No caso da BDN, o slogan In Jesus We Trust funciona como signo verbal que representa a assinatura institucional da BDN, se linkando a um signo visual, o logotipo de desenho arredondado com forma de bola de neve, sugerindo a agência religiosa como o local de acolhimento dos que creem em Jesus. A utilização do nome deste no slogan, age atendendo expectativas de fiéis e angariando sua simpatia e adesão, lembrando o que chamei anteriormente de marketing de Jesus (2012), que identificaria as firmas religiosas auto-classificadas como cristãs e que se utilizam, apropriam e/ou resignificam a imagem, figura ou palavras atribuídas a Jesus como forma de marketização religiosa.

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CAMPOS, 1997, p. 317.

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Sítio da Bola de Neve Church. Fonte: Bola de Neve Church. Disponível em: . Acesso em: 29 abr. 2009. O site sofreu algumas alterações de 2009 a 2011, mas preferi manter a análise sobre este layout em particular.

Além de In Jesus we trust, outros slogans são apresentados no sítio. O ministério Atacar, responsável por parte das estratégias de proselitismo da instituição indica que a igreja avança, o inferno retrocede; aliste-se aqui! e milhares de vidas sob o comando do Inferno aguardam ansiosas a manifestação dos filhos de Deus, apontando para o marketing de guerrilha santa desta agência religiosa.6 Outros exemplos estão na Bola Radio, que contempla que você é o que você ouve, e na Bola TV, que revela que a grande onda está chegando e vai te pegar. O objetivo destes slogans é o de criar maior eficácia performativa aos produtos e mercadorias desta firma religiosa, atendendo algumas demandas, procurando criar outras. O anglicanismo expresso em slogans como In Jesus we trust é observado em outras partes do layout inicial do site, como na placa sinalizadora, semelhante às de trânsito, onde os dizeres são X Generation Worship e Planting churches troughout the world.7 Na parte de baixo da placa há o slogan No parking anytime, ou não estacione em tempo algum, como se quisesse expressar “continue melhorando” ou algo do gênero (esta placa aparece quando o internauta usa o mouse para passear pelo site). O uso do inglês é identificado quando a BDN se apresenta como church, e não igreja, servindo como dispositivo que performatiza o seu discurso, dotando-o de maior eficácia simbólica, à medida que é associado pelo fiel-consumidor (ainda que intuitivamente) à linguagem de games, marcas de roupas, programas de tevê e rádio, conjuntos de música internacional e outros. Em entrevista, Rodolfo Abrantes, ex-cantor dos Raimundos e atualmente missionário, cantor e um dos líderes da BDN de Balneário Camboriú (SC), voz autorizada a falar sobre a instituição, foi perguntado sobre o uso de expressões em inglês. Para ele, o slogan principal da BDN serve para posicionar a agência no mercado religioso internacional: “In Jesus we trust, em 6

Em Marketing de Guerra Santa: da oferta e atendimento de demandas religiosas à conquista de fiéisconsumidores (2012), destaco alguns tipos de marketing religioso. Neste sinalizo para o marketing de guerrilha santa praticado pela BDN e outras firmas neopentecostais, que aprofundarei em ocasião futura. 7 Ou Adoração da Geração X e plantando Igrejas por todo o mundo, em tradução livre minha. Tais slogans são acompanhados da figura estilizada de um surfista com uma prancha branca.

