Matriz de Insumo-Produto do Rio Grande do Sul — 2008: hipóteses, interpretações e principais resultados

June 1, 2017 | Autor: R. de Sá da Silva | Categoria: Economics, Brazil, Input-Output Analysis
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Matriz de Insumo-Produto do Rio Grande do Sul — 2008: hipóteses, interpretações e principais resultados Rodrigo de Sá

Economista, Pesquisador da Fundação de Economia e Estatística

1 Introdução A Matriz de Insumo-Produto do Rio Grande do Sul — 2008, calculada e divulgada pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) em 2014, é a terceira matriz construída pela FEE, estando também disponíveis as matrizes de 1998 e 2003. Indispensável à matriz é a tabela de recursos e usos, que sintetiza as relações intersetoriais da economia gaúcha, além das suas relações com os consumidores e com o resto do País e do mundo. Junto com os impactos fornecidos pela matriz, esses indicadores são fundamentais para a operacionalização de políticas públicas, dando-lhes um maior entendimento de como funciona a economia do Estado e quais são as repercussões esperadas de variações nessa economia. Uma vez que a matriz esteja calculada e publicada, seu manuseio é relativamente simples. Contudo seu uso correto requer que o usuário entenda propriamente seus significados e suas limitações. Também pode ocorrer a situação contrária: deixar-se de utilizar a matriz por se desconhecer todas as suas potencialidades. Tendo isso em mente, o objetivo principal deste trabalho é apresentar formalmente a construção da matriz, as hipóteses utilizadas com esse fim e as limitações e as interpretações que essas hipóteses implicam. O destaque desta apresentação é conduzir a construção da matriz já na abordagem produto por atividade, o que faz com que o texto atinja seu objetivo mais diretamente, além de explicitar, ao longo dessa construção, todas as hipóteses, que são discutidas mais tarde no texto. Além disso, neste trabalho, objetiva-se apresentar os resultados principais da Matriz gaúcha de 2008, com o Produto Interno Bruto (PIB) do Esta-

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do construído a partir das três óticas possíveis, e a análise dos impactos das diversas atividades produtivas do Estado. Além desta Introdução, este artigo está organizado em mais quatro seções. A segunda seção traz a metodologia da construção da Matriz, cobrindo a tabela de recursos e usos, o equilíbrio entre a demanda por produtos e a produção local, os coeficientes regionais e o fechamento do modelo para as famílias. Ademais, apresenta e traz a intuição sobre os multiplicadores. A terceira seção salienta as hipóteses feitas ao longo da construção da Matriz, as suas interpretações e as limitações trazidas por essas hipóteses. Na quarta seção, são trazidos os principais resultados da Matriz do Rio Grande do Sul — 2008. Já a Conclusão é apresentada na quinta seção.

2 Modelo de insumo-produto A matriz de insumo-produto é uma ferramenta complexa, que condensa uma grande diversidade de informações, e, por isso, o entendimento de como ela é construída e de quais hipóteses estão por trás dela é importante para o seu uso correto. Esse entendimento auxilia na compreensão do que pode e do que não pode ser feito com a matriz. Tendo isso em mente, este capítulo busca apresentar a parte matemática da matriz, mostrando os conceitos e as hipóteses feitas na sua construção. A descrição das variáveis utilizadas na sua elaboração e dos procedimentos metodológicos mais específicos está exposta na Metodologia da Matriz (MATRIZ..., 2014). Já uma análise mais detalhada sobre a teoria da análise de insumo-produto pode ser encontrada em Miller e Blair (2009). Para a construção da matriz, o primeiro passo é o cálculo da tabela de recursos e usos. Ela sistematiza a economia como uma coleção de atividades produtivas (exemplo: agricultura, refino de petróleo e gás, comércio, 1 etc.) e > produtos. 2 Primeiramente, na matriz de recursos , é informado o quanto foi produzido dentro do Estado de cada produto por atividade 3 : = , . Esses valores são expressos em unidades mone,…, , ,…,

1

Essa abordagem, com produtos e atividades, é conhecida na literatura como commodity-by-industry approach.

2

Conhecida na literatura como make matrix ou output matrix.

3

A matriz de recursos definida aqui tem as dimensões contrárias ao que é usual na literatura, onde ela é encontrada com dimensão atividade por produto, ou seja, ela é a transposta da usual. Existem duas razões para ela ser definida aqui com dimensão produto por atividade: primeiro, ela compartilha a mesma dimensão da tabela de usos definida a seguir, e

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tárias e estão a preços básicos, ou seja, não estão incluídos nesses valores impostos e margens de comércio e transporte. Somando a -ésima coluna da tabela de recursos, tem-se o total produzido na atividade , = ∑ , = . Já, ao se somar a i-ésima linha da tabela, tem-se , ,…,

o total produzido do produto , = ∑ ,…, . , , = Os vetores e podem ser escritos matricialmente em função da matriz de recursos , utilizando o vetor auxiliar , de dimensão , composto de 1’s em cada uma das suas coordenadas, = (1, … ,1). Pós-multiplicar uma matriz por um vetor de 1’s de dimensão apropriada equivale a criar um novo vetor, no qual cada um dos seus componentes equivale à soma da respectiva linha dessa matriz. Assim, = e x = (V')ι( . Nesse ponto, é importante notar-se que um determinado produto pode ser produzido por mais de uma atividade diferente, assim como uma determinada atividade, em geral, produz mais de um produto. Além da produção local, para se chegar à disponibilidade interna, devem-se somar ainda as importações do resto do Brasil e do resto do mundo. Depois disso, ao se somarem os impostos sobre produtos e as margens de comércio e transporte, chega-se ao total da disponibilidade interna a preços do consumidor. Essas informações estão na tabela recursos de bens e serviços na publicação da Matriz. Outro componente da tabela de recursos e usos é a tabela de usos. Dado o total da disponibilidade interna de cada produto a preços básicos (sem os impostos e as margens de comércio e transporte) informado na tabela de recursos, a tabela de usos informa qual é o seu destino: consumo intermediário de atividades produtivas locais, consumo final das famílias locais ou do governo, investimento, variação de estoques ou exportações. O 4 uso como consumo intermediário é sumarizado na matriz de usos ) = *, , onde * , é o quanto a atividade jcomprou do insumo ,…, , ,…, para executar a sua produção. Vale ressaltar-se que esses insumos não se restringem aos produzidos no Estado apenas. Dessa matriz, pode-se extrair o total do consumo intermediário de cada atividade, somando a sua respectiva coluna, ,- = ∑ * ,. Tanto a matriz de recursos quanto a matriz de usos ) estão expressas em produtos por atividade, porém, para se chegar ao modelo de insu-

todas as matrizes retangulares também terão essa dimensão; segundo, este formato é o formato usual de divulgação nas tabelas de recursos e usos. 4

