Marketing Urbano no Centro Histórico de Natal: O Caso Ribeira, Cidade Alta e Rocas

May 23, 2017 | Autor: Tatiane Lourenço | Categoria: City Marketing, Urban Marketing, Comunicação Urbana, Marketing Urbano
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Marketing Urbano no Centro Histórico de Natal: O Caso Ribeira, Cidade Alta e Rocas1 Tatiane Cristina Lourenço da SILVA2 Patrícia de Souza NUNES3 Alan Soares BEZERRA4 Josimey Costa da SILVA5 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN

Resumo Esta pesquisa objetiva investigar as características do marketing como aspecto da comunicação urbana no Centro Histórico de Natal/RN que estimulem o consumo do espaço urbano, além de mapear as áreas símbolos que são trabalhadas midiaticamente pelas ferramentas do marketing e identificar as estratégias comunicativas utilizadas para o consumo dessas áreas. Para tanto, tomamos como recorte da investigação os bairros Cidade Alta, Ribeira e Rocas, por se tratarem dos primeiros bairros da cidade e preservarem os resquícios da memória histórica e cultural. Para a análise, usamos os conceitos de marketing urbano, ou city marketing e na investigação das paisagens simbólicas, utilizamos a etnografia e a fotografia para fazer os registros do ambiente, além da hermenêutica para a interpretação dos símbolos que compõe a comunicação urbana nos centros históricos natalenses, percebendo as regularidades, os padrões e os desvios que compõe os seus fluxos culturais e se agregam aos modos de viver a cidade. Quanto aos resultados preliminares, constatamos durante o período da pesquisa certa promoção dos eventos culturais voltados para atrair o público para os

Trabalho apresentado no DT 2 – História, memória e Identidade do I Congresso Científico Internacional da Faculdade de Ciências Educacionais e Empresariais de Natal, realizado nos dias 22, 23 e 24 de novembro de 2016. 1

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Autora do artigo. Estudante do 5º período do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela UFRN. Bolsista de Iniciação Científica na pesquisa “A comunicação urbana nos centros históricos de Natal: Expressões simbólicas e fluxos da cultura”. E-mail: [email protected]. 3

Coautora do artigo. Aluna especial do Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). Graduada em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela UFRN. Colaboradora da pesquisa “A comunicação urbana nos centros históricos de Natal: Expressões simbólicas e fluxos da cultura”. E-mail: [email protected]. 4

Coautor do artigo. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). Pesquisador do Marginália – Grupo de Estudos Transdisciplinares em Comunicação e Cultura. Colaborador da pesquisa “A comunicação urbana nos centros históricos de Natal: Expressões simbólicas e fluxos da cultura”. E-mail: [email protected]. 5

Orientadora do artigo. Pós-doutora em Comunicação e Cultura. Professora do Departamento de Comunicação Social e dos Programas de Pós-Graduação em Estudos da Mídia e em Ciências Sociais. Pesquisadora do Marginália - Grupo de Estudos Transdisciplinares em Comunicação e Cultura. Coordenadora da pesquisa “A comunicação urbana nos centros históricos de Natal: expressões simbólicas e fluxos da cultura”. E-mail: [email protected].

bairros de Cidade Alta e Ribeira, e em contrapartida houve certa falta de atenção pela mídia em relação ao bairro Rocas, este sendo pouco comunicado. Palavras-chave: Cidade; Centro Histórico de Natal/RN; Marketing urbano; Comunicação; Consumo.

Urban Marketing in Natal Historic Centers: The case Ribeira, Cidade Alta and Rocas Abstract This research aims to investigate the marketing features like aspect of urban communication on Historical center of Natal/RN that stimulates the consumption of the urban space. In addition to mapping the symbols areas that are worked as media by marketing tools and identify the communications strategies used for the consumption of these areas. Therefore, we investigate the neighborhoods: Cidade Alta, Ribeira and Rocas, for being the first neighborhoods of the city and preserve the remnants of the historical and cultural memory. For the analysis, we use the urban marketing concepts, or city marketing. To investigate the symbolic landscapes, we used ethnography and photography to make the environmental records, and hermeneutics for the interpretation of symbols that make up the urban communication in the historical centers of the city, realizing the regularities, patterns and deviations that composes its cultural flows and add to the ways of living the city. As for the preliminary results, we figured out during the research period certain promotion of the cultural events aimed to attract the public to the neighborhoods of Cidade Alta and Ribeira; on another hand, there was certain abandonment by the media to relation with Rocas neighborhood, and little statement. Keywords: City; Historic Center of Natal/RN; Urban marketing; Communication. Consumption.

