Mecanismos de Intercâmbio Jornalístico na América Latina: estratégias e modelos de cooperação

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 12º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Santa Cruz do Sul – UNISC – Novembro de 2014

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Mecanismos de Intercâmbio Jornalístico na América Latina: estratégias e modelos de cooperação Pedro Aguiar

Re sumo: O artigo propõe uma análise comparativa de três iniciativas de cooperação em

comunicação na América Latina, sendo duas de capital privado e uma estatal – os consórcios de imprensa GDA (Grupo de Diarios América) e PAL (Periódicos Asociados Latinoamericanos), classificados como “aliança estratégica” entre conglomerados, e a associação interestatal ULAN (Unión Latinoamericana de Agencias de Noticias) –, ressaltando a disputa entre capital e Estado no que pode vir a ser uma esfera pública transnacional, acirrada desde a chamada “Guinada à Esquerda”, quando diversos países a região elegeram governos progressistas que se contrapõem aos interesses das elites proprietárias, inclusive de mídia. Palavras-chave : agências de notícias; conglomerados de mídia; cooperação.

A integração da América Latina é um vetor de projetos nos mais variados setores há cerca de 200 anos. Do sonho de Simón Bolívar, no início do século XIX, à criação dos organismos intergovernamentais UNASUL (2008) e CELAC (2011), no início do século XXI, instituições dos 20 países da região têm variado enormemente em torno da aproximação, da cooperação e da execução de iniciativas conjuntas, muitas vezes restringindo-se ao plano das intenções, com grau baixo ou nulo de sucesso. No campo da comunicação, entretanto, o projeto da integração latino-americana tem-se materializado de forma razoável e – dado o ceticismo resultante da observação em 1

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outras áreas, como infraestrutura e finanças – até surpreendente. Atualmente, pelo menos três iniciativas neste âmbito estão em andamento, sendo duas da esfera do capital privado e uma da esfera do Estado: o Grupo de Diarios América (GDA) e os Periódicos Asociados Latinoamericanos (PAL), consórcios entre órgãos de imprensa de vários países, e a Unión Latinoamericana de Agencias de Noticias (ULAN), associação de agências de notícias estatais de outros tantos países.

1. Antecedentes históricos Tais iniciativas, denominadas por Boyd-Barrett & Thussu (1992) como NEMs (do inglês news exchange mechanisms, ou mecanismos de intercâmbio jornalístico), já vêm sendo tentadas há décadas, com um período particularmente fértil nos anos 70 e 80 do século XX, durante os debates sobre a Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação (NOMIC). Passada a campanha, no entanto, e com a revolução tecnológica provocada pela digitalização, arrefeceu a tendência a este tipo de empreendimento intergovernamental e revigorou-se a hegemonia do capital, manifesta em intercâmbios de ordem privada, como redes comerciais, joint-ventures corporativas e consórcios empresariais. Na América Latina em especial, com o processo de mudança política na passagem do milênio, conhecido como “Guinada à Esquerda”, houve um reforço do Estado e um retorno a projetos intergovernamentais de cooperação na região, inclusive no setor da comunicação. A Telesur (canal regional de televisão gerido pela Venezuela com participação argentina, equatoriana e cubana) e a ULAN inserem-se nesse contexto, contrastando com arranjos corporativos como o GDA e o PAL. As iniciativas estatais de cooperação Sul-Sul, então, não apenas na América Latina, situar-se-iam em um campo contra-hegemônico, enquanto as da mídia corporativa são inseridas nas estratégias de manutenção da hegemonia do capital, como observado por Moraes (2009). As propostas do GDA, do PAL e da ULAN não são de todo novas. Outras iniciativas de associações e pools de imprensa e de agências já tinham existido na América Latina em décadas anteriores. O histórico da cooperação em comunicação na região começa ainda no período da Guerra Fria – curiosamente, durante o contexto dos regimes militares 2

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autoritários na região e estimulado por aparatos estatais e privados de potências estrangeiras, como EUA e Reino Unido. LATIN paíse s

Brasil, Chile, Colômbia, P eru, Equador, México, Venezuela

ACAN Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, P anamá

ASIN Brasil, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guiana, Jamaica, México, Nicarágua, P anamá, P eru, Rep. Dominicana, Suriname, Venezuela

m e m bros

O Globo, O Estado de S.P aulo, Jornal do Brasil, Diario P opular, El Mercurio, La T ercera, El T iempo, El Comercio (P eru), Expreso, El Comercio (Equador), El Excelsior, El Nacional, La Verdad