Conhecida também como use matrix. Panorama socioeconômico e perspectivas para a economia gaúcha

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mo-produto de Leontief, é necessário transformá-las em atividade por ativi5 dade. Nesse processo, precisam-se definir duas matrizes auxiliares, . e /. u .= b1,2 , definida por b1,2 = 1,25x2 , diz o quanto do insumo a 1

,…,(,2

,…,3

atividade utiliza por unidade monetária produzida. Essa matriz, análoga à matriz de coeficientes técnicos do modelo tradicional (atividade por atividade) de Leontief, é uma caracterização da tecnologia de produção de cada uma das atividades, ou seja, a j-ésima coluna de . dá a proporção de cada insumo (produto) que a atividade j deve comprar para produzir uma unidade monetária (note-se que, por definição, a soma de cada coluna de . é igual a 1). Em notação matricial, pode-se expressar . em função da matriz de usos ) e do vetor com o total produzido por atividade , . = )67 ,

onde 6 = 8 ,

,…, ,

,…,

é a matriz diagonal obtida utilizando os elemen-

tos do vetor como os elementos dessa diagonal. Pós-multiplicando essa equação por 6 pode-se redefinir a matriz de uso em função da matriz de coeficientes técnicos ) = .6.

6

v1,2 5q1 , onde : , informa a fração do produto que foi produzido pela atividade (note que a soma de cada uma das linhas de /é igual a 1). Essa matriz é conhecida como market share, dando a participação de cada atividade na produção dos produtos. Matricialmente, é possível expressar / em função da matriz de recursos e do vetor com o total produzido de cada produto , Já a matriz /= : ,

,…, ,

,…,

é definida por d1,2 =

/> = ′67 ,

Onde 6 é definida analogamente a 6.

5

6

Em tese, também seria possível transformá-las em produto por produto, mas essa especificação não é a usual no sistema de contas, sendo mais adequada às análises sobre tecnologias de produção. O operado r^: ℝC → ℝC×C leva um vetor em uma matriz quadrada onde a diagonal é dada , se = 8, =F . Já a sua inversa 67 = 0, se ≠ 15 se = , é dada por 8 7 , = K . Esse fato não é tão trivial 0, se ≠

por esse vetor. Por exemplo,

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,

,…, ,

,…,

como aparenta e pode ser observado executando-se a álgebra necessária, a partir da definição da matriz inversa, 667 = 67 6 = -. Panorama socioeconômico e perspectivas para a economia gaúcha

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2.1 Equilíbrio Devido às definições feitas, para cada produto há equilíbrio entre a sua 7 oferta e a sua demanda, =∑ * , + M , = 1, … , , onde M é a demanda final pelo produto . Matricialmente, tem-se = ) + N.

Utilizando a definição de ), pode-se reescrever a equação acima como = .6 + N ⇒

=. .

Nessa equação, tem-se a produção de cada um dos produtos em função da produção de cada uma das atividades. No entanto, para prosseguir para o cálculo dos multiplicadores de Leontief, é necessário que se tenha uma equação envolvendo apenas produtos ou atividades, ou seja, que se possa chegar a uma matriz quadrada. Nas matrizes ligadas à Contabilidade Social, em geral dá-se preferên8 cia para a abordagem da “tecnologia da atividade” , em que a equação é manipulada para que informe a demanda por atividade. Nessa abordagem, assume-se que a demanda por produto M será atendida por P atividades, dadas as proporções da matriz de market share /. Através da definição da matriz de market share /> = ′67 , pós-multiplicando a equação por 6, chega-se a /> 6 = ′. Multiplicando essa equação pelo vetor coluna , obtém-se /> 6 = > . Como = ′ e 6 = , chega-se à expressão que relaciona as quantidades produzidas de cada produto e cada atividade através da matriz de market share, /′ = .

Substituindo essa relação na equação do equilíbrio = ./

>

+ N.

= . , obtém-se

Utilizando a relação de market share pode-se converter essa equação que relaciona a produção de cada produto na produção de cada atividade. Para isso, deve-se pré-multiplicar a equação por /> e substituir /′ por . Assim, /′

= /′./> + /′N = /> . + /> N. Colocando em evidência e isolando-o, chega-se a (Q − /> .) = /> N = (Q − /> .)7 /> N.

7

Há o equilíbrio, pois um dos componentes é a variação de estoques.

8

Na literatura internacional, essa abordagem é conhecida como industry-based technology. Panorama socioeconômico e perspectivas para a economia gaúcha

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Essa equação relaciona a quantidade produzida por atividade que seria necessária para atender a uma demanda por produtos N. Neste ponto, é importante recapitularem-se os passos para a derivação dessa relação, a qual partiu da relação de equilíbrio entre a produção e demanda de cada produto e utilizou-se a tecnologia de cada atividade e a hipótese de market share. Assim, esses três pontos são tomados como hipótese do modelo, e toda a utilização da Matriz deve ter consciência da sua existência. Esse tema é abordado com mais detalhes na seção 3. O termo (Q − /> .)7 /> ≡ é conhecido como matriz de requerimentos 9 totais atividade por produto e está intimamente ligado à formulação original de Leontief. Considerando que o termo /> N transforma a demanda por produtos Nem demanda por atividades, utilizando a hipótese de market share, o termo (Q − /> .)7 representa a inversa de Leontief, onde a matriz /> . é análoga à matriz de coeficientes técnicos.

2.2 Coeficientes técnicos regionais A matriz de coeficientes técnicos . informa o quanto de cada produto uma determinada atividade utiliza como consumo intermediário, mas não discrimina a sua origem. Quando confrontada com um aumento da demanda por seus produtos, uma empresa aumenta sua demanda por insumos, comprando-os não apenas dentro do estado, mas também os importando do resto do país e do mundo. Porém, ao se analisarem os multiplicadores, o interesse é, principalmente, o impacto sobre a produção local. Assim, precisa-se de novos elementos que informem o quanto dessa demanda recai sobre a produção da região. Seja )∗ = *∗, a matriz de usos regional, ou seja, *∗, diz o ,…, ,

,…,

quanto a atividade comprou do produto produzido na região. Deve-se notar que a soma da -ésima coluna de )∗ não corresponde ao total do consumo intermediário da atividade , o que é verdade para a matriz ). De forma análoga a ., pode-se definir .∗ = U ∗, como .∗ = )∗ 67 , ,…, ,

,…,

onde U ∗, diz o quanto do insumo de origem local a atividade utiliza por unidade monetária produzida. De posse desses objetos, pode-se resolver o modelo da mesma forma 10 como foi feito anteriormente. Assim, o resultado de equilíbrio é 9 10

Na literatura, industry-by-commodity total requirements matrix.

