ISSN 2525-4936 (Versão eletrônica)
Ficha catalográfica R341
Regnellea Scientia: Revista científica da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, - vol. 1 n.1 (2014) -.– Poços de Caldas: Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, 2014Semestral ISSN 2525-4936 (Versão eletrônica)
1.Botânica 2.Zoologia I.Título CDD:580 CDU:58+59
Capa Cleome regnellii Eichl. Ilustração: Rosane de Souza Dias Série: Espécies que homenageiam Anders Fredrik Regnell
Versão Eletrônica: www.jardimbotanico.pocosdecaldas.mg.gov.
Apresentação
Revista RegnelleaScientia É um periódico científico da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, dedicado a publicações em formato de artigo científico, resenha, nota técnica e revisão bibliográfica. O nome “Regnellea” é uma homenagem ao botânico Anders Fredrik Regnell. Missão Incentivar a produção científica nas áreas ambientais. Áreas de abrangência Ecologia, Botânica, Zoologia, Agronomia, Educação Ambiental e Farmacobotânica. Submissão Artigos científicos, resenhas, notas técnicas e revisões bibliográficas, podem ser enviados em qualquer período do ano seguindo as diretrizes para autores. A avaliação é realizada aos pares e as cegas, o trabalho original tem sua autoria removida antes de ser encaminhado para um especialista. Não é necessário que o autor ou coautores possuam vínculo com a Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas.
Periodicidade A revista Regnellea Scientia possui periodicidade semestral impressa e eletrônica.
Para acessar a Regnellea Scientia (versão eletrônica): www.jardimbotanico.pocosdecaldas.mg.gov.br
Contato, normas para publicação e envio de artigos para submissão:
[email protected] Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, Rua Paulo de Oliveira n° 320 Parque Véu das Noivas, Poços de Caldas, Minas Gerais, CEP 37704-377.
Anders Fredrik Regnell
NATO IN SUECIA MDCCCVII DENATO IN CALDIS MDCCCLXXXIV NATURALIS SCIENTIAE MEDICAEQUE ARTIS ASSIDUO CULTORI MAECENATI LIBERALI
*
* Parte do epitáfio em monumento construído pelo governo sueco em 1901, homenageando Anders Fredrik Regnell no município de Caldas, Minas Gerais, Brasil.
ISSN 2525-4936 (Versão eletrônica)
SCIENTIA Revista Científica da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas
Sumário / Contents
Henri Barbosa Pecora, Aloysio Souza de Moura, Felipe Santana Machado, Guilherme Alvarenga, Leone Lacerda, Renato Gregorin. MARSUPIAIS EM TRÊS VERTENTES DA CHAPADA DAS PERDIZES, ECOTONE CERRADO - MATA ATLÂNTICA NO SUL DO ESTADO DE MINAS GERAIS...................................................................1 Ederson José Godoy, Eric Arruda Williams. AVES COM POTENCIAL DE DISPERSÃO PARA Protium heptaphyllun (Albl.) March (Burseraceae) NA ÁREA DA FUNDAÇÃO JARDIM BOTÂNICO DE POÇOS DE CALDAS, POÇOS DE CALDAS, MG....................................................................................................................................................13
Aloysio Souza de Moura, Felipe Santana Machado, Ravi Fernandes Mariano, Bruno Senna Corrêa. NOVOS REGISTROS DA INTERAÇÃO DE AVES COM RECURSOS FLORAIS DA “CORTICEIRA”, Erythrina falcata Benth., NO BRASIL....................23 Marcel Felipe Martins Lopes, Eric Arruda Williams. NOTE ABOUT THE SPECIES ( Cleome regnellii Eichl.) Cleomaceae Bercht. & J.Presl).............................................30
VOL. 3 (1):1-34
Julho/2016
MARSUPIAIS EM TRÊS VERTENTES DA CHAPADA DAS PERDIZES, ECOTONE CERRADO-MATA ATLÂNTICA NO SUL DO ESTADO DE MINAS GERAIS. MARSUPIAL IN THREE ASPECTS OF THE CHAPADA PERDIZES, ECOTONE SAVANNA - ATLANTIC FOREST IN SOUTHERN MINAS GERAIS. Henri Barbosa Pecora², Aloysio Souza de Moura¹,3, Felipe Santana Machado¹, Guilherme Alvarenga², Leone Lacerda²& Renato Gregorin² RESUMO: No sul de Minas Gerais há uma grande diversidade de habitats que determinam uma notável alternância de espécies entre diferentes fitofisionomias. A conservação dessas áreas é pertinente para a preservação da fauna associada, principalmente para o grupo dos marsupiais que demonstra potencial para bioindicação e restauração ambiental. O estudo em questão analisou três vertentes na Chapada das Perdizes com diferentes características climáticas e vegetacionais com o objetivo de apresentar uma lista preliminar da composição da comunidade de marsupiais ocorrentes no sul do estado de Minas Gerais. Palavras-chave:Didelphimorphia, Inventário, Espécies. ABSTRACT: In the south of Minas Gerais there is a great diversity of habitats that determine an important alternation of species between different vegetation types. The conservation of these areas is relevant to the preservation of associated fauna, especially for the group of marsupials, which shows potential for bioindication and environmental restoration. The current study analyzed three slopes with different climate and vegetal characteristics from Chapada das Perdizes, aiming to present a preliminary list of the composition of marsupials occurring in the southern of Minas Gerais state. Keywords:Didelphimorphia, Inventory, Species.
INTRODUÇÃO
grupo apresenta escassez de trabalhos de fauna e trabalhos básicos de inventários
A região sul do estado de Minas Gerais está situada em uma faixa ecoto-
(COSTA et al. 2005). Dentre os mamíferos de pequeno
nal entre os domínios Cerrado e Mata
porte,
destaca-se
Atlântica, onde possui uma grande
Didelphimorphia que segundo Pardinie
carência de estudos sobre a diversidade
Umetsu (2006) apresentam espécies com
taxonômica de pequenos mamíferos. Este
hábitos variados e pouco conhecidos.
1
Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Lavras, UFLA
2
Departamento de Biologia, Universidade Federal de Lavras, UFLA
3
Autor para correspondência:
[email protected]
a
ordem
Pecora, H. B. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.
Esses pequenos mamíferos são constan-
MATERIAL E MÉTODOS
temente utilizados como indicadores de
Os dados deste estudo foram obtidos
qualidade de ambiente ou indicadores de
através de três campanhas distintas, com
alterações de hábitat, (BONVICINO et
expedições de campo nas duas estações
al., 2002), pois os marsupiais possuem
do
baixa mobilidade e mortalidade, alta va-
município
riação na captura de espécies e alto en-
44º34’14”W),
demismo (PEDÓ, 2005).
(21º27’54’’S
ano
(inverno, de
verão),
Carrancas outra
em
44º39’54’’W),
uma
no
(21º35’3”S Minduri e
uma
Os marsupiais têm sua dieta composta
terceira campanha na região da Chapada
por uma ampla gama de itens, incluindo
das Perdizes (21º 40' 55" S 44º 36' 14"W)
invertebrados, frutos, pequenos vertebra-
que está localizada na divisa entre os dois
dos, ocasionalmente carniça, flores, néc-
municípios (Figura 1). Figura 1. Mapa da área de estudo, focando o ponto
tar e goma de árvores (GRIBEL, 1988,
central das coletas, a Chapada das Perdizes, em região
SANTORI et al. 1995, VIEIRA; ASTÚA 2003, ALÉSSIO et al. 2005), Tais características alimentares, fazem deste grupo, importantes agentes para a regeneração da vegetação, por realizarem a dispersão de sementes que se encontram intactas em suas fezes (ATRAMENTOWICZ, 1988). A preponderância da diversidade do ecotonal Cerrado e Mata Atlântica no sul de Minas
grupo em questão, associados com as
Gerais. Adaptado de Machado et al. (2013).
funções ecológicas, seguida da carência de pesquisa no estado de Minas Gerais,
Para a amostragem da comunidade de
demonstram a necessidade de maiores
pequenos mamíferos terrestres da região,
conhecimentos sobre a biologia destes
foram selecionadas três áreas distintas na
pequenos mamíferos. Este estudo objeti-
região ecotonal entre o Cerrado e a Mata
vou em criar uma lista preliminar de mar-
Atlântica. A descrição da vegetação é
supiais na Chapada das Perdizes no sul
similar ao descrito por Machado et al.
do estado de Minas Gerais, com o intuito
(2016a). A região estudada possui um
de promover o conhecimento, e também
relevo acidentado, com elevações que
criar bases para futuros trabalhos de bio-
variam de 900m a 1570m em relação ao
logia da conservação.
nível do mar. O clima da região pode ser ~2 ~
Pecora, H. B. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.
definido na sua maioria, segundo a
no mesmo ponto de captura. Porém, para
classificação climática de Köppen como
a confirmação de algumas espécies e
do tipo CWA, com invernos secos e ve-
obtenção de espécies testemunho, foram
rões chuvosos e temperaturas que oscilam
coletados e depositados alguns indivíduos
entre 19,3°C e 20,1°C (PEREIRA et al.
na
2007), porém o clima da Chapada das
Universidade
Perdizes se enquadra no tipo CWB para
CMUFLA.
topos de montanhas, com precipitação média
anual
de
temperatura (PEREIRA
1.529,7
média et
mm
2007,
Mamíferos
Federal
de
da
Lavras,
Em cada uma das vertentes foram instaladas três tipos de armadilhas, sendo
19,4°C
elas: Sherman, Tomahawk e Pitfall
MOURA;
dispostas em transectos lineares. Cada
CÔRREA, 2010).
um desses transectos era composto por
A área de estudo apresenta elevada diversidade
de
e
anual
al.,
Coleção
animal
pequenos
entre si, e em cada ponto foram instaladas
mamíferos terrestres (MACHADO et al.
armadilhas, uma no solo e outra no sub-
2013), morcegos (MORAS et al. 2013),
bosque (entre 1,5 e 2m de altura),
aves
2010,
dispostas de maneira em que havia
MOURA et al. 2010, MOURA, 2014),
sempre uma Sherman média (30x8x9 cm)
anfíbios (CEREZOLI 2008), e besouros
no sub-bosque, e uma Sherman grande
escarabeíneos (ALMEIDA; LOUZADA,
(45x12,5x14,5
2009).
(45x16x16 cm) no solo (Figura 2).