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qualquer país, as pessoas vão ter pelo menos a oportunidade de entender o que quer dizer. Já tem igreja nascendo na Austrália, na Califórnia, no Peru, no Japão tem um pessoal que tá se reunindo”. Para Rodolfo, “isso é uma Bola de Neve e ela vai rolar enquanto tiver espaço pra andar por aí.”8 In Jesus we trust é provavelmente apropriado do slogan In God We Trust, expresso em cédulas estadunidenses, por exemplo. O uso de slogans retirados da Bíblia, que passam a ser associados à marca da igreja-empresa é visto em Deus é Fiel, slogan linkado à Renascer ou Jesus Cristo é o Senhor e Pare de sofrer, da IURD, dentre outros. 3 - “In ‘Cyber Jesus’ we trust”: o uso do sítio na internet como a maior estratégia de marketing da BDN O portal da BDN no ciberespaço (www.boladeneve.com), além de apresentar informações gerais sobre a instituição, atua como plataforma de lançamento de formas midiatizadoras como o periódico impresso Crista, radio on line (Bola Radio, dividida em Bola Radio Extreme e Bola Radio Worship), teledifusão (Bola TV, on line e em canais abertos), ministérios, slogans, arquitetura e decoração dos templos, discursos on line de Rinaldo Seixas, eventos esportivos, shows e gravações de conjuntos de reggae, pop, rock n’roll e hip hop (através das gravadoras Bola Music e Altern Music), e mercadorias disponibilizadas na Lojinha da Bola (localizada na matriz e nas filiais) e no Shopping da Bola (que proporciona compras pela internet), como a Bíblia adaptada à linguagem da galera do surfe. Em outra ocasião (2010), procurei classificar, para efeito didático, as agências religiosas como a BDN de neopentecostais de supergeração, expressão que definiria as firmas do neopentecostalismo que tem na internet seu principal canal de veiculação de produtos (ritos, discursos, práticas) e mercadorias produzidas e/ou comercializadas, como CDs, DVDs, roupas, Bíblias, chaveiros, adesivos, dentre outros. Como entendo, há nesta corrente do neopentecostalismo características que a diferenciam do professado por firmas como IURD, IMPD, Internacional da Graça, e agências mais adaptadas ao público jovem e com maior flexibilização de usos e costumes, como Sara Nossa Terra e Renascer. Esta última funcionaria como “genoma” de ministérios mais recentes, como Crash Church, Sexxx Church, Projeto 242, Caverna de Adulão, Missão Sarcófago e a própria BDN, tanto por ser uma precursora no uso de gêneros poético-musicais como o heavy metal (na época, chamado por alguns fiéis de heaven’s metal), como pelo uso da internet como estratégia marketizadora. O que distingue a BDN da Renascer, por exemplo, é que para a primeira, a internet é o principal referente discursivo e midiatizador.9 Magali do Nascimento Cunha comenta sobre o uso da internet pelas igrejas: “grupos e empresas estão investindo na criação de páginas eletrônicas (...) e nesse contexto, também tem

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Entrevista com Rodolfo Abrantes. Disponível em: . Acesso em: 21 jan. 2010. A entrevista foi realizada em 05 nov. 2008. 9 Comento um pouco mais sobre o assunto em trabalhos de 2009, 2010 e 2012, constantes das referências. Vários trabalhos comentam sobre o uso do ciberespaço como midiatizador religioso, como os de Joana Terezinha Puntel, Alberto Moreira da Silva Júnior e Émerson José Sena da Silveira (2011), Airton Jungblut e Gedeon Alencar (2010).

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havido investimento e crescimento do segmento evangélico”10, identificando o uso do ciberespaço, conceituado por José Renato Salatiel como “o ambiente digital e interativo das redes de computadores”11, gerado pela hipermídia, que seria a tecnologia digital que reúne, em uma mesma ferramenta, “signos imagéticos, sonoros e textuais, armazenados em uma estrutura dinâmica e reticular e permitindo a interface interativa do usuário”12, cujo principal ambiente seria a internet, graças a sua popularização e o uso de hipertextos (textos em formato digital, associados não apenas a palavras mas a imagens e sons, e cujo acesso ocorre por referências como os hiperlinks, ou links, de onde surgiu o termo linkar: ligar textos ou associar ideias e informações.13 O ciberespaço se identifica em tecnologias como celulares e pagers. Para Pierre Lévy, o hipertexto, desterritorializado, é um habitante ubíquo do ciberespaço, contribuindo para “produzir aqui e acolá acontecimentos de atualização textual, de navegação e de leitura. Somente estes acontecimentos são verdadeiramente situados. Embora necessite de suportes físicos pesados para subsistir e atualizar-se, o imponderável hipertexto não possui um lugar”. 14 4 - Para uma breve análise do site da BDN Para constituir uma grade de análise em relação a aspectos do sítio da BDN, me amparo em alguns referenciais metodológicos de Sophie Cassagnes.15 10

