Mario Vargas Llosa e o teatro

June 14, 2017 | Autor: Rodrigo Conçole | Categoria: Teatro
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Marcelo Figueiredo

Reprodução

www.jornalpoiesis.com.br

Miguel Jeovani ouve demandas da população

Literatura, Pensamento & Arte

Um carnaval e dois granadeiros

Página 6 Página 4 Ano XXII- nº 229 - abril de 2015 - Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, Cabo Frio, Arraial do Cabo, S. Pedro da Aldeia e Petrópolis

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O país que se revela nas ruas Divulgação / Tasso Marcelo

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Literatura O teatro de Mario Vargas Llosa Nobel de Literatura em 2010, o escritor Mario Vargas Llosa também se dedicou à dramaturgia, tendo escrito e produzido seus próprios espetáculos. Página 4.

As manifestações ocorridas em todo o país no dia 15 de março despertaram inúmeras questões e revelaram fragilidades para as quais cada cidadão precisa estar atento. Investigações de corrupção cada vez mais em evidência, articulações políticas contraditórias, clamores por justiça e reações mais emotivas que racionais vêm demonstrar um aspecto de crise que, se bem vivenciada, poderá fortalecer a democracia

brasileira. Dentro desse espírito suscitado pelas ruas, o Jornal Poiésis traz vários textos com enfoques diferenciados sobre o tema, como uma contribuição à reflexão sobre o momento que estamos vivendo e o quanto de nossa história precisa ser reavaliado para não cometermos os erros do passado. Em crônica bem humorada, Napoleão Valadares conta a história de Eurico e a incrível carta que escreveu para São Pe-

Exposição de fotografia destaca a natureza de Araruama

dro, pedindo intervenção para livrar o país de uma série de situações que o autor considera incompatíveis com a retidão defendida pelo personagem. Em “Reforma ou revolução”, Pedro Pinho, propõe uma ampla revisão de nossa organização social, e aborda questões importantes sobre os três poderes. O jornalista Francisco Pontes de Miranda Ferreira traz sua contribuição em “O estado capitalista na economia

clássica”, com ênfase na intervenção do estado na manutenção do status quo. E o escritor e psicanalista Camilo Mota faz resenha sobre o livro de correspondências entre Frei Betto, Leonardo Boff e Alceu Amoroso Lima, em que se descortinam os horrores praticados nos porões da ditadura militar, trazendo ainda considerações fundamentais sobre liberdade, justiça social e direitos humanos. Páginas 2 e 3.

Marcia Jeovani tem trabalho ativo nas comissões da Alerj

Renato Seixas

André Barbosa

Literatura, Ciências e Artes Academia de Letras de Araruama é fundada

Foi fundada no dia 17 de março a Academia de Letras de Araruama, que também vai incorporar artistas e estudiosos de ciências. Página 3.

Música CD faz homenagem a McCartney Marcio Paschoal escreve sobre o álbum duplo The McCartney Of, que contém 34 hits do ex-Beatle com interpretações de grandes nomes da música mundial. Página 2.

O fotógrafo Renato Seixas está expondo 39 fotografias de paisagens de Araruama, inclusive aéreas, revelando todo o esplendor de uma das William Brasil

mais belas cidades do Estado do Rio. A mostra pode ser visitada até 19 de abril na Casa de Cultura José Geraldo Caú. Página 6.

Em seu primeiro mandato na Alerj, a deputada Marcia Jeovani está participando ativamente de várias comissões,

e assumiu a presidência da Comissão de Assuntos Municipais e Desenvolvimento Regional. Página 3.

Campanha de Solidariedade O Posto 11 da 1ª Companhia do Batalhão de Polícia Rodoviária em Araruama está realizando campanha para

arrecadar doações de fraldas geriátricas e alimentos não perecíveis para o Asilo Lar de São Francisco. Quem puder

colaborar pode deixar suas doações no Posto Policial, que fica no trevo entre a Vila Capri e o Shopping Gigi.

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nº 229 - abril de 2015

MÚSICA

CRÔNICA

É Paul para toda a obra Marcio Paschoal escritor, autor da biografia do cantor e compositor João do Vale ( w w w . marciopaschoal.com) Acostumado a grandes homenagens e luxuosos tributos, Sir Paul McCartney e sua música vêm mais uma vez representados por um vasto naipe de artistas, que vão de Cat Stevens e Willie Nelson, até Alice Copper e Chrissie Hynde, passando por Bob Dylan, Billy Joel, Roger Daltrey e B B King, entre outros. O álbum duplo (The McCartney Of) contém 34 hits do ex-beatle, algumas com interpretações muito boas. Dylan está perfeito (e a escolha da música caiu como uma luva) em “Things we said today”. Billy Joel exagera um pouco em “Maybe I`m amazed”, mesmo não comprometendo. Difícil estragar essa canção. Yusuf (Cat Ste-

Marcelo J. Fernandes

vens) arrasa em “Long and winding road”, da mesma forma que Brian Wilson em “Wanderlust”. Tem “Bluebird” com Corinne Bailey Rae, e “Hey Jude” com Steve Miller. Claro que “Yesterday” não poderia ficar ausente (Willie Nelson minimalista). Lá estão “Live and let it die” e “Let it be”. Da melhor fase dos Beatles a nostálgica “When I’m sixty four” com Barry Gibb. Jeff Lyne com “Junk” surpreende. Enfim, são maravilhosas as canções e excelente o time dos intérpretes. Um disco para se ter e guardar e, claro, ouvir de vez em quando com gosto e regalo. Vida longa ao velho Paul.