El Mundo (El Salvador), Diario Extra, La T ribuna, El Nuevo Diario, Hoy (Nic.), La P rensa (Nic.), Crítica, P anamá América, La P rensa Gráfica, La Hora (extinto), Radio Monumental

EBN, Bolpress, Colpress, CRI, Ecuapress, GNA, Jampress, Notimex, ANN, P anapress, Andina, Dompress, SNA,

jornais

jornais, rádios e T Vs

agências de notícias

proprie dad e

privada

privada

estatal

pe ríodo

1970-1981

1973-atual

1979-1992?

se de

Buenos Aires (de facto)

Cidade do P anamá

Caracas

EFE (Espanha)

IP S (Itália/T erceiro Mundo)

au spiciador Reuters (Reino Unido)

Venpress

Uma das primeiras iniciativas do gênero foi a LATIN, uma cooperativa de jornais latino-americanos (privados) fundada em 1969 sob os auspícios da agência britânica Reuters e operante desde janeiro do ano seguinte até 1981 (BOYD-BARRETT, 1980: 174-175; PIERNES, 1990: 81-82). Vários dos jornais integrantes desse consórcio são os mesmos do GDA, como O Globo brasileiro, El Tiempo (Colômbia), El Mercurio (Chile), El Nacional (Venezuela), e os dois El Comercio, o do Peru e o do Equador (que são de grupos diferentes). No Brasil, o grupo integrava também O Estado de S.Paulo, o Diário Popular (hoje Diário de S.Paulo) e o Jornal do Brasil, que à época era um dos principais do país. Salinas (1984: 292-298) relata que a iniciativa partiu de dois indivíduos, gestores de empresas de comunicação: Julio Scherer, dono do jornal mexicano El Excelsior, e Patrick Crosse, então diretor regional da Reuters para a América Latina. Scherer já tinha acertado um acordo de intercâmbio em 1968 entre seu jornal e El Tiempo de Bogotá, El Nacional de Caracas e El Comercio de Quito. Crosse procurou Scherer e sugeriu que o intercâmbio 3

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fosse convertido em uma entidade permanente, que aproveitasse os correspondentes próprios para fornecer à Reuters material original e, em troca, receber o serviço da agência britânica. A motivação principal, para a agência, era economia dos custos de distribuição (que, no contexto tecnológico pré-digital, era feito por meio de satélite, telegrafia ou da rede privada Telex, todos serviços com acesso cobrado e caro). Mas a autonomia do consórcio era limitada. A Reuters detinha controle operacional e indicava o diretor-geral, que selecionava e treinava os jornalistas dos diários que iriam compor a equipe da LATIN. Também foram os britânicos que montaram a estrutura administrativa, as especificações técnicas e a equipe técnica. A LATIN foi registrada como empresa uruguaia, mas sediada de facto em Buenos Aires. O consórcio sofreu pressões políticas de ambas as pontas do espectro ideológico. Segundo Adghirni & Giraldi (2012: 5-6), a LATIN foi acusada tanto de estar a serviço da CIA norte-americana quanto dos soviéticos. Salinas (1984: 297) aponta que alguns jornais tipicamente conservadores e geridos como empresas familiares por integrantes das elites que estavam “acostumados a usá-los como meios de pressão nas relações de poder com os governos”. Por outro lado, a cobertura do golpe de 1973 no Chile fez com que esses mesmos jornais acusassem os correspondentes do consórcio de serem “agentes de Moscou e de Havana” (PIERNES, 1990: 32). Os jornais-sócios sucumbiram ao conflito de interesses e, em 1975, acabaram repassando suas ações à Reuters, que assumiu integralmente a LATIN. Em 1981, sua atividade já havia cessado. Aparentemente, foram empresários da comunicação os fundadores da LATIN, entre eles dois antigos presidentes da SIP – Sociedade Interamericana de Imprensa, já conhecidos como instrumentos ou agentes formais da CIA. (...) Na realidade, a agência de notícias não era, então, tecnicamente de propriedade da CIA, mas seus agentes – e sobretudo seu dinheiro – jogaram decisivamente para o seu desenvolvimento em momentos que forças progressistas iniciavam um forte avanço na América do Sul, movimento que indubitavelmente inquietou o governo norte-americana seus serviços de inteligência. (GARGUREVICH apud ADGHIRNI & GIRALDI, 2012: 6)

