Materialidades da comunicação, memória e cognição: o meio e as novas práticas sociais

July 6, 2017 | Autor: Anderson França | Categoria: Cognição, Memória, Experiência
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Materialidades da comunicação, memória e cognição: o meio e as novas práticas sociais 1 AZAMBUJA, Patrícia (Doutora)² FRANÇA, Anderson Romério Rosas (Graduando)³ Universidade Federal do Maranhão RESUMO: O impacto das tecnologias da informação e comunicação nas práticas sociais têm estimulado debates e pesquisas no campo da Comunicação. Ao passo que os processos comunicacionais evoluem, questões acerca da complexidade dessa evolução proporcionam reordenamentos na maneira de vivenciar e experimentar o mundo. Sendo assim, propomos aqui a discussão sobre a participação da cognição humana e a memória tanto do humano quanto da máquina na experimentação do mundo onde ocorrem as intereções entre objetos e humanos; para dar conta dessa extensão da dimensão da experiência, abordaremos as ideias de campo não-hermenêutico, de Hans Urich Grumbrecht, além de conceitos trabalhadados por Marshall McLuhan e por teóricos das materialidades da comunicação como Erick Felinto, Vinícius Andrade Pereira e Pierre Lévy para refletir sobre o meio e suas extensões. Palavras-chave: Práticas; memória; cognição; experiência.

No que se refere ao processo da comunicação como um todo, com suas transformações em processo, parece-nos clara a necessidade de algumas reflexões em torno dos paradigmas existentes e problemáticas recentes. Erick Felinto (2001, 2004) sugere a utilização, no campo da teoria da comunicação ou dos estudos sobre a interação humano-máquina, de conceitos da teoria das materialidades, desenvolvida por pesquisadores do departamento de Literatura Comparada da Stanford University. Para o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o termo cultura é utilizado de forma preeminente a partir dos seus referenciais simbólicos, imateriais e, na maioria das vezes, antropocêntricos. “Nesse raciocínio, a figura do sujeito humano 1 2

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Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Digital, integrante do 3º Encontro Regional Nordeste de História da Mídia – Alcar Nordeste 2014. Doutora em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Professora Adjunta do Curso de Comunicação Social/ Universidade Federal do Maranhão - UFMA. Coordenadora do projeto de pesquisa Comunicação Expandida: entre mudanças de comportamento e possibilidades de novas produções, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Maranhão - FAPEMA. Email: [email protected]. Graduando do Curso de Comunicação Social - UFMA e bolsista de iniciação científica em desenvolvimento tecnológico e inovação BITI/ FAPEMA. Email: [email protected].

ocupa a posição central, seja como geradora, seja como receptora de valores imateriais” (FELINTO, 2004, p.1). O que, no entanto, pode ser reconsiderado pela atenção que passa a ser dada aos componentes materiais nos fenômenos que relacionam comunicação e cultura, sob a ótica de pensadores de destaque, tais como Georg Simmel, Siegfried Kracauer, Walter Benjamin, Harold Innis, Eric Havelock, Marshall McLuhan, Jacques Derrida, Hans Ulrich Gumbrecht e Karl Ludwig Pfeiffer. Segundo o autor, essa discussão tem sua origem marcada pela coletânea de ensaios, publicada em 1987, indicativa de novas preocupações para as Ciências Humanas e Sociais em geral e para o processo da comunicação, em específico. “Em outras palavras, começava a esboçar-se um modelo teórico no qual a determinação dos sentidos nos fenômenos comunicacionais era menos importante que o estudo dos mecanismos materiais que permitiam a emergência desses sentidos” (FELINTO, 2004, p.2). No envolvimento entre materialidade e comunicação, encontra-se a ideia central aprofundada por Hans Ulrich Gumbrecht (1995, 2010), de propor uma história descritiva mais atenta às peculiaridades dos contextos, estimulando práticas metodológicas referenciadas pelo campo não-hermenêutico. Ao contrário da hermenêutica acadêmica - fundada no ato interpretativo como referencial máximo, excluindo, portanto, qualquer manifestação material mais ativa -, o paradigma nãohermenêutico, em Gumbrecht (1995), aponta a problematização em torno de teorias hegemônicas, e concentra-se nas teorias interessadas “nas formas, ou seja, nas estruturas articuladoras da substância do conteúdo, independente de qualquer interpretação semântica” (p.22). Assim, o autor propõe uma cartografia para o campo da nãohermenêutica que pressupõe basicamente a observância da contextualização material, do espaço, do corpo, dos dispositivos técnicos de comunicação nas produções intelectuais e culturais. Nesse sentido, faz referência também “as condições de passagem da substância do conteúdo à forma do conteúdo, assim como da passagem da substância da expressão à forma da expressão” (p.28), o que resultaria na ideia de representação e na necessidade de desenvolver teorias capazes de explicar tais correlações. [Friedrich] Kittler especula, por exemplo, que o pensamento de Nietzsche poderia ter sido influenciado pela forma da máquina de escrever com a qual trabalhava, o filósofo teria sido influenciado pelo movimento do corpo