(MOURA;
para
pontos de armadilhagem distantes 15m
CORRÊA,
Amostragem Por este estudo se tratar de um inventário
qualitativo,
aplicar
método
o
de
optou-se
por
censo
pela
contabilização e registro da presença dos marsupiais capturados; durante as três campanhas completas. Quando capturados, os marsupiais foram cuidadosamente medidos (orelha, pé, cauda), pesados e fotografados, e posteriormente devolvidos ao ambiente
~3 ~
cm)
ou
Tomahawk
Pecora, H. B. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.
Figura 2. Armadilhas utilizadas para captura de pequenos mamíferos. A figura A na seta de cima demonstra uma armadilha de chapa (Sherman) e a seta debaixo uma armadilha de grade (Tomahawk). A figura B demonstra uma armadilha de queda (Pitfall). Foto: Aloysio S. de Moura.
Nos pontos de campos de altitude e
Análise dos dados
campos rupestres, as armadilhas também foram distribuídas em transectos lineares
Para avaliar a riqueza esperada foi
compostos por pontos de armadilhagem
utilizado
distantes 15m entre si, com duas armadi-
Jackknife
lhas por ponto, uma Sherman média
suficiência do esforço de captura da área
(30x8x9 cm), e umaSherman grande
como um todo foi observada mediante
(45x12,5x14,5
curvas de espécies Mao Tau (GOTELLI;
cm)
ou
Tomahawk
o
estimador
de
de
primeira
ordem.
COLWELL,
distantes a 1,5m uma da outra, devido
consideração uma tabela de presença e
que, estas fisionomias (campos), se
ausência.
caracterizam
de
utilizando-se o número observado de
Gramíneas, e baixa presença ou ausência
espécies, e os dados foram estimados
total de árvores e arbustos (OLIVEIRA-
utilizando 1000 randomizações, obtidas
FILHO; FLUMINHAN-FILHO, 1999,
com
OLIVEIRA-FILHO et al. 2004).
(COWELL, 2006).
predominância
~4 ~
o
Estas
levando
A
(45x16x16 cm), porém as duas no solo,
pela
2001)
riqueza
foram
programa
em
construídas
EstimateS
8.2
Pecora, H. B. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.
A análise da diversidade beta (β) foi
turnover (índice de Simpson - βsim) e
realizada por meio do estudo da dis-
fidelidade
similaridade
da
dissimilaridade de fidelidade ao sítio –
comunidade, observando a fidelidade ao
βsne). Os resultados desses índices foram
sítio e/ou turnover de espécies propostas
também demonstrados em porcentagem.
da
composição
ao
sítio
(índice
de
por Baselga (2012, 2013) e Baselga e Orme (2012). Dessa forma, verificou-se
RESULTADOS E DISCUSSÃO
se a composição de espécies é fiel ao sítio
Foram registradas para a região 11
ou se foi substituída de sítio para sítio
espécies
(turnover) baseado em uma matriz de
indivíduos capturados (Tabela 1). O total
presença e ausência. As medidas de
de espécies encontradas foi relativamente
dissimilaridade utilizadas em todos os
baixo, apesar de um esforço amostral
casos foram as versões pareadas e
relativamente
múltiplos
armadilhas/dia).
sítios
do
índice
de
de
marsupiais,
alto
com
144
(24.510
dissimilaridade Sørensen (βsor), e o
Tabela 1. Composição de marsupiais em região ecotonal Cerrado e Mata Atlântica no sul de Minas Gerais.
Espécie
CARRANCAS
Caluromys philander Linnaeus, 1758
MINDURI
CHAPADA DAS PERDIZES
X
Didelphisal biventris Lund, 1840
X
Didelphis aurita Wied-Neuwied 1826
X
Gracilinanu smicrotarsus (Wagner, 1842)
X
Marmoso psincanus (Lund, 1840)
X
X
X
Monodelphis sp.
X
X
X
Monodelphis americana (Muller, 1776)
X
X
Monodelphis domestica (Wagner, 1842)
X
X
Monodelphisi Heringi (Tomas, 1888)
X
X
X
X
Monodelphis kunsiPine, 1975
X
Thylamys velutinus (Wagner, 1842)
X
~5 ~
Pecora, H. B. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.
A curva de acúmulo de espécies e a do
A riqueza observada para a Mata
estimador de riqueza não atingiram a as-
Triste do município de Minduri foi de
síntota. A curva do estimador encontra-se
cinco espécies. Para o município de
dentro do intervalo de confiança de 95%
Carrancas,
da curva de acumulação de espécies
registradas foi sete. Enquanto que para a
geral. O valor do estimador de riqueza foi
região de elevada altitude da Chapada das
de 12,52 espécies, amostrando 83.40% da
Perdizes foi de oito espécies (Figura 4).
o
número
de
espécies
diversidade estimado (Figura 3). A curva de acúmulo de espécies e a do estimador de
riqueza
geral
não
atingiram
a
assíntota, mostrando que com o aumento do esforço amostral pode ser encontrada um número maior de espécies. A curva do estimador encontra-se dentro do intervalo
de
confiança
de
95%,
mostrando que a diversidade registrada Figura 4. Perfil ilustrativo das três áreas de estudo
está próxima da diversidade real da área
em região ecotonal Cerrado e Mata Atlântica no sul de
de estudo.
Minas Gerais.
A diversidade beta demonstrou que 36,12% (B.sne=0.25) das espécies são fiéis aos sítios de amostragem, ou seja, são característicos de uma dada vertente da Chapada. Enquanto que há 63,88% (B.sim=0.45) de turnover das espécies (Figura 5). Esse resultado demonstra a importância da preservação das diferentes vertentes da Chapada, independente do tipo
de
fitofisionomia
ou
limites
territoriais municipais, pois há uma diversidade
local
que
não
é
compartilhada. Portanto, a degradação
Figura 3. Curva de acúmulo geral de espécies e estimador de riqueza Jackknife I.
ambiental pode gerar a extinção local de um determinado grupo de espécies.
~6 ~
Pecora, H. B. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.
Didelphis albiventris se mostrou muito freqüente em todas as fisionomias, porém,esta e sua espécie congenéricaD. aurita, são mais ocorrentes em pontos, dentro da área de estudo, com grande influência antrópica, a exemplo: perímetros urbanos, arredores de fazendas e sítios e áreas de aterros sanitários (lixões), são sempre muito relatados por moradoFigura 5. Diversidade beta das áreas da Chapada
res da região.
das Perdizes, em região ecotonal no sul do estado de Minas Gerais. As siglas B.sor, B.sne e B.sim represen-
Espécies raras, como C. philander, fo-
tam os índices de beta diversidade de sorensen,
ram encontradas em baixa frequência,
nestedness e Simpson, respectivamente.
com apenas um registro para Minduri (MACHADO et al. 2013) (Figura 6A e 6B), e M. kunsi e M. iheringi(Figura 7B)
As espécies mais amostradas foram M.
somente foram encontrados nas matas
incanus com 68 indivíduos, seguida de G.
mais estruturadas e em baixa frequência.
microtarsus, M. domestica e M. ameri-
Estes registros de espécies especialistas,
cana. Monodelphis americana e T.
de hábitos mais exigentes, possivelmente
velutinus foram coletados somente na
se deve ao fato de que, em Minduri, pos-
Chapada das Perdizes e M. iheringi só foi
sui um dos últimos remanescentes de
registrado na parte baixa da Mata Triste
floresta
em Minduri. As comunidades de marsu-
estacional
semidecidual
alto
Montana, em estágio avançado de rege-
piais são normalmente estruturadas por
neração, conhecido localmente como
duas ou três espécies dominantes e várias
“Mata Triste” (OLIVEIRA-FILHO et al.
espécies raras, de forma semelhante para
2004), são aproximadamente 36ha de
as comunidades de pequenos mamíferos
área que serve como um refúgio para a
terrestres (FLEMING,1975), o que possi-
fauna local.
velmente confirmou com a alta taxa de captura de M. incanus, e reafirmou a sua alta plasticidade ambiental, pois, foi uma espécie muito presente em todas as seis fisionomias vegetacionais amostradas. ~7 ~
Pecora, H. B. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.
reflete numa menor riqueza de marsupiais (e
mesmo
outros
grupos).
Em
contrapartida, a sua outra extremidade (Carrancas) com menor precipitação, há uma maior quantidade de fitofisionomias de
cerrado
com
matas
de
galeria
relacionadas a corpos d’água. Essa paisagem gera uma fauna associada com maior
riqueza
e
composição
característica. O ponto mais elevado da coleta, denominado para este trabalho somente
Figura 6. Figuras de marsupiais capturados nas áreas de estudo. A figura A e B demonstram um C.
de
representa
philander (Minduri, MG), a figura C demonstra um D.
Chapada uma
das
Perdizes
intercessão
da
composição de ambas as vertentes e
aurita (Carrancas, MG), a figura D demonstra um D. albiventris em Tomahawk (Carrancas, MG), a figura E
apresenta uma elevada diversidade, como
demonstra um G. microtarsus (Chapada das Perdizes,
mencionado por Machado et al. (2013).
limítrofe Carracas/Minduri, MG) e a figura F
O método de armadilhamento, em
demonstra um M. americanacapturado em Pitfall (Mata
diferentes ambientes e estratos, além da
Triste, Minduri, MG). Fotos: Aloysio S. de Moura.
variação
altitudinal
amostrados,
A
refletiu
dos
pontos
positivamente
contribuindo para a alta diversidade, uma vez que as espécies possuem hábitos
B
particulares(GARDNER, 2007). Porém,o número de espécies poderia ser maior se
Figura 7. Figuras de marsupiais capturados nas áreas de estudo. A figura A demonstram um M. incanus
houvesse um esforço amostral com
(Minduri, MG) e a figura B demonstra um M. iheringi
armadilhas de dossel, e mais números de
(Minduri, MG). Fotos: Aloysio S. de Moura.
pontos de armadilhas “Pitfall” nas áreas de florestas.
As áreas de Minduri apresentam maior
Esta lista tende a aumentar muito o
precipitação orográfica, por ser a face da mar,
número de espécies, devido, a variedade
consequentemente há uma paisagem mais
de fisionomias vegetacionais presentes na
estável
região, e que não foram amostradas neste
serra
floresta,
na
direção
composta
por
do uma
monodominância
fitofisionomia.
Essa
de
grande
estudo,
uma
a
exemplo:
Florestas
de
Araucárias, Florestas com mono-domi-
monodominância ~8 ~
Pecora, H. B. et al.
nância
de
Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.
