Mestres Papeleiros Genoveses em Alcobaça (Breves apontamentos )

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Jornal da Golpilheira

. entrevista . história .

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Julho de 2015

Figura 1 - Fábrica de papel em Alcobaça em 1905. Autos de Concessão, LRA-Piso-1/Dep.III/79/C/3-79/D/2, PT/ADLRA/AC/GCLRA/E/097-014 - Imagem cedida pelo Arquivo Distrital de Leiria (Agradecemos, muito penhoradamente, à Doutora Paula Cândido, Diretora do Arquivo Distrital de Leiria).

1878, fl. 10v.-11). Deste enlace nasceu Áurea, a 19 de fevereiro de 1880, mas cujo registo de batismo se fez 29 de março de ano, onde José António de Sousa surge como empregado na fábrica da Fervença (A.D.L., L.P.A., Batismos de 1880, fl. 48v.-49). Não é de excluir a possibilidade de José Lázaro Gambino ter também trabalhado na fábrica de Papel do Prado, atendendo ao facto de os padrinhos de batismo terem sido “Nicolao Testa e sua irmã Ana, ambos do Prado, junto a esta dita Pedreira.” Estes eram primos de José Lázaro Gambino, uma vez que sua mãe, Antónia Gambino, casada com Bartolomeu Testa, era irmã de Pelegro Gambino, seu pai. Sabemos também, que a 20 de julho de 1880 fora batizado em Porto de Mós, um filho de António Branco, oficial do papel, e de Maria Vitória, ambos naturais da freguesia de Pedrógão, concelho de Torres Novas e moradores em Rio Alcaide, onde laboravam. Os padrinhos desse batismo foram, Francisco Gambino, solteiro, fabricante de papel e a madrinha Isabel Mendes da Costa, casada com Pelegro Gambino, ambos residentes em Rio Alcaide (A.D.L., Livros Paroquiais de Porto de Mós (L.P.P.M.), Batismos de 1880, fl. 22-22v.). Comprovamos assim, que a família Gambino, posicionarase nas principais fábricas da região centro do país, enquanto fabricantes de papel, especialmente no Sobreirinho, no Prado (Tomar), em Rio Alcaide (Porto de Mós) e Alcobaça (PORTELA, Miguel, A indústria papeleira na região de Leiria no Portugal oitocentista. Apontamentos para o estudo do fabrico do papel no distrito de Leiria, Cadernos de Estudos Leiriense-2, Editor: Carlos Fernandes, Textiverso, 2014, pp. 181-200). A 6 de outubro de 1883, José Lázaro Gambino procedeu ao trespasse da sua fábrica de papel, com o papel, trapo e utensílios nela existentes nessa

data, a seu filho António Gambino, por um valor superior a dois contos de réis, sendo que uma das condições do trespasse acordado entre ambos foi de António Gambino dar sociedade a seu irmão Francisco Gambino logo que este chegasse à maioridade. Referimos, ainda, que nesta escritura foram «testemunhas presentes Francisco Henriques do Rosario, casado, e Joaquim do Nascimento Jordão Junior, solteiro, maiores, ambos empregados na sobredita fabrica de papel, e moradores n’esta villa» (Doc. 2). Legitimamos, também, que a circulação de mestres papeleiros entre os diversos centros da indústria papeleira em Portugal, se fazia com alguma frequência, motivada pela dinâmica empresarial da época e por falência ou (re)abertura de algumas fábricas na região centro do nosso país. Veja-se o caso de João Martins, fabricante de papel, natural de S. Silvestre da Lousã, casado com Ludovina da Costa, natural de Tomar e que a 15 de agosto de 1866 se encontrava a trabalhar em Alcobaça, batizando nessa data seu filho José e a 8 de setembro de 1869 batizando sua filha Ana (A.D.L., L.P.A., Batismos de 1866, fl. 23v.). Neste último registo a madrinha de batismo foi Ana Gambino, solteira que vivia em casa de seus pais, José Lázaro Gambino de Carolina Mendes (A.D.L., L.P.A., Batismos de 1869, fl. 14). Na Chorographia Moderna, publicada em 1876, faz-se referência à existência de duas fábricas de papel restringidas no distrito de Leiria: uma em Porto de Mós e outra em Alcobaça (BAPTISTA, João Maria, Coadjuvado por seu filho, OLIVEIRA, João Justino Baptista de, Chorographia Moderna do Reino de Portugal, Typographia da Academia Real das Sciencias, Lisboa, 1876, vol. IV, pp: 7-10; 150-151). No Almanach Commercial de Lisboa, de 1886, alude-se a duas fábricas de papel no distrito de Leiria, sendo que uma se

