MARIA JOSÉ – O HETERÓNIMO “ESQUECIDO” DE FERNANDO PESSOA

June 23, 2017 | Autor: Maria Manuela Santos | Categoria: Psychology, Literature
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O Heterónimo Feminino de Fernando Pessoa

MARIA JOSÉ – O HETERÓNIMO “ESQUECIDO” DE FERNANDO PESSOA

"Não sei quem me sonho" (Fernando Pessoa, "Chuva Oblíqua")

Mestre Manuela Rocha Santos (Psicóloga Clínica e doutoranda em Ciências Sociais – Psicologia)

Manuela Rocha Santos

Dezembro 2012

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O Heterónimo Feminino de Fernando Pessoa

INTRODUÇÃO

Fernando Pessoa sempre se sonhou outras pessoas, experimentou várias máscaras, vestiu-se de diferentes peles tentando, assim, ocultar-se aos olhos de todos. Não sei se chegou a viver uma vida própria, se é que podemos separar do “todo” – o ortónimo, das “partes” que o compõem – os heterónimos, mas o seu génio e a sua arte permitem-nos, a nós, viver com ele, um e outros. Das tantas peles que vestiu, usou uma única vez, um heterónimo feminino, Maria José, uma mulher corcunda, “presa” no seu corpo, incapaz de inspirar o amor. Alguém que vê passar o mundo da sua janela, também ela sonhando ser outra, ser como os outros, como ela imagina que são os outros. Maria José tem uma paixão platónica pelo serralheiro que todos os dias passa sob a sua janela, o Sr. António. Sem ter coragem para lhe falar, dado o seu estado e a forma de se olhar e sentir, decide escreverlhe uma carta onde confessa o seu amor. Esta carta, como se verificará pela sua transcrição a seguir, nunca chegará a ser enviada e consiste no único texto escrito sob este heterónimo: “Senhor António: O senhor nunca há- de ver esta carta, nem eu a hei- de ver segunda vez porque estou tuberculosa, mas eu quero escrever-lhe ainda que o senhor o não saiba, porque se não escrevo abafo. O senhor não sabe quem eu sou, isto é, sabe mas não sabe a valer. Tem-me visto à janela quando o senhor passa para a oficina e eu olho para si, porque o espero a chegar, e sei a hora que o senhor chega. Deve sempre ter pensado sem importância na corcunda do primeiro andar da casa amarela, mas eu não penso senão em si. Sei que o senhor tem uma amante, que é aquela rapariga loura alta e bonita; eu tenho inveja dela mas não tenho ciúmes de si porque não tenho direito a ter nada, nem mesmo ciúmes. Eu gosto de si porque gosto de si, e tenho pena de não ser outra mulher, com outro corpo e outro feitio, e poder ir à rua e falar consigo ainda que o senhor me não desse razão de nada, mas eu estimava conhecê-lo de falar. O senhor é tudo quanto me tem valido na minha doença e eu estou-lhe agradecida sem que o senhor o saiba. Eu nunca poderia ter ninguém que gostasse de mim como se gostasse das pessoas que têm o corpo de que se pode gostar, mas eu tenho o direito de Manuela Rocha Santos

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gostar sem que gostem de mim, e também tenho o direito de chorar, que não se negue a ninguém. Eu gostava de morrer depois de lhe falar a primeira vez mas nunca terei coragem nem maneiras de lhe falar. Gostava que o senhor soubesse que eu gostava muito de si, mas tenho medo que se o senhor soubesse não se importasse nada, e eu tenho pena já de saber que isso é absolutamente certo antes de saber qualquer coisa, que eu mesmo não vou procurar saber. Eu sou corcunda desde a nascença e sempre riram de mim. Dizem que todas as corcundas são más, mas eu nunca quis mal a ninguém. Além disso sou doente, e nunca tive alma, por causa da doença, para ter grandes raivas. Tenho dezanove anos e nunca sei para que é que cheguei a ter tanta idade, e doente, e sem ninguém que tivesse pena de mim a não ser por eu ser corcunda, que é o menos, porque é a alma que me dói, e não o corpo, pois a corcunda não faz dor. Eu até gostava de saber como é a sua vida com a sua amiga, porque como é uma vida que eu nunca posso ter — e agora menos que nem vida tenho — gostava de saber tudo. Desculpe escrever-lhe tanto sem o conhecer, mas o senhor não vai ler isso, e mesmo que lesse nem sabia que era consigo e não ligava importância em qualquer caso, mas gostaria que pensasse que é triste ser marreca e viver sempre só à janela, e ter mãe e irmãs que gostam da gente mas sem ninguém que goste de nós, porque tudo isso é natural e é a família, e o que faltava é que nem isso houvesse para uma boneca com os ossos às avessas como eu sou, como eu já ouvi dizer. Houve um dia que o senhor vinha para a oficina e um gato se pegou à pancada com um cão aqui defronte da janela, e todos estivemos a ver, e o senhor parou, ao pé do Manuel das Barbas, na esquina do barbeiro, e depois olhou para mim, para a janela, e viu-me a rir e riu também para mim, e essa foi a única vez que o senhor esteve a sós comigo, por assim dizer, que isso nunca poderia eu esperar. Tantas vezes, o senhor não imagina, andei à espera que houvesse outra coisa qualquer na rua quando o senhor passasse e eu pudesse outra vez ver o senhor a ver e talvez olhasse para mim e eu pudesse olhar para si e ver os seus olhos a direito para os meus. Mas eu não consigo nada do que quero, nasci já assim, e até tenho que estar em cima de um estrado para poder estar à altura da janela. Passo todo o dia a ver ilustrações e revistas de modas que emprestam à minha mãe, e estou sempre a pensar noutra coisa, tanto que quando me perguntam como era aquela saia ou quem é que estava no retrato onde está a Rainha de Inglaterra, eu às vezes me envergonho de não saber, porque Manuela Rocha Santos

