Memórias de Timor em Lamego

July 3, 2017 | Autor: Museu de Lamego | Categoria: Museologia, Arte, Museus, Catálogo De Exposição, Exposições De Arte
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Descrição do Produto

MEMÓRIASDETIMOR EM

LAMEGO

[Em]COMUM

Projeto

ARQUIVO MUSEU DIOCESE LAMEGO

Uma cidade. Dois museus

One city. Two museums

Exposição | organização

ARQUIVO MUSEU DIOCESE LAMEGO

Exposição | apoio empresarial

MEMÓRIASDETIMOR EM

LAMEGO

Arquivo - Museu Diocesano de Lamego 2 a 31 de maio de 2015

FICHA TÉCNICA

EXPOSIÇÃO

CATÁLOGO

Direção Luís Sebastian

Direção Luís Sebastian

Comissariado José Pessoa (coordenador) Georgina Pinto Pessoa Manuela Vaquero

Textos Georgina Pessoa José Pessoa Luís Sebastian Manuela Vaquero

Textos Georgina Pessoa Manuela Vaquero Conservação Georgina Pessoa Fotografia e tratamento digital Alexandra Pessoa José Pessoa

Fotografias José Pessoa Paula Pinto Digitalização de textos Alexandra Pessoa Design gráfico Paula Pinto

Design e produção Museu de Lamego

Edição Museu de Lamego | Direção Regional de Cultura do Norte

Montagem Museu de Lamego Arquivo-Museu Diocesano de Lamego

Data de Edição Agosto de 2015

Coleções Museu de Lamego (Legado da Família Lemos Pires Doação Comandante Humberto Leitão) Família Mascarenhas Gaivão Divulgação Patrícia Brás Gestão de Recursos Humanos e Financeiros Paula Duarte Agradecimentos D. Maria Theolinda Queiroz Martins Barreto Lemos Pires Família Mascarenhas Gaivão GeoDouro

ISBN 978-989-20-5971-6 O conteúdo dos textos, direitos de imagem e opção ortográfica são da responsabilidade dos autores.

Apresentação \\5 Luís Sebastian Diretor do Museu de Lamego

“Memórias de Timor em Lamego”: \\8 …uma inesperada contribuição José Pessoa Caderno de cópias da correspondência oficial \\11 do Governador de Timor Transcrição de Manuela Vaquero Arquitectura tradicional timorense \\16 Georgina Pinto Pessoa Biografia de Humberto Leitão \\28 Manuela Vaquero Marionetas de Java \\30 Georgina Pinto Pessoa Ikat e Batik \\34 Georgina Pessoa Comunidade chinesa em Timor \\52 Manuela Vaquero Bibliografia \\62 Fac-símile | Caderno de cópias da correspondência oficial \\68 do Governador de Timor Timor, 1891 Caderno Museográfico \\102

ÍNDICE

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\5

A exposição “Memórias de Timor em Lamego” é a terceira iniciativa do Museu de Lamego realizada nos

LUÍS SEBASTIAN Diretor do Museu de Lamego

espaços do Arquivo-Museu Diocesano de Lamego, integrando assim o Projeto Em[Comum] parceria protocolada em 2014 entre o Museu de Lamego e a Diocese de Lamego, tendo por objetivo dinamizar os espaços do Arquivo-Museu Diocesano de Lamego através de iniciativas conjuntas. Já em 2014, ao abrigo do Projeto Em[Comum], foram realizadas as exposições “A Sé de Lamego no Museu” e “Viagem ao Oriente”, sendo esta última resultante ainda do projeto que o Museu de Lamego mantém desde 2012, de identificação e inventário de espólios fotográficos familiares com referência ao Douro, e do qual já tinham resultado em 2013 as exposições “Uma viagem no tempo, do outro lado do espelho” e ”Caminhos do Ferro e da Prata”. Contudo, a exposição “Memórias de Timor em Lamego” serviu ainda um triplo sentido: Quando em 2012 o Museu de Lamego recebeu em doação uma representação em filigrana de prata de uma casa tradicional de Lospalos, oferecida pelo povo timorense ao General Mário Lemos Pires após a independência do país em 2009 e doada pela sua viúva, a Sra. Maria Theolinda Queiroz Barrento Lemos Pires, ficou o compromisso de a expor anualmente em data próxima à da independência de Timor Lorosae. A este compromisso, logo em 2013, juntou-se a parceria da Associação dos Amigos do Povo de Timor Lorosae, resultando na exposição “Timor Lorosae: objetos de devoção”, então tendo por base a coleção particular do Tenente-Coronel José Luís Marques da Silva. Desta feita, para a exposição “Memórias de Timor em Lamego”, recorreu-se ao acervo do Museu de Lamego, nomeadamente ao espólio da doação do Comandante Humberto Leitão, ao qual se juntaram diversas peças

6\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO gentilmente cedidas pela família Mascarenhas Gaivão. Seguindo a política editorial assumida pelo Museu de Lamego desde 2012, de privilegiar a disponibilização gratuita e universal on-line da maioria dos seus catálogos de exposição a partir do seu site oficial (www.museudelamego.pt), chegou agora a vez de disponibilizar o catálogo da exposição “Memórias de Timor em Lamego”, uma vez mais integralmente produzido no seu conteúdo e formato pela equipa do Museu de Lamego. Por fim, impõe-se agradecer àqueles que tornaram possível mais esta iniciativa, nomeadamente à Diocese de Lamego, ao Arquivo-Museu Diocesano de Lamego, às famílias Lemos Pires e Mascarenhas Gaivão e à empresa Geodouro, mecenas do Museu de Lamego desde 2014. À equipa do Museu de Lamego o meu reconhecimento…

“Memórias de Timor em Lamego”: …uma inesperada contribuição

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\9

O General Mário Lemos Pires nasceu em Lamego, Rua de Almacave, a 30 de Junho de 1930. Notabilizou-se por uma brilhante carreira militar, tendo sido o último Governador português de Timor-Leste. Aí granjeou o respeito e a

JOSÉ PESSOA

amizade dos timorenses, como é notório na carta enviada à sua família, por ocasião do seu falecimento, por Xanana Gusmão, então Primeiro-Ministro da República Democrática de Timor-Leste: Após a independência, os timorenses entenderam oferecer a este oficial uma prenda, testemunho da sua consideração e amizade. E nada podia ser mais representativo do que uma réplica miniatural em filigrana de prata, de fina execução, da casa tradicional de Lospalos, cidade que dista 248 km a leste de Díli, capital do Distrito de Lautém. Da mui variada arquitectura popular de Timor, das muitas etnias que a integram, esta é certamente um dos exemplos mais interessantes. Quis a família do General Lemos Pires fazer doação desta preciosa e simbólica peça ao Museu de Lamego, terra natal do seu familiar. Assumiu a referida instituição o compromisso e o privilégio de a expor, todos os anos por ocasião do aniversário da independência desta colónia portuguesa, 20 de Maio e a data do falecimento deste ilustre lamecense, 22 do mesmo mês. Este ano entendemos dar um carácter mais relevante a esta mostra, acompanhando a casa de Lospalos de outras memórias de Timor que fazem parte do acervo do nosso Museu, provenientes do espólio doado pelo Comandante Humberto Leitão, e também de espécies pertencentes à Família Mascarenhas Gaivão, a quem agradecemos especialmente a disponibilidade e a generosidade com que sempre colaboram, permitindo-nos dispor de preciosas peças das suas colecções, cuja exposição muito nos apraz.