1. Introdução Na sociedade contemporânea, os meios de comunicação interferem no cotidiano das pessoas. As informações midiatizadas e as interações mediadas por esses meios têm uma função ordenadora dentro das sociedades porque, através delas, os símbolos regram as relações entre os membros do grupo por intermédio do estabelecimento de significados, que tecem redes de sociabilidade. A mídia da comunicação urbana é causa e efeito dos modos de ser e de agir dentro da cidade e o resultado dessa comunicação é a formação de paisagens simbólicas que são definidoras da cultura urbana. As cidades tanto são o espaço geográfico quanto as relações que se estabelecem entre esse espaço, as pessoas que o habitam, os equipamentos urbanos, os meios de comunicação e as mensagens e símbolos que circulam por esse espaço, criando uma mentalidade e um ser próprio desse tipo de vida. O pressuposto desta perspectiva é a existência e as inter-relações de uma cidade local e arcaica juntamente com uma cidade

universal e contemporânea, ambas perceptíveis na comunicação urbana e nas expressões dos corpos que produzem e consomem seus bens simbólicos. Assim, identificamos os centros históricos de Natal como lugares de forte adensamento simbólico e vida cultural ativa em diferentes níveis de visibilidade e experimentação que refletem a cidade e a relação que seus habitantes mantêm com ela, pois a cidade é feita “das relações entre as medidas de seu espaço e os acontecimentos” (CALVINO, 1990, p.14). O centro histórico de uma cidade é formado por prédios de diferentes temporalidades, por intervenções gráficas superpostas, por monumentos artísticos ou institucionais, por diferentes usos dos equipamentos urbanos e por pessoas de origens diversas, reunidas temporariamente por interesses comuns. Canevacci (1997) diz que, uma cidade é também, simultaneamente, a presença mutável de uma série de eventos dos quais participamos como atores ou como espectadores, e que nos fizeram vivenciar aquele determinado fragmento urbano de uma determinada maneira que, quando reatravessamos esse espaço, reativa aquele fragmento de memória. (CANEVACCI, 1997, p.22)

Este adensamento simbólico e a vida cultural existente nos centros históricos, mesmo sendo característicos destes ambientes que preservam resquícios da memória cultural e histórica da cidade, podem ser aproveitados para uma noção advinda do mercado publicitário, a de posicionamento em termos de imagem, onde o Estado, através das técnicas de marketing que estão sendo paulatinamente incorporadas por instituições públicas, cria uma percepção de cidade na mente dos moradores e dos visitantes. Essa noção de posicionamento que fica na mente dos moradores e dos visitantes faz parte do pressuposto do conceito de marketing urbano, ou city marketing, que segundo Duarte e Czajkowaki (1997, p. 277) significa “promoção ou, até mesmo, competitividade da cidade como um todo”, onde “o Estado passa a agir como empresa promotora de marketing a partir de ações que estimulam principalmente a iniciativa privada” (BEZERRA, 2013, p. 26). A partir desta perspectiva, o objetivo desta pesquisa6 é investigar características do marketing urbano como aspecto da comunicação urbana nos Centros Históricos de Natal/RN,

Este artigo apresenta os resultados preliminares da pesquisa “A comunicação urbana nos centros históricos de Natal: expressões simbólicas e fluxos da cultura”, financiada pela Pró-reitoria de pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O grupo deste projeto é composto pela profa. Coordenadora Josimey Costa da Silva, profa. Angela Maria de Almeida, Thiago Tavares das Neves, Maurício Pereira Martins, Vanessa Paula Trigueiro, Jeferson Bruno de Sousa Cabral, Taiane Cristina Medeiros Silva, Mariana Ceci França e Silva, Águida Maria da Silva Cunha, Patrícia de Souza Nunes, Alan Soares Bezerra e Tatiane Cristina Lorenço da Silva. 6

que estimulem o consumo do espaço urbano, além de mapear as áreas-símbolos que são trabalhadas midiaticamente e identificar as estratégias comunicativas utilizadas para o consumo dessas áreas.