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estive a ver coisas que não podem ser e que eu não posso deixar que me entrem na cabeça e me dêem alegria para eu depois, ainda por cima, ter vontade de chorar. Depois todos me desculpam, e acham que sou tonta, mas não me julgam parva, porque ninguém julga isso, e eu chego a não ter pena da desculpa, porque assim não tenho que explicar porque é que estive distraída. Ainda me lembro daquele dia que o senhor passou aqui ao Domingo com o fato azul claro. Não era azul claro, mas era uma sarja muito clara para o azul-escuro que costuma ser. O senhor ia que parecia o próprio dia que estava lindo e eu nunca tive tanta inveja de toda a gente como nesse dia. Mas não tive inveja da sua amiga, a não ser que o senhor não fosse ter com ela mas com outra qualquer, porque eu não pensei senão em si, e foi por isso que invejei toda a gente, o que não percebo mas o certo é que é verdade. Não é por ser corcunda que estou aqui sempre à janela, mas é que ainda por cima tenho uma espécie de reumatismo nas pernas e não me posso mexer, e assim estou como se fosse paralítica, o que é uma maçada para todos cá em casa e eu sinto ter que ser toda a gente a aturar-me e a ter que me aceitar que o senhor não imagina. Eu às vezes dá-me um desespero como se me pudesse atirar da janela abaixo, mas eu que figura teria a cair da janela? Até quem me visse cair ria e a janela é tão baixa que eu nem morreria, mas era ainda mais maçada para os outros, e estou a ver-me na rua como uma macaca, com as pernas à vela e a corcunda a sair pela blusa e toda a gente a querer ter pena mas a ter nojo ao mesmo tempo ou a rir se calhasse, porque a gente é como é e não como tinha vontade de ser. O senhor que anda de um lado para o outro não sabe qual é o peso de a gente não ser ninguém. Eu estou à janela todo o dia e vejo toda a gente passar de um lado para o outro e ter um modo de vida e gozar e falar a esta e àquela, e parece que sou um vaso com uma planta murcha que ficou aqui à janela por tirar de lá. O senhor não pode imaginar, porque é bonito e tem saúde o que é a gente ter nascido e não ser gente, e ver nos jornais o que as pessoas fazem, e uns são ministros e andam de um lado para o outro a visitar todas as terras, e outros estão na vida da sociedade e casam e têm baptizados e estão doentes e fazem-lhe operações os mesmos médicos, e outros partem para as suas casas aqui e ali, e outros roubam e outros queixam-se, e uns fazem grandes crimes e há artigos assinados por outros e retratos e anúncios com os nomes dos homens que vão comprar as modas ao estrangeiro, e tudo isto o senhor não imagina o que é para quem é um trapo como eu que ficou no parapeito da janela Manuela Rocha Santos

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de limpar o sinal redondo dos vasos quando a pintura é fresca por causa da água. Se o senhor soubesse isto tudo era capaz de vez em quando me dizer adeus da rua, e eu gostava de se lhe poder pedir isso, porque o senhor não imagina, eu talvez não vivesse mais, que pouco é o que tenho de viver, mas eu ia mais feliz lá para onde se vai se soubesse que o senhor me dava os bons dias por acaso. A Margarida costureira diz que lhe falou uma vez, que lhe falou torto porque o senhor se meteu com ela na rua aqui ao lado, e essa vez é que eu senti inveja a valer, eu confesso porque não lhe quero mentir, senti inveja porque meter-se alguém connosco é a gente ser mulher, e eu não mulher nem homem, porque ninguém acha que eu sou nada a não ser uma espécie de gente que está para aqui a encher o vão da janela e a aborrecer tudo que me vêm, valha me Deus. O António (é o mesmo nome que o seu, mas que diferença!) o António da oficina de automóveis disse uma vez a meu pai que toda a gente deve produzir qualquer coisa, que sem isso não há direito a viver, que quem não trabalha não come e não há direito a haver quem não trabalhe. E eu pensei que faço eu no mundo, que não faço nada senão estar à janela com toda a gente a mexer-se de um lado para o outro, sem ser paralítica, e tendo maneira de encontrar as pessoas de quem gosta, e depois poderia produzir à vontade o que fosse preciso porque tinha gosto para isso. Adeus senhor António, eu não tenho senão dias de vida e escrevo esta carta só para a guardar no peito como se fosse uma carta que o senhor me escrevesse em vez de eu a escrever a si. Eu desejo que o senhor tenha todas as felicidades que possa desejar e que nunca saiba de mim para não rir porque eu sei que não posso esperar mais. Eu amo o senhor com toda a minha alma e toda a minha vida. Aí tem e estou toda a chorar." (Pessoa, na qualidade de Maria José, citado em Lopes,1990)

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HETERÓNIMO E ORTÓNIMO

Desenho de Júlio Pomar

“Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existira, ou se sou eu que não existo. … Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida real. Esta tendência, que me vem desde que me lembro de ser um eu, tem- me acompanhado desde sempre,…”

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Se apenas nos centrarmos na produção literária, quer em termos quantitativos quer qualitativos, deste heterónimo, poderemos com relativa facilidade justificar o facto de ter sido votado ao ostracismo e, assim, desconhecido da maioria de quem gosta de ler Fernando Pessoa. Em termos psicológicos, no entanto, penso que esta questão não se deverá colocar. Atentemos, pois, na carta do heterónimo Maria José: “…Eu gosto de si porque gosto de si, e tenho pena de não ser outra mulher, com outro corpo e outro feitio… Eu nunca poderia ter ninguém que gostasse de mim como se gostasse das pessoas que têm o corpo de que se pode gostar, mas eu tenho o direito de gostar sem que gostem de mim…” Fernando Pessoa, ortónimo, em Junho de 1919, escreveu uma carta a dois psiquiatras franceses, Hector e Henri Durville, procurando respostas para os seus problemas, na busca de uma solução para seu próprio sofrimento: "Minha vida psíquica é uma espécie de curso de desmagnetismo pessoal." (Pessoa, 1976, p.59)

O poeta, tal como o seu heterónimo feminino, imaginava-se como destituído de qualquer atractivo e abúlico. Só lhe restando a vivência solitária do seu existir poético. Sentia-se ridículo, feio, desajeitado, votado à solidão, forçado à virgindade, em suma, um narigudo sobre um pescoço que ofende a humanidade. Considerava-se, por este motivo, incapacitado para o amor (Lopes, 1991): “A quem a Natureza não fez belo Com seu corpo lhe disse: Tu não ames! A fealdade é o destinado selo Com que uma alma é votada à solidão.” (Pessoa, citado por Lopes, 1991, p.45)

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Maria José continua: “…Eu nunca poderia ter ninguém que gostasse de mim como se gostasse das pessoas que têm o corpo de que se pode gostar… e sem ninguém que tivesse pena de mim a não ser por eu ser corcunda, que é o menos, porque é a alma que me dói, e não o corpo…” Por seu lado, Fernando Pessoa, enquanto ortónimo, refere: “O artista deve nascer belo e elegante, pois o que cultua a beleza não deve ser ele mesmo feio. E é seguramente (?) uma terrível dor para um artista não descobrir absolutamente em si-mesmo aquilo por que ele luta. Quem, olhando para o retrato de Shelley, de Keats, de Byron, de Milton e de Poe, pode estranhar que foram poetas? Todos foram belos, foram amados e admirados, todos tiveram em amor calor de vida e alegria celestial, até onde qualquer poeta, ou, na verdade, qualquer homem pode ter” (Pessoa, citado por Lopes, 1991, p.45)