10\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO 1

com espécies timorenses de artesanato tradicional, ou de outras zonas do Oriente (China e Indonésia), todas

Estas espécies foram expostas em “Viagem ao Oriente” - Museu Diocesano - Museu de Lamego, 2014 - Lamego, e constam do respectivo catálogo.

oriundas de portugueses que retornaram de Timor, até Lamego. São testemunhos de uma cultura asiática, tal

2

Eis que muito facilmente se reúne uma Exposição, justamente intitulada de “Memórias de Timor em Lamego”,

como existia nos finais do século XIX, e que tanta influência exerceu na nossa própria cultura, estando presente no nosso quotidiano desde o século XVI. Da doação Humberto Leitão escolhemos ikats e batikes, onde podemos visualizar técnicas milenares de decoração de têxteis, cuja origem se perde na História dos povos do Índico e do Pacífico. E também as Marionetas “Wayang Kulit ” evocando as profundezas de Java, para nós misteriosas e exóticas formas de um teatro tão distante, mas que esteticamente tanto nos impressionam. Se no fundo antigo do Museu de Lamego pouco mais existe relacionado ou oriundo de Timor, encontrámos na colecção da Família Mascarenhas Gaivão (cuja riqueza e diversidade continuam a surpreender-nos) um conjunto de espécies do séc. XIX, que vieram de Timor na bagagem de um seu antepassado, Cipriano Forjaz de Sampaio, Governador da colónia entre 1891 e 1893, cuja variedade e valor documental são inegáveis. Para além de sete 1

preciosas imagens fotográficas , testemunhos muito raros de Timor no séc. XIX, encontramos duas preciosas 2

caixas feitas de folhas de palmeira , profusamente coloridas por pigmentos e missangas, dois chapéus tradicionais, com desgastes de uso mas em que ainda se pode ver a decoração original, duas peças de mobiliário 3

e uma escultura chinesas , e um inesperado caderno de capa preta… O caderno de capa preta, contendo páginas com textos muito regulares, laboriosamente manuscritos, veio a revelar-se um precioso registo de cópias da correspondência oficial de um Governador acabado de chegar ao

Participaram na Exposição Insular e Colonial Portuguesa - ver Catálogo da exposição insular e colonial portuguesa em 1894 no palácio de crystal portuense. - Lisboa: Imprensa Nacional, 1895. - 3 v.; 3 cm. - Catálogo das colónias portuguesas: S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné Portuguesa (GuinéBissau), Angola, Moçambique, São João Baptista de Ajudá (um enclave), Macau, Timor Português (TimorLeste) e Índia Portuguesa (Diu, Damão, Goa e Dadrá e Nagar Haveli). 3

As relações da China com a Ilha de Timor são muito antigas, sendo provável que tenha existido uma comunidade chinesa muito anterior à chegada dos portugueses. É de considerar que peças tradicionais de mobiliário e arte chinesa tenham sido fabricadas no local.

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\11

território. Muitos destes documentos, de relevância histórica, se terão perdido. O ofício de abertura deste caderno, datado de 8 de Fevereiro de 1891, é extremamente elucidativo do estado em que Cipriano Forjaz Sampaio veio encontrar a nossa colónia mais longínqua. Neste catálogo incluímos, com grande satisfação, o fac-símile, que fica assim à disposição de todos os investigadores. Nos próximos anos continuaremos a busca das memórias de Timor em Lamego!

Caderno de cópias da correspondência oficial do Governador de Timor

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\13

Timor, 1891- sobre o estado em que encontrei o Destricto

Transcrição de MANUELA VAQUERO

mo

mo

a

Ill. e Ex Sr. - Tenho a honra de communicar a V. Ex. que assumi o governo d'este Destricto em 5 do corrente tão

mez, o qual me foi entregue pelo Sr. Cap. encarregado do Governo Porphirio Z de Sousa. O Destricto segundo me é communicado, pelo mesmo capitão, está um socego. Cumpre-me contudo, informar V. Ex.ª, que o estado em que encontrei Dilly, me produzio a mais desagradável impressão, pois que tendo sahido de Timor em 1886; Deixei Dilly, senão uma cidade, completamente civilisada, pelo menos limpa, e bem tratada, mostrando assim aos estrangeiros, o mais que se pode conseguir, com os deminutos recursos de que dispomos. Triste é confessa-lo mo

Ex Sr, vergonhosisimo é o estado em que encontrei tudo isto. Em frente do Palacio, uma ponte, que me obrigou a desembarcar ás costas d'um preto; - Deante da Alfandega, restos importantes d'outra ponte, que abandonada, patenteando está, a todos a nossa incuria e desleixo. As ruas da cidade, e sua arborisação, cheias de matto; lixo, e abandono. Duas das pontes, na principal rua, quasi intranzitaveis, com grande prejuiso para o commercio, e risco dos transeuntes. Os antigos Edificios do Estado, cahindo em ruinas. Os modernos, sem as caiacões; pinturas e limpesas devidas, denotando a decadencia, que os holandeses tanto apregoaram em Batavia e Socrabaia. A residençia de Lahane, sem agoa, por deixarem destruir a canalisação de bambus; sem mobilia; as janellas sem vidros, xxx. Os edificios em construcção e de necessidade urgente, como pharol e paiol, abandonados. É repugnante e extraordinario, Ex.mo Sr, o estado a que se deixou chegar a capital d'uma colonia prospera e a unica,

14\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO que representa a nossa civilização e dominio na Occeania. Sollicitandoa alta e valiosaprotecção de V. Exª, sem a qual, me não será possível, conseguir levantar Dilly, e quiçá Timor, do deploravel estado, em que se encontra, terei a honra de, em officios subsequentes, appresentar a V. Exª as medidas, que me parecerem, mais approppriadas, para tal fim.

