Massao Ohno, Hilda Hilst e a busca da poesia total

July 6, 2017 | Autor: Claudio Willer | Categoria: Literatura Brasileira Contemporânea
Share Embed


Descrição do Produto

Massao Ohno, Hilda Hilst e a busca da poesia total

Claudio Willer

Versão ampliada do artigo publicado no número 69 da Revista
da Biblioteca Mário de Andrade; ou vice versa. na revista
da biblioteca está uma versão0 algo reduzida. Inclui um
relato da minha relação com ambos, e da relação
especialíssima da poeta com o editor que mais a publicou.
Impossível não me expressar na primeira pessoa ao escrever sobre
Massao Ohno. "Willer, quero te publicar...!", declarou no começo de 1964.
Ainda não havia pensado nisso; não me via publicado. Juntei poemas em prosa
e adicionei um manifesto para, em outubro daquele ano, lançar Anotações
para um apocalipse – juntamente com Piazzas, de Roberto Piva. Enfrentando
dificuldades, sem caixa, Massao custeou as edições, assim como, no ano
anterior, havia bancado um projeto gráfico complexo, Paranóia de Piva com
as fotos de Wesley Duke Lee, encerrando a coleção Novíssimos. Com Piazzas e
Anotações para um apocalipse, dois volumes imitando a diagramação simples
das edições da City Lights de Ferlinghetti, inventamos, beat-surreais, um
novo selo, Coleção Maldoror, pelo qual ainda sairia mais um título, No
temporal de Décio Bar, mas já por outra editora.
Massao repetiria a frase. Em 1976, no calor de um mega-evento que
organizamos, a Feira de Poesia e Arte no Teatro Municipal, fez Dias
circulares. Em 1981, no período especialmente produtivo de sua parceria com
Roswitha Kempf, complementada por um acordo operacional com a Civilização
Brasileira e realizações graficamente brilhantes, livros e pôsteres,
lançaria Jardins da Provocação – meu livro visualmente mais atraente. A
sessão de autógrafos, em companhia de Rubens Rodrigues Torres Filho, poeta
de especial qualidade, com Vôo circunflexo.
Inventava. Para Dias circulares, criou uma capa retangular, eu quis um
livro quadrado. Adicionou passagens do texto à capa, para ajustar ao
formato. O fotolito de um belo quadro de Elvio Becheroni, presenteado pelo
artista para ser capa de Jardins da Provocação: ficamos, nós dois, olhando-
o por um bom tempo até resolvermos a posição das letras na capa.
Em março de 2010, vi-o pela última vez, em uma manifestação em favor
de Piva. Magro, envelhecido, mal falava – mesmo assim, puxou-me para um
canto e repetiu-se, sussurrou que gostaria de me publicar mais uma vez.
São trechos de uma saga; da história de como ele promoveu um avanço na
criação gráfica, na edição de poesia. Felizmente, sua aventura editorial
está bem registrada. Houve a plaquete do Instituto Moreira Salles, com
depoimentos, lançada na homenagem, em dezembro de 2004, pelos 45 anos de
atividade editorial. Nela, depoimentos de Alberto Beuttenmuller, Álvaro
Alves de Faria, Antonio Fernando de Franceschi, Armando Freitas Filho,
Carlos Vogt, Renata Pallottini, Fernando Paixão, José Mindlin, Plinio
Martins Filho, Heloisa Buarque de Holanda e o meu. Em 2009, a Revista da
Biblioteca Mário de Andrade publicou a lista dos treze títulos da coleção
Novíssimos, acompanhando um elucidativo artigo de Heitor Ferraz Mello[1].
No mesmo ano, o depoimento autobiográfico de Massao no Projeto Memória
Oral.[2] Em 2010, o acervo de suas edições foi ampliado e recebeu destaque.
São iniciativas que adicionam informação à história da própria Biblioteca,
freqüentada por Massao e onde encontrou poetas, inclusive alguns que
integrariam sua programação editorial. E onde conheceu Hilda.
