METODOLOGIA NO PLANEAMENTO TERRITORIAL TURÍSTICO - ANÁLISE DE CASOS

August 4, 2017 | Autor: João Simões | Categoria: Tourism Studies, Tourism Planning and Policy
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METODOLOGIA NO PLANEAMENTO TERRITORIAL TURÍSTICO: ANÁLISE DE CASOS JOÃO SIMÕES

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Resumo – Estudar, compreender, interpretar e posteriormente planear e avaliar o território são passos fundamentais para suportar qualquer ação ao nível do Turismo que, apesar de ser uma atividade motivada por razões físicas e psíquicas, portanto uma atividade de pessoas e para pessoas, tem sempre como palco o território. A importância e a necessidade de planear é uma questão incontornável e reconhecida por todos os agentes atualmente. Por isso, reunimos e apresentamos neste artigo alguns modelos metodológicos utilizados na elaboração de planos de desenvolvimento turístico, com o objetivo de, por um lado, identificar a importância da metodologia na elaboração de planos e, por outro, demonstrar que não existe um modelo diferenciador que se destaque, uma vez que cada território tem particularidades únicas e os métodos para a elaboração de estudos têm de se adequar ao objeto de estudo, ao território e à envolvente, pelo que os métodos utilizados irão ser e fazer a diferença no resultado final. Palavras-Chave – Planeamento, Território, Turismo, Destino turístico, Desenvolvimento turístico Abstract – Study, understand, interpret, and subsequently plan and evaluate the territory are the key steps to support any action at the tourism level that, despite being an activity motivated by physical and psychological reasons, therefore an activity of people and for people, always has a territory as stage. The importance and the need for planning is essential and recognized by all agents currently. So, we gathered and present in this article some methodological models used in the preparation of tourism development plans, with the aim of, first, identify the importance of the methodology process in the preparation of plans and, secondly, to demonstrate that there isn’t a differentiating model that stands out, since each territory has unique characteristics and methods for the study/plans elaboration that have to fit the object of study, the territory and the environment, so the methods that will be used will make a difference in the final result. Keywords – Planning, Territory, Tourism, Tourist Destination, Tourist Development

1 Professor Coordenador de Cursos de Turismo; Mestre em Turismo; Doutorando em Turismo pela UL/IGOT, com a colaboração da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril: [email protected]

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João T. Simões

INTRODUÇÃO

O turismo enquanto atividade é composto por vários setores económicos dos quais destacamos como indispensáveis para a sua realização: a hotelaria, a restauração e os transportes. Planear e pensar o território turístico torna-se então uma tarefa complicada, agravada pelo facto de os visitantes e potenciais turistas serem influenciados por um conjunto de variáveis externas ao próprio território. Em todo o caso, o planeamento é condição essencial para alcançar critérios de sustentabilidade através da eficiência dos processos que compõem o seu sistema e que contribuem para tornar o turismo uma atividade mais satisfatória para quem a pratica e também para quem acolhe os viajantes, nomeadamente a comunidade local. De forma a serem claros, coerentes e globalmente compreendidos e assimilados por todos os agentes, os planos de desenvolvimento turístico, de promoção do território, de planeamento estratégico dos destinos ou os planos de desenvolvimento, entre outros (para nomear alguns), deveriam obedecer a critérios, neste caso, metodológicos. Apesar de não ser obrigatório, a escolha metodológica para a elaboração destes trabalhos permite um resultado mais autêntico e facilita a sua posterior análise, pois distingue a visão que o autor tem dos conceitos empregues e qual a sua elasticidade.

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I.

