Memória: um minicurso. Aula 1: psicologia da memória

May 27, 2017 | Autor: C. Schirmer dos S... | Categoria: Memory (Cognitive Psychology)
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Memória: um minicurso Aula 1: psicologia da memória César Schirmer dos Santos [email protected] Departamento de Filosofia Universidade Federal de Santa Maria 2016

Proposta do minicurso Partir de descobertas empíricas. Apresentar e situar problemas filosóficos. Propor conclusões (abdutivas).

Questões fundamentais Quem sou eu? Como posso saber o que é real?

Importância da memória Capacidade cognitiva requerida para fala, raciocínio, percepção. Sem memória não há pensamento, sem pensamento, não há pessoa.

Ser privado de memória Não saber onde tuas coisas estão, quantos filhos você tem, qual sua idade, como ligar a TV, como desligar o alarme, se a esposa do amigo está viva ou morta. Caso limite: ser amnésico e esquecer que você é amnésico.

Vocesidade O que faz com que você seja você? Seus genes, a grana nos bolsos dos seus pais, o aquecimento global, muito mais coisas – e suas memórias. Pense na sua lembrança mais valiosa, e no seu medo mais terrível.

Lembre da sua memória mais cara Agora imagine que ela foi apagada. Medonho, não?

Lembre do seu mais terrível trauma ou medo Agora imagine que ele foi apagado. Alívio, não?

Entre o horror e o alívio Perder nossas memórias mais importantes seria como perder a nós mesmos. Perder nossos medos mais paralisantes seria uma dádiva. Podemos estar no extremo de tentar manter nossas memórias mais valiosas, ou no extremo de superar os traumas que impedem nossas ações, ou pendulando de um extremo ao outro. Seja como for, nossa memória nos define.

Na série Westworld, a cafetina Maeve Millay (Thandie Newton) é uma “anfitriâ” cuja identidade foi lapidada pelo Dr. Robert Ford (Anthony Hopkins) em órbita de certas memórias fundamentais (cornerstone memories).

Câmeras? A memória não funciona como uma espécie de câmera, e não acessamos diretamente os traços registrados no cérebro. (Aliás, Bergson tem algo a dizer sobre isso, não?)

Julia Shaw, psicóloga social da London South Bank University com diversos papers publicados em revistas como Clinical psychology & psychotherapy, Psychological science, The Journal of Forensic Psychiatry & Psychology, Psychology, Crime & Law e várias outras. Ela também publica assiduamente na revista Scientific American e no jornal alemão Der Spiegel.

Shaw, Julia. 2016. The memory illusion: remembering, forgetting and the science of false memory. New York: Random House. Publicado em 16 de junho de 2016

Método: o que é versus o que deve ser Para um investigador naturalista da memória, conta como memória aquilo que a pessoa considera como uma memória. Vários filósofos caem na tentação de dizer o que a memória deve ser, em vez de se limitar a estudar o que a memória é. Esse é o pecado teórico do normativismo. Nenhum filósofo, ninguém tem autoridade para dizer o que uma memória tem que ser. Só podemos tentar entender o que a memória é.

Estampa biológica (biological stamping) Processo de inscrição de uma representação física da memória (um engrama) no cérebro. Fases: 1. 2. 3.

Aquisição, aprendizado Armazenamento Evocação, recuperação, resgate

Associações incorretas podem se dar na fase da aquisição ou na fase da evocação.

Evocar é adquirir “… cada vez que uma memória é evocada, ela é efetivamente recuperada, examinada, e então recriada do princípio para ser armazenada novamente. … E pensamos que isso acontece cada vez que evocamos qualquer memória.” (Shaw 2016) “… every time a memory is recalled it is effectively retrieved, examined, and then recreated from scratch to be stored again. … And this is thought to happen every time we recall any memory.” (Shaw 2016)

A natureza reconstrutiva da memória “A memória funciona … como uma página da Wikipédia: qualquer um – inclusive você – pode ir lá e modificá-la.” – Elizabeth Loftus Epígrafe de Shaw (2016).

Quanto lembramos, esquecemos Cada vez que uma memória de longa duração é evocada, o ciclo de codificação e armazenamento é repetido. Logo, a cada nova evocação de uma memória de longo prazo, um novo traço físico é produzido, e o traço físico anterior é descartado. Isso acontece quando você vê uma foto de um evento passado, quando você lê na timeline de alguém sobre um evento passado da sua vida.

