MARTINS, Ana Cristina (2013) – “Mulheres cientistas e os Trópicos: uma visão prelimar”. Actas do Colóquio Internacional Ciência nos Trópicos: olhares sobre o passado, perspectivas de futuro. Lisboa: IICT, 21 pp..

June 13, 2017 | Autor: A. Martins | Categoria: Gender Studies, History of Science, Women and Gender Studies
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MULHERES CIENTISTAS E OS TRÓPICOS. UMA VISÃO PRELIMINAR ANA CRISTINA MARTINS Investigadora Auxiliar do Instituto de Investigação Científica Tropical. [email protected] ; [email protected]

“Recognizing that science is inherently social, political, and ideological, scientists would by necessity have to ask themselves about the social, political, and ideological goals of their science.”

(Sheffield, 106, p. 201)

Resumo: A história das mulheres na ciência em Portugal impõe-se cada vez, sob influência da tradição anglosaxónica neste domínio. Urgindo desvelar nomes e ações da ciência tropical no feminino, cruzaremos história, história da cultura e mentalidades, história da ciência e da técnica, sociologia da ciência e estudos de género, como paradigma de análise de um tema cada vez mais caro para quem se debruça sobre temáticas congéneres. Palavras-chave: Mulher; Ciência Tropical; História da Ciência; Portugal; Século XX. Abstract: The history of women in science in Portugal must be increased under the influence of Anglo-Saxon tradition in this field. Being necessary to disclose female names and practices in tropical science, we will cross history, culture and history of mentalities, history of science and technology, sociology of science and gender studies, as a paradigm for the analysis of a topic that is becoming more interesting for those studying similar themes. Keywords: Woman; Tropical science; History of science; Portugal; 20th century.

INÍCIO Os estudos de género demandam uma visão global acrescida, considerando o contexto em que assomaram, em finais de 50, inícios de 60, quando da segunda grande vaga feminista. Um novel académico que interessou o psicanalista francês Jacques Lacan (19011981) e a filósofa pós-estruturalista norte-americana Judith Butler (1956-), empenhada em interpretar as questões de género como produtos culturais (Sheffield, 2006). Franqueava-se, assim, o caminho à afirmação e aumento desta área do saber, atraindo, primeira e compreensivelmente, o universo feminino. Propagaram-se frentes de trabalho, arrancando ao anonimato contornos ocultos ou mais desconhecidos, para recolocar os feitos femininos 1

no seu lugar histórico. Desmancharam-se, então, pacotes de manuscritos perdidos sob a poeira do tempo e a indiferença dos homens, percorrendo papéis, em demanda do singular e do notável, em nome de memórias que, de outro modo, permaneceriam obscurecidas. Sobretudo, quando a palavra era a da ciência e da tecnologia, tradicionalmente dominadas por homens e por eles pensadas, realizadas e fruídas por homens. Os social studies of science tomaram, pois, novo fôlego, prostrando a fabulação da ciência como universal e incontestável, evidenciando quanto as mulheres tinham ido além de colaboradoras, protagonizando episódios insuspeitos (Nelson and Nelson, 1996). De ora em diante, desdobraram-se artigos, biografias e conferências, em deleite pela historiografia francesa de 60 e crítica khuniana à a-historicidade popperiana do processo científico (Martins, 2012a; Martins, 2012b).

MULHERES ZOÓLOGAS OU O INÍCIO DE UM PRO(CESSO)JETO HISTÓRICO Diferentemente das botânica, geologia, paleontologia e arqueologia (Cohen, 2004), a zoologia nunca foi, propriamente, aceite em termos sociais, no feminino. As razões seriam múltiplas, mas o facto de lidar com a vida e a morte, quantas vezes mergulhadas em sangue, terá ditado o seu afastamento deste domínio do saber, apesar do seu carácter iminentemente prospetivo, de recolha e observação (Burek and Higgs, 2007, p. 131). Centrada na colheita de animais, a investigação zoológica coadunar-se-ia mais ao papel atribuído, tradicionalmente, à mulher, na sua segunda etapa, executada em gabinete, onde o rigor e a minúcia de procedimentos eram palavras de ordem, distinguindo-se na reunião de informação sobre cada espécime e sua catalogação. Nada, ou muito pouco, comparável a outras mulheres que marcaram algumas das ciências atrás enunciadas (Harris e MacNamara, 1984), identificando, inventariando, categorizando (Sheffield, 2006, p. 64) e acondicionando exemplares colhidos, enquanto ilustravam, quantas vezes, edições de seus maridos (Rossiter, 1982, p. 393), associando-lhe a atividade da tradução e da docência básica (Martin, 2011, p. 12). Mas, tudo, ou quase tudo realizado por estas mulheres permaneceu no anonimato, na incerteza, nos bastidores. Com efeito, o conhecimento sobre os seus contributos científicos escasseou durante demasiado tempo. Excessivamente, por ser parte de um todo enriquecedor de uma história comum, e não apenas a da ciência e tecnologia. Conhecer os 2