imposto pelo formato arredondado da máquina de escrever (GUMBRECHT, 1995, p.24).

À relação entre instrumentos de escrita e produção intelectual somamos proposições de Roger Chartier (1999) a partir das quais discorre em torno das readequações sofridas pelo leitor do livro impresso quando da incorporação de característica de entrecruzamento de textos na memória eletrônico. Para ele, tudo indica “que a revolução do livro eletrônico é uma revolução nas estruturas do suporte material do escrito assim como nas maneiras de ler” (p.13). Portanto, a compreensão dos processos comunicacionais, para este autores, estão para além das estratégias relacionadas aos conteúdos transmitidos, e assim passamos a observar como relevantes aspectos vinculados ao funcionamento dos dispositivos tecnológicos e seus consequentes determinantes cognitivos e culturais. Questões relacionadas à interação humano-máquina, e consequentemente aos fatores de maior ou menor facilidade de uso, tornam-se mais frequentes com a criação dos computadores portáteis e a popularização da informática, alavancando a criação de diferentes produtos midiáticos, serviços diversificados e possibilidades de uso para os mais distintos dispositivos, a partir de uma realidade cada vez mais convergente e híbrida. Nesse sentido, a digitalização, aparentemente, coloca no mesmo patamar diferentes mídias que passam a encontrar-se em bases comuns, padronizadas também pelo código binário. No entanto, conforme vão sendo ampliadas as possibilidade de conteúdos para essas diversas mídias, questões relacionadas à interface, à usabilidade, ou à facilidade na relação tente mentes que interpretam e máquinas que armazenam tornam-se cada vez mais complexas, exigindo uma observação mais criteriosa desses dispositivos, sua estrutura material, espaços nos quais estão distribuídos, como são manipulados e, sobretudo, dos indivíduos que fazem uso dessas realidades. Assim, a internet e os mais diversos dispositivos digitais, entre eles, smartphones, tablets e televisão digital, passam a oferecer distintas condições de consumo para os conteúdos midiáticos - uso simultâneo de distintas telas ou telas que integram simultaneamente na mesma interface diferentes conteúdos. Promovendo transformações profundas nos

modelos de percepção e usos. Reportando-nos às discussões de Erick Felinto (2001, 2004) e Hans Ulrich Gumbrecht (1995) - a partir das quais passamos a compreender que o entendimento para a interação mediada pelas telas digitais necessita de fundamentações para além do modelo de interpretação dos conteúdos, proposto pela hermenêutica -, é na observância dos contextos materiais que podemos analisar mais detidamente os processos de uso e consequente produção de sentido, pois a análise conjuntural dos objetos e do humano no ambiente deve ser levada em consideração no processo de fruição com os dispositivos digitais, é a partir da participação de um e do outro nos arranjos da experiência e percepção que os processos comunicacionis se dão, sendo assim, tanto a interpretação dos conteúdos quanto do ambiente onde ocorre a comunicação são unidades que possibilitam a compreensão do contexto das práticas comunicacionais.

Questões da tecnologia: memória e cognição As aproximações possíveis tecnologias, ou técnicas, e memória nos posicionam frente a questões sobre os estágios de desenvolvimento da sociedade e as profundas implicações que essa evolução trouxe para as formas de se comunicar das pessoas comuns. Desde o homem primitivo e suas inscrições em rochas como forma de sinalizar a existência, até nossos dias de comunicação por computadores, houve etapas complementares e sequenciais nas formas de interação do indivíduo com o meio, afetando, por sua vez, o pensamento, o comportamento e a cultura. Seja no período da pré-história ou em nossos dias, a memória se insere nos processos comunicacionais como um elo entre passado e presente. Para investigar as maneiras que ela participa nas dinâmicas comunicações, destacamos a noção de cognição que permite a representação do passado. Sendo assim, a memória atua na maneira como nos relacionamos com a história social construída, ou, como nos conta Vinícius Andrade Pereira, “a ideia de memória na Modernidade é inexoravelmente ligada, também, a essa ideia de capacidade de “fixação” de experiências passadas, apontando para uma origem das coisas” (PEREIRA, 2011, p. 36). A maneira de conhecer o mundo por meio de representações do real, que nos traz

