Material Didático e tecnologia integrando o aprendizado

June 4, 2017 | Autor: Demerval Bruzzi | Categoria: Education, Educational Technology
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GESTÃO ESCOLA

MATERIAL DIDÁTICO E TECNOLOGIA INTEGRANDO O APRENDIZADO

Não que o livro didático seja enfadonho, muito pelo contrário, é sua utilização sem considerar a real necessidade dos alunos, aliada ao “boom” da tecnologia digital, que tem levado certa aversão ao uso desta tecnologia proporcionada por Gutemberg. Ainda citando Hernández (2006), a função do material didático, aliado às novas tecnologias, deveria ser estratégica, para que nossos alunos aprendam os procedimentos necessários para uma aprendizagem constante. Aqui, a tecnologia entra com um papel fundamental na atualização constante do conhecimento educacional respondendo às reais necessidades dos jovens e colocando nossas escolas como suporte básico necessário ao caminho exploratório das diferentes parcelas desta citada realidade, proporcionando novas experiências a estes jovens (alunos) como parte de uma sociedade altamente coletiva que se divide entre o particular e o global. A tecnologia (em especial a digital) hoje é o meio mais rápido para facilitar este tipo de ação em busca do conhecimento, pois favorece ao professor ensinar a relacionar, estabelecer sentidos, ou seja, a compreender ao invés de decorar.

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PROFESSOR

De acordo com nossos historiadores e pesquisadores, hoje afirmamos que desde o princípio da educação o ser humano vem utilizando-se de “tecnologias educacionais” de acordo com sua necessidade histórica (no passado, utilizava-se pedra e ardósia no lugar de giz e lousa). A tecnologia do livro didático, por exemplo, é amplamente utilizada e ainda é o eixo central da formação, sobretudo nas escolas de ensino fundamental que se preocupam com a padronização dos alunos com uma rotina enfadonha e diária de preenchimento de “fichas” baseadas no livro-texto, ou ainda em nossas escolas de ensino médio nas quais a resistência à mudança faz vigorar o controle obsessivo do aluno por

meio de uma estratégia considerada ultrapassada por nós educadores, onde os “Es” ainda são a base única para este controle: Explicação – Exercícios e Exames (FERNANDO HERNÁNDEZ, 2006).

TECNOLOGIA

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rimeiro, é interessante descrevermos mais as palavras em questão: “Material Didático” e “Tecnologia” – Material Didático, segundo definições do Aurélio, são petrechos, utensílios próprios para instruir, e Tecnologia (do grego τεχνη — “ofício” e λογια — “estudo”) é um termo que envolve o conhecimento técnico e científico e as ferramentas, processos e materiais criados e/ou utilizados a partir de tal conhecimento. No contexto educacional, podemos descrever como sendo técnicas, conhecimentos, métodos, materiais, ferramentas e processos usados para resolver problemas ou ao menos facilitar a solução dos mesmos (Wikipédia).

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Contudo, para que estejamos prontos a esta nova perspectiva, é necessário uma mudança na formação de nossos docentes, mexer no processo que educa nosso futuro professor para o uso da tecnologia como fator de integração das mais diversas “mídias e tecnologias agregadas”, algo que fuja completamente das suas atuais funções burocráticas e transmissoras.

Com base na afirmação anterior, tomei a liberdade de reproduzir o que com minha experiência – como consultor autônomo educacional, ex-gerente educacional da Microsoft e atual diretor de produção de Conteúdos e Formação em EAD da Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação – considero a sala de aula ideal.

