Marx, alienação e feiticismo: uma perspetiva acerca da liberdade religiosa

May 25, 2017 | Autor: Paulo Antunes | Categoria: Marxismo, Religião, Liberdade, Fetichismo, Alienação, Feiticismo
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APEIRON Revista Filosófica dos Alunos da Universidade do Minho Student Journal of Philosophy (Portugal)

Nr. 9 Filosofia, Religião e Ateísmo

Philosophy, Religion and Atheism (01/2017)

Convidado de Honra: Guest of Honor:

Slavoj Žižek (European Graduate School)

1

3. Marx, alienação e feiticismo: uma perspetiva acerca da liberdade religiosa Paulo Fernando Rocha Antunes1 Ἀσεβὴς δὲ, οὐχ ὁ τοὺς τῶν πολλῶν ϑεοὺς ἀυαιρῶν, ἀλλ' ὁ τὰς τῶν πολλῶν δόξας ϑεοῖς προςάπτων. (Diógenes Laércio apud Marx, 1841)

§ 1. Nótulas introdutórias

Eis o difícil desafio a que nos propomos em tão reduzido espaço: avançar uma determinada análise da conceção marxista de sociedade como proposta para a fruição efetiva de uma plena liberdade religiosa, por paradoxal que possa parecer a um leitor desprevenido e até aos mais prevenidos. Àqueles a quem não pareça paradoxal, recorda-se que a conceção marxista é

uma

“conceção

materialista

da

história”

(materialistischer

Geschichtsauffassung, como Karl Marx e Friedrich Engels se referiam à sua doutrina) 2. É igualmente uma conceção ateísta da realidade, quer seja no que diz respeito à Natureza, mas particularmente em relação à sociedade 3. É ainda certo

1

Doutorando em Filosofia Política Contemporânea pelo Programa de pós-graduação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). Investigador do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa (CFUL) integrado no Grupo de trabalho PRAXIS, membro do Núcleo de Estudos Políticos da Universidade de Lisboa (nepUL) e do Grupo de Estudos Marxistas (GEM). Contacto: [email protected]. 2 Recorda-se ainda que o materialismo foi quase sempre visto como o principal inimigo de uma conceção teológica da vida, recorde-se, por exemplo, George Berkeley, Principles of Human Knowledge de 1710. 3 É precisamente a desconsideração de uma perspetiva materialista em relação à sociedade que Marx, na primeira das suas Thesen über Feuerbach (1845), pretende destacar quando assinala que «o principal defeito de todo o materialismo até aqui, o de Feuerbach incluído, é que as coisas, a realidade, o mundo sensível são tomadas apenas sobre a forma do objeto ou da contemplação [Anschauung]; mas não como atividade sensível humana [sinnlich menschliche Tätigkeit], Práxis, não subjetiva.» - «Der Hauptmangel alles bisherigen Materialismus (den Feuerbachschen mit eingerechnet) ist, daß der Gegenstand, die Wirklichkeit, Sinnlichkeit nur unter der Form des Objekts oder der Anschauung gefaßt wird; nicht aber als sinnlich menschliche Tätigkeit, Praxis; nicht subjektiv.» (sublinhados do autor, Marx, 1978: 5). É este, 43

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