Nenhuma alteração é necessária na matriz de recursos e, consequentemente, em /, pois já tem um caráter regional, informando o quanto a atividade situada na região produz de cada um dos produtos.

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= (Q − /> .∗ )7 /> N.

Desse modo, define-se a matriz de coeficientes técnicos regionais V∗ como V∗ = /> .∗ . Para qualquer nível de demanda final e, a quantidade produzida pelas atividades em um modelo de economia regional é menor ou igual à produzida no modelo de economia fechada, pois parte da demanda por consumo intermediário recai sobre a produção de outras regiões, aumentando as importações.

2.3 Consumo das famílias endógeno No modelo apresentado até aqui, os gastos dos consumidores compõem a demanda final exógena. Porém esses gastos dependem naturalmente da renda ganha pelas famílias, e seria interessante torná-los endógenos, de modo que o crescimento da produção de setores locais aumentasse o consumo das famílias através do aumento de salários. Na literatura, esse procedimento é conhecido como fechar o modelo em respeito aos consumidores. A forma usual para que a modelagem dos consumidores compartilhe o mesmo framework adotado até aqui é modelá-los como mais uma atividade, ou seja, adicionar uma coluna e uma linha à matriz de usos. Assim, famílias são encaradas como uma atividade, o seu consumo como o consumo intermediário da atividade “famílias”, e o seu trabalho como o seu produto. A hipótese por trás dessa modelagem é que o consumo das famílias de cada produto , W , é uma função linear da sua renda X; ou seja, W = Y X. A partir da matriz de usos regional )∗ , pode-se definir uma nova matriz Z ∗ = *[∗, de usos ) , onde as famílias estão incluídas como ,…, \ ,

,…, \

uma atividade endógena. Os primeiros elementos da ( + 1)-ésima coluna representam o quanto as famílias consomem de cada produto. Assim, *[∗, \ representa o quanto as famílias consomem do produto ∈ ^1, … , _ produzido localmente. Já os primeiros elementos da ( + 1)-ésima linha representam o quanto cada atividade paga em salários para as famílias. Dessa forma, *[∗ \ , representa o quanto a atividade ∈ ^1, … , _ pagou em salários para as famílias. Já o termo da ( + 1)-ésima linha e ( + 1)-ésima coluna *[∗ \ , \ representa o quanto as famílias pagaram de salários para as outras famílias. Nas Contas Regionais do Brasil, *[∗ \ , \ = 0, pois o produto serviços domésticos incorpora inclusive os serviços prestados às famílias por trabalhadores autônomos. De maneira idêntica ao modelo anterior, pode-se definir a matriz de coeficientes técnicos que incorpora as famílias como endógenas à econoPanorama socioeconômico e perspectivas para a economia gaúcha

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Z ∗ = U[ ∗, mia .

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,…, \ ,

,…, \

Z∗ = ) Z ∗ 67 . Essa matriz pode ainda como .

ser representada como ∗ Z ∗ = `. ac, . b 0 onde o vetor a = W ,…, representa a propensão a consumir das famílias de cada um dos produtos, e o vetor b = d ,…, representa quantas unidades monetárias de salário cada uma das atividades paga para as famílias — ou, em outras palavras, compra das famílias. Para complementar o modelo, deve-se também expandir a matriz de recursos. Como se assume que apenas as famílias proveem o “produto” trabalho, a matriz de recursos expandida Z pode ser definida como 0 Z=` c 0 X onde X é o total de salários da economia. Consequentemente, define-se a Z como / Z > = Z ′67 . É fácil ver, a partir matriz de market share expandida / Z tem a forma das definições, que / Z = ` / 0c / 0 1 Assim, o modelo com o consumo das famílias endógeno tem a solução Z >. Z ∗ )7 / Z >N = (Q − / A exemplo do que foi feito nos modelos anteriores, pode-se definir a Z ∗ como V Z∗ = / Z >. Z ∗. matriz dos coeficientes técnicos expandida V

2.4 Multiplicadores Uma das principais utilizações do modelo apresentado aqui é estimar o impacto, na economia local, de mudanças em componentes exógenos, como importações, gastos do governo e novos investimentos. Como visto, o modelo pode ser resolvido em uma versão mais simples, considerando o consumo das famílias exógeno, ou mais completa, onde o consumo das famílias é tornado endógeno e depende da sua renda. Assim, chega-se a ∗ = (Q − V∗ )7 /> N para o modelo com o consumo das famílias Z ∗ )7 /> N para o modelo com as famílias endógenas. exógeno e a Z∗ = (Q − V Para um mesmo nível de demanda, Z∗ é maior do que ∗ por que considera também os efeitos indiretos dessa demanda no consumo via aumento da renda das famílias. Em ambos os modelos, a produção local de cada atividade é ligada à demanda final de cada produto. Para simplificar, defina o vetor e = /> N de dimensão igual ao número de atividades, sendo que e pode ser interpretado Panorama socioeconômico e perspectivas para a economia gaúcha

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como a demanda final por atividade resultante da demanda por produtos N, ou simplesmente a demanda por atividade. Assim, podem-se rescrever as equações de equilíbrio, genericamente, como f = (Q − g)7 e

Z ∗ )_. Para simplificar a notação, pode-se definir Onde (f, g) ∈ ^( ∗ , V∗ ), (Z∗ , V 7 ainda a matriz ≡ (Q − g) , que é a matriz de requerimentos totais apresentada anteriormente no texto e análoga à matriz inversa de Leontief. ( ∈ ^ ∗ , [ ∗ _ é a notação genérica, onde ∗ corresponde ao modelo fechado e [ ∗ ao modelo aberto). Por conveniência, os multiplicadores são definidos como o valor de produção necessário para atender a uma demanda adicional de uma unidade monetária. Defina Δe( ) como o vetor com a variação na demanda final de uma unidade monetária por produtos da atividade e nenhuma variação na demanda por produtos das outras atividades. A sua função é proceder ao cálculo dos multiplicadores, isolando o efeito de cada atividade. Assim, dada uma variação de uma unidade monetária na demanda final da atividade e utilizando-se as equações de equilíbrio, pode-se ver que a variação na produção das atividades decorrente dessa variação da demanda de é o vetor Δi( ) = Δe( ). É possível notar-se ainda que, como apenas o -ésimo componente de Δe( ) é não nulo, Δi( ) é simplesmente a -ésima coluna da matriz 11. Assim, pode-se dar uma interpretação direta aos elementos da matriz de requerimentos totais . j , representa o impacto que a demanda adicional de uma unidade monetária por produtos da atividade tem sobre a produção da atividade , considerando todas as inter-relações da economia. Outro ponto a se notar sobre a matriz é que os elementos da sua diagonal principal são iguais ou maiores que um. A prova matemática foge ao escopo deste trabalho, mas é fácil ver o porquê disso através da sua interpretação econômica. O elemento da diagonal j , informa o quanto, após todos os efeitos de encadeamento da economia, a produção do setor tem que aumentar para suprir a demanda por uma unidade adicional por seus produtos. Porém, para atender a essa demanda, sem considerar todos os outros efeitos encadeados, a atividade precisa aumentar a sua produção no total dessa demanda. Dessa forma, j , ≥ 1 para todo ∈ ^1, … , _. Esse fato leva à separação natural do efeito multiplicador para o modelo aberto inicialmente em dois efeitos: o efeito direto — necessário para satisfazer a demanda inicial — e o efeito indireto — o aumento de produção necessário para atender às demandas originadas pela demanda inicial. Outra separação natural é entre o multiplicador para o modelo com o con11