Cunha sugere que um desafio a ser respondido seria “listar todas as páginas eletrônicas localizadas pelos mecanismos de busca na internet; elas chegam aos milhares e a lista inclui desde as mais artesanais, montadas por grupos de louvor de igrejas, até as mais sofisticadas e mais acessadas como o Aleluia, o Diante do Trono e o Super Gospel”. (CUNHA, 2007, p. 166). 11 SALATIEL, 2005, p. 129. A obra referenciada é Comunicação e evolução no ciberespaço. In: SILVA, Rafael S. (org.). Discursos simbólicos da mídia. Este ambiente digital, para Salatiel, é “autogerado por milhares de conexões eletrônicas onde se mesclam, combinam-se, atuam e interagem agentes humanos e artificiais, memórias de carbono e silício”. Salatiel ainda refere que o “termo cyberspace foi cunhado pelo escritor William Gibson no livro Neuromancer, de 1984, onde é definido como uma “alucinação consensual” atingida por implantes neurais (GIBSON, 2003), que tem uma metáfora mais atual no filme The Matrix (1999) dirigido pelos irmãos Andy e Larry Wachowski. No filme, os seres humanos são subjugados por máquinas dotadas de inteligência artificial e sobrevivem imersos em uma simulação neurointerativa da realidade, chamada matrix”. 12 Idem, 2005, p. 128. Além da internet, o principal ambiente da hipermídia seria o CD-ROM, para Salatiel, que comenta que a hipermídia teve como principais idealizadores “engenheiros e técnicos como Vannevar Bush (18901974), Theodor Holm Nelson (este uma exceção: sociólogo), Douglas Carl Engelbart, Andrew Lippman, Marc Andreesen e Bill Atkison, dentre outros”. Ele se refere ainda que os pesquisadores que “desenvolveram a tecnologia hipermidiática tinham o propósito pedagógico de acessar conhecimento de forma mais eficaz por associações, similar ao modo desordenado da aprendizagem humana”. 13 Como explica Salatiel, a Internet, como rede de comunicação, foi criada nos Estados Unidos em 1969 “como projeto militar para conectar centros de pesquisa e popularizada nos anos 1990 com o programa WWW (World Wide Web) do físico inglês Tim Bernes-Lee, que facilitou o acesso por meio de hipertextos” SALATIEL, 2005, p. 128. Segundo a Wikipedia, a “internet, através da WWW, seria o meio intertextual por excelência, uma vez que toda sua lógica de funcionamento está baseada nos links”, entretanto, há pesquisadores que defendem que a “representação hipertextual da informação independe do meio. Pode acontecer no papel, por exemplo, desde que as possibilidades de leitura superem o modelo tradicional contido nas narrativas contínuas (com início, meio e fim)”. Para este sítio, as enciclopédias, anotações de Leonardo Da Vinci e a Bíblia, por suas formas não lineares de leitura, representariam formas de hipertextos. Hipertexto. Disponível em: . Acesso em: 28 dez. 2009. 14 LÉVY, 1996, p. 19. A obra referenciada é O que é virtual. 15 CASSAGNES, 1996. O texto referido é o Comentário sobre o documento iconográfico em História.

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Para começar, esboço o objetivo do sítio: atrair fiéis através de imagens e sons que fascinam e de produtos e mercadorias que seduzem, atendendo e/ou criando demandas religiosas, esportivas, estéticas, culturais, etc. A próxima etapa sugerida pela autora é a da identificação do destinatário em potencial. É bem provável que o público fruidor do site da BDN seja mais ampliado que o que frequenta o templo religioso. Se tomarmos este como base, seria formado principalmente por jovens entre 12 e 35 anos, praticantes de esportes, fãs de reggae e rock, vindos do meio urbano e do litoral brasileiro, oriundos das classes médio-alta e média, e conectados às novas linguagens e mídias, como a internet.16 Qualquer que seja o público, o site é criado para atender aos seus anseios e necessidades, e nesta direção, Sandra Pesavento comenta que é da natureza da imagem pressupor o espectador, fazendo com que “no momento de criação, já se encontre, implícito, um destinatário.”17 A importância de um sítio atraente ao público é associada à possibilidade de escolhas que se faz ao navegar na web e a uma gama de produtos e mercadorias oferecidos por outras agências situadas no mercado religioso. O sítio da BDN deve assumir assim um papel diferencial no cardápio de opções do fiel-internauta, atendendo às demandas de seu público potencial. Sobre o caráter volátil e dinâmico do ciberespaço, onde o sítio da BDN reside e transitam os fieis-internautas, Pierre Levy contemplou que “o virtual tende a atualizar-se, sem ter passado, no entanto à concretização efetiva ou formal”18, e Salatiel, que a “hipermídia, que não prescinde de uma lei na forma de estruturas e arquiteturas lógicas de programas, longe de desestabilizar o sistema (o ciberespaço), engendra sua organização.”19 Beatriz Sarlo apontou que a velocidade é o que melhor define o nosso cenário cultural: O instantâneo, o imediato, o encurtamento da espera: há apenas quinze anos qualquer um que estivesse diante de um computador ficaria assombrado com a rapidez da resposta da máquina ao comando do usuário. Hoje, nenhum computador parece suficientemente veloz; há quatro anos, um leitor de CD-Rom tinha uma velocidade 20 dupla; nos modelos mais recentes, a velocidade é de trinta vezes.

