Meditação e Estilo de Vida - Recensão Crítica do artigo de Halland et al. 2015

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Psicobiologia do Stresse – Mestrado Integrado em Psicologia Clínica – 4.º Ano – 2015-2016 – 2.º Semestre.

Treino em mindfulness melhora o coping focado no problema em estudantes de psicologia e de medicina: resultados de um ensaio clínico aleatório. Halland et al. (2015)

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Docente: Professora Doutora Maria Leonor Santos Galhardo. Discentes: Sandra Ramos (24122) e Jorge A. Ramos (24121).

Treino em mindfulness melhora o coping

Delineamento da apresentação Mindfulness e MBSR.

Reflexões sobre o artigo.

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Artigo de Halland et al.

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Reflexões sobre o estilo de vida.

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Mindfulness e MBSR

Treino em mindfulness melhora o coping

Mindfulness (mente plena) • Processo psicológico (e/ou a sua prática) com dois constituintes: (1) a orientação intencional da atenção para o momento presente; e (2) a vivência desse momento presente com curiosidade, abertura e aceitação (Bishop et al., 2004).

• Atitude que engloba ser não-reativo, sabendo observar, agir e descrever a experiência, com consciência dela e sem julgamentos (Baer et al., 2008).

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Treino em mindfulness melhora o coping

Mindfulness (mente plena) Aspetos que formam a sua base atitudinal: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

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não-julgamento (imparcialidade); paciência (aceitando os ritmos); abertura (para viver cada momento); confiança (na sabedoria interna); não-esforço (foco no presente); aceitação (observando os eventos); desapego (de pensamentos, sentimentos e eventos, reconhecendoos tal como são). Kabat-Zinn (1990)

Treino em mindfulness melhora o coping

Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR) ORIGEM: criado por Jon Kabat-Zinn (biólogo, EUA) em 1979. OBJETIVO: fomentar a capacidade de gerir o stresse.

INVESTIGAÇÃO: programa de intervenção mais investigado mundialmente. INFLUÊNCIA: existem mais de 700 programas que radicam no MBSR. 6

Kabat-Zinn (2005); Santorelli (2014)

Treino em mindfulness melhora o coping

Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR) ETAPAS: 9 sessões ao longo de 8 semanas (entre 2.5 a 3.5 horas semanais). A 6.ª sessão faz-se em dois dias (na mesma semana): 2.5h + 7.5h (em retiro). CONTEÚDOS: meditações guiadas e exercícios para fomentar a atenção; movimentos com a mente plena; psicoeducação; partilha das experiências individuais (com os exercícios em aula e os feitos em casa). 7

Kabat-Zinn (1996)

Treino em mindfulness melhora o coping

Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR) EFICÁCIA: testado positivamente numa grande variedade de ensaios clínicos, em várias populações: • saúde mental (e.g., perturbações da ansiedade, da personalidade, depressivas e PPST; Earley et al., 2014; Song & Lindquist, 2014; Mitchell & Heads, 2015); • saúde física (e.g., pacientes fibromiálgicos e oncológicos; Zainal, Booth & Huppert, 2012; Lauche, Cramer, Dobos & Schmidt, 2013);

• alcoolismo (Bodenlos, Noonan & Wells, 2013); 8

Treino em mindfulness melhora o coping

Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR) EFICÁCIA: testado positivamente numa grande variedade de ensaios clínicos, em várias populações: • populações não-clínicas: grávidas (Guardino, Schetter, Bower, Lu & Smalley, 2014),

estudantes de medicina e funcionários (Fjorback, Arendt, Ørnbøl, Fink & Walach, 2011), entre outros indivíduos saudáveis em geral (Sharma & Rush, 2014); • escolas, prisões, treino de atletas e programas profissionais (Kabat-Zinn, 1996). 9

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Artigo de Halland et al., 2015