ECONOMIA O Estado Capitalista na Economia Clássica Francisco Pontes de Miranda Ferreira Jornalista O Estado está presente em toda a Economia Clássica e moderna do capitalismo. O Estado capitalista está relacionado com a propriedade privada e a acumulação de riquezas para uma nação. Os fisiocratas defendiam um Estado em benefício dos arrendatários capitalistas. Adam Smith argumentou a favor de um Estado protetor da classe proprietária. Ricardo e Mill em benefício dos capitalistas industriais. Autores que trabalharam para apagar o período mercantilista e abrir caminho para o desenvolvimento do capitalismo e em seguida do capitalismo industrial e urbano. Na fase mercantilista o Estado era poderoso e centralizador. O Estado defendido pelos liberais clássicos, no entanto, continua como no período mercantilista, a serviço da desigualdade entre nações, povos e classes sociais. Reproduz de várias formas o Estado da colonização. O Estado capitalista dos países mais ricos sempre mantiveram também for-

ças armadas poderosas. A marinha mercante inglesa permaneceu forte durante todo o desenvolvimento do capitalismo industrial. Um Estado com limites, mas sempre a favor do capital para garantir o processo de acumulação e a propriedade privada, foi o defendido por toda a economia clássica. Surgem depois da economia clássica duas formas de oposição ao liberalismo: a frente capitalista que é a favor de um Estado regulador, intervencionista quando necessário e com funções sociais como Mill e Keynes e a frente socialista e anarquista que questiona o Estado capitalista ou o próprio Estado. O Estado sempre interferiu na economia capitalista, embora muitos capitalistas defendam justamente a não intervenção do Estado. O fato é que o Estado e a economia capitalista nunca estiveram separados. No capitalismo a sociedade é nitidamente dividida entre os que vendem a força de trabalho e os proprietários da produção e o Estado capitalista está do lado desses últimos. O Estado capitalista tem o papel de amortecer os conflitos para deixar o mercado trabalhar.

CARTA A SÃO PEDRO

Napoleão Valadares escritor. Autor dos livros Passagens da Minha Aldeia e Estesia, entre outros. Pertence à Academia Brasiliense de Letras. Criado por uma avó, Eurico não foi menino mimado. Teve vida dura desde pequeno, apesar do carinho da velha. Era no estudo e no trabalho, com obrigações. A avó não alisava pelo de ninguém. Trazia os empregados no curto, não deixando que saíssem da linha. O neto, então, é que tinha que ser criado com rigor para ser homem. E por isso tornou-se um homem instruído e correto. Para uns, correto até demais. Por ser cumpridor e exigente, as pessoas o consideravam sistemático, ou histérico, ou doido. Mas essas mesmas pessoas acabavam encontrando justificativas, umas achando que ele era sistemático por ser direito e gostar de tudo certo; outras, que era histérico porque tinha coragem de gritar, denunciando erros; e ainda outras, que esse negócio de doido é relativo. O fato é que Eurico, virava e mexia, estava às turras com vizinhos e afastados, porque não faziam as coisas como deviam ser feitas. Costumava falar desaforos aos presentes, mandar recados ásperos aos de perto e escrever cartas atrevidas

POLÍTICA

aos de longe. Para ele, as pessoas tinham que ser honestas e isso não passava de um dever. E quando foi entrando para a idade, a coisa se agravou. Ficou mais exigente para uns, rabugento e ranzinza para outros. Andava procurando uma falhazinha em alguém, por pequena que fosse, para repreender. Não havia semana em que não escrevesse uma carta, catracando um vivente por causa de algum erro. Até ao presidente da República escreveu. O tempo passou, os cabelos de Eurico embranqueceram, vieram rugas e doenças, as dores das pernas aumentaram e aquela mania de correção também aumentou. O povo dizia que virou doidura. Doidura com lampejos de lucidez. Chegou a dizer a um amigo que tinha telefonado para a alma de Juscelino Kubitschek. E foram cartas... Diariamente postava uma, duas, três. Um funcionário dos Correios espantou-se, quando viu uma carta de Eurico destinada a São Pedro. Achou graça, mas ficou preocupado. Não havia como enviar. Abriu e leu. Santíssimo São Pedro, Leva-me a escrever a Vossa Santidade o fato de estarem acontecendo aqui diversas e gravíssimas irregularidades, as quais devem ser enxergadas, fiscalizadas e corrigidas pelas autoridades competentes daí, o que não tem sido

feito. Peço perdão por me expressar assim, mas estou cumprindo meu dever, como sempre fiz e sempre exigi que os outros fizessem. Não posso me alongar, porque sei que o senhor é muito ocupado, abrindo a Sagrada Porta do Céu a uns e explicando a impossibilidade de abri-la a outros. Também trabalhei como porteiro e sei como é difícil mexer com gente. Quem não pode entrar fica insistindo com argumentos impertinentes. E é aquilo de penetras chegarem com a maior cara de pau. Imagino que na Sagrada Porta do Céu também deve ser assim. Mas vamos aos fatos. O nosso país (o senhor sabe o nome) está numa situação de fazer vergonha. Depois que foi instituída a tal de reeleição, todos os presidentes se reelegeram. Exercem dois mandatos, ficando no poder por oito anos para a consumação da rapina. E a reeleição se dá em razão de diversos fatores, como uso da máquina governamental sem o menor escrúpulo; compra indireta de votos por benefícios diversos; voto do analfabeto, que não sabe se quer o bem da nação ou a puxada do cabresto. E por aí vai. Além de tudo (e mais grave), os chefes do partido que se empoleirou no poder nos últimos tempos, não se contentando com a própria corrupção, corrompem e protegem os corrompidos. Por isso, sur-

gem aqui vários escândalos com nomes estranhos, como mensalão, mensal, mensalinho e são tantos que até esqueço os nomes. Os Estados acompanham. E os municípios também acompanham. É o que se pode chamar de corrupção contagiosa, generalizada e progressiva. Minha cidadezinha (o senhor sabe o nome) está numa situação não de fazer vergonha, porque vergonha nela não há mais, mas de fazer dó. Dito isso, encareço a Vossa Santidade que, ouvidas as autoridades celestiais competentes, tome as providências cabíveis no sentido de iluminar o povo daqui, dando-lhe discernimento, consciência e sabedoria para votar, a fim de que, por meios legais, acabe com a reeleição, não use a máquina governamental, não permita compra de votos, dê fim ao voto do analfabeto, deponha os atuais governantes e extinga o partido que está no poder. Pedindo sua bênção, recomendo-me à Santíssima Família de Vossa Santidade. Respeitosamente, Eurico Santos

Retilíneo

dos

P.S.: Deixo de colocar o lugar, porque minha cidadezinha, depois do que aconteceu, praticamente deixou de existir. E também não coloco a data, porque esta carta é por toda a eternidade, como tudo no Céu.

REFORMA OU REVOLUÇÃO ?