Importa observar, mais uma vez, que, por um bom tempo, publicar poesia
e recorrer a Massao foram sinônimos. Isso foi reconhecido, inclusive, por
autores que ele não chegou a publicar, a exemplo de Antonio Fernando de
Franceschi, organizador da homenagem no Instituto Moreira Salles: "Sem
Massao Ohno a poesia novíssima não se teria editado, como não teria vindo à
luz, pode-se dizer, grande parte da produção inicial dos jovens poetas de
São Paulo nos últimos 30 anos". Opinião corroborada por outro poeta que ele
publicaria mais tarde, em 1982, Carlos Vogt: "Massao Ohno, para quem vinha,
como eu, do interior do estado de São Paulo, era, nos anos 60, uma
referência quase que mítica. Mágica, com certeza, para os que, jovens
poetas, buscavam publicar seus livros, os primeiros e suas seqüências".[3]
Fez uma geração literária, aquela dos Novíssimos de São Paulo, ao
distribuir edições por assinatura, em remessas de dois livros por mês, em
1960. "Não existe geração literária sem editor": já citei essa frase de
Octavio Paz a propósito de Massao e dos Novíssimos[4]. A questão, no que me
toca, nem foi tanto de ser ou não ser publicado: acabaria saindo, pois quem
escreve sempre publica, de uma forma ou outra. O importante não foi apenas
o livro, mas o contexto; a efervescência poética ao seu redor.
Massao apareceu na hora certa. Cabe alguma sociologia. Sua iniciativa
veio somar-se a mudanças culturais e urbanísticas importantes em São
Paulo,[5] no interregno entre a revolução cubana de 1958 e o golpe militar
de 1964 (entre outros marcos cronológicos possíveis). Um tempo de
novidades: do Cinema Novo e Nouvelle Vague, do interesse pelo cinema
japonês (sobre o qual Massao publicaria, mais tarde); da Bossa Nova; de
manifestações estudantis e os primeiros sinais de uma grande rebelião
juvenil; de confrontos com a censura; de novas tendências políticas à
esquerda; dos primeiros indícios do desconfinamento do sexo; de novas
leituras. O milenarismo antecipado fez que movimentos, da Geração Beat ao
Kaos paulistano de Jorge Mautner e aos próprios Novíssimos, se tornassem
pauta jornalística. Alguns poetas buscaram públicos maiores, com Lindolf
Bell encabeçando a Catequese Poética e Álvaro Alves de Faria com o Sermão
do Viaduto, ambos estreando na Coleção Novíssimos; outros se constituíram
em periferia rebelde, a exemplo do que fizemos, Piva e amigos[6].
Homem do seu tempo, sensível ao que se passava, Massao foi eclético e
pluralista. Abrigou Décio Pignatari e Noigandres em 1962, quando a gráfica
da Revista dos Tribunais se recusou a imprimi-lo, em um reacionarismo
precursor do que viria em seguida: não engoliram a versão concretista da
Coca-Cola. Do outro pólo cultural, Revolução na América do Sul de Augusto
Boal, que incluiu na Coleção Novíssimos em 1961, além de publicar outra
peça militante-sindical, A semente de Gianfrancesco Guarnieri. Concretistas
e nacional-populistas não se suportavam – mas todos cabiam naquela casa
estreita e longa, não muito mais que um corredor, na Rua Vergueiro. Massao
tinha-se por comunista – mas acolheu representantes das mais diversas
tendências políticas e literárias, em uma atitude oposta ao sectarismo que
causou e ainda causa tantos danos.
Além de publicar dramaturgos, incluiu uma narrativa em prosa, de
Eduardo Alves da Costa, na Coleção Novíssimos. Mas o veio central de sua
produção foi mesmo a poesia. E com alguns traços diferenciadores, além do
apuro visual. Um deles, a presença dos artistas plásticos como parceiros:
não só Wesley Duke Lee em Paranóia de Piva e Sete cantos do poeta para o
anjo de Hilda, Millor Fernandes em O caderno rosa de Lori Lamby ou Jaguar
em Bufólicas, também de Hilda. Presentes em suas edições, Cyro del Nero,
Manabu Mabe, Aldemir Martins e tantos outros – além dos que começaram como
seus assistentes, como Tide Hellmeister.
Sabia ler. Certa vez apresentei-lhe um poeta: folheou seu original e
foi sugerindo mudanças na sequência dos poemas: "tira esse daqui, põe aqui"
– e o livro de fato melhorou com os ajustes. Fazia isso sempre.
Sensibilidade para o texto, condição para solucioná-lo graficamente.