Treino em mindfulness melhora o coping

Artigo de Halland et al., 2015 PERTINÊNCIA: estudantes de Ψ e medicina: ↑ stresse; em geral usam coping de evitamento. Coping pode melhorar efeitos (–) do stresse; estratégias de melhoria do coping (e.g., uso da mindfulness) → mais-valia. ↓ estudos s/influência da mindfulness no uso de coping. OBJETIVOS: (1) aferir o efeito do treino em mindfulness sobre o uso de 3 estratégias de coping: foco no problema, busca de suporte social e foco no evitamento; (2) aferir se o efeito da intervenção é moderado por fatores da personalidade. 11

Treino em mindfulness melhora o coping

Artigo de Halland et al., 2015 HIPÓTESES: (H1a) MBSR irá ↑ o uso de coping de investimento e (H1b) ↓ o coping de desinvestimento; (H2a) os estudantes com valores mais ↑ de neuroticismo irão beneficiar mais; (H2b) a extroversão e a conscienciosidade também devem moderar os benefícios do treino em mindfulness. MBSR

Uso de coping Persona.

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Treino em mindfulness melhora o coping

Artigo de Halland et al., 2015 AMOSTRA: 288 estudantes universitários. OPERACIONALIZAÇÃO: (VI): GE: grupo intervencionado com MBSR; GC: estudantes que continuaram o percurso normal académico. INSTRUMENTOS: VD: Ways of Coping Checklist (WCC) que mede 5 estilos de coping: de investimento (foco no problema e procura de suporte social) e de desinvestimento (autoculpabilização, evitamento e pensamentos irrealistas); VM: Basic Character Inventory, que mede 3 fatores da personalidade: neuroticismo, conscienciosidade e extroversão. 13

Treino em mindfulness melhora o coping

Artigo de Halland et al., 2015 RESULTADOS

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(H1a) MBSR irá ↑ o uso de coping de investimento:

Só no uso de coping FP: t286 = 2.50, p = 0.01 PSS: t286 = 1.75, p = 0.08

(H1b) ↓ o coping de desinvestimento:

C/ajuste género e val. basais: t286 = -2.02, p = 0.04)

(H2a) estud. c/valores ↑ d’neuroticismo irão beneficiar mais:

CFE: F1,282 = 7.04, p = 0.01 PSS: F1,282 = 5.55, p = 0.02 CFE e PSS: ∆R2 = 0.01

(H2b) a extroversão e a conscienciosidade também devem moderar os benefícios do treino em mindfulness:

Treino em mindfulness melhora o coping

Artigo de Halland et al., 2015 FORÇAS: dimensão da amostra, o desenho do estudo, o ↓ nível de atrito e as escalas terem sido preenchidas online. LIMITAÇÕES: a aderência à prática diária de mindfulness não foi medida diariamente; a aleatorização não foi estratificada por género; a amostra foi criada por autosseleção. CONCLUSÕES: o treino em mindfulness (com o MBSR) pode contribuir para melhorar o coping adaptativo dos estudantes de psicologia e de medicina, mormente naqueles com níveis mais elevados de neuroticismo. 15

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Reflexões sobre o artigo de Halland et al.

Treino em mindfulness melhora o coping

Reflexões sobre o artigo de Halland et al., 2015 TRIANGULAÇÃO: Para maior robustez das conclusões (adicionar à WCC): avaliação da reatividade emocional após estímulos visuais (E-Prime) e a avaliação de um mediador alostático (e.g., glicose ou cortisol) (McEwen, 2000; Pe et al. 2015). DESEJ. SOCIAL: poderia ter sido aferida (e.g., com o Self-Deception Questionnaire; Gur & Sackeim, 1979). FOLLOW-UP: para verificar se os resultados aferidos se mantiveram (e.g., após 6 meses). 17

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Mindfulness inserida no estilo de vida.