No cenário ideal do uso integrado das TICs (tecnologia da informação e comunicação) na educação, a finalidade é uma visão integradora, favorecendo a criação de “experiências”, meio pelo qual a aprendizagem faria sentido para alunos e professores, transformando, assim, a atual realidade da pedagogia entediante citada por COREA; LEWKOWICZ (2004). Antes de entrarmos na discussão do que viria a ser a sala de aula ideal, acredito ser interessante uma breve descrição acerca das tecnologias digitais impostas às nossas classes, principalmente pelo crescimento da oferta da educação superior. As universidades, em particular, têm dado prioridade a esta integração (da tecnologia com o currículo). Segundo PALLOFF; PRATT (2008), “à medida que isso ocorre, as instituições se deparam com muitas questões que dizem respeito ao fato de fazer com que as aulas funcionem tecnologicamente”. E aqui, no meu entender, está o verdadeiro gargalo de nossa atual sociedade educacional (obviamente, não me esqueci da velha-guarda, que necessita de atualização em seus métodos e práticas educacionais centradas na figura única do professor). Como queremos que nossas escolas discutam o uso das TICs se não preparamos nossos formadores (professores) para a elaboração de aulas com as tecnologias instrucionais? “O preparo de nossos professores na elaboração de suas aulas com as tecnologias instrucionais proporcionará o surgimento de aulas que não sejam apenas eficazes tecnologicamente, mas significativas para a visão do aluno” (FIDISHUN, s/d). Para termos o ambiente ideal, é necessário abandonarmos o pensamento retrógrado do professor que decide o que o aluno precisa saber e como o conhecimento e as habilidades devem ser ensinados (HASE; KENYON, 2000). Assim sendo, uma abordagem focada no ALUNO deve basear-se na ideia central de que nós, educadores, não somos “máquinas ensinadoras” e, sim, facilitadores da aquisição de conhecimento.

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Segundo diversos autores, nossos jovens são os chamados nativos digitais (ao passo que somos imigrantes digitais), ou seja, nasceram cercados pelas mais diversas tecnologias, em especial as de informação e comunicação. Para este público, a convergência midiática é um processo natural, ao mesmo tempo em que a vida sem interatividade é inconcebível. E é esta visão que torna o trato com a educação uma barreira natural. O que considero a sala de aula ideal (como podem observar no desenho acima) é um ambiente extremamente aberto e democrático, que proporciona e incentiva nossos alunos na busca por respostas aos problemas impostos durante o aprendizado. Segundo SANCHO (2006), o uso destas tecnologias (TICs) tem invariavelmente três tipos de efeitos que devemos considerar para despertar a atenção de nossos estudantes e fundamentar nossos educadores, preparando-os para este novo cenário que aporta com rapidez em nosso cotidiano educacional. São eles:

● Alteram a estrutura de interesses (as coisas em que pensamos). O que, ainda segundo SANCHO (2006), têm consequências importantes na avaliação do que se considera prioritário, importante e fundamental ou obsoleto para o aprendizado, e também altera drasticamente a relação de poder em uma sala de aula.

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● E, por último, mas não menos importante, modificam a natureza da comunidade. O surgimento de blogs, webquests e comunidades é a prova concreta de que os “nativos digitais” não necessitam manter um relacionamento físico para poder “trocar” com os demais membros de sua comunidade. Ao contrário do que podemos pensar, tais práticas não afastam os jovens dos livros, o que precisamos repassar aos nossos professores é uma metodologia de incorporação das TICs ao seu dia-a-dia. Como exemplo, para acompanhar esta linha de pensamento, cito a rede social Orkut, na qual existem atualmente aproximadamente 210 comunidades sobre Machado de Assis. Segundo OALLOFF; PRATT (2004), “nossos alunos (nativos digitais) não se sentem prejudicados pela ausência de sinais, auditivos ou visuais, no processo de comunicação”. Se bem estruturados os materiais, este aluno dedicaria uma quantidade significativa de 1

No entanto, cabe lembrar aqui o que SANCHO (1998) coloca com muita propriedade: “A história da educação está cheia de promessas rompidas; de expectativas não cumpridas, geradas ante a cada nova onda de produção tecnológica (do livro ao computador, passando pelo mimeógrafo e videocassete).” O que devemos fazer é, com responsabilidade, considerar as problemáticas associadas ao fracasso na incorporação às aulas de cada um destes meios e analisar como podemos ajudar a planejar melhor sua integração nos processos de ensino e aprendizagem. A mudança da economia (em especial, nos países em desenvolvimento) tem proporcionado a mais crianças o crescimento em ambientes altamente mediados pela tecnologia, em especial a audiovisual e a digital. Tal acesso, aliado à cobrança constante da sociedade por novos padrões de ensino que acreditem ser “mágicos”, tem acelerado o processo de transição e, com isso, prejudicado o que deveria ser uma passagem natural entre os mais diversos meios e ferramentas de aprendizagem. SANCHO (1998) nos alerta ao que ele considera o principal obstáculo para que escolas e professores tirem partido educativo das TICs, pois “explorar o potencial deste conjunto de tecnologias significa reconhecer e adotar visões educativas que, desde o princípio do século XX, contribuem significati-

Midas é um personagem da mitologia grega, o rei da cidade Frígia de Pessinus, e que tudo o que tocava virava ouro.

