MARSUPIAIS EM TRÊS VERTENTES DA CHAPADA DAS PERDIZES, ECOTONE CERRADO-MATA ATLÂNTICA NO SUL DO ESTADO DE MINAS GERAIS.

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ISSN 2525-4936 (Versão eletrônica)

Ficha catalográfica R341

Regnellea Scientia: Revista científica da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, - vol. 1 n.1 (2014) -.– Poços de Caldas: Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, 2014Semestral ISSN 2525-4936 (Versão eletrônica)

1.Botânica 2.Zoologia I.Título CDD:580 CDU:58+59

Capa Cleome regnellii Eichl. Ilustração: Rosane de Souza Dias Série: Espécies que homenageiam Anders Fredrik Regnell

Versão Eletrônica: www.jardimbotanico.pocosdecaldas.mg.gov.

Apresentação

Revista RegnelleaScientia É um periódico científico da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, dedicado a publicações em formato de artigo científico, resenha, nota técnica e revisão bibliográfica. O nome “Regnellea” é uma homenagem ao botânico Anders Fredrik Regnell. Missão Incentivar a produção científica nas áreas ambientais. Áreas de abrangência Ecologia, Botânica, Zoologia, Agronomia, Educação Ambiental e Farmacobotânica. Submissão Artigos científicos, resenhas, notas técnicas e revisões bibliográficas, podem ser enviados em qualquer período do ano seguindo as diretrizes para autores. A avaliação é realizada aos pares e as cegas, o trabalho original tem sua autoria removida antes de ser encaminhado para um especialista. Não é necessário que o autor ou coautores possuam vínculo com a Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas.

Periodicidade A revista Regnellea Scientia possui periodicidade semestral impressa e eletrônica.

Para acessar a Regnellea Scientia (versão eletrônica): www.jardimbotanico.pocosdecaldas.mg.gov.br

Contato, normas para publicação e envio de artigos para submissão: [email protected] Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, Rua Paulo de Oliveira n° 320 Parque Véu das Noivas, Poços de Caldas, Minas Gerais, CEP 37704-377.

Anders Fredrik Regnell

NATO IN SUECIA MDCCCVII DENATO IN CALDIS MDCCCLXXXIV NATURALIS SCIENTIAE MEDICAEQUE ARTIS ASSIDUO CULTORI MAECENATI LIBERALI

*

* Parte do epitáfio em monumento construído pelo governo sueco em 1901, homenageando Anders Fredrik Regnell no município de Caldas, Minas Gerais, Brasil.

ISSN 2525-4936 (Versão eletrônica)

SCIENTIA Revista Científica da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas

Sumário / Contents

Henri Barbosa Pecora, Aloysio Souza de Moura, Felipe Santana Machado, Guilherme Alvarenga, Leone Lacerda, Renato Gregorin. MARSUPIAIS EM TRÊS VERTENTES DA CHAPADA DAS PERDIZES, ECOTONE CERRADO - MATA ATLÂNTICA NO SUL DO ESTADO DE MINAS GERAIS...................................................................1 Ederson José Godoy, Eric Arruda Williams. AVES COM POTENCIAL DE DISPERSÃO PARA Protium heptaphyllun (Albl.) March (Burseraceae) NA ÁREA DA FUNDAÇÃO JARDIM BOTÂNICO DE POÇOS DE CALDAS, POÇOS DE CALDAS, MG....................................................................................................................................................13

Aloysio Souza de Moura, Felipe Santana Machado, Ravi Fernandes Mariano, Bruno Senna Corrêa. NOVOS REGISTROS DA INTERAÇÃO DE AVES COM RECURSOS FLORAIS DA “CORTICEIRA”, Erythrina falcata Benth., NO BRASIL....................23 Marcel Felipe Martins Lopes, Eric Arruda Williams. NOTE ABOUT THE SPECIES ( Cleome regnellii Eichl.) Cleomaceae Bercht. & J.Presl).............................................30

VOL. 3 (1):1-34

Julho/2016

MARSUPIAIS EM TRÊS VERTENTES DA CHAPADA DAS PERDIZES, ECOTONE CERRADO-MATA ATLÂNTICA NO SUL DO ESTADO DE MINAS GERAIS. MARSUPIAL IN THREE ASPECTS OF THE CHAPADA PERDIZES, ECOTONE SAVANNA - ATLANTIC FOREST IN SOUTHERN MINAS GERAIS. Henri Barbosa Pecora², Aloysio Souza de Moura¹,3, Felipe Santana Machado¹, Guilherme Alvarenga², Leone Lacerda²& Renato Gregorin² RESUMO: No sul de Minas Gerais há uma grande diversidade de habitats que determinam uma notável alternância de espécies entre diferentes fitofisionomias. A conservação dessas áreas é pertinente para a preservação da fauna associada, principalmente para o grupo dos marsupiais que demonstra potencial para bioindicação e restauração ambiental. O estudo em questão analisou três vertentes na Chapada das Perdizes com diferentes características climáticas e vegetacionais com o objetivo de apresentar uma lista preliminar da composição da comunidade de marsupiais ocorrentes no sul do estado de Minas Gerais. Palavras-chave:Didelphimorphia, Inventário, Espécies. ABSTRACT: In the south of Minas Gerais there is a great diversity of habitats that determine an important alternation of species between different vegetation types. The conservation of these areas is relevant to the preservation of associated fauna, especially for the group of marsupials, which shows potential for bioindication and environmental restoration. The current study analyzed three slopes with different climate and vegetal characteristics from Chapada das Perdizes, aiming to present a preliminary list of the composition of marsupials occurring in the southern of Minas Gerais state. Keywords:Didelphimorphia, Inventory, Species.

INTRODUÇÃO

grupo apresenta escassez de trabalhos de fauna e trabalhos básicos de inventários

A região sul do estado de Minas Gerais está situada em uma faixa ecoto-

(COSTA et al. 2005). Dentre os mamíferos de pequeno

nal entre os domínios Cerrado e Mata

porte,

destaca-se

Atlântica, onde possui uma grande

Didelphimorphia que segundo Pardinie

carência de estudos sobre a diversidade

Umetsu (2006) apresentam espécies com

taxonômica de pequenos mamíferos. Este

hábitos variados e pouco conhecidos.

1

Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Lavras, UFLA

2

Departamento de Biologia, Universidade Federal de Lavras, UFLA

3

Autor para correspondência: [email protected]

a

ordem

Pecora, H. B. et al.

Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.

Esses pequenos mamíferos são constan-

MATERIAL E MÉTODOS

temente utilizados como indicadores de

Os dados deste estudo foram obtidos

qualidade de ambiente ou indicadores de

através de três campanhas distintas, com

alterações de hábitat, (BONVICINO et

expedições de campo nas duas estações

al., 2002), pois os marsupiais possuem

do

baixa mobilidade e mortalidade, alta va-

município

riação na captura de espécies e alto en-

44º34’14”W),

demismo (PEDÓ, 2005).

(21º27’54’’S

ano

(inverno, de

verão),

Carrancas outra

em

44º39’54’’W),

uma

no

(21º35’3”S Minduri e

uma

Os marsupiais têm sua dieta composta

terceira campanha na região da Chapada

por uma ampla gama de itens, incluindo

das Perdizes (21º 40' 55" S 44º 36' 14"W)

invertebrados, frutos, pequenos vertebra-

que está localizada na divisa entre os dois

dos, ocasionalmente carniça, flores, néc-

municípios (Figura 1). Figura 1. Mapa da área de estudo, focando o ponto

tar e goma de árvores (GRIBEL, 1988,

central das coletas, a Chapada das Perdizes, em região

SANTORI et al. 1995, VIEIRA; ASTÚA 2003, ALÉSSIO et al. 2005), Tais características alimentares, fazem deste grupo, importantes agentes para a regeneração da vegetação, por realizarem a dispersão de sementes que se encontram intactas em suas fezes (ATRAMENTOWICZ, 1988). A preponderância da diversidade do ecotonal Cerrado e Mata Atlântica no sul de Minas

grupo em questão, associados com as

Gerais. Adaptado de Machado et al. (2013).

funções ecológicas, seguida da carência de pesquisa no estado de Minas Gerais,

Para a amostragem da comunidade de

demonstram a necessidade de maiores

pequenos mamíferos terrestres da região,

conhecimentos sobre a biologia destes

foram selecionadas três áreas distintas na

pequenos mamíferos. Este estudo objeti-

região ecotonal entre o Cerrado e a Mata

vou em criar uma lista preliminar de mar-

Atlântica. A descrição da vegetação é

supiais na Chapada das Perdizes no sul

similar ao descrito por Machado et al.

do estado de Minas Gerais, com o intuito

(2016a). A região estudada possui um

de promover o conhecimento, e também

relevo acidentado, com elevações que

criar bases para futuros trabalhos de bio-

variam de 900m a 1570m em relação ao

logia da conservação.

nível do mar. O clima da região pode ser ~2 ~

Pecora, H. B. et al.

Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.

definido na sua maioria, segundo a

no mesmo ponto de captura. Porém, para

classificação climática de Köppen como

a confirmação de algumas espécies e

do tipo CWA, com invernos secos e ve-

obtenção de espécies testemunho, foram

rões chuvosos e temperaturas que oscilam

coletados e depositados alguns indivíduos

entre 19,3°C e 20,1°C (PEREIRA et al.

na

2007), porém o clima da Chapada das

Universidade

Perdizes se enquadra no tipo CWB para

CMUFLA.

topos de montanhas, com precipitação média

anual

de

temperatura (PEREIRA

1.529,7

média et

mm

2007,

Mamíferos

Federal

de

da

Lavras,

Em cada uma das vertentes foram instaladas três tipos de armadilhas, sendo

19,4°C

elas: Sherman, Tomahawk e Pitfall

MOURA;

dispostas em transectos lineares. Cada

CÔRREA, 2010).

um desses transectos era composto por

A área de estudo apresenta elevada diversidade

de

e

anual

al.,

Coleção

animal

pequenos

entre si, e em cada ponto foram instaladas

mamíferos terrestres (MACHADO et al.

armadilhas, uma no solo e outra no sub-

2013), morcegos (MORAS et al. 2013),

bosque (entre 1,5 e 2m de altura),

aves

2010,

dispostas de maneira em que havia

MOURA et al. 2010, MOURA, 2014),

sempre uma Sherman média (30x8x9 cm)

anfíbios (CEREZOLI 2008), e besouros

no sub-bosque, e uma Sherman grande

escarabeíneos (ALMEIDA; LOUZADA,

(45x12,5x14,5

2009).

(45x16x16 cm) no solo (Figura 2).

(MOURA;

para

pontos de armadilhagem distantes 15m

CORRÊA,

Amostragem Por este estudo se tratar de um inventário

qualitativo,

aplicar

método

o

de

optou-se

por

censo

pela

contabilização e registro da presença dos marsupiais capturados; durante as três campanhas completas. Quando capturados, os marsupiais foram cuidadosamente medidos (orelha, pé, cauda), pesados e fotografados, e posteriormente devolvidos ao ambiente

~3 ~

cm)

ou

Tomahawk

Pecora, H. B. et al.

Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.

Figura 2. Armadilhas utilizadas para captura de pequenos mamíferos. A figura A na seta de cima demonstra uma armadilha de chapa (Sherman) e a seta debaixo uma armadilha de grade (Tomahawk). A figura B demonstra uma armadilha de queda (Pitfall). Foto: Aloysio S. de Moura.

Nos pontos de campos de altitude e

Análise dos dados

campos rupestres, as armadilhas também foram distribuídas em transectos lineares

Para avaliar a riqueza esperada foi

compostos por pontos de armadilhagem

utilizado

distantes 15m entre si, com duas armadi-

Jackknife

lhas por ponto, uma Sherman média

suficiência do esforço de captura da área

(30x8x9 cm), e umaSherman grande

como um todo foi observada mediante

(45x12,5x14,5

curvas de espécies Mao Tau (GOTELLI;

cm)

ou

Tomahawk

o

estimador

de

de

primeira

ordem.

COLWELL,

distantes a 1,5m uma da outra, devido

consideração uma tabela de presença e

que, estas fisionomias (campos), se

ausência.

caracterizam

de

utilizando-se o número observado de

Gramíneas, e baixa presença ou ausência

espécies, e os dados foram estimados

total de árvores e arbustos (OLIVEIRA-

utilizando 1000 randomizações, obtidas

FILHO; FLUMINHAN-FILHO, 1999,

com

OLIVEIRA-FILHO et al. 2004).

(COWELL, 2006).

predominância

~4 ~

o

Estas

levando

A

(45x16x16 cm), porém as duas no solo,

pela

2001)

riqueza

foram

programa

em

construídas

EstimateS

8.2

Pecora, H. B. et al.

Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.

A análise da diversidade beta (β) foi

turnover (índice de Simpson - βsim) e

realizada por meio do estudo da dis-

fidelidade

similaridade

da

dissimilaridade de fidelidade ao sítio –

comunidade, observando a fidelidade ao

βsne). Os resultados desses índices foram

sítio e/ou turnover de espécies propostas

também demonstrados em porcentagem.

da

composição

ao

sítio

(índice

de

por Baselga (2012, 2013) e Baselga e Orme (2012). Dessa forma, verificou-se

RESULTADOS E DISCUSSÃO

se a composição de espécies é fiel ao sítio

Foram registradas para a região 11

ou se foi substituída de sítio para sítio

espécies

(turnover) baseado em uma matriz de

indivíduos capturados (Tabela 1). O total

presença e ausência. As medidas de

de espécies encontradas foi relativamente

dissimilaridade utilizadas em todos os

baixo, apesar de um esforço amostral

casos foram as versões pareadas e

relativamente

múltiplos

armadilhas/dia).

sítios

do

índice

de

de

marsupiais,

alto

com

144

(24.510

dissimilaridade Sørensen (βsor), e o

Tabela 1. Composição de marsupiais em região ecotonal Cerrado e Mata Atlântica no sul de Minas Gerais.

Espécie

CARRANCAS

Caluromys philander Linnaeus, 1758

MINDURI

CHAPADA DAS PERDIZES

X

Didelphisal biventris Lund, 1840

X

Didelphis aurita Wied-Neuwied 1826

X

Gracilinanu smicrotarsus (Wagner, 1842)

X

Marmoso psincanus (Lund, 1840)

X

X

X

Monodelphis sp.

X

X

X

Monodelphis americana (Muller, 1776)

X

X

Monodelphis domestica (Wagner, 1842)

X

X

Monodelphisi Heringi (Tomas, 1888)

X

X

X

X

Monodelphis kunsiPine, 1975

X

Thylamys velutinus (Wagner, 1842)

X

~5 ~

Pecora, H. B. et al.

Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.

A curva de acúmulo de espécies e a do

A riqueza observada para a Mata

estimador de riqueza não atingiram a as-

Triste do município de Minduri foi de

síntota. A curva do estimador encontra-se

cinco espécies. Para o município de

dentro do intervalo de confiança de 95%

Carrancas,

da curva de acumulação de espécies

registradas foi sete. Enquanto que para a

geral. O valor do estimador de riqueza foi

região de elevada altitude da Chapada das

de 12,52 espécies, amostrando 83.40% da

Perdizes foi de oito espécies (Figura 4).

o

número

de

espécies

diversidade estimado (Figura 3). A curva de acúmulo de espécies e a do estimador de

riqueza

geral

não

atingiram

a

assíntota, mostrando que com o aumento do esforço amostral pode ser encontrada um número maior de espécies. A curva do estimador encontra-se dentro do intervalo

de

confiança

de

95%,

mostrando que a diversidade registrada Figura 4. Perfil ilustrativo das três áreas de estudo

está próxima da diversidade real da área

em região ecotonal Cerrado e Mata Atlântica no sul de

de estudo.

Minas Gerais.

A diversidade beta demonstrou que 36,12% (B.sne=0.25) das espécies são fiéis aos sítios de amostragem, ou seja, são característicos de uma dada vertente da Chapada. Enquanto que há 63,88% (B.sim=0.45) de turnover das espécies (Figura 5). Esse resultado demonstra a importância da preservação das diferentes vertentes da Chapada, independente do tipo

de

fitofisionomia

ou

limites

territoriais municipais, pois há uma diversidade

local

que

não

é

compartilhada. Portanto, a degradação

Figura 3. Curva de acúmulo geral de espécies e estimador de riqueza Jackknife I.

ambiental pode gerar a extinção local de um determinado grupo de espécies.

~6 ~

Pecora, H. B. et al.

Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.