seus nomes, ações e cooperações, significa enriquecermos saberes acerca da sociedade, da cultura e das mentalidades dos tempos e dos espaços em que se moveram. Felizmente, o cenário historiográfico ocidental das últimas décadas tem sobrepujado esta insuficiência, realistando mulheres dedicadas às ciências que abraçaram quando jovens. Em Portugal, estamos a dar, ainda, os primeiros passos nesta direção. Não que o país seja vazio de curiosidade ou de experiências que visem o mesmo objetivo deste universo de historiadores iniciado pelo olhar anglo-saxónico. Pelo contrário, várias ações têm sido concretizadas no sentido de analisar o papel da mulher na sociedade portuguesa. Mormente, na viragem para o século XX, quando o pensamento republicano acalentou tantas esperanças quanto à conquista de direitos proclamados e exigidos pelo medrante movimento sufragista que tocou, de igual modo, as faldas do sentir feminista nacional. Sucede, no entanto, que a maioria dos estudos pioneiros levados a efeito entre nós, neste quadrante académico, privilegiou o lado educador e assistencial da mulher portuguesa, numa mimetização, mesmo que inconsciente, das atribuições que lhe foram sendo secularmente impostas por um registo judaico-cristão. Mas, os últimos anos têm rasgado novas perspetivas nos estudos das mulheres. Desses novos horizontes, ressaltam os relativos à história da ciência e da técnica, permitindo controverter preconceções quanto à contribuição diminuta e circunstancial na produção de conhecimento científico. Nomeadamente, quando o olhar se centra nos finais de Oitocentos, primeiras décadas de Novecentos. Como em quase tudo, tudo parecia ter sido moldado por homens, por serem deles os discursos prevalecentes a cada instante significativo do desenrolar dos acontecimentos. Urge, por conseguinte, vocalizar sons emudecidos por preceitos oficiosos, tomados como garante de uma determinada ordem social, sonorizando saberes, quereres e fazeres há muito esquecidos pela voragem impiedosa do tempo, bastando, para tal, folhear revistas da especialidade, programas e atas de encontros científicos, há muito, realizados para reiterarmos a sua presença ativa e produtiva1. O momento de principiar um projeto específico sobre mulheres na ciência em Portugal é, precisamente, o atual. Porque se desdobram investigações sobre a história e filosofia da ciência e da técnica entre nós; porque se multiplicam estudos sobre mulheres nos mais

1 Caso do Bulletin de la Société Portugaise des Scicenes Naturelles, em cuja edição de 1922-1924, encontramos, por exemplo, os nomes das zoólogas Josima Lima Ribeiro e Maria Josefina Varela da Costa.

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diversos campos de atuação; porque os contributos de mulheres para a produção de conhecimento ainda rareia entre nós; porque o IICT – Instituto de Investigação Científica Tropical tem aprofundado o domínio da historiografia científica; deu-se início a um programa de trabalhos nesta matéria, visando reconstituir, a longo prazo, a vida e obra das mulheres que marcaram o saber tropical, por ser esta a missão do IICT e o seu “ADN”, no quadro geral das instituições de ciência no país. Neste longo processo, acompanharemos o caminho, por vezes, espinhoso atravessado por nossas protagonistas até serem reconhecidas como cientistas, depois de ingressarem ou montarem redes próprias de investigação, traçando, por vezes, um mundo (quase) colateral que as declarasse nas áreas selecionadas individualmente. Testemunharemos quanto se esforçaram, em muitos casos, bastante mais do que os seus pares masculinos, para que os mesmos saberes e competências lhes fossem reconhecidos. Confirmaremos, de igual modo, um denominador (quase) comum a muitas delas: o partilharem a vida com quem dirigia as missões e os centros de investigação onde carimbaram os seus nomes para a posteridade, num exemplo de como, apesar dos esforços pessoais, era, ainda, por via do casamento que se impunham como cientistas. Pelo menos, numa fase inicial das suas carreiras. Mas, mesmo quando conseguiam libertar-se destas malhas mais estreitas, procurando, com perseverança e competência, garantir a liberdade científica almejada, sacrificavam a vida familiar numa sociedade adversa a uma opção congénere (Rayner-Canham, 2008). Cenário protagonizado, ao mesmo tempo que sobrepujado, por Marie Curie (1867-1934) (Ogilvie, 2004), quando as teorias freudianas desencarceravam e espartilhavam, antagonicamente, anelos e rotinas femininas (Fausto-Sterling, 1985).

A JUNTA DAS MISSÕES GEOGRÁFICAS E DE INVESTIGAÇÕES COLONIAIS: UM BREVÍSSIMO OLHAR2 Fundada em 1936, no âmbito do Ministério das Colónias (MC), a Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais (JMGIC) caracterizava um longo período de trabalhos e discussões iniciado em 1875, com a criação da Sociedade de Geografia de Lisboa. Portugal agitava-se, então, num contexto europeu oposto à administração de seus 2 Assunto analisado parcialmente em: MARTINS, Ana Cristina, Mulheres cientistas e os Trópicos: (in)visibilidades da primeira metade do Novecentos português, Atas do Congresso Internacional Espaços e Atores da Ciência em Portugal (sécs. XVIII-XX). Lisboa: FCSH, 2012 (no prelo).

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territórios ultramarinos. Em particular, Angola e Moçambique, ambicionados por engrandecidos impérios industriais e comerciais, provocando uma política interna colonial regeneradora. Seguiram-se, por conseguinte, as comissões Central Permanente de Geografia (1876), agregada ao Ministério dos Negócios da Marinha e Ultramar; Central de Geografia (1880) e de Cartografia (CC) (1883). Designadas a (re)conhecer holisticamente as geografias de tão distantes domínios, (re)afizeram-se às agendas deliberadas a cada passo, segundo prioridades firmadas, a primeira das quais a (re)definição fronteiriça (Martins, 2010b). Abarcada pela agenda republicana, a CC passou a órgão consultivo da 6.ª Repartição da Secretaria das Colónias, até transitar para a Direção dos Serviços Diplomáticos, Geográficos e de Marinha, pela reforma do MC (1919), num avigoramento do processo de demarcação das fronteiras coloniais. Avocava-se, assim, o interesse político da investigação científica articulada. Em concreto, num panorama internacional inverso da República portuguesa. A reforma da administração central Ultramarina (1920) incorporou-a na repartição dos Estudos Geográficos (EG) da Direção Técnica do Fomento, pertencente à Direção-geral dos Serviços Centrais da Secretaria do MC. Manteve, todavia, as prévias constituição e funções (1893 e 1902), somadas (1924) aos recursos dos EG e saberes universitários. Solvendo-se politicamente, amoldava-se a investigação científica nas colónias como inextrincável do incremento e asseveração do país. Agendaram-se, por isso, conferências, dando-se à estampa opúsculos condenando o letargo governamental, saídos da pena de autoridades, como o geólogo coimbrão Anselmo Ferraz de Carvalho (18781955), o engenheiro silvicultor Raul Guardado, o veterinário Cristiano Sheppard Cruz (1892-1951) e o botânico, também de Coimbra, Luís W. Carrisso (1886-1937). Em conjunto, acautelavam o dever de conhecer as colónias a partir de elementos recolhidos em missões orientadas por especialistas que minguavam entre nós. Somente, assim, se nortearia a política colonial pela necessidade de rentabilizar os territórios de além-mar. Conjuntamente a vozes tão peritas, quanto estas, as exposições de temário colonial e a premência de autonomizar, económica e financeiramente, geografias administradas por Lisboa, persuadiram o Governo a fundar a JMGIC. Mas, o seu historial não foi tão linear como se previa e ambicionava. Conseguiu, porém, adaptar-se às circunstâncias,

