Metodologia para avaliação de desempenho ambiental em fabricação utilizando um método de apoio à decisão multicriterial

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Estudos tecnológicos - Vol. 1, n° 2:21-29 (jul/dez. 2005)

ISSN 1808-7310

Metodologia para avaliação de desempenho ambiental em fabricação utilizando um método de apoio à decisão multicriterial Sheila Oliveira de Castro Engenheira de produção, executiva da DANA Corporation, Mestranda. Rua Ricardo Bruno Albarus, 201 Gravataí, RS, Brasil CEP 94045-400 [email protected]

Eduardo Pilloti Morel Graduando em Engenharia de Produção - UNISINOS, executivo da General Motors do Brasil, Gravataí, RS, Brasil [email protected]

Gelson Theodoro Leão Engenheiro de Produção, Laboratorista UNISINOS [email protected]

Miguel Afonso Sellitto Dr. Eng. Produção, Professor e pesquisador do PPGEPS, UNISINOS [email protected]

Resumo

Abstract

Este artigo discute e apresenta um estudo de caso

This paper discusses and presents a case study about ADA

sobre a Avaliação do Desempenho Ambiental (ADA)

(Environmental

utilizando

multicriterial

um

método

multicriterial

de

apoio

à

Performance

method

of

Assessment)

decision

aid,

the

with

a

Analytic

decisão, o método de análise hierárquica (AHP). A

Hierarchy Process. The assessment was achieved in a

avaliação foi realizada em uma indústria do ramo

manufacture belonging to an automobile supply chain,

automotivo, cujo Sistema de Gestão Ambiental (SGA)

whose

é

A

certified by ISO 14001. The methodology was developed in

metodologia proposta foi desenvolvida de forma a

such a way that it is possible to replicate it in other

viabilizar a sua aplicação para outros ramos, incluindo

sectors.

serviços, em que se deseje quantificar e estabelecer

environmental

certificado

decisões

conforme

estratégicas

desempenho

a

no

ambiental.

norma

ISO

que O

se

14001.

refere

trabalho

ao inicia

environmental

The

management

research

begins

performance

is

by

system

(SGA)

discussing

perceived

by

is

how

society,

justifying the need for a numerical index, in order to establish

such

performance.

Then

it

is

formulate

apresentando a discussão existente sobre a maneira

hierarchical constructs for sustaining the index, weighted

como o desempenho ambiental é visto pela sociedade,

by the AHP and measured by historical data, available in

justificando-se a necessidade de se estabelecer um

productions logs. The main impacts measured by the

índice para este desempenho. A seguir propõe-se a

method are volatile organic compounds, particulate and

formulação dos

construtos de sustentação deste

gases, which respond by the earth heating. At the end, it

índice. Os construtos serão ponderados através de um

is discussed and concluded about de index and the

método de análise multicriterial e serão aplicados

subordinate indicators employed by the manufacture.

para medir a evolução do desempenho ambiental da empresa,

baseando-se

em

dados

históricos.

Os

principais impactos levantados pelo método são os compostos orgânicos voláteis, os particulados e os

21

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gases causadores de efeito estufa. Ao final, discute-se e conclui-se sobre a representatividade do índice construído e os indicadores utilizados pela empresa. Palavras-chave: avaliação do ambiental, controle ambiental, ambientais.

desempenho indicadores

Key words: environmental performance environment control, environment indicator.

assessment,

1. Introdução O estudo de indicadores ambientais que representem as condições ideais do meio ambiente para a sua própria preservação vem crescendo nos últimos anos. Estes indicadores são de difícil percepção pela população em geral. Segundo Machado (1997), o homem desde a sua criação vem conseguindo adaptar-se com êxito aos mais diversos meios e tem sobrevivido, porém esta capacidade de adaptação vem impedindo o homem de perceber o estrago que está sendo causado ao meio ambiente a ponto de colocar em risco a sua própria existência. A preocupação com o meio ambiente é recente: somente em 1972 foi realizada a primeira conferência mundial sobre meio ambiente em Estocolmo. Em 1992 foi realizado um encontro, a ECO-92 no Rio de Janeiro, onde os principais governos e empresas de todo o mundo elaboraram a agenda 21, que passou a ser referência na implantação de programas de preservação ao meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Mais tarde houve outros dois encontros de importância mundial, o de Kioto em 1998, onde se discutiu o impacto das emissões gasosas