Pedro Pinho Avô aposentado Após as costumeiras apropriações políticas, os movimentos de junho de 2013 foram tirados do foco pela mídia familiar e mesmo pelos cientistas políticos. E como registrou Vladimir Safatle, em recente artigo, sem “um processo de debate sobre a reinvenção da estrutura política brasileira”. Artigo de fé, o modelo europeu dos séculos XVII/XVIII é repetido como a verdadeira e única forma de administração da sociedade humana. Recordo as seis magníficas conferências do historiador e político indiano K.M. Panikkar, em 1958, na École des Hautes Études, em Paris, onde antecipava que a aplicação da “democracia parlamentar”, imposta pelas potências coloniais aos recém-independentes países africanos e asiáticos, os levaria, certamente, a ditaduras. Triste e confirmada profecia. O Brasil tem hoje um

sistema político-administrativo que é falho, autista e excludente da participação e desejo da população. Óbvio que, aqui e ali, temos alguma exceção, mas de caráter limitado e local. Uma reforma eleitoral, travestida de reforma política, como a que se discute no atual Congresso nada mais significa que uma velha tática das elites de “fazer a revolução antes que o povo a faça”. Mas uma vez, Governo e oposição chamam às ruas. Mas sem que se abra um convite ao diálogo com a sociedade. Curiosamente não se abre espaço, ainda que meramente acadêmico, para análise do modelo dos “três poderes, independentes e harmônicos”, aplicados a uma sociedade complexa, de diferentes culturas, continentalmente instalada, como é a brasileira. Em síntese, vemos um legislativo, eleito pelo dinheiro de grupos com interesse bem definido e pontual, que em nada se

considera devedor dos eleitores. Sempre com as nobres e mínimas exceções. Um executivo que precisa atender a estes mesmos grupos sob a pena de não governar. Todos nos âmbitos nacional e locais. E um Judiciário que merece um parágrafo próprio. Numa “república de bacharéis”, articulada pelo hábil político, bacharel Ulysses Guimarães, e com o histórico de ser o mais representativo das elites, a Constituição de 1988 blindou o Poder Judiciário. Chegamos ao cúmulo de ter na Presidência do órgão que seria “de controle externo” do Judiciário, seu maior representante: o Presidente do Supremo Tribunal Federal. Como se o Presidente do Tribunal de Contas fosse necessariamente o Presidente da República ou, nos Estados, seu Governador. E, incrivelmente, isto não causa perplexidade. Consagrou-se um poder autista. Vou apresentar este distanciamento com dois

exemplos reais, cujos processos são do conhecimento público e meu, pessoal. O menino, entregue pela justiça ao pai, cujo caráter poderia ser descrito como o de um psicopata, sem que se ouvisse a criança, ou a avó, apesar de seus insistentes pedidos, resultando no assassinato do Bernardo. E que ocorreu com estes juízes? Blindados pelo sistema. Aqui no Rio, tramita um processo semelhante, onde a justiça não ouve os menores, e o pai obtém até por busca e apreensão a convivência com as crianças. É a magistratura que decide um processo sem o ler, atuando por preconceitos ideológicos, de gênero e de classe, mas sempre em detrimento da parte mais frágil, neste casos os menores. A necessidade de uma ampla revisão de nossa organização social é evidente. Ela sempre acabará ocorrendo, com maior ou menor violência, quer para efetivá-la ou para a ela chegar.

EXPEDIENTE O Jornal Poiésis - Literatura, Pensamento & Arte é uma publicação da Mota e Marin Editora e Comunicação Ltda. Editor: Camilo Mota. Diretora Comercial: Regina Mota. Conselho Editorial: Camilo Mota, Regina Mota, Fernando Py, Sylvio Adalberto, Gerson Valle, Marcelo J. Fernandes, Marco Aureh, Francisco Pontes de Miranda Ferreira, Charles O. Soares. Jornalista Responsável: Francisco Pontes de Miranda Ferreira, Reg. Prof. 18.152 MTb.

Rua das Bougainvilleas, 4 - Rio do Limão - Araruama-RJ CEP 28970-000 ( (22) 98818-6164 ( (22) 99982-4039 ( (22) 99770-7322 E-mail: [email protected] Site: www.jornalpoiesis.com.br. Facebook: www.facebook.com/ jornalpoiesis Distribuição dirigida em: Saquarema, Araruama, São Pedro da Aldeia, Iguaba Grande, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Petrópolis. Fotolito e Impressão: Tribuna de Petrópolis.

Colaborações devem ser enviadas preferencialmente digitalizadas, espaço simples, fonte Times New Roman ou Arial, corpo 12, com dados sobre vida e obra do autor. Os originais serão avaliados pelo conselho editorial e não serão devolvidos. Colaborações enviadas por e-mail devem ser anexadas como arquivo .doc ou .docx. Os textos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Jornal Poiésis.

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nº 229 - abril de 2015

HISTÓRIA Camilo Mota Psicanalista, escritor, editor do Jornal Poiésis As recentes manifestações populares acontecidas no Brasil trouxeram à tona uma série de questões sobre os rumos do país no campo político, social, econômico e cultural. Por um lado, surge um clamor por justiça, pelo combate à corrupção, que é significativo frente a tantas evidências que vêm surgindo nos noticiários. Por outro, uma massa de descontentes com as ações do governo federal faz apologia a medidas austeras, que vão desde o afastamento da presidenta por vias democráticas (ainda que improvável o impeachment) até a sugestão alucinatória de uma intervenção militar. Digo alucinatória, pois a atitude reverbera muito mais um recalque coletivo de um segmento social do que propriamente um co-

CULTURA Com presença de cerca de 30 pessoas, entre poetas, escritores, jornalistas, professores e estudiosos de ciências, foi fundada no dia 17 de março de 2015 a Academia de Letras de Araruama. A reunião aconteceu na Biblioteca Municipal, marcando o início de um novo processo de consolidação cultural no município. Durante o encontro, o secretário municipal de Cultura, Moacir Gomes, destacou a importância do movimen-