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aperfeiçoando sempre que as ânsias internacionais constrangiam o país a inovar o seu relacionamento com as colónias. Neste quadro mais abrangente da produção científica ao serviço de uma determinada política colonial, ainda que procurando, sempre, conciliar ciência pura e ciência de aplicação prática, a zoologia assomou como área estruturante, como o eram outras, a exemplo da botânica, geologia e antropologia. Agora que as demarcações fronteiriças estavam, basicamente, cumpridas, havia que passar à segunda fase de conhecimento que permitisse ocupar, em definitivo, as colónias, alicerçando-a na ciência. Perante esta nova premência, a zoologia tinha, como as demais áreas do saber, de ultrapassar o lugar secundário que ocupava face à premência de (re)delimitar fronteiras basilares à administração colonial e presença militar. Fora, é certo, contemplada em programas anteriores. Disso nos dá testemunho o “Questionário para as Autoridades Administrativas” (1897), da responsabilidade da CC, destinado a recolher informação diversificada, incluindo faunística. Instrução a incluir (1912) nas diversas explorações científicas propostas pela SGL enquanto esteios do conhecimento fulcral a uma agenda colonial concertada, constituindo, para o efeito, no seu seio, uma Comissão Especial de Estudo dos Problemas Coloniais. Dividida em subcomissões, de acordo com as áreas científicas, esta Comissão entendia que as Explorações Botânicas e Zoológicas deviam estudar, detalhadamente, na metrópole, a flora e a fauna dos territórios de além-mar, estabelecendo, para o efeito, normas de coletar, acondicionar e enviar os espécimes para Lisboa. Mas, se os intuitos económicos eram, então, já evidentes, foram-no ainda mais quando da publicação do Plano da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais (1945), ao definir objetivos muito precisos neste âmbito, ancorando-os na investigação científica, atentos que estariam ao teor do African Research Survey (1929), projeto levado a efeito nos anos 30 para averiguar formas interdisciplinares de aplicar a ciência aos problemas identificados no continente africano (Tilley, 2011), tão importante num contexto de, ainda, pós-guerra e de crash novaiorquino. Procurando cotejar a ciência nos trópicos portugueses a parâmetros mundiais e principiando pelos estudos do solo, o Plano sublinhava a relevância da zoologia e botânica para aferir potencialidades várias, incluindo agrícolas, antes de elencar os saberes proporcionados pelas ciências humanas e sociais, definindo Moçambique, Angola e a 6

Guiné como as grandes prioridades do momento. Não bastava, por conseguinte, ocupar os territórios ultramarinos; urgia desenvolvê-los a partir do profundo conhecimento científico carreado sobre os mesmos (Martins, 2011). Mais do que favorável, o contexto político nacional e internacional exigia uma estrutura científica modelar. Assim se entende melhor o surgimento de centros específicos de investigação no quadro da JMGIC. Similar, em termos funcionais, a museus de história natural existentes além-fronteiras e baseando-se no lisboeta, o Centro de Zoologia (CZ) da JMGIC concentrou-se, de início, na inventariação da biodiversidade dos territórios a explorar, achando-se, para o efeito, na taxonomia, pelo que parte significativa dos seus investigadores eram sistematas especializados. Compreende-se, pois, a ausência, quase total, à época, de publicações resultantes de análises comparativas de materiais colhidos noutros territórios. Particularidade ultrapassada, gradualmente, sobretudo graças à forte ligação de Fernando Frade Viegas da Costa (1898-1983) ao Jardim Zoológico de Lisboa, valendo-lhe a observação de animais vivos (conquanto em cativeiro) e as primeiras investigações em áreas de aplicação, como a parasitologia, interligando ciência pura e ciência aplicada mediante procedimentos taxonómicos (Pinheiro, 2010). AMÉLIA VAZ DUARTE BACELAR. UMA MULHER NA ZOOLOGIA DA JMGIC Desde o início, que a JMGIC acolheu mulheres cientistas citadas pela sua proficiência científica e técnica. Apesar isso, tem perdurado um mutismo atroador acerca do seu trabalho. Provavelmente, pelo papel iminentemente maternal assentido pelo Estado Novo à mulher. Por isso, também, despontavam enquanto consortes de investigadores, coletores e preparadores, cujo saber reunido a seu lado provaria, em pleno, o seu enquadramento no novo organismo governamental. Mas, aos poucos, houve quem, de entre estas pioneiras, fizesse vingar os seus nomes, animadas por seus maridos que lhes abriam portas à produção científica, após concluírem os seus percursos universitários em Coimbra e, mais tarde, em Lisboa e no Porto. Ainda que receosamente, algo mudava neste âmbito, possivelmente em razão, também, do republicanismo inquieto desde finais de Oitocentos. Entre as primeiras colaboradoras de estudos sobre a África portuguesa, constavam, precisamente, amadoras e especialistas em zoologia e botânica, duas áreas prioritárias para os desígnios coloniais do regime. Mas, se a botânica servia de base afirmativa de mulheres na ciência, por ser um exercício socialmente mais admissível, a zoologia não o era. Pelo 7