Residencia de Lahane 8 de Fev 1891

Governador Cipriano Forjaz de Sampaio (antepassado da Família Mascarenhas Gaivão)

Arquitectura tradicional timorense

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\17

Como todas as criações, a arquitectura, arte de projectar um espaço para edificar, obedece a princípios, normas técnicas e materiais que servem o indivíduo, no sentido de dar resposta a exigências funcionais, estéticas e

GEORGINA PESSOA

simbólicas. Em termos sociais visa a satisfação das necessidades das comunidades de organizar, estruturar e adaptar os espaços e os lugares que habita, tendo em conta as suas características naturais aos quais associa o seu cunho particular, a sua cultura e os seus valores. Aspectos presentes nas construções timorenses, onde a relação entre a natureza e o homem, o meio e modus vivendi, estão estreitamente ligados. Simples nos seus princípios, esta procura satisfazer as necessidades básicas do seu quotidiano em termos de habitabilidade, funcionalidade, segurança e economia de meios. Encontra na natureza os materiais de origem vegetal que usa na sua construção. São habitualmente feitas sobre estacas de madeira de altura variável dependendo das características geomorfológicas e do tipo de técnica de construção de cada região, adaptadas à alta precipitação e à protecção dos animais. De estrutura quadrangular, sustentando a meio uma plataforma de madeira, com uma cobertura piramidal truncada rematada por elementos de carácter simbólico. A presença de algumas construções assentes no solo regista a influência portuguesa e o processo de aculturação dos nativos, todavia, são construídas de acordo com os processos tradicionais usando o colmo e a madeira e quase sempre se destinam a alojar os malai (estrangeiros) ou guardar os Liuriai (régulos).

18\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO Na casa tradicional timorense Uma radicam muitos dos seus mitos e origens lendárias do povo maubere, materializadas nas Uma Lulik - casas sagradas, símbolos de linhagens e de poder, santuários onde se guardam as memória e artefactos sagrados, heranças e relíquias dos seus antepassados, onde só os anciãos katuas podem entrar. Aqui se celebra a genealogia da família e os seus cultos, como o tunu (matança de um animal que se ofertava aos espíritos invisíveis dos ancestrais). De algum modo a sua cobertura de colmo de forma trapezoidal, configura a quilha de um barco invertida, a remeter para o barco usado pelos seus antepassados aquando do seu aportamento à ilha “crocodilo” transmutando-se assim numa língua de terra para lhe dar guarida. Algumas apresentam uma estrutura imponente, decoradas com colunas, traves e frisos esculpidos e portas ricamente trabalhadas. A sua configuração representa o universo, fortemente ligado / condicionado às forças sobrenaturais que sobre ele agem. Apesar das particularidades que caracterizam e identificam cada etnia, a casa timorense apresenta uma linguagem e uma semiótica profundamente simbólica onde se evocam as crenças animistas segundo as quais o cosmos, de que a casa é uma miniatura, é composta de três partes: o céu, mundo dos espíritos, a terra, morada dos homens e o mundo subterrâneo, habitada por seres misteriosos potencialmente malfeitores. A casa assume também um papel agregador da comunidade e representativo do espaço social, onde coabitam os

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\19

vivos e os mortos sem qualquer barreira ou linha de separação. Elemento que serve as exigências de um quotidiano que incorpora o sagrado e o profano e a vida se cumpre de forma simples mas rica, plural e intensa no seu conteúdo.

20\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO

UMA LULIK (Miniatura) Lospalos (Timor) Prata (filigrana) Oferta de Timorenses após a independência de Timor Leste ao General Mário Lemos Pires Doação de Maria Theolinda Queiroz Lemos Pires Museu de Lamego INV. 7777

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\21

Timor - Dilly; Régulo, principais e ordenanças de Báucau - 1885 Timor Autor: Atribuída a J. Sá Vianna Técnica: Albumina 1885

22\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO

Timor - Dilly - 1889 Timor Autor: J. Sá Vianna Técnica: Albumina 1889

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\23

Barcos e botes com mercadorias e grupos de homens, junto da praia Timor Autor: Atribuída a J. Sá Vianna Técnica: Albumina 1889

24\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO

Barco a vapor Timor Autor: J. Sá Vianna Técnica: Albumina 1889

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\25

Barcos (Sampanas) ancorados na praia Timor Autor: Atribuída a J. Sá Vianna Técnica: Albumina 1889

26\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO

Barco junto da costa Timor Autor: Atribuída a J. Sá Vianna Técnica: Albumina 1889

Biografia de Humberto Leitão

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Humberto José dos Santos Leitão nasceu, na cidade de Lamego, no ano de 1885. Oficial da marinha desde os inícios do século XX (1905), nela alcançou o posto de capitão-de-mar-e-guerra (1940), pelos relevantes serviços

MANUELA VAQUERO

que desempenhou ao longo da sua carreira no Oriente. Oriente que sobre ele exerceu um fascínio enorme acabando por influenciar fortemente a sua personalidade, o que originou a escrita de diversíssimos livros e estudos sobre as Terras do Sol Nascente bem como de teor náutico. Salientaremos apenas alguns títulos da sua obra: Os Portugueses em Solor e Timor de 1515 a 1702; Vinte e oito anos de História de Timor - 1698-1725; O Régulo Timorense D. Aleixo Corte Real; Os Dois Descobrimentos da Ilha de São Lourenço mandados fazer pelo Vice-Rei D. Jerónimo de Azevedo nos anos de 1613 a 1616, Dicionário da Linguagem de Marinha antiga e actual, entre outras publicações. Foi também colaborador na revista Studia, do Centro de Estudos Históricos e Ultramarinos. Em Timor exerceu altos cargos governamentais - as primeiras estradas rodoviárias rasgadas, neste remoto torrão português, foram efectuadas quando chefiava os destinos da Ilha. Homem erudito e de gostos requintados acabou por se deixar deslumbrar pela beleza dos exóticos objectos orientais e pelas delicadas porcelanas da China, o que suscitou a compra de numerosas e variadíssimas peças, algumas bem originais, enquanto permanecia por estas paragens distantes e que fazem parte do acervo do Museu de Lamego, doadas por Humberto Leitão à Instituição.