Candeia
ALÉSSIO, F.M.; MENDES PONTES,
(Eremanthussp.),
A.R. & SILVA, V.L. 2005. Feeding by
brejos e outras. CONCLUSÃO
Didelphis albiventrison tree gum in
Concluímos que, novos estudos são
northeastern Atlantic Forest in Brazil.
sugeridos,
para
profundamente
se a
conhecer
Mastozoologia Neotropical, 12(1): 53-56.
mais
composição
da
comunidade de marsupiais da região, e
ALMEIDA, S. S. P., & J. N. C.
ter uma maior compreensão sobre a
LOUZADA.
2009.
interação
comunidade
de
destes
mamíferos
com
o
Estrutura
Scarabaeinae
ambiente da região, e mesmo em outras
(Scarabaeidae:
regiões que estas espécies ocorram. Além
fitofisionomias
disso, o presente trabalho corrobora com
importância
dados de Machado et al.(2016b) que
Neotropical Entomology 38: 32–43.
Coleoptera) do para
da
em
Cerrado a
e
sua
conservação.
compila dados sobre a diversidade de mamíferos para a Chapada das Perdizes e
ATRAMENTOWICZ
demonstra
frugivorie
opportuniste
Marsupiaux
didelphidés
um
aproximadamente
número 56
espécies
de de
mamíferos.
M.
1988. de de
La trois
Guyane.
RevueD’Écologie43: 47-57.
BASELGA, A. 2012. The relationship AGRADECIMENTOS
between
species
replacement,
À FAPEMIG pelo financiamento dos
dissimilarity derived from nestedness,
projetos e bolsas de iniciação científica.
and nestedness. Global Ecology and
Ao senhor Edgar A. Cortez pelo apoio
Biogeography 21: 1223-1232.
em trabalhos de campo. Ao prefeito de Minduri Edmir pelo apoio logístico. Ao
BASELGA, A., AND C. D. L. ORME.
prof.
da
2012. betapart: an R package for the
CMUFLA, por receber os materiais
study of beta diversity. Methods in
testemunhos.
Ecology and Evolution 3: 808-812
Renato
Gregorin,
curador
BASELGA, A. 2013. Multiple site dissimilarity REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
quantifies
compositional
heterogeneity among several sites, while
~9 ~
Pecora, H. B. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.
average pairwise dissimilarity may be
population dynamics. Cambridge Univ.
misleading. Ecography 36: 124-128.
Press.
BONVICINO, C. R.; D´ÁNDREA, P. S.;
GARDNER, A. L. 2007. Mammals of
CERQUEIRA, R.&SEUÁNEZ, H. N.
South America, Vol. 1: marsupials,
1996. The chromosome of Nectomys
xenarthrans, shrews, and bats. Chicago
(Rodentia, Cricetidae) with 2N=52, 56,
and London: The University of Chicago
and interspecific hybrids (2N=54). Cyto-
Press. 669 p.
geneticsandCellGenetics 73: 190-193. GOTELLI, N. J. & COLWELL, R. K. CEREZOLI, J. P. M. 2008. Anurofauna
2001.
Quantifying
em riachos de fragmentos florestais da
procedures
Chapada das Perdizes, sul de Minas
measurement and comparison of species
Gerais. Universidade Federal de Lavras,
richness. Ecological Letters 4: 379-391.
and
biodiversity:
pitfalls
in
the
Dissertação. GRIBEL, R. 1988. Visits of Caluromys COSTA, E. P; LEITE Y. L. R; MENDES
lanatus(Didelphidae)
S.
Pseudobom
L.;
DITCHFIELD,
A.
D.
to
flowers
of
baxtomentosum
2005.Mammal Conservation in Brazil.
(Bombacaceae): a probable case of
Conservation Biology 19:672–679.
pollination by marsupials in central Brazil. Biotropica 20: 344-347.
COWELL, R. K. 2006. EstimateS: statistical estimation of species richness
MACHADO, F. S.; GREGORIN, R. &
and shared species from samples, Version
MOUALLEM, P. S. B. 2013. Small
7.0,
Guide
User’s
University
of
and
application.
Connecticut,
mammals
USA.
in
phytophysiognomies
high in
altitude southeastern
Disponívelem:
Brazil: are heterogeneous habitats more
http://viceroy.eeb.uconn.edu/estimates.
diverse? BiodiversityandConservation1: 1-16.
FLEMING, T. H. 1975. The role of small mammals in tropical ecosystems, In:
MACHADO, F. S.;FONTES, M. A.
GOLLEY,
L.;SANTOS,
K.
P.;
RYSZKOWSKI,
L.Small mammals: their productivity and
R.
M.;GARCIA,
P.
O.;FARRAPO, C.2016a. Tree diversity
~10~
Pecora, H. B. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.
of small forest fragments in ecotonal
MOURA, A. S. 2014. Registro de um
regions: why must these fragments be
novo
preserved?.
Phibalura
Biodiversity
and
item
alimentar flavirostris.
na
dieta
de
Atualidades
Conservation 3: 1-13.
Ornitologicas 178: 24-25.
MACHADO, F. S.;MOURA, A. S.;
OLIVEIRA-FILHO,
A.T.
SANTOS, K. K.; MENDES, P. B.;
FLUMINHAN-FILHO,
M.
ABREU, T. C. K. &FONTES, M. A. L.
Ecologia da vegetação do Par que
2016b.
Florestal Quedas do Rio Bonito. Cerne 5:
Registros
ocasionais
de
mamíferos de médio e grande porte na
& 1999.
51-64.
microregião de Lavras e São João del Rei, Campo das Vertentes, Minas Gerais.
OLIVEIRA-FILHO, A.T.; CARVALHO,
Revista Agrogeoambiental, no prelo.
D.A.; FONTES, M.A.L.; VAN DEN BERG, E.; CURI, N. & CARVALHO,
MORAS, L. M., E. BERNARD, & R.
W. A. C. 2004. Variações estruturais do
GREGORIN. 2013. Bat assemblages at a
compartimento arbóreo de uma floresta
high-altitude area in the Atlantic Forest
semidecídua alto-montana na chapada
of
das Perdizes, Carrancas, MG. Revista
southeastern
Brazil.
Journalof
Neotropical Mammalogy 20: 269-278.
Brasileira de Botânica 27(2): 291-309.
MOURA, A. S. & CÔRREA, B. S. 2010.
PARDINI, R.; UMETSU, F. Pequenos
Aves ameaçadas e alguns registros
mamíferos
notáveis para Carrancas, sul de Minas
Florestal do Morro Grande – distribuição
Gerais, Brasil. Atualidades Ornitológicas
das espécies e da diversidade em uma
165: 04-08.
área de Mata Atlântica. Biota Neotropica,
não-voadores
da
reserva
v. 6, n.2, 2006. MOURA, A. S., CORRÊA, B. S. & SANTOS, K. K. 2010. Primeiro registro
PEDÓ, E. 2005. Assembleia de pequenos
de leucismo em saíra-viuva Pipraeidae
mamíferos não-voadores em áreas de
melanonota (Passeriformes: Thraupidae)
ecótono Campo e floresta com Araucária
no
na região dos campos de cima da serra,
sul
de
Minas
Gerais,
Brasil.
Atualidades Ornitologicas 158: 6-7.
Rio Grande do Sul. Dissertação de mes-
~11~
Pecora, H. B. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.
trado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
PEREIRA, J. A. A.; OLIVEIRA-FILHO, A. T. &LEMOS-FILHO, J. P. 2007. Environmental
heterogeneity
and
disturbance by humans control much of the tree species diversity of Atlantic montane forest fragments in SE Brazil. Biodiversity Conservation.
SANTORI, R.T.; DE MORAES, D.A. & CERQUEIRA, R. 1995. Diet composition of
Metachirusnudi
Didelphis
aurita
caudatus
and
(Marsupialia,
Didelphoidea) in southeastern Brazil. Mammalia 59: 511-516.
VIEIRA, E.M. & ASTÚA DE MORAES, D. 2003. Carnivory and insectivory in neotropical marsupials. Pp. 271-284. In: M. JONES; C. DICKMAN & M. ARCHERS
(Eds).
Predators
with
pouches: the biology of carnivorous marsupials.
Collingwood,
CSIRO
Publishin.
~12~
.
AVES COM POTENCIAL DE DISPERSÃO PARA Protium heptaphyllun (Albl.) March (Burseraceae) NA ÁREA DA FUNDAÇÃO JARDIM BOTÂNICO DE POÇOS DE CALDAS, POÇOS DE CALDAS, MG BIRDS WITH DISPERSION POTENCIAL FOR Protium heptaphyllun (Albl.) March
(Burseraceae) WITHIN THE AREA OF BOTNICAL GARDEN FOUNDATION OF POÇOS DE CALDAS, POÇOS DE CALDAS, MG 1
Ederson José Godoy & 2Eric Arruda Williams
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo avaliar o comportamento de aves com potencial para dispersão da Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand (Burseraceae), às margens do Ribeirão das Antas dentro da área I da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, Poços de Caldas, Minas Gerais, Brasil. A área é composta por Floresta Estacional Semidecidual Fascies Aluvial em diferentes fases de regeneração, dentro do bioma da Mata Atlântica. Foram analisados três indivíduos em três ambientes distintos, durante 66 horas, 22 horas para cada indivíduo, dividido em quatro seções de três horas durante a manhã (07h às 10h) e duas horas e meia a tarde (16h às 18h30min), realizados entre os dias 7 de janeiro e 3 de fevereiro de 2015. No período de amostragem foram verificadas 18 espécies, distribuídas em 06 famílias, interagindo com as plantas 26h e 35min, consumido um total de 2.154 frutos. Foi determinado o Potencial de Dispersão e os resultados indicaram a espécie Zonotrichia capensis com maior potencial (P.D=0,89). Também foi determinada a Taxa de Consumo, indicando a espécie Psittacara leucophthalmus com o maior consumo (TC=128,50), cujo Potencial de Dispersão foi desconsiderado por ter sido amostrada predando frutos. Dos três espécimes de P. heptaphyllum amostrados, o espécime 1, encontrado mais exposto, recebeu o maior número de visitantes mesmo sendo um espécime jovem e com uma carga menor de frutos. Palavras chaves: Protium heptaphyllum, dispersão, avifauna, frutos. ABSTRACT: This study aims to evaluate the behavior of birds with potential for dispersion of Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand (Burseraceae), at the Ribeirão das Antas margins within the area I of the Botanical Garden Foundation of Poços de Caldas, Poços de Caldas, Minas General, Brazil. The area consists of Semideciduous Alluvial Facies Forest in various stages of regeneration, within the Atlantic Forest biome. Three individuals were analyzed in three distinct environments for 66 hours, 22 hours for each individual, divided into four sections of three hours in the morning (7 to 10 am) and two and a half hours in the afternoon (16 to 18h30min), conducted between January 7 and February 3, 2015. During sampling, 18 species were found belonging to 06 families, interacting with the plants during 26h and 35mim and consuming a total of 2,154 fruits. It was determined the dispersion potential and the results indicated the Tachyphonus coronatus as the species with the greatest potential (P.D=0,89). The consuming rate was also determined, indicating the Psittacara leucophthalmus with the highest consumption (TC = 128.50), whose dispersion potential was disregarded for being sampled as preying on the fruit. From the three sampled specimens of P. heptaphyllum, the specimen 1, found more exposed, received the highest number of visitors regardless of it being a young specimen with a reduced load of fruits. Key Words: Protium heptaphyllum, dispersion, avifauna, fruits.