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IMPORTÂNCIA DA METODOLOGIA NO PROCESSO DE PLANEAMENTO

Antes de apresentarmos os contributos gerados pela cuidada escolha metodológica na elaboração de trabalhos de planeamento, interessa primeiro compreender a dimensão deste mesmo processo (planear). Dessa forma, e referindo que “o planeamento é o processo que visa estabelecer, com antecedência, as decisões e as acções a serem executadas em um dado futuro, para atingir objectivos definidos, em um certo prazo” (Santos, 2011, p.1), indicamos que planear não obedece a nenhuma forma ou modelo restrito, mas pode ser classificado segundo várias perspetivas, nomeadamente: Tipo Geografia Autor Tema Grau de institucionalização Limites Grau de participação Prazo

Planeamento Estratégico (genérico); Planeamento Tático (específico); e Planeamento Operativo (específico e em curto prazo). Internacional, nacional, regional, sub- regional/supra-local ou local. Público, privado ou ambos. Global, sectorial ou multi-sectorial. Orgânico ou Difuso. Imperativo (obriga os destinatários a seguir os objectivos e metas traçadas) ou Indicativo (apenas aconselha que as sigam). Directivo (quando a população não participa do processo) ou Participado (quando os interessados intervêm directa ou indirectamente). Curto (± 1 anos); Médio (± 4 anos); ou Longo prazo (entre 10 e 20 anos). Tabela I – Tipos de Planeamento Adaptado de Santos, 2011, pp.15-16

Os processos de planeamento são elaborados aplicando técnicas administrativas para análise da macro envolvente de forma a obter a otimização entre o ambiente externo e o territórioalvo, devendo ainda existir um esforço para a inclusão responsável de todos os agentes que irão integrar o plano (stakeholders) “(…) formalizado para produzir e articular resultados, na forma de integração sinérgica de decisões e ações organizacionais” (Rezende, 2003). O processo de planeamento é realizado individualmente, em grupo ou dentro de uma organização, devendo partir de ações claras e objetivas na forma de avaliar o objeto de estudo, como por exemplo o ambiente em que se insere, de forma a elaborar a estratégia a implementar, avaliando o seu progresso e corrigindo-a ao longo do tempo se for necessário (Fernandes, 2007). Este passa fundamentalmente pela formulação de objetivos baseados em diagnósticos e análises da envolvente, e nas ações e meios de os atingir com a maior eficácia possível. “Assim, planear permite que se estabeleça uma forma de conseguir atingir os objectivos futuros prevendo as ameaças exteriores e eliminando todas as fragilidades que possam impedir de ter sucesso na concretização do objectivo” (Peixoto, 2009).

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Na tabela

II

podemos observar referências de alguns autores acerca da sua visão do ato de

planear: Autor/ano

Manson, 2003

Hall, 2000 Hall, 2005; Gunn e Var, 2002 Gunn, 1994; Timothy, 1998, 1999; WTO, 1993 Tribe, 2005

Concetualização O planeamento turístico é uma sequência ordenada de operações e acções concebidas pelo sector público para organizar, planear e controlar o desenvolvimento turístico nas áreas de destino de acordo com os objectivos políticos traçados Enquanto que planear é um curso de acção, a política é a implementação de um curso de acção planeado, cuja orientação é, geralmente, criada e emanada por organizações públicas governamentais, centrais ou locais Planear é também decidir O planeamento público ocorre em diversas formas (p.e. desenvolvimento, infraestruturas, uso de recursos, marketing e promoção.), instituições (diferentes organizações governamentais) e escalas (nacional, regional, local) (…) tende a proporcionar a satisfação dos turistas, a melhoria dos benefícios económicos e a minimização dos impactos negativos nos destinos Na ausência de planeamento estratégico as organizações tendem a decidir de forma casuisticamente e reativa” Tabela II – Tipologia de Métodos 2 Fonte: Calisto, 2011, pp.3-4

Assente a importância de planear, que de resto se assume como condição essencial dos indivíduos e das empresas, na medida em que é prática habitual desde as tarefas fundamentais no dia a dia até à definição de objetivos e planos de ação a longo prazo dado que “(…) contempla objectivos de longo prazo (Bramwell et al., 1998); desenvolve um portfolio de valores críticos dos stakeholders; usa os valores críticos para articular uma visão para o futuro; estabelece metas genéricas que vão contribuir para a realização da visão; procede a uma avaliação exaustiva da situação actual como base para traçar acções futuras; estabelece objectivos

específicos

para

alcançar

as

metas

genéricas;