Feito para ser esquecido Do ponto de vista biológico, um engrama é feito para ser desfeito. É desfeito quando acessado. É desfeito quando não acessado.

A máquina associativa “Para começar sua exploração do surpreendente funcionamento do Sistema 1, olhe para as seguintes palavras: …”

“… Bananas Vômito …”

Muitas coisas em 2s “… Muita coisa aconteceu com você nos últimos um ou dois segundos. Você vivenciou algumas imagens e memórias desagradáveis. Seu rosto se contorceu ligeiramente numa expressão de nojo, e pode ter acontecido de você afastar o livro imperceptivelmente de seu rosto. Seus batimentos cardíacos aumentaram, o pelo em seus braços ficou um pouco eriçado e suas glândulas sudoríparas foram ativadas. …”

Automático “… Em resumo, você reagiu à palavra causadora de nojo com uma versão atenuada de como reagiria ao evento real. Tudo isso foi realizado de forma automática, além de seu controle.” (Kahneman 2012) Kahneman, Daniel. 2012. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Traduzido por Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Objetiva.

Princípio fundamental da memória: associação “E, assim, cada um passará de um pensamento a outro, dependendo de como o hábito tiver ordenado, em seu corpo, as imagens das coisas. …”

Associações bélicas “… Com efeito, um soldado, por exemplo, ao ver os rastros de um cavalo sobre a areia, passará imediatamente do pensamento do cavalo para o pensamento do cavaleiro e, depois, para o pensamento da guerra etc. …”

Associações bucólicas “… Já um agricultor passará do pensamento do cavalo para o pensamento do arado, do campo, etc.” (Spinoza 2007, escólio da proposição 18 da 2ª parte) Spinoza, Bento de. 2007. Ética. Tradução de Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica.

Leis da associação mnêmica Similaridade: lembrar de algo faz lembrar do que é semelhante. Contraste: lembrar de algo faz lembrar do oposto. Contiguidade: lembrar de algo faz lembrar do que está em contato espaçotemporal. Frequência: quanto mais duas coisas são experimentadas em conjunto, mais lembrar de uma faz lembrar da outra.

Dois tipos de memória Memória semântica Memória episódica, ou autobiográfica

Memória semântica Lembrar de fatos do ponto de vista da 3ª pessoa. Esses fatos não precisam ter sido vivenciados pessoalmente. Conhecimento enciclopédico. Como se pega um ônibus, quantos dias tem um ano, onde comprar roupas, como se dirigir a um ancião.

Memória episódica (autobiográfica) Lembrar de eventos vivenciados pessoalmente do ponto de vista da 1ª pessoa. É o tipo de memória que define quem nós somos. Como estava o clima ontem, o que você sentiu na última vez que faltou luz, o que você acabou de ouvir no rádio, o que você curtiu agora mesmo no Twitter.

Cães podem lembrar do próprio passado pessoal, pois têm memória episódica Claudia Fugazza, Universidade Eötvös Loránd, Budapeste, Hungria Artigo publicado em 2016-11-23 na revista Current Biology

A experiência consciente subjetiva é formada tal como uma memória episódica, o que indica que seria apenas uma memória falsa (uma simulação formada via hipocampo), pois apresenta dados de agora mesmo como sendo do presente em tempo real. Matt Faw é um cineasta fascinado por ciência - um de nós, um nerd. Artigo publicado em 2016-09-21 na revista WIREs Cognitive Science. Sim, ele explica que consciência é memória em vídeo.

Dois outros tipos de memória Memória de curta duração (memória de trabalho) Memória de longa duração

Memória de curta duração Também chamada de memória de trabalho. No máximo uns 30 segundos. Loop (alça) fonológico: ficar vocalizando mentalmente uma informação para que ela permaneça na memória de curta duração.

Miller, George. 1956. “The magical number seven, plus or minus two: some limits on our capacity for processing information”. The Psychological Review 63 (2): 81–97. Mais de 24 mil citações registradas via Google Scholar.

Cowan, N. 2010. “The magical mystery four: how is working memory capacity limited, and why?” Current Directions in Psychological Science 19 (1): 51–57. doi:10.1177/0963721409359277.

O cru e o cozido Um prato, vários ingredientes (chunking). Através de processos cognitivos (percepção, linguagem, raciocínio), várias informações podem ser amalgamadas numa só. Isso enriquece consideravelmente a memória de curta duração. Com a idade, “cozinhamos” melhor.