Cartas do tempo da ditadura nhecimento da realidade histórica. Para um país tão jovem e cuja vivência democrática é pontual, surgindo, sendo abafada, ressurgindo e sendo reprimida ao longo de sua história, propostas golpistas são um risco para as conquistas de liberdade dos últimos 30 anos (inclusive a ampla divulgação de casos de corrupção e sua investigação, o que não era uma prática comum até então). Sintomático que as manifestações aconteçam às vésperas da data que marcou a entrada do país nos anos de chumbo. A “intervenção militar” de 31 de março de 1964 deixou marcas profundas no contexto geral da construção de nossa nacionalidade, num processo de exclusão que legitimava a violência em favor de uma causa que tinha por base o combate ao fantasma do Comunismo. Hoje estão ressuscitando fantasmas, sob o pretexto de combater a corrupção, como se esta nunca tivesse existido no país. Necessário se faz o combate, mas é pre-

ciso que este se aprofunde e mostre as reais raízes do problema, que envolve, entre outras coisas, a própria atitude dos cidadãos quando confrontados com situações simples em seu dia a dia e que sucumbem a atos corruptíveis (avançar o sinal vermelho, trafegar pelo acostamento, cometer pequenos delitos como se fossem coisas normais, e assim por diante). Simbolismos à parte, é inegável a necessidade de abertura ao diálogo e a uma compreensão mais ampla do momento pelo qual passa o país. E um dos bons caminhos para isso passa pela avaliação do contexto em que o país se viu mergulhado no período da ditadura militar que perdurou até os anos 80. Lançado recentemente, o livro “Cartas de esperança em tempos de ditadura: Frei Betto e Leonardo Boff escrevem a Alceu Amoroso Lima” (Petrópolis, Vozes, 2015) é um documento fundamental para se conhecer os bastidores do regime instalado

William Brasil

to e reforçou o apoio do poder público ao colocar à disposição da nova entidade os espaços nos quais virão a acontecer eventos por ela promovidos.

A ideia da criação da Academia surgiu informalmente durante um programa de rádio, o Fala Professor, na Costa do Sol AM, quando o professor Ubiratan Ramos

Deputada Marcia Jeovani assume presidência de comissão na Alerj André Barbosa

especial ele promoveu aqui um debate sobre a instalação de um cadeião no município de Araruama. E eu estava aqui como cidadã e representante da sociedade civil organizada participando dessa discussão. Da mesma forma, quero contar com a participação de

todos e com a atuação de cada um de vocês, porque sozinha não vou chegar a lugar nenhum”, destacou. Marcia Jeovani também faz parte, como membro, das comissões de Agricultura, Pecuária e Política Rural, Agrária e Pesqueira; de Assuntos da Criança, Adolescente e Idoso; de Defesa dos Direitos da Mulher; e de Defesa da Pessoa Portadora de Deficiência. Ao participar da instalação da Comissão de Cultura, a parlamentar lembrou da Cultura Tupinambá no estado do Rio e da Comunidade Quilombola, presentes na história do município de Araruama.

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vinha acontecendo nos porões da ditadura. Como bem esclarece Leandro Garcia Rodrigues, cuja introdução ao livro é uma aula da história recente do país, “o estudo histórico utilizando tais fontes — cartas, diários, manuscritos pessoais, anotações, etc. — mostra-se como um campo de investigação realmente instigante e sempre aberto a novidades e reformulações da própria narrativa histórica”. Em uma das primeiras cartas, Frei Betto relata as torturas sofridas por Frei Tito e descortina o grau de sadismo que tomava conta dos militares, que não tinham o menor pudor em causar sofrimentos físicos em religiosos, fossem eles jovens ou idosos: “Ontem soubemos que ele foi novamente torturado no ‘pau de arara’ com choques elétricos e que havia ‘tentado o suicídio’ cortando os pulsos. (...) Não deixaram que Frei Tito recebesse qualquer visita enquanto não desaparecessem as marcas da tortura.

É o costume. Nós que conhecemos bem a ele e à Polícia do Exército, sabemos que frei Tito jamais seria capaz de um gesto desesperado. É jovem, tem grande força física e moral. Certamente tentaram ‘suicidá-lo’, como já ocorreu a outros e então bateram nele até arrancar sangue. Este é um caso entre centenas. É o retrato do regime em que vivemos. Nem senhores de idade escapam à tortura” (p 73-75). Em tempos de crise e de transformações, faz bem buscar um aprofundamento nas próprias raízes da formação cultural de nossa população. Temos um histórico de subserviência e de identificação com a Casa Grande, que compromete a visão global das relações de poder que nos envolvem. Conhecer o papel que exercemos hoje na sociedade exige muito mais racionalidade do que exacerbações emotivas. Por isso, é preciso estar atento ao momento presente, sem perder o foco das experiências já vividas em nosso passado.

Academia de Letras é fundada em Araruama

POLÍTICA

A deputada estadual Marcia Jeovani (PR) assumiu a presidência de uma das importantes comissões permanentes da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), a Comissão de Assuntos Municipais e Desenvolvimento Regional, em votação realizada no dia 5 de março. A deputada destacou a importância da comissão e o caráter participativo que a mesma deve ter. “Estar à frente da comissão vai facilitar o contato direto com os representantes do Executivo e do Legislativo de cada município. Há quatro anos o meu esposo foi deputado e através de uma comissão

no país na segunda metade dos anos 60 do ponto de vista de quem sofreu na carne as torturas que eram praticadas. Com organização do professor Leandro Garcia Rodrigues, o volume reúne 22 cartas trocadas entre Frei Betto (preso por ser identificado como apoiador das ações subversivas contra o governo) e o escritor Alceu Amoroso Lima entre 1967 e 1981, além de textos deste e correspondência trocada com o teólogo Leonardo Boff. O livro vai além da simples troca de correspondência entre dois amigos. Antes, se torna um verdadeiro apelo à justiça social e traz reflexões amplas sobre liberdade e direitos humanos. A situação beirava o surrealismo. Padres chegaram a ser presos e torturados porque promoveram reuniões com seus paroquianos para esclarecer sobre o FGTS. A partir da troca epistolar, Alceu Amoroso Lima chegou a escrever várias crônicas para o Jornal do Brasil em que fazia o alerta sobre o que

falou de um sonho antigo que nutria de ver no município uma entidade que reunisse os escritores e artistas. Uma primeira reunião foi marcada, onde foram dis-

Costa Junior, Ubiratan Ramos, Zeni Felipe, Renato Magalhães, Suzana Soares e Cid Magioli. O grupo irá elaborar os documentos legais e apresentar para os demais fundadores em assembleia prevista para acontecer em junho. Durante o evento, alguns poetas aproveitaram para improvisar um pequeno sarau, lendo textos de sua autoria. O cordelista Manoel de Santa Maria apresentou a canção “Último Pau de Arara”.