menos, por enquanto. Por isso, também, se tornava, ainda, surpreendente que uma mulher se especializasse em zoologia, deslocando-se, efetivamente, ao terreno, não se circunscrevendo às quatro paredes de um gabinete de trabalho. Algumas destas primeiras licenciadas em zoologia acabaram por escrever os seus cognomes em anais científicos. No início, contudo, das suas carreiras, alcançaram-no mercê do apoio dos seus maridos. Foi o caso de Amélia Vaz Duarte Bacelar (1890-1976). Com o curso de Ciências Histórico-Naturais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), Amélia Bacelar entrou, como Naturalista, no quadro do Museu Zoológico e Antropológico (MZA3) (Museu Bocage), anexo àquele estabelecimento de ensino superior, num momento em que poucas eram as mulheres a laborar no seu interior. Teve, aí, oportunidade de observar e trabalhar coleções procedentes do Real Museu da Ajuda (1858), com as quais se compunha parte expressiva dos gabinetes de História Natural existentes na antiga Escola Politécnica, em cujas instalações desenrolavam os seus dias. Entre a multiplicidade destas coleções, destacavam-se as colhidas, entre outros, por José Alberto de Oliveira Anchieta (1832-1897), J. Bethencourt Ferreira (1866-?) e Albert Monard (1886-1952), estudadas, agora, por alguns dos seus sucessores. Destes, a própria Amélia Bacelar, nomeadamente ao publicar Aracnídeos portugueses, precedido de outros trabalhos seus: Era meu desejo […] encetar a publicação dos Aracnídios Portuguêses com um catálogo que encerrasse todas as espécies descritas ou citadas até então de Portugal. // […] não é certamente completo, mas espero aperfeiçoá-lo […] , com o que se me for deparando, e o auxilio de todos quantos, interessados pelas nossas publicações precedentes, nos têm aplanado dificuldades e fornecido elementos de real valor

(Bacelar, 1928, p. 170) Os interessados pelo seu labor não eram individualidades de pouca relevância. Antes pelo contrário. O que, numa primeira abordagem, nos faz crer numa inteligente rede de conhecimentos que soube integrar e tecer, ao mesmo tempo que o apreço que detinham sobre os resultados que cumulava. Entre eles, encontramos o médico e naturalista Artur Ricardo Jorge (1886-1975), diretor do Museu Bocage; Bernardo Aires, diretor do Museu Zoológico da Universidade de Coimbra; Augusto Nobre (1865-1946), diretor do Museu Zoológico da Universidade do Porto; o poderoso histologista e fisiologista Marck Anahory 3

Secção Zoológica e Antropológica do Museu Nacional de História Natural.

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Athias (1875-1946), diretor do Instituto de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Lisboa, etc; além da especialista alemã em aracnídeos, Maria Dahl (1872-1972), da Universidade de Kiel, e Domènec Ventalló, do Museu de História Natural de Barcelona. Independentemente destes dados, retirados dos seus próprios escritos, sabemos ainda pouco acerca do seu percurso até abraçar missões zoológicas traçadas pela JMGIC, enquanto prosseguia a investigação referente a Portugal continental, incluindo ilhas autónomas. Podemos, no entanto, começar pela própria titulação “Naturalista”, ao perpetuar um sentido anterior da prática zoológica e de ciências conviventes, enquadrado no conceito de História Natural, ainda significativamente centrado no estudo morfológico e filogénico, apesar do interesse crescente pela experimentação que dominaria a investigação. Em rigor, tratava-se de um termo Sete e Oitocentista bem presente na primeira metade de Novecentos, possivelmente em razão da coeva ideia assaz abrangente de zoologia. Não surpreende, portanto, que, de um modo geral, as primeiras zoólogas fossem identificadas como ”biologists, naturalists, or specimen collectors and museum curators.” (Wayne, 201, p. 174); estas últimas, por maior consentaneidade à sua presumida feminilidade. Conhecemos, no entanto, o suficiente da obra de Amélia Bacelar para intuir que as suas opções académicas terão sido concretizadas graças a um apoio familiar ainda inusual na nossa sociedade de então, mormente por se tratar de um ambiente ditado por fortes tradições monárquicas que pouco se coadunariam a uma feminilidade submergida em labores científicos. Principalmente zoológicos. Exigindo (re)aberturas corpóreas e lidando de perto com a vida e a morte, a zoologia entendia-se como foro (quase) exclusivo do homem, ancestralmente acostumado a abeirar-se do fim existencial de cada um dos seus antepassados, na ânsia de (sobre)viver a contendas militares e fustigações naturais. Fatores que ensombraram sempre o quotidiano de suas ligações avoengas, enquanto fios condutores de memórias a manter para perpetuar os seus próprios seres, sentires e fazeres. Não nos equivocaremos, na totalidade, ao interpretar Amélia Bacelar como representante de outras mulheres cientistas produzindo, não na experimentação, mas na quantificação, executando tarefas monótonas, porém essenciais, como a classificação, acondicionamento e exposição de espécimes. Por isso, também, e porquanto (presumidamente) coadunável ao espírito feminino, lhes atribuíam funções museológicas, entendendo-se, por conseguinte, a sua expressiva representatividade na botânica, zoologia 9

