MARCHIORO, Marcio. História indígena e o casamento: revisitando a historiografia atual com objetivo de analisar as práticas matrimoniais no aldeamento de Itapecerica (1733-1820).

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Jonathan Fachini da Silva Juliana Camilo Juliana Maria Manfio Letícia Rosa Marques Liane Susan Muller Lidiane Friderichs Marcelo Silva Márcia Cristina Furtado Ecoten Marcos Jovino Asturian Mariana Couto Gonçalves Matheus Batalha Bom Max Roberto Pereira Ribeiro Michele de Leão Natália Machado Mergen Priscila Almalleh Raul Viana Novasco Rodrigo Luis dos Santos Rodrigo Pinnow Tatiane Lima Tuane Ludwig Dihl

Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Instituto Humanitas Unisinos (IHU) Banco do Estado do Rio Grande do Sul S.A. (BANRISUL) Museu da História da Medicina do Rio Grande do Sul (MUHM)

Apoio

Corpo Discente do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos

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Forma Diagramação

Diagramação

Alba Cristina dos Santos Salatino Amilcar Jimenes André do Nascimento Corrêa Bruna Gomes Rangel Camila Eberhardt Camila Silva Carlos Eduardo Martins Torcato Caroline Poletto Cláudio Marins de Melo CyannaMissaglia de Fochessatto Daniela Garces de Oliveira Deise Cristina Schell Dênis Wagner Machado Diego Garcia Braga Douglas Souza Angeli Eduardo Gomes da Silva Filho Elisa Fauth da Motta Estela Carvalho Benevenuto Fabiane Maria Rizzardo Gabriele Rodrigues de Moura Helenize Soares Serres

Camila Silva Cyanna Missaglia de Fochesatto Estela Carvalho Benevenuto Jonathan Fachini da Silva Lidiane Elizabete Friderichs Priscilla Almaleh

Comissão Editorial

170

Capítulo 04 - Dimensões e conexões da Nova História Indígena

Marcio Marchioro*

*

Mestrando em História pela PGHIS/UFPR e Bolsista CAPES. 171

sentido, pretende levantar questões que poderão ser respondi-

possíveis práticas de hierarquização social no interior dos aldeamentos; e) Compreender, por meio de ofícios e cartas, o papel

colonial já que os aldeados normalmente se ausentavam de suas

meio de registro de casamentos; b) Compreender a estrutura familiar e domiciliária dos índios aldeados em Itapecerica por meio de lista nominativas; c) Analisar as ocupações dos chefes de domicílio tendo como referência o contato com a sociedade

culo. Tendo em vista esse objetivo geral, seguem objetivos mais

mos compreender as formas de distinções sociais elaboradas pelos índios para permanecerem coesos durante quase um sé-

no período correspondente aos anos 1732 até 1830, buscare-

Com o objetivo de estudar as estratégias matrimoniais no aldeamento de Itapecerica localizado na capitania de São Paulo

Introdução

Itapecerica (1733-1820)

historiografia atual com objetivo de analisar as práticas matrimoniais no aldeamento de

História indígena e o casamento: revisitando a

afetava de alguma forma os casamentos ou as políticas a seu respeito? Em 1738 há um caso bem particular em que a “forra do gentio da terra” de nome Eria faz um pedido de retorno à casa de Martinho da Fonseca, pois a colocaram na aldeia de Escada. O motivo da ida de Eria não é bem esclarecido, mas o fato é que ela parece não se sentir adaptada ao contexto em que é inserida. Eria alega sofrer “repetidas necessidades tanto

pios do XVIII. Na visão de Monteiro, ao contrário do que ocor-

ria na escravidão indígena, os aldeamentos, além de manterem

uma reserva de mão de obra para os colonos em seu interior,

criavam “uma estrutura de base para a reprodução da força de

trabalho”. Com o tempo o alvoroço contra a escravização de

nativos se tornou cada vez maior e, pressionada pelos colonos

deles. Vicente José, seu irmão Joaquim, sua mãe Romana e a nora alegam serem “descendentes do gentio da terra e dos antigos povoadores das aldeias de Sua Majestade”. Isto é, alegam serem descendente de aldeados que foram, nos percalços das disputas travadas entre padres, colonos e Coroa Portuguesa, levados a condição de administrados. O administrador, segundo o que consta no documento, os tratava com escravos:

seus laços de estatuto de propriedade de um senhor afrouxado.