define

prioridades,

responsabilidades e sistemas de controlo para monitorizar a implementação efectiva” (Simpson, 2001, p.13 apud Calisto, 2011). De seguida iremos apresentar algumas concetualizações metodológicas que têm várias formas de ser analisadas, dependendo da sua área temática, dos objetivos do estudo ou plano, até da área filosófica em que os autores se enquadram, não existindo portanto uma fórmula definitiva e única para a sua aplicação. Ou seja, até mesmo dois planos semelhantes e com objetivos iguais terão certamente métodos de elaboração diversos, dependendo do território/caso de estudo em causa. Demo (1985, p.19) indica que a “Metodologia é uma preocupação instrumental. Trata das formas de se fazer ciência. Cuida dos procedimentos, das ferramentas, dos caminhos”. Prodanov e Freitas (2013, p.14) aludem que a metodologia passa pela seleção de procedimentos e técnicas e a sua posterior aplicação com a finalidade de criar conhecimento.

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Fernandes (2012) encara a metodologia através de um sistema de fenómenos observados através do reconhecimentos da hipótese, análise das suas variáveis e a sua conclusão, pois “Desta forma, estabelecem-se instrumentos de medida que irão permitir descobrir quais são as características próprias desses espaços e explicar as alterações que foram verificadas nesses lugares” (idem, ibidem). De acordo com a natureza do plano/estudo, a metodologia pode assumir (entre outras): i) uma tendência mais científica em que: “o método científico consiste no conjunto de etapas e regras que permitem levar a cabo uma investigação, cujos resultados são válidos e aceites pela comunidade científica, e com o qual se pretende atingir os objetivos traçados (…). Desta forma, o método científico encontra-se associado à definição de uma metodologia entendida enquanto conjunto de métodos e técnicas aplicadas ao estudo e tratamento dos fenómenos (Cabrita, 2012, p.56); e ii) poderá assumir-se como um estudo comparativo – Estudo de Caso – em que: ”(…) o pesquisador pode recorrer a uma grande diversidade de técnicas, facto que tanto pode ser determinado pelo quadro teórico de que se possa ter socorrido e das hipóteses que tenha elaborado, como da especificidade da situação, ou de ambas as condições: inquérito por questionário, entrevista, análise documental, observação participante […] (Pardal e Correia, 1995: 22 apud Cabrita, 2012, p.65). De forma a resumir os métodos mais usuais e utilizados ao nível do turismo, apresentamos na tabela III algumas tipologias de métodos:

Tabela III – Tipologia de Métodos 1 Fonte: Cabrita, 2012, p. 138, (adaptado de Pardal e Correia, 1995)

Apresentamos na tabela seguinte outro tipo de metodologias com base nas ciências sociais.

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Quadro de referência Funcionalismo Estruturalismo

Hermenêutica

Materialismo Histórico Etnometodologia

Descrição sumária Ênfase nas relações e no ajustamento entre os componentes de uma cultura ou sociedade. As formações sociais são determinadas pelas necessidades biológicas e psíquicas. O pressuposto é de que toda parte (do todo) desempenha uma função. A análise tem como foco as relações entre os diversos elementos de um sistema. Considera que cada elemento existe em relação aos demais e em relação ao todo. A explicação da realidade é dada a partir da noção de estrutura. Ênfase no papel do sujeito da ação e reconhece a parcialidade da visão do observador. Ao propor modelos de representação de variáveis e de tipos, busca a interpretação dos significados das coisas. Com fundamento no método dialético, considera que a ordem social tem por base a produção e o intercâmbio de produtos.

Autores de referência Durkheim Lévi-Strauss Hans-Georg Gadamer Martin Heidegger Max Weber Harold Garfinke

Tabela IV – Tipologia de Métodos 2 Fonte: Prodanov e Freitas, 2013, p.40 (adaptado de Gil, 2008, pp. 18-24)

Por fim, referimos que a metodologia pode ser encarada fundamentalmente em duas perspetivas gerais: i) aquela proveniente do conhecimento e que se estabelece na transmissão de iniciação aos procedimentos lógicos do Saber, portanto, numa perspetiva mais teórica e, ii) a outra, ligada mais à sociologia do conhecimento, portanto mais técnica e humana (Demo, 1985, p.21). No ponto que se segue iremos apresentar alguns planos de desenvolvimento turístico realizados em Portugal, através da análise dos métodos utilizados para a sua elaboração.