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É mais do que fato que o computador e suas tecnologias associadas, em especial a Internet, são atualmente mecanismos prodigiosos dignos do toque de Midas1. A partir desta constatação, podemos entender a fascinação que esta tecnologia exerce sobre muitos educadores, que julgam ter encontrado – no uso do computador e suas tecnologias agregadas – a nova pedra filosofal que vai transformar a escola atual.

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logias alteram e ampliam consideravelmente o repertório de símbolos propostos por VYGOTSKI, 1979. Ampliam também o sistema de armazenamento, gestão e acesso à informação, o que, por sua vez, impulsiona um desenvolvimento sem precedentes do conhecimento. Ao colocarmos no mesmo ambiente as mais diversas ferramentas de acesso à informação, estamos proporcionando aos nossos jovens a descoberta da pesquisa, fugindo, dessa forma, do tradicional CTRL+C/ CTRL+V – que hoje ainda é utilizado como “desculpa” na criação de trabalhos escolares e que, na verdade, deveria ser tratado como plágio, pois além de uma prática indevida e ilegal, ainda favorece a lei do menor esforço, sendo considerada por muitos a “cola digital”.

O que nós, como educadores, precisamos é saber colocar este conteúdo de forma atrativa, buscando um diálogo interno (nos ambientes e/ou comunidades on-line) que gere a busca por formulações de respostas a situações problematizadoras.

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● Mudam o caráter dos símbolos. As novas tecno-

seu tempo semanal aos estudos mediados pelas TICs, pois veem os objetos de aprendizagem, blogs, comunidades virtuais como elementos suavizadores de um conteúdo duro e inflexível colocado de forma “medieval” (forjada em aço) em nossos livros didáticos.

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Com a configuração sugerida anteriormente, alunos e professores passam a ter a mesma relação, sendo ambos coautores do processo de aprendizagem. O que parece simples é, na verdade, um complexo sistema que surge apontando a necessidade imediata de educarmos nossos jovens para a chamada sociedade do conhecimento, em que com uso extensivo das TICs, possam pensar de forma crítica, autônoma e sistêmica, saibam resolver problemas, comunicar-se com facilidade e reconhecer e respeitar a diversidade, proporcionando, assim, a cada dia, mais e mais trabalhos colaborativos, onde nossos jovens aprenderiam na prática o conceito de COMPARTILHAMENTO.

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vamente com evidências sobre a importância de repensar o papel dos alunos, do conhecimento, dos professores enquanto única fonte de conhecimento, das formas de avaliação (que hoje são centradas em respostas esperadas do conteúdo aplicado), enfim, de toda a comunidade educativa na melhoria do processo de ensino e aprendizagem”.

gógico do professor for bom, terá no uso da tecnologia maior destaque em suas aulas e, consequentemente, maior adesão por parte dos estudantes. Porém, se o projeto for ruim, a tecnologia colocará este processo em evidência, criando, assim, mais uma barreira entre o que se pretende e o que os alunos realmente estão dispostos a aprender.

“Gostemos ou não, concordemos ou não, na maioria das escolas do mundo, apesar dos avanços da tecnologia educacional, o que acontece na maior parte do tempo é um professor dando aula para a classe inteira, com base em um determinado livro didático que é utilizado pelos alunos.” (OLIVEIRA; CHADWICK, 2001)

Assim sendo, como podemos observar, nem sempre é a lei do menor esforço que rege o cotidiano educacional de nossos jovens e, sim, um acumular de ações e reações, em que de um lado temos professores em busca da nova “Pedra Filosofal” e de outro toda uma geração acostumada a interoperabilidade de aparelhos cada vez mais complexos e cheios de interatividade com suas comunidades virtuais.

