Matrizes de distâncias entre os distritos municipais no Brasil: um procedimento metodológico
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ISSN 2318-2377
TEXTO PARA DISCUSSÃO N° 532 MATRIZES DE DISTÂNCIAS ENTRE OS DISTRITOS MUNICIPAIS NO BRASIL: UM PROCEDIMENTO METODOLÓGICO Lucas Resende de Carvalho Admir Antonio Betarelli Junior Pedro Vasconcelos Maia do Amaral Edson Paulo Domingues Março de 2016
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Universidade Federal de Minas Gerais Jaime Arturo Ramírez (Reitor) Sandra Regina Goulart Almeida (Vice-reitora) Faculdade de Ciências Econômicas Paula Miranda-Ribeiro (Diretora) Lizia de Figueirêdo (Vice-diretora) Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) Cássio Maldonado Turra (Diretor) José Irineu Rangel Rigotti (Coordenador do Programa de Pós-graduação em Demografia) Marco Flávio da Cunha Resende (Coordenador do Programa de Pós-graduação em Economia) Laura Lídia Rodríguez Wong (Chefe do Departamento de Demografia) Gustavo Britto (Chefe do Departamento de Ciências Econômicas) Editores da série de Textos para Discussão Adriana Miranda Ribeiro (Demografia) Aline Souza Magalhães (Economia) Secretaria Geral do Cedeplar Maristela Dória (Secretária-Geral) Simone Basques Sette dos Reis (Editoração) http://www.cedeplar.ufmg.br
Textos para Discussão A série de Textos para Discussão divulga resultados preliminares de estudos desenvolvidos no âmbito do Cedeplar, com o objetivo de compartilhar ideias e obter comentários e críticas da comunidade científica antes de seu envio para publicação final. Os Textos para Discussão do Cedeplar começaram a ser publicados em 1974 e têm se destacado pela diversidade de temas e áreas de pesquisa. Ficha catalográfica
M433l Matrizes de distâncias entre os distritos 2016 municipais no Brasil: um procedimento metodológico / Lucas Resende de Carvalho ...[et al.]. – Belo Horizonte: UFMG/CEDEPLAR, 2016. 15 p. : il. - (Texto para discussão; 532) Outros autores: Admir Antonio Betarelli Júnior, Pedro Vasconcelos Maia do Amaral, Edson Paulo Domingues. Inclui bibliografia. ISBN: 2318-2377 1. Programação (Matemática). I. Batarelli Júnior, Admir Antonio. II. Amaral, Pedro Vasconcelos Maia do. III. Domingues, Edson Paulo. IV. Universidade Federal de Minas Gerais. Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional. V. Título. VI. Série. C03 Elaborada pela Biblioteca da FACE/UFMG – NMM011/2016
As opiniões contidas nesta publicação são de exclusiva responsabilidade do(s) autor(es), não exprimindo necessariamente o ponto de vista do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Faculdade de Ciências Econômicas ou da Universidade Federal de Minas Gerais. É permitida a reprodução parcial deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reproduções do texto completo ou para fins comerciais são expressamente proibidas. Opinions expressed in this paper are those of the author(s) and do not necessarily reflect views of the publishers. The reproduction of parts of this paper of or data therein is allowed if properly cited. Commercial and full text reproductions are strictly forbidden.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E PLANEJAMENTO REGIONAL
MATRIZES DE DISTÂNCIAS ENTRE OS DISTRITOS MUNICIPAIS NO BRASIL: UM PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Lucas Resende de Carvalho Mestrando em Economia pelo CEDEPLAR/UFMG.