2. Sobre a metodologia O marketing pode ser visto como “processo social e gerencial através do qual pessoas e grupos obtêm aquilo que necessitam e o que desejam através da criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros” (KLOTER, 2000, p. 30). Dentro da noção de posicionamento em termos de imagem e sua respectiva aplicabilidade no caso das urbes, é objetivo desta pesquisa perceber como o marketing se apresenta no contexto dos bairros históricos de Natal, Rio Grande do Norte, e quais seriam seus limites no que tange à observação do primado do interesse coletivo. Como o marketing urbano decorre da ideia de foco no desenvolvimento de uma imagem, uma percepção, um posicionamento na mente dos consumidores, as técnicas de marketing que estão sendo paulatinamente incorporadas por instituições públicas gestores urbanos buscam fixar um tipo de percepção sobre a cidade a partir de marcos. Esse tipo de percepção se baseia em imagens correntes, consolidadas no imaginário7 dos cidadãos ou visitantes, e são essas imagens que buscamos captar. Assim, como primeiro procedimento realizamos leituras e fichamentos das bibliografias de apoio a esta investigação. Na segunda etapa realizamos incursões em campo para a observação e registro fotográfico, além de entrevistas e coleta de material impresso. O período de recorte deste estudo corresponde a 01/08/2015 a 03/07/2016. O corpus da pesquisa corresponde aos três bairros referenciais da cidade de Natal: Rocas, Ribeira e Cidade Alta. Neles, os principais corredores de trânsito e de fluxo de pedestres serão cartografados, conforme sugere Martín Barbero (1997), de modo a destacar a paisagem urbana a partir da documentação de prédios, monumentos e movimentos culturais das pessoas que frequentam e moram nos bairros por meio da observação etnográfica e entrevista com roteiro aplicadas a uma amostragem aleatória de moradores e frequentadores de locais de consumo simbólico. Foram mapeados os principais hábitos de consumo e produção cultural de cada bairro, além dos marcadores significativos da paisagem (design urbano, estado de apresentação dos logradouros, monumentos, prédios históricos, passeatas, shows, apresentações artísticas mais

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Não é proposta deste trabalho aprofundar a discussão sobre o imaginário, mas, para referência, consultar MORIN (1997) e Castoriadis (1982).

relevantes) para identificar expressões de promoção da cidade e de aspectos da sua expressão cultural. Para cada excussão aos bairros utilizamos o roteiro de observação etnográfica com indicação de marcos da paisagem que foram descritos e fotografados; realizamos gravações de entrevistas e sons ambientes, recolhemos amostras de materiais dispersos na paisagem urbana ou doados pelos entrevistados; e elaboramos um relato por meio de diário de campo com impressões de cada observador. Além disso todos os envolvidos na pesquisa “A comunicação urbana nos centros históricos de Natal: expressões simbólicas e fluxos da cultura” participarão de encontros quinzenais durante o primeiro ano do projeto com o grupo de Estudos Transdisciplinares em Comunicação e Cultura (Marginália) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

3. Resultados e Discussões No dia 18 de março de 2016 realizamos nossa primeira visita de campo ao bairro Cidade Alta, lugar onde nasceu a capital potiguar em dezembro de 1599. Bairro localizado na zona leste de Natal próximo aos bairros do Alecrim, Rocas e Ribeira. Na ocasião da nossa visita tivemos a oportunidade de participar do evento Serenatas Luar de Natal8, que utilizou a TV local e mídias sociais digitais, como o perfil no Facebook e blogs da cidade para comunicar a respeito do evento. FIGURA 1 – Mapa (Bairro Cidade Alta)

Fonte: Google Maps. 8

Disponível em: http://serenatasluardenatal.com.br. Acesso em 13 de julh.de 2016.