Memória de longa duração A capacidade de guardar uma informação por mais de 30 segundos, isto é… … por vários minutos, … por várias horas, … por vários dias, … por décadas.

Um comprimido de boa-noite-Cinderela (roofie) deixa tua memória de curta duração intacta, mas te impede de adquirir memórias de longa duração. Você age coerentemente, mas não lembra do que fez.

As estruturas cerebrais requeridas para a formação de memórias de longa duração só começam a crescer após os 8–9 meses de idade. Não por acaso, nesse período as crianças começam a se chatear quando os pais não tão por perto. https://web.archive.org/web/200211261 01733/http://www.news.harvard.edu/gaz ette/2002/11.07/01-memory.html

Aos cinco meses de idade, o que não é visto não é considerado. http://abcnews.go.com/Technology/story?id=97848

Metamemória Acesso introspectivo às nossas memórias. A capacidade que utilizamos para avaliar nossas memórias. Se não tivéssemos metamemória, só poderíamos “viajar no tempo” ao experimentar uma memória episódica (autobiográfica), sem poder avaliá-la como plausível ou verdadeira.

O círculo memória-percepção A memória depende da percepção. Uma percepção que parece acurada pode ser errônea. Recordar pode acrescentar novos erros ao processo. A percepção depende da memória. Uma percepção é uma espécie de processo inferencial abdutivo a partir da nossa experiência passada sobre como as coisas parecem e se comportam. A memória informa o que é possível que aconteça.

O polêmico vestido (#thedress) é azul e preto (#blackandblue) ou branco e dourado (#whiteandgold)? Um único objeto, percepções divergentes. Como você percebe depende da sua memória (vinculação de cores a origens iluminantes ou iluminadas), o que você percebe restringe o que você lembrará. Imagem via @iSamuelWayne.

Lafer-Sousa, Rosa, Katherine L. Hermann, e Bevil R. Conway. 2015. “Striking individual differences in color perception uncovered by ‘the dress’ photograph”. Current Biology 25 (13): R545–46. doi:10.1016/j.cub.2015.04.053.

Lafer-Souza, Hermann e Conway 2015

Percepção Cinco sentidos, e sensação de Gravidade, temperatura externa e interna, localização dos nossos membros, estado de fadiga, tensão muscular Etc.

O longo caminho da realidade à memória ● ●







Filtro da percepção. Não percebemos tudo o que acontece. Filtro da atenção. Não prestamos atenção a tudo o que percebemos. Filtro do interesse. Não temos interesse em tudo o que prestamos atenção. Filtro da estampa biológica. Não codificamos como memória de longa duração tudo o que nos interessa. Filtro da recuperação. Não evocamos tudo o que codificamos.

Da realidade à lembrança

Atenção e memória Se não houve atenção a um estímulo, não há memória. O espaço da atenção é a memória de trabalho. No entanto, a mera atenção não é suficiente para a formação de um engrama. Ao que parece, nossos corpos evitam como podem o custo biológico de investir na formação de um engrama. E isso parece ser uma boa coisa para nosso bem-estar.

Memória e estado de agitação. Excitação e stress afetam memória. Hipótese do U invertido (Shaw 2016).

Tulving, Endel. 2002. “Chronesthesia: conscious awareness of subjective time”. In Principles of Frontal Lobe Function, organizado por Donald T. Stuss e Robert T. Knight, 6:311–25. Oxford University Press. doi:10.1093/acprof:oso/9780195134971.003.0020.

Viéses da memória (nos achamos super-herois) Achamos que o eu futuro será mais rápido que o do passado… Nos achamos mais bonitos e espertos do que somos… Nos achamos melhores motoristas do que somos… Achamos que conhecemos melhor os outros do que eles nos conhecem… … porque temos preferências enganadoramente autoelogiosas quanto ao que perceber, codificar e lembrar.

Viés da própria raça, gênero, idade Lembramos melhor das pessoas da nossa etnia, do nosso gênero e da nossa idade. Own-Race Bias (ORB), Own-Gender Bias, Own-Age Bias. Alteridade dificulta a memória. Será pela escassez de associações? Origem talvez cultural, pelas estratégias culturais de olhar, de identificação.

Sporer, Siegfried Ludwig. 2001. “Recognizing faces of other ethnic groups: an integration of theories”. Psychology, Public Policy, and Law 7 (1): 36–97. doi:10.1037/1076-8971.7.1.36.