Admir Antonio Betarelli Junior Professor Adjunto da UFJF e doutor pelo CEDEPLAR/UFMG
Pedro Vasconcelos Maia do Amaral Professor Adjunto da FACE e pesquisador do CEDEPLAR/UFMG
Edson Paulo Domingues Professor Associado da FACE e pesquisador do CEDEPLAR/UFMG
CEDEPLAR/FACE/UFMG BELO HORIZONTE 2016 3
Matrizes de Distâncias entre os Distritos Municipais no Brasil: um procedimento metodológico – CEDEPLAR/UFMG – TD 532(2016)
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 6 2. REDE DE TRANSPORTE MULTIMODAL DE 2010 ....................................................................................... 7 3. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO E ALGUNS RESULTADOS .............................................................. 9 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................................. 14 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................... 15
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Matrizes de Distâncias entre os Distritos Municipais no Brasil: um procedimento metodológico – CEDEPLAR/UFMG – TD 532(2016)
RESUMO Este trabalho descreve um procedimento metodológico para o cálculo das distâncias entre os 5565 distritos municipais do Brasil. Dois tipos de matrizes de distâncias foram computados: uma pela otimização de tempo sobre a rede de transporte multimodal de 2010 e outra, euclidiana, pelas coordenadas geográficas. As matrizes geradas, 5565 x 5565, fornecem informações relevantes que potencialmente podem ser utilizadas no desenvolvimento de futuros trabalhos acadêmicos e modelos aplicados (e.g., graus de acessibilidade por diversas atividades econômicas, aglomerações regionais, desenvolvimento de modelos de equilíbrio geral computável inter-regional, entre outros). Nesses termos, o principal propósito do desenvolvimento dessas matrizes é promover um banco de dados a ser utilizado em diversos estudos aplicados. Palavras-chave: Matrizes de distância; programação matemática; TransCAD.
ABSTRACT The aim of this technical work is to describe a simple procedure to calculate the distances between the 5565 municipal districts in Brazil. Two types of distance matrices were computed: i) one from the shortest path problem on the multimodal transport network in 2010; ii) another, Euclidean, by geographic coordinates. These matrices, 5565 x 5565, provide relevant information that may potentially be used to develop future academic studies and applied models (eg, degrees of accessibility for several economic activities, regional agglomerations, developing of computable general equilibrium model, among others). Therefore, the main purpose of the development of these matrices is to build a database that can be used by applied studies. Keywords: Distance matrices; mathematical programming; TransCAD.
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1. INTRODUÇÃO Economia dos Transportes é uma área aplicada da economia que está preocupada com a alocação eficiente dos recursos escassos da sociedade para a circulação de pessoas e bens de um ponto de origem até um de destino. Como praticamente todos os outros ramos da economia, Economia dos Transportes tem se tornado mais quantitativo com o advento dos avanços computacionais nas últimas décadas (por volta dos anos de 1970) (BUTTON, 2010). Os avanços computacionais permitiram o desenvolvimento de novas ferramentas, como em econometria aplicada, em programação matemática e os Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s). Os SIG’s permitem obter vários dados de um determinado sistema de transporte, inclusive criar cenários. Com essa ferramenta é possível mapear e visualizar as mudanças na infraestrutura de transporte de interesse ou até mesmo empregar modelagens de demanda e otimização sobre uma rede de transporte. Os SIG’s exibem uma grande capacidade de articulações de dados e mapas de transporte, dependendo somente do interesse da pesquisa e da capacitação técnica dos softwares envolvidos (e.g. TransCAD e ArcGIS). No grupo dos diversos SIG’s existentes, o TransCAD1, desenvolvido pela empresa Caliper Corporation tem obtido destaque nas análises e planejamento de transporte. Domingues (2006) descreve que com o TransCAD não há necessidade de criar aplicações customizadas ou módulos de conversão/intercâmbio de dados para efetuar análises com os dados do SIG. Um bom exemplo do uso desse software pode ser visto em Governo de Minas Gerais (2007). O TransCAD estende as capacidades de um GIS tradicional para incluir dados para transporte como redes de transporte, matrizes, rotas e sistemas de rotas, e dados linearmente referenciados. Estas extensões transformam TransCAD numa ferramenta mais adaptada para o tratamento e análise de dados de transporte. Uma das importantes características do programa é a operacionalização das redes de transporte. As redes incluem características detalhadas como penalidades ou restrições de conversão, passagens em nível e segmentos de mão única, atributos de intersecção ou junção, pontos de transferência intermodal/interrotas de transporte e funções de demora, corretores de centróide para zonas, classificação de segmentos e funções de performance, e links para acesso de transporte. Cabe ressaltar que o seu algoritmo de otimização de trajetória permite encontrar o melhor caminho que, por exemplo, minimiza o tempo de deslocamento do percurso entre um par de localidades. Um modelo de rede de transporte fornece as mudanças decorrentes quando os projetos previstos estiverem operando. Variações no tempo de percurso, na distância percorrida total e por malhas (por exemplo: rodovias pavimentadas, duplicadas, sem pavimentação, pedágio, ferrovias, hidrovias) e velocidade média (KM/h) são dados importantes para averiguar mudanças na estrutura de custo logístico ou no grau de acessibilidade entre as regiões, por exemplo. Diante das potencialidades do algoritmo do TransCAD, bem como as informações georreferenciadas da rede de transporte brasileira de 2010, disponibilizadas pelo Ministério dos Transportes, a motivação deste trabalho reside em desenvolver um banco de dados para estudos acadêmicos com informações de distâncias (KM) entre os distritos municipais. Para tanto, foi desenvolvido um procedimento metodológico, caracteristicamente operacional, que compreende basicamente a associação e extração de um grande conjunto de informações.