Amava as mulheres. Suas edições correspondem à maior presença de
autoras na poesia brasileira; ao registro de, finalmente, deixarem de ser
minoritárias, exceções nesse campo. Nem tanto na Coleção Novíssimos, com
Lilian Pereira da Silva, Eunice Arruda e Jocy de Oliveira; mas, além da
relação especial com Hilda Hilst, também com Renata Palottini, outra
amizade duradoura, desde Livro de sonetos, de 1961 passando por Coração
americano de 1976, Cantar meu povo, de 1980 até Esse vinho vadio, de 1988;
e com Lupe Cotrim Garaude (Cânticos da terra, 1963) ou Neide Archanjo
(Primeiros Ofícios da Memória, 1964). Na década seguinte, ao voltar a
publicar, Dora Ferreira da Silva em sua importante estréia tardia como
poeta, e Mariajosé de Carvalho. Logo depois, Olga Savary em edições
suntuosas. E muitas outras, a exemplo de Leila Echaime, em mais uma relação
duradoura, desde a estréia com Flauta silente em 1981 até Elegíadas já em
2007.
O mais importante: nunca recuou diante da transgressão. Não foi um
especialista em obras proibidas, um Maurice Girodias brasileiro. No
entanto, nenhum editor teria aceito Paranóia de Piva; qualquer outro,
naquele momento, veria apenas um destampatório insano nas séries de imagens
surrealistas intercaladas por blasfêmias e imprecações; hoje, após meio
século e três reedições, reconhecidas como marco de uma virada na poesia
brasileira.
Acolhia obras desse calibre com naturalidade. Não fazia diferença o
texto manifestar toda essa violência ou ser a expressão do sublime; mesma
coisa, digamos, lançar Altaonda de Olga Savary, Poemas da estrangeira de
Dora Ferreira da Silva ou A obscena senhora D de Hilda, bem como a
espantosa correspondência de James Joyce e Nora Barnacle. As prosas
poéticas que compõem meu Anotações para um Apocalipse caberiam, para o
gosto da época, no registro das esquisitices literárias. Apenas um trecho o
incomodou. Este: "O interior dos mangues é tentação e deserto. Sobre ele
flutuamos carregando aljavas de maconha, atentos na espera dos primeiros
fogos-fátuos, alimento incorpóreo dos que têm febre." Implicou com as
aljavas de maconha, não gostou, sugeriu que as retirasse ou modificasse.
Não entendi a razão e deixei como estava.
Poesia, mulheres e transgressão: essas categorias esclarecem a relação
especial de Massao e Hilda. Reconhecida como grande voz poética de sua
geração, também foi a que mais ousou. Nesse quesito, da transgressão, O
caderno rosa de Lori Lamby e A obscena senhora D são inigualáveis.
Foi um editor de estreantes, através de quem muitos começaram. Mas
Hilda – assim como Renata e Lupe – já era conhecida, saudada pela crítica,
com uma reputação literária consolidada. Precedendo Sete cantos do poeta
para o anjo de 1962, foram seis títulos desde a estréia em 1950, aos 20
anos, com Presságio. A relação editorial de ambos foi constante; persistiu
por 37 anos. Foi quem Massao mais publicou; ele, o editor a quem mais
encaminhou textos. Dos seus dezoito títulos de poesia (descontando duas
reuniões de poemas já publicados), antes de passar a sair pela Globo, nove
têm o selo de Massao[7]; e mais dois em prosa. Ia e voltava: publicada por
editoras então comercialmente fortes, como Brasiliense, Perspectiva,
Siciliano, retornava a Massao. Com O caderno rosa de Lory Lambi, pelo
simples motivo de que dificilmente outro enfrentaria aquele desafio.
Uma relação cronologicamente às avessas. Foi a Hilda da maturidade,
após a virada explosiva de Fluxo-floema, que mais o freqüentou. Parte do
ambiente dos Novíssimos, mesmo sem integrar a coleção, apenas os Sete
cantos do poeta para o anjo. O retorno, a retomada do relacionamento, foi
com um livro especialmente importante, Júbilo, memória, noviciado da
paixão, em 1974, ano em que Massao voltou a publicar, após uma década
afastado. Prosseguiriam com Da morte – Odes mínimas de 1980, talvez o mais
belo de todos os livros que fizeram, pela simplicidade, pelo modo como o
branco predomina; e seu oposto complementar, A obscena senhora D, em 1982:
espessa torrente de impropérios, uma literatura do avesso.