Em “ambos”, Maria José e Fernando Pessoa, podemos encontrar a necessidade de ser belo e o desejo de ser amado. Na sua carta, Maria José escreve também: “…estive a ver coisas que não podem ser e que eu não posso deixar que me entrem na cabeça e me dêem alegria para eu depois ainda por cima ter vontade de chorar.” Enquanto Fernando Pessoa, exprime: “O que me dói não é o que há no coração Mas essas coisas lindas Que nunca existirão…” (Pessoa,1995, p.168)

Neste poema Pessoa fala da sua tristeza, quase como se fosse exterior a si, racionalizando-a, receando por um futuro que teme que nunca venha a existir, não Manuela Rocha Santos

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querendo acalentar esperança, tal como o faz através das palavras de Maria José acima mencionadas. Dizendo ainda: “Outros terão Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo A inteira, negra e fria solidão Está comigo…” (Pessoa,1990, p.22)

Estes são também os sentimentos implícitos nas palavras acima transcritas sob o seu heterónimo feminino. Continuemos com mais algumas palavras da carta de Maria José: “…Eu às vezes dá-me um desespero como se me pudesse atirar da janela abaixo…” E Fernando Pessoa: “Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me? Não, Vou existir… Dêem-me de beber, que não tenho sede!” O desespero existencial está patente na escrita de heterónimo e ortónimo. Vejamos ainda em Maria José: “…O senhor que anda de um lado para o outro não sabe qual é o peso de a gente não ser ninguém… O senhor não pode imaginar… o que é a gente ter nascido e não ser gente…” Estas são palavras, não só representativas de dor e solidão, mas também de alguém que pensa não ter identidade própria. Fernando Pessoa escreveu:

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“O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.” (Pessoa, 1995, p. 235)

“A solidão desola-me; a companhia oprime-me…O isolamento talhou-me à sua imagem e semelhança…A minha alegria é tão dolorosa como a minha dor…” (Pessoa,2000)

Assim se espelham, em Fernando Pessoa, a mesma dor e solidão da heterónima em análise. No que se refere à identidade, ele mesmo também refere: “Sou muitos e não sou ninguém…” “E como são estilhaços Do ser, as coisas dispersas Quebro a alma em pedaços E em pessoas diversas…” Poderíamos continuar a analisar comparativamente, através da palavra escrita, outros sentimentos, pensamentos ou comportamentos mas, o que se transcreveu, ilustra bem como ortónimo e heterónimo são indissociáveis. William Luijpen refere na sua obra “Introdução à Fenomelogia Existencial” (1973), o seguinte: "toda e qualquer construção humana, seja na ciência, seja na arte, na filosofia ou na religião, pressupõe ou tem como seu ponto de partida o real. O acto de questionar-se sobre o sentido da vida, a partir da consciência reflexiva, e de construir conceitos de realidade(s) que varia(m) segundo a posição em que se encontra o sujeito/ observador, são características próprias dos seres humanos". O que se pretende neste texto é compreender o papel da Percepção humana na formação das representações mentais que temos de nós próprios (Self) e do mundo (contexto que nos rodeia); isto é como construímos a “nossa” realidade. Manuela Rocha Santos

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A PERCEPÇÃO

Como poderemos então definir Percepção? De um modo simplista poderemos dizer que é o processo pelo qual as pessoas escolhem, organizam e reagem às informações do mundo que as rodeia. Mais cientificamente, diremos que a percepção é um processo cognitivo em que a interpretação das informações recebidas corresponde à atribuição de um sentido construído pelas experiências pessoais do passado e expectativas do futuro, sendo o contexto sócio – cultural um ponto fulcral na maneira como se percepciona o mundo. A Percepção é, assim, concebida num quadro de tratamento da informação em sucessivas etapas. O conceito de tratamento refere-se às operações de transformação dos sinais (estímulos) recebidos. O conceito de informação, segundo a Psicologia Cognitiva, diz respeito a um conjunto de sinais (estímulos) que são a base potencial de conhecimento. Apresentados estes conceitos básicos analisemos as diferentes etapas no processamento da informação (percepção), conforme esquema representado na página seguinte:

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FASES DA PERCEPÇÃO

ESTÍMULOS: Externos/ Internos

Confrontação com informações

SENTIDOS Visão,OlfactoTacto Audição,Gosto,Cinestésico

Factores Externos Tamanho, Intensidade, Contraste, Movimento, Repetição, Novidade

Selecção fisiológica

Factores Internos Experiência Anterior, Motivação, Reacção de Defesa, Características Pessoais

Selecção psicológica

JUÍZO PERCEPTUAL Busca de Informações Novas Experimentação Verificação

Estereótipo Efeito de Halo Projecção

Organização da percepção = Representação

SIGNIFICAÇÃO Dada às pessoas, às situações ou coisas, aos acontecimentos

EMOÇÕES Domínio coberto: Reacções internas dificilmente observáveis do exterior (bem-estar, tensão…)

ACÇÕES Domínio coberto: Reacções externas facilmente observáveis do exterior (comportamentos manifestados…)

Juízo/Interpretação

Respostas Dadas

RESULTADOS OBTIDOS

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O esquema acima permite perceber que obtemos informação através de estímulos externos e internos. Numa primeira fase de selecção, recebemos estímulos externos através dos órgãos dos sentidos, por isso a denominamos de selecção fisiológica. De seguida, passamos a uma segunda fase, a selecção psicológica, para a qual contribuem factores externos (aquilo que é percebido) e internos (inerentes ao perceptor, àquele que percebe algo) como os designados no respectivo quadro (como por exemplo: o tamanho ou a novidade de qualquer objecto [factor externo] captam melhor a nossa atenção do que um mais pequeno ou já usado; ou a nossa experiência anterior, boa ou má [factor interno], condiciona as nossas respostas a determinados estímulos idênticos). Como os estímulos são demasiados e, portanto, somos “bombardeados” a toda a hora, com excesso de informação, temos necessidade de criar “filtros” que nos permitam organizar selectivamente a informação disponível; isto é, decidimos, normalmente conscientemente, qual a informação a que queremos prestar atenção em detrimento de outra. Assim, passamos a organizar a informação através de esquemas cognitivos a respeito de determinados estímulos ou conceitos, obtidos através da experiência. Por exemplo, o termo protótipo ou estereótipo é frequentemente usado para classificar grupos segundo características semelhantes, no entanto, também podem tornar a recuperação de informação, imprecisa, uma vez que “escondem” as diferenças individuais o que faria, assim, com que obtivéssemos uma distorção perceptiva. O efeito de halo, mencionado também, nesta fase da organização da informação, acontece quando usamos um determinado atributo, de uma pessoa ou objecto, para formarmos uma impressão geral sobre a mesma(o) (ex: um indivíduo mal vestido é um vagabundo; ou o indivíduo que faltou mais naquele ano ao trabalho, tem pior desempenho do que o que faltou menos). Resumindo, qualquer observação implica um julgamento por parte do cérebro, de acordo com todos os factores condicionantes referidos, que funcionam como “filtros” para a percepção da realidade. A etapa mais importante da Percepção, na minha perspectiva, em termos psicológicos, é a seguinte, a da interpretação - que damos a tudo o que nos acontece ao longo do nosso desenvolvimento e que vai formando a nossa personalidade. É a fase dos significados atribuídos às pessoas, às situações e aos acontecimentos donde derivam, posteriormente, as nossas emoções e o nosso comportamento, isto é as respostas subjectivas a todas as aprendizagens. Manuela Rocha Santos

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Mesmo que duas ou mais pessoas organizem do mesmo modo a mesma informação recebida, podem interpretá-la de maneira diferente ou atribuir características diferentes aos motivos pelos quais tiveram a percepção.