Marionetas de Java

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\31

Marionetas de varas - Wayang Golek - Marionetas de sombra Wayang Kulit

GEORGINA PESSOA As marionetas javanesas fazem parte de um universo milenar pleno de memória e tradição, onde a história, a literatura, a cultura e a religiosidade se misturam para alimentar uma narrativa de profundo simbolismo. Estas frágeis figuras, sustentadas por singelas varas, conferem a materialidade a personagens de heróis e vilãos, instrumentos dos deuses e dos espíritos, onde as forças mais profundas do mal e bem se confrontam eternamente. Surgem em duas tipologias com características próprias: As marionetas de varas - Wayang Golek. Construídas em madeira, apresentam os pormenores do rosto entalhado, sublinhados a cor, elemento importante na identificação do personagem. O ouro é reservado às personagens de natureza divina, o branco e o verde às personagens de condição nobre e aos príncipes, o amarelo aos serviçais, o vermelho e o castanho para os demónios e personagens de má índole. As marionetas de sombras Wayang Kulit Construídas em pele de búfalo e recortadas de acordo com a iconografia da personagem representada. A superfície é ornamentada com aplicação de folha de ouro e vigorosa policromia, que sublinha e acentua o brilho do ouro.

32\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO Marionetas “Wayang Kulit ” O rosto e o corpo são delineados e pintados e as vestes das personagens apresentam um tratamento delicado e de grande pormenor. Cada marioneta é manipulada com as mãos a partir de um suporte de madeira ou a partir de um entalhe feito de chifre de búfalo, material que à semelhança da pele, adquire uma interessante textura translúcida e lhe confere uma subtil transparência. As marionetas Golek surgem ligadas à penetração islâmica nesta região oriental e à influência das suas entidades sagradas, que ao longo do século XVI muito contribuíram para a sua divulgação e adesão da população javanesa, tradicionalmente hindu e animista, ao Islão. O herói das marionetas Golek é uma personagem muçulmana - Amir Hanzah, do ciclo de Menak, Daman Wulan, personagem do reino hindu-budista, materializa o herói Kulit. As duas personagens enquadram um reportório inspirado nos épicos indianos do Ramayana e Mhabharata e as aventuras do príncipe Panji.

Os espectáculos são acompanhados por música e articulam a fala, o canto e a descrição narrativa da acção. Estes decorrem por longos períodos de várias horas, o que obriga a algumas estratégias mobilizadoras do interesse da audiência. Cabe ao Dalang (manipulador), pessoa investida de atributos mágicos e religiosos, introduzir nas histórias as variações necessárias à manutenção da atenção e interesse dos ouvintes. Nesta, por vezes difícil tarefa, conta com o apoio, dos cantores e dos músicos, onde prima o gamelão, com os seus gongos, tambores, flautas e cordas, numa tocante simbiose entre expressão artística e prática performativa.

Java (Indonésia) Pele de animal (búfalo?), madeira, policromia Séc. XIX (?) Oferta do Comandante Humberto Leitão Museu de Lamego INV. 1599

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\33

Ikat e Batik

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\35

Ikat

GEORGINA PESSOA

Ikat derivada da palavra mengikat - “amarrar” de origem malaia, designa uma técnica e um tipo de tecido em que o tingimento dos fios é anterior ao processo de tecelagem. Os fios que se querem deixar sem cor são separados e ligados antes da urdidura, sendo posteriormente imersos num banho de tinta e estendidos para secar. Assim, estes, permanecem na cor neutra de base enquanto o restante têxtil absorve a cor do banho de tinta. A repetição sucessiva desta operação na mesma urdidura possibilita a obtenção de complexos e delicados padrões. Processo que se inicia sempre com as tintas mais escuras. Conhecida e utilizada quer na América quer no Oriente há milénios, tem como matéria-prima de base o algodão, cujo cultivo se inicia na Índia a partir da qual se difundiria, já a partir dos meados do 1º milénio, para o sudeste asiático. Os artesãos controlavam todo o processo desde a produção / recolha das matérias-primas e seu tratamento até à tecelagem dos panos. Na fiação usava-se a roda de fiar ou simplesmente um fuso de madeira, como se verificava em Timor. Os teares eram muito simples e de pequenas dimensões, o que fazia com que os panos produzidos fossem estreitos, o que implicava a união destes para a elaboração de panos que exigiam maiores dimensões como o sarongue (saia usada pelos homens e pelas mulheres). O meio natural fornecia as plantas tintureiras necessárias ao tingimento, sendo o vermelho e o azul as mais utilizadas e de menor uso o verde e amarelo. Esta actividade é muito valorizada socialmente, revestindo-se até de um carácter sobrenatural, não estando acessível a qualquer mulher, obrigando à interdição de certos períodos ou lugares para a sua execução. São em

36\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO muitos casos, os deuses ou os seus antepassados que transmitem às artesãs “com almas fortes” as técnicas ou os elaborados desenhos a criar. A capacidade de produzir panos “bonitos e originais” confere à mulher um estatuto semelhante ao de dar à luz filhos numerosos e saudáveis. A prática de rituais e o recurso a orações nas fases mais delicadas do trabalho, assegurará o afastamento de possíveis erros e das suas gravosas consequências. Na ilha de Sunda acredita-se que, quer a tecedeira, quer a pessoa que usa o pano, põem em risco a sua saúde e até a sua vida. O carácter sagrado desta actividade está também presente na produção dos pigmentos ou tintas, sendo as mais valorizadas, como o índigo, restritas a algumas tecedeiras e objecto de práticas cultuais comparáveis à gravidez e aos nascimentos, sendo as mulheres mais respeitadas na comunidade as parteiras e as responsáveis pela produção e aplicação das tintas. O vermelho é também uma cor com uma importância particular. Associado à guerra e à caça de cabeças, actividades particularmente importantes para estes povos. O perigo enfrentado na guerra era similar ao das mulheres quando produziam esta cor. Também os méritos eram igualmente assinalados. Numa campanha bemsucedida o guerreiro recebia uma tatuagem especial. De forma semelhante, quando uma tecedeira produzia um pano vermelho, um ikat original, era tatuada no polegar. Eram cerimoniais muito ritualizados, cumpridos e interiorizados ao ritmo dos xilofones, dos gongos e dos tambores e de movimentadas danças. Esta interessante associação entre a tecelagem e a guerra sintetiza-se no pua, pano especial que as mulheres sustentam nas mãos à chegada dos guerreiros e onde colocam as cabeças cortadas dos inimigos. Entre estes povos do sudeste asiático, como os de Timor, as mulheres desempenhavam um papel activo na guerra, no apoio prestado e na participação dos rituais propiciatórios que neste contexto eram executados. Os homens constroem os teares e os instrumentos com que as mulheres fiam, tingem e tecem os panos que estes vestem diariamente ou