Didelphis albiventris se mostrou muito freqüente em todas as fisionomias, porém,esta e sua espécie congenéricaD. aurita, são mais ocorrentes em pontos, dentro da área de estudo, com grande influência antrópica, a exemplo: perímetros urbanos, arredores de fazendas e sítios e áreas de aterros sanitários (lixões), são sempre muito relatados por moradoFigura 5. Diversidade beta das áreas da Chapada

res da região.

das Perdizes, em região ecotonal no sul do estado de Minas Gerais. As siglas B.sor, B.sne e B.sim represen-

Espécies raras, como C. philander, fo-

tam os índices de beta diversidade de sorensen,

ram encontradas em baixa frequência,

nestedness e Simpson, respectivamente.

com apenas um registro para Minduri (MACHADO et al. 2013) (Figura 6A e 6B), e M. kunsi e M. iheringi(Figura 7B)

As espécies mais amostradas foram M.

somente foram encontrados nas matas

incanus com 68 indivíduos, seguida de G.

mais estruturadas e em baixa frequência.

microtarsus, M. domestica e M. ameri-

Estes registros de espécies especialistas,

cana. Monodelphis americana e T.

de hábitos mais exigentes, possivelmente

velutinus foram coletados somente na

se deve ao fato de que, em Minduri, pos-

Chapada das Perdizes e M. iheringi só foi

sui um dos últimos remanescentes de

registrado na parte baixa da Mata Triste

floresta

em Minduri. As comunidades de marsu-

estacional

semidecidual

alto

Montana, em estágio avançado de rege-

piais são normalmente estruturadas por

neração, conhecido localmente como

duas ou três espécies dominantes e várias

“Mata Triste” (OLIVEIRA-FILHO et al.

espécies raras, de forma semelhante para

2004), são aproximadamente 36ha de

as comunidades de pequenos mamíferos

área que serve como um refúgio para a

terrestres (FLEMING,1975), o que possi-

fauna local.

velmente confirmou com a alta taxa de captura de M. incanus, e reafirmou a sua alta plasticidade ambiental, pois, foi uma espécie muito presente em todas as seis fisionomias vegetacionais amostradas. ~7 ~

Pecora, H. B. et al.

Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.

reflete numa menor riqueza de marsupiais (e

mesmo

outros

grupos).

Em

contrapartida, a sua outra extremidade (Carrancas) com menor precipitação, há uma maior quantidade de fitofisionomias de

cerrado

com

matas

de

galeria

relacionadas a corpos d’água. Essa paisagem gera uma fauna associada com maior

riqueza

e

composição

característica. O ponto mais elevado da coleta, denominado para este trabalho somente

Figura 6. Figuras de marsupiais capturados nas áreas de estudo. A figura A e B demonstram um C.

de

representa

philander (Minduri, MG), a figura C demonstra um D.

Chapada uma

das

Perdizes

intercessão

da

composição de ambas as vertentes e

aurita (Carrancas, MG), a figura D demonstra um D. albiventris em Tomahawk (Carrancas, MG), a figura E

apresenta uma elevada diversidade, como

demonstra um G. microtarsus (Chapada das Perdizes,

mencionado por Machado et al. (2013).

limítrofe Carracas/Minduri, MG) e a figura F

O método de armadilhamento, em

demonstra um M. americanacapturado em Pitfall (Mata

diferentes ambientes e estratos, além da

Triste, Minduri, MG). Fotos: Aloysio S. de Moura.

variação

altitudinal

amostrados,

A

refletiu

dos

pontos

positivamente

contribuindo para a alta diversidade, uma vez que as espécies possuem hábitos

B

particulares(GARDNER, 2007). Porém,o número de espécies poderia ser maior se

Figura 7. Figuras de marsupiais capturados nas áreas de estudo. A figura A demonstram um M. incanus

houvesse um esforço amostral com

(Minduri, MG) e a figura B demonstra um M. iheringi

armadilhas de dossel, e mais números de

(Minduri, MG). Fotos: Aloysio S. de Moura.

pontos de armadilhas “Pitfall” nas áreas de florestas.

As áreas de Minduri apresentam maior

Esta lista tende a aumentar muito o

precipitação orográfica, por ser a face da mar,

número de espécies, devido, a variedade

consequentemente há uma paisagem mais

de fisionomias vegetacionais presentes na

estável

região, e que não foram amostradas neste

serra

floresta,

na

direção

composta

por

do uma

monodominância

fitofisionomia.

Essa

de

grande

estudo,

uma

a

exemplo:

Florestas

de

Araucárias, Florestas com mono-domi-

monodominância ~8 ~

Pecora, H. B. et al.

nância

de

Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.

Candeia

ALÉSSIO, F.M.; MENDES PONTES,

(Eremanthussp.),

A.R. & SILVA, V.L. 2005. Feeding by

brejos e outras. CONCLUSÃO

Didelphis albiventrison tree gum in

Concluímos que, novos estudos são

northeastern Atlantic Forest in Brazil.

sugeridos,

para

profundamente

se a

conhecer

Mastozoologia Neotropical, 12(1): 53-56.

mais

composição

da

comunidade de marsupiais da região, e

ALMEIDA, S. S. P., & J. N. C.

ter uma maior compreensão sobre a

LOUZADA.

2009.

interação

comunidade

de

destes

mamíferos

com

o

Estrutura

Scarabaeinae

ambiente da região, e mesmo em outras

(Scarabaeidae:

regiões que estas espécies ocorram. Além

fitofisionomias

disso, o presente trabalho corrobora com

importância

dados de Machado et al.(2016b) que

Neotropical Entomology 38: 32–43.

Coleoptera) do para

da

em

Cerrado a

e

sua

conservação.

compila dados sobre a diversidade de mamíferos para a Chapada das Perdizes e

ATRAMENTOWICZ

demonstra

frugivorie

opportuniste

Marsupiaux

didelphidés

um

aproximadamente

número 56

espécies

de de

mamíferos.

M.

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Ao senhor Edgar A. Cortez pelo apoio

Biogeography 21: 1223-1232.

em trabalhos de campo. Ao prefeito de Minduri Edmir pelo apoio logístico. Ao

BASELGA, A., AND C. D. L. ORME.

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de leucismo em saíra-viuva Pipraeidae

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melanonota (Passeriformes: Thraupidae)

ecótono Campo e floresta com Araucária

no

na região dos campos de cima da serra,

sul

de

Minas

Gerais,

Brasil.

Atualidades Ornitologicas 158: 6-7.

Rio Grande do Sul. Dissertação de mes-

~11~

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Regnellea Scientia 3 (1) : 1-12, 2016.

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~12~

.

AVES COM POTENCIAL DE DISPERSÃO PARA Protium heptaphyllun (Albl.) March (Burseraceae) NA ÁREA DA FUNDAÇÃO JARDIM BOTÂNICO DE POÇOS DE CALDAS, POÇOS DE CALDAS, MG BIRDS WITH DISPERSION POTENCIAL FOR Protium heptaphyllun (Albl.) March

(Burseraceae) WITHIN THE AREA OF BOTNICAL GARDEN FOUNDATION OF POÇOS DE CALDAS, POÇOS DE CALDAS, MG 1

Ederson José Godoy & 2Eric Arruda Williams

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo avaliar o comportamento de aves com potencial para dispersão da Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand (Burseraceae), às margens do Ribeirão das Antas dentro da área I da Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas, Poços de Caldas, Minas Gerais, Brasil. A área é composta por Floresta Estacional Semidecidual Fascies Aluvial em diferentes fases de regeneração, dentro do bioma da Mata Atlântica. Foram analisados três indivíduos em três ambientes distintos, durante 66 horas, 22 horas para cada indivíduo, dividido em quatro seções de três horas durante a manhã (07h às 10h) e duas horas e meia a tarde (16h às 18h30min), realizados entre os dias 7 de janeiro e 3 de fevereiro de 2015. No período de amostragem foram verificadas 18 espécies, distribuídas em 06 famílias, interagindo com as plantas 26h e 35min, consumido um total de 2.154 frutos. Foi determinado o Potencial de Dispersão e os resultados indicaram a espécie Zonotrichia capensis com maior potencial (P.D=0,89). Também foi determinada a Taxa de Consumo, indicando a espécie Psittacara leucophthalmus com o maior consumo (TC=128,50), cujo Potencial de Dispersão foi desconsiderado por ter sido amostrada predando frutos. Dos três espécimes de P. heptaphyllum amostrados, o espécime 1, encontrado mais exposto, recebeu o maior número de visitantes mesmo sendo um espécime jovem e com uma carga menor de frutos. Palavras chaves: Protium heptaphyllum, dispersão, avifauna, frutos. ABSTRACT: This study aims to evaluate the behavior of birds with potential for dispersion of Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand (Burseraceae), at the Ribeirão das Antas margins within the area I of the Botanical Garden Foundation of Poços de Caldas, Poços de Caldas, Minas General, Brazil. The area consists of Semideciduous Alluvial Facies Forest in various stages of regeneration, within the Atlantic Forest biome. Three individuals were analyzed in three distinct environments for 66 hours, 22 hours for each individual, divided into four sections of three hours in the morning (7 to 10 am) and two and a half hours in the afternoon (16 to 18h30min), conducted between January 7 and February 3, 2015. During sampling, 18 species were found belonging to 06 families, interacting with the plants during 26h and 35mim and consuming a total of 2,154 fruits. It was determined the dispersion potential and the results indicated the Tachyphonus coronatus as the species with the greatest potential (P.D=0,89). The consuming rate was also determined, indicating the Psittacara leucophthalmus with the highest consumption (TC = 128.50), whose dispersion potential was disregarded for being sampled as preying on the fruit. From the three sampled specimens of P. heptaphyllum, the specimen 1, found more exposed, received the highest number of visitors regardless of it being a young specimen with a reduced load of fruits. Key Words: Protium heptaphyllum, dispersion, avifauna, fruits.