A PERCEPÇÃO EM MARIA JOSÉ As dificuldades que se podem apreender através da carta de Maria José são: 1. Ao nível emocional:  Marcada melancolia (“é a alma que me dói, e não o corpo, pois a corcunda não faz dor…”)  Nostalgia associada a um desejo sem esperança (Eu até gostava de saber como é a sua vida com a sua amiga, porque como é uma vida que eu nunca posso ter — e agora menos que nem vida tenho — gostava de saber tudo.”)  Sentimentos de vazio e angústia existencial (“Mas eu não consigo nada do que quero, nasci já assim …”; “Eu gostava de morrer depois de lhe falar a primeira vez…”)  Desespero (“Eu às vezes dá-me um desespero como se me pudesse atirar da janela abaixo…”)  Tédio (“E eu pensei que faço eu no mundo, que não faço nada senão estar à janela”)  Solidão (“Passo todo o dia a ver ilustrações e revistas de modas que emprestam à minha mãe”; “é triste ser marreca e viver sempre só à janela”)  Identidade fragmentada (“tenho pena de não ser outra mulher, com outro corpo e outro feitio… e eu não mulher nem homem, porque ninguém acha que eu sou nada a não ser uma espécie de gente”)  Angústia (“ parece que sou um vaso com uma planta murcha que ficou aqui à janela por tirar de lá… eu ia mais feliz lá para onde se vai se soubesse que o senhor me dava os bons dias por acaso…”)  Dificuldade em ser e aceitar o seu “eu” (“ Tenho dezanove anos e nunca sei para que é que cheguei a ter tanta idade, e doente…uma boneca com os ossos às avessas como eu sou, como eu já ouvi dizer”)

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 Tristeza (“… é triste ser marreca… para eu depois ainda por cima ter vontade de chorar… Aí tem e estou toda a chorar”)  Ideação suicida (“…Eu às vezes dá-me um desespero como se me pudesse atirar da janela abaixo… eu pensei que faço eu no mundo…”)  Inveja (“A Margarida costureira diz que lhe falou uma vez…, e essa vez é que eu senti inveja a valer”)

2. Ao nível cognitivo:  Crença de que está “enclausurada” no seu corpo (“nasci já assim, e até tenho que estar em cima de um estrado para poder estar à altura da janela… é que ainda por cima tenho uma espécie de reumatismo nas pernas e não me posso mexer, e assim estou como se fosse paralítica, o que é uma maçada…”)  Crença de que não tem direito a nada (“…não tenho ciúmes de si porque não tenho direito a ter nada, nem mesmo ciúmes… é uma vida que eu nunca posso ter”)  Crença de que nunca poderia ser amada (“…Eu nunca poderia ter ninguém que gostasse de mim…”)  Crença de que não é ninguém (“…qual é o peso de a gente não ser ninguém… O senhor não pode imaginar, porque é bonito e tem saúde o que é a gente ter nascido e não ser gente…”)  Crença de que não tem valor e de que os outros a vêem do mesmo modo (“…para quem é um trapo como eu…Gostava que o senhor soubesse que eu gostava muito de si, mas tenho medo que se o senhor soubesse não se importasse nada, e eu tenho pena já de saber que isso é absolutamente certo antes de saber qualquer coisa… porque ninguém acha que eu sou nada a não ser uma espécie de gente que está para aqui a encher o vão da janela”)  Crença de que os outros têm pena dela (“…sem ninguém que tivesse pena de mim a não ser por eu ser corcunda…”)  Crença de que é um “peso” para os outros (“…e assim estou como se fosse paralítica, o que é uma maçada para todos cá em casa e eu sinto ter que ser toda a gente a aturar-me…”)  Crença de que não tem alma (“…Além disso sou doente, e nunca tive alma, por causa da doença…”)

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 Crença de que não tem direito a sonhar (“ …estive a ver coisas que não podem ser e que eu não posso deixar que me entrem na cabeça e me dêem alegria para eu depois ainda por cima ter vontade de chorar…”)  Crença de que os outros se podem rir dela (“…Até quem me visse cair ria… e toda a gente a querer ter pena mas a ter nojo ao mesmo tempo ou a rir se calhasse… Eu desejo que o senhor tenha todas as felicidades que possa desejar e que nunca saiba de mim para não rir…”)

3. Ao nível comportamental:  Marcado isolamento social (permanece quase sempre à janela e em casa: “não faço nada senão estar à janela… tenho uma espécie de reumatismo nas pernas e não me posso mexer, e assim estou como se fosse paralítica…”)  O contacto interpessoal fora do contexto familiar é feito através do que observa através da janela ou de qualquer interacção que exista através da mesma (“...Houve um dia que o senhor vinha para a oficina e um gato se pegou à pancada com um cão… estivemos a ver, e o senhor parou… depois olhou para mim, para a janela, e viu-me a rir e riu também para mim…”).

O que se descreve acima são as representações mentais, em termos emocionais, cognitivos (pensamentos) e comportamentais de Maria José, heterónimo feminino de Fernando Pessoa e que correspondem ao que, para ela, constitui a realidade, construída ao longo do seu processo de desenvolvimento. Já vimos como, através da percepção, se vão formando de uma maneira funcional, ou não (se existirem distorções perceptivas), estas representações mentais que criam a realidade subjectiva, conforme a significação atribuída aos acontecimentos. Para se conseguir compreender como se formou a realidade perceptiva de si e do mundo deste heterónimo, obviamente que não o poderemos desligar do seu ortónimo, pois foi ao longo do desenvolvimento pessoal, deste último, que é um só com todos os seus heterónimos, que se foram criando todas as representações mentais que transporta e transmite através de toda a sua obra literária.