ao meio ambiente, e a conferência das Nações Unidas sobre

ambiente e desenvolvimento sustentável (Rio Mais Dez) em Johannesburgo em 2002. Esta crescente preocupação e conscientização da sociedade fizeram com que muitas empresas passassem a considerar as questões ambientais em seus negócios. Levando-se em conta esta constatação, visualizou-se a necessidade de se criar uma maneira de medir o desempenho do sistema de gestão ambiental da organização. Desta forma, procura-se elencar uma série de fatores, construtos, que interagindo entre si permitam uma rápida visualização do comportamento e impacto dos indicadores ambientais dentro de um índice, que represente o desempenho ambiental. Neste campo encontram-se diversos modelos de medição dos resultados ambientais, mas que não deixam claro sua adequabilidade às diferenças existentes entre os meios onde as empresas estão situadas, variações estas, que dependem da localização geográfica, da existência de comunidades vizinhas, dos níveis de poluição aceitos pelos órgãos ambientais, etc. Bollmam (2001) cita no modelo Unesco de 1987 que não se deve levar em conta simplesmente os fatores ambientais, mas sim suas inter-relações com as atividades humanas. Neste aspecto pode-se enxergar o meio ambiente sobre dois pontos de vista, o ecológico, que leva em conta a degradação de seus subsistemas e, o econômico, que leva em conta fatores como saúde e saneamento básico, entre outros. Portanto a medição do desempenho ambiental deve estar vinculada a ações antrópicas, estabelecendo um índice que inter-relacione os indicadores, ponderando-se através de um método para que assim se

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estabeleça uma sistemática de acompanhamento do desempenho ambiental da empresa perante um índice que represente o ótimo global, em um dado espaço de tempo. O objetivo deste trabalho é apresentar um método de avaliação de desempenho ambiental. Para exemplificar o método, o mesmo será aplicado a uma empresa do ramo automotivo. Considera-se que a avaliação é categórica e inclui julgamentos, diferente da medição, que mede variáveis físicas objetivas. Sob certas bases, avaliações são suficientes para comparar e ordenar o desempenho ambiental de organizações. Após a introdução, o artigo apresenta: (i) revisão teórica; (ii) metodologia e aplicação; (iii) discussão e contribuição do caso; e (iv) conclusões e sugestões de continuidade.

2. Método AHP (Método de Análise Hierárquica) O método de análise hierárquica de processos, o AHP, foi desenvolvido na Wharton School of Business para servir como ferramenta de apoio a decisões sobre problemas complexos e é apresentado em Saaty (1991). A metodologia consiste em montar-se uma estrutura hierárquica mostrando os relacionamentos existentes, partindo-se de um objetivo geral até chegar-se a diversas alternativas, conforme a figura 1.

Objetivo fundamental

Objetivos

Sub-objetivos

Alternativas

Figura 1: Decisão hierárquica (fonte: Adaptado de Forman, 2001).

Incertezas e outros fatores de influência também podem ser incluídos. Segundo Saaty (1991), o método AHP consiste de uma comparação aos pares dos diversos critérios, sendo que em cada uma das comparações dá-se um valor, que pode variar de 1 a 9 dependendo da importância do mesmo. Isso é feito até que se tenha formado um julgamento quanto ao peso relativo de cada par de critérios. De acordo com Forman (2001), o método AHP leva em conta dados, experiências, percepções e intuições de uma maneira lógica e completa, permitindo que sejam feitas escalas de prioridade ou de pesos em oposição a decisões arbitrárias. É uma metodologia de decisão compensatória, porque alternativas deficientes com respeito a um ou mais objetivos podem ser compensadas por seu desempenho em consideração a outros objetivos. O AHP é composto por vários conceitos dissociados e técnicas como, por exemplo: comparação aos pares, opiniões redundantes, método para definição de importância e de considerações coerentes.