A velocidade das informações auxilia a compreender as mudanças feitas no sítio da instituição, o que indica à importância de, salvar todas as informações observadas, referindo-se 16

As informações em relação ao perfil do frequentador se dão a partir da minha observação participante. Infiro, entretanto, que em relação ao perfil do internauta que acessa o sítio, não há nenhum dado que corrobore esta inferência, sendo uma suposição. se tratar de uma suposição que este perfil se coadune com o perfil do internauta, não havendo dados que comprovem este dado. 17 PESAVENTO, 2008, 100. O texto referido é O mundo da imagem: território da imagem cultural. 18 LÉVY, 1996, p. 17. 19 SALATIEL, 2005, p. 131. 20 SARLO, 2005, p. 94. A obra referenciada é Tempo presente: notas sobre a mudança de uma cultura. Nesta mesma obra, Sarlo faz uma crítica pontual: “Há algo que parece contraditório: trabalha-se para que as coisas e as imagens envelheçam e, ao mesmo tempo, para conservá-las como signos de identidade em um mundo unificado pela Internet e pelos satélites, no qual, por sinistro paradoxo, os nacionalismos tornam-se cada vez mais particularistas, as culturas definem cada vez com mais força aquilo que as diferencia, remetendo a passados tão construídos como as imagens do nosso presente. Ao mesmo tempo, e também muito perto de nós, vivem milhões de pessoas pobres para as quais os computadores e o correio eletrônico são tão irreais como os cenários de um telefilme (p. 65).”

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às respectivas datas de acesso e se possível, às datas de elaboração do site, dada a possibilidade de que as informações não estejam mais disponibilizadas de uma hora para a outra. 21 Cassagnes sugere a análise contextual do documento. Sobre o contexto histórico geral do sítio, é de inserção a uma sociedade midiática, espetacular e marketizadora, linkada ao contexto mais específico da concorrência religiosa no mercado religioso brasileiro, com suas estratégias de marketing particulares.22 Para a autora, é importante analisar o momento de confecção do documento.23 O site da BDN (analisado em 2009) é contemporâneo, pois há no canto inferior esquerdo a data da última versão até então, que era 2007. A contemporaneidade também pode ser sugerida pela vestimenta da modelo, pelas mercadorias oferecidas, pelas datas de shows, eventos informados pela seção News e pela data de pregação on line de Rinaldo Seixas. Cassagnes também aponta para a descrição da imagem nos níveis técnico (ou estilístico) e temático.24 Partindo para a descrição técnica/estilística proposta por ela, vemos na imagem do layout inicial o uso de cores quentes (vermelho, amarelo e suas combinações), sugerindo dinamismo; e frias (especialmente tons de azul), sinalizando a associação entre um reino celeste e um praiano, representado também pelas imagens. O logotipo da BDN não transita pela tela, ao contrário de todos os outros elementos dispostos no layout, ficando sempre fixo no canto superior direito. Abaixo, há links25 para assuntos relacionados à igreja: Home (página de abertura), Quem Somos, Onde Estamos, Células, News, Pregações, Clipping, Mensagens, Ministérios, Crista, Cifras, Bolinha de Neve, Loja Virtual, Games, Fotos, Fórum, Colabore, Bíblia On-Line e Fale Conosco. Mais abaixo, há um link para a Área Restrita, exclusiva dos líderes da igreja.26 Seguindo o olhar da esquerda para a direita, se percebe o slogan In Jesus We Trust inscrito em azul celeste, amparado pela alegoria de uma onda, remetendo a uma praia, e abaixo da onda, os ícones Envie SMS Falapastor, Bola TV e Bola Radio, 27 e ao centro, a surfista, referida 21