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\37

em ocasiões especiais, como nos rituais, como acontece com os lipa em Timor. Estes panos davam resposta às necessidades domésticas e do quotidiano destas comunidades, desempenhavam um importante papel nas trocas mercantis, nos compromissos e alianças, detentores de um poder mágico e de uma força protectora, a quem cabia um papel preponderante nos rituais que envolviam os nascimentos ou as cerimónias de passamento. Eram transmitidos de geração em geração como elos dos vínculos familiares, imprescindíveis nos acontecimentos lúdicos e na guerra, profundamente codificados nas formas, composições e cores e de grande poder simbólico. Mesmo para o olhar europeu os seus motivos antropomórficos e zoomórficos assumem um carácter misterioso e enigmático. Habitados por aves exóticas, mensageiras dos deuses, por crocodilos, animais sagrados, temidos e amados como na lenda que o associa e explica a origem Timor. Batik Batik designa uma técnica de pintura praticada sobre suportes de madeira, pele ou têxtil, sendo este o mais utilizado e conhecido no tingimento dos tecidos artesanais de seda ou algodão. Tem uma característica particular e similar à do Ikat (entre o Bali e Timor), do Tritik (na Índia), do Plangi ou Shibori (no Japão), que consiste na resistência à absorção da cor. Estas técnicas atingiram níveis de grande efeito cromático e de grande delicadeza e intensidade estética, recorrendo a elaboradas composições geométricas ou figurativas, a motivos do seu meio ambiente ou à reprodução de temática mítica e lendária. No batik desenham-se os motivos sobre a tela com cera quente. Esta é depois tingida com várias cores que dão

38\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO forma aos desenhos e lhe conferem uma forte vivacidade. Estes surgem como uma espécie de negativo a partir da imersão da tela em água a ferver e da libertação da cera. As pequenas fissuras abertas na cera atribuem-lhe um craquelés peculiar de grande efeito decorativo. O Tjantnig é uma espécie de pincel de metal usado na aplicação da cera. Dada a especificidade desta técnica, os tecidos em que é usada assumem a sua designação genérica. A sua origem remota é testemunhada já no século IV a.C. nos têxteis com que os egípcios envolveram as suas múmias. No oriente data do século VI a.C. a presença de alguns fragmentos de batik, encontrados na china. É uma técnica ancestralmente conhecida e usada no Sri lanka, Índia e Japão. Em África, além do Egipto, também na Nigéria e Senegal se testemunha o seu conhecimento e uso. Dada a importância das colónias chinesas e indianas nesta região é provável que tenham sido estes os introdutores desta técnica nas Ilhas de Sonda, que salpicam o Indico entre o sudeste asiático e a Austrália e a assimilaram tornando-a sua, assumindo-se a Ilha de Java como o local originário a partir do qual se teria difundido por toda a região, consagrando-se como uma forma de expressão artística da Indonésia e Timor. Em Java encontrou um local propício oferecendo-lhe a natureza o algodão, a cera de abelha, os corantes e as plantas tintureiras. A palavra javanesa tic significando “ponto”, estará na origem da palavra Batik, remetendo para um conjunto de pontos, surge já em 1880 na Enciclopédia Britânica registada como Battik. Durante o império holandês registamse as grafias mbetek, mbatik, batek, batik. É também frequente designado de tulis - “tecido escrito”, feito por escritores os lukis, numa interessante e peculiar associação desta actividade à escrita.

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\39

Esta técnica é sistemática e meticulosamente descrita pelo governador britânico em Java, Thomas Stamfor Raffles na sua History of Java, publicada em 1817, na qual regista a execução de cerca de 100 desenhos diferentes. A presença e o domínio de holandeses e portugueses na região, teriam dado importante contributo para a divulgação do batik na Europa, particularmente os primeiros, cujos trajes aristocráticos “à moda javanesa”, fizeram furor a partir das primeiras décadas de oitocentos, estimulando a produção de batiks de elevada qualidade. É interessante a introdução de novos motivos como arranjos florais, pássaros e figuração humana a simbolizar o colonizador, denunciando a permeabilidade à sua influência. O coleccionismo iluminista faria uso da acção colonial para fazer chegar ao ocidente estes preciosos artefactos (entre outros), técnica e esteticamente elaborados e requintados, a granjear o gosto e o interesse de muitos coleccionadores de gosto eclético onde a Etnografia e a Arte se cruzavam nas longínquas e exóticas terras do oriente. Técnica e motivos decorativos, formas e usos, descrevem no tempo a própria história da Indonésia e particularmente o papel desempenhado pela ilha de Java. Aqui se congregam uma pluralidade de discursos e de simbologias expressas nas particularidades dos artefactos produzidos, que podemos agregar em dois grandes grupos: o batik costeiro - mais aberto e permeável ao contributo dos fluxos migratórios e do novo; e o batik real mais fechado, e ligado às elites sociais javanesas, simbólico e ritualizado, reservando-se o direito de uso de motivos “proibidos”. Todavia em ambos o cunho do contributo da aculturação e da presença de valores exteriores. Enquanto no batik costeiro apreendemos os grafismos árabes, indianos, chineses, franceses ou malaios, no batik

40\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO real constatamos a simbologia e a estética budista, hindu e islâmica, que constituem a base cultural de Java. A partir de meados do século XIX começam a ser usados carimbos de cobre para a aplicação da cera, o que torna o processo mais célere que o desenho à mão, para além da possibilidade de fácil reprodução. Antes da cera, parecem ter sido utilizados outros elementos naturais como pastas vegetais, gordura animal ou mesmo lama. Ainda hoje é frequente a utilização de uma mistura de cera e parafina. Os corantes anteriormente orgânicos, feitos de madeira, casca, especiarias, folhas, entre outros, contam a partir desta data com corantes sintéticos. Esta introdução teve importantes repercussões ao nível da variedade e intensidade das cores, agora mais vibrantes como o amarelo, o verde, o rosa, o vermelho ou o roxo. Num universo dominado pelo labor, paciência e criatividade feminina contava-se com o contributo das mãos masculinas para a construção dos teares, relação que se vai alterando com a divulgação e o incremento da sua produção, num mercado cada vez maior, que procura responder às solicitações quer dos turistas quer da exportação, disponibilizando uma vasta gama de tecidos Batik, de múltiplos motivos cores e formas, traduzindo as suas diferentes funções ou as particularidades de cada local ou zona de produção. Milenar, o Batik, tem acompanhado a vida destas comunidades, envolvendo-os no nascimento e na morte, marcando os momentos mais importantes das suas vidas, o casamento, a gravidez, as cerimónias sagradas ou reuniões políticas, selam alianças, carreiam consigo a história, o conhecimento, as vivencias e a espiritualidade daqueles que sabiamente o souberam trazer até nós.