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O TransCAD foi adquirido com recursos da Fapemig para o projeto “Integração de Modelos de Equilíbrio Geral Computável e de Transportes”, edital 225-07.
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2. REDE DE TRANSPORTE MULTIMODAL DE 2010 A rede de transporte utilizada foi originalmente desenvolvida pelo Plano Nacional de logística e Transporte (PNLT) em 2007, com atualizações em 2010. O PNLT é um plano envolvendo as esferas públicas (nacional e estadual) e um plano multimodal, que compreende toda a cadeia logística associada aos transportes. A base de dados desenvolvida teve contribuições de várias instituições: ANAC, ANTT, ANTAQ, TRANSPETRO e IBAMA2. Assim sendo, dentre os seus objetivos, o PNLT propôs desenvolver uma ampla base de dados georreferenciados em várias categorias, inclusive o tratamento da integração entre as diferentes redes de transportes brasileiras, a saber: sistema rodoviário, ferroviário, aquaviário (navegação interior, cabotagem e de longo curso), dutoviário e acessos a pontos de transbordos (MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES E MINISTÉRIO DA DEFESA, 2009). É possível acessar os arquivos disponibilizados publicamente pelo Ministério dos Transportes. As informações de cada trecho da rede representam um grande esforço da equipe técnica do PLNT e outros projetos realizados, como: BRVIAS-MG050, FNS-SUL, LOGRS, E PELT-BA. A rede de transporte incorpora atributos relevantes de cada ligação ferroviária, rodoviária ou hidroviária para modelos de planejamento de transportes (figura 1). Características físicas e operacionais (distâncias, capacidades, volumes, velocidades, tempos de percurso) estão disponibilizadas e potencializam análises de desempenho de cada segmento da rede de transportes. Outras informações como locais de armazenagem, centros de transferência, aeroportos e portos marítimos e fluviais, também são fornecidas sob informações georreferenciadas.
2
Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC); Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT); Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ); Petrobras Transporte S.A. (TRANSPETRO); e − Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
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FIGURA 1 Rede integrada de transporte brasileira (2008)
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados georreferenciados do PNLT.
Conforme o PNLT, essa rede representa a oferta atual de todos os modais existentes, permitindo incorporar as expansões previstas para os horizontes futuros. Para a definição da rede futura, foram considerados os projetos de infraestrutura de transportes previstos e já comprometidos para os próximos anos. O portfólio de investimentos em transportes do PNLT é oriundo de várias fontes, subdivididos entre projetos existentes, em implementação ou previstos (MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES E MINISTÉRIO DA DEFESA, 2009). Por exemplo, a rede de transporte contempla alguns dos projetos de investimentos, como do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC II), do portfólio da infraestrutura portuária, dos projetos do DNIT e dos projetos aeroportuários do INFRAERO. A rede de transporte multimodal contempla 11188 nós de acesso com suas referidas coordenadas geográficas e estão interligadas por mais 12349 trechos (links). Os trechos da rede subdividem entre rodoviários, ferroviários, aquaviários, dutoviários e acessos aos outros trechos e ao exterior. Cada via na rede, seja qual for o seu tipo, apresenta informações como: extensão do trecho (KM), sigla do trecho, modal do trecho, transferência de mercadorias entre modais (transbordo), velocidade média de cada modal e condição atual.