Há seções específicas onde as informações circulam de forma muito ágil, substituindo as anteriores. No caso do site da BDN, isto ocorre com a seção Pregação On Line, e especialmente com a News, que comenta sobre novidades da agência religiosa e do mundo gospel em geral. 22 Este âmbito de concorrência e de inserção midiática ultrapassa as fronteiras dos pentecostalismos, chegando às mais diversas formas de religiosidade, como por exemplo, da wicca, ressignificação da bruxaria natural ou histórica e que se direciona ao público jovem através de publicações diversas. 23 Para Cassagnes, o momento se divide em datação do documento (com sua Autenticidade, Indicações escritas úteis, Indicações icônicas, vestimenta), inscrição da obra em seu tempo e o contexto histórico geral e específico. Quanto à inscrição da obra em seu tempo, a autora recomenda observar a possível contemporaneidade do documento iconográfico em relação ao objeto ou cena representada. Este layout, como documento iconográfico, é também contemporâneo às informações ali depositadas, bem como seu produtor (a BDN Church). 24 Para a autora, deve-se empreender uma análise identificando os elementos explícitos da obra no sentido do geral para o particular, apreendendo o efeito obtido e depois verticalizando o entendimento a respeito deste. 25 Salatiel explica que “links são dispositivos de bifurcações que provocam mudanças qualitativas no sistema, 25 estabelecendo também padrões de organização.” SALATIEL, 2005, p. 131. Os links são dispositivos operacionais que transportam o usuário, através de um clique, a outra página ou informação. 26 Na Área Restrita, os que possuem liberação de acesso (de maneira geral os líderes instituídos) podem acessar as pregações do domingo anterior, a serem reproduzidas nas células, bem como diretrizes administrativas diversas. 27 Este ícone habilita o recebimento de mensagens da igreja através do telefone celular. Abaixo do ícone para se adentrar nas informações do programa Bola TV, separado por uma faixa esverdeada, há outro ícone, para se habilitar ou desabilitar o som ambiente do sítio, que na abertura é representado pela canção de abertura do programa Bola TV. A Bola Rádio, a Bola TV e o Fala Pastor recebem mais comentados adiante.

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no capítulo anterior, com o slogan Changing lives... for the better.28 Em seguida outros ícones transportam o leitor para a ação de outros ministérios associados à igreja. Estes ícones recebem um fundo com cores quentes, especialmente o alaranjado, o marrom, o rosa. Os ícones são Mergulhando na Palavra On-Line, Ministério Atacar - aliste-se!!! Bola Music – X Generation Worship, Recrie – Rede Cristã de Empreendedores, e a Loja Virtual.29 Logo abaixo, separado por uma faixa horizontal alaranjada e escrito em azul, está o link para o Culto com Traduções em Libras, realizado aos domingos às 16h na sede da igreja em Perdizes, bairro de classe média alta de São Paulo. Na extrema direita do layout de abertura, há uma espécie de suporte com quatro placas, sendo a superior com os dizeres Haléiwa - North Shore, a segunda com as novidades (ou News), a terceira com o link para o cadastro no sítio, associada com as Newsletter, e a última das placas, com o acesso aos horários de cultos, bem como a possibilidade de se assistir a alguns deles on-line. Embaixo deste suporte de placas, em letras mais apagadas, está a inscrição Copyright 2007 – todos os direitos reservados, identificando a data de confecção desta versão do sítio. Como se vê na imagem, a figura da surfista está ao centro, sendo provavelmente o elemento que mais capta a atenção do fiel-internauta, especialmente por se mover do centro para a direita ao acessar o sítio,30 identificando a BDN com o estereótipo de igreja de surfistas (como notei, o público da BDN é mais abrangente hoje em dia), e apontando para o surfe como tema do layout. Sobre o efeito da proteção “celeste”, a modelo e a prancha recebem iluminação que parece remeter à luz divina, se ligando ao slogan In Jesus We Trust (em Jesus nós acreditamos). É provável que o objetivo seja o de mostrar que a moça gosta de surfe e gosta de Jesus, buscando a simpatia do internauta e sua adesão à igreja. Considero assim que os elementos do sítio trabalham no sentido de criar uma representação favorável da agência religiosa, havendo associação entre texto não verbal (as imagens) e texto verbal (slogans e informações), com efeito eficaz e harmônico, reforçando a imagem da moça através dos ambientes e elementos, como a placa, o céu, a prancha. 5 - Referências bibliográficas ALENCAR, Gedeon Freire de. Pentecostalismo Hitech: uma janela aberta, algumas portas fechadas. História Agora, São Paulo, v. 1 (Religiões e Religiosidades), 2010. CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, templo e mercado: organização e marketing de um estabelecimento neopentecostal. Rio de Janeiro: Vozes, 1997. CASSAGNES, Sophie. “Comentário sobre o documento iconográfico em História”. Paris: Ellipse, 1996.

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Ou “mudando vidas... para melhor”. Os dois produtos ali veiculados são o CD de Dominic Ball e a série de DVDs da Conferência Profética, de 2008. A amostragem dos produtos é sempre atualizada, ou seja, outros produtos são veiculados em outros momentos. 30 O internauta tem como “controlar” a imagem da surfista através de seu cursor, transportando ela de um lado para o outro enquanto acessa os links disponíveis. 29

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em:

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