1
Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas. Email:
[email protected]
2
Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas. Email:
[email protected]
.
INTRODUÇÃO Segundo
Galetti
&
Francisco
(2002), 50 a 90% das espécies arbóreas en-
características
indicam
uma
excelente
opção
plantios
em
área
de
trabalho
foi
para
regeneração (LORENZI 2002).
contradas em Florestas Tropicais são
O
objetivo
deste
dispersas por vertebrados, sendo que as
determinar as aves com Potencial de
aves frugívoras representam 56% das aves
Dispersão da espécie P. heptaphillum e
do mundo (PIZO, 2011). Mesmo aves
qualificar sua contribuição em possíveis
pertencentes a diferentes estruturas tróficas
trabalhos recuperação de áreas degradadas.
incluem frutos em sua dieta, inferindo que essa troca entre aves e plantas é essencial ao conhecimento científico, pois, esta interação
mutualística
O estudo foi realizado em Floresta
um
Estacional Semidecidual Facies Aluvial
processo fundamental na manutenção e
localizada na margem direita do Ribeirão
regeneração das comunidades vegetais
das Antas na área I da Fundação Jardim
(ALVES et al., 2011).
Botânico de Poços de Caldas, Minas
Protium
constitui
MATERIAIS E MÉTODOS
heptaphyllun
(Albl.)
Gerais, Brasil. A vegetação na área de
Marché uma árvore dióica de flores
estudos
avermelhadas, seus frutos são cápsulas
regeneração,
deiscentes, com uma a três sementes que
sucessionais
ao abrir exibe arilo branco adocicado,
regeneração conforme as descrições da
muito apreciado pelas aves (MATOS, 1997
RESOLUÇÃO CONAMA nº 392 de 2007.
apud SANTOS 2011), suas sementes são
Três indivíduos de P. heptaphyllum
castanhas medindo de 1,5 a 2 cm de
foram amostrados com equidistância de
comprimento,
50m conforme Francisco &Galetti (2002).
com
cotilédones
encontra-se
em
apresentando iniciais
estágios
avançados
espécie possui ampla distribuição no
ambiguidades
Brasil, ocorrendo preferencialmente em
texto, optamos por utilizar o substantivo
terrenos arenosos e úmidos de matas
“espécime”
ciliares úmidas, bem como em matas
referirmos a P. heptaphyllum. O espécime
primárias e secundárias. P. heptaphyllum
1 encontra-se em área de regeneração
floresce durante agosto e setembro, sendo
inicial a 45 metros da margem do curso
dispersa
d’água, ca. 3 m de altura e DAP (Diâmetro
frugívoras,
tais
no
evitar
de
Com
aves
de
de
contorduplicados (CARVALHO 2006). A
por
intuito
e
fase
possíveis
desenvolvimento
somente
1
Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas. Email:
[email protected]
2
Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas. Email:
[email protected]
quando
do nos
Godoy, E. J. & Williams, E. A.
Altura
do
Peito)
Regnellea Scientia 3 (1) : 13-22, 2016.
de
7,32
cm
Foram amostradas todas as espécies de
(21°46'37.84"S / 46°37'10.06”O WGS 84);
aves com eventual potencial de dispersão
o espécime 2 está localizado à 2 metros da
para P. heptaphyllum, pelo método Ad
margem do Ribeirão em área de estágio
libitu,anotando todos os indivíduos que
avançado de regeneração, ca. 4 m de altura
forragearam. O método de forrageamento,
e DAP de 9,23 cm (21°46'36.94"S /
o tempo exato de cada visita e o número de
46°37'9.67” O) e o espécime 3 está locali-
frutos consumidos também foi registrado,
zado à 5 metros da margem do Ribeirão
conforme metodologia proposta por Pizo
em área de regeneração secundária tardia,
(1997) e Galetti et al. (2003) apud Pereira
ca. 17 m de altura e DAP de 21 cm,
et al (2014).
(21°46'35.67"S / 46°37'7.00” O) (figura 1).
A
ave
com
maior
Potencial
de
Dispersão (PD) foi descoberta a partir da eficiência de consumo, calculada pela razão entre a média de frutos consumidos e o tempo de permanência na planta (MOTTA-JÚNIOR & LOMBARDi, 1990; SCHUPP,
1993;
MELO,
2003
apud
AMÂNCIO & MELO, 2006). A taxa de consumo (TC) foi feita dividindo os frutos consumidos pelo número de visitas de cada espécie de ave amostrada, conforme Motta-Júnior & Lombardi (1990), Schupp (1993) e Lengendre & Legendre (1983). Figura 2: Área de estudo.
Além das estimativas de potencial de dispersão (PD) e taxa de consumo (TC) foram
O esforço amostral foi de 66 horas, 22
registrados
os
métodos
forrageamento, sendo:
horas em cada espécime, dividido em
DM= ” Mandibulou” o fruto dispersando
quatro seções de três horas no período da
sob a planta mãe;
manhã, das 07 h às 10 h e duas horas e
DT= Transporte da semente longe da
meia no período da tarde, das 16 h as 18 h
planta mãe;
30 m, realizados entre os dias 07 de janeiro
Pred.= Predou as sementes.
a 03 de fevereiro de 2015.
~15~
de
Godoy, E. J. & Williams, E. A.
Regnellea Scientia 3 (1) : 13-22, 2016.
As observações foram feitas a uma
s nos espécimes amostrados, consumindo
distância de 20 a 30 m da planta, com
361 frutos. No entanto a Zonotrichia
binóculo Nikon 8x42 e o tempo foi crono-
capensis conseguiu melhor aproveitamento
metrado por um celular MotoG.
(PD=0,89), podendo ser considerada, nessa perspectiva, a espécie com maior eficiência
RESULTADOS E DISCUSSÃO
de dispersão. A maior taxa de consumo foi
Os três espécimes de P. heptaphyllum
dePsittacara
leucophthalmus
(128,50),
na área de estudos demonstraram ser
porém, foi a única espécie registrada que
generalistas quanto à atração de aves,
predou
produzindo grandes quantidades de frutos
dispersora
durante um longo período de tempo.
considerada no cálculo de potencial de
Características que são apresentadas por
dispersão (Tabela 1).
espécies de sucessão secundária (SNOW,
sementes, e,
por
portanto,
não
conseguinte,
é não
Considerando individualmente os três
1976) (Figura 2).
indivíduos de P. heptaphyllum amostrados, houve maior interação com o espécime à borda (espécime 1), resultado análogo a outros estudos com espécies vegetais distintas (THOMPSON & WILLSON, 1978; RESTREPO et al., 1999; GALETTI et al., 2003). Para o espécime 1, foram registradas 244 visitas, num total de 9 h 38 min, onde foram consumidos 620 frutos. A espécie
Figura 2. Frutos da P. heptaphillum
Zonotrichia capensis apresentou melhor Foram registradas 493 visitas por aves,
potencial
de
dispersão
(PD=0,87),
de 18 espécies, pertencentes a 6 famílias,
consumindo 86 frutos em 44 visitas,
obtendo
permanecendo na planta 41 min 42 s.
a
família
Thraupidae
maior
representatividade, totalizando 10 espécies.
No espécime 2, ocorreram 199 visitas,
O total cronometrado de interações foi
com total cronometrado de 11 h 14 min 53
de 26 h 35 min, onde foram consumidos
s, onde foram consumidos 778 frutos. As
2.154 frutos. A espécie Tachyphonus
espécies Tangara cayana e Pitangus
coronatus apresentou o maior número de
sulphuratus
visitas (110) permanecendo 3 h 46 min 45
potencial de dispersão (PD=0,5), porém,
~16~
apresentaram
o
maior
Godoy, E. J. & Williams, E. A.
Regnellea Scientia 3 (1) : 13-22, 2016.
T.cayana fez 18 visitas, consumindo 74
dispersando a semente sob a planta-mãe.
frutos, permanecendo na planta 26 min 28
Essa curta permanência de P. sulphuratus é
s, enquanto P. sulphuratus fez 07 visitas,
favorável ao sucesso da dispersão, pois
consumindo 17 frutos, permanecendo na
quanto
planta 5 min 47 s, esse período de
permanecer na planta-mãe, menores as
interação menor é consequência de P.
chances das sementes serem eliminadas
Sulphuratus
sob a mesma (JANZEN, 1980).
engolir
frutos
inteiros,
menos
tempo
o
dispersor
enquanto T.cayana “mandíbula” o fruto
Tabela 1. Lista de espécies de aves e interações Total de horas visitadas
Total de frutos consumidos
Total de visitas
Modo de cons.
ΣTC
ΣPD
5 h 7 min
378
110
DM+DT
12,55
0,06
Saltator similis
3 h 46 min 54 s
361
74
DT
22,75
0,52
Tangara cayana
1 h 30 min 07 s
174
51
DM
15,32
0,60
Tangara cyanoventris
1 h 24 min 55 s
95
12
DM
16,07
0,08
Tangara sayaca
23 min 12 s
46
16
DM
3,36
0,23
Coereba flaveola
3 h 25 min 11 s
67
51
DM
3,95
0,25
53 min 08 s
100
54
DM+DT
2,73
0,89
1 h 26 min 17 s
7
5
DM
1,40
0,00
Dacnis cayana
4 min 32 s
7
5
DM
6,25
0,09
Thlypopsis sórdida
12 min 47 s
26
12
DM
3,63
0,18
5 h 59 min 57 s
235
46
DM
23,55
0,11
Pitangus sulphuratus
15 min 07 s
22
9
DT
8,40
0,08
Legatus leucophaius
8 min 21 s
13
8
DT
3,67
0,15
Turdus leucomelas
17 min 31 s
25
8
DT
5,00
0,11
Elaenia flavogaster
4 min 58 s
2
4
DT
0,00
0,00
Turdus rufiventris
37 min 41 s
68
24
DT
5,13
0,47
1 min 07 s
1
1
DT
1,00
0,01
48 min 08 s
514
4
Pred.