Cooperação semelhante foi criada em dezembro de 1972, desta vez por iniciativa da agência espanhola EFE, em parceria com 11 jornais e emissoras de rádio, especificamente da 4

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América Central. Desta associação geograficamente mais concentrada nasceu a ACAN (Agência Centro-Americana de Notícias), que começou a operar em junho de 1973 e está ativa até hoje (MURO BENAYAS, 2006: 208-209). A EFE entrou com capital e deteve 33% das ações da nova empresa (SALINAS, 1984: 262-263) até 2005, quando absorveu-a completamente. Segundo Salinas (1984: 298-302), a entrada da agência espanhola (que é uma empresa pública) na iniciativa centro-americana se deu no esteio de um desinteresse geral por parte das então maiores agências globais (AP, UPI, AFP e Reuters), tanto que a nova empresa não assinou convênio de parceria com nenhuma outra congênere, seja estatal ou privada. Para Piernes (1990: 31), a ACAN “melhorou sensivelmente o nível da informação dos países centro-americanos”. Além do setor privado, a integração latino-americana em comunicação capturou a atenção também dos gestores públicos. Em março de 1979, agências estatais de dez países da América Latina e do Caribe se reuniram para fundar a ASIN (Ação de Serviços de Informação Nacionais), um mecanismo de intercâmbio jornalístico em caráter permanente entre as participantes. Outras quatro agências iriam aderir no ano seguinte. Muitas delas eram nada mais que serviços de boletins (regulares ou irregulares) das secretarias de comunicação das presidências (SALINAS. 1984: 264-290). Uma das integrantes da ASIN era a EBN (Empresa Brasileira de Notícias), sucessora da Agência Nacional e antecessora da Agência Brasil e da EBC (Empresa Brasil de Comunicação). Uma ausência notável nesse esquema era a da Télam argentina. Ressalte-se que, na época, grande parte da região estava sob regimes militares de direita, como era o caso de Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Peru, Equador, Nicarágua, El Salvador e Honduras. Segundo Salinas (1984: 339), a iniciativa partiu do então presidente da Venezuela, Carlos Andrés Pérez (um civil), queixoso da falta de comunicação entre os governos vizinhos, e também teve suporte técnica da IPS, que arrendava seus canais de transmissão à cooperativa. Em 1980, uma amostra do conteúdo circulado da ASIN analisado pela pesquisadora constatou que as agências da Venezuela e do México eram as mais ativas, enviando respectivamente 28% e 15% do material distribuído.

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A ASIN pode ser considerada como verdadeira antecessora da ULAN, pelo fato de reunir somente agências estatais e buscar a cooperação e o intercâmbio de conteúdos para aprimorar o fluxo de informações regional na América Latina. Várias das agências da ASIN participam hoje da ULAN, como a Notimex e a Andina, enquanto outras foram reformadas e renomeadas (como a Venpress por AVN; a Bolpress por ABI; e a Ecuapress, sucedida pela ANDES). Além do intercâmbio jornalístico, o convênio constitutivo da cooperativa mencionava também o objetivo de “prestar assessoria e apoio para a organização e desenvolvimento de agências e sistemas nacionais de notícias estatais” na região. A ASIN começou como um sistema de intercâmbio puramente governamental, mas aos pouco os governos participantes desenvolveram aspirações de circulação mais ampla e decidiram que os conteúdos da ASIN deveriam ser postos à disposição da mídia privada. Isto se cumpriu em alguns casos, mas na maioria deles os Estados se encontra, com essa realidade 'alucinante' de falta de experiência e recursos que os impede de chegar não só a todos os setores sociais, como também à mídia. A mesma realidade explica o fato de que precisaram recorrer à assistência técnica da IPS, cuja participação no sistema é tão vital que, sem ela, duvidamos de que os intercâmbios poderiam existir com a regularidade e eficiência com que funcionam atualmente. (SALINAS, 1984: 309)

A ASIN também teve seus percalços, especialmente por incorrer no oficialismo do conteúdo, não apenas para consumo interno da imprensa latino-americana, mas inclusive no material que enviava às agências europeias. Sobre isso, um editor da italiana ANSA à época fez uma síntese reveladora: “Não há possibilidade física de colocar esse tráfego, e até é difícil sua classificação, de maneira que boa parte dele vai parar na lata de lixo” (PIERNES, 1990: 86). Além das iniciativas vistas, houve ainda tentativas de criação de canais alternativos entre agências latino-americanas, tanto bilaterais quanto unilaterais. Salinas (1984: 272) conta que a EBN brasileira em 1979 já tinha contatos de cooperação com a Télam argentina, o que Piernes (1990: 85-86) relata ter resultado numa parceria difícil de deslanchar – o que, essencialmente, permanece até hoje, com a Agência Brasil. Com a Revolução Cubana, o governo de Fidel Castro criou a Prensa Latina, planejada para ser uma agência de influência