Ao contrário de Δe( ), em geral todos os elementos de Δi( ) são não nulos. Panorama socioeconômico e perspectivas para a economia gaúcha

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sumo das famílias endógeno e o modelo com o consumo exógeno. A diferença entre esses multiplicadores é definida como o efeito induzido, também chamado de efeito renda. Esquematicamente: *jl mj Wn:op q rmjMs = tuM lo v pMlo + tuM lo -w: pMlo F *jl mj Wn:op xolnj = *jl mj Wn:op q rmjMs + tuM lo -w:*y :o

Z(o) o seu multiSeja r(o) o multiplicador simples da atividade e r 12 j , ou, ainda, matricialmente, r(o) = plicador total, assim r(o) = ∑ Δi( )′ z . Pode-se definir também o vetor contendo esses multiplicadores, Z (o). Matricialmente13, , e analogamente { {(o) = r(o) ,…,

{(o) = ∗ ′ z F Z∗′ z, Z (o) = | { Z ∗ são as primeiras linhas e colunas de [ ∗ . Deve-se usar essa maonde | triz truncada, pois o objetivo é avaliar o efeito multiplicador sobre as atividades originais e não sobre a “atividade” famílias. Também se podem calcular os multiplicadores sobre quaisquer outras variáveis de interesse, sempre fazendo a hipótese de linearidade. Assim, seja Ψ = ∑ Ψ a variável para a qual se interessa saber o impacto da alteração da demanda. A hipótese de linearidade pede que Ψ = ~ . Então, pode-se definir o impacto do aumento da demanda por produtos da ~ j , . atividade na variável Ψ como r(Ψ) = ∑

2.4.1 Efeito turno por turno14 Na definição da matriz de requerimentos totais , há uma inversão de matriz que possui uma intuição econômica interessante. Pode-se mostrar que a inversão da matriz Q − g é igual ao limite da seguinte soma infinita de matrizes, onde cada parcela da soma é uma potência da matriz g: = (Q − g)7 = Q + g + g• + g€ + ⋯.

Então, pode-se reescrever a quantidade produzida como

f = e = (Q + g + g• + g€ + ⋯ )e = e + ge + g• e + g€ e + ⋯.

Pode-se notar que cada elemento da série é igual ao elemento anterior pré-multiplicado por g. 12

13 14

Aqui, segue-se a notação de Miller e Blair (2009), segundo a qual o “o” de r(o) corresponde ao termo output, ou seja, produto. Os diferentes multiplicadores são diferenciados pela inicial dentro dos parênteses da expressão correspondente.

Note que a equação simplesmente soma as diferentes colunas da matriz L . Round-by-round effects.

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f = e + g(e) + g(ge) + g(gƒ e) + ⋯.

Pode-se, mais uma vez, reescrever f, definindo f„ = g„ e, … ∈ ^0,1,2, … _. Assim, chega-se a f = f‡ + f + f• + ⋯ 15.. Dada uma demanda exógena e por produtos da região, o seu efeito inicial é aumentar a produção local nessa exata magnitude; assim, f‡ = e. Por sua vez, esse aumento da produção local requer insumos adicionais da própria região, f = ge. Já essa produção de insumos requer mais insumos, f• = gf = g• e, e assim por diante. Dessa forma, dado esse aumento exógeno da demanda, o incremento total na produção local é a soma desses vários efeitos. Essa abordagem é conhecida como efeitos turno por turno.

3 Hipóteses, interpretações e limitações Um primeiro passo para compreender as possíveis limitações da matriz de insumo-produto é a percepção da diferença de natureza entre esta e a tabela de recursos e usos. A tabela de recursos e usos é uma informação estatística construída a partir da coleta de informações, ou seja, “ela existe no mundo real”. Em um determinado período de tempo — no caso deste trabalho, o ano civil — cada empresa produz certa quantidade de diferentes produtos e compra uma quantidade de produtos para servirem de consumo intermediário. Já a matriz de insumo-produto é um modelo que oferece explicações para o comportamento da economia e permite fazer o uso de previsões. O impacto da produção de uma atividade sobre as outras não pode ser observado diretamente e, possivelmente, não se comporta inteiramente como modelado pela matriz. Como qualquer modelo, ele faz uso de simplificações e hipóteses de forma que ele seja útil. Miller e Blair (2009) diferenciam duas abordagens do uso da matriz de 16 insumo-produto: análise de impacto e previsão . Para os autores, análise de impacto é a situação em que se tem um pequeno número de agentes “impactantes” gerando a variação exógena da demanda (por exemplo, o governo), e a análise se concentra no seu impacto em um período curto de tempo (por exemplo, no próprio ano ou no ano seguinte). Já a previsão é quando se quer analisar o impacto de mudanças mais drásticas ou em um prazo mais longo. Apesar dessa diferença, é importante lembrar que mesmo

15 16

É fácil notar que f‡ = g‡ e = Qe = e. No original, impact analysis e forecasting respectivamente. Panorama socioeconômico e perspectivas para a economia gaúcha