128,50
0,18
Família \ espécie Thraupidae Tachyphonus coronatus
Zonotrichia capensis Conirostrum speciosum
Fringillidae Euphonia violacea Tyrannidae
Turdidae
Tityridae Pachyramphus validus Psittacidae Psittacara leucophthalmus
~17~
Godoy, E. J. & Williams, E. A.
Regnellea Scientia 3 (1) : 13-22, 2016.
No espécime 3, foram registradas
semente ao solo sob a planta mãe. Como
apenas 56 visitas, num total de 3 h 41 min
observado por Franscisco & Galetti (2002)
58 s de permanência na planta, onde foram
e Levey (1987) (Figura 5). De acordo com
consumidos 756 frutos. A espécie que
Sick (1997) e Moermond & Denslow
apresentou maior interação foi Saltator
(1983) apud Guimarães (2003), espécies
similis, com 32 visitas, permanecendo na
de aves que “mandibulam” frutos não são
árvore 2 h 7 min 27 s, consumindo 176
dispersoras eficientes, já que os frutos
frutos, com (PD=0,02), porém o Pitangus
caem sob a planta-mãe, dificultando o
sulphuratus obteve o melhor Potencial de
recrutamento, pois, segundo Janzen (1970)
Dispersão com (PD=0,04) mesmo fazendo
e Howe et al. (1985) estas sementes quase
apenas 3 visitas no espécime.
sempre estão fadadas ao não recrutamento
Das aves amostradas a Zonotrichia
em consequência da competição.
capensis, foi considerada a espécie com o melhor
potencial
de
dispersão
com
(PD=0,89), mesmo não fazendo nenhuma visita no espécime 3. A espécie também mostrou
forrageamento
diferenciado,
sendo a única espécie que levou o fruto para “mandibular” longe da planta-mãe fazendo dele assim um dispersor eficiente. Figura 5.Tachyphonus coronatus(dir.), Tangara sayaca (esq. superior), Euphonia violaceae(esq. inferior) dispersando sementes na planta-mãe (dir. inferior).
CONCLUSÃO P. heptaphyllum demonstrou ser uma espécie generalista quanto à atração de aves, produzindo grandes quantidades de Figura 3.Forrageamento da Zonotrichiacapensis
frutos relativamente pequenos, durante um longo
Das
aves
que
visitaram
os
três
período
de
tempo,
atraindo
principalmente aves de pequeno porte, a
exemplares de P. heptaphyllum, 33%
exemplo da família Thraupidae. Dos três
“mandibularam” o fruto dispersando a
espécimes de P. heptaphyllum amostrados
~18~
Godoy, E. J. & Williams, E. A.
Regnellea Scientia 3 (1) : 13-22, 2016.
o indivíduo mais exposto (espécime.1)
mesmo em situação de isolamento, o que é
mesmo sendo um indivíduo jovem e com
fundamental na manutenção e regeneração
uma carga menor de frutos comparada ao
das comunidades vegetais e no equilíbrio
outros indivíduos amostrados, obteve o
ecológico.
maior número de visitas 244 (49%), enquanto o espécime mais adentro na mata
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ciliar (espécime.3) recebeu apenas 56 (11%)
visitantes,
(40%)
ALVES, M. A .S., M. B. VECCHI, V. C.
intermediário
TOMAZ & A. J. PIRATELLI (2011) O
assim
uma
impacto de vertebrados terrestres sobre a
relação positiva quanto ao isolamento na
comunidade vegetal: aves como exemplos
atração de aves dispersoras, aves estas
de estudo, p. 91-108. In: Del-Claro, K. &
predominantemente frugívoras-onívoras do
H.M.T. Silingard (orgs.). Ecologia das In-
estrato médio e dossel da floresta (FODF)
terações Plantas-Animais – uma aborda-
(ver tabela 1).
gem ecológica-evolutiva. RJ, Rio de Ja-
visitantes
do
(espécime.2),
contra
espécime mostrando,
119
Das 18 espécies de aves que
neiro.
interagiram com a P. heptaphyllum a que obteve o melhor Potencial para Dispersão
AMÂNCIO, S. & C. MELO (2008) Frugi-
(P.D=0,89)foi Zonotrichia capensis que
voria por aves em bordas de fragmentos
mesmo não apresentando o maior número
florestais, Uberlândia – MG. Horizonte
de visitas, foi mais
como
Científico 1: 1-20 Instituto de Biologia da
dispersora, sugerindo ser uma espécie
Universidade Federal de Uberlândia. Dispo-
importante na dispersão.
nível
eficiente
Z. capensis
em:
também foi a única espécie que levou os
http://www.seer.ufu.br/index.php/horizonte
frutos para mandibular longe da planta
cientifico/article/viewFile/3914/2916.
mãe, demonstrando sua eficiência como
Acesso em: 13/06/2016.
agente colaborador em
processos
de
sucessão ecológica. Perante
tais
AMÂNCIO, S.& C. MELO, 2006, Uberconstatações
foi
lândia-MG, PEREIRA, C C.; SOARES, F
possível verificar que a P. heptaphyllum é
F S.; FONSECA, R S. & D’ÂNGELO
uma espécie importante na recuperação de
NETO, S. Frugivoria e Dispersão por Aves
áreas degradadas, atraindo aves dispersoras
das Sementes de Erythroxylum suberosum
~19~
Godoy, E. J. & Williams, E. A.
Regnellea Scientia 3 (1) : 13-22, 2016.
A.St.-Hil. (Erythroxylaceae) no Cerrado
de semente de Ocotea pulchella Mart.
Brasileiro. Atualidades Ornitológicas, 182,
(Lauraceae) numa área de vegetação de
novembro e dezembro de 2014
cerrado do sudeste brasileiro. Revista Brasileira de Botânica 25: 11-17.
BRUMMELHAUS.J.;
WEBER
.J.
&
PETRY, M. V. 2012. A influência da frag-
FRANCISCO. R.M. & GALLETTI, M.
mentação da mata ciliar sobre a avifauna
2002. Aves como potenciais dispersoras de
na Bacia Hidrográfica do Rio Caí, Rio
Ocottea pulchella Mart. (Lauraceae) numa
Grande do Sul, Neotropical Biology and
vegetação de Cerrado do Sudeste Brasili-
Conservation
leiro, Revista Brasil Bot. V25,n Pag. 11-
2012
©
7(1):57-66,
2012
by
january-april
Unisinos
-
doi:
17, São Carlos, SP 2002.
10.4013/nbc.2012.71.08 GUIMARÃES, M. A. 2003. Frugivoria por CARVALHO, P. E. R. 2006. Espécies Ar-
aves
em
Tapirira
guianensis
bóreas Brasileiras, Vol.2, Embrapa, Brasí-
(Anacardiaceae) na zona urbana do muni-
lia, DF 2006.
cípio de Araruama, estado do Rio de Janeiro, sudeste brasileiro, Atualidades Or-
CONAMA nº 392, de 25 de junho de 2007
nitológicas – N. 116, nov/dez 2003, pág.
Publicada no DOU nº 121, de 26 de junho
12.
de 2007, Seção 1, páginas 41-42 disponível em:http://www.mma.gov.br/port/conama/le
HOME,
H.F.
1993.
Specialized
and
giabre.cfm?codlegi=537
generalized dispersal systems: Where does “The paradigm” Stand? Vegetatio 107/108
CBRO. 2014. Lista da Avifauna brasileira.
3; 13.
Disponível em JANZEM, D.H. 1970. Herbivores and the DUARTE, C. F.; BERGALLO, H.G. &
number of tree species in tropical forests.
DOS SANTOS, M. A.,(eds.). Biologia da
American Naturalist 104: 501-528.
Conservação: essências. Editorial Rima, São Paulo, Brasil.
JENNIFER M.; CRAMERA, B.; RITA C.
FRANCISCO, M.R. & M. GALETTI
G.;
(2002) Aves como potenciais dispersoras
WILLIAMS
~20~
MESQUITAB, ONA,
G.
&
B.
2007.
BRUCE Forest
Godoy, E. J. & Williams, E. A.
Regnellea Scientia 3 (1) : 13-22, 2016.
fragmentation differentially affects seed
Ed. pág. 92, SP: Instituto Plantarum, Nova
dispersal of large and small seeded tropical
Odessa, SP, Brasil.
trees, Article history: online 26 April 2007. PEREIRA, C. C; SOARES; F. F. S, FONJORDANO, P., M. GALETTI, M.A:
SECA, R. S & SANTOS D’ÂNGELO
PIZO, and W. R. SIlva. 2006. Ligando
NETO, 2014. Frugivoria e dispersão por
Frugivoria e Dispersão de Sementes à
aves
Biologia da Conservação. Pages 41 1-436,
suberosum A. St.-Hil. (Erythroxylaceae)
In: Duarte, C.F., Bergallo, H.G., Dos
no
Santos, M. A., and V a, A. E. (eds.).
Ornitológicas, 182, n 18 Novembro e
Biologia
dezembro de 2014.
da
Conservação:
essências.
das
sementes
Cerrado
de
brasileiro,
Erythroxylum Atualidades
Editorial Rima, São Paulo, Brasil. PIZO, M A. & GALETTI, M. 2010, MétoKRUGEL, M. M & BEHR, E. R 1999.
dos e Perspectivas da Frugivoria e Disper-
Consumo
Alchornea
são de Sementes por Aves, Ornitologia e
tripplinervia (Euphorbiaceae) por aves em
Conservação: Ciência Aplicada, Técnicas
fragmentos florestais urbanos de maringá,
de Pesquisa e Levantamento, 1° Edição,
Paraná. Biotemas 12 (1): 149- 155.
2010, Rio Claro, SP, Brasil. pág. 493-506.
LEGENDRE, L. & LEGENDRE, P. (1983)
RALDI, E. C. 2009. Interações entre aves e
Numerical ecology. Amsterdam, Elsevier.
plantas zoocóricas na Mata Atlântica: uma
419 p. (Developments in environmental
revisão bibliográfica, Universidade do Ex-
modeling, 3)
tremo Sul Catarinense – UNESC.