POLÍTICA Prefeito Miguel Jeovani ouve demandas da população nos distritos de Araruama Marcelo Figueiredo

Durante o mês de março, o prefeito de Araruama, Miguel Jeovani, visitou os distritos do município, atendendo em audiência os moradores das localidades e visitando os bairros para melhor compreender as necessidades da população. “Em Morro Grande realizamos o levantamento das necessidades de cada comunidade, para assim, atender melhor os moradores da cidade e direcionar as demandas municipais com maior índice de aproveitamento e satisfação”, disse. O prefeito também esteve em Iguabinha, onde

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visitou a Escola Municipal Celina Mesquita, a Creche Ilca Maria Duarte e a recém inaugurada Unidade Básica de Saúde, conversando com funcionários e moradores.

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Em cada um dos distritos, houve a realização do Projeto S.O.S. Bairros, com serviços de iluminação pública, limpeza de valas, capina e aplicação de basalto nas ruas sem pavimentação.

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cutidas as primeiras providências, entre as quais a assembleia que ocorreu no último dia 17. Além de escritores em seu quadro titular, a nova entidade também reservará cadeiras para artistas, educadores e estudiosos de ciências. Para organizar a estrutura e os estatutos da nova entidade foi formada uma comissão integrada por Camilo de Lélis Mendonça Mota, Jorge Luiz da Costa, Geraldo Chacon, Rozimar de Sá, Moacir Gomes da

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nº 229 - abril de 2015

CRÔNICA CONTRABALADA DOS DOIS GRANADEIROS COM O ADENDO DE UM TERCEIRO

Gerson Valle Poeta e escritor, membro da Academia Petropolitana de Letras

Epígrafe: No poema “Die beiden Granadiere”, de Heinrich Heine, dois granadeiros que foram aprisionados na Rússia em 1812, quando voltavam para a França e passavam pela Alemanha, souberam que Napoleão caiu prisioneiro. Um deles lamenta nada poder fazer, pois tem de voltar à família para que os seus não fiquem ao desabrigo. O outro diz que se abriu sua antiga ferida, mas não importa família, nem ele, nem nada diante da prisão do Imperador. Pede que, se morrer, leve seu corpo para ser enterrado na França onde “meu Imperador” deverá se refazer e quando passar em seu túmulo, ele sairá de lá, armado, para proteger o Imperador!

Querendo-se avivar as lendas, assistem-se desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro. Ali as lendas se cantam, dançam e representam absurdos tais e iguais aos de “la grand-opera” do Romantismo francês. Mas não o extravasar de sentimentos internos de um povo nascidos de outras lendas, simbologia de uns vagos conhecimentos afetados em manifestação afetuosa. Assim se brincava de História, há uns cinquenta anos, cabeleira postiça do século XVIII, largos vestidos bordados roçando o chão, para se fazer bonito dentro do gingar sincopado, engraçado e engraçando nobrezas, gentilezas, alegrias, quando o negro em alforria podia-se passar por marquês que o escravizou. Também se quer penetrar noutras lendas quando se veem alguns blocos desfilarem nas ruas na vontade de se retornar a algum momento coletivo do passado. As marchinhas repetem o que fora novidade, em críticas e descontrações, há mais de meio século, hoje só lenda... Há mais gente observando parada

Rodrigo Conçole Lage Professor de História em Itaperuna-RJ

Se no passado o teatro foi uma importante forma de entretenimento é preciso reconhecer que as transformações sociais ocorridas ao longo do tempo, como a popularização do cinema, o surgimento da televisão, entre outros fatores, contribuíram para que o teatro fosse perdendo prestígio. Além disso, a internet é, atualmente, um sério concorrente para as mais diferentes formas de espetáculo. Um exemplo desse fato é a perda de audiência que tem atingido a televisão. E isso não acontece só no Brasil. Nos EUA, a transmissão do Oscar teve uma queda de 16 por cento na audiência, em relação ao ano passado, segundo a medidora de audiência Nielson (tem nos EUA a mesma função que o IBOPE brasileiro).

(Poema em crônica e conto) a procura do passado que momentos de movimentos de autêntica folia. Sai-se de casa para ver o que se julga ser a índole dos vizinhos. A lenda nasce do que se acha serem os outros... Tenta-se repetir a espontaneidade, de forma dirigida. No passado, a batida dos bumbos, pandeiros, reco-recos nas continuidades melódicas em dois tempos dos sons fortíssimos nos instrumentos de metal, repercutiam no coração de todo transeunte, tornando impossível ficar-se parado. Tudo rimava com uma bebida, piada, rápidos afagos dos abraços e sempre aos pulos. É de lá que se formaram as lendas. Hoje se procura reencontrar tal euforia, sem se conseguir mais se desligar da realidade dos compromissos, da composição dos edifícios cercados em defesa da multidão de favelas que não possuem mais a linguagem da originalidade de seus sambas. Globalizam-se outros rumos a conduzir as relações e fugas da sempre intacta vontade lúdica do povo. No fundo, as formas passadas continuam presentes, arquetípicas, com a conhecida força já manifestada, e prontas a explodir de novo num baile de terça-feira gorda, quando se fingia não existir uma quarta-feira de cinzas. Cega em sua vontade transformadora, como sempre fora. O mundo acabaria neste dia, nesta noite, neste esgotamento do corpo de marcação binária, em fortíssimo, de marchinhas e sambas, suor, cerveja, namoro com pessoas desconhecidas, somente entrevistas nas fantasias e presenças do corpo, risadas respingadas dos confetes coloridos, frio do éter de lança-perfumes percorrendo espinhas, pernas, narinas, fios coloridos de serpentinas... O âmago dessa tendência coletiva está na memória da cidade que escancaro, retornando aos anos trinta, bebendo alguns chopes no Bar da Brahma. Penetro-lhe o centro, no já demolido Hotel Avenida, onde o bonde adentrava os alicerces entre hóspedes e cida-