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continental, mas atualmente de alcance doméstico. Apesar de seu viés abertamente ideológico, a agência cubana chegou a ter penetração razoável na imprensa latino-americana (privada) graças ao investimento que fez em montar uma ampla rede de correspondentes – chegou a manter 35 escritórios no mundo todo –, prestar serviços em espanhol, inglês e português, e fechar acordos de redistribuição com agências de uma grande quantidade de países, na maioria subdesenvolvidos.

2. Experiências atuais Pelo menos na América Latina, a tendência de iniciativas institucionalizadas de cooperação entre jornais diários, materializada no intercâmbio de conteúdo editorial (não apenas notícias e reportagens, mas também colunas e artigos de opinião), continua ocorrendo. Trata-se de um fluxo supostamente horizontal de circulação de informações, integralmente inserido no âmbito privado da comunicação de massa, que Mosco (apud AGUIAR, S. 2011) descreve como “alianças estratégicas” e situa como uma forma de concentração de mídia que não pressupõe alteração de propriedade, mas “na colaboração para fins de interesse mútuo” (idem: 17). Além do GDA e do PAL no plano internacional, existe no plano regional a catarinense Central de Notícias Regionais (CNR) e houve temporariamente o Pool de Jornais do Nordeste (PJN), no ano 2000. Nesse enfoque, merecem análise outras formas de atuação interinstitucional, como parcerias corporativas ou alianças estratégicas e táticas para projetos específicos, que vão do compartilhamento de recursos e mão-de-obra ('sinergia') em tarefas pontuais a coproduções, sem que impliquem alterações na propriedade, mudanças societárias ou investimentos de uma empresa em outra. (AGUIAR, S. 2011: 7)

MOSCO (apud AGUIAR, S. 2011: 7) comenta que estas práticas “têm se tornado mais comuns”, porque agora as empresas podem reestruturar operações internas e relações externas “sem incorrer em rupturas organizacionais” e retomar seus negócios a despeito do sucesso da empreitada, com “capacidade de agenciar recursos humanos, informativos e tecnológicos de forma colaborativa, sem implicações societárias” (idem: 18). “Além disso”, enfatiza, “podem cooperar e competir ao mesmo tempo” (idem: 7).

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Essa onda de novos padrões de aglomeração espacial ocorre em diferentes dimensões e graus de formalidade, e cada vez mais atravessa fronteiras, em parte devido à “significativa alteração no papel do Estado” em relação aos processos de mudança estrutural nas indústrias das comunicações. Alianças estratégicas que costumavam ser resultado de esforços governamentais agora derivam de políticas corporativas visando à expansão em novas áreas, com parceiros dispostos a compartilhar competências e riscos. (AGUIAR, S. 2011: 8)

Cerca de dez anos após o fim da LATIN, o modelo de consórcio regional entre grandes jornais privados da América Latina foi ressuscitado na forma do Grupo de Diarios América (GDA). O grupo – que não é uma agência de notícias nem um conglomerado à parte, mas sim uma associação entre conglomerados – tem dois objetivos corporativos principais: o intercâmbio de material jornalístico e a venda conjunta de espaço publicitário para clientes internacionais (especialmente, mas não apenas, norte-americanos) de maneira a gerar divisas em dólar para os caixas das empresas participantes (AGUIAR, 2008). O GDA foi fundado em 1991, quando a redemocratização na América Latina – particularmente no Cone Sul – era recente e a região começava a entrar na onda neoliberal que a varreria pelo resto da década. A desestatização, evidentemente, afetou os negócios das empresas de mídia, tanto por criar a concorrência em setores antes sob monopólio estatal, o que estimulou o mercado publicitário, quanto por inserir no próprio setor das comunicações atores privados, muitas vezes multinacionais (MORAES, 2009: 109-110). Bastante “dormente” na primeira década da sua trajetória, o GDA passou a ser “ativado” com maior frequência a partir da chegada ao governo de partidos progressistas e ligados a movimentos sociais (como trabalhistas, sindicais, de agricultores e indígenas) em diversos países da região. A começar pela eleição do venezuelano Hugo Chávez, em 1999, seguido de Ricardo Lagos no Chile (2000), Lula no Brasil (2003) e de Néstor Kirchner após a crise devastadora na Argentina (também em 2003), o continente escolheu governantes que frearam o projeto neoliberal e restauraram o protagonismo do Estado na promoção do desenvolvimento, processo que teve ainda as eleições (e reeleições) de Tabaré Vázquez (2005) e depois José Mujica (2010) no Uruguai, Evo Morales na Bolívia (2006), Rafael Correa no Equador (2007), Michelle Bachelet no Chile (2006 e 2014), Fernando Lugo no 8