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a análise de impacto consiste na junção de inferência estatística com modelagem econômica. Não obstante o uso de hipóteses se faça necessário, estar ciente da sua existência e compreender a sua natureza é importante para o melhor uso do modelo. Um usuário sem esse conhecimento poderia fazer interpretações e previsões errôneas. Assim, é importante entenderem-se as hipóteses para se conhecerem as limitações do modelo de insumo-produto. Uma primeira hipótese é a de que a economia está sempre em equilíbrio. Dependendo da definição que se faça de equilíbrio, pode-se dizer que a economia estar sempre em equilíbrio não é uma hipótese, mas uma tautologia: a cada momento, os vários agentes da economia tomam decisões com base em regras próprias, e isso pode ser entendido como as ações em equilíbrio. Mesmo quando parecem existir desequilíbrios momentâneos, eles podem ser entendidos como os planos contingenciais dos agentes em um equilíbrio de longo prazo, ou seja, o equilíbrio é o conjunto dessas trajetórias temporais. Porém, na Matriz, tem-se a hipótese de uma forma em particular de equilíbrio, em que todo o efeito multiplicador se dá dentro de certo período de tempo. Contudo existem situações em que isso não é uma hipótese razoável. Se a magnitude da variação exógena da demanda Δe( ) for suficientemente grande, esse processo de ajustamento pode durar mais de um período. Além disso, uma grande variação exógena na demanda final pode fazer com que certa atividade receba ordem além do que a sua capacidade instalada permite, o que a impossibilitaria de atendê-la. Outro ponto importante no contexto da hipótese de equilíbrio é a previsibilidade dessa variação exógena. Caso os agentes já a previssem — por exemplo, se ela fosse o resultado de um grande investimento já anunciado — eles poderiam optar por aumentar a sua produção antecipadamente a esse choque de demanda. Assim, pode-se concluir que o efeito multiplicador não necessariamente ocorre no ano da variação da demanda, mas se dilui entre anos anteriores e posteriores. Outra hipótese importante do modelo é a da tecnologia da atividade. Assume-se que, para a atividade produzir uma unidade monetária de algum dos seus produtos, ela demande uma quantidade * , de cada ,…,

um dos diferentes produtos r ∈ ^1, … , _ e que essas quantidades sejam fixas e dependam linearmente da quantidade produzida. Assim, caso produza uma unidade monetária, ela demandará como consumo intermediário * , ; já se ela produzir‰ > 0, ela demandará ‰* , . Dando ,…, ,…,

fundamentos microeconômicos ao modelo, isso equivale a dizer que as firmas possuem uma função de produção de Leontief, em que a quantidade

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produzida pela atividade pela função de produção ~(∙),

onde ”U

,



= ~‹* , , … , * ,…,

está associada ao seu consumo intermediário

,

Œ=min •

*

,

‘U

,

,…,

*

,

‘U

,

“,

• ’ são elementos da matriz de coeficientes técnicos .. Para

que a firma aumente a sua produção, é necessário que ela aumente o consumo intermediário de todos os produtos na proporção dada por estes ”U , •, e ela não pode substituir o consumo intermediário de um produto pelo de outro — por exemplo, ela não pode aumentar o seu consumo de capital para compensar uma diminuição do seu consumo de mão de obra. Uma propriedade dessa função de produção são os retornos constantes à escala, ou seja, a multiplicação dos insumos por qualquer constante ‰ > 0 garante que a produção também seja multiplicada por essa constante. Os pontos críticos dessa hipótese estão na não substituibilidade entre os produtos que compõem o consumo intermediário e nos retornos constantes. Assim como na hipótese do equilíbrio, esses pontos são mais plausíveis quanto menor for a variação exógena da demanda final. Caso a demanda por certo produto aumente substancialmente seu preço, isso pode fazer com que as atividades que o utilizam como consumo intermediário alterem a sua tecnologia de forma a substituir esse produto, agora mais caro, por outros. Já os retornos constantes à escala, apesar de recorrentes na literatura econômica, não são muito plausíveis, especialmente quando uma determinada atividade já tem um certo tamanho. Assim, a hipótese de tecnologia do setor é razoável, desde que a variação exógena não seja grande o suficiente para que as empresas necessitem mudar suas tecnologias de produção em função de mudanças de preços relativos, ou que simplesmente não consigam replicar a sua tecnologia atual em função da sua escala já avantajada. Das três hipóteses do modelo original, a de market share é a menos crítica. Em um cenário onde um determinado produto é produzido por duas ou mais atividades, ela assume que a proporção desse produto que é produzida em cada uma dessas atividades se mantém constante. Porém esse cenário é, em geral, fruto da agregação das atividades necessária à usabilidade do modelo. No caso de se desagregar mais a Matriz, essa situação ocorreria com menos frequência. Ao se considerar explicitamente a economia regional, nenhuma hipótese adicional foi feita. Contudo esse fato tem grande importância para a hipótese de tecnologia da atividade. Caso as empresas possam recorrer a outras empresas localizadas fora da sua região para suprir seu consumo intermediário, menos razoável é a hipótese de uma tecnologia fixa. Essa hipóPanorama socioeconômico e perspectivas para a economia gaúcha

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tese não requer apenas que a relação entre os insumos de uma dada atividade seja mantida fixa, mas também que a proporção de cada insumo desses insumos que tem como origem a própria região também se mantenha. Por exemplo, mudanças nos preços relativos entre os insumos de origem interna e os de origem externa podem incentivar as empresas a alterarem a sua demanda por insumos. Se esse efeito for muito forte, pode tornar inválida a hipótese da tecnologia fixa. Quando se trata o modelo com o consumo das famílias endógeno, a principal hipótese é a propensão linear a consumir. Decorre dela que o valor gasto em cada um dos produtos é proporcional à renda. Além disso, quando há um aumento da renda, as proporções gastas com cada produto se mantêm. Assim, o preço de cada determinado produto afeta apenas a sua quantidade consumida, mas não o gasto do consumidor com ele, fazendo com que não exista efeito substituição entre o gasto com um produto mais caro e 17 o gasto com um mais barato. Também decorre dessa hipótese a ausência de efeito renda, no qual o consumidor troca, relativamente, o consumo de determinado bem por outro, conforme a sua renda varia — por exemplo, consome relativamente mais bens de luxo quanto mais rico. Além disso, junto com o modelo com economia aberta, essa hipótese implica que o consumidor não troca bens de origem regional por importados por nenhum motivo, mantendo sua proporção regional por importado constante em relação aos preços dos produtos e à sua renda. Novamente, a razoabilidade dessa hipótese é maior quanto menor for a variação exógena da demanda final. Caso essa variação seja grande o suficiente para afetar os preços ou a renda das famílias significativamente, a ausência de efeitos substituição e renda deixa de ser razoável. Além das hipóteses subjacentes ao modelo, um fator importante nas análises que utilizam a matriz de insumo-produto é a estabilidade temporal. Quanto maior for a defasagem entre o estudo que está sendo feito e o ano-base da matriz, será mais provável que a tecnologia das atividades tenha mudado. Nesses casos, ao se analisar o impacto de uma alteração na demanda em particular, devem-se identificar os setores que mais respondem a essa demanda e avaliar-se o grau em que sua tecnologia mudou nesse intervalo de tempo. Por exemplo, suponha-se que a variação da demanda estimule principalmente a atividade e que a maior parte do consumo intermediário consista em produtos da atividade • . É importante saber o que aconteceu com a produção local da atividade • no período de tempo entre o estudo e o ano-base da matriz • . Caso a capacidade produtiva local dessa 17

Vale ressaltar-se aqui que “produto” se refere aos produtos da tabela de recursos e usos. Assim, a substituição de um produto por outro pode ser a substituição de produtos de origem animal por produtos de origem vegetal por exemplo.