(embora menos) e antropologia, por serem áreas mais compatíveis a este cenário moldado por seus pares homens (Kass-Simon and Farnes, 1993: 107). Mais do que isso, eram cargos considerados intelectualmente menos exigentes, donde executáveis com maior destreza por quem, na ótica masculina, seria menos apto a teorizações e experimentações (Kass-Simon and Farnes, 1993: 252). Mas, estes lugares ocupados, de modo (quase) esmagador, por mulheres, significaria, tão-só, serem os que lhe entreabriam as portas da ciência, de modo mais célere e consensual. Não obstante, o material reunido por nós até ao momento, faz-nos entrever uma Amélia Bacelar pouco enquadrada neste paradigma. Com efeito, o gabinete não devia satisfazê-la em pleno, por vermo-la em missões zoológicas no terreno e na primeira linha quando a palavra de ordem era a deslocação a África. Neste sentido, diferenciava-se de outras mulheres que, investigando, também, no quadro da JMGIC, nunca viajaram ao mundo subsaariano, por ele deambulando através de materiais colhidos por outrem. Uma das explicações para este caso algo incomum no panorama científico nacional poderá residir, contudo, no facto de ter casado com um zoólogo, sendo que a história da ciência nos fornece múltiplos exemplos de zoólogos preferindo colegas para suas companheiras (Rossiter, 1984, p. 393), provavelmente pelas exigências de carreira inerentes que seriam, assim, compreendidas e cumpridas com maior facilidade. Com efeito, Fernando Frade, a quem Amélia Bacelar terá devido parte do seu percurso numa ciência tão cerrada, à componente feminina, provinha de uma forte tradição familiar na zoologia, na medida em que os Conservadores dos Museus Botânico e Zoológico (= Bocage) (1858) eram seus tios. Terminando, como Amélia Bacelar, o Curso de Ciências Histórico-Naturais (1916-1921), FCUL, foi nomeado (1924), também ele, e por concurso, Naturalista daquele mesmo Museu, ao mesmo tempo que colaborava com o Jardim Zoológico de Lisboa (1884) e lecionava Zoologia e Antropologia, uma conjugação de saberes herdada de Oitocentos quanto ao entendimento do lugar do homem na Natureza. Início auspicioso, confirmado pela obra que deixou, de reconhecimento nacional e internacional, valendo-lhe a direção da prestigiada Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais; a nomeação para vogal da JMGIC (1940) (Rodrigues, 2010); a direção do respetivo CZ, fundado em 1948, na esteira da primeira grande reformulação interna da JMGIC. Assim se reiterava o prestígio académico de alguém que era também membro da (já) incontornável Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, enquanto participava 10

em encontros da maior relevância, como o I Congresso Nacional de Ciências Naturais e o XII Congresso Internacional de Zoologia, patrocinado pelo Instituto para a Alta Cultura (1936-1952). Amélia Bacelar dispunha, por conseguinte, das condições essenciais a um trajeto promissor na zoologia. Assim permitissem o seu saber e empenho, demonstrados, ademais, na missão de estudo efetuada em 1938, patrocinada pelo IAC, ao British Museum, às Linnean Society e Royal Society, assim com ao Musée National d’Histoire Naturelle de Paris (Rollo et al., 2012, p. 137). A vontade, essa, parecia ilimitada perante a possibilidade de continuar a colaborar com o seu marido, após experiências cumuladas por ambos no Museu Bocage. Sendo F. Frade vogal da JMGIC, o Ministro das Colónias, Francisco José Vieira Machado (1898-1972), pretendeu (1944) nomeá-la Adjunta da Missão Zoológica da Guiné; a Amélia Bacelar, Naturalista do Museu Zoológico e Antropológico da FCUL (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 1, 7.07.1944). A sua designação coincidia, por exemplo, com a contratação, no mesmo ano, da botânica Ester Pereira de Sousa (1907-?) para estudar o material botânico colhido pela 1.ª Missão Zoológica da Guiné, numa demonstração mais de como os trabalhos eram desejavelmente conduzidos em paralelo, quando não em simultâneo, de modo a rentabilizar recursos materiais e a obter um quadro holístico das mesmas regiões4. Aceitando, aparentemente, sem hesitações e restrições, Amélia Bacelar declarou, então, como qualquer outro funcionário público, pela sua “honra que estou integrada na actual Constituição Política da República Portuguesa, com activo repudio do comunismo e de todas as ideias subversivas, nos termos do decreto n.º 27.003” (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 3, 8.08.1944). Tratava-se da primeira grande missão zoológica da JMGIC a África, no cumprimento dos objetivos contidos na criação daquele mesmo organismo, perspetivando a ocupação efetiva do Ultramar, escorada no conhecimento profundo das suas existências, valências e potencialidades, assim como no 15.º do Decreto-lei n.º 33.613, de 17 de Abril de 1944, o 4

Mendes Correia (1888-1960) testemunha quanto se procurava capitalizar recursos materiais e humanos das missões, fazendo, sempre que possível e desejável, coincidir, no terreno, investigadores de diferentes especialidades: “Almoçamos em Mansôa [entre os Fulas] na casa do Administrador Sr. Bull, que esteve na Escola Superior Colonial em Lisboa e me mostra as Raças do Império. São também convivas o Sr. Dr. Frade, da Faculdade de Ciências de Lisboa e chefe da missão zoológica, e a sua colaboradora e esposa, D. Amélia Bacelar Frade. Contam-se imensas coisas dos trabalhos das duas missões.” (Correia, 1947: 97); “Em Mansôa, despedimo-nos do administrador sr. Bull e do sr. Dr. Frade e esposa, da missão zoológica, com os quais várias vezes nos havíamos encontrado. No caminho encontrámos duas brigadas da missão geográfica em trabalhos também na Guiné.” (Id., Ibid: 108)