Quando fugissem dos lares de seus administradores, os indíge-

nas não poderiam sofrer qualquer castigo, pois não tinham obri-

gação de servir os colonos se não quisessem. Na morte de seu

administrador, a escolha de a quem servir também seria des-

tinada ao índio que poderia sim escolher um dos herdeiros do

falecido, porém de livre e espontânea vontade. Assim como os

172

o fato de trabalharem para os senhores de livre vontade fazia do

pago por dia de trabalho feito. Na opinião de Vieira (s/d: 355),

173

até o presente o tem experimentado rigoroso em uma quase escravidão, a quem os possuidores chamam administração, que só tem diferença no nome, e não nas qualidades

no ano de 1733, é o de dois irmãos, a mãe e a mulher de um

comparativa à escravidão dos mesmos. Os índios agora teriam

índios aldeados, os administrados deviam perceber um salário

Outro caso típico no que se refere a esse assunto ocorre

qual provavelmente mantinha relações mais coesas.

uma nova postura para com os índios, tendo como referência

leigos da capitania. Segundo ele, a administração tratava-se de

em S. Paulo, dando algumas sugestões para os administradores

58) se posiciona acerca da administração particular dos índios

administrador que, segundo alegado na petição, teria a criado

ministração particular”.

-

aldeamento. É por isso que ela pede para voltar para seu antigo

modalidade de serviço prestado por indígenas, a chamada “ad-

de sustento como de vestuário”, não tendo como sobreviver no

de sua relação com o sistema de administração particular. Isso

tração particular e aldeamentos nos séculos XVI, XVII e princí-

Em um trabalho mais antigo, Marchioro (2005) eviden-

as ideias de Vieira eram levadas ao pé da letra pelos colonos?

entre o sistema de administração e os aldeamentos. Será que

mais livre”. Resta investigar nas fontes paulistas a vinculação

sistema de administração “o mais doce cativeiro e a liberdade

em que traça um paralelo entre escravidão indígena, adminis-

da terra, o autor contribui para o campo de estudo na medida

Negros

tre índios, colonos e padres na América portuguesa consiste na

Dentre os trabalhos mais importantes sobre o contato en-

Revisão historiográfica em diálogo com as fontes

Capítulo 04 - Dimensões e conexões da Nova História Indígena

ca, é o livro Metamorfoses indígenas de Maria Regina Celestino de Almeida. Em sua obra, Celestino de Almeida levanta temas bastante importantes nos estudos de aldeamentos indígenas. roa portuguesa tinha uma política de agraciá-las com títulos

irmãos resolvem recorrer à justiça da capitania, pois estão com

receio de não conseguirem sustentar as mulheres. O adminis-

trador usava dos dois somente para seus lucros e os fazia viajar -

tões vão ser investigadas com mais minúcia em nossa dissertação, tentaremos estabelecer relações e diferenciações entre

capitães-mores estavam situados na casa dos 50 anos de idade,

da banda do aldeamento que tocava em festas religiosas. Com

-

175

pecerica e Embu, as lideranças tinham como hábito participarem

tapuias e historiadores, Monteiro (2001, p 180-193) revisita o

174

-

caça e da coleta. Em sua tese de livre-docência intitulada Tupis,

isso, os Guaianá eram índios que se destacavam pela prática da

de idade as quais determinado cargo era ocupado. Geralmente,

e, talvez por isso, viviam sobretudo da agricultura. Enquanto

oito listas nominativas, a existência de espécie de categorias

um padre, um diretor de aldeia e contra colonos que explo-

tos) servem de intermediários dos índios em apelações contra

1). Segundo informações extraídas de cronistas por Monteiro, os Tupiniquim eram mais sedentários, habitantes do planalto

Paulo. No momento em que os portugueses se estabeleceram na região suas relações tiveram de incorporar os “Tupiniquim

mente, os capitães-mores (principais com cargo nos aldeamen-

Em São Paulo, em três casos analisados por nós anterior-

condições.

aldeamentos, conforme análise ainda inicial acima.