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Paraguai (2008), Ollanta Humala no Peru (2011), além de países da América Central e Caribe. Nessa virada histórica, conhecida como “Guinada à Esquerda”, setores liberais e conservadores se voltaram para a mídia como frente de oposição a esses governos, não apenas domesticamente em cada país mas de forma articulada na região. Com o aumento dessa articulação, surge em 2008 um consórcio concorrente do GDA:

os

Periódicos

Asociados

Latinoamericanos

(PAL),

reunindo

outros

conglomerados, muitos dos quais são concorrentes dos jornais do GDA em seus respectivos países. Frente ao bombardeio midiático, os governos da “Guinada à Esquerda” investiram na criação de agências de notícias, como a AVN da Venezuela (re-fundada em 2005), a ANDES do Equador (fundada em 2009) e a IP-Paraguay, no mesmo ano (AGUIAR, 2013). Em 2011, finalmente, nove desses governos, somados ainda de Cuba (e do Uruguai como observador), criaram a Unión Latinoamericana de Agencias de Noticias (ULAN), de alguma forma restaurando a parceria vivida três décadas antes com a ASIN. Embora tenham em comum o princípio da cooperação corporativa no campo da comunicação (particularmente regional/internacional), o GDA, o PAL e a ULAN guardam mais diferenças que semelhanças entre si. O GDA, que este autor já teve oportunidade de discutir mais detalhadamente (Cf. AGUIAR, 2008), se define como “um consórcio exclusivo integrado pelos onze jornais independentes com mais influência na América Latina”. Arvora-se de poder “informar e influenciar a opinião pública em seus respectivos mercados” e reivindica o objetivo de “grande rede de interação e confiança” para “fortalecer o intercâmbio de conteúdos jornalísticos e editoriais” (AGUIAR, P. 2008: 3). O grupo inclui apenas um jornal por cada país, de maneira que não competem nos respectivos mercados. Já o PAL se apresenta como “a maior associação de imprensa da América Latina”, “constituída por títulos líderes em seus contextos e uma grande diversificação de produtos para chegar a todos os targets, proporcionando informação de qualidade e entretenimento”. O PAL agrupa mais de uma empresa por país, e em alguns casos reúne concorrentes históricos, como El Espectador e La República, ambos de Bogotá. Inclui tanto jornais em posição de liderança no mercado interno (como o Clarín argentino e El Universal

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venezuelano) quando publicações em segundo lugar em rankings de tiragem e circulação e receita publicitária, bem como diários de cidades além das capitais nacionais. Agrega ainda as revistas e websites dos conglomerados, expandindo o leque de suportes para publicação do consórcio. A ULAN, finalmente, prefere caracterizar-se como “uma associação supranacional que reúne as agências de notícias da América Latina e do Caribe”, dedicada à “construção de um bloco regional de produção informativa para promover a democratização da comunicação na América Latina”. Cada país participa com apenas uma agência, todas estatais.

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:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: GDA paíse s

PAL

ULAN

Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, P eru, P orto Rico, Uruguai, Venezuela

Argentina, Chile, Colômbia, Equador, El Salvador, Espanha, Honduras, Nicarágua, P anamá, P eru, Rep. Dominicana, Venezuela

O Globo, La Nación, El Mercurio, El T iempo, La Nación (CR), El Comercio (Quito), El Universal (México), El Comercio (Lima), El Día, El P aís (Montevidéu), El Nacional (Caracas)

Clarín, La T ercera, El Universal ABr (EBC), T élam, ABI, P rensa (Caracas), El Mundo, Marca Latina, ANDES, AGN, Notimex, (Madri), Olé, La República (Lima), IP -P araguay, AVN El Colombiano, La República (Bogotá), El Espectador, El P aís (Cáli), e outros

11 jornais 150 revistas e suplementos

45 jornais 130 revistas e suplementos

9 agências de notícias

fu n dação

1991

junho de 2008

2 de junho de 2011

se de

Miami (EUA)

