Memórias de um professor que virou índio Poti no Ceará, 2005 (Literatura de Cordel)

May 26, 2017 | Autor: Alexandre Gomes | Categoria: Cultura Popular, Literatura de cordel, Etnicidad
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Selo PalavrAndante COLEÇÃO "CORDELIZANDO A HISTÓRIA N?2

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NOVAS VELHAt HISTÓRIAS 80PEIÔIÔ

Apoio Cultural: M u s e u iiiiiiiiiiiii IIIIIIIHIIIIII

D o CEARÁ

Diálogos^ Intempestivos

Autor: Amanay Parangaba HmÓMAS DC VHPMHSSQR QUE VIAÒU ÍVDIO POTI NO SÍAÊIÁ No começo eu dava aula Nas brenhas lá do sertão Não metia aluno em jaula Só palmatória na mão Eu tinha um velho ditado Pra aluno que é invocado Deus no céu e eu no chão! A vila duma escolinha Bem pobrezinha, coitada índios mansos moradores Gente cristianizada Perdiam-se nos sermões: Há mais de três gerações Educando a indiadâ. Viajava os sete cantos E recantos do sertão Da beira do Siará Até o velho Chicão. Já vieram foi falar Que me viram num lugar Que eu num tinha ido não! Das bandas do Rio Açu Direto pra Cabrobró Do Rio Itapicuru Eu ia pra Mossoró, E dava aula em Sobral Onde num passava mal, Só se a chuva era torói

Pois isso era meu ofício Minha sina, ganha-pão NuncaJoi um artifício, De maldade, enganação Enquanto vivo estivesse Eu faria a santa prece Pra lecionar no sertão! Ensinando no sertão Achava que ia passar; Uns pensamentos c?orretos Para índio se ajeitar Parar com idolatria Falsos deuses, agonia! Só em Cristo acreditar!! Pros meninos ensinava Músicas sacerdotais Já pensando em afastar O maldito Satanás Vindo se manifestar E o juízo perturbar Naqueles seus rituais!

V.

Dos mais velhos eu tirava A sua mania medonha Possuir várias mulheres Um costume sem-vergonha Introduzindo o pecado Não se fica mais pelado

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sonha!

Com suor ia levando O meu trabalho divino Afastar o tal Pajé Me aproximar dos meninos Não temia tentação Vindo, pedia perdão E desde bem pequenino! Muitos iam-se embora Se embrenhavam e fugiam Não dava para evitar Levas de índios que iam Atrás de seus principais: Os seus mentores mentais Chefes que sempre amariam. E numa dessas missões Que fui eu designado: Descer índio lá da mata E torná-lo um aldeado Cornbater idolatrias Crenças, vis feitiçarias Fui para isso convocado. A bendita expedição Que causava-me fascínio Estava disposta até Levá-los ao extermínio Se não fossem prisioneiros Levados aos cativeiros Entregando-nos domínio!

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Composta de militares índio bem manso e cristão Passamos por vários dias Momentos de provação Não queríamos topar Qom quem fomos encontrar Os Potis desta nação!

Não sei o que eles viram Num sinal de minha testa O trago desde criança Foi um dia todo em festa. Varando a noite, fogueira Cauim, santa brincadeira Queria saber: "-0 quemsta!?"

Sabia que eles seguiam Os nossos passos de perto ,E nunca admitiriam Muito disso estava certo Invasão de suas terras Dos lagos, rios e serras Já que índio é muito esperto

Pouco depois me disseram Que eu era o tal escolhido Uma reencarnação Dum velho líder já ido A pessoa que trazia Com a sua companhia O novo tempo vivido.

Logo na primeira noite Deram-me várias dás suas Eu não pude resistir Pois estavam todas nuas Fui levado por instinto Afirmo: gostei, não rninto! Deitamos por várias luas!!

Começaram a pintar E me deram de beber Eu envolvido e tomado Não sabia o que fazer Nem o corpo obedecia Que diabo acontecia?! A solução foi correr!

Eu era seu prisioneiro Isso já tinha notado E por isso estava tendo Um redpbrado cuidado Eles iam me engordar E depois sacrificar No seu rito consagrado

Corri pra mata sozinho E foi quando começou Ali pude ter noção Do mistério que reinou Pude ver almas penadas Tão bravas e indignadas E uma voz alta falou:

"-Você é a encarnação de um bravo herói Tupi Pajé, chefe, principal E quando sair daqui Levará esta nação pra terra da salvação: A terra de Amanay" Após isso eu desmaiei Fiquei por dias domiindo Acordei muito assustado Despontava um dia lindo Muita gente ao meu redor Escorrendo de suor Uns chorando outros sonindo. Bem quando eu me levantei Outra festa começaram Pois pensaram que eu morrera Por isso desesperaram Eu muito atento fiquei Ri, comi, bebi e bailei Todos eies me louvaram! Desse modo comecei Entre os índios minha sina Fui seu chefe, rei. Pajé Uma luz que os ilumina Levando aquela nação Migrando pelo sertão Buscando a sombra divina.

Abandonei a família Na vila civilizada E esqueci da existência Não quis mais saber de nada Levando vida selvagem De festa e de beberagem Ensinando a criançada! Marcaram a minha pele Com tinta de jenipapo A obrigação de um chefe: Provar que não era papo! E não mais quis esconder O orgulho em pertencer: Potiguara, não escapo! Mulheres eu tinha dez Sem contar minhas amantes Estava gostando de lá Agora melhor que d'antes Não tinha de suportar A mulher me aperriar Tinha uma a cada instante! E o tempo assim passou Pensaram ter eu morrido Os brancos não esperavam Um homem sobrevivido O sagrado meu sinal Foi o aviso divinal E dessa forma sentido.

Vivi por anos na mata Como um nativo real: Fui chefe daquele povo Seu cfíefensor ancestral Esqueci religião Cristo, Deus, a salvação Não esperava o final. Uma outra expedição Para as matas foi mandada Invadindo nossa aldeia Quase que não sobra nada Esfaquearam criança Perna, braço, OIIK), pança Eita, gente desgraçada!! Trouxe como prisioneiro Todo o guerreiro adulto As cunhas foram deixadas: Todas ficaram de luto! O sangue de curumim Escorria até a mim: Foi um massacre tão bruto! Agora aqui eu estou Julgado como um escória Nessa fogueira queimando Para da Igreja, a glória Fui índio por várias vezes Conforme ordenam os deuses Respeitem a minha História! Revisão de Texto: Guethner Wirtzbiki

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