1

Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas. Email:[email protected]

2

Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas. Email:[email protected]

.

INTRODUÇÃO Segundo

Galetti

&

Francisco

(2002), 50 a 90% das espécies arbóreas en-

características

indicam

uma

excelente

opção

plantios

em

área

de

trabalho

foi

para

regeneração (LORENZI 2002).

contradas em Florestas Tropicais são

O

objetivo

deste

dispersas por vertebrados, sendo que as

determinar as aves com Potencial de

aves frugívoras representam 56% das aves

Dispersão da espécie P. heptaphillum e

do mundo (PIZO, 2011). Mesmo aves

qualificar sua contribuição em possíveis

pertencentes a diferentes estruturas tróficas

trabalhos recuperação de áreas degradadas.

incluem frutos em sua dieta, inferindo que essa troca entre aves e plantas é essencial ao conhecimento científico, pois, esta interação

mutualística

O estudo foi realizado em Floresta

um

Estacional Semidecidual Facies Aluvial

processo fundamental na manutenção e

localizada na margem direita do Ribeirão

regeneração das comunidades vegetais

das Antas na área I da Fundação Jardim

(ALVES et al., 2011).

Botânico de Poços de Caldas, Minas

Protium

constitui

MATERIAIS E MÉTODOS

heptaphyllun

(Albl.)

Gerais, Brasil. A vegetação na área de

Marché uma árvore dióica de flores

estudos

avermelhadas, seus frutos são cápsulas

regeneração,

deiscentes, com uma a três sementes que

sucessionais

ao abrir exibe arilo branco adocicado,

regeneração conforme as descrições da

muito apreciado pelas aves (MATOS, 1997

RESOLUÇÃO CONAMA nº 392 de 2007.

apud SANTOS 2011), suas sementes são

Três indivíduos de P. heptaphyllum

castanhas medindo de 1,5 a 2 cm de

foram amostrados com equidistância de

comprimento,

50m conforme Francisco &Galetti (2002).

com

cotilédones

encontra-se

em

apresentando iniciais

estágios

avançados

espécie possui ampla distribuição no

ambiguidades

Brasil, ocorrendo preferencialmente em

texto, optamos por utilizar o substantivo

terrenos arenosos e úmidos de matas

“espécime”

ciliares úmidas, bem como em matas

referirmos a P. heptaphyllum. O espécime

primárias e secundárias. P. heptaphyllum

1 encontra-se em área de regeneração

floresce durante agosto e setembro, sendo

inicial a 45 metros da margem do curso

dispersa

d’água, ca. 3 m de altura e DAP (Diâmetro

frugívoras,

tais

no

evitar

de

Com

aves

de

de

contorduplicados (CARVALHO 2006). A

por

intuito

e

fase

possíveis

desenvolvimento

somente

1

Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas. Email:[email protected]

2

Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas. Email:[email protected]

quando

do nos

Godoy, E. J. & Williams, E. A.

Altura

do

Peito)

Regnellea Scientia 3 (1) : 13-22, 2016.

de

7,32

cm

Foram amostradas todas as espécies de

(21°46'37.84"S / 46°37'10.06”O WGS 84);

aves com eventual potencial de dispersão

o espécime 2 está localizado à 2 metros da

para P. heptaphyllum, pelo método Ad

margem do Ribeirão em área de estágio

libitu,anotando todos os indivíduos que

avançado de regeneração, ca. 4 m de altura

forragearam. O método de forrageamento,

e DAP de 9,23 cm (21°46'36.94"S /

o tempo exato de cada visita e o número de

46°37'9.67” O) e o espécime 3 está locali-

frutos consumidos também foi registrado,

zado à 5 metros da margem do Ribeirão

conforme metodologia proposta por Pizo

em área de regeneração secundária tardia,

(1997) e Galetti et al. (2003) apud Pereira

ca. 17 m de altura e DAP de 21 cm,

et al (2014).

(21°46'35.67"S / 46°37'7.00” O) (figura 1).

A

ave

com

maior

Potencial

de

Dispersão (PD) foi descoberta a partir da eficiência de consumo, calculada pela razão entre a média de frutos consumidos e o tempo de permanência na planta (MOTTA-JÚNIOR & LOMBARDi, 1990; SCHUPP,

1993;

MELO,

2003

apud

AMÂNCIO & MELO, 2006). A taxa de consumo (TC) foi feita dividindo os frutos consumidos pelo número de visitas de cada espécie de ave amostrada, conforme Motta-Júnior & Lombardi (1990), Schupp (1993) e Lengendre & Legendre (1983). Figura 2: Área de estudo.

Além das estimativas de potencial de dispersão (PD) e taxa de consumo (TC) foram

O esforço amostral foi de 66 horas, 22

registrados

os

métodos

forrageamento, sendo:

horas em cada espécime, dividido em

DM= ” Mandibulou” o fruto dispersando

quatro seções de três horas no período da

sob a planta mãe;

manhã, das 07 h às 10 h e duas horas e

DT= Transporte da semente longe da

meia no período da tarde, das 16 h as 18 h

planta mãe;

30 m, realizados entre os dias 07 de janeiro

Pred.= Predou as sementes.

a 03 de fevereiro de 2015.

~15~

de

Godoy, E. J. & Williams, E. A.

Regnellea Scientia 3 (1) : 13-22, 2016.

As observações foram feitas a uma

s nos espécimes amostrados, consumindo

distância de 20 a 30 m da planta, com

361 frutos. No entanto a Zonotrichia

binóculo Nikon 8x42 e o tempo foi crono-

capensis conseguiu melhor aproveitamento

metrado por um celular MotoG.

(PD=0,89), podendo ser considerada, nessa perspectiva, a espécie com maior eficiência

RESULTADOS E DISCUSSÃO

de dispersão. A maior taxa de consumo foi

Os três espécimes de P. heptaphyllum

dePsittacara

leucophthalmus

(128,50),

na área de estudos demonstraram ser

porém, foi a única espécie registrada que

generalistas quanto à atração de aves,

predou

produzindo grandes quantidades de frutos

dispersora

durante um longo período de tempo.

considerada no cálculo de potencial de

Características que são apresentadas por

dispersão (Tabela 1).

espécies de sucessão secundária (SNOW,

sementes, e,

por

portanto,

não

conseguinte,

é não

Considerando individualmente os três

1976) (Figura 2).

indivíduos de P. heptaphyllum amostrados, houve maior interação com o espécime à borda (espécime 1), resultado análogo a outros estudos com espécies vegetais distintas (THOMPSON & WILLSON, 1978; RESTREPO et al., 1999; GALETTI et al., 2003). Para o espécime 1, foram registradas 244 visitas, num total de 9 h 38 min, onde foram consumidos 620 frutos. A espécie

Figura 2. Frutos da P. heptaphillum

Zonotrichia capensis apresentou melhor Foram registradas 493 visitas por aves,

potencial

de

dispersão

(PD=0,87),

de 18 espécies, pertencentes a 6 famílias,

consumindo 86 frutos em 44 visitas,

obtendo

permanecendo na planta 41 min 42 s.

a

família

Thraupidae

maior

representatividade, totalizando 10 espécies.