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\41

A preservação das suas características ancestrais e as suas particularidades, fazem deste, uma das principais marcas culturais da Indonésia, defendida como património mundial pela Unesco em 2009.

42\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO

Pano (batik) Ilhas de Sunda Algodão, policromia Séc. XIX Oferta do Comandante Humberto Leitão Museu de Lamego INV. 1704

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\43

(batiks) pormenores

44\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO

Tais (ikat) Ilhas de Sunda Algodão, policromia Séc. XIX Oferta do Comandante Humberto Leitão Museu de Lamego INV. 1706

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\45

Tais (ikat) Timor Algodão, policromia C. 1910 Oferta do Comandante Humberto Leitão Museu de Lamego INV. Nº 1707

(ikat) pormenor

46\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO

Caixas Timor Fibra vegetal (folha de palmeira), missangas Colecção da Família Mascarenhas Gaivão

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\47

Caixas pormenores

48\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO

Caixas pormenores

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\49

Chapéus Timor Fibra vegetal Colecção da Família Mascarenhas Gaivão

50\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO

Chapéus Timor Fibra vegetal Colecção da Família Mascarenhas Gaivão

Comunidade chinesa em Timor

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\53

A ilha de Timor (timur = leste) como o próprio nome indica, é o ponto mais oriental da Insulíndia, situada na confluência do Oceano Índico com o Oceano Pacífico, o que nos leva a poder afirmar que, em tempos idos, não

MANUELA VAQUERO

seria um mero destino de passagem, não estaria incluída nas rotas comerciais do Oriente, era sim o ponto terminal de uma vasta rede que a ligava aos centros comerciais da Ásia. Para se ir a Timor era preciso uma razão, um motivo forte e lucrativo e, ao longo dos séculos, essa razão, esse

4

O sândalo branco (santalum album), nasce espontaneamente e chega a atingir entre os 10 e os 12 m de altura e 0,5m de diâmetro. Para chegar ao seu pleno crescimento necessita entre trinta a quarenta anos, necessitando para isso de uma combinação atmosférica que misture o clima seco do litoral e a humidade das montanhas. Cf. Freitas, M. Clara P. Graça de, Estudo das Madeiras de Timor: I. Contribuição. Memórias. Série Botânica, 3. Junta de Investigações do Ultramar. Lisboa, 1955.

motivo forte e lucrativo, foi quase unicamente um, a presença no seu solo de sândalo, a árvore de folhas sempre verdes que cresce espontaneamente na Ilha. A madeira de sândalo - “o sândalo branco”4 - a mais apreciada de todas as variedades existentes, cobria praticamente toda a ilha, tornando-a, fonte da cobiça dos asiáticos que muito a apreciavam e utilizavam. Os chineses5 dela careciam para o fabrico de móveis de aparato, esculturas, caixas e outros objectos de pequeno porte, do sândalo se serviam para uma multiplicidade de fins - produtos de cosmética, receituário para as mais diversas maleitas, queimado nas cerimónias religiosas, perfumaria, entre outros usos. Os mercadores chineses tinham, portanto desde tempos bem remotos, um forte interesse em chegar

5

Não só os chineses o procuravam, também os javaneses, os malaios, os muçulmanos o cobiçavam para o seu tráfico comercial.

a Timor para fazerem as suas transacções comerciais - transportando o tão cobiçado sândalo para o seu país de origem, bem como outras variedades de madeiras também procuradas6 e carregavam-nas ao ritmo das monções.

6

Não poderemos deixar de referir o pau-rosa muito utilizado na marcenaria, folheados, em obras de torno e de talha. A teca, também com grande procura, é utilizada em toda a espécie de construção civil devido à sua resistência. De salientar ainda o pau-ferro, o cedro, o pau-sapão, o ébano, entre outras variedades. 7

Pessoa, Georgina - Viagem ao Oriente no século XIX. Lamego: Museu de Lamego - DRCN, 2014.

A comunidade chinesa em Timor faz-nos recuar no tempo até ao primeiro milénio, sendo dos anos de Oitocentos as primeiras notícias da sua presença por aquelas paragens: “Já no século VII, os chineses tinham sido atraídos pela madeira preciosa não descurando o interesse pelo mel e pela cera. Comunidade que, no presente, continua a ser das comunidades de maior expressão em Timor-Leste, ligadas ao comércio.”7 Os séculos vão correndo e a diáspora chinesa vai evoluindo nos seus percursos pelo sudoeste asiático e aí se mantém criando raízes, mas

54\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO poucos laços com os autóctones por constituírem comunidades bastante reservadas. Quando os portugueses chegaram a Timor, cerca de vinte anos depois de Vasco da Gama ter descoberto o caminho marítimo para a Índia (1498), encontraram na ilha um conjunto de reinos heterogéneos, alguns deles isolados por barreiras naturais como as montanhas, falando línguas diferentes, tendo tradições e costumes diversos, o que originou a que os contactos fossem muito limitados. Esboçada pela primeira vez entre os anos de 8

1512-1513, por Francisco Rodrigues , apesar de se manifestar ainda bastante incompleta, não deixa de ter a esta curiosíssima anotação: “a ilha de Timor onde nasce o sândalo”. Verdadeiramente, só no século XVII os portugueses se fixaram em algumas regiões costeiras atraídos, também eles, pelo comércio do sândalo9, tentando escolher ou revitalizar as rotas criadas e percorridas por viajantes e negociantes chineses, estes faziam o seu tráfico comercial entre Malaca, Solor, Timor, Molucas e Macau, logo seguidos pelos rivais holandeses. Até aos finais do século XIX a presença portuguesa na ilha, limitou-se a pouco mais que um comércio parcamente desenvolvido mas lucrativo, e à missionação, que na segunda metade da época de Quinhentos, parece ter dirigido a sua atenção para este lado do mundo, mormente os Dominicanos e a Companhia de Jesus. A tudo vai assistir a comunidade chinesa já aí instalada - à chegada dos portugueses nos alvores do século XV, às trocas comerciais de portugueses, espanhóis, holandeses e ingleses e acompanhá-las até ao século XVIII, estas tornaram-se um desafio para o seu desenvolvimento, quer pelos costumes ocidentais quer pelo pensamento, tão adversos dos seus e pela rivalidade que criavam às suas conjunturas negociais. Na segunda metade do século XVIII, esta comunidade assumiu, praticamente, o domínio da actividade comercial com Macau, bem como uma hegemonia da mão-de-obra nos diversos mesteres face à impreparação, para os diversos serviços apresentada pelos timorenses, e não podemos deixar de salientar que a presença de europeus por aquelas paragens era muito