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qual mandava criar Missões Zoológicas às Colónias. Faziam, ainda, parte da Missão Bernardo Coelho Gonçalves, Naturalista da Estação de Biologia Marítima (Aquário Vasco da Gama, Ministério da Marinha), e Pedro Ferreira Marques, Coletor do MZA da FCUL, adjuntos e ajudantes de trabalhos de preparação, devidamente dispensados, para o efeito, pelas respetivas tutelas ministeriais (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 5, 12.09.1944). Parecia que nem a 2.ª Guerra Mundial adiava o trabalho, à semelhança, ademais, do que sucedera com colheitas botânicas em Moçambique (Mendonça e Sousa, 1968, p. 117-191). Regressando à metrópole em meados de 1945, a 2.ª campanha desta Missão não terminara, todavia, o trabalho, pois as colheitas continuavam, por mão de pessoal da Colónia devidamente industriado, para o efeito, pela Missão. Era, no entanto, razão suficiente para que o, então, presidente da JMGIC, o geólogo e antigo Ministro do Comércio e Comunicações5, José Bacelar Bebiano (1894-1967), advogasse o retorno, à Guiné, do Chefe da Missão, F. Frade, e do Adjunto da mesma, a Naturalista do Museu Bocage, Amélia Bacelar, o que sucedeu em novembro e dezembro desse mesmo ano (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 13, 9.08.1945). Testemunho único e na primeira pessoa, o relatório da Missão, assinado por Amélia Bacelar e Bernardo Gonçalves, extravasa o estrito universo da zoologia ao agregar observações botânicas, etnográficas e antropológicas, detalhando os trabalhos diários, ressaindo a investigação dos ecossistemas das espécies elencadas na Convenção de Londres, relativa à proteção da fauna e da flora em estado selvagem (1933)6 (Pinheiro, 2010), no seguimento da qual o Governo aprovou a Proteção da Flora e Fauna Africanas, a aplicar na Guiné Portuguesa e restantes colónias. Prosseguindo no estudo dos materiais colhidos na Guiné, Amélia Bacelar foi transferida (Abril de 1948) para a Missão Zoológica a Moçambique (MZM), financiada com verba extraída do Fundo de Fomento (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 31, [?].04.1948) (decreto n.º 34 446, de 1947). Ademais, tal sucedeu imediatamente a seguir à fundação do CZ, continuando o enfoque assentado naquela antiga Província Ultramarina, desde os primórdios da CC. Posição compreensível face ao determinado pela comissão do plano de sua valorização económica, assente numa abordagem holística das suas valências.

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De 18 de abril a 11 de junho e de 10 a 19 de outubro de 1928. Na esteira do I Congresso Internacional para proteção da Natureza, realizado em Paris (1923).

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Aceitava-se, pois, que um conhecimento mais profundo da riqueza zoológica dessa geografia africana contribuiria para o desenvolvimento das suas gentes e, por inerência, do império a firmar (Martins, 2010a), no mesmo ano em que a União Internacional para a Proteção da Natureza era constituída. Enquanto isso, e urgindo estreitar colaboração com outras missões, mormente de agricultura, silvicultura, botânica e pecuária, para valorizar o território, as Missões deviam atuar nas mesmas áreas, a fim de “prospetar a fauna entomológica das culturas agrícolas e florestais, analisar a ecologia das pastagens e a fauna para estudos de proteção, e as lagoas do litoral a sul do Save.” (Pinheiro, 2010, p. 141). Entretanto, a integração de Amélia Bacelar nestas Missões começou a desaprouver à tutela do MZA. Com efeito, o próprio diretor geral do Ensino Superior e das Belas Artes, Mário de Andrade (1912-?), dirigiu-se ao colega responsável pelo Ministério das Colónias, demonstrando-lhe o seu profundo descontentamento com a situação criada, ansiando ultrapassá-la pelo que prejudicava os serviços do museu a cujo quadro Amélia Bacelar pertencia. Relembrava, por isso, tê-la dispensado, na convicção de que tal missão não importaria o afastamento da dita Naturalista, do serviço deste Museu, por prazo superior a um ano e, mesmo assim, de que os benefícios para o Museu compensariam os prejuízos. // A missão prolongou-se desde então até hoje (de Missão Zoológica à Guiné Portuguesa passou a Missão Zoológica de Moçambique), a despeito da minha insistência reiterada, junto da comissionada, por que voltasse ao serviço do Museu, sempre na esperança que esse regresso se daria em breve (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º

207. Doc. 4, 13.05.1949) O mais gravoso, porém, seria o facto de que “nenhum benefício adveio para este Museu da participação da Naturalista nas referidas Missões.” (Ibid.). Neste entretanto, chegara-lhe um ofício do MC, transcrevendo comunicação sobre o mesmo assunto, da responsabilidade da Comissão Executiva da JMGIC. Nele se esclarecia passar Amélia Bacelar a auferir, a partir de 1 de Abril de 1949, de vencimento retirado do orçamento da MZM. Perante este dado, M. de Andrade não deixou de interpretar tal resolução como significando um afastamento que entrou já no seu 5.º ano, “da dita Naturalista, do serviço deste Museu, por prazo indeterminado, sine die.” (Ibid.). Ora, Como o afastamento da dita Naturalista causa graves prejuízos aos serviços deste Museu (Secção Zoológica e Antropológica do Museu Nacional de História Natural), de efeitos tanto mais sensíveis quanto é certo que o quadro dos Naturalistas deste Museu é extremamente reduzido, tenho a honra de vir solicitar de V. Ex.ª se digne obter das instancias competentes

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que a referida Naturalista, no caso de não regressar ao serviço deste Museu, seja colocada em situação que permita promover o preenchimento do lugar de uma maneira estável e eficaz

(Ibid.) Assim se pretendia distanciar, em definitivo, Amélia Bacelar do quadro do Museu ao qual concernia. Mas, assim, também se almejava conter o créscimo de um Ministério que parecia sobrepor-se a interesses de outrens, numa evidência do relevo aditado do programa científico na agenda colonial do Estado Novo, ao mesmo tempo que se inferiam mal-estares face a uma tutela assegurada por alguém da envergadura, estatuto e carisma de Teófilo Duarte (1898-1958). Questionado sobre a matéria, F. Frade retorquiu superiormente, na qualidade de diretor do CZ da JMGIC. Resposta que não terá sido difícil nem morosa de redigir, considerando a proximidade da situação em causa: Solicitada a indicar qual tem sido a sua colaboração no serviço a que pertence (Museu Bocage), esclareceu que a situação de comissionada no Ministério das Colónias, desde 1944, tomou parte em três campanhas de campo (2 na Guiné e 1 em Moçambique); e, nos intervalos dessas campanhas, executou os respectivos trabalhos de gabinete, não deixando, no entanto, embora legalmente dispensada do serviço, de frequentar o seu laboratório no Museu, para elaboração de um estudo sobre Lepidópteros africanos, entregue ao Senhor Director do Museu Bocage, para publicação, em Maio de 1948 antes de partir para a campanha de Moçambique. Portanto, durante o período de comissionada, elaborou e contribuiu para as seguintes publicações: // - Relatório da Missão Zoológica e contribuições para o conhecimento da fauna da Guiné Portuguesa” // - Lepidópteros africanos // Na continuação do referido estudo tem a mesma Naturalista continuado a trabalhar no seu gabinete do Museu (Ibid.)