No espécime 2, ocorreram 199 visitas,

O total cronometrado de interações foi

com total cronometrado de 11 h 14 min 53

de 26 h 35 min, onde foram consumidos

s, onde foram consumidos 778 frutos. As

2.154 frutos. A espécie Tachyphonus

espécies Tangara cayana e Pitangus

coronatus apresentou o maior número de

sulphuratus

visitas (110) permanecendo 3 h 46 min 45

potencial de dispersão (PD=0,5), porém,

~16~

apresentaram

o

maior

Godoy, E. J. & Williams, E. A.

Regnellea Scientia 3 (1) : 13-22, 2016.

T.cayana fez 18 visitas, consumindo 74

dispersando a semente sob a planta-mãe.

frutos, permanecendo na planta 26 min 28

Essa curta permanência de P. sulphuratus é

s, enquanto P. sulphuratus fez 07 visitas,

favorável ao sucesso da dispersão, pois

consumindo 17 frutos, permanecendo na

quanto

planta 5 min 47 s, esse período de

permanecer na planta-mãe, menores as

interação menor é consequência de P.

chances das sementes serem eliminadas

Sulphuratus

sob a mesma (JANZEN, 1980).

engolir

frutos

inteiros,

menos

tempo

o

dispersor

enquanto T.cayana “mandíbula” o fruto

Tabela 1. Lista de espécies de aves e interações Total de horas visitadas

Total de frutos consumidos

Total de visitas

Modo de cons.

ΣTC

ΣPD

5 h 7 min

378

110

DM+DT

12,55

0,06

Saltator similis

3 h 46 min 54 s

361

74

DT

22,75

0,52

Tangara cayana

1 h 30 min 07 s

174

51

DM

15,32

0,60

Tangara cyanoventris

1 h 24 min 55 s

95

12

DM

16,07

0,08

Tangara sayaca

23 min 12 s

46

16

DM

3,36

0,23

Coereba flaveola

3 h 25 min 11 s

67

51

DM

3,95

0,25

53 min 08 s

100

54

DM+DT

2,73

0,89

1 h 26 min 17 s

7

5

DM

1,40

0,00

Dacnis cayana

4 min 32 s

7

5

DM

6,25

0,09

Thlypopsis sórdida

12 min 47 s

26

12

DM

3,63

0,18

5 h 59 min 57 s

235

46

DM

23,55

0,11

Pitangus sulphuratus

15 min 07 s

22

9

DT

8,40

0,08

Legatus leucophaius

8 min 21 s

13

8

DT

3,67

0,15

Turdus leucomelas

17 min 31 s

25

8

DT

5,00

0,11

Elaenia flavogaster

4 min 58 s

2

4

DT

0,00

0,00

Turdus rufiventris

37 min 41 s

68

24

DT

5,13

0,47

1 min 07 s

1

1

DT

1,00

0,01

48 min 08 s

514

4

Pred.

128,50

0,18

Família \ espécie Thraupidae Tachyphonus coronatus

Zonotrichia capensis Conirostrum speciosum

Fringillidae Euphonia violacea Tyrannidae

Turdidae

Tityridae Pachyramphus validus Psittacidae Psittacara leucophthalmus

~17~

Godoy, E. J. & Williams, E. A.

Regnellea Scientia 3 (1) : 13-22, 2016.

No espécime 3, foram registradas

semente ao solo sob a planta mãe. Como

apenas 56 visitas, num total de 3 h 41 min

observado por Franscisco & Galetti (2002)

58 s de permanência na planta, onde foram

e Levey (1987) (Figura 5). De acordo com

consumidos 756 frutos. A espécie que

Sick (1997) e Moermond & Denslow

apresentou maior interação foi Saltator

(1983) apud Guimarães (2003), espécies

similis, com 32 visitas, permanecendo na

de aves que “mandibulam” frutos não são

árvore 2 h 7 min 27 s, consumindo 176

dispersoras eficientes, já que os frutos

frutos, com (PD=0,02), porém o Pitangus

caem sob a planta-mãe, dificultando o

sulphuratus obteve o melhor Potencial de

recrutamento, pois, segundo Janzen (1970)

Dispersão com (PD=0,04) mesmo fazendo

e Howe et al. (1985) estas sementes quase

apenas 3 visitas no espécime.

sempre estão fadadas ao não recrutamento

Das aves amostradas a Zonotrichia

em consequência da competição.

capensis, foi considerada a espécie com o melhor

potencial

de

dispersão

com

(PD=0,89), mesmo não fazendo nenhuma visita no espécime 3. A espécie também mostrou

forrageamento

diferenciado,

sendo a única espécie que levou o fruto para “mandibular” longe da planta-mãe fazendo dele assim um dispersor eficiente. Figura 5.Tachyphonus coronatus(dir.), Tangara sayaca (esq. superior), Euphonia violaceae(esq. inferior) dispersando sementes na planta-mãe (dir. inferior).

CONCLUSÃO P. heptaphyllum demonstrou ser uma espécie generalista quanto à atração de aves, produzindo grandes quantidades de Figura 3.Forrageamento da Zonotrichiacapensis

frutos relativamente pequenos, durante um longo

Das

aves

que

visitaram

os

três

período

de

tempo,

atraindo

principalmente aves de pequeno porte, a

exemplares de P. heptaphyllum, 33%

exemplo da família Thraupidae. Dos três

“mandibularam” o fruto dispersando a

espécimes de P. heptaphyllum amostrados

~18~

Godoy, E. J. & Williams, E. A.

Regnellea Scientia 3 (1) : 13-22, 2016.

o indivíduo mais exposto (espécime.1)

mesmo em situação de isolamento, o que é

mesmo sendo um indivíduo jovem e com

fundamental na manutenção e regeneração

uma carga menor de frutos comparada ao

das comunidades vegetais e no equilíbrio

outros indivíduos amostrados, obteve o

ecológico.

maior número de visitas 244 (49%), enquanto o espécime mais adentro na mata

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ciliar (espécime.3) recebeu apenas 56 (11%)

visitantes,

(40%)

ALVES, M. A .S., M. B. VECCHI, V. C.

intermediário

TOMAZ & A. J. PIRATELLI (2011) O

assim

uma

impacto de vertebrados terrestres sobre a

relação positiva quanto ao isolamento na

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(ver tabela 1).

gem ecológica-evolutiva. RJ, Rio de Ja-

visitantes

do

(espécime.2),

contra

espécime mostrando,

119

Das 18 espécies de aves que

neiro.

interagiram com a P. heptaphyllum a que obteve o melhor Potencial para Dispersão

AMÂNCIO, S. & C. MELO (2008) Frugi-

(P.D=0,89)foi Zonotrichia capensis que

voria por aves em bordas de fragmentos

mesmo não apresentando o maior número

florestais, Uberlândia – MG. Horizonte

de visitas, foi mais

como

Científico 1: 1-20 Instituto de Biologia da

dispersora, sugerindo ser uma espécie

Universidade Federal de Uberlândia. Dispo-

importante na dispersão.

nível

eficiente

Z. capensis

em:

também foi a única espécie que levou os

http://www.seer.ufu.br/index.php/horizonte

frutos para mandibular longe da planta

cientifico/article/viewFile/3914/2916.

mãe, demonstrando sua eficiência como

Acesso em: 13/06/2016.

agente colaborador em

processos

de

sucessão ecológica. Perante

tais

AMÂNCIO, S.& C. MELO, 2006, Uberconstatações

foi

lândia-MG, PEREIRA, C C.; SOARES, F

possível verificar que a P. heptaphyllum é

F S.; FONSECA, R S. & D’ÂNGELO

uma espécie importante na recuperação de

NETO, S. Frugivoria e Dispersão por Aves

áreas degradadas, atraindo aves dispersoras

das Sementes de Erythroxylum suberosum

~19~

Godoy, E. J. & Williams, E. A.

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~22~

NOVOS REGISTROS DA INTERAÇÃO DE AVES COM RECURSOS FLORAIS DA “CORTICEIRA”, Erythrina falcata Benth., NO BRASIL NEW RECORDS OF BIRD INTERACTION TO FLORAL RESOURCES OF "BRAZILIAN CORALTREE”, Erythrina falcata Benth, IN BRAZIL

Aloysio Souza de Moura¹, Felipe Santana Machado¹, Ravi Fernandes Mariano¹ & Bruno Senna Corrêa²

RESUMO: A “corticeira”, Erythrina falcata Benth., é uma árvore comum em florestas neotropicais e anualmente produz milhares de flores por período reprodutivo. Estudos conduzidos anteriormente mostram que uma grande variedade de aves utilizam dos seus recursos florais. Este estudo objetivou em acrescentar novas espécies de aves a esta lista. Palavra-chave: Interação animal-planta, avifauna, flores. ABSTRACT: The "Brazilian coral tree”,Erythrina falcata Benth., is a common tree in neotropical forests and annually it produces thousands of flowers each breeding season. Previously conducted studies show that a wide variety of birds useits floral resources. This study aimed to add new bird species to this list. Kew words: Animal-plant interaction, birds, flowers.