dãos no trânsito das chegadas e partidas. Movimento de loucura devassa e pura, na contradição de nossos instintos largados de feriados. Lenda viva que fez a cidade. Aos pulos requebram os corpos de negros, cafusos, brancos, mulatos gritando, umbigando-se nos risos das batidas de frigideiras e cuícas. Ritmo de síncopas. Som do samba a fritar todo o Largo da Carioca. Do alto do morro, o Convento de Santo Antônio se fecha ante a multidão desembarcada nos bondes abertos no ponto coberto do Tabuleiro da Baiana. Voa o Rio de Janeiro. Desurbaniza-se inteiro. As casas perdem pudores sem mais fachadas fechadas, despindo seus corredores. Nas ruas os blocos de sujos fogem dos tetos e mágoas. O bonde também deixa defronte do Bar da Brahma dois estrangeiros distantes tanto da algazarra do entorno como um do outro, semi-apresentados um dia, e, por acaso, unidos agora no feriado de suas solidões imigrantes. Como as portas e janelas do Convento, suas caras se guardam fechadas, dispostos a se encontrarem, na folga da tarde quente, com a fluida companhia das saudades e cervejas, numa mesa posta no tempo e lugares de seus interiores. Vivências de outras lendas. Do outro lado do prédio, na dificuldade da avenida entupida de foliões e curiosos, passam carros lentamente, no corso aberto ao vento, voando serpentinas compridas como os cadarços dos sapatos dos palhaços de bocas pintadas, fartas para maiores pilhérias,

dentre bichos, bailarinas, disfarces das fugas, distâncias dos filmes de far-west, piratas, índios... Nada Giovanni, no entanto, notava de tantas máscaras. Commedia dell’arte aqui? Pierrôs e colombinas ficaram lá na Itália! Sentia apenas a veia saltada de tanto esforço por um pouco de conforto de algum dia libertar-se. Nesta terra brasileira trabalhava sem ter tempo para o sono ou desvio do espírito. Hans mergulhava a cabeça na cerveja de outros tempos. O bar lembrava a Bavária. Sozinhos, ao abandono, como dois granadeiros tristonhos perdidos de suas tropas e batalhas distanciadas, tentavam, em terra estranha, retomar seus caminhos nos goles lentos dos sonhos. No entanto, tanto som rói os ossos de Giovanni, dentro de sua latinidade exaltada. E como se também, em reflexo de algum bloco, desse um salto, não se contém: - Anche voi “têm” un duce! Hans fingiu não ver o negro que despedira da firma, dado a molezas e cismas que ele nunca compreendera, com seus dengues, peraltices... Como também não compreendeu as insinuações do italiano. O negro agitava agora a esquina, quase que sem roupa, com uma enorme fralda presa num exagerado alfinete meio fálico. Pareceu-lhe uma crise de histeria do ex-empregado a berrar: “Mamãe eu quero mamar!”. Será que sem roupa, “este gente, este terra de malucas”, pensa fazer a miséria

ficar pouca? O italiano se esforça para ser melhor entendido: - Voi allora “têm também” un duce!? Havia no Bar da Brahma a conivência de uma trama inconsequente e irreverente. Sobre os mármores das mesas batem-se as palmas em devoção a um deus, tomado das toadas de antigas senzalas, e levadas de volta aos mares e montanhas da cidade. Hans volta-se num impulso como quem marcha sentado, mais parecendo um soldado contra as marchinhas de cunho infantil de um povo longe da sua compreensão. Soca a mesa e sai-lhe um grito como se fora o apito de seu bloco exilado, forçado sempre ao trabalho e sem vontade alguma de se entrosar com o alheio: - Mein Führer ist “más mariorr”! As pessoas pareciam desafiar o calor, aumentando o suor com fantasias mais quentes. Um grupo de caveiras passa mostrando desprezo pela própria morte. Expõe seu riso nos ossos e dentes do maxilar. Como um coro em pretexto ou protesto ante a censura de então, nas corridas permitidas pela pista em contramão. Hans e Giovanni alternam goles com raiva no olhar ao ambiente de gente inconsequente. A cada piada ou risada mordem um novo furor: - Mein Führer “quebrra este gente”! - Il duce è molto più grande! - Führer! - Duce! - Führer! - Duce! Lá fora os bondes paravam ante a folia dos pulos. O Largo da Carioca acotovelava marchas cujos rumos ignorava-se. E, sem nenhum condutor aparente para a dor, em fuga aos reflexos políticos do fascismo dominante do momento, a perdida multidão deixava fluir o fôlego, na definição de um povo novo, não sei se por lenda ou precisão de se evitar as guerras dos outros mundos, que acabaram,

mais tarde, invadindo-lhe as calçadas, sem mais riso descontraído para o chope ou a umbigada... ADENDO - Stefan Zweig, com seus germanismos, austríaco, judeu e bastante francês de viagens e leituras, tornou-se vários granadeiros num só, isolado no tempo e espaço de suas formações e confortos. Seu tempo fora marcado na Belle Époque do respeito às artes e procura da paz e convívio entre os contrários. Viveu o melhor da cultura do mundo europeu, perdendo-se, com seu eu tão charmoso, no tempo da desagregação contínuo de guerras e procedimentos desumanos destruidores. Isolado, fecha-se no mundo novo de onde, talvez, o descompromisso de um povo puro trouxesse-lhe o país do futuro... Em 1941, da cidade montanhesa de Petrópolis, onde pensa refazer a Salzburg que lhe roubaram, desce ao carnaval do Rio, tentando apreciar a convivência pacífica de brancos e pretos se dando umbigadas. Mas, só o que lê é o jornal exposto numa banca, na notícia das vitórias nazistas de onde se aviva a desesperança. Olha para o lado, ouvindo as marchinhas ingênuas de exaltação ao ritmo interno daquela gente pouco preocupada e o movimento indiferente à guerra e à destruição do mundo. Pobre granadeiro perdido, não tendo mais, em suma, nenhum abrigo, em parte alguma! Sobe de volta a serra, sem mais nenhum fascínio após a mistura das notícias da insensatez de sua terra com a inconsequência de um novo povo. E suicida seu mundo, seu “charm”, vivência, e tudo que esperara ver reconstruído naquela terra, naquele povo que perde seu fôlego fluindo ao lado de tantos cadáveres já não lhe trazendo os novos ares puros de outros possíveis futuros...