O que significa dizer que o livro didático não vai acabar, muito menos ser substituído, pelas TICs. O livro, como o conhecemos, ainda tem um papel fundamental na vida das escolas, pois é para o professor um balizador determinante na estrutura e sequência do ensino, um instrumento organizador das informações. O que precisamos evitar é o vício repetitivo, em que muitas vezes o professor limita-se apenas a repetir ou mesmo explicar de forma simplista as informações que estão colocadas no livro didático. Neste caso, nossos jovens da chamada sociedade do conhecimento, os nativos digitais, sabem para onde e quando recorrer às TICs. E como bem disse o professor Fernando Almeida, a tecnologia como a conhecemos é um instrumento potencializador, para o bem e para o mal. Se o projeto político-peda-

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O que nós, educadores, precisamos fazer é a busca constante de “atratividade” no uso dos materiais técnico-pedagógicos de nossas escolas. É claro que para nossos jovens assistir ao filme “Dom Casmurro” é muito melhor do que ler o livro (mesmo sabendo que ver o filme pode levar o aluno a ler o livro, o contrário jamais teria o mesmo sentimento de conquista, que se consegue ao final de uma boa leitura). Assim, devemos buscar o ponto de equilíbrio entre o livro e as ferramentas de audiovisual disponíveis em nosso universo educacional. Existem, claro, diferenças entre os efeitos da televisão (vídeo) e de material impresso como meios educativos, nossa geração (imigrantes digitais) tem

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paradigmas, gerando síncreses mais complexas, em que o importante não é o meio e, sim, o objetivo final a ser alcançado após um longo e detalhado planejamento de ações para um melhor aproveitamento de nossos jovens dos planos político-pedagógicos de nossas escolas. * Demerval Guilarducci Bruzzi – Diretor de Produção de Conteúdos e Formação em EAD da Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação.

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mais dificuldade de retenção mesmo nestes que consideramos um dos melhores meios de transmissão de informações. Contudo, os nativos digitais, por natureza, são seres abertos a todos os meios de transmissão de informação, sejam eles vídeos, rádios, podcasts, etc. O importante para esta geração é o conteúdo atrativo, algo que siga sua realidade, algo que os “link” com o dia-a-dia, com sua vida real – com exemplos do presente ou virtual por meio de seus “avatares”.

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O termo “atratividade” é diretamente ligado ao termo “interatividade”, ou “possibilidade de” na mente de nossos jovens, que a cada dia estão sedentos de novos meios de interatividade, menores e mais rápidos. Em um passado quase que distante (considerando os atuais padrões de desenvolvimento), falava-se da televisão como meio educativo; ontem falávamos dos computadores e suas possibilidades por meio do aprendizado das disciplinas curriculares utilizando jogos interativos e os complexos objetos de aprendizagem.

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Hoje já pensamos em modelos que permitam o aprendizado e a mobilidade – em que os celulares aparecem no topo da lista como uma promessa de fácil acesso à distribuição e apropriação do currículo –, onde o principal atrativo para esta geração é a retroalimentação, este universo virtual com suas respostas aos estímulos recebidos, devolvendo à sociedade educacional aquilo que ela entendeu como aprendizado, nos dando, assim, a oportunidade de saber o quando e onde agir, mudando o paradigma do aprendizado. Explorando novos questionamentos, traduzindo o “modo de fazer” desde sempre existente em “modo de pensar” novas práticas, que permitam encontrar uma resposta pragmática à situação problematizadora, tornando útil o material didático disponível (livros, vídeos, objetos de aprendizagem, etc.).

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Enfim, com a incorporação das tecnologias da informação e comunicação – TICs – em nosso processo de ensino e aprendizagem, faz-se necessário a criação de uma formação adequada à realidade vivencial do professor e material que atenda aos interesses dos participantes, que seja motivador e útil. É importante definir uma situação “problematizadora” concreta real, associada a esta realidade, facilitando assim a identificação dos “paradigmas” arraigados nos participantes e que possam vir a gerar síncreses com relação ao seu conhecimento atual. Somente assim, penso eu, poderemos introduzir novas informações e novas formas de se tratar tais

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