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atividade tenha aumentado (diminuído) significativamente, é de se esperar que o impacto real da atividade seja maior (menor) do que o previsto pela matriz. Outro fator importante no modelo desenvolvido aqui é a ausência explícita de preços relativos, tanto internos quanto externos (por exemplo, a taxa de câmbio). Como a Matriz utiliza valores nominais, estão implícitos nela os preços do ano-base. A estabilidade desses preços é necessária para que outras hipóteses, como a de tecnologia da atividade e a propensão linear a consumir para todos os produtos, sejam razoáveis. Na prática, deve-se sempre analisar as variações de preços que ocorreram e a razoabilidade de elas não terem afetado de maneira significativa as estruturas da economia no ano-base. Além disso, essa ausência explícita dos preços contribui para que o uso da Matriz, para um período distante do ano-base, perca acurácia.

4 Principais resultados O PIB do Rio Grande do Sul é calculado anualmente pela FEE, juntamente com o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), mas somente pela ótica da produção. Em 2008, foi de R$ 199.494 milhões. Porém a tabela de recursos e usos permite ainda analisá-lo por duas óticas adicionais: a ótica do dispêndio e a ótica da renda. A ótica tradicional da produção é apresentada na Tabela 1. Tabela 1 Produto Interno Bruto (PIB), pela ótica da produção, do RS — 2008 COMPONENTES Produto Interno Bruto ..................................................... Valor Adicionado (A - B) ............................................ A - Valor de produção ............................................ B - Consumo intermediário .................................... Impostos ....................................................................

VALORES (R$ 1.000.000) 199.494 172.252 398.076 225.824 27.242

% DO PIB 86,3 199,5 113,2 13,7

FONTE: Fundação de Economia e Estatística/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade FONTE: Regional.

Pela ótica do dispêndio (Tabela 2), o consumo das famílias representou 59,4% do PIB do Estado, enquanto o consumo das entidades sem fins lucrativos e o da administração pública representaram 2,1% e 18,5% do PIB respectivamente. Já a formação bruta de capital fixo representou 18,3% do PIB, enquanto a variação de estoques foi negativa, representando -0,4%. Panorama socioeconômico e perspectivas para a economia gaúcha

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Rodrigo de Sá

No ano de 2008, o principal fator que contribuiu para essa redução no nível de estoques na economia do Estado foi a venda de uma plataforma de extração de petróleo, que foi produzida ao longo de mais de um ano. Além disso, pode-se ver que as exportações do Rio Grande do Sul, tanto para o resto do Brasil quanto para o resto do mundo, superaram as importações. Porém o Estado é mais superavitário, tanto absoluta quanto relativamente, nas relações com o resto do mundo. Um fato esperado, mas que vale a pena ressaltar, é que as relações com o resto do País superam em cerca de três vezes as relações com o resto do mundo, já que a economia do Estado é, naturalmente, muito ligada à economia do resto do País. Já pela ótica da renda (Tabela 3), os salários representaram 29,5% do PIB, enquanto as contribuições sociais representaram 8,1%. Quanto aos lucros, o excedente operacional bruto representou 36% do Produto Interno 18 Bruto e o rendimento misto bruto, 13,4%. Tabela 2 Produto Interno Bruto (PIB), pela ótica do dispêndio, do RS — 2008 COMPONENTES Produto Interno Bruto ...................................................... Consumo das famílias ............................................... Consumo das instituições sem fins lucrativos a serviços das famílias ....................................................... Consumo da administração pública ........................... Formação bruta de capital fixo ................................... Variação de estoque .................................................. Exportações líquidas (A - B) ...................................... A - Exportações .................................................... Exportações para o resto do mundo ................. Exportações para o resto do Brasil ................... B - Importações ..................................................... Importações do resto do mundo ....................... Importações do resto do Brasil .........................

VALORES (R$ 1.000.000)

% DO PIB

195.382 116.037

59,4

4.112 36.084 35.683 -721 8.299 145.924 36.318 109.607 137.625 30.458 107.166

2,1 18,5 18,3 -0,4 4,3 74,7 18,6 56,1 70,4 15,6 54,8

FONTE: Fundação de Economia e Estatística/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade F ONTE: Regional.

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Rendimento misto bruto está associado à remuneração dos trabalhadores por conta própria, sejam estes empregadores ou autônomos. Já o excedente operacional bruto é o saldo entre o Valor Adicionado Bruto (VAB) e a soma das outras remunerações com os impostos. Ele pode ser entendido como o lucro das empresas descontado da remuneração dos proprietários em função do seu trabalho.

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Matriz de Insumo-Produto do Rio Grande do Sul — 2008: ...

Como mencionado anteriormente, um resultado fundamental da Matriz são os multiplicadores de impacto. Na Tabela A.1, encontram-se os multiplicadores para o produto, o Valor Adicionado e o número de empregos. Esses multiplicadores estão separados em seus efeitos direto, indireto e induzido. Este último, também chamado efeito renda, foi calculado considerando a remuneração das famílias como a soma dos salários, das contribuições sociais, do rendimento misto bruto e do excedente operacional bruto. Tiveram os maiores multiplicadores sobre o produto, considerando os efeitos totais, as atividades alimentos e bebidas (2,63), produtos do fumo (2,62), alojamento e alimentação (2,46) e pecuária e pesca (2,36). Essas atividades têm em comum o fato de o seu consumo intermediário ser dirigido principalmente para outros produtos locais, especialmente para produtos da agropecuária gaúcha. Tabela 3 Valor Adicionado Bruto (VAB), pela ótica da renda, do RS — 2008 COMPONENTES Valor Adicionado Bruto .................................................................... Remunerações ........................................................................... Salários .................................................................................. Contribuições sociais efetivas ............................................... Contribuições sociais imputadas ........................................... Excedente operacional bruto e rendimento misto bruto ............. Rendimento misto bruto ......................................................... Excedente operacional bruto ................................................. Impostos líquidos de subsídios sobre a produção e a importação

VALORES (R$ 1.000.000)

% DO PIB

172.252 73.642 57.655 13.765 2.223 96.540 26.252 70.288 2.070

37,7 29,5 7,0 1,1 49,4 13,4 36,0 1,1

FONTE: Fundação de Economia e Estatística/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade F ONTE: Regional.