Mario Vargas Llosa e o teatro Um outro sinal da perda de importância do teatro é a falta de interessa dos escritores contemporâneos pela dramaturgia. No séc. XIX muitos dos poetas e romancistas brasileiros se dedicavam ao teatro, em maior ou menor grau. Ao longo do séc. XX vamos encontrar muitos dos nossos grandes dramaturgos, mas também há uma crescente perda de interesse e muitos poetas e romancistas importantes não escreveram nenhuma peça. Um fenômeno que ocorre também em outros países. Na literatura brasileira contemporânea esse afastamento é ainda maior e não vemos entre os romancistas e poetas da atualidade interesse pelo teatro. Nesse sentido, a morte de Ariano Suassuna em 2014 foi uma grande perda por sua atuação em prol do teatro. Além de dramaturgo ele foi um dos fundadores do Teatro Popular do Nordeste, em 1960.

Assim, o fato de um escritor prestigiado como Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura de 2010, se dedicar a dramaturgia deveria servir de inspiração para todos os que se interessam pela questão. Ele escreveu até hoje dez peças mas o texto de “La huida del Inca” (1952), a primeira delas, se perdeu. Além disso, só algumas foram publicadas na forma de livro. As demais são: “La señorita de Tacna” (1981), “Kathie y el hipopótamo”

(1983), “La Chunga” (1986), “El loco de los balcones” (1993), “Ojos bonitos, cuadros feos” (1996), “Odiseo y Penélope” (2007), “Al pie del Támesis” (2008), “Las mil noches y una noche” (2009) e “Los cuentos de la peste” (2015). Sua dramaturgia não é completamente desconhecida no Brasil. A editora Franciso Alves publicou algumas peças na década de oitenta. “A senhorita de Tacna” foi traduzida por Millôr Fernandes, “Kathie e o Hipopótamo” e “A chunga” foram traduzidas por Bella Jozef. Além disso, tivemos algumas encenações. Em setembro de 1999 “A chunga” esteve em cartaz em Brasília, no Espaço cultural ANATEL, sob direção de Fares Maia e Mangueira Diniz. Alex Cavalcanti, Cinthia Rosa, Eliane Silvestre, Fernando Diamantino, Juliano Santos e Marcos William compuseram o

elenco. Em 2001, ela também foi encenada por alunos da Escola de Arte Dramática da USP. O que torna a ligação de Llosa com o teatro tão importante é o fato de que ele não só escreveu as peças mas participou de sua produção. Na sua estreia como dramaturgo ele não somente escreveu o texto. Llosa também escolheu os atores e dirigiu os ensaios de “La huida del Inca”. Mais tarde, participou de algumas como ator. Interpretou o papel de Odisseu, em “Odiseo y Penélope”, o de Sahrigar em “Las mil noches y una noche” e do conde Ugolino em “Los cuentos de la peste”. Se lembramos que um dramaturgo como Shakespeare também foi ator e, provavelmente, atuou como diretor podemos avaliar melhor esse envolvimento. Podemos dizer que seu interesse pela dramaturgia não é algo casual mas fruto

de um genuíno interesse pela arte dramática. Assim como Llosa e outros escritores (sem contar os atores e diretores e demais envolvidos) tem atuado no exterior, com o objetivo de divulgar e renovar a dramaturgia, é preciso que novos dramaturgos aparecem entre nós. Serão eles que, juntamente com os muitos atores e diretores que tem trabalhado duramente com o objetivo de popularizar ou, em alguns casos, simplesmente se manter, irão renovar o teatro e assim contribuir para que aja o interesse das futuras gerações. Eventos como o 2º FITI - Festival Internacional de Teatro Infantil, que ocorreu esse ano em São Vicente (SP), e o Festival de Teatro de Curitiba, que ocorrerá entre março e abril, mostram que apesar de todas as dificuldades o teatro tem seu espaço e é capaz de atrair o interesse do grande público.

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nº 229 - abril de 2015

POEMAS

O SORRISO DA ÉGUA

MODOS

Luis Augusto Cassas

Flávia Perez

1 os burros de carroça são os bodes expiatórios da cidade culpas e frustrações do povo carregam em sua bagagem

Na mesa e no meio das gentes ele é meu cavalheiro. Puxa a cadeira pra eu sentar, enche meu copo de vinho (só até o meio), abre a porta pra eu passar primeiro, ajoelha, num rasgamento beija-me de leve as mãos e pede-me em casamento (finjo que penso, mas depois aceito). Nem preciso pedir: “Poupe-me e me comporte, comporte-se conforme os preceitos da princesa e seu consorte”, pois na frente de todos me canoniza, e abotoa até o último botão a camisa. Mas depois, sozinhos na cama, meu bem me sodomiza.

2 os burros de carroça são o saco de pancadas da cidade todo o seu fado é aguentar o fardo se o chicote estala igual escravo em senzala fecham a buzina da crina e não reclamam da sina

HAICAIS Cláudio Feldman sinal fechado faces esperam o verde nenhuma primavera mata quase nua: um sabiá canta o outrora

3 a linguagem dos burros é um código de iniciados só um Roman Jacobson pode decifrar sua mensagem mas quando dizem um zurro a vingança parece pedir trégua e os torturadores com um coice nos escrotos exibem um sorriso de égua

o pardal foge do frio no bolso do espantalho um pequeno inseto sai do girassol bêbado de luz

Flávia Perez reside em São Paulo-SP, Publicou os livros “Leoa ou Gazela, Todo Dia é Dia Dela” em 2009 e “Poesia se Escreve com T” em 2011. Obteve primeiro lugar no XII Prêmio Cidadão de Poesia, Menção Honrosa no concurso Silvestre Mônaco 2008 e no XI Prêmio Cidadão de Poesia.