LEVEY, D. J. 1987. Seed Size fruit-
RESOLUÇÃO CONAMA nº 392, de 25 de
handling techniques of avian frugivores.
junho de 2007 Publicada no DOU nº 121,
The American Naturalist 129: 471, 485.
de 26 de junho de 2007, Seção 1, páginas
dos
frutos
de
41-42. LORENZI, H. 2000. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plan-
SCHERER, A.; SILVA, F. M & Baptista,
tas arbóreas nativas do Brasil. Vol. 1, 3a
L. R. M. 2007. Padrões de interações mutualísticas entre espécies arbóreas e
~21~
Godoy, E. J. & Williams, E. A.
Regnellea Scientia 3 (1) : 13-22, 2016.
aves frugívoras em uma comunidade de
WILLIAMS, E. A & LIBERALI, G. M. M.
restinga no parque estadual de Itapuã, RS,
2008. Estudo Quali-Quantitativo e trófico
Brasil. Acta Bot. Brás. Porto Alegre, v.21,
da Avifauna na Fundação Jardim Botânico
n.1, p.203-212, jan.2017.
de Poços de Caldas, Regnellea Scientia 1 (0):11-22, 2014, Poços de Caldas, MG.
SIGRIST, T. 2013. Avifauna Brasileira, Vinhedo SP Editora Avis Brasilis. SILVA, R M. 2011. Interações entre Plantas e Aves Frugívoras no Campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Instituto de Florestas. Seropédica, 2011. SILVA, R. A. R.; ARAÚJO, L. H. B.; FAJARDO, C. G & VIEIRA, F. A, 2014, UFRN/Universidade
Federal
do
Rio
Grande do Norte Distribuição espacial de Protium heptaphyllum (aubl.) march.: uma espécie arbórea dioica em um fragmento de Floresta Atlântica no nordeste do Brasil. SNOW, D. W. 1976. The web adaption: bir studies in the Americans tropics, Cornell University Press, Ney York. THONPSON, J. N. & WillSON, M. F. 1978. Disturbance and the dispersal of fleshy fruits. Science 200: 1161-1163
~22~
NOVOS REGISTROS DA INTERAÇÃO DE AVES COM RECURSOS FLORAIS DA “CORTICEIRA”, Erythrina falcata Benth., NO BRASIL NEW RECORDS OF BIRD INTERACTION TO FLORAL RESOURCES OF "BRAZILIAN CORALTREE”, Erythrina falcata Benth, IN BRAZIL
Aloysio Souza de Moura¹, Felipe Santana Machado¹, Ravi Fernandes Mariano¹ & Bruno Senna Corrêa²
RESUMO: A “corticeira”, Erythrina falcata Benth., é uma árvore comum em florestas neotropicais e anualmente produz milhares de flores por período reprodutivo. Estudos conduzidos anteriormente mostram que uma grande variedade de aves utilizam dos seus recursos florais. Este estudo objetivou em acrescentar novas espécies de aves a esta lista. Palavra-chave: Interação animal-planta, avifauna, flores. ABSTRACT: The "Brazilian coral tree”,Erythrina falcata Benth., is a common tree in neotropical forests and annually it produces thousands of flowers each breeding season. Previously conducted studies show that a wide variety of birds useits floral resources. This study aimed to add new bird species to this list. Kew words: Animal-plant interaction, birds, flowers.
INTRODUÇÃO
deste gênero como alimento alternativo
A “corticeira”, Erythrina falcata Benth.,
para
a
avifauna
(MORTON,
1979;
é uma árvore de grande porte que ocorre
FEINSINGER et al., 1979; VITALI-
em alguns países da America do Sul:
VEIGA; MACHADO, 2000; COTTON,
Bolívia, Argentina, Paraguai, Peru e Brasil.
2001;
No Brasil ocorre desde o estado de Minas
PARRINI; RAPOSO, 2008; AXIMOFF;
Gerais e Mato Grosso do Sul até o Rio
FREITAS, 2009).
Grande do Sul (CARVALHO, 2003).
RAGUSA-NETTO,
2002;
Contudo, a listagem de aves que
Estudos conduzidos anteriormente revelam
interagem
um grande número de espécies de aves que
incompleta. Poucos são os trabalhos que
utilizam
abordam essa interação especificamente
de
seus
recursos
florais
e
destacam a grande relevância das florações
(e.g.
com
PARRINI;
E.
falcata
RAPOSO,
ainda
é
2008;
¹DCF UFLA - Caixa Postal 197, CEP 37200-000, Lavras, MG. ²CEFET MG, Campus IX, Av. Monsenhor Luiz de Gonzaga, 103, Centro, CEP 37 250-000, Nepomuceno, MG.
Moura, A.S. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 23-29, 2016.
AXIMOFF; FREITAS, 2009). Portanto,
O clima da região de Montes Claros,
este trabalho tem por objetivo corroborar
segundo a classificação de Köppen é
com estudos conduzidos por Parrini e
tropical semiárido (Bsh), com verões
Raposo (2008) e Aximoff e Freitas (2009),
quentes e secos e temperatura média anual
acrescentando quatro aves à lista de
de
espécies que utilizam os recursos florais da
AGRICULTURA, 1992; GUSMÃO et
planta em questão.
al.,2005). E o clima da região de Aiuruoca
24,1°C
(MINISTÉRIO
DA
se enquadra em Cwb para topos de MATERIAL E MÉTODOS
montanha, com precipitação média anual de 1.529,7mm e temperatura média anual
Os registros foram obtidos no dia 12 de
de
agosto de 2012, no município de Montes
19,4°C
(MINISTÉRIO
DA
AGRICULTURA, 1992).
Claros, norte de Minas Gerais, e no dia 25
A paisagem do município de
de junho de 2013, em Aiuruoca, sul do
Montes Claros é composta pelas seguintes
estado, durante estudos de avifauna (Figura
fisionomias
1).
Ciliares, Brejos, fragmentos de Florestas
vegetacionais:
Florestas
Para a obtenção dos registros utilizamos
Deciduais e áreas antrópicas (pastagens,
de binóculos Nikon 08X40 e 10X50 e
áreas de cultivo, plantações de Eucalipto).
câmera digital Canon SX 40 HS.
Porém, a área dos registros situa-se em um fragmento
de
Floresta
Decidual
(16°42’25,56” S e 43°48’18,67” W, 638m de
altitude).
Floresta
Brejos,
Semideciduais
Fragmentos
de
Altimontana,
Florestas Ciliares, Cerrado Sensu stricto, Campos de Altitude, Florestas Nebulares, Campos rupestres e áreas antrópicas compõem a paisagem do município de Aiuruoca. Todavia, as observações foram
Figura 1. Mapa com a área de estudo com os registros em vermelho. Ao norte o município de Montes
conduzidas em um fragmento de Floresta
Claros e ao sul o município de Aiuruoca. Em preto estão
Estacional Semidecidual Altimontana, no
áreas de observações dos estudos de Parrini e Raposo
“Sítio dos Marianos” (22°3’58,93” S e
(2008) e Aximoff e Freitas (2009).
~24~
Moura, A.S. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 23-29, 2016.
44°38’26,19” O, 1285m de altitude), na região denominada “Vale do Matutu”.
A planta estudada
O gênero “Erythrina” é composto por 110 táxons de plantas pantropicais, com sua polinização efetuada principalmente
Figura 2. Flores de Erythrina falcata, município de
por aves (FEISINGUER et al., 1979; HERNÁNDEZ; MORTON,
TOLEDO,
1979;
Montes Claros, norte do estado de Minas Gerais (Foto: Aloysio Souza de Moura).
1979;
RAVEN,
1977;
TOLEDO,
1977;
RESULTADOS E DISCUSSÃO STEINER,
1979;
TOLEDO;
Neste estudo confirma-se quatro novas
HERNÁNDEZ,
espécies de aves que usufruem dos
1979;BRUNEAL, 1997; COTTON, 2001).
recursos florais de E. falcata no Brasil
Erythrina falcata ocorre em alguns
(Tabela 1), elevando o conhecimento de 29
países da America do Sul e parte do Brasil
(Tabela 2) para 33espécies. O número de
(de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul até
espécie possivelmente tende a aumentar se
o Rio Grande do Sul). É regularmente
considerarmos a ampla área de ocorrência
encontrada em formações secundárias e
da planta em questão, e a grande diversidade de aves registradas para o
capoeiras, sendo típica nas partes baixas das
grandes
serras
com
território brasileiro (CBRO, 2014).
neblina
Muitos trabalhos entre a interação aves (CARVALHO, 2003). Floresce no período
e plantas do gênero Erythrina foram
seco (junho a setembro) (LORENZI,
conduzidos anteriormente na América do
1992), apresenta flores grandes do tipo
sul
papilionóide de cor vermelho-alaranjadas,
HERNÁNDEZ;
organizadas em centenas de inflorescências
MORTON,
(ENDRESS, 1994). Segundo Etcheverry e
STEINER,
Trucco-Aleman (2005), cada árvore produz
TOLEDO;
em média cerca de 220 mil flores ao longo
BRUNEAL,
(FEISINGUER
et
al.,
TOLEDO
1979; 1979;
1979;
RAVEN,
1977;
TOLEDO,
1977;
HERNÁNDEZ, 1997;
1979;
COTTON,
1979; 2001).
Porém, estudos da interação de E. falcata e
de um evento de floração (Figura 2).
~25~
Moura, A.S. et al.
aves
ainda
Regnellea Scientia 3 (1) : 23-29, 2016.
são
carentes
(PARRINI;
Neste estudo, o registro de aves das
RAPOSO, 2008; AXIMOFF; FREITAS,
famílias Cracidae, Psittacidae e Icteridae
2009).
consumindo os recursos florais de E.
Das quatro espécies de visitantes florais
falcata, corrobora com as mesmas famílias
registradas neste estudo, duas, Penelope
de aves anteriormente registradas por
superciliaris
Parrini e Raposo (2008) e Aximoff e
(Temminck,
1815)
e
Freitas (2009).