para o contexto dessa realidade que se apresenta como simulacro (ou encenações), desperta a atenção para a relação do indivíduo com o coletivo. O autor referido no parágrafo anterior considera a existência de dois tipos de memórias: 1) as memórias coletivas, que seriam aquelas que se estruturam como linguagens, convencionadas socialmente por signos articulados, regidos por sintaxe e semântica e que alteram as estruturas psíquicas envolvidas na comunicação; e 2) as memórias individuais, ou seja, correspondentes subjetivos capazes de interiorizar os saberes estruturados pelas memórias coletivas. Então, no cenário que vivenciamos das tecnologias digitais de informação e comunicação, o jogo de trocas simbólicas existentes entre individuo e coletivo fazemnos buscar entender outra interface que exerce influencia nessas trocas, seria a participação das máquinas, ou aparelhos tecnológico-digitais, na produção de sentido dos conteúdos consumidos por meio de dispositivos de memória que estão além de nossos corpos, mas que são cada vez mais requisitados. Mais uma vez, o campo da não-hermenêutica se faz indicado para analisar este cenário, pois o processo de comunicação digital demanda pela organização e compreensão tanto dos objetos quanto da interpretação subjetiva, levando-nos a repensar as práticas sociais e culturais emergentes da vinculação dos indivíduos com o social, inseridos em um processo comunicacional complexo, pois, agora, as experiências com o mundo se dão intermediadas pela memória resultante de processos cognitivos, ou seja, do conhecimento, mas, também, adquirimos informações advindas de memórias extracorpóreas, artificiais. É este fluxo entre memória e comunicação que permite a caracterização de uma situação composta por agentes humanos e objetos automatizados. Mas, o caminho para reduzir a complexidade deste cenário articulado pelas memórias artificiais das máquinas e memórias adquiridas pela experiência do homem com o mundo. São as práticas sensorias envolvidas na comunicação digital que podem motivar capacidades de reinvenção de memórias a partir do uso dessas tecnologias, o signigificado resultante de cada experiência está diretamente associado ao ambiente onde se dá a comunicação, pois é a informação transmitida durante o processo faz parte

da capacidade cognitiva dos sujeitos que lidam com as tecnologias da comunicação e conseguem compreender as gramáticas e lingaguens que surgem com a sofisticação das experiências do humano com essas tecnologias digitais.

Transformações culturais e cognitivas: algumas contextualizações históricas Simone Pereira de Sá (2004), ao explorar algumas noções de materialidade na comunicação, também propõe "considerar as diferentes tecnologias da comunicação, para além dos conteúdos que transmitem, como determinantes da própria 'forma de pensar' de uma cultura” (p.32), assim identifica uma linhagem de pensadores, para ela, capazes de promover vínculos importantes entre suportes materiais e suas concepções corpóreas e neurológicas. Para tanto, utiliza autores como Walter Benjamin, Georg Simmel, Ben Singer e Siegfried Kracauer para explorar um amplo espectro de novas relações entre tecnologias e corpos, com ênfase nas suas dimensões sensoriais e cognitivas, fazendo alusão ao que Gumbrecht chamou de ‘modernização dos sentidos’, situada, segunda a sua proposta, no que chamou de “violenta reestruturação da percepção e da interação humana” (p.35). A metáfora do choque, e a re-adequação sofrida pelo aparelho perceptivo do homem contemporâneo, ao tornar-se mais atento, ilustra momentos experienciados a partir da introdução da luz elétrica, do telefone, dos automóveis, da fotografia e do cinema. A partir destas pistas, acredito que seja possível que, para além das diferentes linguagens e especificidades do cinema, da fotografia, da música gravada ou da televisão, Benjamin antecipa, de forma brilhante, a percepção sobre a especificidade da experiência estética oriundas dos meios de reprodutibilidade técnica […] na cultura de massas o equilíbrio entre conteúdo e forma, a dimensão comunicativa e cognitiva desta experiência estética; a funcionalidade da arte; seu aspecto sensorial, corpóreo, sensitivo devem ser considerados tout court, se que se torne esta experiência como menor em relação ao universo da tradição (PEREIRA DE SÁ, 2004, p.37-38).