refere à fábrica de José Gambino em Alcobaça, cuja fundação se regista justamente em 1863, e a outra corresponde a uma fábrica de papel propriedade de Ângelo da Silva Coelho em Porto de Mós (Almanach Commercial de Lisboa, Op. Cit., p. 145). Ângelo da Silva Coelho foi proprietário e fabricante de papel em Rio Alcaide, tendo sido casado com Guilhermina Rita da Conceição, conforme se registou no batismo de seu filho João, a 15 de julho de 1883, na freguesia de S. João Batista dessa vila (A.D.L., L.P.P.M., Batismos de 1883, fl. 79v.-80). Anos mais tarde, e a 30 de novembro de 1897, Francisco Gambino, solteiro e proprietário, morador em Alcobaça, requeria ao Administrador do Concelho licença para instalar uma fábrica de papel para embrulho nessa vila (A.D.L., Administração Central do Governo Civil de Leiria, Autos de Concessão, Fábrica de Papel de Alcobaça, 79-C-3, 1897, fl. 2). Após o falecimento de Pelegro Gambino e de José Lázaro Gambino, ocorridos em Alcobaça, a 7 de agosto e a 19 de setembro de 1898, respetivamente, a indústria papeleira em Portugal perderia dois exímios mestres papeleiros genoveses que deixando a sua pátria, souberam contribuir para o engrandecimento e riqueza da região centro do nosso país (A.D.L., L.P.A., Óbitos de 1898, fl. 10v.11; 13). José Lazáro Gambino poderá ser um descendente de familiares de José Gambino que a 5 de Maio de 1710 com Bartolomé Piombino contratualizaram fabricar papel em Faramello na Galiza, ou ainda de um António Gambino, filho de João Gambino e Maria Gambina, naturais de Voltri (Génova), onde foi batizado na igreja de Santo Ambrósio. Este António Gambino, casou a 31 de julho de 1715 na igreja S. Pedro do Carvalhal termo da vila de Óbidos (atualmente freguesia

do concelho do Bombarral), com Ana Maria, filha de Manuel Gomes dos Santos e de Mariana da Conceição, moradores na Quinta da Granja do Carvalhal (A.D.L., Livros Paroquiais do Bombarral (L.P.B.), Casamentos de 1715, fl. 82). António Gambino faleceu a 7 de Setembro de 1743 tendo sido sepultado na igreja de S. Pedro do Carvalhal (A.D.L., L.P.B, Óbitos de 1743, fl. 198). No Almanach Palhares, publicado em 1903, por seu turno, há menção ao fabrico industrial de papel, em Porto de Mós, sem que, no entanto, saibamos se se tratava de uma ou mais fábricas (Almanach Palhares, Burocratico, Commercial e Industrial do Continente, Ilhas e Ultramar, Propriedade de PALHARES, A. e MORGADO, A., Coordenado por SANTONILLO e MORGADO, A., Typographia da Papelaria Palhares, Lisboa, 1903, 5.º Ano, p. 603). Tratar-se-á, talvez, das duas fábricas que se referenciam no Annuario Comercial de Portugal, de 1904, sendo que uma era propriedade de Afonso Dias Moreira Padrão e a outra de Luiz António Rodrigues Gaivoto. Também na vila de Alcobaça se continuava a fabricar papel, nesse ano de 1903, existindo duas fábricas, sendo uma propriedade de António Marques Trindade, a outra de José António de Sousa marido de Ana Gambino (PORTELA, Miguel “Houve ou não fabrico de papel na Batalha no século XVI? Notas sobre o fabrico de papel no Distrito de Leiria”, Boletim Semestral da Comunidade Concelhia da Batalha, Edição n.º 2, Batalha, 2014, pp. 17-18.). Pelo exposto, não temos dúvidas em afirmar que a família Gambino ficará na História da Indústria em Portugal, assim como Alcobaça que durante todo o século XIX, sobressaiu no desenvolvimento industrial e no fabrico de papel no distrito de Leiria e no país.