Perante esta exposição, parecia não haver substância de facto para as críticas desferidas por M. de Andrade. Mas, possivelmente, antevendo um crescendo de animosidade e interpelações, F. Frade defensou que “A situação actual do funcionário visado permite a sua substituição interina no cargo de Naturalista do Museu, por período mais ou menos largo conforme foi consentida a continuação da Comissão de serviço em que se encontra.“ (Ibid.). Não existindo, contudo, na legislação possibilidade de a colocar em situação estável no MC, e sendo a sua colaboração imprescindível ao êxito dos trabalhos em curso na JMGIC, o diretor do CZ propôs que a continuação da sua comissão de serviço fosse autorizada por período não inferior a 5 anos, “durante o qual o seu lugar no Museu poderá ser preenchido de modo eficaz.” (Ibid.). Não teve, porém, força suficiente para obstar à exposição de M. de Andrade, tendo Amélia Bacelar regressado ao serviço do Museu, por determinação do próprio Ministro das Colónias, que assim cedia aos argumentos do responsável maior pelo quadro de pessoal ao qual pertencia a Naturalista (Ibid.). O que não 14

impediu que prosseguisse a colaborar com a Junta, agora já de Investigações do Ultramar (JMGIU), mesmo que o fizesse de modo algo indireto, conciliando interesses de ambas as instituições. Assim se entende que, em 1953, redigisse Algumas aranhas de Moçambique, onde descortinamos boa parte do que seria o seu método de trabalho e probidade intelectual, ao nomear quem a coadjuvava na investigação: Embora desde há muito tempo tivesse delineado o presente trabalho, só agora chegou a oportunidade de o aprontar para publicação, após as consultas bibliográficas e os confrontos necessários no Laboratório (Vermes e Crustáceos) do Museu de História Natural de Paris, onde passei boa parte das minhas férias trabalhando, graças às facilidades sempre amavelmente concedidas pelo Prof. L. Fage7. À colaboração do Sr. J. Jesus devo a perfeita apresentação dos desenhos que esbocei à câmara clara(Bacelar, 1955, p. 1. Nossos itálicos)

Por conseguinte, Amélia Bacelar não se limitava a fazer um levantamento exaustivo da bibliografia existente sobre o tema trabalhado, como se preocupava, como demais pares, a cotejar os espécimes estudados com outros existentes em espaços estrangeiros, a eles se deslocando, para o efeito, e sempre que necessário, utilizando o período de férias a que tinha direito. Tal era a sua entrega à ciência. Mas, os horizontes de África não a libertavam por completo, independentemente das verdadeiras razões que lhe subjaziam. Recorrendo, de novo, a dias de férias, Amélia Bacelar visitou (1954) a ilha de São Tomé para ampliar as coleções dos nossos estudos, coincidindo com parte do tempo em que a Missão Científica de São Tomé começara a prospetar (Bacelar, 1958, p. 47). Em meados de Julho de 1955, Amélia Bacelar partiu de novo. Dessa feita, para Moçambique, como Agregada da campanha desse ano da MZM (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 16, [?].07.1955). Surgia, pois, já não como “naturalista”, mas como “agregada” ou “benévola” do CZ, com equiparação a bolseira do Instituto de Alta Cultura (1952-1976), organismo responsável pela política cultural e de investigação científica durante boa parte do Estado Novo, configurando-se o recurso, por excelência, para quem procurasse investigar fora das malhas institucionais de primeira pertença. Dois anos volvidos, pretendeu associar-se, em Angola, e a expensas próprias, ao grupo de Estudos Agrícolas do Ultramar, dependentes do CZ. Juntava-se, por conseguinte, a outros investigadores que, como Ester Pereira de Sousa, contribuíram, mesmo que fugazmente, para o desenvolvimento de projetos neste âmbito, que ganhava relevância pelo auxílio 7

Louis Fage (1883-1964), aracnologista francês.

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estimável concedido às economias provinciais mediante o progresso agrícola. A junção entre ciência e economia era, pois, cada vez mais patente e avocada. Devidamente autorizada, partiu no início de Julho de 1957, em Paquete da Companhia Colonial de Navegação (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 17, 27.06.1957), beneficiando apenas dos transportes naquela Província (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 16, 29.05.1958) e de despesas comportáveis pelo orçamento (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 16, 30.04.1959). Tudo, justificado com carência de especialistas a obter junto de organismos, como o MZA. Entretanto, foi destas Brigadas de Estudos Agronómicos do Ultramar (1958-1960) que brotou, por mão inicial do engenheiro-agrónomo Hélder José Lains (1921-1984), a Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar (1960-1965), de acordo, mais ou menos formal, com os Planos de Fomento (19538-1958 e 1959-1964) da agricultura, energia hidráulica e indústrias de base. A ligação entre ciência e economia era, sem dúvida, mais evidente e assumida. Neste entrementes, deslocou-se, com a F. Frade, a Angola, por lhes interessar, há muito, o seu estudo zoológico, “a que procedemos em Luso, parte do ano de 1958 e parte em 1959, trazendo a Lisboa apenas uma meia dúzia, para cuja determinação se carecia de exame comparativo e de consultas bibliográficas no Centro de Zoologia da Junta de Investigações do Ultramar.” (Frade e Amélia, 1961, p. 117. Nossos itálicos); numa comprovação, mais, da interseção (quase) permanente entre trabalhos executados no MZA e no CZ. Em 1963, o CZ passou a designar-se Missão de Estudos Zoológicos, autonomamente da área científica e geográfica à qual se reportasse, agregando brigadas com desiderandos próprios ou multidisciplinares. Nesta medida, os investigadores principiaram a deslocar-se aos territórios ultramarinos a título individual ou em pequenas equipas, por períodos bastante mais curtos, confiando parte substancial dos trabalhos a organismos locais, passados que estavam vários anos sobre a criação dos institutos de Investigação Científica de Angola e de Moçambique. De novo, surgiu Amélia Bacelar, como elemento basilar dos 8 Ano em que o então presidente dos Estados Unidos, Dwight D. Eisenhower (1890-1969) apresentou, no discurso proferido na Assembleia Geral da ONU, o programa Átomos para a Paz, a primeira iniciativa política de desenvolvimento – ao mesmo tempo que de controlo - da tecnologia nuclear para fins (aparentemente) pacíficos. Iniciativa que colheu frutos no seio da comunidade científica internacional, acolhendo Genebra, dois anos volvidos (1955), a Conferência sobre os Usos Pacíficos da Energia Atômica. Deve-se, contudo, analisar estas diligências num quadro mais abrangente de estadística internacional, justificativa da necessidade de demonstrar o potencial tecnológico e científico ocidental.