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Embora, cada um desses conceitos e técnicas sejam úteis individualmente, a combinação de todos produz um processo que de fato é muito mais rigoroso que cada um individualmente. Determina-se a importância relativa dos elementos em cada nível por comparações pareadas. São feitos n.(n-1)/2 julgamentos, iniciando pelo nível mais elevado. Cada critério ai imediatamente abaixo é comparado com os demais critérios aj de mesma hierarquia, gerando uma matriz de preferências Ci,j (n x n), construindo-se a matriz de preferência com os valores apresentados na tabela 1. A justificação teórica, o cálculo da CR, a razão de consistência do julgamento, os detalhes do método e os cálculos requeridos surgem em Saaty (1991). Tabela 1: Opções de preferência com base em comparação pareada (fonte: Saaty, 1991).

se ai em relação a aj =

então cij =

se ai em relação a aj =

então cij =

igual mais importante muito mais importante extremamente mais importante absolutamente dominante

1 3 5 7

igual menos importante muito menos importante extremamente menos importante absolutamente irrelevante

1 1/3 1/5 1/7

9

1/9

3. Metodologia: o ADA-AHP As metodologias de estabelecimento de indicadores ambientais propostas pela literatura consideram fundamentalmente indicadores de gestão, operacionais e de condição ambiental, não indicando como relacionar as medições. O presente modelo estabelece construtos, os fatores que interferem no desempenho ambiental de uma organização. Após esta definição identificam-se os indicadores que melhor medem cada construto. O método ADA-AHP (avaliação de desempenho ambiental usando o método AHP) constrói um índice global que se subdivide em construtos que o sustentam e em indicadores que medem os construtos. Os pesos de construtos e indicadores são obtidos pelo AHP, gerando a função-objetivo do desempenho ambiental da organização estudada, a qual deve ser maximizada. Os construtos do índice deverão abranger todos os processos que causem impacto no meio ambiente, tais como: atividades (i) que gerem resíduos sólidos; (ii) que gerem efluentes líquidos; (iii) que gerem emissões atmosféricas; (iv) que necessitem de gestão para o atendimento a requisitos legais; e (v) que utilizem recursos naturais. Após isto deverão ser estabelecidos os indicadores que comporão cada construto. Definem-se a seguir os passos do método: (i) visita técnica a empresa e reunião com a coordenação do Sistema de Gestão Ambiental; (ii) definição dos construtos alinhados à política ambiental da empresa; (iii) hierarquização dos construtos segundo o método AHP; (iv) definição dos indicadores de sustentação dos construtos; (v) levantamento de dados históricos; (vi) cálculo do desempenho ambiental; (vii) análise dos resultados obtidos; e (viii) melhorias das propostas. Alguns indicadores usarão variáveis quantitativas de medição direta, ou variáveis categóricas, cuja valoração se dá por julgamento dos especialistas. Esta técnica é usada em fatores cujos objetivos são sujeitos a variação, tais como algumas concentrações. Nestes casos usar-se-á a seguinte escala para o desempenho da variável: [1 = péssimo, 2 = ruim, 3 = médio. 4 = bom, 24 Estudos tecnológicos - Vol. 1, n° 2:21-29 (jul/dez. 2005)

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5 = ótimo]. As faixas para as categorias poderão variar segundo exigências específicas, mantendo-se assim a generalidade do método. A definição dos construtos deve basear-se em critérios da norma ISO14031:1999 e considerar a gestão ambiental e o desempenho operacional. Não se incluem construtos relacionados à condição ambiental por considerar que os mesmos refletem as condições da área envolvente à operação, sendo sua mensuração de competência de entes governamentais, organizações não-governamentais e instituições de investigação (PEGADO et al, 2004). A inclusão de construtos relacionados à condição ambiental poderia mascarar a avaliação de desempenho da organização, pois os estados do ambiente podem ser influenciados por outras empresas, circulação de veículos, vizinhança, etc.