8

“Entre 1512 e 1513, a ilha de Timor é pela primeira vez cartografada por um português. Francisco Rodrigues numa das vinte e seis cartas do seu Livro manuscrito debuxou com especial cuidado essas ilhas outras também de especiarias que, estendendo-se das Flores as Molucas, navegando por Solor, Komba, Amboina… convocavam ainda um espaço insular incompletamente desenhado, uma espécie de limite, mas no qual se esclareceu cuidadosamente que aquela era «a ilha de timor onde nasce o sândalo».” Sousa, Ivo Carneiro de - A História de Timor e a Presença Portuguesa na Insulíndia. Biblioteca Central da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto, 1997. 9

Este produto constituiu o centro da actividade marítima e comercial dos Portugueses na Insulíndia até cerca de meados do século XIX. A sua exportação fazia-se sobretudo pelos portos do litoral oeste do território: Mena, Lifau, Batugadé, etc.; mas também, Dili e Manatuto, na parte central da ilha. Figueiredo, Fernando Augusto - Timor. A Presença Portuguesa (1769- 1945). Porto: Faculdade de Letras, 2004.

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10

Cf. Torres, José - Índia, Macau e Timor - Diversos Apontamentos e Documentos Antigo. Papeis da Ásia. Breve Narração da Ilha de Timor. AHU, Maços de José Torres. Alves, Edmundo; Bagulho, Fernandes - Património de Influência Portuguesa. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2012.

10

reduzida, em finais do século XVIII, haveria em Timor cerca de quarenta portugueses , o que lhes propiciava uma liberdade grande para consumarem as suas transacções, mesmo não sendo a diáspora chinesa, por essa altura, muito numerosa: “no último quartel de Setecentos estariam radicadas na ilha cerca de trezentas famílias oriundas da China.” 11

11

Alves, Edmundo; Bagulho, Fernandes - Património de Influência Portuguesa. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2012. 12

“A emigração chinesa, incentivada pelas potências ocidentais então presentes na região, devido às suas necessidades de mão-de-obra e ao negócio que constituía, tornou-se mais intensa nesta segunda metade do século XIX, a partir do Guangdong e do Fujian, pelo Sul. Aproveitando as condições que, no interior do Celeste Império, geravam os excedentes populacionais, e a abertura de alguns portos no litoral sul do Continente ao Ocidente, milhões de chineses deixaram a sua terra e foram estabelecerse em vários pontos do Sueste Asiático. Timor foi também compreendido nesta vaga migratória. Sobre o assunto Cf. Figueiredo, Fernando Augusto - Timor. A Presença Portuguesa (1769- 1945). Porto: Faculdade de Letras, 2004.

Passado mais de meio século a situação vai modificar-se e a população chinesa na ilha vai sofrer um forte acréscimo12: “(…) tendo então aumentando o número de chineses residentes, sobretudo oriundos de Macau, chegando a 2.000 na década de 1930, concentrados maioritariamente em Díli.”13 Não só em Díli se fixaram mas também em algumas povoações do litoral e mesmo no interior da ilha, sendo uma emigração essencialmente masculina, que acabava por regressar à China e, embora o povo chinês não fosse dado à miscigenação alguns acabavam por constituir família com o povo aborígene. Permaneciam negociantes, percorrendo todo o território, relacionando-se com os autóctones e dominando o comércio. Só excepcionalmente se encontravam ligados a outras ocupações, tais como a agricultura - com o intuito de alcançarem a exportação da cera, do mel e do café que estava a ser implementada em diversas regiões da Ilha14.

Esta sociedade chinesa radicada em Timor poucos obstáculos encontrava para poder realizar as suas actividades 13

Alves, Edmundo; Bagulho, Fernandes - Património de Influência Portuguesa. Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. 14

Durante a década de 1860, a cafeicultura adquiriu grande importância na economia de Timor, chegando a atingir metade do valor das exportações.

mercantis, porque o Governo do Continente tinha deixado, aquela província ultramarina, praticamente votada ao abandono. Temos notícias precisas e preciosas, do ano de 1891, sobre a situação político-administrativa, económica e social de Timor, que até nós chegaram pela mão do então governador Cipriano Forjaz de Sampaio, e nos facultam uma visão abrangente da falta de portugueses por aquelas paragens e o estado de abandono daquelas possessões: “vergonhosisimo é o estado em que encontrei tudo isto. Em frente do Palacio, uma ponte,

56\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO que me obrigou a desembarcar ás costas d'um preto; - Deante da [--] fazenda, restos importantes d'outra ponte, que abandonada, patenteando está, a todos a nossa incuria e desleixo. As ruas da cidade, e sua arborisação, cheias de matto; lixo, e abandono. Duas das pontes, na principal rua, quasi intranzitaveis, com grande prejuiso para o commercio, e risco dos transeuntes. Os antigos Edificios do Estado, cahindo em ruinas. Os modernos, sem as caiacões; pinturas e limpesas devidas, denotando a decadencia, que os holandeses tanto apregoaram em Batavia e Socrabaia. A residençia de Lahane, sem agoa, por deixarem destruir a canalisação de bambus; sem mobilia; as janellas sem vidros, xxx. Os edificios em construcção e de necessidade urgente, como pharol e paiol, abandonados. É repugnante e extraordinario, Ex.mo Sr, o estado a que se deixou chegar a capital d'uma colonia prospera e a unica, que representa a nossa civilização e dominio na Occeania. (…) Residencia de Lahane 8 de 15

Fev 1891” .

Prosseguindo no tempo, os princípios da Conferência de Berlim (1884-1885) fizeram doutrina, determinando normas à colonização europeia, para Portugal que tinha territórios em África, Ásia e Oceânia, o desafio foi enorme e, em Timor, o torrão mais longínquo e no qual a soberania era mais teórica do que prática, as dificuldades eram acrescidas. O novo Governador que comandava agora os destinos da Ilha, Celestino da Silva (1894 -1908), fortemente apoiado pelo Rei D. Carlos, vai adoptar fortes medidas contra a instabilidade que assolava o território, e essas medidas vão atingir grandemente a comunidade chinesa que negociava sem qualquer impunidade: quase não pagando impostos, fazendo uma concorrência desonesta e aliciando os régulos timorenses a sublevarem-se contra o domínio português. A primeira medida tomada foi o condicionamento do comércio aos chineses cujo número, como já referimos, tinha vindo a aumentar: “É expressamente prohibido desde 1 de janeiro de 1895 o estabelecimento de commerciantes chinezes quer com residencia fixa quer ambulantes fora das seguintes

15

Sampaio, Cipriano Forjaz de - Caderno de cópias da correspondência oficial do Governador de Timor. Manuscrito, 1891-1892.