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estudos a conduzir no terreno, perante a vasta experiência colhida nesses contextos tão longínquos de Lisboa. Por isso, se requereu a sua junção à Missão, como testemunho de quem, não sendo remunerado, continuava a realizar o seu trabalho com a mesma responsabilidade, sendo favorecida somente com “o disposto nos artigos 30.º e 37.º do decreto-lei n.º 35.395, assim como dos transportes nas Províncias Ultramarinas, acompanhando nos seus deslocamentos o pessoal científico da Missão.” (IICT/SSEA. Proc. Individual n.º 207. Doc. 16, 26.07.1963): 30. º : “Poderão ser admitidos como agregados os cientistas ou técnicos, especializados nos trabalhos a empreender pelas missões, que o solicitem com o fim de adquirirem experiência de investigação no ultramar. // Os agregados têm unicamente direito a passagens por conta do Estado, mediante o compromisso de subordinarem a sua acção às determinações do chefe da missão. // $2.º . A violação intencional ou culposa do compromisso prescrito no parágrafo anterior importará a obrigação de restituir a importância das passagens concedidas. // Art.º 37.º : Todo o pessoal que se encontre ao serviço das missões terá direito, no ultramar, a hospitalização, assistência médica e medicamentos nas mesmas condições em que o tiver o funcionalismo público da colonia onde as missões se encontram operando (Ibid.)

ZOOLOGIA NO FEMININO, ENQUANTO PARADIGMA DA MULHER NO SABER TROPICAL A história da ciência no feminino, ou das mulheres na ciência, potencia o (re)conhecimento do papel de quem, por ser mulher, permaneceu no esquecimento, e cujas causas exigem avaliação (Fox Keller, 1985). Afastando os reposteiros que pesaram sobre os seus nomes, é possível e necessário divisá-las na vontade inquebrantável de escolher a sua própria demanda, sacrificando, quantas vezes, aspetos pessoais. Tenacidade que lhes permitiu romper o anonimato, integrando redes de conhecimentos fundamentais à (sobre)vivência de seus projetos. Mas, nem sempre assim sucedeu com todas as protagonistas. Muitas esmoreceram, abandonando carreiras, enquanto outras emudeceram no fundo de baús e prateleiras empoeiradas, enaltecendo os seus pares masculinos. As duas últimas décadas têm, felizmente, ultrapassado esta ignorância ou desmerecimento, entrecruzando história, filosofia e sociologia da ciência com história das mulheres para, em conjunto, (re)compor-se o (in)visível nesta atuação essencial à humanidade. Aferem-se, por isso, ascendentes sociais, políticos, económicos, e outros mais, na seleção de instituições de ensino frequentadas; de áreas e temas de investigação; do objeto de estudo; de paradigmas e procedimentos; de validação de resultados; de 17

interpretação de dados e respetivas conclusões; de perspetivas para análises futuras. Assim se totalizará um outro historial mais amplo: o da ocidentalidade murada no desenvolvimento científico-tecnológico. Haverá, por conseguinte, que recuperar nomes e feitos neste domínio, para que a história, a história da cultura e das mentalidades, e a história da ciência e da tecnologia, possam ser preenchidas em pleno. Por isso, urge avançar nesta busca, recompondo redes familiares; formações académicas; atividades e redes profissionais; outputs científicos e legados intelectuais. Amélia Bacelar é apenas um exemplo de mulheres cientistas que, seguras da sua ciência e vontade, perseveraram, auxiliando nomes grados das suas próprias especialidades. Não obstante, o tempo esqueceu-as; ou, antes, os homens olvidaram-nas. Mesmo quantas, como Amélia Bacelar, não se limitaram a permanecer em Lisboa, catalogando e estudando as coleções colhidas no além-mar. É tempo de recolocá-las nos respetivos cronogramas, sobretudo de quem, como a nossa visada, somou deslocações a outros herbários, bibliotecas e arquivos, a par de missões que lhe conferiram um conhecimento apreciável do terreno. Amélia Bacelar que, como Ester Pereira de Sousa, nunca prescindiu de assinar o seu apelido de solteira, como forma de se individualizar perante o marido, testemunha bem as mulheres que vêm servindo de base ao projeto agora apresentado. No conjunto, este caso faz prever uma fonte informativa a explorar, nela recolhendo nomes e ações capitais ao historial completo destas Missões, reconhecendo-lhes contribuições para o Saber Tropical, neste caso, zoológico. Resgatando, a par e passo, os seus nomes, tributá-las-emos nos trabalhos concretizados acerca do além-mar. Alargaremos, deste modo, os estudos de género enquanto parte indissociável da história da ciência, cultura e mentalidades, talhando uma página mais do nosso projeto “Mulheres cientistas nos Trópicos”, a decorrer no IICT, desde finais de 2011. Lisboa, Primavera de 2012

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