Poema do livro Ópera Barroca – Guia Erótico Poético e Serpentário Lírico da Cidade de São Luis do Maranhão incluído no volume I de A Poesia Sou Eu, minha Poesia Reunida - Imago Editora

a teia orvalhada não engana o pescador de pérolas

CLARICE AOS NOVE Fernando Fiorese

estrelas caídas no pântano procuram seu avesso

1. menina é não saber as margens da mulher 2. gravetos lhe bastam para um jardim. secreto 3. no caderno aprende a enamorar a linha 4. antes mesmo do alfabeto transparece a palavra 5. em riso demuda a chuva quando não o desastre 6. na escrivaninha um globo leciona suas distâncias 7. com figuras de calendário apascenta o quarto para o baile 8. nos olhos sem ressaca prenuncia Tróia conflagrada 9. menina é uma mulher desmontando a própria sombra

o burrinho escoiceia a sombra até cansá-la a canção do pássaro foge pelas grades mas as penas ficam

EMPÓRIO

a maré sobe: os passos humanos viraram sal

Hugo Pontes

a noite terminou em orvalho: espero o mesmo

Poemas são linhas empilhadas, como mercadorias nas prateleiras da venda da esquina.

no bosque negro os vaga-lumes brilham no céu do chão

Poemas, quem há de comprá-los? Oficina tão rara, tão cara aos olhos de quem os fez.

a ave canta no ramo sem conhecer a raiz: inverso é o poeta

Poemas, quem há de regá-los?

Cláudio Feldman é professor aposentado de Língua & Literatura e autor de 51 livros; o mais recente é “A Farsa do Saco” , teatro , 2014. Reside em Santo André-SP.

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Hugo Pontes é natural de Três Corações-MG, reside em Poços de Caldas-MG. O poema acima faz parte de seu livro “Poemas visuais e poesias (São Paulo, Dix Editorial, 2007).

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nº 229 - abril de 2015

Biblioteca de Araruama ganha espaço de língua italiana

Em Foco

Camilo Mota

com Regina Mota

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Cordel na Biblioteca - O cordelista Manoel de Santa Maria contou casos, recitou versos de Cordel e cantou músicas voltadas ao tema para alunos das redes estadual, municipal e particular. Foi uma iniciativa da Secretaria de Cultura de Araruama, que tem buscado oferecer novas oportunidades aos jovens, através de encontros como esse. Caravana de Esmeralda de Gaya - Elas foram uma das atrações do evento pelo Dia Internacional da Mulher em Araruama, que aconteceu na Praça Antonio Raposo. A dança cigana encantou o público presente e mostrou que a cultura de um povo não pode ser deixada de lado nunca.

Festa de São Jorge acontece em Praia Seca de 18 a 23/04

No dia 26/03 a Biblioteca Municipal de Araruama ganhou um espaço específico para a literatura italiana, onde alunos e comunidade poderão conhecer um pouco mais do idioma tido como um dos mais belos do mundo. Os livros foram uma doação do Instituto Italiano de Cultura, que funciona no Consulado da Itália, no Rio. O Instituto doou para ajudar os alunos que estudam o idioma na Secretaria da Terceira Idade e Desenvolvimento Humano

(Setid), para que os mesmos possam se familiarizar com a língua. A Secretaria de Cultura, através do secretário Moacir Gomes, abraçou a iniciativa e liberou o espaço da biblioteca para que o “Cantinho Italiano” fosse criado. “Quando a professora Regina me procurou eu cedi o espaço porque percebi a importância de se criar esse setor”, relatou Moacir. Já a secretária da terceira idade, Lourdes Belchior, ressaltou: “O italiano é

AMAIS realiza palestra sobre diabetes Camilo Mota

um idioma encantador, e, ver os alunos interagirem e se interessarem cada vez mais em aprender, é muito compensador. Quando se aprende um idioma se desenvolve a memória, a concentração e a percepção, enfim, está otimizando as funções do sistema cognitivo”. Durante o evento foram interpretadas as músicas Champagne, Dio Come Ti Amo e Io Che Amo Solo Te, todas ensinadas durante as aulas que acontecem às quintas-feiras na Setid.

Adeus Emygdia

Ascom / PMA

O distrito de Praia Seca, em Araruama, será palco da festa em honra a São Jorge, nos dias 18, 19, 20 e 23 de abril. Os devotos do santo guerreiro contarão com shows musicais nos quatro dias de festa, sempre a partir das 21h. Na quinta-feira, dia 23, a programação tem início às 6h, com a alvorada festiva. Haverá mis-

sas às 6h30 e 10h. Encerrando o evento, às 17h, será realizada a procissão seguida de Missa Campal. O evento é uma realização da Arquidiocese de Niterói, através da Paróquia de São Jorge e conta com apoio da Prefeitura de Araruama, através da Secretaria Municipal de Turismo.

A Associação Médica de Araruama, Iguaba e Saquarema (AMAIS) realizou no dia 26 de março a palestra “Diabetes: complicações clínicas, inércia terapêutica?”, com a Dra. Dhianah Chachamovitz, em sua Sede Campestre, em Itatiquara, Araruama. Dhianah é professora de

Medicina – Endocrinologia & Metabologia pela Faculdade de Medicina Estácio de Sá, Palestrante Oficial da MSD – BRASIL, além de ser Mestre e doutoranda em Endocrinologia pela UFRJ e professora da UNESA. O evento foi dirigido pelo presidente da entidade, Cid Magioli, que res-

saltou a importância da palestra que contou com a presença de vários médicos da cidade e de cidades vizinhas. Diagnósticos, tratamentos e novos medicamentos foram assuntos em destaque durante as explicações de Dhianah Chachamovitz.

No dia 10/03 perdemos uma grande amiga, a advogada e artista plástica Emygdia Gomes de Melo. O Movimento Articulado de Mulheres e Amigas de Saquarema - MAMAS ainda se recupera da perda. É como se tivéssemos despedido em uma estação de trem, na esperança de que nos veremos novamente. Obrigada por tudo! Fique na paz...

Exposição de Renato Seixas fica em cartaz até 19 de abril em Araruama

Com apoio da Prefeitura de Araruama, através da Secretaria Municipal de Cultura, a exposição “Vida”, do fotógrafo Renato Seixas, está acontecendo na Casa de Cultura José Geraldo Caú. Renato Seixas começou a fotografar aos 18 anos e, desde então, já participou de inúmeras exposições onde foi agraciado com vários prêmios. A mostra reúne

Renato Seixas

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