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16

Figueiredo, Fernando Augusto - Timor na Viragem do Século XIX para o Século XX: Tipos de Colonização e seus Agentes. Colóquio Timor: Missões Científicas e Antropologia Colonial. AHU. Maio, 2011. 17

localidades: Dilly, Liquiçá, Aipello, Maubara, Cotubaba, Batugadé, Okusse, Manatuto, Baucau, Lautém e 16

Viqueque.” Nos primórdios do século XX, o mesmo Governador, para evitar o abate indiscriminado da árvore do sândalo toma medidas e chega mesmo a proibir a sua extracção, medidas que não foram cumpridas nem pelos chineses nem pelos holandeses, por falta de fiscalização.

Os estabelecimentos escolares foram aumentando e, em vésperas da ocupação indonésia, eram já dezoito.

Muito diligentes, metódicos e trabalhadores foram criando raízes e erigindo na ilha as suas próprias instituições, procurando conservar uma integridade cultural e religiosa, melhor dizendo, preservando as vetustas tradições chinesas, às quais nunca renunciaram. No início do século XX fundaram em Timor-Leste um clube chinês - o Chum TuK Fong Su - que veio a dar origem, posteriormente, a uma Associação Comercial Chinesa, a uma Escola cujos currículos leccionados eram os chineses e a um Templo no qual se praticavam as suas confissões religiosas. Conseguiu assim a diáspora chinesa em Timor ter o seu próprio cemitério, a sua escola chinesa17 e o seu templo chinês. Não poderemos deixar de realçar que as comunidades chinesas costumam ser bastante impenetráveis e, tal facto, é atribuído aos preceitos do confucionismo e do taoísmo, religiões que professam e tão importantes são ao seu quotidiano espiritual. A economia timorense muito beneficiou com a presença dos “chinas”, como os designam e, tal facto, pode avaliarse nos dias de hoje, pelo número de estabelecimentos comerciais dispersos pela ilha mas, particularmente, em Díli. Para asseverar esta nossa afirmação o mais recente centro comercial o “Timor Plaza” é pertença de uma família chinesa e um novo espaço mercantil arrancou com a mesma proveniência. O número de pessoas de nacionalidade chinesa a residir, nos dias de hoje, em Timor-Leste oscila entre os onze e as doze mil pessoas e o governo chinês tem prestado, neste últimos anos, apoio monetário e humanitário a Timor. A comunidade chinesa

58\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO com as suas ligações comerciais e familiares à China continental, encontra-se muito presente na sociedade timorense, contribuindo para o seu desenvolvimento e sendo esta uma fonte de rendimento que ambiciona não perder.

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\59

Tamborete Madeira (Ébano?), mármore Colecção da Família Mascarenhas Gaivão

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Mesa Madeira (Ébano), mármore Colecção da Família Mascarenhas Gaivão

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Pescador Escultura de vulto Raíz (Madeira exótica) Colecção da Família Mascarenhas Gaivão

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MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\63

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66\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO TORRES, José - Índia, Macau e Timor - Diversos Apontamentos e Documentos Antigo. Papeis da Ásia. Breve Narração da Ilha de Timor. AHU, Maços de José Torres. XIMENES, Fernanda de Fátima Sarmento - O TAIS - Desde os Primórdios à Contemporaneidade. Paper presented at the conference 'Timor-Leste: Memórias e História da Antropologia' on 4th August 2012 (UNTL - Díli), online version of 16th October available at http://www.historyanthropologytimor.org/(date of Access 22-4-2015).

FAC-SÍMILE Caderno de cópias da correspondência oficial do Governador de Timor Timor, 1891

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CADERNO MUSEOGRÁFICO FAC-SIMILE Caderno de cópias da correspondência oficial do Governador de Timor Timor, 1891

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Design Gráfico de Comunicação Luís Sebastian Patrícia Brás

Material de Divulgação banner

104\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO

CONVITE A Direção Regional de Cultura do Norte, o Museu de Lamego e a Diocese de Lamego têm a honra de o/a convidar para a inauguração da exposição «Memórias de Timor em Lamego», no próximo dia 2 de maio, pelas 16h00, no Museu Diocesano de Lamego.

[Em]COMUM

Projeto

ARQUIVO MUSEU DIOCESE LAMEGO

Uma cidade. Dois museus

One city. Two museums

Material de Divulgação convite

MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO \\105

DIOCESE LAMEGO

Projeto

[Em]COMUM Uma cidade. Dois museus

[Em]COMUM Uma cidade. Dois museus

Projeto

ARQUIVO MUSEU

ARQUIVO MUSEU DIOCESE LAMEGO

One city. Two museums

One city. Two museums

Contactos | Contacts Museu de Lamego

Largo de Camões 5100-147 Lamego PORTUGAL Tel + 351 254 600 230 | [email protected] www.museudelamego.pt | /museu.de.lamego

Arquivo Museu Diocesano de Lamego Casa do Poço: Largo da Sé 5100-098 Lamego PORTUGAL Tel. + 351 254 666 195 |[email protected] /museu.diocesanodelamego

Material de Divulgação Contactos | Contacts Museu de Lamego Largo de Camões 5100-147 Lamego PORTUGAL Tel + 351 254 600 230 | [email protected] www.museudelamego.pt | /museu.de.lamego

Arquivo Museu Diocesano de Lamego Casa do Poço: Largo da Sé 5100-098 Lamego PORTUGAL Tel. + 351 254 666 195 |[email protected] /museu.diocesanodelamego

pendão e cartaz A4

106\\ MEMÓRIAS DE TIMOR EM LAMEGO

Arquivo Fotográfico da Exposição Paula Pinto

Exposição montagem

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Exposição montagem

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Exposição montagem

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Exposição montagem

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Exposição pormenores

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Exposição pormenores

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Exposição pormenores

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Exposição pormenores

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Exposição pormenores

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Exposição pormenores

[Em]COMUM

Projeto

ARQUIVO MUSEU DIOCESE LAMEGO

Uma cidade. Dois museus

One city. Two museums

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