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3. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO E ALGUNS RESULTADOS O procedimento metodológico divide-se em duas fases para o computo das distâncias entre pares de municípios. Na primeira fase buscou-se associar cada município a um nó de acesso da rede transporte. Para tanto, foram utilizados os dados de coordenadas geográficas das sedes municipais, disponibilizados pelo IBGE, e dos nós, oriundos da própria rede de transporte multimodal. Com posse destas informações, a associação foi feita pelo critério de menor distância euclidiana entre cada nó de acesso3 com cada município. Desse modo, foi preciso averiguar as distâncias dos 11.188 nós para um municípioespecífico, resultando, portanto, em 5.565 x 11.188 interações matemáticas. A hipótese assumida nesta associação diz que o nó de acesso com a menor distância em relação ao município em questão seria considerado o nó ótimo, qual seja, o nó que representará o próprio munícipio na simulação do trajeto que minimiza o tempo de deslocamento sobre a rede de transporte. Em suma, o critério de associação entre o munícipio e o nó de acesso se dá pela minimização da distância euclidiana entre dois pontos no espaço, como segue:
Min d ij =
(x
− xi ) + (y j − yi ) 2
j
2
(1)
em que i é nó de acesso da rede e j é o distrito municipal. Para tal cálculo, foi utilizado um script no software Scilab. Esse script calcula a distância de cada município em relação a cada nó, um a um, armazenando qual é o nó que resulta na menor distância euclidiana encontrada. Por fim, o produto são duas colunas com o par município/nó considerado ótimo, isso é, o de menor distância euclidiana. Entretanto, nessa fase do trabalho foram associados 3759 nós de acesso, um número menor em relação ao número de municípios (5565). Ou seja, o trabalho de associação pelo nó mais próximo fez com que vários distritos municipais tivessem os mesmos nós. A implicação e solução deste problema serão discutidas abaixo. A partir da associação entre nós e distritos, deu-se a segunda fase do procedimento. Foi utilizado o algoritmo de otimização de trajetória do software TransCAD, mantendo-se ativos4 somente os nós associados na rede de transporte de 2010. Para cada par de origem-destino, este algoritmo encontra a trajetória, dentre todos os caminhos possíveis entre os nós associados (ativos), que minimiza o tempo de deslocamento do percurso. Ou seja, esse algoritmo encontra o trajeto que minimiza o tempo, e, por isso, privilegia as vias ou trechos com maior velocidade (KM/h). Assim, por exemplo, um trajeto computado entre Belo Horizonte e Betim será aquele que na totalidade minimizada o tempo do percurso, independente se este passa ou não por Contagem5. Para se calcular o tempo de deslocamento em cada segmento de via considerou-se a velocidade média e o seu tipo, a saber: rede rodoviária (não pavimentada, implantada, em pavimentação, duplicada e em duplicação), rede ferroviária (exceto as planejadas), rede hidroviária e a de cabotagem. 3
Nós de uma rede representam o ponto de acesso na rede de transporte. As viagens sobre a rede de transporte começam e terminam em nós. Os trechos (links) da rede transporte conectam os nós com os outros de acesso.
4
Ao manter somente os nós associados como ativos na rede de transporte evitou-se um grande processamento computacional por calcular os trajetos ótimos entre todos os 11.188 nós da rede de transporte.