4. Aplicação e Resultados Para exemplificar o método proposto, aplicou-se o mesmo a uma empresa fabricante de auto-peças e com expressiva atuação em gestão ambiental. Definiram-se cinco construtos de avaliação de desempenho ambiental: (i) geração de resíduos sólidos; (ii) emissão de efluentes industriais; (iii) consumo de recursos naturais; (iv) gestão ambiental; e (v) emissões atmosféricas. Os indicadores que comporão cada construto receberão uma distribuição uniforme de importância relativa. A seguir a equipe, formada por especialistas em gestão ambiental com formações em engenharia, e pela coordenação do SGA da empresa, conduziu a análise hierárquica dos construtos. A equipe aplicou o método AHP de apoio à decisão e chegou a uma distribuição de importância relativa. A CR apontou uma inconsistência menor do que 10%, o que, segundo Saaty (1991), torna o resultado aceitável. Resulta a função-objetivo dada pela equação 1. A figura 2 ilustra e resume os resultados da avaliação.

ADA = 0,11.Σ resíduos + 0,274.Σ efluentes + 0,16.Σ recursos + 0,428.Σ gestão + 0,028.Σ emissões

(1)

Desempenho Ambiental

Resíduos Sólidos

Efluentes Líquidos

11%

27,4%

Consumo de Recursos Naturais 16%

Gestão Ambiental

Emissões Atmosféricas

42,8%

2,8%

Figura 2: Decisão hierárquica para empresa do ramo automotivo.

A seguir determinaram-se os indicadores ambientais para a sustentação dos construtos. Os indicadores utilizados podem ser quantitativos ou qualitativos, de acordo com a mensuração que se deseja estabelecer. As faixas para os indicadores foram estabelecidas baseadas na legislação vigente (para efluentes líquidos e emissões atmosféricas), objetivos e metas ambientais (cláusula 4.3.1 da ISO 14001), requisitos da política ambiental e planejamento estratégico da organização. Além disso, não se identificou nenhuma legislação ambiental

aplicada a este aspecto e ramo de atividade. Como metas estabeleceram-se limites de

referências internacionais como o EPA - Environmental Protection Agency (2004). As demais metas de

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desempenho referem-se a requisitos legais mais críticos, constantes da licença de operação da empresa e já estabelecidos nos objetivos e aprovados pela alta administração. Na tabela 2 apresentam-se os indicadores de cada construto e as faixas que categorizam os desempenhos.

Tabela 2: Indicadores e metas ambientais.

Construtos Resíduos Sólidos

Lançamen-tos de efluentes

Consumo de recursos naturais

Gestão ambiental

Emissões atmosféri-cas

Indicadores Percentual de Resíduos Reciclados = resíduos reciclados / total de resíduos gerados Percentual de Resíduos Perigosos = resíduos perigosos / total de resíduos gerados Percentual de Resíduos Orgânicos = resíduos orgânicos / funcionário Concentração de Cromo Concentração de Cobre Concentração de Chumbo Óleos e Graxas Vazão: Volume de efluentes tratados / hora ativa Consumo de Água: Volume de água / hora ativa Consumo de Energia Elétrica: Consumo de energia /hora ativa Consumo de aço: Como são as ações que otimizam este consumo? Consumo de óleos lubrificantes: Como são as ações que otimizam este consumo? Atendimento legal: requisitos legais atendidos / total de requisitos legais aplicáveis Investimentos ambientais: $ usado no SGA / $ destinado ao SGA Fornecedores ambientais qualificados: Quantidades de fornecedores qualificados/ total de fornecedores ambientais Tomada de ações corretivas: ações concluídas eficazmente/ total de ações Compostos orgânicos voláteis Particulados Emissão de gases causadores de efeito estufa

Classificação Quantitativo

[péssimo – ótimo] 0 - 100%

Quantitativo

100 - 0%

Quantitativo

0 - 2%

Categórico (valor adimensional)

