Mercado de Barro - Memorial

June 3, 2017 | Autor: Gustavo Tenório | Categoria: Architecture, Green architecture, Earthen Architecture
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Descrição do Produto

Mercado de Barro Gustavo Tenório Projeto VI

1. Contexto urbano e paisagístico O projeto faz parte do plano urbanístico “Ensaio da Garça”, feito para a área próxima à oficina de Francisco Brennand que atualmente é coberto por mata preservada. O plano prevê um bairro majoritariamente residencial, definido por uma via principal que segue o desenho do Rio Capibaribe, afastada 120m deste, e por quadras que se estendem da via principal até o espaço delimitado pela atual estrada que leva a oficina. O projeto foca em incentivar a andabilidade e urbanidade do bairro, com a presença de vias locais em nível, calçadas largas, arborização e edifícios de uso misto, e em manter uma relação harmoniosa com o Rio Capibaribe e a reserva, com seu parque linear paralelo ao rio e vistas abertas para a mata. A inclusão de um mercado público no centro do bairro, já prevista no plano original, busca atender uma demanda presente neste pedaço da Região Metropolitana do Recife por um espaço estruturado para comércio popular, evidenciada pela presença de numerosas barraquinhas nos bairros próximos atualmente ocupando espaços de praças ou calçadas. A nível local, o mercado deve ajudar a integrar o bairro planejado aos existentes e incentivar o uso da praça onde está inserido, de modo à aumentar o movimento de pessoas no local e consequentemente a sua segurança (“Morte e Vida nas Grandes Cidades”, JACOBS, Jane, 1961). Sua localização central foi escolhida para facilitar a comuta a pé ou de bicicleta de qualquer parte do bairro, tal como dos visitantes que cheguem pela ponte que chega da Várzea. Do ponto de vista paisagístico a localização é extremamente privilegiada. A noroeste fica a reserva ecológica, que por possuir um relevo mais alto que o da praça, é visível desde a travessia da ponte. A nordeste fica o respiro da mata, uma faixa de área preservada que serve para permitir manter a conexão ecológica entre o rio e o resto da mata, de modo que diminua o impacto da construção do bairro. A sudeste fica o rio Capibaribe, separado da quadra da intervenção pela via principal, o parque linear e o afastamento de 60m.

Figura 1: Plano urbanístico e área de intervenção

2. Implantação

A definição da implantação do mercado veio a partir da busca do aproveitamento de luz e ventilação natural, de modo a diminuir o gasto energético do edifício e aumentar do conforto térmico dos usuários, e a sua integração ao contexto do plano urbanístico. Desta forma, foi decidido pela orientação do seu eixo longitudinal no sentido Sudeste-Noroeste, de modo que o vento flua ao longo dos corredores e minimize o efeito de barreira de ventilação natural causado pelo edifício. Esse eixo foi locado em paralelo ao eixo da ponte, liberando a vista da chegada para a reserva e aproximando o mercado da rua lateral da quadra, o que serve para criar maior integração entre a rua, a quadra localizada a oeste e o prédio. Esta implantação também permite que o edifício projete sua sombra sobre a praça durante o período da tarde, criando uma ambiente mais fresco no seu perímetro.

Figura 2: Rosa dos ventos de Recife

As dimensões do edifício foram definidas a partir de estudos preliminares que buscavam o equilíbrio entre espaço de circulação, tamanho de boxes, impacto na paisagem e sistema estrutural. Levando em consideração esses fatores, chegou-se ao bloco paralepipedal de 80m x 45m (aproximadamente 3600 m²), mais uma área coberta de 30m x 20m (aproximadamente 600m²).

Figura 3: Esquema conceitual da implantação

3. Programa, fluxos e zoneamento

Partindo da lógica da implantação, a organização da arquitetura foca nos objetivos de facilitar o fluxo de visitantes e locatários, incentivar a vitalidade urbana no entorno e simplificar as instalações dos sistemas de água, gás e eletricidade. A proposta se baseia nas teorias presentes nos livros “Cidades para as pessoas” de Jan Gehl e “Walkable City” de Jeff Speck, que mostram a importância do comércio no limite da calçada para criação de espaços urbanos ativos, para a criação de suas três fachadas com comércio e juntar o edifício à calçada da rua lateral. O zoneamento proposto traz o bloco de serviços, banheiros, estacionamento e instalações concentrados na face noroeste, mais afastados da avenida principal e da praça e possibilitando maior integração entre o fluxo externo entre a praça, a rua lateral e a avenida com o fluxo interno entre os boxes. No eixo transversal do mercado foi criado um hall com 11m de largura que liga a rua à área coberta e, posteriormente, à praça, que distribui os transeuntes para os cinco corredores para os quais os boxes estão virados. O corredor localizado no eixo longitudinal, de 4m de largura, abre para o estacionamento e para a avenida, servindo para os visitantes que chegam de carro ou vêm do parque linear, para acesso e carga pelos locatários e saída de emergência em caso de sinistros. Todos os corredores são acessíveis de acordo com a NBR 9050. Um dos corredores paralelos ao hall principal da acesso aos banheiros e equipamentos de apoio e o outro ajuda a distribuir o fluxo entre os corredores de compras. Aberturas nas fachadas da rua e da praça servem para permitir o fluxo de ar também no sentido Leste-Oeste. Todos os boxes localizados no perímetro do edifício são abertos para o lado de fora, permitindo seu funcionamento independentemente da abertura do mercado e incentivando o fluxo de pedestres pela área. Do total de 182 boxes, 18 serão exclusivamente para alimentação, localizados na fachada da praça e na fachada da avenida e 18 serão exclusivamente para peixes, carnes e aves, localizados próximo ao setor de serviços no sudoeste para que o vento sudeste evite que o cheiro se espalhe. Os outros 146 serão de