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O TransCad fornece uma opção que restringe o percurso ou passagem ótima por certos nós na rede, porém tal opção não foi aplicada neste trabalho
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Os trechos que englobam acesso ao exterior, rede dutoviária e dos projetos futuros de investimentos foram desabilitados no processo de simulação. A razão disso reside no propósito de apenas obter as distâncias físicas dentro do território nacional sobre os trechos atualmente ativos e comumente trafegados na rede de transporte brasileira. A rede dutoviária é usada para o transporte de certa mercadoria. Além disso, vale salientar que nesse cálculo não levam em conta as paradas, intensidades de uso (tráfego) ou outro tipo de interrupção. Nesse sentido, esse tempo deve ser considerado como “ideal”, ou seja, o menor tempo possível em uma situação ótima de uso das vias nas condições em que ela se encontra. Identificado o melhor caminho (melhor no sentido de otimização de tempo), foram calculados o tempo de deslocamento e a distância percorrida para cada par origemdestino. Do mesmo modo, uma vez definidas as informações geográficas dos nós associados aos municípios, o TransCAD apresenta um algoritmo que calcula as distâncias euclidianas em quilometragem para cada par de origem-destino. Aproveitou-se deste recurso do software para também fornecer uma matriz de distância sem considerar os trajetos sobre a rede de transporte, i.e. a distância euclidiana geográfica ou as the crow flies. Dessa maneira, como resultado desta segunda fase do trabalho foi possível obter dois tipos de matrizes de distância: uma pela otimização do tempo e outra euclidiana. Contudo, entre os municípios associados a um mesmo nó de acesso, as distâncias foram nulas, particularmente no processo de otimização de tempo. Para contornar isso, adicionou-se tanto na origem quanto no destino as diferenças das distâncias euclidianas entre cada município e o nó associado6. Por essa razão, ao confrontar os dados das matrizes, antes e depois dos acréscimos, as variações não foram homogêneas. Essas matrizes, de otimização e euclidiana, apresentam uma dimensão 5565 x 5665; e quando os pares de origem-destino foram empilhados, atingiram um total de 30.969.225 linhas. Por essa razão, as tabelas abaixo apresentam as distâncias e o tempo médio despendido entre as capitais brasileiras. Conforme esperado, as distâncias computadas sobre a rede de transporte foram bem maiores quando comparadas às euclidianas, principalmente nas localidades situadas no Norte e Nordeste do país. Nessas macrorregiões a extensão e densidade da rede de transporte são relativamente menores, o que leva a uma maior distância entre trajeto ótimo que minimiza o tempo segundo as vias disponíveis e a distância geográfica em linha reta. Uma ressalva necessária em relação à base de dados utilizada da rede de transporte desenvolvida no PNLT é que esta tem por característica uma rede para o transporte de carga, focando nos corredores logísticos dentro do território brasileiro. Por essa razão, é possível que alguns tipos de trechos não tenham sido georreferenciados.
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As distâncias euclidianas ( munícipio- nó associado) foram mais significativas na região Norte do país, com uma extensão máxima de 100 KM. No Nordeste houve apenas uma discrepância, isto é, os pares que detém Fernando de Noronha, cujo munícipio apresenta uma distância de aproximadamente 364 Km em relação ao nós mais próximo da rede de transporte doméstica.