Considerando os efeitos indiretos (sem considerar o efeito renda), essas quatro atividades também se destacam dentre as maiores, com a adição da atividade têxteis, artefatos do vestuário e do couro, acessórios e calçados, outra atividade voltada a processar insumos de origem local. Já considerando apenas o efeito renda, destacam-se atividades imobiliárias e aluguéis (1,02), intermediação financeira, seguros e previdência complementar (0,87), comércio e serviços de manutenção e reparação (0,87) e administração, saúde e educação públicas e seguridade social (0,85). Porém os multiplicadores referentes a atividades imobiliárias e aluguéis e administração, saúde e educação públicas e seguridade social devem ser analisados com cautela. A primeira inclui os aluguéis imputados, que são o valor que se atribui à geração de valor das residências próprias, isto é, o quanto os proprietários estariam pagando de aluguel por Panorama socioeconômico e perspectivas para a economia gaúcha

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um imóvel idêntico. Assim, uma grande parte da renda gerada por essa atividade é “virtual” e não é razoável que ela afete o consumo das famílias, pelo menos não da mesma forma que a renda das outras atividades. Já quanto à administração pública, ela não tem o caráter de responder a uma demanda por seus produtos com o aumento da sua produção da mesma forma que as outras atividades da economia. Assim, ao ser defrontada com um aumento da demanda por seus produtos, ela não necessariamente aumentará o seu consumo intermediário. O multiplicador de Valor Adicionado é maior nas atividades com maior razão Valor Adicionado por valor produzido, ou naquelas que demandam mais intensamente atividades com essas características. Em 2008, no Estado, as atividades que apresentaram um maior valor para esse multiplicador foram atividades imobiliárias (1,52), comércio e serviços de manutenção e reparação (1,31), intermediação financeira (1,31) e administração pública (1,27). No multiplicador sobre empregos, destacam-se as atividades outros serviços (67,31), serviços de alojamento e alimentação (62,60), agricultura, silvicultura e exploração florestal (62,46), pecuária e pesca (61,69), comércio e serviços de manutenção e reparação (53,21) e serviços prestados às empresas (49,98), nas quais esses valores estão expressos em número de empregos gerados a cada milhão de reais produzido.

5 Conclusão Neste trabalho, buscou-se apresentar a metodologia da análise de insumo-produto em geral e da Matriz de Insumo-Produto do Rio Grande do Sul — 2008 em particular, dando enfoque especial às hipóteses feitas na construção do modelo e às suas implicações. Além disso, essa abordagem permitiu um entendimento fundamentado da interpretação dos resultados da Matriz. Ainda, foram apresentados os principais resultados da Matriz. Ela permite calcular o Produto Interno Bruto do Estado através das três óticas — produção, renda e dispêndio —, sendo que as duas últimas não estão disponíveis nas contas regionais. Assim, foi possível dizer, dentre outras coisas, o quanto o consumo das famílias representou do produto do Estado e a taxa de investimento no ano de 2008. Também foram calculados os multiplicadores sobre o produto, o Valor Adicionado, a remuneração e o emprego de cada atividade, informações essenciais para o planejamento e a condução de políticas públicas. Panorama socioeconômico e perspectivas para a economia gaúcha

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Matriz de Insumo-Produto do Rio Grande do Sul — 2008: ...

Apêndice Tabela A.1 Multiplicadores de impacto Rio Grande do Sul — 2008 a) impacto sobre a produção ATIVIDADE

DIRETO INDIRETO INDUZIDO TOTAL

Agricultura, silvicultura e exploração florestal ........ Pecuária e pesca ................................................... Indústria extrativa ................................................... Alimentos e bebidas ............................................... Produtos do fumo ................................................... Têxteis, artefatos do vestuário e do couro, acessórios e calçados ................................................... Produtos de madeira - exclusive móveis ............... Celulose e produtos de papel ................................ Jornais, revistas, discos ......................................... Refino de petróleo e gás e produtos químicos ....... Álcool ..................................................................... Artigos de borracha e plástico ................................ Produtos de minerais não metálicos ...................... Fabricação de aço e derivados .............................. Metalurgia de metais não ferrosos ......................... Produtos de metal,exclusive máquinas e equipamentos ................................................................... Máquinas e equipamentos, inclusive manutenção e reparos ................................................................ Eletrodomésticos .................................................... Máquinas para escritório e equipamentos de informática ................................................................ Máquinas, aparelhos e materiais elétricos ............. Material eletrônico e equipamentos de comunicações ........................................................................ Aparelhos/instrumentos médico-hospitalar, medida e ópticos ............................................................ Veículos automotores ............................................ Outros equipamentos de transporte ....................... Móveis e produtos das indústrias diversas ............ Serviços industriais de utilidade pública ................ Construção civil ...................................................... Comércio e serviços de manutenção e reparação Serviços de alojamento e alimentação .................. Transportes, armazenagem e correios .................. Serviços de informação .......................................... Intermediação financeira ........................................ Serviços prestados as empresas ........................... Atividades imobiliárias e aluguéis .......................... Administração, saúde e educação públicas e seguridade social ....................................................... Serviços prestados às famílias e associativa ......... Outros serviços ......................................................

1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

0,42 0,62 0,46 1,02 1,03

0,75 0,74 0,61 0,61 0,60

2,17 2,36 2,07 2,63 2,62

1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

0,63 0,47 0,52 0,32 0,58 0,00 0,57 0,54 0,50 0,41

0,57 0,67 0,48 0,72 0,20 0,00 0,42 0,57 0,45 0,48

2,20 2,13 2,00 2,03 1,78 1,00 1,99 2,11 1,95 1,89

1,00

0,36

0,56

1,92

1,00 1,00

0,49 0,46

0,48 0,46

1,97 1,92

1,00 1,00

0,21 0,52

0,50 0,48

1,70 2,00

1,00

0,33

0,55

1,88

1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

0,30 0,56 0,58 0,43 0,33 0,38 0,28 0,80 0,58 0,43 0,38 0,37 0,05

0,71 0,44 0,53 0,58 0,56 0,70 0,87 0,66 0,66 0,75 0,87 0,78 1,02

2,01 2,00 2,11 2,01 1,89 2,08 2,16 2,46 2,24 2,18 2,25 2,15 2,07

1,00 1,00 1,00

0,34 0,44 0,32

0,85 0,73 0,81

2,19 2,17 2,13

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Tabela A.1 Multiplicadores de impacto Rio Grande do Sul — 2008 b) impacto sobre o Valor Adicionado ATIVIDADE