uso livre, com exceção da venda de peixes, carnes e aves por conta de suas necessidades específicas de instalações e cheiro forte exalado. O bloco de serviço inclui dois vestiários (um masculino e um feminino), dois banheiros (um masculino e um feminino), um depósito, um frigorífico e um refeitório. A inclusão dos vestiários, equipamento frequentemente negligenciado em projetos de mercados, é importante para incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte dos locatários, que poderão utilizar as instalações para banhar-se após chegar. Os banheiros possuem cada um 10 sanitários, sendo um deles acessível, baseado em cálculo feito com a fórmula dada por Hélio Creder no livro “Instalações hidráulicas e sanitárias”.

Estacionamento

N

Figura 4: Zoneamento

4. Estrutura e materiais

A escolha dos materiais utilizados na construção foi uma parte importantíssima do projeto de concepção de projeto e norteou toda a composição da arquitetura. Para a sua definição foram levados em conta o impacto ambiental do seu processo de construção, disponibilidade no mercado, custo, durabilidade, mão de obra disponível e qualidades estéticas. Um dos materiais mais utilizados no projeto é o aço galvanizado, compondo a estrutura da coberta, os portões e gradis. A opção foi feita porque o aço permite o uso de colunas mais delgadas para lidar com uma carga alta, diminuindo o gasto do espaço interno do mercado com a estrutura, além de fazer

uma referência aos mercados tradicionais que usam estruturas de ferro. A galvanização serve para evitar a corrosão da estrutura e aumentar seu tempo de vida ao mesmo tempo que poupa a necessidade de pinturas ou outros revestimentos. O material exposto serve como contraponto à linguagem tradicional da composição do edifício, devido à associação do aspecto metálico com modernidade e desenvolvimento tecnológico, e também ajuda a refletir a luz nos espaços internos. O aço galvanizado, assim como mão de obra qualificada, é facilmente encontrado no mercado brasileiro e possui empresas especializadas no nordeste.

Figura 5: Exemplo de estrutura de coberta com aço galvanizado

O telhado será feito com telhas plásticas, feitas com um composto de resinas poliméricas e carbonato de cálcio, em cor verde nas oito águas dos dois primeiros níveis e translúcidas no topo da coberta. Esse tipo de telha pesa muito menos e tem desempenho térmico semelhante às telhas tradicionais de cerâmica, além de serem mais duráveis e simples de montar. Apesar de custarem mais que os telhados comuns, elas trazem economia no gasto com a estrutura, mão de obra e manutenção. Empresas presentes no estado de São Paulo atualmente fornecem esse produto no Brasil.

Figura 6: Coberta com telhas poliméricas

Para as paredes externas e internas serão usados tijolos de adobe feitos com terra movida no nivelamento do terreno para a construção do bairro. O uso da terra na construção tem várias vantagens a serem aproveitadas no projeto: custo nulo com compra do material (já que todo ele será provido dos trabalhos de nivelamento feitos nas quadras próximas), baixíssimo impacto ambiental e alta resistência térmica (o que diminui a temperatura do edifício). O uso dos tijolos permite a criação de uma linha de produção no canteiro de obras, o que deve diminuir o tempo de construção. As paredes externas serão duplas e revestidas com reboco e pintura acrílica branca para melhorar o isolamento térmico e aumentar a durabilidade do material. Para as paredes internas, serão usadas paredes simples com o tijolo sem revestimento e feito com argila clara, para melhorar a iluminação do espaço.

Figura 7: Tijolos de adobe de argila clara

O anexo que conterá a caixa d’água será feito fora do bloco principal e será construído com uma estrutura de concreto armado e tijolos de adobe revestidos de azulejos cerâmicos. Na parede maior, virada para o estacionamento, deve ser feito um mosaico de azulejo por algum artista local, de modo a dar uma qualidade estética maior a chegada a partir do estacionamento. As instalações de água, eletricidade e gás serão todas aparentes e executadas em tubulações de aço galvanizado.

5. Composição arquitetônica

As decisões compositivas e estilísticas do projeto derivaram principalmente dos materiais escolhidos, do contexto urbano e de referências aos mercados tradicionais. O elemento principal e definidor do edifício é a coberta, feita em três níveis. Essa divisão da coberta para a abertura dos sheds criam as aberturas que diminuem o peso do bloco maciço e reforçam a horizontalidade do volume principal. A partir daí vem o contraponto vertical das colunas, que são aparentes do lado externo do edifício de forma a expor o sistema estrutural e a lógica de sua organização para o usuário. As aberturas feitas pelos gradis nas paredes criam variedade na fachada extensa e ajuda a criar uma conexão visual

entre o interior e o exterior, para incitar os transeuntes a entrar e comprar e manter os compradores dentro do prédio com noção do entorno. A coberta localizada na fachada nordeste do edifício foi criada para servir como abrigo para os clientes das barracas de alimentação, extensão do hall central do edifício e marcação do acesso principal. A escolha de uma coberta mais sutil de alumínio e escondida por uma platibanda é para criar um elemento mais leve, análogo a abertura do primeiro nível ao invés da coberta principal.

Figura 8: Fachada virada para a praça (Nordeste)

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