A pesquisadora assim faz referência também as ideias mcluhanianas a partir das quais todo ato comunicacional exige um suporte material, um meio que exerce influência sobre a mensagem, a mentalidade coletiva, as ações e, consequentemente, sobre a consciência que cada indivíduo social passa exercer sobre a sua constituição corpórea e percepção do mundo.

Ainda sobre consciência e memória, Pierre Levy (1993) afirma que todas as “‘antigas’ tecnologias intelectuais tiveram, e têm ainda, um papel fundamental no estabelecimento dos referenciais intelectuais e espaço-temporais das sociedades humanas” (p.75). Enquanto na sociedade oral primária, quase toda a estrutura cultural é estabelecida a partir das lembranças dos indivíduos, numa relação direta com a memória auditiva, flexível e não-linear; as sociedades fundadas na escrita remetem à universalização e linearização do conhecimento teórico. Há ainda outras razões que ligam a escrita à ascensão do gênero teórico e ao declínio do modo de transmissão e de organização dos conhecimentos através da narrativa. Em particular, a notação escrita torna muito mais cômoda a conservação e a transmissão de representações modulares separadas, independentes de ritos ou narrativas […] À medida que passamos da ideografia ao alfabeto e da caligrafia à impressão, o tempo torna-se cada vez mais linear, histórico […] Calendários, datas, anais, arquivos, ao instaurarem referências fixas, permitem o nascimento da história se não como disciplina, ao menos com gênero literário (LEVY, 1993, p.91-94).

Levy (1993) assim estabelece influências claras entre as diferentes tecnologias de informação e armazenamento, desenvolvidas ao longo da história das civilizações, e suas subsequentes estruturas cognitivas adaptadas. A partir desse detalhado compêndio, o autor do livro Tecnologias da Inteligência traça paralelos com a comunicação digital, caracterizada por “redes de interfaces abertas a novas conexões, imprevisíveis, que podem transformar radicalmente seu significado e uso” (p.102). A digitalização converge em um mesmo substrato binário diferentes linguagens, tornando as interfaces e a percepção fundamentalmente múltiplas, complexas, flexíveis e mutantes. “A nova escrita hipertextual ou multimídia certamente estará mais próxima da montagem de um espetáculo do que da redação clássica” (p.108). A cada um desses contextos midiáticos, Vinícius Pereira (2011) atribui “uma ordem, uma gramática, uma forma de se impor ao sistema humano através de diferentes meios, revelando um conjunto de referências a partir do qual o referido sistema realiza operações de recortes específicos das informações” (p.147). E, especificamente sobre a grande rede digital de comunicação, Pereira (2011) afirma que a ideia de aldeia global em Mcluhan já antevia preocupações com a ultravelocidade e identidades movediças, assim como, com as prováveis alterações na subjetividade do indivíduo.

A partir desse histórico envolvendo as práticas e suas subsequentes influências, buscamos o entendimento da complexidade que envolve o conceito de interface nos dias de hoje, quando do seu envolvimento com gramáticas próprias, ou mesmo, quando evidenciando um contingente complexo de transformações e fusões. O próprio conceito de remediação, proposto por Bolter e Grusin (2000), faz alusão às relações entre diferentes meios, quando um novo meio processa características de um meio anterior. Hoje, contudo, a características da nova linguagem hipermidiática não só permite como exige a manutenção das linguagens anteriores para que se possa constituir e se afirmar. As hipermídias precisariam das linguagens que lhe antecederam, talvez, como nunca antes um novo meio/linguagem precisou (PEREIRA, 2011, p.157).

Ao conceito de convergência tecnológica e de linguagens, somamos a necessidade de entendimento das apropriações que os usuários passam a fazer nas suas práticas com os diversos suportes, promovendo uma fusão entre diferentes gramáticas. As mídias digitais, a medida que possibilitam a um usuário a compo-sição de um léxico próprio de imagens, ícones e signos no acesso à memória e, assim, a personalização do meio, recuperam um modo de comunicação no qual o meio revela aspectos individuais e coletivos daquele que o utiliza (PEREIRA, 2011, p.176).