Miami (EUA)

rotativa (atual: Buenos Aires)

proprie dad privada e

privada

estatal

le itorado

10 milhões (impresso, dom.) 27 milhões (web)

14 milhões (impresso, dom.)

não disponível

se rviços e obje tivos

pacotes publicitários, gestão integrada do comercial, intercâmbio de conteúdo, pools de cobertura, fotos

pacotes publicitários, gestão integrada do comercial

intercâmbio de conteúdo, pool de cobertura, cooperação técnica,

m e m bros

GDA

Brasil, Argentina, Bolívia, Cuba, Equador, Guatemala, México, P araguai, Venezuela *Uruguai é observador

coordenação política

PAL

ULAN

Outro aspecto importante é que o PAL não se preocupa com o intercâmbio de material jornalístico, mas exclusivamente com a integração dos conteúdos comerciais (publicidade) e a venda de espaços para anunciantes estrangeiros. Assim como o GDA, o 11

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PAL estabeleceu sua sede administrativa em Miami (na Flórida, EUA) para facilitar o contato com os clientes norte-americanos, mas criou uma subsidiária específica, a Médula Network LLC, espécie de agência de publicidade comum aos participantes, para gerenciar as contas. As comparações quantitativas fazem o PAL verificar-se muito maior que o GDA, e ambos mais abrangentes que a ULAN. Em 2014, ambos conglomerados privados estavam presentes em 11 países cada na região latino-americana, sendo que o PAL atinge ainda a Espanha, enquanto a cooperativa de agências incluía nove países. Do ponto de vista territorial, o PAL se destaca por uma abrangência maior, que inclui uma presença mais extensa na América Central (incluindo Honduras, El Salvador, Nicarágua, Panamá e República Dominicana, enquanto o GDA alcança apenas a Costa Rica) e, inclusive, saindo do continente americano e agregando jornais na Espanha (ver mapa). Dos pontos de vista qualitativos, há diferenças relevantes entre as estratégias dos dois consórcios privados. Um deles é a modalidade de associação empresarial. Enquanto o GDA é baseado em títulos (ou marcas; como jornais específicos, e menos na variedade de veículos em um mesmo conglomerado), o PAL é orientado por empresas: assim, a associação ao consórcio é do grupo de imprensa (ou “casa editorial”, no jargão hispânico), vindo a reboque todos os jornais e revistas que dele fazem parte. Exemplificando: no GDA, o que é considerado participante é O Globo; fosse no PAL, a titularidade de sócio seria da Infoglobo, empresa das Organizações Globo que publica os jornais O Globo, Extra e Expresso, mais o website oglobo.com.br. Em comum, os dois projetos caracterizam uma forma pouco estudada de concentração de mídia que não envolve alteração de propriedade ou de estrutura gerencial das empresas associadas. Ambos apresentam um discurso de articulação de interesses locais sob uma identidade regional, mas afinado com as estratégias neoliberais do capitalismo globalizado, o que permite abordá-los como estratégias e táticas de caráter geopolítico, no sentido da disputa por hegemonia referenciada por um território. (AGUIAR, S. 2011: 3)

O GDA e o PAL são diferentes de associações de setor, como a SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) e a WAN (Associação Mundial de Jornais), por não

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constituírem “patronais”, mas sim joint-ventures comerciais com objetivos tanto econômicos como políticos (AGUIAR, P. 2008). Por último, mas não menos importante, é notável a ausência de ambos os consórcios privados dos dois países com menor PIB per capita na América do Sul: o Paraguai e a Bolívia. Embora tenham ambos mercados de imprensa consolidados, com cadeias de jornais pertencentes ao capital (e opositores dos respectivos governos progressistas), nos mesmos moldes dos congêneres do GDA e do PAL, estes dois países aparentemente não apresentam condições satisfatórias para atrair interesse de nenhum dos grupos, restando a eles a representatividade na ULAN por meio de suas respectivas agências estatais. A proposta de criação de uma associação latino-americana para reunir as agências estatais da região teria circulado durante o III Congresso Mundial de Agências de Notícias, que foi sediado pela Télam em Bariloche, na Argentina, em outubro de 2010 (ASSUNÇÃO, 2014). Na ocasião, foi assinada uma carta de intenções reunindo as empresas que participariam da fundação oficial, em 2 de junho do ano seguinte, em Caracas. Pela primeira vez, o Brasil aderiu oficialmente a uma iniciativa de cooperação Sul-Sul em comunicação, rompendo um isolamento histórico e uma excepcionalidade incompreensível entre os maiores países do mundo. O país já tinha abdicado da oportunidade de participar do canal Telesur por acreditar que a EBC daria conta de uma “sistemática troca de conteúdo” por meio do então Canal Integración (MORAES, 2009: 129), transformado em TV Brasil Internacional em 2010. Ainda sobre Brasil, os representantes das agências públicas e estatais se queixam da dificuldade em compreender o português. Exceto as agências do México, a Notimex, e da Venezuela, a AVN, e da Argentina, a Telam, que dispõem de tradutores do espanhol para o português e vice-versa, as demais informaram que deixam de usar, em muitas situações, o noticiário veiculado na Agência Brasil por ausência da compreensão do idioma. (ADGHIRNI & GIRALDI, 2012: 10)

No dia 2 de agosto de 2013, após a quarta reunião da ULAN, em Brasília, foi anunciada a criação de um portal noticioso com conteúdo trilíngue (espanhol, português e inglês) produzido conjuntamente pelas nove agências-membros da entidade, todas estatais,

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inclusive a Agência Brasil. O site, a ser denominado ANSUR (de “Agencias de Noticias del Sur”), foi originalmente prometido para dezembro de 2013, para agosto de 2014. Apesar da tentativa de criar um suporte unificado para publicação, em seu estatuto a ULAN não é uma agência de notícias, nem pretende sê-lo, mas sim uma associação que visa a estabelecer uma cooperativa permanente entre as agências associadas. Nesse sentido, a ULAN resgata a proposta do mecanismo de intercâmbio jornalístico (um “NEM”) permanente, ao incentivar “as parcerias públicas e estatais passem a utilizar as matérias jornalísticas feitas por cada uma, com a devida permissão de uso desde que referenciando a fonte” (ADGHIRNI & GIRALDI, 2012: 3). Antes mesmo da fundação da ULAN, Moraes (2009: 125) já verificava um aumento da cooperação entre agências de notícias estatais na América Latina, citando explicitamente a AVN, a ABI, a Télam e a Agência Brasil. Para o autor, embora esse modelo de cooperação já exista há mais de 40 anos, “esses acordos instituem um novo tipo de circularidade informativa: sem passar pelo estuário midiático convencional, são distribuídos e divulgados pelas agências materiais impressos e audiovisuais sobre atos e posicionamentos governamentais de repercussão nacional e regional, favorecendo o conhecimento de iniciativas e cooperações em curso naqueles países, pela ótica dos poderes e órgãos públicos”.

3. Modelos de cooperação e estratégias de hegemonia Os dois consórcios privados e a associação interestatal caminham em direções opostas também no aspecto da relação com a geopolítica informacional nos EUA. Enquanto a ULAN se apresenta como alternativa aos canais de circulação da informação de origem corporativa que alimentam a mídia latino-americana, como a CNN e a Associated Press, o GDA e o PAL buscam reforçar esses canais, ampliando a absorção de informação de origem corporativa e fortalecendo os laços comerciais (por meio da publicidade) com o capital norte-americano. O próprio fato de as sedes administrativas de ambos os consórcios serem estabelecidas em Miami já parece bastante significativo disso. Por tudo isso, a comunicação adquiriu para a maior parte dos atuais governos nacional-populares (ou progressistas) latino-americanos uma dimensão

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dificilmente será negligenciada (MORAES, 2009: 116). Trata-se de uma questão de “soberania informativa”, termo frequentemente empregado à época dos debates da NOMIC e bastante esquecido desde então – mas que, pelas posições inalteradas do Sul e do Norte no sistema internacional de fluxos e circulação das informações, continua um problema ainda a ser resolvido. Assim, a distinção clara adotada por algumas das agências estatais de notícias latino-americanas – ressalvados, novamente, os conflitos e as divergências dentro do próprio âmbito da cooperação – na pauta, nos seus conteúdos e no serviço oferecido atende a essa estratégia e responde à posição assumida pela mídia privada em virtude de seus históricos laços de classe com os mantenedores de hegemonia na região. Como bem observado por Salinas (1984: 261), dentro da