INTRODUÇÃO

deste gênero como alimento alternativo

A “corticeira”, Erythrina falcata Benth.,

para

a

avifauna

(MORTON,

1979;

é uma árvore de grande porte que ocorre

FEINSINGER et al., 1979; VITALI-

em alguns países da America do Sul:

VEIGA; MACHADO, 2000; COTTON,

Bolívia, Argentina, Paraguai, Peru e Brasil.

2001;

No Brasil ocorre desde o estado de Minas

PARRINI; RAPOSO, 2008; AXIMOFF;

Gerais e Mato Grosso do Sul até o Rio

FREITAS, 2009).

Grande do Sul (CARVALHO, 2003).

RAGUSA-NETTO,

2002;

Contudo, a listagem de aves que

Estudos conduzidos anteriormente revelam

interagem

um grande número de espécies de aves que

incompleta. Poucos são os trabalhos que

utilizam

abordam essa interação especificamente

de

seus

recursos

florais

e

destacam a grande relevância das florações

(e.g.

com

PARRINI;

E.

falcata

RAPOSO,

ainda

é

2008;

¹DCF UFLA - Caixa Postal 197, CEP 37200-000, Lavras, MG. ²CEFET MG, Campus IX, Av. Monsenhor Luiz de Gonzaga, 103, Centro, CEP 37 250-000, Nepomuceno, MG.

Moura, A.S. et al.

Regnellea Scientia 3 (1) : 23-29, 2016.

AXIMOFF; FREITAS, 2009). Portanto,

O clima da região de Montes Claros,

este trabalho tem por objetivo corroborar

segundo a classificação de Köppen é

com estudos conduzidos por Parrini e

tropical semiárido (Bsh), com verões

Raposo (2008) e Aximoff e Freitas (2009),

quentes e secos e temperatura média anual

acrescentando quatro aves à lista de

de

espécies que utilizam os recursos florais da

AGRICULTURA, 1992; GUSMÃO et

planta em questão.

al.,2005). E o clima da região de Aiuruoca

24,1°C

(MINISTÉRIO

DA

se enquadra em Cwb para topos de MATERIAL E MÉTODOS

montanha, com precipitação média anual de 1.529,7mm e temperatura média anual

Os registros foram obtidos no dia 12 de

de

agosto de 2012, no município de Montes

19,4°C

(MINISTÉRIO

DA

AGRICULTURA, 1992).

Claros, norte de Minas Gerais, e no dia 25

A paisagem do município de

de junho de 2013, em Aiuruoca, sul do

Montes Claros é composta pelas seguintes

estado, durante estudos de avifauna (Figura

fisionomias

1).

Ciliares, Brejos, fragmentos de Florestas

vegetacionais:

Florestas

Para a obtenção dos registros utilizamos

Deciduais e áreas antrópicas (pastagens,

de binóculos Nikon 08X40 e 10X50 e

áreas de cultivo, plantações de Eucalipto).

câmera digital Canon SX 40 HS.

Porém, a área dos registros situa-se em um fragmento

de

Floresta

Decidual

(16°42’25,56” S e 43°48’18,67” W, 638m de

altitude).

Floresta

Brejos,

Semideciduais

Fragmentos

de

Altimontana,

Florestas Ciliares, Cerrado Sensu stricto, Campos de Altitude, Florestas Nebulares, Campos rupestres e áreas antrópicas compõem a paisagem do município de Aiuruoca. Todavia, as observações foram

Figura 1. Mapa com a área de estudo com os registros em vermelho. Ao norte o município de Montes

conduzidas em um fragmento de Floresta

Claros e ao sul o município de Aiuruoca. Em preto estão

Estacional Semidecidual Altimontana, no

áreas de observações dos estudos de Parrini e Raposo

“Sítio dos Marianos” (22°3’58,93” S e

(2008) e Aximoff e Freitas (2009).

~24~

Moura, A.S. et al.

Regnellea Scientia 3 (1) : 23-29, 2016.

44°38’26,19” O, 1285m de altitude), na região denominada “Vale do Matutu”.

A planta estudada

O gênero “Erythrina” é composto por 110 táxons de plantas pantropicais, com sua polinização efetuada principalmente

Figura 2. Flores de Erythrina falcata, município de

por aves (FEISINGUER et al., 1979; HERNÁNDEZ; MORTON,

TOLEDO,

1979;

Montes Claros, norte do estado de Minas Gerais (Foto: Aloysio Souza de Moura).

1979;

RAVEN,

1977;

TOLEDO,

1977;

RESULTADOS E DISCUSSÃO STEINER,

1979;

TOLEDO;

Neste estudo confirma-se quatro novas

HERNÁNDEZ,

espécies de aves que usufruem dos

1979;BRUNEAL, 1997; COTTON, 2001).

recursos florais de E. falcata no Brasil

Erythrina falcata ocorre em alguns

(Tabela 1), elevando o conhecimento de 29

países da America do Sul e parte do Brasil

(Tabela 2) para 33espécies. O número de

(de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul até

espécie possivelmente tende a aumentar se

o Rio Grande do Sul). É regularmente

considerarmos a ampla área de ocorrência

encontrada em formações secundárias e

da planta em questão, e a grande diversidade de aves registradas para o

capoeiras, sendo típica nas partes baixas das

grandes

serras

com

território brasileiro (CBRO, 2014).

neblina

Muitos trabalhos entre a interação aves (CARVALHO, 2003). Floresce no período

e plantas do gênero Erythrina foram

seco (junho a setembro) (LORENZI,

conduzidos anteriormente na América do

1992), apresenta flores grandes do tipo

sul

papilionóide de cor vermelho-alaranjadas,

HERNÁNDEZ;

organizadas em centenas de inflorescências

MORTON,

(ENDRESS, 1994). Segundo Etcheverry e

STEINER,

Trucco-Aleman (2005), cada árvore produz

TOLEDO;

em média cerca de 220 mil flores ao longo

BRUNEAL,

(FEISINGUER

et

al.,

TOLEDO

1979; 1979;

1979;

RAVEN,

1977;

TOLEDO,

1977;

HERNÁNDEZ, 1997;

1979;

COTTON,

1979; 2001).

Porém, estudos da interação de E. falcata e

de um evento de floração (Figura 2).

~25~

Moura, A.S. et al.

aves

ainda

Regnellea Scientia 3 (1) : 23-29, 2016.

são

carentes

(PARRINI;

Neste estudo, o registro de aves das

RAPOSO, 2008; AXIMOFF; FREITAS,

famílias Cracidae, Psittacidae e Icteridae

2009).

consumindo os recursos florais de E.

Das quatro espécies de visitantes florais

falcata, corrobora com as mesmas famílias

registradas neste estudo, duas, Penelope

de aves anteriormente registradas por

superciliaris

Parrini e Raposo (2008) e Aximoff e

(Temminck,

1815)

e

Freitas (2009).

Eupsittula aurea (Gmelin, 1788), visitaram de forma ilegítima as flores, atuando como predadoras florais, não devendo contribuir à polinização de E. falcata (Figura 3A). Icterus pyrrhopteru (Vieillot, 1819) e Icterus jamacaii (Gmelin, 1788) visitaram as flores de forma legítima, forrageando néctar (Figura 3B), que no gênero Erytrina é acumulado no cálice (base das flores) (VITALIVEIGA; 2000;COTTON,

MACHADO, 2001),

potencialmente

contribuindo com a polinização. Krukoffe Barneby (1974) e Toledo e Hernández (1979) relatam que o gênero Figura 3. A- Eupsittula áurea (Gmelin, 1788),

Erytrina possui dois padrões básicos de

Aiuruoca, sul de MG. B- Icterus pyrrhopterus(Vieillot,

estrutura floral: com formato tubular e o

1819), Montes Claros, norte de MG. C- Icterus jamacaii

segundo padrão não tubular. Relatam

(Gmelin, 1788), Montes Claros, norte de Minas Gerais

também, que enquanto espécies do gênero

(Fotos: Aloysio Souza de Moura).

que possuem estruturas florais tubulares são

polinizadas

principalmente

por

Throchilidaes (beija-flores), as de formato não tubulares são polinizadas por vários tipos de aves, além dos beija-flores, justificando o registro das aves deste trabalho.