Telescoping O que veio antes? O que veio depois? Movemos os eventos, trocamos a ordem cronológica. Lembramos de eventos mais recentes como sendo mais antigos do que são, e eventos mais antigos como sendo mais recentes do que são. Fronteira dos três anos atrás.

Aglomeração de memórias (clustering) Reminescense bump, “protuberância da reminiscência”. Memórias orbitam algum marco pessoal, social ou histórico. “Durante o primeiro grau, trilhei o mesmo caminho de casa à escola, da escola à casa.” Reunimos memórias num tipo-de-evento só. (Note que isso é uma coisa muito boa. Aliás, os vieses são úteis para a adaptação ao ambiente social e natural neolítico.)

Palavras ofuscam percepções Verbal overshadowing: você vê uma rica paisagem, e a descreve numa frase curta. Frases simplificam percepções. A frase ofusca a percepção. A memória verbal compete com a memória perceptual. E ganha.

Schooler, Jonathan W., e Tonya Y. Engstler-Schooler. 1990. “Verbal overshadowing of visual memories: some things are better left unsaid”. Cognitive Psychology 22 (1): 36–71. doi:10.1016/0010-0285(90)90003-M.

Conversas Ao falar sobre uma experiência partilhada, as descrições de uns e outros passam a fazer parte da memória. Isso torna o testemunho problemático. Principalmente em contextos policiais e legais.

Fotos Uma foto compete com a memória, e a enfraquece. Uma foto pode ter informação não percebida, não focada, antes desinteressante, antes não codificada. E fotos fotoxopadas ganham de memórias.

Wade, Kimberley a, Maryanne Garry, J. Don Read, e D Stephen Lindsay. 2002. “A picture is worth a thousand lies: Using false photographs to create false childhood memories”. Psychonomic Bulletin & Review 9 (3): 597–603. doi:10.3758/BF03196318.

Redes sociais Nos dão meios para corroborar o que quer que lembremos ou acreditemos. Meios de fundamentação e de distorção. Conformidade da memória: nossas lembranças se conformam ao que vemos e lemos na timeline. Cada um enfeita suas próprias memórias com material das redes. Pessoas muito diferentes passam a expressar memórias muito semelhantes a partir de informações pós-evento. Memórias são contagiosas.

Timeline O Facebook te lembra de um evento. Isso reforça os aspectos presentes na postagem, apaga os outros aspectos. O eu da timeline é diferente do eu real. Se me avalio pela minha timeline, chego a uma autovisão distorcida.

Asch, Solomon E. 1956. “Studies of independence and conformity: I. A minority of one against a unanimous majority”. Psychological Monographs: General and Applied 70 (9): 1–70. doi:10.1037/h0093718.

Qual das linhas do grupo da direita tem o mesmo comprimento da linha da esquerda? Sua resposta varia de acordo com as respostas – e pressões – dos outros (Asch 1956, 7). “Mas, se você sabia que a resposta estava errada, por que respondeu assim?” “Porque eu não queria chamar atenção.” A pessoa responde como o outro pra não chatear.

Groupiness, influência normativa Grupos tendem à coesão. Uns têm força cognitiva até mesmo sobre as memórias dos outros. In-groups: aqueles que identificamos como semelhantes a nós. Out-groups: o resto. Seguir a própria razão? Se ela concorda com o grupo, pressão normativa positiva. Se ela contraria o grupo, pressão normativa negativa. A precisão perde pra conformidade.

Deutsch, Morton, e Harold B. Gerard. 1955. “A study of normative and informational social influences upon individual judgment”. The Journal of Abnormal and Social Psychology 51 (3): 629–36. doi:10.1037/h0046408.

Sparrow, Betsy, Jenny Liu, e Daniel M Wegner. 2011. “Google effects on memory: cognitive consequences of having Information at our fingertips”. Science 333 (6043): 776–78. doi:10.1126/science.1207745.

Sovinas cognitivos Por que armazenar na mente informação disponível online? Diminuição de custos cognitivos. Chance de um ensino mais focado no entendimento, menos focado na memorização. Preço: vulnerabilidade a informações errôneas posteriores ao evento.

Erros da memória Erros da memória são a regra, não a exceção. Até mesmo as mais importantes das nossas memórias podem ser constantemente modificadas. Estamos constantemente sujeitos a tomar ficções por eventos reais. Isso pode tanto nos dar prazer quanto nos traumatizar.

Erro variado e generalizado Não há nenhum tipo de memória que esteja livre da possibilidade de erro. Há vários tipos de erro: esquecimento, lembrança equivocada, ficção pura e simples.