Treino em mindfulness melhora o coping

Mindfulness inserida no estilo de vida. Escola – organismo estruturante: a prática da mindfulness associa-se a alterações no cérebro, que levam ao aumento das capacidades atencionais, da qualidade do pensamento autorreferencial e da regulação emocional (Marchand, 2014). Treino de mindfulness nas escolas: promissor na melhoria do desempenho cognitivo e resiliência ao stresse (Zenner et al., 2014). Mindfulness facilita o pensamento crítico (Noone, Bunting & Hogan, 2016). Poderá o sistema educativo português dar atenção a estes (e outros) resultados? 19

Treino em mindfulness melhora o coping

Mindfulness inserida no estilo de vida. Gestão do stresse no trabalho: organizações implementam cada vez mais o treino em mindfulness (Hyland, Lee & Mills, 2015). Mindfulness ↑ atenção, que influencia a cognição, a emoção, o comportamento e a fisiologia, que têm impacto no desempenho laboral, bem-estar e relacionamentos (Good et al., 2016). Profissionais de saúde mental: 5 min. de prática diária de mindfulness reduz o stresse (Lam, Sterling & Margines, 2015). Mais-valia para psicólogos: serviços com (+) qualidade, logo ↑ perceção de autoeficácia e eventual ↓ do dropout. 20

Treino em mindfulness melhora o coping

Mindfulness inserida no estilo de vida. Estilo de vida mais saudável: 256 aprendizes de monges Zen japoneses: quanto ↑ tempo de prática ↑ perceção da qualidade de vida e saúde mental em geral, mesmo trabalhando em ambientes stressantes (Shaku, Tsutsumi, Goto & Arnoult, 2014). EV: “maneira típica de viver, ou modo de vida, caraterístico de um indivíduo ou grupo, expresso por comportamentos, atitudes, interesses e outros fatores” (VandenBos, 2015, p. 601).

Portugal: 3.º consumidor de antidepressivos (OECD, 2015). Poderá a mindfulness vir a ser coadjuvante de uma mudança positiva n’qualidade de vida? 21

Treino em mindfulness melhora o coping

Conteúdos a reter! 22

Treino em mindfulness melhora o coping

Conteúdos a reter! Mindfulness: processo atitudinal com milhares de resultados empíricos significativos e transculturais.

Coping: o MBSR melhora o coping com foco no problema, mormente em indivíduos neuróticos. Estilo de Vida: mindfulness melhora o desempenho escolar e profissional. Enquanto as instâncias governamentais não contribuem para uma mudança… podemos ser essa mudança. 23

Referências American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5.ª ed.). Arlington: American Psychiatric Publishing. Baer, R. A., Smith, G. T., Lykins, E., Button, D., Krietemeyer, J., Sauer, S., Walsh, E., Duggan, D., & Williams, J. M. G. (2008). Construct validity of the five facet mindfulness questionnaire in meditating and nonmeditating samples. Assessment, 15(3), 329–342. DOI:10.1177/1073191107313003 Bishop, S. R., Lau, M., Shapiro, S., Carlson, L., Anderson, N. D., Carmody, J., Segal, Z. V., Abbey, S., Speca, M., Velting, D., & Devins, G. (2004). Mindfulness: A Proposed Operational Definition. Clinical Psychology: Science and Practice, 11(3), 230–241. DOI:10.1093/clipsy.bph077 Bodenlos, J. S., Noonan, M., & Wells, S. Y. (2013). Mindfulness and alcohol problems in college students: the mediating effects of stress. Journal of American College Health. 61, 371–378. DOI:10.1080/07448481.2013.805714 Earley, M. D., Chesney, M. A., Frye, J., Greene, P. A., Berman, B., & Kimbrough, E. (2014). Mindfulness intervention for child abuse survivors: a 2.5-year follow-up. Journal of Clinical Psychology, 70(10), 933–941. DOI:10.1002/jclp.22102 Fjorback, L. O., Arendt, M., Ørnbøl, I. E., Fink, P., & Walach, H. (2011). Mindfulness-Based Stress Reduction and Mindfulness-Based Cognitive Therapy: a systematic review of randomized controlled trials. Acta Psychiatrica Scandinavica, 124(2), 102-119. DOI:10.1111/j.1600-0447.2011.01704.x 24

