Metafísica do tempo: apresentação do curso de 2015

July 5, 2017 | Autor: C. Schirmer dos S... | Categoria: história da Filosofia, Metafísica, Filosofia da Ciência, Tempo Presente, John McTaggart, Metafísica do tempo
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Apresentação do curso FAF1096 – Tópicos de Metafísica I Metafísica do tempo Licenciatura em Filosofia Universidade Federal de Santa Maria César S. dos Santos [email protected] 2º semestre de 2015

Sumário 

Objetivo



Recursos



O assunto

Objetivo

Identificar e caracterizar as principais concepções filosóficas do tempo. (do programa da disciplina)

Recursos (iniciais) 

Literatura (inicial) 

Fundamental



Auxiliar

Literatura fundamental McTaggart, John McTaggart Ellis. 2014. “A irrealidade do tempo.” Traduzido por César S. dos Santos. Kriterion 130: 747–64. doi: 10.1590/S0100-512X2014000200017. Puente, Fernando Rey, e José Baracat Júnior, orgs. 2014. Tratados sobre o tempo: Aristóteles, Plotino e Agostinho. Traduzido por Fernando R. Puente, José Baracat Júnior e Claudiberto Fagundes. Belo Horizonte: Editora UFMG.

Literatura auxiliar Comte-Sponville, André. 2006. O ser-tempo. Traduzido por Eduardo Brandão. 1999. São Paulo: Martins Fontes. BC 115 C741s (1 ex.). Bruce, Michael, e Steven Barbone. 2013. Os 100 argumentos mais importantes da filosofia ocidental. Traduzido por Ana L. R. Franco. São Paulo: Cultrix. BC 101 C394 (1 ex.) Garrett, Brian. 2008. Metafísica: conceitos-chave em filosofia. Traduzido por Felipe R. Elizalde. Porto Alegre: Artmed. Caps. 5-6. BC 111 G239m (7 ex.), BSCE (2 ex.).

Questões, problemas, assuntos  

Refutação da mudança por Parmênides Refutação da realidade do tempo por McTaggart



A natureza do presente



O agora



Alguns -ismos



Física

Mudança Vários filósofos defenderam que a mudança é condição necessária do tempo. Sem mudança, o tempo não é real. Mas, há mudança? Devemos a Parmênides o primeiro grande argumento contra a realidade do tempo a partir da irrealidade da mudança (Bardon 2013). McTaggart (2014) nos legou um argumento diferente, baseado em falhas lógicas da série-A, a qual seria condição necessária da mudança. Barbosa Filho (1999) comenta o assunto. Talvez se possa dizer que não há percepção do tempo sem percepção da mudança (Aristóteles 2014, cap. 11). Disso não segue, contudo, que só há tempo se houver mudança. Aristóteles. 2014. “Tratado do tempo: Física IV 10-14.” In Tratados sobre o tempo: Aristóteles, Plotino e Agostinho, organizado por Fernando Rey Puente e José Baracat Júnior, traduzido por Fernando Rey Puente, 23–52. Belo Horizonte: Editora UFMG. Barbosa Filho, Balthazar. 1999. “Saber, fazer e tempo: uma nota sobre Aristóteles.” In Verdade, conhecimento e ação: ensaios em homenagem a Guido Antônio de Almeida e Raul Landim Filho, organizado por Edgar da R. Marques, Ethel M. Rocha, Lia Levy, Luis Carlos Pereira, Marcos A. Gleizer, e Ulysses Pinheiro, 15–24. São Paulo: Loyola. Bardon, Adrian. 2013. “Parmênides e a refutação da mudança.” In Os 100 argumentos mais importantes da filosofia ocidental, organizado por Michael Bruce e Steven Barbone, traduzido por Ana Lucia da Rocha Franco, 84–86. São Paulo: Cultrix. Franco, Ana Lucia da Rocha. McTaggart, John McTaggart Ellis. 2014. “A irrealidade do tempo.” Traduzido por César Schirmer dos Santos. Kriterion 130: 747–64. doi:10.1590/S0100512X2014000200017.

Parmênides e a mudança P1. Change is real (assumption for reductio). P2. If change is real, then it involves either (a) an object’s coming into existence or beginning to have some property or (b) an object’s becoming nonexistent or ceasing to have some property. P3. If (P2), then there are different times, that is, past/present/future. C1. There are different times, that is, past/present/future (hypothetical syllogism, P1,P2, P3). P4. There are not different times – only the present exists. C2. There are different times and there are not different times (conjunction C1, P4). C3. Change is not real (reductio, P1–C2). (De: Bardon, Adrian. “McTaggart's argument against the reality of time.” In: Michael Bruce e Steven Barbone (eds.), Just the arguments: 100 of the most important arguments in western philosophy, cap. 14. Oxford: Blackwell, 2011.)

McTaggart simplificado P1. Só há tempo se a série A for real. (Ou seja: se o tempo é real, então a série A é real.) P2. Se a série A é real, então todo evento é passado, presente e futuro. P3. Mas nenhum evento pode ser passado, presente e futuro. C1. Portanto, a série A é irreal. (modus tollens, P2-P3) C2. Portanto, o tempo é irreal. (modus tollens, C1 e P1) (Cf. Garrett, Brian. Metafísica: conceitos-chave em filosofia. Porto Alegre: Artmed, 2008, p. 85.)