A dicotomia entre Tupi-Tapuia tão ressaltada por John

comportamento dos chefes perante os índios dado estas novas

consequências desta política na capitania de São Paulo e sobre o

tes sistemas eram tratados de forma diferenciada? Como esses sistemas funcionavam na prática e qual a implicação deles nos

aldeamentos. Até que ponto os índios inseridos nesses diferen-

o sistema de administração, a escravidão e a instituição dos

teiro estudando o contato entre índios e portugueses da Améri-

julgo. Porém, descoberta a artimanha do tal administrador, os

e honras, dando-lhes cargos nos aldeamentos (Almeida 2003:

Outra obra importante, que segue a mesma linha de Mon-

id).

da identidade paulista, sempre enfocada nos Tupiniquins (Ibid.,

mestiços desses índios era quase que uma ofensa à constituição

pansão paulista, admitir que os paulistas fossem descendentes

XX por atitude aguerrida diante da pressão da fronteira de ex-

na verdade Tapuias muito provavelmente ancestrais diretos dos

lista do século XIX e XX tentou ocultar que os Guaianás eram

de um despacho autorizando a permanência dos quatro sob seu

Antônio Pedroso os teria enganado e dito que estaria munido

pudessem gozar da liberdade referida na portaria. No entanto,

Foi por ter notícias de uma determinação do governador

isto tem os suplicantes no poder de Antônio Pedroso, que sempre tratou os suplicantes com rigoroso trato de escravos

Capítulo 04 - Dimensões e conexões da Nova História Indígena

janeiro e fevereiro passam a serem os meses preferidos de for-

-

ralhas dos sertões de Nádia Farage (1991, p. 19). Nessa obra, dentre outros temas, problematiza-se a formação do etnônimo

que em São Paulo ocorria um processo parecido? Um passar de

olhos inicial pela documentação de São Paulo escolhida por nós

revela a presença de índios das etnias Kayapó, Bororo, Pareci,

rios holandeses e portugueses. A função desses índios era apre-

nia, conforme sugerido inicialmente por Marchioro (2016).

quais eles se aliaram durante a batalha de fronteira entre portugueses, espanhóis e eles próprios (FARAGE 1991, p. 103-6). Era interessante para os holandeses associarem esses diversos grupos ao canibalismo e a guerra. Já os portugueses chamam os aliados dos holandeses de “Caripuna”. O termo “Caribe”, com ção que abarcava índios pertencentes e também os não pertencentes ao tronco linguístico caribe. No que diz respeito a

-

evitando que um padre fosse designado para aldeia. Isso se de-

veria a que, sem os padres, poderiam vivenciar maior liberdade

quanto aos costumes, com sugere Celestino de Almeida (Ibid.,

na nossa documentação, pois é possível ver se houve mudança

de padrão nos casamentos (em relação a diversos critérios) em

176

177

em oposto ao que acontecia aos jesuítas, não tinham plano de

gelização comandado pelos padres carmelitas o que, segundo

-

ência dos jesuítas na escolha do mês de casamento dos índios

A região do Rio Branco passou por um processo de evan-

casamento e listas nominativas do aldeamento de Itapecerica

mentos de religiosidade indígena: um estudo dos registros de

padroado. Em uma comunicação de pesquisa intitulada “Frag-

deses justamente para reforçarem a belicosidade dos índios aos

A própria designação “Caribes” é uma criação dos holan-

os territórios holandeses na Amazônia.

vez de invocar a proteção dos padres regulares. A autora trata

da (2003, p. 191) nas aldeias do Rio de Janeiro, por vezes os ín-

sar escravos em territórios dos portugueses o que fazia avançar

surgem no processo de construção da fronteira entre os territó-

identidade mais “genérica” utilizada pelos aldeados da capita-

Outro caso interessante levantado por Celestino de Almei-

holandeses instalados nas cercanias do Rio Branco. Os Caribes

investigar mais cuidadosamente a possível existência de uma

Arari, Puri e Carijó, esta última em maior número. Porém, resta

Outro livro muito relevante no que diz respeito à construção de identidades indígenas por meio do contanto é As mu-

Carijó) “foram colocadas em segundo plano” (ibid.: 259). Será

ma muito diferencial aos demais (MARCHIORO 2016b).

aldeias paulistas dando lugar a padres regulares, os meses de

Celestino de Almeida, além disso, defende que nos alde-

cialmente pelos portugueses (Tupinambá, Tamoio, Tupiniquim,

do Advento. No período seguinte, quando os jesuítas saem das

os meses de janeiro e fevereiro tinham índice muito baixos,

solicitar sua presença em comemorações (MARCHIORO 2006).

gio dos aldeados perante os brancos que por vezes chegaram a

isto, pudemos deduzir que a banda musical era fonte de prestí-

Capítulo 04 - Dimensões e conexões da Nova História Indígena

fronteira (Ibid., id.) Mas, enquanto os portugueses tentavam converter e aldear os índios, os holandeses continuavam a po-

O fato de os índios não poderem ser mais chamados de “escra-

vos” ou “negros” interfere numa mentalidade dos colonos que

do havia muitas mortes por causa das doenças. Isso fazia com ralizada de que os mortos são perigosos para os vivos. Será que

renciar a aldeia era o diretor dos índios, cargo criado pelo Dire-

rio na aldeia de Itapecerica? Em uma análise prévia das fontes

Charlotte de Castelnau-L`Estoile (2013, p. 65-82) que procura propor uma forma de encarar as fontes coloniais sobre casamento e família indígena.

meses preferidos para o casamento contrariando uma realida-

de anterior a saída dos jesuítas de muitos tabus. Os meses de

janeiro e fevereiro, com já dissemos acima, passam a serem os

um modo de viver europeu e, sobretudo cristão. Nesse sentido, os padres usam como estratégia demonizar a prática da poliga-

tuída por meio da troca de objetos. Machados, facas e espe-

lhos seriam os preferidos dos Caribes (FARAGE 1991, p. 76).

179

modelo de família seriam um momento chave na imposição de

que boa parte da aliança entre índios e holandeses foi consti-

178

tanto, os padres tentaram impor uma nova forma de casamen-

da colheita.

Quando as Missões Capuchinhas chegam à região, entre-

intitulado Interações missionárias e matrimônios de índios em zonas de fronteira (Maranhão, início do século XVII) da autora

disso, há uma mudança nos interditos do casamento referentes

preferidos para o casamento em nossa hipótese inicial por causa

nesse sentido. O mais expressivo que encontramos é o texto

junto aos índios mais diretamente, existem poucos trabalhos

essa questão já tratada anteriormente (MARCHIORO 2005).

ginário das doenças na visão indígena? Pretendemos aprofunda

como era típico em vilas rurais como Curitiba e Sorocaba. Além

preferencialmente realizados nos domingos, por interferência

Diretório toma forma de uma vila agrária da América portu-

gueses não consideravam necessário mudar de localidade quan-

“civilizar” os índios quem efetivamente assumia o cargo de ge-

por meio das fontes paulistas será possível investigar esse ima-

irrompem nos aldeamentos fundados no Rio Branco. Os portu-

de luta contra negros amotinados.

das entre os índios. Porém, tendo em vista a necessidade de

espaço para a criação ou manutenção de lideranças prestigia-

tomar a rédeas das aldeias em suas mãos, dando, com isso,

Além disso, o Diretório prescrevia que os principais deveriam

passaram a serem usados pelos holandeses como instrumentos

com novos grupos que se aliassem e passassem a defender a

tório, o qual interfere em boa parte da temporalidade da obra.

tinham, muitas vezes, os nativos como cativos em potencial.

os padres recorrerem novamente ao sertão para tentar acordo

os aldeados. Boa parte desse movimento de epidemias fazia

dos padres (FARAGE 1991, p. 33). -

esvaziadas pelas epidemias que durante décadas assolavam

As missões portuguesas das carmelitas eram constantemente

índios, nesse sentido, teria até aumentado com a colaboração

Capítulo 04 - Dimensões e conexões da Nova História Indígena

que para casar índios de aldeais diferentes tomar-se cuidado de

do noivo. Sobre o serviço do noivo Castelnau-L`Estoile (Ibid.: p.

padres fossem nas localidades da Amazônia e deixassem claro que a mulher que casar com um aldeado, ou vice-versa, deveria segui-lo se fosse de sua vontade. A grande preocupação era evitar que índios aldeados cassassem com escravas e aca-

ele exemplares”. Entretanto, os missionários passam a divulgar

entre os índios que um dos principais costumes que o levariam

para o inferno era a prática da poligamia (Ibid.: p. 75). Os pa-

dres normalmente solicitavam que os índios casassem com a

1771, pediu-se a destituição do capitão-mor da aldeia de Ipuca o índio de nome José Dias Quaresma sustentada pelo fato de ele ter se casado com uma mulher negra. Na opinião do ouvi-

escritos dos padres franceses no Maranhão um dos indícios que

podem indicar poligamia é a presença de mais de uma mulher

no domicílio nas listas nominativas.

escravas também tendo em vista que o Diretório claramente manifestava-se a favor da mestiçagem como estratégia de incorporar os índios a sociedade colonial. Considerados livres, os índios aliados poderiam adquirir escravos como qualquer membro branco da sociedade. Nesse sentido, casar com uma escrava, ou seja, instituir uma igualdade inexistente nas prescrições

132). Será que isso acontecia também em São Paulo? A preo-

cupação se voltava também para principais? Abarcava também

grupamentos recém-aldeados, ainda muito marcados pelas prá-

ticas do sertão? Ainda no Maranhão do século XVII, onde as

políticas em relação ao casamento de indígenas estavam muito

vinculadas a problemas relacionados à obtenção de força de

dio” (ibid.: id.). O cargo ocupado por José Dias Quaresma, além do mais, exigia que ele tivesse “boas posturas”, “por ser o primeiro que devia servir de exemplo aos demais” (ibid.: id.). Isto

196), chegar à idade de casar era, para meninos e meninas,

também o momento em que passavam a ser empurrados para

o trabalho.

181

baixa, integrar os índios prioritariamente ao segmento branco

uma discussão muito forte de manter registro de nomes, da

180

autoridades portuguesas, numa escala hierarquicamente mais

Diniz de Carvalho Jr. (2005, p. 165-7) nos mostra que havia

Ao discorrer sobre alguns escritos do Padre Vieira, Almir

mercês com que el-rei meu senhor tem honrado a todos os ín-

tivessem sua relação com o trabalho alterada (MAYER 2010, p.

trabalho, o casamento de mulheres índias fazia com que elas

É interessante observar este tipo de relação entre aldeados e

autoridades no tocante a principais indígenas (MAYER 2010,

desatenção a interdições na escolha de esposos preocupavam

dor da comarca Antônio Pinheiro Amado, o índio estaria “man-

loniais em relação à aliança entre um índio e uma escrava. Em

documentação ser produzida a mais de um século depois dos

No Maranhão de meados do século XVII, a poligamia e a

oriundo do Rio de Janeiro se refere à opinião dos agentes co-

de “criadas” Castelnau-L`Estoile (Ibid.: p. 80). Apesar de nossa

bassem parando no sistema de escravidão. Em análise feita em

Jr. (2005, p. 165-7) cita a preocupação de Vieira para que os

dão pelos anciões, o trabalho do genro para o sogro são para

permanecesse com as outras mulheres na categoria europeia

o incesto e a bigamia era constante. Seguindo análise, Carvalho

considera que “os cristãos devem mesmo se inspirar: a grati-

78) diz que em seus escritos o padre capuchinho Yves d`Evreux

data, do nome do pároco e das testemunhas do casamento e

mia, apesar de não se oporem totalmente a prática do serviço

Capítulo 04 - Dimensões e conexões da Nova História Indígena

a agricultura, o comércio, o convívio com os brancos, os casa-

cristãos, livres ou escravos, de suas aldeias de origem para ou-

-

182

Por último, em um artigo que fala sobre o pensamento de

de Itapecerica ou se haviam exceções.