Com Massao, minha relação foi pessoal, de encontrá-lo, fazermos coisas
juntos, até mesmo hospedar seu estúdio por um tempo em um escritório com
espaço sobrando, na Rua Paim. Com Hilda, a relação foi como leitor e
estudioso. Não a freqüentei. Fui a seus lançamentos, mas conversamos mais
demoradamente só uma vez, já em 2000. Na década de 1960, admitindo a
qualidade de sua escrita, tinha-a como mais uma representante de uma
tradição da qual eu e alguns amigos nos distanciávamos. Evidentemente, tive
que rever essa avaliação quando saiu Fluxofloema em 1970, logo seguido por
Qadós (depois renomeado como Kaddosh) de 1972. Não podia deixar de
concordar com Leo Gilson Ribeiro de que se tratava de algo novo, nunca
antes apresentado em nossa literatura. Incluí poemas de Júbilo, memória e
noviciado da paixão nas leituras de poesia daquela década: "Os dentes ao
sol" (que Ignacio de Loyola Brandão adotaria como epígrafe e título de uma
narrativa), o lamento por García Lorca, a convocação de "Poemas aos homens
do nosso tempo".
Em 1980, rendi-me à fulgurante beleza de Da morte. Odes mínimas e,
colaborando na revista Isto É, escrevi um artigo. Voltaria a tratar dela,
também na Isto É, a propósito de Com os meus olhos de cão e outras novelas,
reunião de suas prosas pela Brasiliense, de 1986. Foi quando comentei pela
primeira vez o gnosticismo em sua obra: o dualismo, a visão do mundo regido
por um mau demiurgo, um deus degradado. Retomaria em 1990, quando saiu
Amavisse, novamente por Massao Ohno: obra de síntese, encontro da dicção
lírica e daquela transgressiva, juntando exaltações do amor, elogios da
loucura e imprecações contra Deus. Colaborava com o suplemento Idéias do
Jornal do Brasil; fiz que Humberto Werneck, um dos editores, recebesse um
exemplar: acrescentou a meu artigo uma entrevista com ela e um box com
Massao Ohno, além de colocá-la na capa do caderno.
Logo a seguir, o escândalo com O caderno rosa de Lory Lambi. Amigos e
críticos, até mesmo Leo Gilson Ribeiro, rejeitaram a espantosa história da
menininha sem limites em sua vida sexual. Imediatamente posicionei-me a
favor (assim como o fizeram, também, Eliane Robert Moraes e Alcir Pécora).
No Jornal da Tarde, interpretei como sátira dirigida ao mercado editorial
(algo corroborado por entrevistas da própria Hilda). Aprecio tratar dessa
narrativa em palestras, mostrando a armadilha que ela criou para leitores
ingênuos, daqueles mais afeitos às telenovelas. Após edificar o público com
as enormidades relatadas em uma dicção infantil, juntando perversidade e
inocência, já ouvi alguém comentar, ao chegar ao final, aliviado: "Ah!
Então a menina inventou tudo! Não aconteceu anda disso...!" – como se
fizesse diferença, como se não estivéssemos igualmente na esfera simbólica,
independentemente da obra apresentar aquilo como vivido ou inventado pela
protagonista.
Na seqüência, dediquei-lhe palestras[8], ensaios de maior fôlego e um
capítulo de minha tese, Um obscuro encanto: gnose, gnosticismo e a poesia
moderna[9]. Pequenos acréscimos a uma fortuna crítica colossal – e muito
merecida. Acho reconfortante ter-se tornado, não só uma autora reconhecida,
mas um mito literário, alguém que é cultuado. Hilda apreciava o que escrevi
sobre ela e concordou com minhas interpretações. Seu amigo e estudioso, o
jornalista Gutemberg Medeiros, contou-me, por ocasião de uma mesa sobre ela
em 2010, que, ao sair o artigo na Isto É, após lê-lo, Hilda virou-se para
ele e comentou: "É – esse me entendeu". Encantou-se com a matéria no Jornal
do Brasil. Deveria ter conversado mais com ela: assunto não faltaria. Quem
a visitou na Casa do Sol foi Piva: entusiasmou-se com as gravações de vozes
misteriosas, conversaram sobre discos voadores e outros focos de interesse
comum; tornaram-se amigos.