O evento percorreu as principais ruas e avenidas do bairro ao som de músicas e poesias de artistas locais, passando por prédios históricos que preservam sua arquitetura original, mesmo outros estando parcialmente ou totalmente modificados, sendo, alguns destes, residências e outros funcionando como pontos de comércio como lojas de roupas, calçados, acessórios, eletrodomésticos e órgão públicos como museus e memorial, além de igrejas, escolas, bancos e cartórios. Neste sentido, Calvino (1990) diz que “se um edifício não contém nenhuma insígnia ou figura, a sua forma e o lugar que ocupa na organização da cidade bastam para indicar sua função” (CALVINO, 1990, p. 17-18), mas muitas vezes o observador tenta compreender os discursos presos naquelas estruturas arquitetônicas a partir de seu próprio repertório de vida, mudando assim os signos da estrutura. Já para Canevacci (1997) “um edifício ‘se comunica’ por meio de muitas linguagens, não somente com o observador, mas principalmente com a própria cidade na sua complexidade” (CANEVACCI, 1997, p.22). Durante a visita ao bairro Cidade Alta, nossa caminhada seguiu o roteiro definido pelo Serenatas Luar de Natal e passamos pelos pontos tido como patrimônio histórico da cidade incluindo a Igreja Santo Antônio, mais conhecida como Igreja do Galo, e pela Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, mais conhecida como Catedral Velha. Seguimos para o Memorial Câmara Cascudo e depois passamos na Praça Sete de Setembro e a Praça André de Albuquerque Maranhão, onde, para muitos historiadores, a cidade do Natal foi fundada. Passamos pelo Palácio Felipe Camarão, onde funciona a Prefeitura do Natal, pelo Espaço Cultural Palácio Potengi, que é a antiga sede do Governo e a atual sede da Pinacoteca do Estado, pela Assembleia Legislativa e pelo Tribunal de Justiça do Estado. Percebemos, assim, que para um público que não conhece a cidade os pontos trabalhados pelo Serenatas Luar de Natal ganharam visibilidade e foram considerados como pontos de referências no que tange a memória do bairro. Justamente por ser o primeiro bairro da cidade e pelos prédios e monumentos guardarem marcas e resquícios históricos desde a fundação da capital potiguar. Neste contexto, os prédios do bairro se mantêm com o passar do tempo seja por meio do comércio local ou pelas residências. Para Canevacci (1997) as cidades se comunicam com os palácios, residências, monumentos, tráfegos, organização do espaço e lojas, assim “estamos, entretanto, habituados a procurar comumente numa cidade somente a sua riqueza artística, comercial ou industrial”. (CANEVACCI, 1997, p. 36) Durante a visita percebemos que a paisagem histórica e arquitetônica do bairro Cidade Alta é preservada, mas com algumas interferências pela publicidade onde os prédios funcionam como comércio, com fachadas ocupadas por letreiros e placas sinalizadoras, além

de grafites em algumas paredes. Na Avenida Rio Branco o fluxo de pessoas era constante durante o período em que estávamos realizando o trajeto e em contrapartida as ruas paralelas eram pouco ocupadas pelos carros e pessoas. Esta rua por se uma das principais do bairro no que se refere a comercialização, os prédios são caracterizados por forte comunicação visual nas fachadas e vitrines com anúncios de promoções e propaganda. Neste sentido, para Canclini (2008), os cartazes comerciais procuram sincronizar o dia a dia com os interesses econômicos: [...] por isso são significativos os anúncios publicitários que ocultam os monumentos ou os contradizem, os grafites inscritos sobre uns e outros. Às vezes, a proliferação de anúncios sufoca a identidade histórica, dissolve a memória na percepção ansiosa das novidades incessantes renovadas pela publicidade. (CANCLINI, 2008, p. 302)

Durante a incursão identificamos que o evento Serenatas Luar de Natal, ocorrido no bairro Cidade Alta patrocinado pela prefeitura de Natal é visto como uma forma de incentivar à população a conhecer melhor a história do bairro por meio do lazer e da música. É interessante ressaltar que durante a nossa visita podemos observar que o público era em sua maioria composto por adultos vindo em casais e grupos de amigos. Raras foram às vezes em que encontramos alguém disperso utilizando algum tipo de tecnologia como, por exemplo, smartphone; pelo contrário, as pessoas se comunicavam umas com as outras diretamente face a face. Canclini (2008, p. 289) diz que “ a mídia se transformou, até certo ponto, na grande mediadora e mediatizadora e, portanto, em substituto de outras interações coletivas”. A música era composta por cantores da cidade (Ivando Monte e Silvana Martins) acompanhados pelo Grupo de Seresteiro Luar de Natal, além disso, ouvimos saraus e recitais poéticos. Outro fator interessante é que ao lado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (Campus Cidade Alta) ocorreu um evento paralelo onde o público era composto por jovens entre 15 e 20 anos e a música era eletrônica. Nossa segunda incursão ocorreu no bairro Ribeira nos dias 8 de maio e 10 de julho de 2016. A Ribeira está localizado na região leste de Natal próximo aos bairros Rocas e Cidade Alta. Ele é o segundo bairro mais antigo de Natal, nas décadas de 30 e 40 era onde funcionavam o comércio e a sede do governo. Durante a Segunda Guerra Mundial a Ribeira tornou-se um “point” para os americanos que consumiam nos bares, restaurantes e comércios. Atualmente, o bairro abrigada alguns órgãos públicos como a sede estadual da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU-RN) e o Instituto Técnico Científico de Polícia (ITEPRN).