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TABELA 1 Distâncias computadas entre as capitais brasileiras sobre a rede de transporte, em quilômetros 1
O/D
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
Porto Velho
1
0
Rio Branco
2
504
0
Manaus
3
884
1385
0
Boa Vista
4
1585
2086
814
0
Belém
5
2541
3041
3022
2568
0
Macapá
6
2350
2851
2832
1851
442
0
Palmas
7
2977
3478
3858
2855
1230
1614
0
São Luís
8
3024
3524
3505
3051
669
1053
1234
0
Teresina
9
3007
3508
3489
3035
1005
1389
1091
463
0
Fortaleza
10
4245
4745
4046
3592
1543
1927
1648
891
603
0
Natal
11
4741
5242
4584
4130
2037
2421
2058
1386
1098
502
0
João Pessoa
12
4573
5074
4588
4134
2102
2486
2138
1543
1143
659
182
0
Recife
13
4462
4963
5343
4085
2097
2481
2027
1555
1139
769
292
124
0
Maceió
14
4271
4772
5152
4064
2077
2460
1836
1534
1118
1003
526
358
247
0
Aracaju
15
4008
4509
4889
5590
2103
2487
1573
1561
1144
1072
757
589
478
287
0
Salvador
16
3838
4339
4720
5421
2141
2525
1404
1599
1182
1204
1074
906
795
604
341
0
Belo Horizonte
17
2936
3437
3817
4518
2655
3039
1499
2550
2134
2216
2186
2019
1907
1716
1453
1284
0
Vitória
18
3369
3870
4250
4951
3038
3422
1925
2496
2079
2100
2044
1876
1765
1574
1311
964
437
0
Rio de Janeiro
19
3321
3822
4202
4903
3035
3419
1879
2807
2390
2472
2443
2275
2164
1973
1710
1540
384
487
0
São Paulo
20
2960
3461
3841
4542
2965
3349
1830
2968
2555
2823
2793
2626
2514
2323
2060
1891
557
922
441
0
Curitiba
21
3057
3558
3938
4639
3227
3611
2092
3231
2817
3212
3183
3015
2904
2713
2450
2281
947
1312
831
413
0
Florianópolis
22
3334
3834
4215
4916
3507
3891
2372
3510
3097
3491
3462
3294
3183
2992
2729
2559
1225
1591
1109
692
298
0
Porto Alegre
23
3452
3953
4333
5034
3945
4329
2810
3949
3535
3930
3900
3733
3621
3430
3167
2998
1664
2029
1548
1131
737
454
0
Campo Grande
24
2137
2638
3018
3719
2687
3071
1695
2834
2560
2856
3201
3033
2922
2731
2468
2298
1279
1904
1423
1018
961
1238
1356
0
Cuiabá
25
1430
1931
2311
3012
2244
2628
1549
2495
2521
2817
3313
3145
3034
2843
2580
2410
1508
1941
1893
1532
1629
1906
2024
709
0
Goiânia
26
2303
2804
3184
3885
2018
2402
883
2021
1748
2043
2539
2372
2260
2069
1806
1637
846
1279
1327
964
1227
1506
1945
830
875
0
Brasília
27
2410
2911
3292
3993
1963
2347
807
1929
1541
1837
2333
2165
2054
1863
1600
1430
694
1121
1074
1016
1279
1558
1996
1022
982
209
27
0
Fonte: Elaboração própria dos autores com auxílio do TransCAD e informações da rede de transporte de 2010.
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Matrizes de Distâncias entre os Distritos Municipais no Brasil: um procedimento metodológico – CEDEPLAR/UFMG – TD 532(2016)
TABELA 2 Distâncias euclidianas entre as capitais brasileiras, em quilômetros 1
O/D
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
Porto Velho
1
0
Rio Branco
2
449
0
Manaus
3
762
1150
0
Boa Vista
4
1336
1627
662
0
Belém
5
1888
2335
1293
1434
0
Macapá
6
1726
2161
1055
1112
329
0
Palmas
7
1712
2129
1511
1989
974
1178
0
São Luís
8
2276
2725
1747
1914
482
804
965
0
Teresina
9
2364
2809
1923
2171
751
1080
836
330
0
Fortaleza
10
2858
3303
2385
2564
1135
1453
1302
653
496
0
Natal
11
3181
3619
2767
2986
1552
1876
1529
1072
844
436
0
João Pessoa
12
3203
3635
2822
3070
1638
1965
1523
1163
906
556
152
0
Recife
13
3193
3621
2836
3105
1678
2007
1499
1210
935
630
254
104
0