A natureza do presente O presente metafísico é um mero limite entre o passado e o futuro. O presente especioso tem duração, incluindo algum passado e algum futuro. O presente metafísico é inabitável. A concepção do presente como mera linha divisória é de Aristóteles (2014). O presente psicológico, também chamado de presente especioso, é rico de memória, e tingido de antecipações (Agostinho 2014; McTaggart 2014). O custo de manter o presente especioso é aniquilar o presente metafísico, como aprendemos com o poema “Habitar o tempo”, de João Cabral (de Melo Neto 2008). Agostinho. 2014. “Confissões XI.” In Tratados sobre o tempo: Aristóteles, Plotino e Agostinho, organizado por Fernando Rey Puente e José Baracat Júnior, traduzido por Claudiberto Fagundes, 107–55. Belo Horizonte: Editora UFMG. Aristóteles. 2014. “Tratado do tempo: Física IV 10-14.” In Tratados sobre o tempo: Aristóteles, Plotino e Agostinho, organizado por Fernando Rey Puente e José Baracat Júnior, traduzido por Fernando Rey Puente, 23–52. Belo Horizonte: Editora UFMG. De Melo Neto, João Cabral. 2008. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Objetiva. McTaggart, John McTaggart Ellis. 2014. “A irrealidade do tempo.” Traduzido por César Schirmer dos Santos. Kriterion 130: 747–64. doi:10.1590/S0100512X2014000200017.

O agora Nenhuma parte do tempo existe agora, pois o agora não tem espessura ou duração alguma. Tudo o que existe tem partes existentes. O tempo, no entanto, tem partes que existiram, partes que existirão, mas nenhuma parte que existe agora, pois o presente é mero limite entre o passado e o futuro (Aristóteles 2014, cap. 10). O tempo não é composto de agoras. Se cada agora é diferente do outro, então um agora não é simultâneo ao outro, de modo que mais de uma agora não pode compor o tempo como algo existente agora. Se cada agora é o mesmo que o outro, um agora é anterior e posterior ao outro, o que é absurdo. Logo, o tempo não é composto de agoras (Aristóteles 2014, cap. 10). Aristóteles. 2014. “Tratado do tempo: Física IV 10-14.” In Tratados sobre o tempo: Aristóteles, Plotino e Agostinho, organizado por Fernando Rey Puente e José Baracat Júnior, traduzido por Fernando Rey Puente, 23–52. Belo Horizonte: Editora UFMG.

Alguns -ismos Realismo vs. idealismo Absolutismo vs. relativismo

Realismo vs. idealismo Realismo. Se opõe ao antirrealismo, ou idealismo. O tempo como aquilo a que se referem as leis da física (Callender e Edney 2001, p. 21). Idealismo, ou antirrealismo. Se opõe ao realismo. O tempo como fenômeno a ser explicado pela psicologia. Não se conhece nenhum órgão ou parte da anatomia do corpo, incluindo cérebro, que se dedique ao tempo (Marin 2013). Callender, Craig, e Ralph Edney. 2001. Introducing time: a graphic guide. London: Icon Books. Marin, Luiz. 2013. “Tudo passa, tudo sempre passará.” In Enigmas do espaço-tempo, organizado por Luiz Marin, 6–7. São Paulo: Duetto Editorial.

Realistas, idealistas, e outros Realistas: Platão/Descartes (movimento do céu), C. D. Broad (universo em crescimento), Quine (quadridimensionalismo) Idealistas: Parmênides, Aristóteles (medida requer quem meça), Plotino (imagem móvel da eternidade), Spinoza (expressão temporal das essências reais sub specie aeternitatis), Kant (forma da percepção), McTaggart Outros: J. Tallant (o presente é real, o tempo não)

Limites à tese do tempo como algo subjetivo Por mais que as pessoas possam divergir quanto à experiência da velocidade de um evento, é raríssimo que se questione a ordem dos eventos. Assim sendo, a ordem temporal é objetiva (Callender and Edney 2001, p. 10–11; McTaggart 2014). A objetividade da ordem temporal já teria sido notada por Platão, no Timeu (Brague 2006, p. 24). Brague, Rémi. 2006. O tempo em Platão e Aristóteles. Traduzido por Nicolás Nyimi Campanário. 1982. São Paulo: Loyola. Callender, Craig, e Ralph Edney. 2001. Introducing time: a graphic guide. London: Icon Books. McTaggart, John McTaggart Ellis. 2014. “A irrealidade do tempo.” Traduzido por César Schirmer dos Santos. Kriterion 130: 747–64. doi:10.1590/S0100-512X2014000200017.

Absolutismo vs. relativismo Absolutismo. Visão defendida por Newton. Se opõe ao relativismo. O tempo como substância que existe objetivamente, e com total independência de almas, observações e perspectivas (Marin 2013). O tempo como algo cuja identidade independe de quaisquer processos, sejam esses físicos ou mentais (Callender e Edney 2001, p. 21). Relativismo. Visão defendida por Leibniz. Se opõe ao absolutismo. O tempo como fenômeno que se manifesta para alguma alma, enquadrando suas percepções, estabelecendo uma perspectiva. Callender, Craig, e Ralph Edney. 2001. Introducing time: a graphic guide. London: Icon Books. Marin, Luiz. 2013. “Tudo passa, tudo sempre passará.” In Enigmas do espaço-tempo, organizado por Luiz Marin, 6–7. São Paulo: Duetto Editorial.

Física O tempo tem direção objetiva (assimetria direcional), mas a simultaneidade é relativa (Davies 2013). Será que disso segue que o tempo não passa, nem flui? Tempo: realidade, aparência. Quais aspectos são objetivos (reais), quais aspectos são subjetivos (relativos)? A assimetria passado-futuro é objetiva (Davies 2013). A simultaneidade é relativa (Davies 2013). Davies, Paul. 2013. “O fluxo misterioso.” In Enigmas do espaço-tempo, organizado por Luiz Marin, 8–15. São Paulo: Duetto Editorial.

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