Hilda e Massao? Além dos encontros para tratar de publicações e
lançamentos, viam-se, mas ocasionalmente. Em seu depoimento para o projeto
Memória Oral, Massao fala de um último encontro, no qual a aconselhou a
parar de beber – logo ele, alcoólatra declarado, que também admitiu, na
ocasião, que a bebida tinha reduzido em vinte anos sua expectativa de 110
anos de vida, além de outros quinze pelo tabagismo. Gutemberg Medeiros, que
prepara um ensaio sobre Hilda, me informa que Massao foi poucas vezes á
Casa do Sol, mas se encontravam sempre que Hilda vinha a São Paulo, além de
se telefonarem. Confidentes. Massao lhe mandava, do que publicava, os
livros que iriam interessá-la.
Arrisco uma interpretação adicional para a constância e produtividade
dessa relação. Nas primeiras publicações de Hilda, precedendo Sete cantos
do poeta para o anjo, já estão presentes artistas plásticos: Darci
Penteado, Clóvis Graciano, Fernando Lemos. Em seguida, muitos outros: além
de Wesley, Anésia Pacheco Chaves, Ubirajara Ribeiro, Jaguar, Millor; e uma
inversão, Hilda escrevendo para uma publicação de Renina Katz – isso,
mencionando apenas os que ilustraram, pois, se fosse abranger os autores de
capas, a relação se estenderia, com Tomie Ohtake, Maria Bonomi, Mora
Fuentes, Olga Bilenky, Pinky Wainer, Ianelli, entre outros. Foi uma
parceira de artistas visuais. E, em sua poesia, predominam as imagens
visuais, a fanopéia – embora, evidentemente, estejam presentes e sejam
fortes a logopéia e melopéia: idéias não lhe faltavam, musicalidade, senso
de ritmo, menos ainda. O projeto de Da morte. Odes mínimas contém uma
inversão da relação: ela já havia feito as aquarelas, e foi Massao quem lhe
pediu poemas para acompanhá-los (informa-me, novamente, Gutemberg
Medeiros). Penso que ela aspirava a uma confluência ou síntese do verbal e
visual. Ademais, queria a poesia total; que o poema se realizasse. Para
usar os termos criados por Octavio Paz em O arco e a lira, que acontecesse
a "encarnação da poesia"; sua projeção na diacronia, na vida. Procurou fazê-
lo, também, através da dramaturgia. E dos demais meios: apreciou ser
musicada e gravada por Zeca Baleiro e José Antônio Almeida Prado;
compareceu a eventos e performances como aquela realizada por Beatriz
Azevedo no SESC-Pompéia; nunca se furtou a entrevistas. A própria Casa do
Sol, a escolha por morar lá, a vida que levou, não foram tomadas de posição
poéticas?
Foi essa vontade de, através do livro, ir além para alcançar a poesia
plena, que aproximou Massao e Hilda e os tornou parceiros, cúmplices e
confidentes.




-----------------------
[1] No volume 65, novembro de 2009.
[2] Disponível em
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/Depoimento_Massao_Ohno_1276539
751.pdf
[3] Os dois testemunhos, e outros, em http://agencia.fapesp.br/2986 ,
boletim da Agência FAPESP.
[4] Inclusive em O Estado de S. Paulo, Caderno 2, por ocasião de sua morte,
a 15 de junho de 2010.
[5] Tratei disso em maior detalhe no posfácio para a Antologia poética da
geração 60, org. Álvaro Alves de Faria e Carlos Felipe Moisés, Nankin
Editorial, São Paulo, 2000.
[6] O termo seria adotado: Roberto Piva e a "periferia rebelde" na poesia
paulista dos anos 60, por Thiago de Almeida Noya, dissertação de mestrado,
UERJ, Pós-Graduação em Letras, Rio de Janeiro, 2004

[7] Sigo a bibliografia que acompanha as edições da Globo.
[8] Uma delas, a do ciclo Tertúlia do SESC, disponível no Youtube; em breve
sairá em livro, também pelo SESC.
[9] Publicada em livro pela Civilização Brasileira, em 2010.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.