Referências Good, D. J., Lyddy, C. J., Glomb, T. M., Bono, J. E., Brown, K. W., Duffy, M. K., Baer, R. A., Brewer, J. A., & Lazar, S. W. (2016). Contemplating Mindfulness at Work: An Integrative Review. Journal of Management, 42(1), 114-142. DOI:10.1177/0149206315617003 Guardino, C. M., Schetter, C. D., Bower, J. E., Lu, M. C., & Smalley, S. L. (2014). Randomised controlled pilot trial of mindfulness training for stress reduction during pregnancy. Psychology & Health, 29(3), 334–349. DOI:10.1080/08870446.2013.852670 Gur, R. C , & Sackeim, H. A. (1979). Self-deception: A concept in search of a phenomenon. Journal of Personality and Social Psychology, 37(2). 147-169. DOI:10.1037/0022-3514.37.2.147 Halland, E., de Vibe, M., Solhaug, I., Friborg, O., Rosenvinge, J. H., Tyssen, R., Sørlie, T., & Bjørndal, A. (2015). Mindfulness training improves problem-focused coping in psychology and medical students: results from a randomized controlled trial. College Student Journal, 49(3), 387-398. Hyland, P. K., Lee, R. A., & Mills, M. J. (2015). Mindfulness at Work: A New Approach to Improving Individual and Organizational Performance. Industrial and Organizational Psychology, 8(4), 576–602. DOI:10.1017/iop.2015.41 Kabat-Zinn, J. (1982). An outpatient program in behavioral medicine for chronic pain patients based on the practice of mindfulness meditation: Theoretical considerations and preliminary results. General Hospital Psychiatry, 4(1), 33– 47. DOI:10.1016/0163-8343(82)90026-3 25

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Referências Noone, C., Bunting, B., & Hogan, M. J. (2016). Does Mindfulness Enhance Critical Thinking? Evidence for the Mediating Effects of Executive Functioning in the Relationship between Mindfulness and Critical Thinking. Frontiers in Psychology, 6, 1-16. DOI:10.3389/fpsyg.2015.02043 OECD. (2015). Health at a Glance 2015. OECD Indicators. Paris: OECD Publishing. DOI:10.1787/health_glance-2015-en Pe, M. L., Koval, P., Houben, M., Erbas, Y., Champagne, D., & Kuppens, P. (2015). Updating in working memory predicts greater emotion reactivity to and facilitated recovery from negative emotion-eliciting stimuli. Frontiers in Psychology, 6, 372. DOI:10.3389/fpsyg.2015.00372 Santorelli, S. F., & Kabat-Zinn, J. (2014). The Center for Mindfulness in Medicine, Health Care, and Society: University of Massachusetts Medical Center 1979-2014. In S. F. Santorelli, & J. Kabat-Zinn (Eds.). Mindfulness-Based Stress Reduction (MBSR): Standards of Practice, pp. 111-115. Massachusetts: The Center for Mindfulness in Medicine, Health Care & Society, University of Massachusetts Medical School. Shaku, F., Tsutsumi, M., Goto, H., & Arnoult, D. S. (2014). The Journal of Alternative and Complementary Medicine, 20(5), 406-410. DOI:10.1089/acm.2013.0209 Sharma, M., & Rush, S. E. (2014). Mindfulness-Based Stress Reduction as a Stress Management Intervention for Healthy Individuals: A Systematic Review. Journal of Evidence-Based Complementary & Alternative Medicine, 19(4), 271286. DOI:10.1177/2156587214543143 27

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Psicobiologia do Stresse – Mestrado Integrado em Psicologia Clínica – 4.º Ano – 2015-2016 – 2.º Semestre.

Treino em mindfulness melhora o coping focado no problema em estudantes de psicologia e de medicina: resultados de um ensaio clínico aleatório.

Halland et al. (2015)

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Docente: Professora Doutora Maria Leonor Santos Galhardo. Discentes: Sandra Ramos (24122) e Jorge A. Ramos (24121).

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