~26~

Moura, A.S. et al.

Regnellea Scientia 3 (1) : 23-29, 2016.

Tabela 1. Lista de aves dos novos registros de interação de aves que usufruem dos recursos florais de E. falcata.

Família

Visitante floral

Nome popular

Recurso explorado

Montes Claros

CRACIDAE

Penelope superciliaris Temminck, 1815

Jacupemba

Flores

X

PSITTACIDAE

Eupsittula aurea (Gmelin, 1788)

Perequito-rei

Flores

Icterus pyrrhopterus (Vieillot, 1819)

Encontro

Néctar

X

Icterus jamacaii (Gmelin, 1788)

Corrupião

Néctar

X

Aiuruoca

X

ICTERIDAE

Tabela 2. Lista de visitantes florais de E. falcata conduzidos por Parrini e Raposo (2008) e Aximoff e Freitas (2009). Parrini e Aximoff e Família Visitante floral Nome popular Raposo, 2008 Freitas, 2009 CRACIDAE

Penelope obscura Temminck, 1815

PSITTACIDAE

Psittacara leucophthalmus (Statius Muller, 1776)

TROCHILIDAE

ICTERIDAE

THRAUPIDAE

8 famílias

Jacuaçu

X X

Pyrrhura frontalis (Vieillot, 1817)

Tiriba-de-testa-vermelha

X

Brotogeris tirica (Gmelin, 1788)

Periquito-rico

X

X

Brotogeris chiriri (Vieillot, 1818)

Periquito-de-encontro-amarelo

X

Pionus maximiliani (Kuhl, 1820)

Maitaca-verde

X

Phaethornis eurynome (Lesson, 1832)

Rabo-branco-de-garganta-rajada

X

Eupetomena macroura (Gmelin, 1788)

Beija-flor-tesoura

X

Florisuga fusca (Vieillot, 1817)

Beija-flor-preto

X

Stephanoxis lalandi (Vieillot, 1818)

Beija-flor-de-topete

X

Aphantochroa cirrochloris (Vieillot, 1818)

Beija-flor-cinza

X

Thalurania glaucopis (Gmelin, 1788)

Beija-flor-de-fronte-violeta

X

X

Leucochloris albicollis (Vieillot, 1818)

Beija-flor-de-papo-branco

X

X

Amazilia versicolor (Vieillot, 1818)

Beija-flor-de-banda-branca

X

Clytolaema rubricauda (Boddaert, 1783)

Beija-flor-rubi

X

Psarocolius decumanus (Pallas, 1769)

Japu

X

X

X

Cacicus chrysopterus (Vigors, 1825)

Tecelão

Cacicus haemorrhous (Linnaeus, 1766)

Guaxe

X

X X

Coereba flaveola (Linnaeus, 1758)

Cambacica

X

X

Ramphocelus bresilius (Linnaeus, 1766)

Tiê-sangue

X

Tangara sayaca (Linnaeus, 1766)

Sanhaçu-cinzento

X

Tangara cayana (Linnaeus, 1766)

Saíra-amarela

X

Dacnis nigripes Pelzeln, 1856

Saí-de-pernas-pretas

X

X

Dacnis cayana (Linnaeus, 1766)

Saí-azul

X

X

Cissopis leverianus (Gmelin, 1788)

Tietinga

X

29 espécies

~27~

Moura, A.S. et al.

Regnellea Scientia 3 (1) : 23-29, 2016.

CONCLUSÃO Concluímos

que,

C. B. R. O. 2014. Lista de aves do Brasil.

para

melhor

Disponível em: http://www.cbro.org.br.

compreensão da interação destas aves e

Acesso em 02.02. 2014.

E. falcata, novos estudos são sugeridos, pois os registros aqui apresentados foram

COTTON, P. A. 2001. The behavior and

de

durante

interactions of birds visiting Erythrina

trabalhos de inventários. Assim, este

fusca flowers in the Colombian Amazon.

trabalho teve um único intuito de

Biotropica 33:662-669.

observações

corroborar

com

ocasionais

os

poucos

dados

disponíveis de espécies de aves que

ENDRESS, P. K. 1994. Diversity and

usufruem dos recursos florais desta planta

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~29~

NOTE ABOUT THE SPECIES Cleome regnellii Eichl. (Cleomaceae Bercht. & J.Presl) NOTA SOBRE A ESPÉCIE Cleome regnellii Eichl. (Cleomaceae Bercht. & J.Presl)

Marcel Felipe Martins Lopes1& Eric Arruda Williams2

RESUMO: Apesar da espécie Cleome regnellii Eichl. ser conhecida pela ciência desde de 1870, as informações a respeito da espécie ainda são bastante restritas e mesmo sua identificação e diferenciação mediante espécies semelhantes tem sido bastante confusas. Desse modo, o presente trabalho visa implementar a descrição taxonômica da espécie, através da observação de material recente coletado bem como de espécimes preservados em herbários virtuais. Ela é encontrada exclusivamente no município de Caldas, MG, mais especificamente na Pedra Branca e na Serra do Itatiaia, RJ. Palavras-Chave: Cleome regnellii; Caldas; Pedra Branca. ABSTRACT: Even though the Cleome regnellii Eichl. species has been known by science since 1870, the information related to it is still quite sparce so that even its identification and differentiation in regard similar species have been quite confusing. The purpose of this paper is to present an implemented taxonomic description of the species, by observing recently collected material as well as preserved specimens in virtual herbariums. It occurs exclusively near the town of Caldas, in Minas Gerais state, and more specifically on Pedra Branca (White Rock Mountain), and in the Serra do Itatiaia, in Rio de Janeiro state. Key-Words: Cleome regnellii; Caldas; Pedra Branca.

INTRODUCTION

In Brazil, there are 16 species with

The genus Cleome L. is included in

wide distribution throughout the country,

the Cleomaceae family and has more than

and found in all of Brazil’s major biomes,

150

distributed

and in majority of the Brazilian states,

throughout the tropical and subtropical

but not described as occurring in the

regions with some occurrences in the

states of Tocantins, Roraima, Rio Grande

seasonal zones. Although the majority of

do Norte, and Sergipe, where their

the species are native from Africa and the

presence is yet to be recorded (Flora do

Middle East, many of them are also

Brasil, 2016). Of the 16 species, half of

found in the Western Hemisphere (ARA

them occur in the Mata Atlântica

et al., 2007).

(Atlantic Rainforest) biome, however

recorded

species

1

Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas. Email:[email protected]

2

Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas. Email:[email protected]

Lopes, M. F. M. & Williams, E. A.

Regnellea Scientia 3 (1): 30-34, 2016.

only three of them are exclusive from that

THE SPECIES

biome. In the Minas Gerais estate, which

Cleome regnellii Eichler Vidensk.

was the object of our focus, there are

Meddel. Naturhist. Foren. Kjøbenhavnp.

currently six recorded native species. But

190. 1870. Type: Brasil, Minas Gerais,

only one is found exclusively in the Mata

Caldas, Regnell #III.147 (Isotypes: WIS,

Atlântica biome, the Cleome regnellii

S, US, BR, LE, LD, B, K, R)

Eichl. (Flora do Brasil, 2016). The

first

recorded

Erect, bushy herb, from 45 to 65 of

centimeters high, glandular-puberulent.

Cleome regnellii was done by Anders

Whitish ramified roots. Stem ramified

Fredrik Regnell in the year of 1854 near

and

the town of Caldas in Minas Gerais state,

fastigiate,

Brazil. It was assigned collection number

trifoliolate, side leaflets 1/3 to 1/4

#III.147. It was finally described in 1870

smaller, occasionally 4 or 5 compound

as being a new species, by August

leaflets feature minimal side leaflets;

Wilhelm Eichler (Eichler,1870). Even

lanceolate oblong leaflets with both sides

though Eichler’s publication was a major

attenuated acute, rarely any petiolule,

contribution

membranous,

to

the

collection

knowledge

of

cylindric,

ending

often

in

ramous

reddish.