Para Vinícius Pereira (2011), cada indivíduo com sua bagagem específica, orientada no coletivo, “compõe e recompõe, continuamente, a linguagem e a memória com as quais realiza seus processos semióticos” (p.176). Pressupõe-se assim que questões ligadas aos diferentes usos possíveis reivindiquem “a possibilidade de agentes técnicos, paralelo aos agentes sociais, afetarem, também, por vias muito específicas, materiais, os modo de ser humano” (p.188).

Considerações finais A alteração na forma de lidar com os objetos comunicacionais tem avançado na sociedade, pois, ao passo que a promessa de automação dos processos se acentua, as maneiras de “estar no mundo” também são acentuadas com a construção de sentido demanda das relações resultantes entre humanos e máquinas. Dessa maneira, o corpo entra em evidência ao ser dotado da capacidade de experimentar novas formas de

construir, organizar e unificar o sentido atribuído aos objetos dispostos no mundo. No contexto da sofisticação do uso de aparelhos de informação e comunicação, as habilidades humanas representam papel análogo ao desenvolvido por máquinas, os aparatos técnico-eletrônicos e dispositivos fazem os usuários assumirem maior envolvimento físico com esses objetos, requisitando habilidades motoras para poder interpretar as mensagens. É neste ponto que podemos falar sobre da influencia das interfaces gráficas na televisão digital, já que nesse ato há, cada vez mais, a presença do corpo na mediação do conteúdo. Para além das modificações mencionadas acima, a presença física das mídias digitais e suas interfaces produzem novos modos de estar em uma sociedade ou novos ambientes que surgem com o uso de tais tecnologias que conjungam aparato tecnológico e ganhos sensoriais na experimentação do mundo da vida, onde indivíduos e coletivos mantém uma interrelação, um fluxo, de trocas de conhecimentos. Os meios carregam novas linguagens ao passo que a sociedade desenvolve novos processos comunicacionais, por vezes mais complexos do que os anteriores. Mas, a evolução da comunicação reforça que o sugirmento de técnicas mais avançadas pressupõe a convivência do conhecimento de mundo adquirido na cotidiana experiência com o mundo exterior, o coletivo, com as imagens registradas nas memórias individuais. Agora, pensar o conjunto das variáveis físico-tecnológicas da comunicação digital requer esforços de entender não somente o sentido da experiência com os objetos, mas, também, exige a avaliação de tal conjunto de experiências sensoriais das tecnologias de informação e comunicação. Além da tão essencial capacidade congnitiva já discutida, ainda há o envolvimento corpóreo nos processos de comunicação humano-máquina que não foram o centro das atenções nesse trabalho, mas merece atenção, pois também participa da criação de vínculo dos humanos com os objetos dispostos pelas midias digitais. Seguindo a discussão proposta pelo campo da não-hermenêutica e das materialidades da comunicação, percebemos a demanda por estudos aprofundados e interdisciplinares para entender os cenários emergentes que surgem com novas possibilidades de comunicação. Por ora, compreender a questão da memória e do

envolvimento da cognição nos processos comunicações digitais revela o impacto da tecnologia no modo de vivenciar e experimentar o mundo, intermediados por dispositivos dotados de memória artificial que prolongam a percepção dos individuos em relação ao coletivo e podem fazer surgir novas práticas de sociabilidade que ainda estão em pleno ordenamento.

Referências bibliográficas BOLTER, Jay; GRUSIN, Richard. Remediation: Understanding New Media. Cambridge: The MIT Press, 2000. CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador, 1999 FELINTO, Erick. Materialidades da Comunicação: por um Novo Lugar da Matéria na Teoria da Comunicação. Ciberlegenda (UFF), Niterói, n.5, 2001. FELINTO, Erick; PEREIRA, Vinicius Andrade. A Vida dos Objetos: Comunicação e Materialidade. In: X Simpósio de Pesquisa em Comunicação da Região Sudeste. Rio de Janeiro, 2004. GUMBRECHT, Hans Ulrich. O campo não-hermenêutico: adeus à interpretação. Cadernos da Pós/Letras. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1995. _____________. Produção de Presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto, Editora PUC/Rio, 2010. LEVY, Pierre. Tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Ed.34, 1993. PEREIRA,Vinícius Andrade. Estendendo Mcluhan: da Aldeia à Teia Global - Comunicação, Memória e Tecnologia. Porto Alegre: Sulina, 2011. PEREIRA DE SÁ. Simone. Exploração da noção de materialidade da comunicação. In: Contracampo. Revista do Programa de pós-graduação em Comunicação. Instituto de Artes e Comunicação. Niteroi, 2004.

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