Apêndice documental Documento 1

1865, agosto, 10, Alcobaça – Arrendamento de propriedades entre João da Silva Ferreira e José Gambino, ambos moradores em Alcobaça, para uso exclusivo de fábricas de papel. Arquivo Distrital de Leiria, Livro Notarial de Alcobaça, Dep. V-5-D-27, fl. 115v.-116. [fl. 115v.] Arrendamento entre o Illustrissimo João da Silva Ferreira Rino da Quinta da Gafa e José Gambino d’Alcobaça Saibam quantos esta escriptura virem que no anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Crhisto de mil oitocentos sessenta e cinco, aos dez d’Agosto nesta villa d’Alcobaça e meu cartório forão presentes o Illustrissimo João da Silva Ferreira Rino, da sua Quinta da Gafa, e José Gambino, morador nesta villa, um, e outro de mim conhecedor, e das // [fl. 116] testemunhas ao diante nomeadas e assignadas, de que dou fé, perante as quaes pelo primeiro outorgante foi dito que dava de arrendamento ao referido José Gambino as duas propriedades seguintes – Conjunto à levada nesta

villa, aonde está a maquina de distilação, e outra casa contigua aos moinhos que possue na Rua de Santo Antonio, d’esta mesma villa pelo tempo de dez annos que já comessarão no primeiro de Julho último pelo preço, o primeiro prédio, de cem mil reis, e o segundo, cincoenta mil reis annoaes, uma e outra quantias em bom metal sonante, pagas em semestres, tendo logar o primeiro no ultimo de dezembro deste anno, e assim sussecivamente com mais as condições seguintes = Que elle rendeiro não poderá dar às ditas propriedades outra appelicação que não seja para o uso de fabricas de papel: Que o espaço que o espaço que fica das columnas para a parte da maquina, tanto na loja como no andar de cima, da primeira propriedade fica excluido do arrendamento, por ser destinado a serviço da maquina, sem que elle rendeiro possa de modo algum embaraçalo: Que nunca poderá tirar a agoa a agoa da levada de modo que possa prejudicar o exercício dos moinhos acima ditos: Que faltando a qualquer dos pagamentos no dia de seu vencimento elle locador poderia logo de mandalo pelo que dever, ou despedilo ficando este contracto sem effeito. Pelo referido Joze Gambino foi dito que acceitava este arrendamento pelo referido tempo de dez annos e se obrigava a cumprir todas as condições mencionadas que bem entendia, e que obrigava seus bens em geral, e com especial hypotheca todos os utencilios, e objectos que fazem parte das ditas fabricas. Disserão mais elles outorgantes que no caso de falecer algum d’elles antes de acabar o prazo do arrendamento este, se concervará em nome dos herdeiros tanto do locatario como do rendeiro; declararão finalmente que o rendeiro tambem poderá servir-se dos dois barracões que se achão na propriedade da Rua de Santo António: Assim o outorgarão e acceitarão e eu tabelião o outorguei e acceitei em nome de quem tocar pondo testemunhas a tudo presentes Francisco dos Santos Liborio, e Carlos dos Santos Liborio que assignarão com os outorgantes, depois de lido deante de todos por mim João dos Santos Liborio que o escrevi. João da Silva Ferreira Rino João dos Santos Liborio Joze Gambino