ideologia liberal da

comunicação social, é considerada “independente” a imprensa que não depende do Estado, mas depende do capital. Para a autora, que escrevia no crepúsculo das ditaduras militares na região, o antagonismo entre mídia e Estado na América Latina resumir-se-ia a “disputas estéreis” nas quais o maior prejudicado seriam os interesses nacionais. Entretanto, passadas a redemocratização, a vaga neoliberal, e chegadas a Guinada à Esquerda e a convergência digital, tais disputas têm a vantagem de evidenciar as concepções distintas de sociedade, de progresso e de desenvolvimento para cada lado. Conclusivamente, tem-se com esse antagonismo declarado um enriquecimento dos debates na esfera pública, em lugar do escamoteamento e da diluição das questões essenciais do desenvolvimento nacional – e regional – que o modelo liberal (comercial) de comunicação promove. O que se verifica nos dois modelos de cooperação – o dos conglomerados privados de jornais e o das agências estatais de notícias – é que se desenha uma tendência à polarização dos discursos midiáticos em circulação na esfera pública regional latino-americana, na qual ambos os polos parecem assumir indisfarçadamente suas posições político-ideológicas, em prejuízo da imparcialidade e do pluralismo – que são, por sua vez, valores da concepção liberal de imprensa. Os efeitos dessa polarização, de curto a médio prazo, podem ser preocupantes para a credibilidade jornalística e para o setor econômico da

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mídia noticiosa (não tanto a de entretenimento). Ao mesmo tempo, é um tanto mais saudável a clareza de posições, em substituição a um modelo em que a imprensa privada latino-americana se vendia como “neutra” e atendente ao interesse público, não ao capital. Assim, se futuramente a região experimentar um processo de “transnacionalização da esfera pública”, a exemplo do que começa a ocorrer na Europa, pode ser mais aberta a disputa por hegemonia entre estes atores, notadamente Estado e capital, do que naquele contexto central do capital. Caso a integração latino-americana seja feita nessa dualidade, ficará nessa esfera pública transnacional o centro das disputas de poder e da “guerra de posição” travada entre as forças hegemônicas e contra-hegemônicas. A meta suprema da estratégia de integração informativa da América Latina não passa pelas peripécias da política interna, mas deve estar para além das fronteiras nacionais para poder conter o 'livre fluxo da informação', manipulado pelas grandes agências transnacionais, que chega permanentemente à América Latina. (…) Mas tem-se de começar com o que se tem e não esperar que as transnacionais se aborreçam e abandonem o território deixando-nos sem sua tecnologia. Não vão aborrecer-se, porque por cima do bom ou mau negócio que pode representar a venda de suas notícias na América Latina há mais coisas. Com a venda de suas notícias também colocam suas mercadorias, seus artistas, seus desportistas, suas políticas, suas culturas. E este é o grande negócio. (PIERNES, 1990: 89-90)

Referências ADGHIRNI, Zélia; GIRALDI, Renata. Em busca de conse nso para a criação de uma agê ncia latino-ame ricana de notícias. In: Anais do 10º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. Curitiba: PUC-PR, 2012. AGUIAR, Pedro. Agê ncias de Notícias, Estado e De se nvolvime nto: mode los adotados nos paíse s BRICS. In: VIII Congresso Internacional da ULEPICC. Anais... Quilmes (Argentina): ULEPICC, 2013. ___________. Coope ração Sul-Sul e m Comunicação como Estraté gia de He ge monia: o Grupo de Diarios Amé rica. In: Anais do III Congresso de Estudantes de Pós-Graduação em Comunicação, vol.3. Rio de Janeiro: CONECO, 2008.

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ASSUNÇÃO, Karol. “Agências de notícias latino-americanas e caribenhas debatem criação de Ulan”. Fortaleza: ADITAL, 2/6/2011 (disponível em http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=57065; acessado em julho/2014) BELTRÁN, Luis Ramiro & FOX, Elizabeth. Comunicação Dominada. 1982. BOYD-BARRETT, Oliver; THUSSU, Dhaya Kishan. Contra-Flow in Global Ne ws: international and regional news exchange mechanisms. Londres/Paris: John Libbey/UNESCO, 1992.

FOLHA DE S.PAULO. “EBC assina carta para criar união de agências de notícias”. São Paulo: Folha de S.Paulo, 27/10/2010 (disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2710201005.htm; acessado em julho/2014) MORAES, Dênis de. A Batalha da Mídia. Rio de Janeiro: Pão e Rosas, 2009. MURO Benayas, Ignacio. Globalización de la Información y Agencias de Noticias. Madri: 2006. PIERNES, Guillermo. Comunicação e Desintegração da América Latina. 1990. SALINAS, Raquel. Age ncias Transnacionale s de Información y e l Te rce r Mundo. Quito: The Quito Times, 1984.

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