FIGURA 2 – Mapa (Bairro Ribeira)

Fonte: Google Maps.

Em ambas as ocasiões das visitas estavam acontecendo edições do evento Circuito Cultural Ribeira9, que foi oportuno para realizamos um trabalho de campo pelas ruas históricas do bairro. Nosso trajeto começou na Rua Frei Miguelinho, onde passamos pela Casa da Ribeira, que no dia 10 de julho recebeu uma mostra de curtas potiguares onde foram exibidos os curtas “Ainda não lhe fiz uma canção de amor” e “Cuscuz peitinho”, que tiveram cenas gravadas no bairro Ribeira. Passamos também pelo Espaço Cultural Gira Dança e A BoCa Espaço de Teatro. Passamos pela Rua Chile, onde existe o Centro Cultural DoSol e o Ateliê Bar e Petiscaria, além do Galpão 29, “a cidade apresentava-se como uma mistura de estilos, um imbricado de signos, um congestionamento de tráfegos” (CANEVACCI, 1997, p. 9), com alternância de ritmos a praticamente cada passo, que não entravam em conflito entre si e sobre os quais Canevacci (1997) parecia descrever: Uma cidade se comunica com vozes diversas e todas copresentes: uma cidade narrada por um coro polifônico, no qual os vários itinerários musicais ou os materiais sonoros se cruzam, se encontram e se fundem, obtendo harmonias mais elevadas ou dissonâncias, através de suas respectivas linhas melódicas. (CANEVACCI, 1997, p. 15)

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CIRCUITO CULTURAL RIBEIRA. Sobre o projeto: É uma iniciativa do Centro Cultural DoSol e do Centro Cultural Casa da Ribeira, em parceria com o poder público e a iniciativa privada. Tem como objetivo revitalizar o bairro trazendo a população para prestigiar cultura e arte. Vem ocorrendo mensalmente, com atração diversificada e gratuita.

No prédio do Memorial Ferreira Itajubá havia uma exposição fotográfica de Ewiton Miranda de Moura, intitulada “Lateste: Um olhar sobre a cidade invisível”, que parecia percorrer as ruas como se fossem páginas escritas. A exposição fazia o espectador refletir, assim como Calvino (1990), que “a cidade diz tudo o que você deve pensar, faz você repetir o discurso e, enquanto você acredita estar visitando-a, não faz nada além de registrar os nomes com os quais ela define a si própria e todas as suas partes” (CALVINO, 1990, p.18). Para comunicação e divulgação do Circuito Cultural Ribeira foram utilizadas as mídias sociais digitais e os portais de noticiais. Identificamos também cobertura dos jornais da cidade como o Tribuna do Norte tanto antes quanto depois do evento. Durante a programação todos os espaços que estavam participando possuíam folders com mapas das ruas e suas respectivas programações, além de cartazes espalhados pelos prédios históricos. Também visitamos o bairro das Rocas que, habitado incialmente por pescadores, é um dos mais antigos da cidade. O bairro está localizado na zona leste de Natal próximo ao Rio Potengi. Nossa visita aconteceu no dia 23 de maio de 2016, às 9 horas, na feira livre do bairro que foi criada na década de 1920 e funciona até hoje, todas as segundas-feiras. Os feirantes comercializam desde frutas, legumes e verduras a carnes e roupas. FIGURA 3 – Mapa (Bairro Rocas)

Fonte: Google Maps.

Vale ressaltar que o mercado público, apesar de inaugurado no início de 2016, na ocasião de nossa visita estava praticamente sem nenhuma loja em funcionamento. Questionamos algumas pessoas a respeito deste fato e um dos motivos citado foi o alto custo do aluguel dos quiosques, que dificulta a ocupação pelos comerciantes que atuam na região.

Na feira percebemos a mais tradicional forma de falar sobre marketing e de fazer marketing na ação de pessoas que mesmo com o desconhecimento a respeito de grandes técnicas de marketing, como Mix de Marketing, análise SWOT ou sazonalidade, era criativos na forma como comunicavam seus produtos, sabendo que quem comandava a narração não era a própria voz, mas os ouvidos dos clientes e que quem os ouviam retia somente o que desejava, como o produto e o preço, por isso se repetia nessa parte; na maneira como lidavam com seus fornecedores; no nível de intimidade como atendiam os clientes; na escolha da disposição dos produtos na banca, sabendo quase que intuitivamente que as mercadorias não valem por si próprias mas como símbolos de outras coisas; e até na elaboração de promoções. Após as visitas para observações etnográficas, percebemos que nestes bairros, devido seus conjuntos arquitetônicos culturais e urbanísticos, existe a possibilidade de se aproveitar momentos e praticar atividades que não teria o mesmo sentido se realizadas em outra parte da cidade. Para Calvino (1990) “uma vez que se goza tudo o que não se goza em outros lugares, não resta nada além de residir nesse desejo e se satisfazer” (CALVINO, 1990, p.16). A população local parece não compreender isso e, em parte por um forte estímulo midiático, concentram-se em praias, bares, boates, restaurantes e shopping centers que recebem comunicação massiva da mídia, com os quais, numa metaforização da cidade como empresa, os bairros que compõem os centros históricos de Natal não conseguem competir.

4. Considerações finais Ao final do primeiro ano desta pesquisa identificamos que, no que se refere aos bairros Cidade Alta e Ribeira, as atividades culturais promovidas pelos Centros Culturais em parceria com o poder público de certa maneira contribuíram para a midiatização dos centros históricos de Natal/RN, mas apenas em função de tais eventos e não dos bairros em si, por isso é necessário uma comunicação constate que refine o olhar urbano que, de um lado, foi educado para observar a multiplicidade de signos pela ótica da mídia manipuladora, mas que por outro lado não é incapaz de decifrar o sentido de uma cultura diferente da própria cultura. Quanto as Rocas, nossa visita foi direcionada à feira livre do bairro e lá pudemos identificar o marketing dos comerciantes, que utilizam desde a forma mais primitiva da publicidade, que são os pregões, para convidar os clientes a comprarem suas mercadorias, até a disposição dos produtos nas bancas e a comunicação dos preços por meio de cartazes escritos de forma artesanal. Em contrapartida não percebemos iniciativas por parte do poder público em divulgar a história e atrações do bairro.

Concluímos que o uso das ferramentas de marketing deve focar em atrair não apenas a população de Natal, mas também os turistas que visitam nossa cidade, fazendo com que conheçam melhor a nossa história para que não haja uma irresponsabilidade simbólica da cidade para com o visitante que, por ter um olhar desenraizado, tem a possibilidade de perceber as diferenças que o olhar habituado não percebe por excesso de familiaridade, conseguindo assim enxergar além das lojas de roupas, calçados, eletrodomésticos e eletroeletrônicos que ali existem, transformando esses bairros em cartões postais da nossa cidade. Outra estratégia que poderia ser utilizada no caso das urbes é colocar as áreassímbolos no mapa, utilizando mecanismos de busca de maneira inteligente, indicando além de sua localização, seus contatos e serviços e atrações oferecidas, tudo isso de forma dinâmica, com tags que facilitassem a busca através de palavras-chave. Além de utilizar técnicas de marketing para alavancar o desenvolvimento da cidade, o poder público deve se preocupar em oferecer bons custos operacionais e adequar sua infraestrutura de qualidade de vida e recursos humanos às reais necessidades específicas da população, coisa que também pode ser feita através de um planejamento estratégico que construiria uma imagem sólida para a cidade e a promoveria positivamente para a formação de parcerias que impulsionariam seu crescimento econômico e o reavivamento de sua memória e importância histórica, bem como o bem estar da população, isto evitaria a sensação de que a percepção de cidade criada na mente dos moradores e visitantes soasse como uma maquiagem na cidade.

5. Referências BEZERRA, Alan Soares. Campina Grande e o Açude Velho – A associação de uma área símbolo à imagem da cidade: o marketing urbano na produção do espaço, 2013. 70 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) – Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Humanidades, 2013. CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. CANCLINI, Néstor G. Culturas Hibridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Ed. da universidade de São Paulo, 2008. CANEVACCI, Massimo. A cidade polifônica: ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana. São Paulo: Studio Nobel, 1997. CASTORIADIS, Cornelius. A instituição imaginária da sociedade. 5ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

DUARTE, Fábio; CZAJKOWSKI JÚNIOR, Sérgio. Cidade à venda: reflexões éticas sobre o marketing urbano. In: RAP Rio de Janeiro 41(2):273-82, Mar./Abr. 2007. Disponível em: . Acesso em: 20 de Jan. 2016. KOTLER, Philip. Administração de marketing. São Paulo: Prentice Hall, 2000. MARTÍN-BARBERO, Jesus. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1997. MORIN, Edgard. O Cinema ou o Homem Imaginário. Lisboa: Relógio d'Água Editores, 1997.

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