Documento 2

1883, outubro, 6, Alcobaça Trespasse da fábrica de papel de José Gambino a seu filho António Gambino, ambos moradores em Alcobaça. Arquivo Distrital de Leiria, Livro Notarial de Alcobaça, Dep. V-4-B-25, fl. 48-49. [fl. 48] Traspasse d’uma fabrica de papel que faz Jose Gambino, casado, d’esta villa, a seu filho Antonio Gambino, solteiro, ambos d’esta villa. Saibam quantos esta escriptura virem que no anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e oitenta e três, nos seis dias do mes d’outubro, n’esta villa d’Alcobaça, no meu escriptorio, compareceram d’uma parte como primeiro outhorgante Jose Gambino, casado, e como segundo outhorgante (da outra parte) seu filho Antonio Gambino, solteiro, de maior idade, ambos fabricantes de papel, moradores nesta villa, e pessoas do meu conhecimento, pelo que dou fé serem os proprios. Na presença das testemunhas

idóneas, adiante nomeadas e assignadas, pelo primeiro outhorgante foi dito: Que elle tem estabelecida em esta villa, uma fabrica de papel, a qual traspassa ao segundo outhorgante seu filho com todo o papel, trapo, e utensílios, que n’elle e nos respectivos armazéns e cazas d’arrecadação actualmente existem. Que faz estre traspasse pela quantia de dois contos cento e quarenta e cinco mil cento e noventa reis, sendo um conto seiscentos e quarenta e cinco mil cento e noventa reis, importancia do papel e trapos, e quinhentos mil reis valor dos utensílios; Que o traspasse é feito com as condições seguintes: 1.ª Que a importancia total dos dois contos cento e quarenta e cinco mil cento e noventa reis fica em poder do segundo outhorgante para satisfazer em prestações nunca superiores a cincoenta mil reis nas epochas em que o primeiro outhorgante as exijir, devendo prender o pagamento de qualquer d’essas prestações o intervallo de quinze dias a contar do aviso que pelo primeiro outhorgante for feito ao segundo para as pagar. 2.ª Que alem das ditas prestações fica o segundo outhorgante obrigado a pagar mais ao primeiro outhorgante no fim de cada mes a contar de hoje a quantia que durante esse mes se tiver gasto, com o sustento d’elles outhorgantes e de toda a // [fl. 48v.] sua família. 3.ª Que o pagamento das prestações por conta do capital, e das despezas com o sustento d’elles outhorgantes e de sua família será feito em moedas correntes de metal sonante. 4.ª Que se o senhorio das cazas, em que se acha estabelecida a fabrica e respectivos armazens, despedir o rendeiro antes de se achar completamente solvido o capital do valor do traspasse, serão os utensílios avaliados n’essa occasião, e abater-se-ha no capital em divida tudo quanto elles valerem a menos dos quinhentos mil reis em que por esta escriptura se acham estimados. 5.º Que este traspasse tem principio desde o dia de hoje; e todas as dividas, activos e passivos do entabelecimento, contribuições directas e indirectas, rendas de cazas e armazens até hoje ficam por conta e risco do primeiro outhorgante, e de hoje em diante por conta e risco do segundo. 6.ª Que o segundo outhorgante fica obrigado a dar sociedade a seu irmão Francisco Gambino logo que este chegue á maioridade; e d’essa epocha em diante ficará este contracto de traspasse considerado como feito com ambos os sócios em partes iguais. E debaixo d’estas condições se obriga elle primeiro outhorgante a fazer este traspasse sempre bom em juizo e fóra d’elle. Pelo segundo outhorgante foi dito: Que aceita este contracto na forma exarada. Assim o outhorgaram e acceitaram, e mandaram fazer esta escriptura, que vão assignar com as testemunhas presentes Francisco Henriques do Rosario, casado, e Joaquim do Nascimento Jordão Junior, solteiro, maiores, ambos empregados na sobredita fabrica de papel, e moradores n’esta villa, depois de lida perante todos em voz alta por mim taballião Francisco Elizeu Ribeiro, que a escrevi; vou collar um sello de quinhentos reis, correspondente a esta escriptura, e assigno em publico e razo. Joze Gambino // [fl. 49] (a) Antonio Gambino (a) Francisco Henriques do Rozario (a) Joaquim do Nascimento Jordão Junior

Postal ilustrado - Vista do Açude e do Rio Alcaide - Porto de Mós.

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