DIRETO INDIRETO INDUZIDO TOTAL

Agricultura, silvicultura e exploração florestal ......... Pecuária e pesca ..................................................... Indústria extrativa .................................................... Alimentos e bebidas ................................................ Produtos do fumo .................................................... Têxteis, artefatos do vestuário e do couro, acessórios e calçados ..................................................... Produtos de madeira - exclusive móveis ................. Celulose e produtos de papel .................................. Jornais, revistas, discos ........................................... Refino de petróleo e gás e produtos químicos ........ Álcool ....................................................................... Artigos de borracha e plástico ................................. Produtos de minerais não metálicos ........................ Fabricação de aço e derivados ................................ Metalurgia de metais não ferrosos .......................... Produtos de metal, exclusive máquinas e equipamentos ..................................................................... Máquinas e equipamentos, inclusive manutenção e reparos ................................................................. Eletrodomésticos ..................................................... Máquinas para escritório e equipamentos de informática .................................................................. Máquinas, aparelhos e materiais elétricos .............. Material eletrônico e equipamentos de comunicações ......................................................................... Aparelhos/instrumentos médico-hospitalar, medida e ópticos ............................................................. Veículos automotores .............................................. Outros equipamentos de transporte ........................ Móveis e produtos das indústrias diversas .............. Serviços industriais de utilidade pública .................. Construção civil ....................................................... Comércio e serviços de manutenção e reparação Serviços de alojamento e alimentação .................... Transportes, armazenagem e correios .................... Serviços de informação ........................................... Intermediação financeira ......................................... Serviços prestados as empresas ............................. Atividades imobiliárias e aluguéis ............................ Administração, saúde e educação públicas e seguridade social ......................................................... Serviços prestados às famílias e associativa .......... Outros serviços ........................................................

0,60 0,47 0,43 0,13 0,09

0,13 0,24 0,17 0,46 0,49

0,40 0,39 0,32 0,32 0,31

1,13 1,10 0,92 0,91 0,90

0,33 0,45 0,28 0,56 0,07 0,00 0,25 0,37 0,25 0,35

0,23 0,20 0,20 0,15 0,13 0,00 0,17 0,20 0,20 0,14

0,30 0,35 0,25 0,38 0,11 0,00 0,22 0,30 0,24 0,26

0,87 1,00 0,73 1,08 0,31 0,00 0,64 0,87 0,68 0,74

0,41

0,14

0,29

0,84

0,26 0,27

0,21 0,19

0,25 0,24

0,73 0,70

0,40 0,28

0,09 0,19

0,26 0,25

0,75 0,72

0,40

0,15

0,29

0,84

0,55 0,22 0,28 0,39 0,42 0,53 0,71 0,36 0,47 0,50 0,63 0,57 0,95

0,15 0,21 0,24 0,18 0,13 0,15 0,14 0,28 0,17 0,24 0,21 0,19 0,03

0,37 0,23 0,28 0,31 0,29 0,37 0,46 0,35 0,35 0,39 0,46 0,41 0,54

1,07 0,67 0,80 0,87 0,84 1,05 1,31 0,99 0,99 1,13 1,31 1,17 1,52

0,65 0,51 0,63

0,17 0,20 0,15

0,45 0,38 0,43

1,27 1,09 1,21

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Matriz de Insumo-Produto do Rio Grande do Sul — 2008: ...

Tabela A.1 Multiplicadores de impacto Rio Grande do Sul — 2008 c) impacto sobre o número de empregos ATIVIDADE

DIRETO INDIRETO INDUZIDO

Agricultura, silvicultura e exploração florestal ........ Pecuária e pesca ................................................... Indústria extrativa ................................................... Alimentos e bebidas ............................................... Produtos do fumo ................................................... Têxteis, artefatos do vestuário e do couro, acessórios e calçados ................................................... Produtos de madeira - exclusive móveis ............... Celulose e produtos de papel ................................ Jornais, revistas, discos ......................................... Refino de petróleo e gás e produtos químicos ...... Álcool ..................................................................... Artigos de borracha e plástico ............................... Produtos de minerais não metálicos ...................... Fabricação de aço e derivados .............................. Metalurgia de metais não ferrosos ......................... Produtos de metal ,exclusive máquinas e equipamentos ................................................................... Máquinas e equipamentos, inclusive manutenção e reparos ................................................................ Eletrodomésticos ................................................... Máquinas para escritório e equipamentos de informática ................................................................ Máquinas, aparelhos e materiais elétricos ............. Material eletrônico e equipamentos de comunicacoes ....................................................................... Aparelhos/instrumentos médico-hospitalar, medida e óptico ............................................................. Veículos automotores ............................................ Outros equipamentos de transporte ...................... Móveis e produtos das indústrias diversas ............ Serviços industriais de utilidade pública ................ Construção civil ...................................................... Comércio e serviços de manutenção e reparação Serviços de alojamento e alimentação .................. Transportes, armazenagem e correios .................. Serviços de informação ......................................... Intermediação financeira ........................................ Serviços prestados as empresas ........................... Atividades imobiliárias e aluguéis .......................... Administração, saúde e educação públicas e seguridade social ....................................................... Serviços prestados às famílias e associativa ........ Outros serviços ......................................................

TOTAL

41,25 32,78 21,13 5,95 1,60

6,03 14,05 4,94 26,10 27,03

15,18 14,86 12,28 12,19 11,99

62,46 61,69 38,35 44,24 40,62

24,00 21,28 7,10 18,67 0,69 0,00 7,19 16,05 2,03 10,47

10,52 8,41 6,82 4,33 3,01 0,00 4,66 6,09 4,73 3,22

11,54 13,41 9,73 14,42 4,06 0,00 8,48 11,50 8,99 9,74

46,06 43,10 23,64 37,43 7,76 0,00 20,33 33,65 15,75 23,44

11,86

3,41

11,26

26,53

5,68 11,45

4,94 5,09

9,66 9,27

20,27 25,81

6,68 6,94

2,59 4,93

9,97 9,56

19,25 21,42

6,38

3,71

11,11

21,20

8,44 3,60 6,75 13,80 4,27 27,11 31,83 35,66 13,53 7,72 3,81 29,39 3,45

3,95 5,28 7,35 6,18 2,98 5,63 3,82 13,59 4,68 5,91 4,54 4,82 0,96

14,27 8,86 10,64 11,67 11,24 14,12 17,56 13,35 13,33 15,07 17,59 15,78 20,49

26,66 17,74 24,73 31,65 18,49 46,87 53,21 62,60 31,54 28,70 25,95 49,98 24,90

13,50 22,27 45,63

4,94 7,12 5,42

17,16 14,67 16,25

35,60 44,06 67,31

FONTE: Fundação de Economia e Estatística/Centro de Informações Estatísticas/Núcleo de Contabilidade FONTE: Regional.

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