1-5

Quantitativo

0 - 10 m³/h

Quantitativo

0,16 - 0,08 m³/h

Quantitativo

47 - 43 kWh/h

Categóricos

1-5

Categóricos

1-5

Quantitativo

0 - 100%

Quantitativo

0 - 100%

Quantitativo

0 - 100%

Quantitativo

0 - 100%

Categórico Categórico Categórico

1-5 1-5 1-5

Ao fim se calcula o desempenho ambiental. Para isto, utilizaram-se dados dos últimos doze meses da empresa. O resultado da atual política ambiental da empresa alcança 84,69% do máximo valor possível e é sumarizado na tabela 3. Os indicadores têm uma distribuição uniforme de importâncias relativas dentro do construto, apontadas na segunda coluna, junto com o indicador. Na tabela apresentam-se os desempenhos relativos (de 0 a 100%) de cada indicador, segundo as faixas do quadro 1, e a contribuição do indicador para o resultado final. A contribuição de cada indicador é obtida pela multiplicação das importâncias relativas do construto e do indicador pelo seu desempenho relativo. O construto 1, por exemplo, é descrito por três indicadores, cada um com uma importância relativa de 33% dos 11% do construto. A contribuição deste

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construto para o resultado total é de 10,52 pontos percentuais e a máxima contribuição do construto é de 11 pontos percentuais. Tabela 3: Resultados obtidos nas mensurações. Construtos

Indicadores e importância relativa

Resíduos 11%

% de Reciclagem - 33,3%

Efluentes 27,4%

Desempenho relativo %

Contribuição absoluta

87,0

0,0318

Geração de Contaminados - 33,3%

100

0,0367

Geração de Resíduos Orgânicos - 33,3%

100

0,0367

Vazão - 20%

100

0,0548

Cromo - 20%

100

0,0548

Chumbo - 20%

100

0,0548

Cobre - 20%

100

0,0548

Óleos e Graxas - 20%

100

0,0548

Consumo de Recursos Naturais 16%

Consumo de Água - 25%

100

0,0400

Consumo de Energia Elétrica - 25%

46,9

0,0187

Consumo de Aço - 25%

25,0

0,0100

Consumo de Óleos Lubrificantes - 25%

50,0

0,0200

Gestão 2,8%

Atendimento Legal – 25%

98,0

0,0069

Investimentos Ambientais - 25%

90,0

0,0063

Fornecedores Ambientais Qualificados 25% Situações de Ações Corretivas e Preventivas - 25% Emissão de Compostos Orgânicos Voláteis – 33,3% Emissão de Particulados – 33,3%

100

0,0070

33,0

0,0023

75,0

0,1069

Emissões Atmosféricas 42,8%

Emissão de Fumaça Preta (CO2,...) – 33,3%

100

0,1427

75,0

0,1069 Total

84,67%

5. Discussão Durante a definição dos indicadores que sustentam os construtos houve dúvidas sobre a mensuração dos indicadores que apresentavam limites legais e medições freqüentes. Não se poderia considerar apenas a média ou somatório dos resultados obtidos, pois se corria o risco de se obter um resultado satisfatório em termos numéricos, porém inadequado em relação ao meio ambiente. Optou-se, portanto, por indicadores categóricos que avaliam o grau de ocorrência ou não de efeitos capazes de gerar impactos ambientais. Usaram-se notas de 1 a 5 para a situação observada, sendo 5 a ausência de extrapolações dos limites toleráveis, a situação ótima, e 1 a permanente extrapolação destes limites, a situação péssima. Valores intermediários foram adotados para percentuais intermediários de extrapolações. Para os indicadores quantitativos, determinaram-se indexadores, de modo que a variação das gerações de efluentes ou consumo de recursos naturais fossem avaliadas segundo a carga do processo produtivo. Para resíduos estabeleceu-se como base a geração total no período. Observa-se que a importância relativa da emissão atmosférica apresentou-se bastante abaixo dos demais fatores avaliados (2,8%). Como o AHP realiza a comparação entre a importância dos construtos aos pares, a