Apesar de ser um trabalho sobre o Paraná do século XIX, um contexto muito distinto do nosso, achamos ser possível investigar se o casamento cristão era adotado por todos os índios

gang.

Frei Luís de Cimitille, do aldeamento vizinho de São Jerônimo, habitado pela metade Kamé dos Kaingang de que não era possível realizar casamentos, batismos e nem enterros cristãos na aldeia, num relato que parece evidenciar que a catequese dos índios guardavam bastante limites. O que parecia atrapalhar sobretudo a realização de casamentos

Em um artigo intitulado Mudança de hábito: catequese e educação para índios nos aldeamentos capuchinhos Marta Amoroso (1998b, p. 116) diz que o

Igreja e muito bem propaladas por Vieira serviam também para que muitos índios e índias saíssem da escravidão e fossem morar com seus conjugues nos aldeamentos jesuíticos.

lho Jr. (2005, p. 165-7) tendo em vista as regras criadas pela

queixas e reclamações. Entretanto, como segue dizendo Carva-

encontrada por nós (MARCHIORO 2005) para a documentação dos aldeamentos paulistas, mas resta investigar mais a fundo essa questão nos casamentos e nas listas nominativas, já que

leque bastante variado de ações, como a educação, o trabalho,

bilidade bastante grande na Amazônia, “o movimento de índios

de controle do “hibridismo” por parte do clero. 183

índios de forma genérica. Além disso, 5) Analisar aspectos das relações entre índios e padres no interior dos aldeamentos. A negociação surge, então, como um princípio básico das relações de contato, não esquecendo, porém, as estratégias de tentativa

Investigar mais cuidadosamente a possível existência de uma identidade mais “genérica” utilizada pelos aldeados da capitania, tendo em vista que no que diz respeito a São Paulo identi-

as consequências da política de “enobrecimento” dos chefes indígenas na capitania de São Paulo e sobre o comportamento

trazem uma série de questões já inicialmente exploradas aqui, mas que devem ser desenvolvidas com mais embasamento por meio de análise de fontes mais sistemática. Dentre as questões a serem exploradas teremos: 1) Investigar a vinculação entre o sistema de administração e os aldeamentos; 2) Estabelecer relações e diferenciações entre o sistema de administração, a

Considerações finais

causou a fragmentação ou dispersão dos aldeados?

mento misto que também foi um dos itens principais do Direito

nealogias e reconstituição de trajetórias, se o incentivo do casa-

sentido, resta investigar nas fontes por meio da feitura de ge-

mentos mistos, dentre outros” (MOREIRA 2010, p. 128). Nesse

os indígenas era por meio do método ‘brando’, que incluía um

leira do início do século XIX, “era necessário forma de civilizar

desenvolvida com mais dados em nossa futura dissertação.

Carvalho Jr (2005, p. 165-7) diz que havia uma permea-

tece comentários importantes. No pensamento da elite brasi-

da população. No entanto essa hipótese deve ser explorada e

Capítulo 04 - Dimensões e conexões da Nova História Indígena

185

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São Paulo: Secretaria da Educação, Tempo Colonial, Aldeamentos de Índios, Maço 2, v. 7.

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Fontes

do Direito causou a fragmentação ou dispersão dos aldeados?

vo do casamento misto que também foi um dos itens principais

tura de genealogias e reconstituição de trajetórias, se o incenti-

questões possíveis, resta investigar nas fontes por meio da fei-

cados pelas práticas do sertão? 7) Nesse sentido, dentre outras

cava também grupamentos recém-aldeados, ainda muito mar-

Paulo? A preocupação se voltava também para principais? Abar-

132). 6) Será que a poligamia ainda acontecia também em São

autoridades no tocante a principais indígenas (MAYER 2010,

desatenção a interdições na escolha de esposos preocupavam

No Maranhão de meados do século XVII, a poligamia e a

Capítulo 04 - Dimensões e conexões da Nova História Indígena

186

VIEIRA, A. Voto sobre as dúvidas dos moradores de S. Paulo acerca da administração dos índios. In: ____. Obras várias. Lisboa: Livraria Sá da Costa, v.

POMPA, Cristina. Religião como tradução. Bauru: Edusc, 2003.

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