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MARIA JOSÉ E FERNANDO PESSOA – PARALELISMOS

Desenho de Júlio Pomar

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Através da carta de Maria José, tentámos perceber as suas dificuldades ao nível emocional, cognitivo e comportamental. Será que continuando a analisar outras obras literárias de Fernando Pessoa, poderemos estabelecer algum paralelismo nos mesmos níveis analisados? Vejamos:

1. Ao nível emocional:  Melancolia e nostalgia associada a um desejo sem esperança (“O maestro sacode a batuta,/ E lânguida e triste a música rompe…/E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância…/E a música cessa como um muro que desaba…”; “ Quem me dera ser uma criança pondo barcos de papel num tanque de quinta, com um dossel rústico de entrelaçamentos de parreira pondo xadrezes de luz e sombra verde nos reflexos sombrios de pouca água…”) – sentimentos ligados à infância que representa uma felicidade longínqua perdida;  Desesperança (“O que me dói não é/O que há no coração/mas essas coisas lindas /Que nunca existirão…”)  Sentimentos de vazio e angústia existencial (“Entre mim e a vida há um vidro ténue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, jamais lhe posso tocar…”)  Desespero (“Onde acabará isso tudo, estas ruas onde arrasto a minha miséria,…”)  Tédio (“Por isso, alheio, vou lendo / Como páginas meu ser”) – tédio existêncial  Solidão (“A solidão desola-me; a companhia oprime-me. A companhia de outra pessoa desencaminha-me os pensamentos…”; “Escrevo triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei,.. ”)  Identidade fragmentada (“Sou muitos e não sou ninguém…Estes fenómenos – felizmente para mim e para os outros – mentalizaram-se em mim; quero dizer, não se manifestam na minha vida prática, exterior …fazem explosão para dentro e vivo-os eu a sós comigo.”; “Sou um evadido./Logo que nasci/Fecharam-me em mim,/Ah, mas eu fugi… Minha alma procura-me/Mas eu ando a monte,/Oxalá que ela/Nunca me encontre.”; “Sou a cena viva onde passam vários actores representando várias peças…”) – o cansaço de ser Manuela Rocha Santos

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sempre o mesmo fez com que nascesse, conscientemente, a multiplicidade dos seus heterónimos (“Ser um é cadeia/Ser eu não é ser/Viverei fugindo/mas vivo a valer”; “Não sei quantas almas tenho”) – negação da própria identidade.  Angústia (“ Por mais que em mim me embrenhe, todos os atalhos do meu sonho vão dar a clareiras de angústia…”)  Dificuldade em ser e aceitar o seu “eu” (“Não sei quantas almas tenho/ Cada momento mudei./Continuamente me estranho./Nunca me vi nem achei…”); (“A fealdade é o destinado selo/Com que uma alma é votada à solidão.”) – não aceita mente ou corpo.  Tristeza (“Eu não sou pessimista, sou triste…”; “Escrevo triste, no meu quarto quieto”…)  Ideação suicida (““Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?”)  Inveja (“Gato que brincas na rua/Como se fosse na cama/Invejo a sorte que é tua/Por que nem sorte se chama…”; “Invejo — mas não sei se invejo — aqueles de quem se pode escrever uma biografia, ou que podem escrever a própria.”)  Dor de pensar (“Cansa sentir quando se pensa./No ar da noite a madrugar/Há uma solidão imensa/Que tem por corpo o frio do ar.”)

2. Ao nível cognitivo:  Crença de que é um falhado (“Falhei em tudo/como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada./A aprendizagem que me deram./Desci dela pela janela das traseiras da casa…”)  Crença de que ninguém compreende o seu verdadeiro ser (“Em ninguém que me cerca encontro uma atitude para com a vida que bata certo com a minha íntima sensibilidade, com as minhas aspirações, com tudo quanto constitui o fundamental e o essencial do meu íntimo ser espiritual…”)  Crença de que não vale a pena amar (“Tenho amor a isto, talvez porque não tenha mais nada que amar – ou talvez, também, porque nada valha o amor de uma alma,…Nunca amamos alguém. Amamos tão - sómente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso – em suma, é a nós mesmos que amamos…”)

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 Crença de que a vida é monótona (“A vida, monótona e necessária, mandante e desconhecida…”)  Crença de que a presença de outros lhe prejudica a actividade literária (“A presença de outra pessoa desencaminha-me os pensamentos…”)  Crença de que funciona de forma diferente dos outros (“Aquilo que creio, produz em mim o sentimento profundo, em que vivo, de incongruência com os outros, é que a maioria pensa com a sensibilidade, e eu sinto com o pensamento…”)  Crença de que é triste (“Eu não sou pessimista, sou triste…”; “Verifico que, tantas vezes alegre, tantas vezes contente, estou sempre triste…”)  Crença de solidão perpétua (“…sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei…”)

3. Ao nível comportamental:  Isolamento social (“O isolamento talhou-me à sua imagem e semelhança…”)  Escreve compulsivamente, de forma verborreica (“Tenho a alma num estado de rapidez ideativa tão intenso que preciso fazer da minha atenção um caderno de apontamentos, e, ainda assim, tantas são as folhas a encher que algumas se perdem, por elas serem tantas, e outras senão podem ler depois…”)  Comportamento fóbico específico a trovoada (“…Sabe, creio, que de várias fobias que tive guardo unicamente a assaz infantil mas terrivelmente torturadora fobia das trovoadas. O outro dia o céu ameaçava chuva e eu ia a caminho de casa…Atirei-me para casa com o andar mais próximo do correr que pude achar… perturbadíssimo…”)  Consumo excessivo de tabaco e álcool (“Bebo como uma esponja, não. Como uma loja de esponjas, e com armazém anexo!...”) Evidentemente que não existe uma correspondência linear entre Maria José – heterónimo, e Fernando Pessoa – ortónimo; no entanto, no que se refere aos níveis emocional e cognitivo o paralelismo é mais do que evidente e extremamente similar, o que não deixa de ser relevante se atendermos ao facto de que, sob o nome deste heterónimo feminino, apenas escreveu a carta transcrita no início deste texto. Manuela Rocha Santos

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FERNANDO PESSOA - A SUA “REALIDADE”

Desenho de Almada Negreiros

Manuela Rocha Santos

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FERNANDO PESSOA - A SUA “REALIDADE”