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emissão atmosférica apresentou-se menos importante que a gestão ambiental, os resíduos sólidos, os efluentes líquidos e o consumo de recursos naturais. Essa análise reflete o processo produtivo da empresa, que possui como principais atividades: a usinagem e montagem de produtos. Os resultados por construtos demonstraram que a empresa possui um foco direcionado para o controle das gerações de resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas, todos com altos desempenhos individuais. A gestão ambiental teve seu desempenho afetado pelo controle de ações corretivas e preventivas, que apresentou índice de 33%. O pior resultado está relacionado ao consumo de recursos naturais, o que indica que a empresa deve focalizar suas ações para tecnologias limpas, visando à otimização de processos e redução do desperdício. Para maximizar o desempenho ambiental recomenda-se reforçar projetos de reduções dos consumos de água, energia e principais insumos (aço e óleos lubrificantes) e modificação do sistema de ação corretiva e preventiva de forma a permitir um melhor gerenciamento das pendências e verificação da eficácia das ações. A constatação acima é confirmada pela organização, que possui entre seus programas já propostos de gestão ambiental a informatização do controle de ações corretivas via sistema on-line, homologado em outras unidades do grupo, e a redução dos consumos de recursos naturais via reaproveitamento de água industrial e otimizações de processos. Se comparada a outras metodologias de medição de desempenho ambiental, como por exemplo, a NBR ISO14031:1999, o método ora proposto proporciona um planejamento dos fatores que afetam o desempenho ambiental para somente após definir os indicadores a serem avaliados. Com isto evita-se o retrabalho ou a utilização de indicadores que não agreguem valor ao processo, ou seja, não são representativos dos construtos que se deseja mensurar. Quanto à metodologia ADA-AHP, observa-se que a mesma não é firme (hard), mas flexível (soft). A metodologia não visa a aplicar a equação 1 a uma organização, mas permitir que qualquer organização construa a sua equação, variando os construtos e os indicadores, bem como os seus coeficientes. Como o resultado final é dado em percentagem do máximo resultado esperado, o método pode comparar desempenhos ambientais entre diferentes operações. Em cada caso deve-se considerar os requisitos legais constantes da licença de funcionamento, emitida pelo órgão ambiental. Outro fator de importância para a empresa é manter o método de avaliação do desempenho ambiental alinhado com sua evolução tecnológica. O surgimento de novos requisitos legais ou normativos deve motivar reuniões de análise crítica e recalibração do ADA-AHP. Durante a calibração devem ser revisados todos os construtos quanto a sua hierarquia, bem como a sua relação de importância. O surgimento de novos processos ou produtos também pode gerar novos impactos ambientais, o que pode exigir uma nova configuração do método. A organização deve ficar sempre atenta, pois o surgimento de novas leis e normas pode alterar ou acrescentar exigências ambientais, por isso, se houver a necessidade da criação de um novo controle, este deve ser incorporado a um construto. Alterações nas faixas dos atuais

indicadores também podem ser

requisitadas. 28 Estudos tecnológicos - Vol. 1, n° 2:21-29 (jul/dez. 2005)

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6. Conclusão Através do estudo realizado, concluiu-se que a avaliação de desempenho ambiental utilizando o método ora proposto, o ADA-AHP, é válida e apresenta, como vantagem em relação à simples avaliação de indicadores ambientais, o fato de relacionar as diferentes medições através de hierarquização da importância dos construtos avaliados. Conclui-se observando que o desempenho ambiental da empresa estudada é considerado como referencial em sua região. Portanto, a medição de cerca de 85% de eficácia na política ambiental confirma esta visão. Como continuidade sugere-se: (i) o acompanhamento da evolução do desempenho da organização durante, no mínimo três ciclos de avaliação para observação do comportamento destes índices e os impactos de ações tomadas no resultado final, (ii) a definição de indicadores globais para cada construto considerado para viabilizar estudos comparativos entre diferentes organizações e (iii) investigar como poderia se utilizar indicadores de condição ambiental como parâmetro de estabelecimento das metas dos indicadores operacionais, considerando a contribuição da empresa sobre os impactos ambientais da região.

7. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 1999. ISO14031- Gestão ambiental – Avaliação de desempenho ambiental – Diretrizes, 38 p. BOLLMANN, H. 2001. Indicadores Ambientais. In: N. MAIA; H. MARTOS e W. BARRELLA (org.), Indicadores Ambientais: Conceitos e Aplicações. São Paulo, EDUC/COMPED/INEP, 285 p. ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY-EPA (2004). Disponível em: . Acesso em: 03 de maio de 2004. FORMAN,

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29 Estudos tecnológicos - Vol. 1, n° 2:21-29 (jul/dez. 2005)

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