Leaves

delicate

camptodrome

Brazilian flora, it has recently been

pinnate venation, both sides glandular-

observed that there are difficulties in

puberulent, around 15 to 30 mm long,

identifying Cleome regnellii, due to the

side leaflets around 10 to 25 mm long

wording used in the original paper, as

(minimal leaflets around 3 to 8 mm);

well as the lack of a more carefully

petiole cylindric around 12 to 30 mm

detailed description.

long. Raceme beginning in corymb

Consequently, the purpose of this

proceeding with elongated development.

paper is exclusively to provide an

Bracts simple, from oval to suborbicular-

updated

more

elliptics, measuring up to 5mm diameter

morphologic details of Cleome regnellii,

and length, beginning at the raceme base

based on botanical material originated

and going up slowly decreasing their size,

from the typus population found in Serra

however,

da Pedra Branca, Caldas, Minas Gerais

completely. Capillary pedicel of patent

state, Brazil (coordinates 21º58’S /

anthesis, from 10 to 18mm in length.

46º22’W DATUM WGS84).

Small bisexual zygomorphic flowers,

description,

using

~ 31 ~

without

disappearing

Lopes, M. F. M. & Williams, E. A.

Regnellea Scientia 3 (1): 30-34, 2016.

Caldas, Pedra Branca, 25/11/1852, A. F. Regnell III.147 (US) (det. as C. regnellii); Caldas, 1854, A. F. Regnell III.147 (LE) (det. as C. regnellii); Caldas, 02/06/1874, A. F. Regnell III.147 (LD) (det. as C. regnellii); Caldas, 1854, A. F. Regnell III.147 (B) (det. as C. regnellii); Caldas, 1854, A. F. Regnell III.147 (K) (det. as C.

hypogynous, from 5 to 7 mm wide, subspheric

flower

lanceolate,

sparsely

buds.

Sepals

glandular-ciliary,

reflective anthesis. Petals 4, clawed at base, free, from white to rosy white, limb oval-suborbicular. Nectary disc carnous. 6 stamens and pistil a little shorter than the double of the corolla length. Anthers dosifixed,

generally

oblong.

regnellii); Caldas, n.d., A. F. Regnell III.147 (BR) (det. as C. regnellii); Caldas, 1854, A. F. Regnell III.147 (R) (det. as C. regnellii); Caldas, 1854, A. F. Regnell III.147 (BR) (det. as C. regnellii); Belo Horizonte, 45km SE of Belo Horizonte, Serra do Itabirito, 12/02/1968, F. A. Iglesias, H. Maxwell & D. C.

Ovary

unilocule, tetracarpellary, suborbicularelliptic; gynophores long and curved. Ovary and anthers proportionally long. Siliques

subfusiformcylindric

15

to

20mm long, slightly attenuated on the edge, tecaphore at the base 5 to 6mm

Specimens examined: BRAZIL, Minas Gerais: Poços de Caldas, Fundação Jardim Botânico de Poços de Caldas area, cultivated on material

Wasshausen 19965 (RB) (det. as C. bicolor); Belo Horizonte, 45km SE of Belo Horizonte, Serra do Itabirito, 12/02/1968, F. A. Iglesias, H. Maxwell & D. C. Wasshausen 19965 (P) (det. as C. bicolor); Januária, 15km by Road W of Januária on Road to Serra das Araras, 20/04/1973, Anderson W.R. 9216 (RB) (det. as C. bicolor). Rio de Janeiro:

brought from de Pedra Branca mountain, 21°46’39.6’’S, 46°37’09.2W, 1183m, 24.02.2016, M. F. M. Lopes 1 (AFR) (det. as C. regnellii); Caldas, Pedra Branca, 21°48’06.4’’S, 46°34’30.1’’W, 1630m, 01.03.2016, M. F. M. Lopes 2 (AFR) (det. as C. regnellii); Caldas, Pedra Branca, 22/02/1865, A. F. Regnell III.147 (WIS) (det. as C. regnellii);

Nova Friburgo, 11/1842, M. Claussen149 (P) (det. as C. bicolor), Rio de Janeiro, Restinga da Tijuca, 27/10/1946, Althon Machado 71272 (RB) (det. as C. bicolor); Rio de Janeiro, Morro dos Cabritos, 01/04/1947, Duarte 953 (RB) (det. as C. bicolor). Rio Grande do Sul: Cachoeira, 10/01/1902 Malme G. O. A. 1041 (S) (det. as C. inermes); Cachoeira,

Caldas, Pedra Branca, 22/02/1865, A. F. Regnell III.147 (S) (det. as C. regnellii);

10/01/1902 Malme G. O. A. 1041 (B) (det. as C. inermes). State not

long,

torulous,

sparsely

glandular-

pubescent. Seeds many, dark brown, cochlear to orbicular, surface covered with small longitudinal hard ribs, rough.

~ 32 ~

Lopes, M. F. M. & Williams, E. A.

Regnellea Scientia 3 (1): 30-34, 2016.

Determined: City not Determined, Organ Mountains, n.d., Gardner 309 (K) (det. as C. bicolor); City not Determined, Organ Mountains, 04/1837, Gardner 309 (BM) (det. as C. bicolor), City not Determined, Organ Mountains, n.d., Gardner 309 (GH) (det. as C. bicolor);City not Determined, Organ

species, based on the observation of

Mountains, 1838, Gardner 309 (P) (det. as C. bicolor); City not Determined, 25/06/1932, Pickel B. D. 3045 (F) (det. as C. bicolor). Extra specimens examined: Cleome rosea, no collection information, codesP06681209, P06681212, P06681190, W0058942, W0058943,

adaptations

collected specimens and material stored in some known databases (JSTOR, Reflora, IPNI, Tropicos, species Link), and the only description made in 1870 by August Wilhelm Eichler. As the original description is old and incomplete some and

inclusions

were

necessary. It is also important to note that Cleome regnellii in some databases is classified as a subspecies of Cleome rosea Vahl., which has a variety of other very similar subspecies, including Cleome inermes Malme, Cleome rosea Vahl. and Cleome

W0058951, W0058949, W0058950, W0058952, W0058946. Habitat: Species heliophyte commonly present on substrate occurring on rock outcrops, growing in the Mata Atlântica biome on high altitudes ranging from 1260m to 1824m (Image 1).

bicolor Gardner (all of them determined by Hugh H. Iltis, ranging from 1951 to 1996), each one of them being difficult to differentiate

due

to

the

lack

of

information on the genus, especially on these specific species. This causes a great

Image 1: Cleome regnellii in its natural

deal of confusion and misidentification.

environment.

Although we are not completely certain, but based on careful observation of herbarium material and the geographical occurrence of each plant, we were able to identify differences and classify our specimen as Cleome regnellii. We also decided to publish this study considering it as a species, not as a subspecies or as a

Photo by Eric Arruda Williams

variety, provided that recently it is

Comments: This is an implemented

accepted as such.

description of the Cleome regnellii Eichl.

~ 33 ~

Lopes, M. F. M. & Williams, E. A.

Regnellea Scientia 3 (1): 30-34, 2016.

Another issue we came across was the fact that there are multiple collected

Eichler,

specimens recorded as Cleome regnellii

VidenskabeligeMeddelelserfra

with different collection dates. However,

NaturhistoriskForeningiKjøbenhavn: 12 –

all of them are labeled with the same

17, p. 190.

A.

W.

1870. Dansk

collection number of III.147, which was used by Regnell in his original collection

Herbarium Specimens in JSTOR Global

in 1854.

Plants

For confirmation and clarification of the

differences

among

these

2016.

Available

in:

. Access on: 07 Mar. 2016

classifications, we recommend that a complete

review

of

the

genus

is HerbariumSpecimens

necessary, followed by a phylogenetic

in

REFLORA,

Herbário Virtual. Jardim Botânico do Rio

study. Only then we will be able to

de

confirm the existence of any possibly

Janeiro.

Available

in:

. Access on: 07 Mar.

REFERENCES

2016 Ara, H.; Khan, B. & Mia, M. M. K. 2007. A TAXONOMIC REVISION OF THE

The International Plant Names Index

GENUS

(2016).

CLEOME

L.

Available

in:

(CAPPARACEAE) IN BANGLADESH.

. Access on: 04

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Mar. 2016

Cleome in Flora do Brasil 2020 em cons-

Tropicos.org. Missouri Botanical Garden

trução. Jardim Botânico do Rio de Ja-

2016.

neiro.

. Access on:

Available

in:

. Access on: 04 Mar. 2016.

~ 34 ~

Available

in:

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