Principais tipos de erros da memória ● ● ● ● ● ● ●

Transitoriedade Distração Bloqueio Atribuição errada Sugestionabilidade Distorção Persistência (cf. Schacter 2003)

Schacter, Daniel L. 2003. Os sete pecados da memória: como a mente esquece e lembra. Traduzido por Sueli Anciães Gunn. Rio de Janeiro: Rocco.

Transitoriedade Tudo o mais sendo o mesmo, é mais fácil lembrar de eventos mais recentes do que de eventos mais antigos. “… enfraquecimento da memória com o passar do tempo.” (Schacter 2003, 15) Schacter, Daniel L. 2003. Os sete pecados da memória: como a mente esquece e lembra. Traduzido por Sueli Anciães Gunn. Rio de Janeiro: Rocco.

Distração Preocupações, falha na concentração são impedimentos da atenção, e por isso impedimentos da memória. Por distração, a memória não vem a ser adquirida, ou não vem a ser evocada. “… ruptura na interface entre a atenção e a memória.” (Schacter 2003, 15) Schacter, Daniel L. 2003. Os sete pecados da memória: como a mente esquece e lembra. Traduzido por Sueli Anciães Gunn. Rio de Janeiro: Rocco.

Bloqueio “… busca frustrada de uma informação que podemos estar tentando resgatar desesperadamente.” (Schacter 2003, 15) Quando está na ponta da língua, mas você não consegue lembrar. Schacter, Daniel L. 2003. Os sete pecados da memória: como a mente esquece e lembra. Traduzido por Sueli Anciães Gunn. Rio de Janeiro: Rocco.

Atribuição errada “… referir uma memória a uma fonte errada” (Schacter 2003, 16). Confundir ficção com realidade, confundir o que seu amigo te contou com o que você leu na web etc. Pode ter sérias consequências em contextos jurídicos. Schacter, Daniel L. 2003. Os sete pecados da memória: como a mente esquece e lembra. Traduzido por Sueli Anciães Gunn. Rio de Janeiro: Rocco.

Sugestionabilidade “… lembranças criadas como resultado de perguntas tendenciosas, comentários ou sugestões feitos quando uma pessoa está tentando se lembrar de uma experiência do passado.” (Schacter 2003, 16) Novamente, problemático em contextos jurídicos. Schacter, Daniel L. 2003. Os sete pecados da memória: como a mente esquece e lembra. Traduzido por Sueli Anciães Gunn. Rio de Janeiro: Rocco.

Distorção “O pecado da distorção reflete influências poderosas do nosso conhecimento atual e opiniões sobre o modo como nos lembramos do passado. Com frequência, editamos ou reescrevemos inteiramente, consciente ou inconscientemente, nossas experiências passadas com base no que sabemos no presente ou em nossas opiniões.” (Schacter 2003, 16) Schacter, Daniel L. 2003. Os sete pecados da memória: como a mente esquece e lembra. Traduzido por Sueli Anciães Gunn. Rio de Janeiro: Rocco.

Confusão com respeito à fonte da informação Você acha que lembra de um evento do seu passado pessoal. Mas, na verdade, você ou nunca armazenou a informação, ou esqueceu. Depois disso, pessoas próximas te contaram o que você fez, ou o que te aconteceu, e agora você acha que lembra diretamente da tua ação ou do evento.

Persistência “… a recordação de informações ou acontecimentos perturbadores que gostaríamos de eliminar totalmente da nossa mente: lembrar-se do que não podemos esquecer apesar de querer esquecer.” (Schacter 2003, 16) Traumas, memórias intrusivas. Schacter, Daniel L. 2003. Os sete pecados da memória: como a mente esquece e lembra. Traduzido por Sueli Anciães Gunn. Rio de Janeiro: Rocco.

São defeitos? “Em vez de retratá-los como uma fraqueza ou um defeito inerentes ao desenho do sistema, acho que eles nos dão uma visão dos poderes de adaptação da memória.” (Schacter 2003, 17) Adaptação, bem-estar, sobrevivência, conatus. Schacter, Daniel L. 2003. Os sete pecados da memória: como a mente esquece e lembra. Traduzido por Sueli Anciães Gunn. Rio de Janeiro: Rocco.

Você está seguro? Constantemente nos sentimos confiantes com respeito a memórias fictícias. O grau de confiança numa memória não é nenhuma garantia. Uma memória pode ser poderosa e parecer real mesmo depois de ser atestada como falsa.