Maceió
14
3093
3513
2780
3092
1681
2010
1384
1235
931
730
434
299
202
0
Aracaju
15
2948
3362
2676
3025
1643
1968
1236
1227
904
816
605
487
398
201
0
Salvador
16
2811
3208
2608
3011
1688
2002
1116
1324
995
1029
876
764
676
476
277
0
Belo Horizonte
17
2479
2788
2558
3119
2112
2351
1179
1934
1654
1894
1832
1728
1641
1441
1243
965
0
Vitória
18
2838
3159
2867
3397
2277
2547
1415
2024
1714
1856
1707
1582
1485
1283
1103
840
378
0
Rio de Janeiro
19
2709
2984
2851
3430
2452
2688
1514
2268
1981
2192
2087
1969
1875
1673
1484
1211
340
413
0
São Paulo
20
2465
2706
2691
3302
2465
2665
1494
2351
2093
2370
2322
2218
2130
1930
1732
1455
490
742
358
0
Curitiba
21
2414
2603
2736
3372
2667
2838
1695
2601
2364
2672
2647
2547
2461
2261
2063
1786
821
1077
676
339
0
Florianópolis
22
2643
2811
2984
3623
2907
3084
1933
2824
2576
2860
2804
2696
2605
2404
2209
1932
974
1162
749
489
252
0
Porto Alegre
23
2708
2816
3135
3788
3191
3343
2224
3144
2911
3216
3175
3068
2979
2778
2582
2305
1342
1537
1125
853
547
376
0
Campo Grande
24
1636
1828
2014
2669
2214
2310
1322
2286
2134
2549
2656
2595
2532
2354
2157
1907
1119
1491
1213
895
781
1008
1120
0
Cuiabá
25
1139
1415
1454
2108
1779
1824
1030
1944
1864
2331
2526
2497
2454
2304
2123
1917
1374
1747
1577
1327
1303
1545
1680
560
0
Goiânia
26
1815
2140
1914
2504
1695
1869
725
1664
1468
1856
1950
1891
1831
1657
1463
1226
667
1023
937
811
973
1216
1498
706
741
0
Brasília
27
1902
2248
1934
2498
1594
1792
621
1526
1314
1689
1777
1718
1658
1486
1293
1061
625
948
934
874
1082
1316
1620
879
874
173
27
0
Fonte: Elaboração própria dos autores com auxílio do TransCAD e informações da rede de transporte de 2010.
12
Matrizes de Distâncias entre os Distritos Municipais no Brasil: um procedimento metodológico – CEDEPLAR/UFMG – TD 532(2016)
TABELA 3 Tempo médio despendido pelo trajeto ótimo na rede de transporte, em horas 1
O/D
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
Porto Velho
1
0
Rio Branco
2
13
0
Manaus
3
21
31
0
Boa Vista
4
23
33
21
0
Belém
5
50
60
63
61
0
Macapá
6
73
83
87
76
41
0
Palmas
7
40
49
58
57
25
49
0
São Luís
8
48
58
62
59
19
43
18
Teresina
9
48
58
62
59
22
46
17
8
Fortaleza
10
54
64
68
66
28
52
23
13
9
Natal
11
57
67
74
72
34
58
28
19
15
7
0
João Pessoa
12
59
69
78
75
39
63
30
24
19
12
6
0
Recife
13
55
65
74
71
35
59
25
21
16
10
4
6
0
Maceió
14
53
63
72
71
35
59
23
21
15
12
6
8
4
0
Aracaju
15
50
60
69
70
35
59
20
21
16
14
8
10
6
4
Salvador
16
50
60
68
70
37
61
20
22
17
16
13
15
11
9
6
0
Belo Horizonte
17
39
49
58
59
44
68
21
32
27
27
24
26
22
20
17
17
0
Vitória
18
43
53
62
63
44
68
25
30
25
24
21
23
19
17
14
14
8
Rio de Janeiro
19
41
51
59
61
46
70
24
33
28
28
25
27
23
21
18
18
6
6
São Paulo
20
38
48
57
58
45
69
23
37
32
33
30
32
28
26
23
22
10
11
6
0
Curitiba
21
39
49
58
59
48
72
26
40
36
36
34
36
32
29
27
26
14
15
10
7
Florianópolis
22
41
51
60
61
50
74
28
42
38
38
36
38
34
32
29
28
16
17
12
9
5
Porto Alegre
23
45
55
64
65
55
79
33
47
43
43
41
43
39
36
34
33
21
22
17
14
10
6
0
Campo Grande
24
30
40
49
50
46
70
26
40
36
39
40
42
38
36
33
33
20
23
18
16
16
18
22
0
Cuiabá
25
20
30
39
40
40
64
21
35
33
36
39
41
37
35
32
32
21
25
23
20
21
23
27
12
0
Goiânia
26
32
42
50
52
36
60
14
28
24
27
30
32
28
26
23
23
13
17
15
13
16
18
23
16
14
0
Brasília
27
32
42
51
52
35
59
12
26
21
24
28
29
25
23
20
20
11
15
14
13
17
19
24
17
14
5
27
0 0 0
0
0 0 0 0
0
Fonte: Elaboração própria dos autores com auxílio do TransCAD e informações da rede de transporte de 2010.