Eupsittula aurea (Gmelin, 1788), visitaram de forma ilegítima as flores, atuando como predadoras florais, não devendo contribuir à polinização de E. falcata (Figura 3A). Icterus pyrrhopteru (Vieillot, 1819) e Icterus jamacaii (Gmelin, 1788) visitaram as flores de forma legítima, forrageando néctar (Figura 3B), que no gênero Erytrina é acumulado no cálice (base das flores) (VITALIVEIGA; 2000;COTTON,
MACHADO, 2001),
potencialmente
contribuindo com a polinização. Krukoffe Barneby (1974) e Toledo e Hernández (1979) relatam que o gênero Figura 3. A- Eupsittula áurea (Gmelin, 1788),
Erytrina possui dois padrões básicos de
Aiuruoca, sul de MG. B- Icterus pyrrhopterus(Vieillot,
estrutura floral: com formato tubular e o
1819), Montes Claros, norte de MG. C- Icterus jamacaii
segundo padrão não tubular. Relatam
(Gmelin, 1788), Montes Claros, norte de Minas Gerais
também, que enquanto espécies do gênero
(Fotos: Aloysio Souza de Moura).
que possuem estruturas florais tubulares são
polinizadas
principalmente
por
Throchilidaes (beija-flores), as de formato não tubulares são polinizadas por vários tipos de aves, além dos beija-flores, justificando o registro das aves deste trabalho.
~26~
Moura, A.S. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 23-29, 2016.
Tabela 1. Lista de aves dos novos registros de interação de aves que usufruem dos recursos florais de E. falcata.
Família
Visitante floral
Nome popular
Recurso explorado
Montes Claros
CRACIDAE
Penelope superciliaris Temminck, 1815
Jacupemba
Flores
X
PSITTACIDAE
Eupsittula aurea (Gmelin, 1788)
Perequito-rei
Flores
Icterus pyrrhopterus (Vieillot, 1819)
Encontro
Néctar
X
Icterus jamacaii (Gmelin, 1788)
Corrupião
Néctar
X
Aiuruoca
X
ICTERIDAE
Tabela 2. Lista de visitantes florais de E. falcata conduzidos por Parrini e Raposo (2008) e Aximoff e Freitas (2009). Parrini e Aximoff e Família Visitante floral Nome popular Raposo, 2008 Freitas, 2009 CRACIDAE
Penelope obscura Temminck, 1815
PSITTACIDAE
Psittacara leucophthalmus (Statius Muller, 1776)
TROCHILIDAE
ICTERIDAE
THRAUPIDAE
8 famílias
Jacuaçu
X X
Pyrrhura frontalis (Vieillot, 1817)
Tiriba-de-testa-vermelha
X
Brotogeris tirica (Gmelin, 1788)
Periquito-rico
X
X
Brotogeris chiriri (Vieillot, 1818)
Periquito-de-encontro-amarelo
X
Pionus maximiliani (Kuhl, 1820)
Maitaca-verde
X
Phaethornis eurynome (Lesson, 1832)
Rabo-branco-de-garganta-rajada
X
Eupetomena macroura (Gmelin, 1788)
Beija-flor-tesoura
X
Florisuga fusca (Vieillot, 1817)
Beija-flor-preto
X
Stephanoxis lalandi (Vieillot, 1818)
Beija-flor-de-topete
X
Aphantochroa cirrochloris (Vieillot, 1818)
Beija-flor-cinza
X
Thalurania glaucopis (Gmelin, 1788)
Beija-flor-de-fronte-violeta
X
X
Leucochloris albicollis (Vieillot, 1818)
Beija-flor-de-papo-branco
X
X
Amazilia versicolor (Vieillot, 1818)
Beija-flor-de-banda-branca
X
Clytolaema rubricauda (Boddaert, 1783)
Beija-flor-rubi
X
Psarocolius decumanus (Pallas, 1769)
Japu
X
X
X
Cacicus chrysopterus (Vigors, 1825)
Tecelão
Cacicus haemorrhous (Linnaeus, 1766)
Guaxe
X
X X
Coereba flaveola (Linnaeus, 1758)
Cambacica
X
X
Ramphocelus bresilius (Linnaeus, 1766)
Tiê-sangue
X
Tangara sayaca (Linnaeus, 1766)
Sanhaçu-cinzento
X
Tangara cayana (Linnaeus, 1766)
Saíra-amarela
X
Dacnis nigripes Pelzeln, 1856
Saí-de-pernas-pretas
X
X
Dacnis cayana (Linnaeus, 1766)
Saí-azul
X
X
Cissopis leverianus (Gmelin, 1788)
Tietinga
X
29 espécies
~27~
Moura, A.S. et al.
Regnellea Scientia 3 (1) : 23-29, 2016.
CONCLUSÃO Concluímos
que,
C. B. R. O. 2014. Lista de aves do Brasil.
para
melhor
Disponível em: http://www.cbro.org.br.
compreensão da interação destas aves e
Acesso em 02.02. 2014.
E. falcata, novos estudos são sugeridos, pois os registros aqui apresentados foram
COTTON, P. A. 2001. The behavior and
de
durante
interactions of birds visiting Erythrina
trabalhos de inventários. Assim, este
fusca flowers in the Colombian Amazon.
trabalho teve um único intuito de
Biotropica 33:662-669.
observações
corroborar
com
ocasionais
os
poucos
dados
disponíveis de espécies de aves que
ENDRESS, P. K. 1994. Diversity and
usufruem dos recursos florais desta planta
evolutionary biology of tropical flowers.
no Brasil.
Cambridge University Press, Cambridge. ETCHEVERRY, A. V. & TRUCOALEMAN, C. E. 2005. Reproductive
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
biology of Erythrina falcate (Fabaceae: Papilionoideae). Biotropica37:54-63.
AXIMOFF, I. A. & FREITAS. L. 2009. Composição e comportamento de aves
FEINSINGER, P.; LINHART, Y. B.;
nectarívoras
falcata
SWARM, L. A.& WOLFE, J. A. 1979.
(Leguminosae) durante duas florações
Aspects of the pollination biology of
consecutivas com intensidades diferentes.
three Erythrina species on Trinidad and
Revista Brasileira de Ornitologia 17(3-4):
Tobago.
194-203.
Botanical Garden 66:451-471.
BRUNEAU, A. 1997. Evolution and
GUSMÃO, E., VIEIRA, F. A. &
homology of birds pollinated syndromes
FONSECA-JUNIOR, E.M. 2005. Bio-
in Erythrina (Leguminosae). American
metria de frutos e endocarpos de Murici
Journalof Botany 84:54-71.
(Byrsonima verbascifolia Rich. ex A.
em
Erythrina
Annals
of
the
Missouri
Juss.).Cerne 12(1): 84-91. CARVALHO, P. E. R. 2003. Espécies arbóreas
brasileiras.
v.1.
Colombo,
HERNÁNDEZ, H. M. & TOLEDO, V.
EMBRAPA. 1.039p.
M. 1979.The role of nectar robbers and
~28~
Moura, A.S. et al.
pollinators
Regnellea Scientia 3 (1) : 23-29, 2016.
in
the
reproduction
of
RAGUSA-NETTO, J. 2002. Exploitation
Erythrina leptorhiza. Annul Missouri
of Erythrina dominguezii Hassl. (Faba-
Botanical Garden 66: 512-520.
ceae) nectar by perching birds in a dry forest in western Brazil. Brazilian Journal
KRUKOFF, B. A. & BARNEBY, R. C. 1974.
A
conspectus
of
the
of Biology 62:877-883.
genus
Erythrina. Lloydia 37:332-459.
RAVEN,
P.
symposium
II.
H.
1977.Erythrina
Erythrina
(Fabaceae:
LORENZI, H. 1992. Árvores brasileiras:
Faboideae): Introduction to symposium
manual de identificação e cultivo de
II. Lloydia 40: 401-406.
plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum.
STEINER,
K.
E.
1979.
Passerine
pollination of Erythrina megistophylla MINISTÉRIO
DA
AGRICULTURA.
Diels
1992. Normas climatológicas (1961-
(Fabaceae).
Annual
Missouri
Botanical Garden 66: 490-502.
1990). Brasília: Editora do Departamento Nacional de Meteorologia.
TOLEDO, V. M. 1977. Pollination of some rain forest plants by non-hovering
MORTON,
E.
S.
1979.
Effective
birds in Veracruz, Mexico.Biotropica9:
pollination of Erythrina fusca by the Orchard
Oriole
Coevolved
(Icterus
behavioral
262-267.
spurius):
manipulation?
TOLEDO, V. M. & HERNÁNDEZ, H.
Annals of the Missouri Botanical Garden
M., 1979.Erythrina oliviae: a new case of
66:482-489.
oriole pollination in Mexico. Annual Missouri Botanical Garden 66: 503-511.
PARRINI, R. & RAPOSO, M. A. 2008. Associação entre aves e flores de duas
VITALI-VEIGA, M. J. & MACHADO,
espécies de árvores do gênero Erythrina
V. L. L. 2000. Visitantes florais de
(Fabaceae) na Mata Atlântica do sudeste
Erythrina speciosa Andr. (Leguminosae).
do Brasil. Iheringia Série Zoologia 98(1):
Revista Brasileira de Zoologia 17:369-
123-128.
383.
~29~
NOTE ABOUT THE SPECIES Cleome regnellii Eichl. (Cleomaceae Bercht. & J.Presl) NOTA SOBRE A ESPÉCIE Cleome regnellii Eichl. (Cleomaceae Bercht. & J.Presl)
Marcel Felipe Martins Lopes1& Eric Arruda Williams2
RESUMO: Apesar da espécie Cleome regnellii Eichl. ser conhecida pela ciência desde de 1870, as informações a respeito da espécie ainda são bastante restritas e mesmo sua identificação e diferenciação mediante espécies semelhantes tem sido bastante confusas. Desse modo, o presente trabalho visa implementar a descrição taxonômica da espécie, através da observação de material recente coletado bem como de espécimes preservados em herbários virtuais. Ela é encontrada exclusivamente no município de Caldas, MG, mais especificamente na Pedra Branca e na Serra do Itatiaia, RJ. Palavras-Chave: Cleome regnellii; Caldas; Pedra Branca. ABSTRACT: Even though the Cleome regnellii Eichl. species has been known by science since 1870, the information related to it is still quite sparce so that even its identification and differentiation in regard similar species have been quite confusing. The purpose of this paper is to present an implemented taxonomic description of the species, by observing recently collected material as well as preserved specimens in virtual herbariums. It occurs exclusively near the town of Caldas, in Minas Gerais state, and more specifically on Pedra Branca (White Rock Mountain), and in the Serra do Itatiaia, in Rio de Janeiro state. Key-Words: Cleome regnellii; Caldas; Pedra Branca.