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II.

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METODOLOGIA UTILIZADA EM PLANOS DE DESENVOLVIMENTO TURÍSTICOS: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE CASOS PORTUGUESES

Neste capítulo iremos apenas refletir, em primeiro lugar, sobre planos que sejam de livre acesso ao público em geral, e segundo, sobre planos que contenham a descrição metodológica do autor, de forma a não confundir os conceitos e ser o mais realista possível. Serpa O primeiro estudo que citamos é o Plano de Desenvolvimento Turístico de Serpa, finalizado e apresentado em julho de 2008, que destaca logo na página quatro uma nota metodológica clara, direta, objetiva e relevante, na medida em que imediatamente indica ao leitor do documento que a realização do plano assenta no “princípio do pluralismo metodológico de Ragin (1994), através da sua obra: “Constructing Social Research. The Unity and Diversity of Method, Thousand Oaks, Pine Forge”, nomeadamente, em métodos: i) Quantitativos – Extensivos (Ghilione e Benjamin (1987), Les Enquêtes Sociologiques-Théories et Pratique, Ed. Armand Colin, Paris); ii) Comparativos – Tipológicos; iii) e Qualitativos Intensivos (Burguess,Robert G. (2001), A Pesquisa de Terreno. Uma introdução, Oeiras, Celta Editora) (PTDS, 2008, p.4).

Oeiras O Planeamento Estratégico do Turismo para o Concelho de Oeiras (PETCO) resume a sua metodologia no esquema que apresentmaos seguidamente (figura 1):

Figura 1 – Metodologia para preparação do Planeamento Estratégico do Turismo para o Concelho de Oeiras Figure 1 - Methodology for preparation of the Strategic Tourism Planning for the Municipality of Oeiras Fonte: PETCO – Apresentação Pública, 2009, p. 7

São-nos apresentadas três etapas que se dividem “em três documentos de suporte, evolutivos entre si, mas procurando sempre responder aos objectivos definidos pela Câmara Municipal

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em cada uma das fases de desenvolvimento do Plano Estratégico” (PETCO, 2009, p.8). Nessas três fases, foram realizadas as seguintes operações:

1ª Fase - Diagnóstico

2ª Fase – Orientação Estratégica

3ª Fase - Operacionalização

Figura 2 – Fases do Planeamento Estratégico do Turismo para o Concelho de Oeiras Figure 2 - Stages of the Strategic Tourism Planning for the Municipality of Oeiras Fonte: PETCO – Apresentação Pública, 2009, p. 8

Lourinhã No Plano Estratégico de Desenvolvimento Turístico do Concelho da Lourinhã (PEDTL), com a data de 26 de Janeiro de 2011 podemos verificar (na figura 3) o esquema metodológico apresentado pelos autores, na conceção do relatório final:

Figura 3 – Percurso metodológico do Relatório Final Figure 3 - Methodological approach of the Final Report Fonte: PEDTL – Relatório Final, 2011, p. 17

Os autores indicam ainda que ao longo da elaboração do Plano foram realizadas consultas aos diversos agentes locais, que foram abordados através de métodos de comunicação como a elaboração de inquéritos, entrevistas, apresentações/consultas públicas. No relatório final é ainda referida a preocupação na recolha e levantamento exaustivo de informações do concelho, de forma a assegurar que os resultados refletissem tanto a visão e desejos dos habitantes como dos seus visitantes. Dessa forma, a equipa refere que “(…) procedeu-se a uma abordagem extensiva através da aplicação de três inquéritos por questionário a agentes económicos, residentes, visitantes e turistas da Lourinhã e, por outro, a uma abordagem

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intensiva para permitir o aprofundamento qualitativo do conhecimento da realidade concelhia e da Região Oeste, através da auscultação de diferentes actores relevantes do ponto de vista da sua participação económica, social e turística, e da sua capacidade de intervenção, e ainda através da observação directa e da análise documental” (PEDTL, 2011, p. 18). De uma perspetiva mais técnica, a definição das estratégias e do plano de ação foram revistas através de um trabalho qualitativo e intensivo na validação da realidade concelhia e das temáticas que esta poderia aprofundar “(…) através da análise documental e da auscultação de representantes com actividade relevante e interesses específicos no Concelho (stakeholders) como elementos essenciais para a criação das opções estratégicas, através da realização de focusgroups e de um fórum de discussão, concretamente com o objectivo de elencar por ordem de prioridadea sopções estratégicas e identificar projectos-âncora para o desenvolvimento do turismo no Concelho na perspectiva dos agentes locais, sinalizando sempre que possível os seus factores críticos de sucesso” (idem, ibidem). A equipa identificou ainda regiões no mundo que tivessem pelo menos um dos atríbutos/caraterísticas idênticos aos da Lourinhã e, procedeu à análise comparativa – benchmarking – que foi realizada em 17 territórios e 11 países, “As regiões seleccionadas foram estudadas com o objectivo de se identificarem e conhecerem boas práticas que sejam exemplos já testados no mercado turístico” (idem, ibidem). Mafra O Plano Estratégico do Turismo para o Concelho de Mafra (Mafra_PETurismo) data de agosto de 2007 e foi elaborado pela Quaternaire. Este plano tem um raio de ação até 2016 e a sua metodologia baseia-se “(…) num diagnóstico aprofundado da situação presente e das tendências de evolução do turismo tendo em conta a avaliação da situação interna e da envolvente externa” (Mafra_PETurismo, 2007, p.4).

Figura 4 – Percurso metodológico Figure 4 - Methodological approach Fonte: PEDTL – Mafra_PETurismo, 2007, p. 5

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Esta metodologia revê-se nos principios da sustentabilidade, na medida em que priveligia a interação dinâmica entre o ambiente, a cultura, a sociedade, as organizações e as instituições. Como referem os autores: “Não se trata assim, simplesmente, de apresentar uma descrição das diferentes dimensões que integram o diagnóstico, mas de procurar estabelecer relações de associação e de causalidade entre as mesmas” (idem, ibidem). De forma a organizar a informação de base acerca de cada uma das dimensões do sistema de referência, foi realizada uma análise SWOT obtendo um diagnóstico “(…) para as componentes prospectivas fundamentais e operacionais de suporte à estratégia municipal de desenvolvimento do turismo” (idem, ibidem) passando posteriormente à conceção e definição do conceito estratégico de destino turístico e respectiva Missão e Visão Estratégica de desenvolvimento turístico para o município, para o horizonte temporal do plano (2007-2016), bem como os seus objectivos estratégicos associados. À semelhança dos outros planos, também o de Mafra procedeu à auscultação através de entrevistas e focus group/ workshops aos principais agentes turísticos e interlocutores locais do território, nomeadamente com a Câmara Municipal, a Associação de Turismo de Lisboa, a Convention Bureau, o Palácio de Mafra, a Junta de Turismo da Ericeira, as Juntas de Freguesia, os promotores e os agentes turísticos locais “(…) com o objectivo fundamental de conhecer as dinâmicas, as estratégias prosseguidas e as perspectivas de evolução expectáveis (…) o debate e a reflexão sobre a Missão e Visão Estratégica sendo profícuo na reflexão e nos contributos obtidos” (idem, ibidem). As linhas orientadoras para a atividade turística na região, são suportadas no estudo através de uma metodologia assente na realidade do País, fundamentalmente em três caraterísticas: Em primeiro lugar, as orientações, os objectivos e os programas preconizados pelo PENT – “Plano Estratégico Nacional do Turismo”, designadamente no que se refere aos produtos estratégicos por ele seleccionados e o papel que poderão desempenhar no desenvolvimento do Turismo do Concelho de Mafra

Em segundo lugar, atender à necessidade de criação de Marcas (ou Sub-Marcas) Regionais, como resulta directamente da aplicação do PENT, reflectindo sobre o posicionamento que o Município de Mafra deveria assumir neste contexto

Finalmente, as orientações de ordem regional emanadas do TLx10 – “Plano Estratégico de Turismo de Lisboa 2007-2010”, procurando compatibilizar os objectivos e as acções do planeamento preconizado a nível regional com os objectivos e acções propostas para o Município de Mafra

Figura 5 – Linhas orientadoras do Turismo Figure 5 – Tourism Guidelines Fonte: PEDTL – Mafra_PETurismo, 2007, pp. 5-6

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Montijo O Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo do Montijo (PEDTM) data de 6 de maio de 2011. É referido na versão resumo (a única disponível na página eletrónica da Câmara Municipal) que os autores pretendiam que a participação dos stakeholders fosse uma constante ao longo do trabalho.

Figura 6 – Metodologia do PEDTM Figure 6 - PEDTM methodology Fonte: PEDTL – PEDTM, 2011, p. 9

Podemos observar pela imagem que a “inventariação dos recursos” teve lugar ao mesmo tempo que a “recolha participada de informação”, passando posteriormente à sua “análise e tratamento”, da qual terá resultado um “Diagnóstico Integrador”, que por um lado identificou a Procura, Oferta e os Produtos turísticos, criando assim o

PEDTM

e a sua posterior

apresentação pública. Vale do Douro O Plano de Desenvolvimento Turístico do Vale do Douro (PDTVD), e carateriza-se pelo facto de não ser apenas um instrumento de planeamento, mas também um quadro de ação para o desenvolvimento da região.

O plano decompõe-se em quatro grupos dirigidos a: i) principais componentes e factores da envolvente territorial e sócio-económica que condicionarão o desenvolvimento turístico do Vale do Douro; ii) afirmação estratégica para o desenvolvimento e valorização do potencial turístico no Vale do Douro; iii) definição dos meios de intervenção (programas e medidas) nos diferentes domínios, necessários para impulsionar a criação, dinamização e organização de recursos turísticos na região, relevantes para a organização do Douro como destino turístico;e iv) prioridade de um conjunto de investimentos públicos estruturantes, da

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responsabilidade dos diversos sectores da Administração, com importante impacto no desenvolvimento económico e social da Região (PDTVD, 2004, p.7). A estruturação do Plano seguiu as orientações estabelecidas pelo Governo e adotou “(…) uma estrutura metodológica consonante com as orientações estratégicas e meios de intervenção específicos do desenvolvimento regional, visando a criação de um instrumento orientador e dinamizador do desenvolvimento turístico do Vale do Douro” (idem, ibidem), através do seguinte conjunto de medidas: “ (…) orientações da Organização Mundial do Turismo; directrizes e medidas estabelecidas no Plano de Desenvolvimento do Sector do Turismo; conjunto de medidas, propostas de iniciativas e investimentos públicos; estudos da Agência Portuguesa de Investimentos para o Desenvolvimento Turístico no Vale do Douro; e os contributos recebidos de diversos agentes com intervenção directa e indirecta no processo de desenvolvimento turístico no Vale do Douro” (idem, ibidem). Desejando que o Plano refletisse o mais abragentemente possível os diferentes interesses e perspetivas, foi implementado um processo participativo e aberto ao longo do trabalho (idem, p.9). Seixal O principal objetivo do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo no Concelho do Seixal (PEDTS) era encontrar as linhas orientadoras para o desenvolvimento do turismo no concelho, sustentado pela qualidade e diferenciação numa perspetiva de desenvolvimento socioeconómico e cultural da comunidade. Para isso, foram utilizados conceitos inovadores e articulações com os agentes turísticos locais e regionais (PEDTS, s. d., p.13).