O que faz sentido, e o que é real O fato de algo fazer sentido não é garantia de ser real. Dois tipos de erro: confabulação e confusão sobre a fonte da informação.

Mas como podemos nos enganar? A informação é confabulada, ou veio da memória alheia. Mas é plausível. É fácil de imaginar. E tem uma enorme carga emocional. E imaginamos o evento, o que o torna ainda mais plausível.

Confabulação

“Confabulação denota a emergência de memórias de experiências e eventos que nunca aconteceram.” (Nahum et al. 2012, 2524) Nahum, Louis, Aurélie Bouzerda-Wahlen, Adrian Guggisberg, Radek Ptak, e Armin Schnider. 2012. “Forms of confabulation: dissociations and associations”. Neuropsychologia 50 (10): 2524–34. doi:10.1016/j.neuropsychologia.2012.06.026.

Por que erramos? Da p. 28 de: Neufeld, C. B., P. G. Brust, e L. M. Stein. 2010. “Compreendendo o fenômeno das falsas memórias”. In Falsas memórias: fundamentos científicos e suas aplicações clínicas e jurídicas, organizado por Lilian Milnitsky Stein, 21–41. Porto Alegre: Artmed.

Teoria do traço difuso (fuzzy-trace theory) Uma memória é armazenada como múltiplos fragmentos Armazenamento paralelo do ponto principal (the gist) e da informação literal (verbatim). Ambos são vívidos O traço principal e a informação literal são evocados separadamente Propensão ao erro: evocar um leva a confabular o outro

Memórias forjadas via imaginação (OBS. Não faça isso! Aqui há sérios problemas éticos.) 1.

2. 3.

A pessoa é instruída a fechar os olhos e formar uma vívida imagem da sua participação num evento muito específico, incluindo objetos, pessoas, lugares. Pede-se pra pessoa narrar em voz alta o que ela está imaginando. O processo é repetido na semana seguinte, e na outra. Após o processo, a pessoa tem 1/4 de chance de tomar o imaginado por um evento realmente vivenciado.

Optogenética Novo campo científico que usa luz para controlar neurônios geneticamente modificados para ser fotossensíveis. Tipo disparando um feixe de raio laser num neurônio, saca?

Ramirez, Steve, Xu Liu, P.-A. Lin, Junghyup Suh, Michele Pignatelli, Roger L Redondo, Tomás J Ryan, e Susumu Tonegawa. 2013. “Creating a False Memory in the Hippocampus”. Science 341 (6144): 387–91. doi:10.1126/science.1239073.

Hipocampo Estrutura cerebral responsável por reunir – em tempo real – diversas informações relevantes numa nova memória através da criação de novas sinapses. O hipocampo é responsável pelo caráter associativo da memória.

Hipocampo. De Wikipedia, https://en.wikipedia.org/wiki/Hippocampus

O custo cognitivo de lembrar de tudo O caso de Jill Price. Ela lembra de cada um dos menores eventos do seu passado recente e distante. Uma lembrança pipoca na sua mente. Involuntariamente, e aleatoriamente, ela é paralizada pela lembrança de cada detalhe de uma má decisão, de um insulto, de uma vergonha, na intensidade emocional máxima (p. 2) O conto “Funes, el memorioso”, de Jorge Luis Borges.

Novos tipos de pessoas Agora há pessoas com memória autobiográfica altamente superior (Highly Superior Autobiographical Memory, HSAM). Pessoas involuntariamente incapazes de seguir o conselho “esqueça isso”. Hipermnesia, hyperthymesia Se conhece 56 pessoas nessa condição.

Justiça para todos Se tudo o que a vítima tem é sua memória, a memória tem que tem algum valor de evidência. Mas a memória é propensa a erros, não merece fé cega. Assim sendo, o valor de evidência da memória tem que ser ponderado. Outras evidências têm que ser levadas em conta. A punição de um inocente não é menos grave que a desconsideração do caráter de vítima de uma vítima.

Sobre Aula do curso de Filosofia da Mente (FAF1067), 2º semestre de 2016. Minicurso apresentado na VII Semana de Filosofia e seu Ensino, em comemoração aos dez anos do Curso de Filosofia da Universidade Federal do Cariri, em Juazeiro do Norte, em 30 de novembro e 1º de dezembro de 2016. Uma versão atualizada destes slides está disponível aqui. A parte final deste curso está disponível aqui.

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