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Matrizes de Distâncias entre os Distritos Municipais no Brasil: um procedimento metodológico – CEDEPLAR/UFMG – TD 532(2016)
De todo modo, quando utilizado o modal terrestre, os resultados encontrados nesse estudo são semelhantes aos apresentados por software de terceiros, como por exemplo Google Maps. Uma contribuição desse estudo em relação a esses softwares é a consideração de outros modais, como a rede ferroviária, hidroviária e de cabotagem, que não são consideradas, por exemplo, nas rotas apresentadas pela ferramenta Google Maps.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho técnico pretendeu oferecer contribuições acerca das informações de distâncias de deslocamento entre os distritos municipais no Brasil, cujos dados podem ser utilizados para futuros estudos acadêmicos e/ou no desenvolvimento de modelos de equilíbrio geral computável (EGC). Para atingir esse propósito foi desenvolvida, primeiramente, uma programação matemática de associação entre os nós de acesso da rede de transporte com os distritos municipais, e, numa etapa posterior, a execução dos algoritmos do TransCAD com a devida associação feita e trechos ativos e de maior uso no território nacional. Vale ressaltar que, em consonância com o objetivo deste trabalho, todas as bases geradas encontram-se disponíveis mediante solicitação aos autores e estão hospedadas, também, no servidor de arquivos (netdata) do CEDEPLAR/UFMG. Contudo, embora os dados gerados estejam disponíveis para uso, deve-se atentar para algumas de suas limitações. Primeiro, a rede de transporte multimodal é caracteristicamente uma rede para o transporte de carga, trata os corredores logísticos no Brasil e não engloba adequadamente trechos ou vias intraurbanas. Logo, os resultados gerados, particularmente pelo processo de otimização de tempo, são adequados para estudos regionais e insuficientes ou inadequados para estudos urbanos. Segundo, as distâncias computadas pela otimização de tempo levaram em conta uma rede de transporte integrada entre rodovias (não pavimentada, implantada, em pavimentação, duplicada e em duplicação), ferrovias (exceto as planejadas), hidrovias e de cabotagem. Apesar de a rede rodoviária ser a mais densa e extensa no país, as distâncias calculadas consideraram que o tráfego nos demais tipos de trecho ocorre de forma livre, sem considerar a distinção de usuários cativos ou não. Dessa maneira, para um estudo com econometria aplicada sobre um setor não demandante do transporte ferroviário ou de cabotagem, o uso das distâncias geradas pela otimização de tempo pode distorcer os valores e as inferências sobre as estimativas alcançadas. Do mesmo modo, tais distâncias calculadas podem ser estritamente inadequadas para estudos aplicados de fluxos migratórios, pois o transporte de passageiros por via férrea ou aquaviária é pouco expressivo no país e a rede de transporte utilizada neste trabalho não engloba as conexões das rotas aéreas.
Por fim, a rede de transporte georreferenciada utilizada apresentou que rodovias não
pavimentadas e pavimentadas exibem baixa densidade e extensão nas regiões Norte e Nordeste do país, o que pode ter levado uma sobrevalorização das distâncias geradas. Todavia, principalmente para a região Norte, cabe ressaltar a contribuição do estudo ao se considerar os modais hidroviários, que por vezes são desconsiderados por outros ferramentais de cálculo de distância e tempo de deslocamento entre municípios.
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Matrizes de Distâncias entre os Distritos Municipais no Brasil: um procedimento metodológico – CEDEPLAR/UFMG – TD 532(2016)
REFERÊNCIAS BUTTON, K. Transport Economics. Cheltenham/Northampton: Edward Elgar, 2010. 511 p. DOMINGUES, E. P. Integração de Modelos de Equilíbrio Geral Computável e de Transportes. Projeto de pesquisa. Programa de infraestrutura para jovens pesquisadores. FAPEMIG, n. 019/2006, 2006. GOVERNO DE MINAS GERAIS. Plano Estratégico de Logística de Transporte (PELT). Belo Horizonte: Práxis Design, ago. 2007. MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES; MINISTÉRIO DA DEFESA. Plano nacional de logística e transporte (PNLT). Sumário executivo. Brasília: Ministério dos Transportes e Ministério da Defesa, nov. 2009.
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