Neste capítulo, tentaremos perceber como chegou Fernando Pessoa e, consequentemente este seu heterónimo, às representações mentais que têm, em termos emocionais, cognitivos e comportamentais; ou seja, como construíram a “sua” realidade. Como foi referido ao longo do texto, mais especificamente no capítulo dedicado à Percepção, só se poderá compreender este fenómeno no contexto da história desenvolvimental da personagem. Fernando Pessoa nasceu a 13 de Junho em Lisboa. Cinco anos mais tarde, nasceu um irmão que viria a falecer com um ano de idade. Entretanto, um ano antes deste acontecimento, tinha também perdido o pai. Fernando Pessoa, aos seis anos de idade, tinha sofrido já duas perdas importantes na sua vida, o pai e o irmão (“…um dos piores momentos da minha vida, o meu pai morre com tuberculose e a partir daí a minha infância feliz deixa de ter significado…”). Dois anos após a morte do pai, sua mãe, (ambos vindos da pequena aristocracia) casa, por dificuldades financeiras, com o cônsul português em Durban, África do Sul. Antes deste acontecimento, o pequeno Fernando Pessoa assiste ao leiloar de parte da mobília e à mudança para uma casa mais modesta (o que representa, a outro nível, mais uma perda). É nesta fase da vida que o poeta começa a escrever sob a personagem de “Chevalier de Pas”. Repare-se na idade precoce em que aparece o seu primeiro heterónimo e na profundidade do nome “Cavaleiro do Nada”. Partem, posteriormente para a África do Sul (o que pode ser considerado uma nova perda – a do país que sempre conheceu), onde estuda, daí o ser bilingue. Aos onze anos começa a escrever os seus primeiros poemas em inglês. Com apenas doze anos é confrontado com mais um luto, uma sua meia-irmã, com apenas dois anos, morre. Vem para Portugal aos treze anos para passar um ano de férias, juntamente com a família. Nessa altura, e já em Portugal, a mãe dá à luz o quarto filho do segundo casamento. Manuela Rocha Santos

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O nascimento dos meios-irmãos leva ao afastamento sucessivo e à sensação de abandono por parte da mãe em Fernando Pessoa (o que deve ter reforçado o conceito de nova perda, a da mãe). Quando a família decide regressar à África do Sul, tendo Fernando Pessoa já catorze anos, este fica em Portugal por mais três meses – esta decisão é congruente com um estado de espírito em que a sensação de abandono e solidão já se encontram numa fase de marcado enraizamento. Aos dezassete anos regressa, sozinho, definitivamente a Portugal, indo viver com a avó materna e duas tias – repare-se que é numa fase ainda de adolescência que toma uma decisão tão importante para a sua vida e que vai “desliga-lo” quase definitivamente do agregado familiar nuclear. Aos 18 anos morre a avó (novo luto, nova perda). Aos vinte e oito anos, um dos seus melhores amigos, Mário Sá Carneiro, suicida-se (novo luto, nova perda), o que o marca significativamente. A mãe, já viúva, regressou posteriormente a Portugal com os seus meios-irmãos, tendo Fernando Pessoa, à data, trinta e dois anos de idade, voltado a viver com a família. Na mesma altura, inicia a única relação amorosa que se lhe conhece, com Ophélia Queiroz, aparentemente pouco profunda e sem contacto íntimo. Esta relação desenrola-se em duas fases com intervalo de um período de dez anos. A primeira durou cerca de sete meses e a segunda cerca de cinco. A mãe morre, cinco anos passados após o seu regresso definitivo ao país (nova perda), uma década antes da sua própria morte. Em traços muito gerais descreveram-se os acontecimentos mais relevantes da vida do poeta. Estão omissos, propositadamente, os aspectos biográficos da vida escolar, profissional, social (pouco significativa – “Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito?”) e literária do poeta, por não serem de manifesta relevância para o que se pretende demonstrar – que interpretação fez e que significado atribuiu aos acontecimentos mais significativos da sua vida.

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CARTAS A OPHÉLIA QUEIROZ

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A única relação amorosa que se lhe conhece foi, como já referido, com Ophélia Queiroz, uma funcionária do comércio, que conheceu no escritório onde trabalhou. O facto das cartas dirigidas a Ophélia Queiroz serem trazidas para este texto, prendem-se com a relevância que têm para a compreensão da personalidade de Fernando Pessoa, sendo bastante ilustrativas de alguns dos seus sentimentos e conflitos interiores. A primeira fase da relação parece ter sido pontuada por sentimentos sinceros de amor, se atendermos à forma terna e até infantil das expressões utilizadas na redacção das mesmas: CARTA A OFÉLIA QUEIRÓS - 27 DE ABRIL DE 1920 “Meu Bebezinho lindo: Não imaginas a graça que te achei hoje á janella da casa de tua irmã! Ainda bem que estavas alegre e que mostraste prazer em me ver (Álvaro de Campos). Olha, filhinha: não vejo nada claro no futuro. Quero dizer: não vejo o que vãe haver, ou o que vãe ser de nós, dado, de mais a mais, o teu feitio de cederes a todas as influencias de familia, e de em tudo seres de uma opinião contraria á minha. No escriptorio eras mais dócil, mais meiga, mais amorável. Enfim... (…) Sempre e muito teu”

CARTA A OFÉLIA QUEIRÓS - 31 DE MAIO DE 1920 “Bebezinho do Nininho-ninho: Oh! Venho só quevê pâ dizê ó Bebezinho que gotei muito da catinha dela. Oh! E também tive munta pena de não tá ó pé do Bebé pâ le dá jinhos. Oh! O Nininho é pequenininho! (…) Jinhos, jinhos e mais jinhos.”

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À medida que a relação entre ambos vai evoluindo, Fernando Pessoa, tanto escreve em nome dele próprio, como sob o nome de um dos outros seus heterónimos – Álvaro de Campos, revelando-se mais inseguro em relação aos sentimentos que nutre por Ophélia e mesmo dos sentimentos desta em relação a ele, dirigindo-se-lhe nestes termos: CARTA A OPHÉLIA QUEIROZ – 25 DE SETEMBRO DE 1929 “Exma. Senhora D. Ophélia Queiroz.: Um abjecto e miserável indivíduo chamado Fernando Pessoa, meu particular e querido amigo, encarregou-me de comunicar a V. Ex.ª — considerando que o estado mental dele o impede de comunicar qualquer coisa, mesmo a uma ervilha seca (exemplo da obediência e da disciplina) — que V. Ex. ª está proibida de: (1) pesar menos gramas, (2) comer pouco, (3) não dormir nada, (4) ter febre, (5) pensar no indivíduo em questão. Pela minha parte, e como íntimo e sincero amigo que sou do meliante de cuja comunicação (com sacrifício) me encarrego, aconselho V. Ex.ª a pegar na imagem mental, que acaso tenha formado do indivíduo cuja citação está estragando este papel razoavelmente branco, e deitar essa imagem mental na pia, por ser materialmente impossível dar esse justo Destino à entidade fingidamente humana a quem ele competiria, se houvesse justiça no mundo. Cumprimenta V. Ex. ª Álvaro de Campos Eng. Naval”

A esta carta Ophélia responde da seguinte maneira: “Exmo. Senhor Engenheiro Álvaro de Campos Permita-me que discorde por completo com a primeira parte da sua carta, porque, nem posso consentir que V. Exª trate o Exmo. Sr. Fernando Pessoa, pessoa que muito prezo, Manuela Rocha Santos

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por abjecto e miserável indivíduo nem compreendo que, sendo seu particular e querido amigo o possa tratar tão desprimorosamente (…). Quanto às observações que me faz, como foram ditadas pelo Sr. Fernando Pessoa, farei quanto em mim caiba por lhe ser agradável. Agradeço o conselho que me dá, mas já que me puxa pela língua, deixe-me dizer-lhe que quem eu de boa vontade há muito tempo teria, não deitado na pia, mas debaixo dum comboio, era V. Exª. Esperando não o tornar a ler, subscreve-se com respeito a O.Q.”

A insegurança em relação aos sentimentos de Ophélia para consigo, aumentam sucessivamente: “Ophélia:

Para me mostrar o seu desprezo, ou pelo menos, a sua indiferença real, não era preciso o disfarce transparente de um discurso tão comprido, nem da serie de ―razões‖ tão pouco sinceras como convincentes, que me escreveu. (…) A Opheliazinha pode preferir quem quiser: não tem obrigação – creio eu – de amar-me, nem, realmente necessidade (a não ser que queira divertir-se) de fingir que me ama.

A expressão de conflito interior, entre o viver uma relação de amor, simples e humana e a possibilidade desse amor o afastar da escrita e da vida abúlica, na qual convivia com os seus diferentes “eus”, gerou a interposição de Álvaro de Campos na sua relação com Ophélia Queiroz. Terminada a relação, Fernando Pessoa sente-se aliviado uma vez que para ele o amor é coisa de “gente menor” que se ilude que pode amar – “foge” do amor, provavelmente com receio da dor que o mesmo pode implicar e que ele conheceu tão bem ao longo da sua história de vida desde a infância. “Ophélia: Agradeço a sua carta. Ella trouxe-me pena e allivio ao mesmo tempo. Pena, porque estas cousas fazem sempre pena; allivio, porque, na verdade, a unica solução é essa – o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. (…)” Manuela Rocha Santos

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Quase dez anos mais tarde, retoma esta relação, mas as cartas que escreve, nesta fase a Ophélia, revelam um estado mental confuso como é evidenciado através da seguinte carta: “Terrivel Bébé

Gosto das suas cartas, que são meiguinhas, e também gosto de si, que é meiguinha também. E é bombom, e é vespa, e é mel, que é das abelhas e não das vespas, e tudo está certo, e o bebé deve escrever-me sempre, mesmo que eu não escreva, que é sempre, e eu estou triste, e sou maluco, e ninguém gosta de mim, e também porque é que a havia de gostar, e isso mesmo, e torna tudo ao princípio, e parece-me que ainda lhe telephono hoje, e gostava de lhe dar um beijo na bocca, com exactidão e gulodice e comer-lhe a bocca e comer os beijinhos que tivesse lá escondidos e encostar-me ao seu hombro e escorregar para a ternura dos pombinhos, e pedir-lhe desculpa, e a desculpa ser a fingir, e tornar muitas vezes, e ponto final até recomeçar, e porque é que a Ophelinha gosta de um meliante e de um cevado e de um javardo e de um indivíduo com ventas de contador de gás e expressão geral de não estar ali mas na pia da casa ao lado, e exactamente, e enfim, e vou acabar porque estou doido, e estive sempre, e é de nascença, que é como quem diz desde que nasci, e eu gostava que a Bebé fôsse uma boneca minha, e eu fazia como uma criança, despia-a, e o papel acaba aqui mesmo, e isto parece ser impossível ser escripto por um ente humano, mas é escripto por mim.”

Progressivamente, Ophélia afasta-se, deixando de responder às suas cartas, embora continuando a manter uma relação de cordialidade com Fernando Pessoa.

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A PERCEPÇÃO EM FERNANDO PESSOA – EXPLICAÇÃO PROVÁVEL

Desenho de Júlio Pomar

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Segundo a Teoria Focada nos Esquemas, de Young (1990), existem Esquemas Mal Adaptativos Precoces que têm origem nas experiências de vida precoces, percebidas como dolorosas e que podem gerar interacções perturbadas na vida adulta. A definição correcta de Esquemas Mal Adaptativos Precoces é: referem-se a temas extremamente estáveis e duradoiros que se desenvolvem durante a infância e são elaborados através da vida do indivíduo” (Young, 1990, p.9). Servem como padrões para o processamento de experiência posterior e podem ser caracterizados da seguinte forma: • Originam-se muito cedo e permanecem por toda a vida, a não ser que sejam objecto de intervenção terapêutica; • São estruturas capazes de gerar níveis elevados de afecto disruptivo, consequências auto-derrotistas, e/ou dano significativo para os outros; • São capazes de interferir de forma significativa com necessidades centrais para a autoexpressão, autonomia, ligação interpessoal, validação social ou integração social; • São padrões profundamente embrenhados, centrais para o “sentido do Eu” da pessoa (idem). No caso de Fernando Pessoa, toda a sua história se baseou em perdas sucessivas e dolorosas desde a infância o que lhe tornou necessário a negação do sentir, a negação da dor do sentir, profundamente ligadas às experiências precoces e traumáticas da infância, fazendo com que se formassem os tais Esquemas Mal Adaptativos Precoces que lhe provocaram, ao longo de toda a vida, acentuadas dificuldades interpessoais; incapacidade de resolução de problemas; fragmentação do “eu”; dissociação e despersonalização, racionalização dos sentimentos, etc… como formas de “neutralizar” os desequilíbrios e angústias que o acompanhavam. Os seus Esquemas Mal Adaptativos Precoces não são mais do que as crenças que formou acerca de si próprio e do mundo numa fase precoce da vida, a infância, e que decorrem das relações e experiências disfuncionais que estabeleceu com os outros significativos (pais, pares, outros) e que se foram desenvolvendo à medida que cresceu e assumidas como verdadeiras. A vivência de mais do que uma experiência negativa, foi fortalecendo essas crenças, mantendo-as porque lhe eram familiares. Estas distorções cognitivas foram acompanhadas por padrões comportamentais, também eles mal adaptativos, que reforçaram as crenças já referidas.

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Young divide os Esquemas Mal Adaptativos em cinco domínios diferentes (McGinn & Young, 1996; Greenwald & Young, 1998), cada um dos quais presumindo-se interferir uma necessidade nuclear da infância: Distanciamento e Rejeição; Autonomia e

Desempenho

Deteriorados;

Limites

Deteriorados;

Influência

dos

Outros;

Sobrevigilância e Inibição e conceptualiza dezoito esquemas divididos por estes cinco domínios. Entre estes dezoito Esquemas Mal Adaptativos Precoces, em Fernando Pessoa, destacam-se o de Abandono/Instabilidade; Desconfiança/Abuso; Privação Emocional; Isolamento Social/Alienação; Defeito/Vergonha; Fracasso; Grandiosidade (“Às vezes sou o Deus que trago em mim e então eu sou o Deus, o crente e a prece); Inibição Emocional e Negativismo/Pessimismo.

Esquematicamente, talvez se possa representar o acima transcrito como segue: Experiências na Infância e adolescência: Morte pai/irmão; mudança casa; novo casamento mãe; saída do país; nascimento de meios-irmãos; morte de meia-irmã; aos 13 anos fica em Portugal sem a família nuclear durante algum tempo; aos 17 regressa definitivamente e sozinho e aos 18 perde a avó materna.

Significados que poderá ter atribuído às experiências anteriores: na vida tudo é dor, sofrimento, perdas, solidão, abandono…

Esquemas Mal Adaptativos criados em função da experiência anterior: Abandono e desamparo com a morte do pai, o que, de algum modo, cria Instabilidade e Vulnerabilidade; a mãe aparenta ausência emocional, o que lhe gera Inibição Emocional; as perdas sucessivas fazem com que crie expectativas de que, a qualquer momento, pode ser abandonado pelos seus significativos…

Processos de Manutenção dos Esquemas: o casamento da mãe e o nascimento dos meios-irmãos afasta-a ainda mais – confirmação do Abandono e do sentimento de que não é amado; a mãe põe-no num Colégio interno – reforço do abandono e de que estava só no mundo e de que os que amamos nos podem magoar e rejeitar – desenvolve a expectativa de que não deve ser merecedor do afecto da mãe – Esquema Defeito/Vergonha; privação de carinho e protecção na infância – geram expectativas de que os outros não são suporte para as suas necessidades emocionais, medo de abandono…

Processos de Evitamento dos Esquemas: dissociação, criação dos heterónimos, abordando a temática do “fingimento” e sendo observador de si próprio, desfragmentação do “eu” para não sofrer; racionalização das emoções; despersonalização, tentativa de descobrir a sua verdadeira identidade… Manuela Rocha Santos

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Poderemos, assim, afirmar que os seus múltiplos heterónimos resultam dos esquemas desenvolvidos durante a infância que foram sendo reforçados durante todo o processo do seu desenvolvimento, passando, numa fase posterior, a ser processos de evitamento cognitivo, dissociativos, permitindo-lhe evitar estados emocionais negativos. Os seus diferentes “eus”, dos quais tinha absoluta consciência, podem ainda ser considerados como processos de compensação para suprir a carência de grandes personalidades literárias em Portugal, como ele próprio afirmou: “Com uma tal falta de literatura, como há hoje, que pode um homem de génio

fazer senão converter-se ele só em literatura?”

Do ponto de vista psicológico, estará, provavelmente, demonstrado, segundo a Teoria de Young (1990), como se poderão ter formado as representações mentais de Maria José/Fernando Pessoa e o motivo pelo qual muitas delas são disfuncionais. Estará, assim, cumprido o objectivo essencial deste trabalho. Não está, de certeza, é explicado o génio de Fernando Pessoa porque para isso, muito provavelmente, teríamos de acrescentar mais uma fase à Percepção, pelo menos de alguns: a fase espiritual e essa ainda não há Ciência que explique. Esta afirmação não é tão aberrante quanto possa parecer mesmo para as mentes mais positivistas. As Teorias Cognitivo – Comportamentais de 3ª Geração já provaram, cientificamente, que o Mindfulness (que mais não é do que meditação) é eficaz em diferentes perturbações mentais, só não sabem porquê…

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REFLEXÃO FINAL

Sendo a atribuição de significados/interpretação das nossas vivências, durante o processo de desenvolvimento, um marco importante e essencial para a explicação possível de muitas das nossas crenças, emoções e comportamentos, nem tudo se poderá compreender e aceitar apenas deste modo, dada a complexidade do ser humano e a multiplicidade de factores que poderão estar envolvidos e ter “escapado” ou que ainda não estejam ao alcance da Ciência Psicologia actual. O mais importante, a meu ver, é que saibamos que, sendo o homem uma “máquina de aprender”, pode agir de acordo com a premissa de Vicente Prieto (citado em Reyes (2011, p. 87): “Quando sinto uma emoção, escolho a resposta. Quando observo a consequência do meu comportamento, sinto a emoção e aprendo” – isto é, podemos sempre “reaprender” tudo de novo e de maneira mais adaptativa e funcional; atribuindo novos significados às experiências passadas ou aprendendo a lidar com elas de um modo diferente. Maria José era uma mulher “presa” num corpo de uma corcunda, mas mais “presa” ainda dos seus próprios pensamentos, vendo passar o mundo através da sua janela. O seu ortónimo, Fernando Pessoa, era um homem “enclausurado” num mundo de conflitos interiores, com múltiplos heterónimos, diferentes nas respostas encontradas para as perguntas essenciais na busca ávida do conhecimento: Quem sou? O que justifica a minha existência? Como posso conhecer o real? Em que medida a minha palavra traduz a "verdade" desse real? Como ter a certeza da autenticidade desse conhecimento? A “sua” janela está representada na sua vasta obra literária. Dissociando-se, despersonalizando-se, desfragmentando-se, tornou-se observador de si próprio e do mundo, fazendo-os desfilar” sob a sua janela interior, projectando toda a sua genialidade através da sua escrita. É através dela que conseguimos perceber emoções, pensamentos e significados atribuídos a si; às suas experiências de vida; ao mundo em que vivia e às expectativas em relação ao futuro.

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Talvez seja lícito dizer, fazendo uma analogia com a deficiência anatómica de Maria José, que a diferença entre uma interpretação funcional ou disfuncional dos nossos acontecimentos de vida é a mesma que existe entre a pessoa:

LEVAR O MUNDO À SUA FRENTE

ou

LEVAR O MUNDO ÀS COSTAS

Sabendo que é sempre possível “reaprender” e viver melhor.

Manuela Rocha Santos

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Greenwald, M. & Young, J. (1998). Schema-focused therapy: An integrative approach to psychotherapy supervision. Journal of Cognitive Psychotherapy: An International Quarterly, 12, 109-126. McGinn, L. K., & Young, J. E. (1996). Schema-focused therapy. In P. M. Salkovskis (Ed.). Frontiers of cognitive therapy. New York: The Guilford Press.

Pessoa, F. (2000). Livro do Desassossego. Linda-A-Velha: Abril Controljornal Edipress Pessoa, F. (1995). Poesias. (15ª Ed.). Lisboa: Ática Pessoa, F. (1994). Cartas de Amor (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz – 3ª Ed.) Lisboa: Ática Pessoa, F. (1990). Poesias Inéditas (1919-1930). Lisboa: Ática Pessoa, F. (1986). Obra Poética e em Prosa. (Introdução, organização e notas de António Quadros). Porto: Lello & Irmão Editores Lopes, T. R. (1991). Pessoa por Conhecer II. Lisboa: Editorial Estampa Lopes, T.R. (1990). Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa. Lisboa: Editorial Estampa Luijpen, W. (1973). Introdução à fenomelogia existencial. Brasil: Editora Pedagógica e Universitária Ltda. Reyes, M.J. (2011). Recuperar a ilusão. Viver com expectativas. Lisboa: A Esfera dos Livros.

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