INTRODUCTION
In Brazil, there are 16 species with
The genus Cleome L. is included in
wide distribution throughout the country,
the Cleomaceae family and has more than
and found in all of Brazil’s major biomes,
150
distributed
and in majority of the Brazilian states,
throughout the tropical and subtropical
but not described as occurring in the
regions with some occurrences in the
states of Tocantins, Roraima, Rio Grande
seasonal zones. Although the majority of
do Norte, and Sergipe, where their
the species are native from Africa and the
presence is yet to be recorded (Flora do
Middle East, many of them are also
Brasil, 2016). Of the 16 species, half of
found in the Western Hemisphere (ARA
them occur in the Mata Atlântica
et al., 2007).
(Atlantic Rainforest) biome, however
recorded
species
1
Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas. Email:
[email protected]
2
Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas. Email:
[email protected]
Lopes, M. F. M. & Williams, E. A.
Regnellea Scientia 3 (1): 30-34, 2016.
only three of them are exclusive from that
THE SPECIES
biome. In the Minas Gerais estate, which
Cleome regnellii Eichler Vidensk.
was the object of our focus, there are
Meddel. Naturhist. Foren. Kjøbenhavnp.
currently six recorded native species. But
190. 1870. Type: Brasil, Minas Gerais,
only one is found exclusively in the Mata
Caldas, Regnell #III.147 (Isotypes: WIS,
Atlântica biome, the Cleome regnellii
S, US, BR, LE, LD, B, K, R)
Eichl. (Flora do Brasil, 2016). The
first
recorded
Erect, bushy herb, from 45 to 65 of
centimeters high, glandular-puberulent.
Cleome regnellii was done by Anders
Whitish ramified roots. Stem ramified
Fredrik Regnell in the year of 1854 near
and
the town of Caldas in Minas Gerais state,
fastigiate,
Brazil. It was assigned collection number
trifoliolate, side leaflets 1/3 to 1/4
#III.147. It was finally described in 1870
smaller, occasionally 4 or 5 compound
as being a new species, by August
leaflets feature minimal side leaflets;
Wilhelm Eichler (Eichler,1870). Even
lanceolate oblong leaflets with both sides
though Eichler’s publication was a major
attenuated acute, rarely any petiolule,
contribution
membranous,
to
the
collection
knowledge
of
cylindric,
ending
often
in
ramous
reddish.
Leaves
delicate
camptodrome
Brazilian flora, it has recently been
pinnate venation, both sides glandular-
observed that there are difficulties in
puberulent, around 15 to 30 mm long,
identifying Cleome regnellii, due to the
side leaflets around 10 to 25 mm long
wording used in the original paper, as
(minimal leaflets around 3 to 8 mm);
well as the lack of a more carefully
petiole cylindric around 12 to 30 mm
detailed description.
long. Raceme beginning in corymb
Consequently, the purpose of this
proceeding with elongated development.
paper is exclusively to provide an
Bracts simple, from oval to suborbicular-
updated
more
elliptics, measuring up to 5mm diameter
morphologic details of Cleome regnellii,
and length, beginning at the raceme base
based on botanical material originated
and going up slowly decreasing their size,
from the typus population found in Serra
however,
da Pedra Branca, Caldas, Minas Gerais
completely. Capillary pedicel of patent
state, Brazil (coordinates 21º58’S /
anthesis, from 10 to 18mm in length.
46º22’W DATUM WGS84).
Small bisexual zygomorphic flowers,
description,
using
~ 31 ~
without
disappearing
Lopes, M. F. M. & Williams, E. A.
Regnellea Scientia 3 (1): 30-34, 2016.
Caldas, Pedra Branca, 25/11/1852, A. F. Regnell III.147 (US) (det. as C. regnellii); Caldas, 1854, A. F. Regnell III.147 (LE) (det. as C. regnellii); Caldas, 02/06/1874, A. F. Regnell III.147 (LD) (det. as C. regnellii); Caldas, 1854, A. F. Regnell III.147 (B) (det. as C. regnellii); Caldas, 1854, A. F. Regnell III.147 (K) (det. as C.
hypogynous, from 5 to 7 mm wide, subspheric
flower
lanceolate,
sparsely
buds.
Sepals
glandular-ciliary,
reflective anthesis. Petals 4, clawed at base, free, from white to rosy white, limb oval-suborbicular. Nectary disc carnous. 6 stamens and pistil a little shorter than the double of the corolla length. Anthers dosifixed,
generally
oblong.
regnellii); Caldas, n.d., A. F. Regnell III.147 (BR) (det. as C. regnellii); Caldas, 1854, A. F. Regnell III.147 (R) (det. as C. regnellii); Caldas, 1854, A. F. Regnell III.147 (BR) (det. as C. regnellii); Belo Horizonte, 45km SE of Belo Horizonte, Serra do Itabirito, 12/02/1968, F. A. Iglesias, H. Maxwell & D. C.
Ovary
unilocule, tetracarpellary, suborbicularelliptic; gynophores long and curved. Ovary and anthers proportionally long. Siliques
subfusiformcylindric
15
to
20mm long, slightly attenuated on the edge, tecaphore at the base 5 to 6mm
Specimens examined: BRAZIL, Minas Gerais: Poços de Caldas, Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas area, cultivated on material
Wasshausen 19965 (RB) (det. as C. bicolor); Belo Horizonte, 45km SE of Belo Horizonte, Serra do Itabirito, 12/02/1968, F. A. Iglesias, H. Maxwell & D. C. Wasshausen 19965 (P) (det. as C. bicolor); Januária, 15km by Road W of Januária on Road to Serra das Araras, 20/04/1973, Anderson W.R. 9216 (RB) (det. as C. bicolor). Rio de Janeiro:
brought from de Pedra Branca mountain, 21°46’39.6’’S, 46°37’09.2W, 1183m, 24.02.2016, M. F. M. Lopes 1 (AFR) (det. as C. regnellii); Caldas, Pedra Branca, 21°48’06.4’’S, 46°34’30.1’’W, 1630m, 01.03.2016, M. F. M. Lopes 2 (AFR) (det. as C. regnellii); Caldas, Pedra Branca, 22/02/1865, A. F. Regnell III.147 (WIS) (det. as C. regnellii);
Nova Friburgo, 11/1842, M. Claussen149 (P) (det. as C. bicolor), Rio de Janeiro, Restinga da Tijuca, 27/10/1946, Althon Machado 71272 (RB) (det. as C. bicolor); Rio de Janeiro, Morro dos Cabritos, 01/04/1947, Duarte 953 (RB) (det. as C. bicolor). Rio Grande do Sul: Cachoeira, 10/01/1902 Malme G. O. A. 1041 (S) (det. as C. inermes); Cachoeira,
Caldas, Pedra Branca, 22/02/1865, A. F. Regnell III.147 (S) (det. as C. regnellii);
10/01/1902 Malme G. O. A. 1041 (B) (det. as C. inermes). State not
long,
torulous,
sparsely
glandular-
pubescent. Seeds many, dark brown, cochlear to orbicular, surface covered with small longitudinal hard ribs, rough.
~ 32 ~
Lopes, M. F. M. & Williams, E. A.
Regnellea Scientia 3 (1): 30-34, 2016.
Determined: City not Determined, Organ Mountains, n.d., Gardner 309 (K) (det. as C. bicolor); City not Determined, Organ Mountains, 04/1837, Gardner 309 (BM) (det. as C. bicolor), City not Determined, Organ Mountains, n.d., Gardner 309 (GH) (det. as C. bicolor);City not Determined, Organ
species, based on the observation of
Mountains, 1838, Gardner 309 (P) (det. as C. bicolor); City not Determined, 25/06/1932, Pickel B. D. 3045 (F) (det. as C. bicolor). Extra specimens examined: Cleome rosea, no collection information, codesP06681209, P06681212, P06681190, W0058942, W0058943,
adaptations
collected specimens and material stored in some known databases (JSTOR, Reflora, IPNI, Tropicos, species Link), and the only description made in 1870 by August Wilhelm Eichler. As the original description is old and incomplete some and
inclusions
were
necessary. It is also important to note that Cleome regnellii in some databases is classified as a subspecies of Cleome rosea Vahl., which has a variety of other very similar subspecies, including Cleome inermes Malme, Cleome rosea Vahl. and Cleome
W0058951, W0058949, W0058950, W0058952, W0058946. Habitat: Species heliophyte commonly present on substrate occurring on rock outcrops, growing in the Mata Atlântica biome on high altitudes ranging from 1260m to 1824m (Image 1).
bicolor Gardner (all of them determined by Hugh H. Iltis, ranging from 1951 to 1996), each one of them being difficult to differentiate
due
to
the
lack
of
information on the genus, especially on these specific species. This causes a great
Image 1: Cleome regnellii in its natural
deal of confusion and misidentification.
environment.
Although we are not completely certain, but based on careful observation of herbarium material and the geographical occurrence of each plant, we were able to identify differences and classify our specimen as Cleome regnellii. We also decided to publish this study considering it as a species, not as a subspecies or as a
Photo by Eric Arruda Williams
variety, provided that recently it is
Comments: This is an implemented
accepted as such.
description of the Cleome regnellii Eichl.
~ 33 ~
Lopes, M. F. M. & Williams, E. A.
Regnellea Scientia 3 (1): 30-34, 2016.
Another issue we came across was the fact that there are multiple collected
Eichler,
specimens recorded as Cleome regnellii
VidenskabeligeMeddelelserfra
with different collection dates. However,
NaturhistoriskForeningiKjøbenhavn: 12 –
all of them are labeled with the same
17, p. 190.
A.
W.
1870. Dansk
collection number of III.147, which was used by Regnell in his original collection
Herbarium Specimens in JSTOR Global
in 1854.
Plants
For confirmation and clarification of the
differences
among
these
2016.
Available
in:
. Access on: 07 Mar. 2016
classifications, we recommend that a complete
review
of
the
genus
is HerbariumSpecimens
necessary, followed by a phylogenetic
in
REFLORA,
Herbário Virtual. Jardim Botânico do Rio
study. Only then we will be able to
de
confirm the existence of any possibly
Janeiro.
Available
in:
. Access on: 07 Mar.
REFERENCES
2016 Ara, H.; Khan, B. & Mia, M. M. K. 2007. A TAXONOMIC REVISION OF THE
The International Plant Names Index
GENUS
(2016).
CLEOME
L.
Available
in:
(CAPPARACEAE) IN BANGLADESH.
. Access on: 04
Bangladesh J. Plant Taxon. 14(1): 25-35.
Mar. 2016
Cleome in Flora do Brasil 2020 em cons-
Tropicos.org. Missouri Botanical Garden
trução. Jardim Botânico do Rio de Ja-
2016.
neiro.
. Access on:
Available
in:
. Access on: 04 Mar. 2016.
~ 34 ~
Available
in: