METÁFORAS E GESTOS: ANÁLISE DOS PRECEDIMENTOS CINÉSICOS NA CRIAÇÃO DE METÁFORAS EM NARRAÇÕES ORAIS EM LÍNGUA BASCA, CATALÃ, ESPANHOLA, GALEGA E PORTUGUESA. (Póster)

May 24, 2017 | Autor: Aitor Rivas | Categoria: Metaphor, Metafora, Metáforas, Personal Narratives, Kinesics, Comunicação não verbal
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Metáforas e gestos:

análise dos procedimentos cinésicos na criação de metáforas em narrações orais em língua basca, catalã, espanhola, galega e portuguesa. Aitor Rivas - Universidade de Vigo, Galiza

INTRODUÇÃO Neste trabalho pretendo analisar a importância da intervenção da comunicação não-verbal (nomeadamente os gestos manuais) nos procedimentos de metaforização cinésica para transmitir e representar metáforas nesses relatos orais. Com a análise pode-se observar a alta capacidade metafórica dos procedimentos cinésicos para criarem metáforas dentro da narração. Por isto, a cinésica tem uma importância não menor à do nível verbal na interação. OBTENÇÃO DOS DADOS O corpus de estudo inclui gravações de narrações orais de 5 falantes nativos de basco, galego, catalão, espanhol e português. Seguindo Duranti (2000), fiz as gravações em vídeo das histórias, atuando com a máxima naturalidade possível e tentando não interferir. Os cinco narradores contam histórias denominadas narrativas pessoais orais (LABOV, 1972) e de caráter humorístico. Nenhum dos narradores conhecia o objetivo final do meu trabalho nem a análise cinésico-gestual posterior. Todos os vídeos estão disponíveis com o código QR que aparece no póster ou acedendo ao seguinte endereço:

METODOLOGIA A metodologia de trabalho está baseada nas propostas de análise de comunicação não-verbal e de multimodalidade formuladas por Birdwhistell (1970), Poyatos (1994), Bouvet (2001) e Galhano Rodrigues (2007). Depois de analisar os vídeos com o programa ELAN, escolhi alguns fotogramas de cada narração como exemplo para descrever metáforas gestuais. CONCLUSÕES 1. O sistema cinésico que complementa o discurso oral muda entre diferentes línguas e culturas, mas mantém algumas normas comuns e esboça emoções que se distribuem pelo espaço. Assim: acima (e à direita) indica uma atitude positiva, abaixo (e à esquerda), algo negativo. 2. A gestualização de metáforas conceituais como A PASSAGEM DO TEMPO É MOVIMENTO demonstra que o discurso é linear e, na cultura ocidental, o tempo avança sempre para a frente. 3. Os processos de metaforização cinésica são muito enriquecedores dentro das narrações e as oportunidades de representação metafórica multiplicam-se quando observamos o componente cinésico de uma narração oral. 4. Os marcadores espaciais metafóricos (especialmente aqueles movimentos que contam com a intervenção dos olhos e da cabeça) são muito comuns nas narrativas pessoais com o objetivo de acompanhar o discurso verbal e desenhar espaços metafóricos que complementam o significado da história. 5. A análise da comunicação não-verbal contribui à criação de novos significados não presentes no discurso verbal assim como à modificação de outros significados, construindo uma matriz em que encaixam perfeitamente os componentes verbais e não-verbais da narração.

EXEMPLOS Figura 1b. ”izugarrizko etxetzarra” 1. Metáfora orientadora: eixo esquerda-direita “têm uma enorme mansão” (0’20’’-0’22’’) (pobres-ricos) Na figura 1a, o narrador basco vira a direção do olhar para a esquerda, referindo-se aos pobres que “dormem na rua” e acompanha as palavras com o braço e o olhar para sinalar esse espaço. Ele utiliza uma metáfora orientadora espacial que divide os dois espaços e grupos de pessoas: os pobres (à esquerda) e os ricos (à direita). Esta distribuição costuma ser sempre a mesma: os usos positivos ficam à direita; usos negativos à esquerda (sempre Figura 1a. “kalian lo itten daue” “dormem na rua” (0’16’’-0’19’’) do narrador), já analisada e documentada por Calbris (2008). 2. Metáfora estrutural: as ideias são objetos A narradora catalã utiliza a metáfora estrutural AS IDEIAS SÃO OBJETOS para transmitir o conceito abstrato da concentração comparando-o com algo concreto, com uma caixa fechada. Já na figura 2b cria uma metáfora de recipiente, abrindo as mãos en direção contrária ao centro do corpo. O campo visual está conceitualizado como recipiente. As outras coisas ficam fora, longe e a narradora está a tentar “não pensar em nada mais” afastando os Figura 2a. “concentrar-me” Figura 2b. “no pensar en res més” (0’15’’-0’17’’) (0’18’’) outros pensamentos. 3. Metáfora da chuva O narrador espanhol faz uma representação gestual metafórica do verbo “chorar”. Na figura 3a ele prepara o gesto, flexionando os cotovelos e recolhendo as mãos perto dos ombros. Na figura 3b ele solta as mãos para a frente, como se estivesse a chover, expulsando as lágrimas e sacudindo exageradamente as duas mãos com os dedos estirados. Figura 3a. “a llorar” (1’32’’) Figura 3b. “a llorar” (1’32’’) Figura 4b. (2’25’’)

Figura 4a. (1’54’’)

5. Representação do conceito: o objetivo Na fase de preparação do gesto (figura 5a) a narradora brasileira tem as mãos juntas, com os dedos entrelaçados. Logo depois (figura 5b) observa-se um outro gesto metafórico: a representação do conceito abstrato “objetivo”. Com a mão direita fechada e flexionando o braço para acima, levanta o punho, como celebrando uma vitória desportiva. Recupera a metáfora ACIMA É BOM, ABAIXO É RUIM. Neste caso, a metáfora criada enriquece a versão cómica da narração.

4. Metáfora da procura: a fonte das palavras Estes dois exemplos da narradora galega são paradigmáticos para compreender a função criadora de espaços que as metáforas gestuais podem cumprir. Na figura 4a produz-se um breve silêncio involuntário e parece que a narradora não sabe como continuar com o discurso. A solução que acha é descer o olhar e procurar as palavras em uma “fonte” fora do espaço da história que nos está a contar. Um bocado depois acontece a mesma coisa, mas o que procura a narradora fica acima (figura 4b), para onde ela está a olhar.

Figura 5a: “ficar lá com o espanhol” (2’33’’-2’35’’)

Figura 5b: “o objetivo dela” (2’36’’)

REFERÊNCIAS

Birdwhistell, Ray L. (1970). Kinesics and Context: Essays on Body Motion Communication. Philadelphia: Univ. of Pennsylvania Press. Bouvet, Danielle (2001). La dimension corporelle de la parole. Les marques posturo-mimogestuelles de la parole. Paris: Peeters. Calbris, Geneviève (2008). “From left to right... Coverbal gestures and their symbolic use of space”. Cienki & Müller (Eds.) Metaphor and Gesture. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 27-53. Duranti, Alessandro (2000). Antropología lingüística. Madrid: Cambridge University Press. Galhano Rodrigues, Isabel M. (2007). O Corpo e a fala. Sinais verbais e não-verbais na interacção face a face. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Fundação para a Ciência e Tecnologia. Labov, William (1972). Sociolingustic Patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press. Poyatos, Fernando (1994). La comunicación no verbal. I. Cultura, lenguaje y conversación. Madrid: Istmo.

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