Na figura 7 encontramos expresso o modelo metodológico adotado pela equipa da Universidade de Aveiro que coordenou o Plano:

Figura 7 – Metodologia do PEDTM Figure 7 - PEDTS Methodology Fonte: PEDTL – PEDTS, s.d., p. 13

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Em relação à organização do PEDTS, esta divide-se em quatro fases (PEDTS, s. d., p.13): 1.ª - Inventariação e Diagnóstico – Recolha de dados ao nível da oferta e procura turísticas de forma a criar uma base de dados do Inventário de Recursos Turísticos: “A inventariação e avaliação turística dos recursos existentes, avaliação de infra-estruturas e equipamentos e avaliação das características territoriais das zonas envolventes ao Concelho, com visitas aos concelhos do arco ribeirinho sul: Almada, Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete (…) Pelo lado da procura, procedeu-se ao levantamento de relatórios de entidades prestigiadas sobre os fluxos turísticos, tendências e previsões das mesmas, enquadrando-os com a capacidade presente e futura do Concelho. Esta análise comportou os níveis Internacional/Europeu, Nacional e Regional”; 2.ª - Análise, Recolha e Tratamento de Informação - Enfoque na compilação e tratamento da informação e desenvolvimento de diversos momentos de consulta e participação pública: “Procedeu-se, também, à recolha de dados quantitativos e qualitativos acerca dos visitantes do Concelho, utilizando para tal um conjunto de fontes (entradas nos núcleos do Ecomuseu e no Posto Municipal de Turismo) por forma a caracterizar a tipologia do visitante”; 3.ª - Formulação do Plano, Projecto e da Política de Desenvolvimento – nesta fase foi definindo o modelo e respectivas estratégias de implementação para o desenvolvimento turístico, nomeadamente, momentos de brainstorming que se centraram fundamentalmernte em 3 blocos: 1.º - Reuniões colectivas da equipa técnica do Gabinete de Turismo em momentos, chave de decisão e partilha de conhecimentos; 2.º - Reunião colectiva com a totalidade da equipa, realizada após a fina- lização dos estudos de base, com o objectivo de obter conhecimento e informação para o desenho do Modelo de Desenvolvimento e das Estratégias;3.º - Reuniões individualizadas entre a equipa de coordenação técnico-científica, o Gabinete de Turismo e cada elemento da restante equipa do Plano, para delimitação final da Estratégia de Desenvolvimento. Quanto à participação pública, realizou-se uma consulta à informação existente na Câmara Municipal do Seixal; contatos com os agentes turísticos privados locais (agências de viagens, unidades de alojamento e restaurantes, rent-a-car) e com o movimento associativo representativo da oferta cultural, desportiva, recreativa existente; e, Auscultação da comunidade local. 4.ª - Apresentação e Divulgação Públicas.

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CONCLUSÃO

Não existindo um modelo metodológico definitivo, abordámos neste artigo um conjunto real de métodos existentes e possíveis para a realização e

preparação de um plano de

desenvolvimento turístico. Vimos que este terá de ter em conta o território-alvo de estudo e a sua envolvente, assim como os fatores externos que influenciam o mesmo visto que, apesar de fisicamente o território ser estático, as atividades que gera não o são. Dessa forma, as abordagens são várias e a academia fornece o auxílio na escolha da mais indicada e que vai ao encontro dos objetivos pretendidos. A metodologia é uma ferramenta que ajuda no alcance das nossas metas e objetivos com o mínimo de erro possível, facilitando assim a eficácia das estratégias e, dependendo do tipo de métodos utilizados, por exemplo a avaliação, monitorização e correção das estratégias, permite adaptar o plano ao longo da sua execução prevenindo assim uma divergência dos objetivos propostos. Observámos que nenhum plano utiliza a mesma metodologia porque a realidade é diferente para cada território, embora alguns passos sejam os mesmos, como por exemplo diagnóstico (entrevistas e recolha de informações), elaboração do plano, implementação (plano de ação – apenas em alguns) e a sua apresentação. Embora existiam opiniões divergentes em relação aos tipos de planeamento mais eficazes, não se coloca em causa a sua importância ao nível dos processos e atividades, sendo imprescindível quando falamos em território e decisivo para suportar e fundamentar qualquer ação ao nível do Turismo.

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